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Cuando-Cubango

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Cuando-Cubango


Localização do Cuando-Cubango em Angola
Dados gerais
Fundada em 21 de outubro de 1961 (63 anos)
Gentílico cuando-cubanguense[1]
cubanguense
Província Cuando-Cubango
Município(s) Calai, Cuangar, Cuchi, Cuito Cuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo
Características geográficas
Área 199.049 km²
População 601.454[2] hab. (2018)

Dados adicionais
Prefixo telefónico 049
Projecto Angola  • Portal de Angola

Cuando-Cubango é uma das 18 províncias de Angola, localizada na região leste do país. Tem como capital a cidade e município de Menongue.[3]

Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 601.454 habitantes e com uma dimensão de 199 049 km², sendo a província mais populosa de Angola depois de Luanda.[2]

É constituída pelos municípios de Calai, Cuangar, Cuchi, Cuito Cuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo.

Antes do domínio colonial Português a região ficou sob zona de influência de diversas entidades nacionais africanas, com destaque para o Império Monomotapa, que dominou o comércio e as aldeias locais até meados do século XVI, e; o Império Lunda, até o último quarto do século XVII. Com a fragmentação dos lundas e a formação do Estado Lunda-Chócue, os povos ganguelas, principalmente na figura do País dos Ganguelas, entraram em acordo de confederação com os chócues, tratado que perdurou até o início do século XIX.

Formação política dos ganguelas e guerras contra Portugal

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No século XIX, o País dos Ganguelas passou a tomar mais autonomia para si, principalmente após a subida ao trono ganguela de Muene Vunongue. Durante o reinado deste houve grande prosperidade econômica.[4]

A conferência de Berlim, entretanto, sacramentou a divisão dos territórios ao longo das bacias do Cuito Cuanavale, Cunene e Cubango entre os alemães, portugueses e britânicos, cabendo aos colonizadores a ocupação definitiva das áreas.[4]

Esta política colocou o País dos Ganguelas em rota de colisão com as potências europeias, levando a vários combates contra os invasores portugueses, alemães e britânicos durante o século XIX.[4]

Embora sem material bélico suficiente, os conflitos e revoltas lideradas pelo rei Muene Vunongue causaram importantes baixas aos inimigos. Em outro aspecto, o País dos Ganguelas construiu aliança militar com os reinos Cuvango e Cuanhama.[4]

Em 1886 o rei Muene Vunongue foi ferido mortalmente em batalha contra as tropas portuguesas. O rei conseguiu fugir até Menongue, a capital, mas morreu dias depois devido infecção.[4]

A fortificação colonial e as incursões alemãs

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Portugal agiu rápido após a morte de Muene Vunongue e enviou uma missão de exploração chefiada pelo major Alexandre Serpa Pinto, que acabou construindo o Forte Muene Vunongue, marcando o fim da autonomia dos ganguelas.[4][5]

Em 31 de outubro de 1914, durante a Campanha de Cubango-Cunene, na Campanha do Sudoeste da África, as tropas alemãs invadiram o Forte de Cuangar, no território da província, e massacraram as tropas portuguesas ali estacionadas. A batalha ficou conhecida como o Massacre do Cuangar. Em 1915 os portugueses expulsariam os alemães do Cunene e do Cuando-Cubango.

Formação administrativa

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Em 1920 Portugal resolve criar o distrito do Cubango, tornando, somente em 1921, a povoação de Serpa Pinto em vila, fato que permitiria que a mesma tomasse o estatuto de capital distrital. Em 1934 o distrito sofre revés administrativo, sendo extinto.[6]

Em 21 de outubro de 1961, pelo diploma legislativo ministerial nº 51, recria-se o distrito do Cuando-Cubango, estabelecendo Serpa Pinto como sua capital, que, nesta mesma data, foi elevada à categoria da cidade.[6]

Período das guerras

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No final da década de 1960 o MPLA é o primeiro movimento a remover a presença portuguesa da região, com a formação da "Frente Leste". A vitoriosa III Região Militar consegue pressionar tanto Portugal, quanto a UNITA até 1973, quando o movimento perde o controle da região.

