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Moxico

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Moxico
Localidade de Angola Angola
(Província)


Localização de Moxico em Angola
Dados gerais
Fundada em 15 de setembro de 1917 (107 anos)
Gentílico moxiquense
Província Moxico
Município(s) Alto Zambeze, Bundas, Camanongue, Léua, Luacano, Luau, Luchazes, Cameia e Moxico
Características geográficas
Área 223 023 km²
População 854 258[1] hab. (2018)

Dados adicionais
Prefixo telefónico +244
Projecto Angola  • Portal de Angola

Moxico é uma das 18 províncias de Angola, localizada na região leste do país. Sua capital está na cidade de Luena, no município de Moxico.

Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 854 258 habitantes e área territorial de 223 023 km², sendo a maior província em área da nação, comparável em tamanho a países como Romênia, Laos ou Guiana.[1]

Moxico compreende os municípios de Alto Zambeze, Bundas, Camanongue, Léua, Luacano, Luau, Luchazes, Cameia e Moxico.

A palavra Moxico deriva de "Muxiko", uma espécie de cesto que servia para o transporte de víveres e armas de resistência anti-colonial. Com o tempo o soba local passou a utilizar para si o termo Muxiko, dando a entender, segundo o historiador Francisco Chiwende, que "era o receptáculo de todas as questões da sua jurisdição".[2] Os portugueses deram então àquela região, tributária do reino Lunda, o nome de "terras do Moxico", inicialmente somente equivalente ao Moxico-Velho, mas com o tempo como sinônimo de todo o território entre o Zambeze e o Lungué-Bungo.

Antes da efetiva ocupação colonial portuguesa, as terras de Moxico eram território de vários povos bantos, destacadamente das etnias chócue, lunda e ganguela, havendo também algumas frações de lubas. Esses quatro povos começaram a se organizar politicamente no século XVI.

Organização política

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A região leste de Angola, assim como parte da República Democrática do Congo e Zâmbia, foi unificada, em 1590, sob a égide do rei Muanta Gandi, que formou o reino Lunda, um poderoso Estado pré-colonial que tinha inicialmente sede em Mussumba, atualmente no sul do Congo.[3]

O Estado Lunda acabou por tornar-se, no século XVII, o Império Lunda (1º império), que por fim esfacelou-se em vários Estados confederados em virtude de inúmeras guerras pelo trono da rainha Lueji A'Nkonde. O seu principal ente confederado substituto foi Reino Lunda-Chócue, que tinha sede em Luena e zona importante em Saurimo. O próprio Reino Lunda-Chócue costurou a formação de um 2º Império Lunda, em meados do século XIX.[4][5]

As potências colonias, Bélgica, Grã-Bretanha e Portugal, não aceitaram a formação dessa nova unidade imperial, fazendo diversas incursões militares na região, até que, como resultado da Conferência de Berlim, procederam a divisão definitiva dos lundas, extinguindo-se o Reino Lunda-Chócue.[4]

Colonização

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Registro feito por sir Henry Hamilton Johnston, em 1914, de povos que habitavam no Alto Zambeze numa atividade de caça.

Conhecida inicialmente pelo nome de "região Luvale", o primeiro português que viajou de Benguela para as terras moxiquenses foi José de Assunção e Melo, em missão comercial, em 1794.[2]

A efetiva expedição de ocupação portuguesa só aconteceu em março de 1895, após o tratado que firmou o Protetorado Lunda-Chócue. A missão foi chefiada pelo tenente-coronel Trigo Teixeira. Nesta expedição o militar transferiu definitivamente o Moxico-Velho para aonde está assentada a capital Luena.[2] Um dos últimos reinos da região a ser subjugado por Portugal foi o reino Bundalândia, após a derrota do rei Mwene Mbandu Kapova I, em 1914.

Entre o final do século XIX e o início do século XX diversas expedições foram feitas para estudar a área e construir o monumental Caminho de Ferro de Benguela, que marcou profundamente a região, interligando-a definitivamente com o resto da Colônia de Angola.[2]

Formação administrativa

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Pelo decreto-lei nº 3365/17, de 15 de setembro de 1917, foi criado o "distrito do Moxico", a partir de território desmembrado do distrito de Benguela, assentando capital na até então chamada "vila do Moxico" (atual Luena).[2]

Período das guerras

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Em 1966 o MPLA consegue tomar dos portugueses o Aeródromo de Recurso de Vila Teixeira de Sousa (Luau), abrindo a III Região Militar, que tinha como foco as províncias de Moxico e Cuando-Cubango. A UNITA lança um ataque à base de Luau, porém não consegue a tomar do MPLA.[6] Ao final de 1967 a província já está sob total controle do movimento, dando oportunidade de lançar ataque nas terras das províncias Lundas, no leste do Bié e no Cunene.[7]