A partir de 1973, alguns municípios como Mavinga, Dirico, Cuchi e Cuito Cuanavale, serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, sendo por isso esta província designada pelos apoiantes daquele movimento, como "terras livres de Angola". Durante este periodo, Cuando-Cubango serviu como a primeira base da UNITA, liderada por Jonas Savimbi. O movimento rebelde recebia apoio dos EUA e da África do Sul como parte da Guerra Fria contra o MPLA, que recebia apoio, principalmente, da União Soviética e de Cuba.

A província do Cuando-Cubango principalmente os municípios de Mavinga e Cuito Cuanavale, foram os principais palcos de grandes combates durante a guerra civil, de 1975 a 1991. Neste último município ocorreu a histórica batalha de Cuito Cuanavale, ponto chave da virada da guerra em favor do MPLA.[7]

A UNITA manteve sua base clandestina nas redondezas da vila de Jamba-Cueio, que era protegido por armas anti-aéreas. A UNITA só abandonou completamente estes territórios no final de 2001, quando da ofensiva das Forças Armadas Angolanas.[7]

A província tem um tamanho comparável ao de países como Quirguistão ou Senegal. É limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Cunene e Huíla.

Nesta província está o ponto mais meridional do país, no rio Cubango, no território do município de Dirico, quando o flúmen faz fronteira com a Namíbia.

Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, predomina no Cuando-Cubango o clima subtropical úmido (Cwa), enquanto o clima semiárido quente (BSh) é característico do extremo sul provincial.[8]

Foz do rio Cuito no rio Cubango. A margem da foz corresponde ao território da província.

A população desta província é a menos estudada das populações de Angola. A sua composição étnica básica foi estabelecida, embora de maneira algo preliminar, no fim da era colonial.[9] Compõe-se majoritariamente dos grupos ganguelas, chócues e xindongas, e minoritariamente de ovambos e coissãs.[10] Nos grandes centros urbanos provinciais há frações de migrantes de hereros, nhaneca-humbes, ambundos e ovimbundos, e de origens miscigenadas, como luso-angolanos.[11]

As suas características da província incluem as de ter um peso demográfico muito fraco e de consistir de grupos relativamente pequenos e dispersos, com uma notável mobilidade geográfica (que inclui a Namíbia, o Botsuana e a Zâmbia), e a frequente junção ou divisão destes grupos. Estas características mantiveram-se desde antes da ocupação colonial e continuam depois do acesso de Angola à independência.[12]

Ecologia, flora e fauna

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Domina a maior parte da paisagem da província, isto é, o centro, o norte e o oeste cuando-cubanguense, a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[13] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio de miombo, além de pastagens abertas.[14] No extremo-leste e extremo-sudeste da província, ao longo das planícies alagadiças e vales dos rios Cuando e Cubango, predominam as "pastagens inundadas da Zambézia", com flora típica de pradarias, savanas e bosques de miombo e mopane sazonalmente inundados, além de manchas de pântano com vegetação de pastagem.[15] Na faixa sul predominam as "florestas Zambezianas de Baikiaea", com matagais e pastagens numa floresta decídua seca dominada pela árvore Baikiaea plurijuga.[16]

Sua imensa rede hidrográfica atrái uma enorme diversidade de fauna, podendo aí encontrar-se a palanca-negra-gigante, a palanca-vermelha, o elefante-da-savana, o rinoceronte-negro, o hipopótamo-comum, o leão-angolano, a hiena-malhada, o lobo-da-terra (ou protelo), a onça-africana, o búfalo-africano, o gato-bravo-de-patas-negras, a avestruz-de-pescoço-preto (ou avestruz do cabo), a girafa-do-cabo, a girafa-de-angola[17] e outras aves e répteis variados. O destaque fica para a ave endémica francolim-de-listras-cinzentas (Francolinus griseostriatus).[18]