Em 1973 a UNITA, com o apoio da Força de Defesa da África do Sul, inicia uma intensa campanha militar no leste, com vistas a tomar as áreas sob domínio do MPLA, conseguindo estabelecer posições em Cangonga, Cangumbe, Chicala, Samafo e Serpa Pinto (Menongue), conseguindo ocupar Luena em 1975, já dentro da Operação Savana, na Guerra Civil Angolana. A cidade permaneceu sob domínio estrangeiro por dois meses.[7]

Em 10 de dezembro de 1975, um mês após a proclamação da Independência Nacional, as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) abandonaram a capital da província do Moxico e recuaram em duas colunas, uma rumo ao Luau e a outra que estabeleceu-se na Buíla. Entre 14 e 15 de fevereiro de 1976, dentro da operação Carlota, que tinha o apoio das Forças Armadas de Cuba, as FAPLA reconquistaram Luena e, até o final de fevereiro, o restante da província.[7]

A província de Moxico é limitada ao norte pela província de Lunda Sul e pelo Congo-Quinxassa, ao leste pela Zâmbia, ao sul pelo Cuando-Cubango e, ao oeste pelo Bié.

Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger predomina na província, o clima subtropical úmido (Cwa), com uma média anual de temperatura que varia entre os 22°C e os 24°C.[8]

O perfil demográfico e populacional provincial é construído principalmente pelas etnias dos chócues e ganguelas,[9] havendo também relevantes contingentes de ovimbundos, lundas e ambundos, além de outros grupos etnolinguísticos menores como vambundas,[10] e de origens miscigenadas, como luso-angolanos, ango-brasileiros[11] e quinxassa-congoleses.[12]

Ecologia, flora e fauna

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Domina a maior parte da paisagem da província, isto é, o centro, o norte, o oeste e o sul moxiquense, a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[13] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio de miombo, além de pastagens abertas.[14] No leste da província, predominam as "florestas de miombo da Zambézia Central", com flora típica de miombo de árvores altas com arbustos e pastagens por baixo,[15] e; no estremo-leste há as "florestas secas de Cryptosepalum zambeziano", uma notável ecorregião de florestas tropicais perenes com densa vegetação rasteira de trepadeiras e arbustos.[16] Por fim, na planície de inundação de Barotse-Liuva, há a apresença da ecorregião das "pastagens da Zambézia Ocidental", com imensas zonas pantanosas e de vegetação herbácea latifoliada aberta com arbustos.[17] A principal zona protegida moxiquense é o Parque Nacional da Cameia.

Os principais cursos d'água da província são: o rio Zambeze, que corre no sentido norte-sul, ao leste; seus afluentes, os rios Lungué-Bungo, Luanguingo e Luena, que correm no sentido noroeste-sudeste, cortando quase toda a extensão territorial moxiquense, e; o rio Cuando, de sentido norte-sul. Outros importantes reservatórios de água são os lagos Liassa, Capaco, Banda Licolocolo, Libala, Uito, Cachaca, Dilolo e Cameia, além de uma miríade de menores lagos e lagoas das planícies de Barotse-Liuva, ao sudeste.[10]

A fisiologia moxiquense é dominada por três zonas principais, sendo: o Planalto Central de Angola entre o noroeste, oeste e sudoeste, incluíndo os altiplanos das Areias Húmidas e das Areias Secas e as Escarpas do Bié; o Planalto de Catanga-Chambezi, no extremo-leste (mais especificamente o extremo do Alto Zambeze) e em toda fronteira nordeste até Luau, e;[18] as planícies de Barotse (bem como suas extensões Liuva, Luena e Lungué-Bungo), ao sudeste e centro.[10] No Alto Zambeze está a porção mais ocidental do cinturão de cobre da África Central, importantíssima área de mineração industrial do continente.[19][20]

Historicamente a agricultura constitui a base do desenvolvimento socioeconômico da província, havendo, desde o fim da Guerra Civil Angolana um incremento de atividades vinculadas à indústria, comércio e serviços.[21]

Agropecuária e extrativismo

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O Moxico possui produção de lavoura temporária assentada em massango, batata-doce, girassol, vielo, arroz, mandioca e milho. Já na lavoura permanente registra-se a produção de citrinos e goiabas.[22]

No subsetor da pecuária, a província é um dos centros nacionais especializados em produção de carne e leite, havendo rebanhos bovinos, ovinos, caprinos e suínos. Igualmente para a produção de carne, conjugada com ovos, existe a criação de galináceos.[22]

Há um grande excedente obtido pela pesca artesanal na região, visto que o Moxico possui diversos rios e lagos. Nas estações chuvosas, esta potencialidade é estendida, visto que muitas regiões da província alagam-se.[22]

Existe certa exploração florestal nos municípios de Moxico, principalmente extraídas de áreas plantadas de eucaliptos e pinheiros. As toras de madeira são exportadas para consumo do litoral e exterior do país, com uma fração utilizada localmente.[22]

Indústria e mineração

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Fachada da escola técnica Instituto Médio de Administração e Gestão do Luena, em 2010.