Patrimônio natural

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A província de Cuando-Cubango têm boa parte do seu território coberto por parques nacionais e reservas ambientais, principalmente localizadas no leste e no sul, somando 22.610 quilômetros quadrados. Destacam-se as seguintes áreas de proteção: Parque Nacional do Luengué, Parque Nacional de Luiana, Parque Nacional do Longa-Mavinga e Parque Nacional do Mucusso. Todas fazem parte da Área de Conservação Transfronteiriça Cubango-Zambeze[19]

Os principais cursos d'água da província correm num sentido noroeste a sudeste baseando-se em duas principais bacias: a do Zambeze, que têm como principal rio o Cuando, com afluentes importantes nos rios Cutuile, Longa-Cuando, Namomo, Uefo e Luiana, e; a do Calaári, que têm como principal rio o Cubango, com afluentes importantes nos rios Cuchi, Cuebe, Cueio, Cuatir, Chissombo, Dungo, Cafuma, Caquene, Cafulo e Cuito. Há uma pequena fração da bacia do Cuvelai-Etosha no sudoeste cuando-cubanguense, baseado principalmente no rio Cubati-Lupangue. Outros importantes reservatórios de água são os lagos Uamba Fuca, Lupango, Chivalela, Muonga, Machive, Lituto, Chieque, Muchova, Bezi-Bezi, Dinde, Caonda e Vinjunda, além de uma miríade de menores lagos e lagoas das planícies da bacia do Zambeze, ao leste.[20]

A província sofre influência do Planalto Central de Angola (ou Planalto do Bié) na sua formação fisiológica. Embora o território não esteja efetivamente neste planalto, está nas extensões deste, ou seja, nos altiplanos das Areias Húmidas e das Areias Secas e nas Escarpas do Bié.[21] Conforme segue para o sul, o terreno vai ficando mais plano formando a Planície Arenosa do Cuíto-Cubango[22] (ou Planície das Terras do Fim do Mundo), tereno suscetível a alagamentos nas cheias dos rios.[23]

Agropecuária e extrativismo

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A província cuando-cubanguense produz para subsistência e para excedente, em lavoura temporária, o milho, o massango, a massambala, o feijão, a mandioca, amendoim, a batata doce, a cana-de-açúcar, a soja, o tabaco, o trigo, o vielo e as hortícolas.[24] Já nas lavouras permanentes, encontra-se registo do café.[24]

A pesca artesanal é outro meio de sustento para os habitantes da província, sendo realizada largamente no rio Cubango, e nos rios Cuito, Cuanavale, Longa, Cuatir e Cuando.[24] O excedente da pesca é vendido majoritariamente para a Namíbia. No extrativismo vegetal, a província é a grande produtora e exportadora nacional de recursos madeireiros.[24]

Na criação de animais, para carne, leite e peles, existem consideráveis rebanhos de pecuária de bovinos e de caprinos. Há também criação de galináceos para carne e ovos. Os rebanhos são destaque no município de Cuito Cuanavale.[24]

Indústria e mineração

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O grande parque industrial provincial está concentrado nas áreas próximas da cidade de Menongue, trabalhando com o beneficiamento agroindustrial de carnes e derivados de leites, além do semi-beneficiamento de frutas, ovos, óleos e produtos da terra.[24] Outros itens produzidos são bebidas e alimentos secos, além de materiais de construção.[24]

A extração mineral industrial encontra relevo no ouro,[24] no cobre[24] e no minério de ferro (particularmente no Cutato[25]).[26] Neste último mineral extraído, há o beneficiamento siderúrgico para produção de ferro-gusa[25] em Cuchi.[26]

Comércio e serviços

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No comércio, Cuando-Cubango têm como principal referência a cidade de Menongue, dado que é o mais populoso município provincial, servindo como um dos mais importantes centros atacadistas do sudeste de Angola. Outros centros de destacado relevo são Calai, Cuangar e Dirico, dado que servem como postos fronteiriços com a Namíbia.[24]

Nos serviços, Menongue concentra atividades financeiras, educacionais, de saúde, administrativas e de entretenimento, enquanto que os outros centros de serviços, as cidades de Cuito Cuanavale, Luiana e Mavinga, tem especialização para o subsetor turístico, voltado para os importantes patrimônios naturais da Área de Conservação Transfronteiriça Cubango-Zambeze.[24][25]

Outros serviços muito relevantes estão relacionados às atividades de logística, nomeadamente ferroviária.[24]

Referências

  1. Vicente, Francisco Chitali Cassinda.. Topónimos dos Municípios e Comunas do Cuando Cubango: Proposta de Harmonização de Grafia. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Maio de 2015.
  2. a b Schmitt, Aurelio. Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018. Revista Conexão Emancipacionista. 3 de fevereiro de 2018.
  3. «Censo Nacional de Angola» (PDF). 22 de março de 2016. Arquivado do original (PDF) em 6 de maio de 2016 
  4. a b c d e f Mwene Vunongue. Fortalezas.org. 25 de setembro de 2017.
  5. Cuando-Cubango: Terra de História e de Futuro. Luanda Nightlife. 15 de fevereiro de 2017.
  6. a b Cuando Cubango: Criadas condições para as festas da cidade de Menongue. Portal Angop. 17 de outubro de 2016.
  7. a b Leal, Marcelo Mesquita. A campanha Militar de Cuito Cuanavale (1987-1988): uma análise baseada na Teoria da Guerra de Clausewitz. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.
  8. Clima: Cuando-Cubango. Climage-data.org. 2022.
  9. José Redinha, Etnias e culturas de Angola, Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1975.
  10. Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
  11. Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012). Angola: Private Sector Country Profile. (PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento 
  12. Maria Fisch, The Mbukushu in Angola (1730-2002): A history of migration, flight and royal rainmaking, Colónia: Rüdiger Köppe, 2005, ISBN 3-89645-350-5.
  13. Angola Vegetation. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
  14. World Wildlife Fund, ed. (2001). «Angolan Miombo woodlands». WildWorld Ecoregion Profile. [S.l.]: National Geographic Society. Cópia arquivada em 8 de março de 2010 
  15. Zambezian flooded savannas. Terrestrial Ecoregions. World Wildlife Fund.
  16. Chevalier, M & Cheddadi, Rachid & Chase, Brian. (2014). Chevalier et al 2014 CoP 10 CREST.
  17. Petzold, Alice; Hassanin, Alexandre (13 de fevereiro de 2020). «A comparative approach for species delimitation based on multiple methods of multi-locus DNA sequence analysis: A case study of the genus Giraffa (Mammalia, Cetartiodactyla)». PLOS ONE (em inglês). 15 (2): e0217956. Bibcode:2020PLoSO..1517956P. ISSN 1932-6203. PMC 7018015Acessível livremente. PMID 32053589. doi:10.1371/journal.pone.0217956Acessível livremente 
  18. Endemic Birds of Angola, according to various taxonomies. The Birds of Angola.
  19. Ministra do Ambiente destaca importância da criação de novos parques. Portal Angop. 26 de outubro de 2011.
  20. Marks, Shula E.. "Southern Africa". Encyclopædia Britannica, 30 Sep. 2020. Accessed 19 January 2022.
  21. Diniz, A. Castanheira.; Aguiar, F. de Barros.. Zonagem Agro-Ecológica de Angola: estudo cobrindo 200 000 Km2 do território. Lisboa - Porto: Instituto da Cooperação Portuguesa; Fundação Portugal-África; Fundo da EFTA para o Desenvolvimento Industrial em Portugal. 1998.
  22. The World Database on Protected Areas (WDPA). UNEP-WCMC/IUCN. 2018.
  23. Ponte, Helder Fernando de Pinto Correia. (2007). «Breve Monografia Angolana: Hidrografia.». Helder Ponte — Viagem Pela História de Angola: Uma viagem através dos tempos, povos, personagens e acontecimentos que moldaram a História de Angola. Cranbrook, Canadá: [s.ed.] 
  24. a b c d e f g h i j k l Cuando-Cubango. Portal São Francisco. 2018.
  25. a b c Palma-Ferreira, João. Angola reativa gigante do ferro e procura investidores portugueses. O Jornal Económico. 16 de agosto de 2021.
  26. a b Quem somos. CSC. 2021.

Ligações externas

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