Os parques industriais moxiquenses são especializados na agroindústria para transformação de carne, leite e ovos, registrando-se também produção alimentícia, de bebidas, vestuário, de transformação moveleira e de materiais de construção. As áreas de maior concentração industrial estão em Luena e Luau.[22]

Nesta província ainda há extração dos seguintes minérios: carvão, cobre, manganês, ferro, diamantes, ouro, volfrâmio, estanho, molibdénio, urânio e lenhite.[22]

Comércio e serviços

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O subsetor comercial assenta sua base em centros atacadistas que distribuem produtos beneficiados e semi-beneficiados às localidades da província, sendo encontra-se concentrado em Luena, Luau e Cazombo.[22]

Já nas atividades de serviços, que incluem centros de saúde, unidades de ensino, postos financeiros, entretenimento, entre outros, a gama de oferta fica concentrada na capital provincial.[22]

Registram-se ainda atividades de serviços vocacionadas à logística, dado que atravessa o Moxico o Caminho de Ferro de Benguela e inúmeras rodovias.[22]

Cultura e lazer

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Há, naturalmente, um forte impacto da cultura introduzida pela antiga potência colonial, Portugal, através de missões cristãs de diferentes obediências, que influenciaram principalmente os aspectos arquitetônicos, os comportamentos sociais e as tradições culturais-religiosas. Neste último caso, por exemplo, as maiores manifestações populares são vistas em procissões religiosas católicas, que ocorrem em todas as localidades moxiquenses.

Em locais de lazer, a província encontra o Parque Nacional da Cameia, com 14 450 quilómetros quadrados de área, albergando espécies vegetais e animais e; também, as Quedas do rio Luizavo e as quedas do rio Lucula no Muni.

Commons
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Referências

  1. a b Schmitt, Aurelio. Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018. Revista Conexão Emancipacionista. 3 de fevereiro de 2018.
  2. a b c d e Província do Moxico completa 90 anos. Portal Angop. 16 de setembro de 2007.
  3. Lunda. Medicare Club Angola. 2018.
  4. a b Reino Unido da Lunda Tchokwe. Federação dos Estados Livres da África . 2011
  5. O Reino da Lunda. Portal Geledés. 28 de outubro de 2016.
  6. Nos Trilhos da Independência: 90 dias pelo Leste de Angola. Buala. 1 de setembro de 2013.
  7. a b c Memórias das batalhas que levaram à reconquista da cidade do Luena. Jornal de Angola. 29 de novembro de 2014.
  8. Clima: Moxico. Climage-data.org. 2022.
  9. Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
  10. a b c Marks, Shula E.. "Southern Africa". Encyclopedia Britannica, 30 Sep. 2020. Accessed 19 January 2022.
  11. Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012). Angola: Private Sector Country Profile. (PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento 
  12. Redden, Jack; Martin, Harriet. Thirty years on, UNHCR seeks full integration for Congolese refugees in Angola. UNHCR. 21 de março de 2006.
  13. Angola Vegetation. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
  14. World Wildlife Fund, ed. (2001). «Angolan Miombo woodlands». WildWorld Ecoregion Profile. [S.l.]: National Geographic Society. Cópia arquivada em 8 de março de 2010 
  15. Central Zambezian miombo woodlands. DOPA Explorer. 22 de março de 2022.
  16. [1] Zambezian Cryptosepalum dry forests]. DOPA Explorer. 22 de março de 2022.
  17. Western Zambezian grasslands. DOPA Explorer. 23 de março de 2022.
  18. Cotterill, Fenton Peter David. The Upemba lechwe, Kobus anselli: An antelope new to science emphasizes the conservation importance of Katanga, Democratic Republic of Congo. Journal of Zoology 265(2):113 - 132. February 2005.
  19. Mwamba, J. Exploration potential for copperbelt - style mineralisation in NW Province, Zambia; soil geochemistry as a targeting tool. [s./ed.]. 2018
  20. A ″Copperbelt″, área mineira mundialmente famosa da Zâmbia e RDC, afinal prolonga-se por território angolano. Novo Jornal. 8 de fevereiro de 2017.
  21. Redinha, José. Etnias e culturas de Angola. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1974.
  22. a b c d e f g h i Moxico. Portal São Francisco. 2018.

Ligações externas

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