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Pietro Scola

FMUSP, Psicologia, Graduate Student
O conceito de transferência em psicanálise tem suas bases nas percepções clínicas em que Freud, no final do século XIX, começa a suspeitar que os sentidos das interações entre os papéis de analista e analisando é sempre deslocado. Com... more
O conceito de transferência em psicanálise tem suas bases nas percepções clínicas em que Freud, no final do século XIX, começa a suspeitar que os sentidos das interações entre os papéis de analista e analisando é sempre deslocado. Com essa premissa, cabe o questionamento: é possível que outras esferas da vivência relacional do sujeito sejam também pré-dispostas a esses deslocamentos e reproduções de papéis que não tenham ligação direta com o objeto de interação em si? O objetivo desse texto é abordar como as relações humanas começam (e muitas vezes se prolongam ad aeternum) calcadas em um eixo transferencial, suportando uma projeção massiva do Eu para o objeto/outro. Para isso, inicialmente serão explanados os conceitos de transferência segundo os psicanalistas clássicos, como Freud, que provém de uma ótica predominantemente clínica, para em seguida vincular com autores contemporâneos que possuem um prognóstico da transferência abrangido às esferas do social, cultural; enfim, do cotidiano. Freud, no início do seu tratamento com neuróticos, constatou que um dos objetivos da análise era trazer os conteúdos conflitantes que habitavam no inconsciente para o consciente, visando além de uma catexia a construção de uma arena na qual o paciente tivesse maior flexibilidade e criatividade no período de construção de sintomas e/ou defesas psíquicas. Vencendo parcialmente esse obstáculo das repressões frequentemente encontradas em neuróticos de sua época, Freud se depara com um "segundo problema"...
O considerado normal e o apontado como patológico jamais foram lineares e unanimes no decorrer do processo sócio-histórico da humanidade. Em determinados períodos o patológico era visto como um corpo estranho, um antígeno que penetraria... more
O considerado normal e o apontado como patológico jamais foram lineares e unanimes no decorrer do processo sócio-histórico da humanidade. Em determinados períodos o patológico era visto como um corpo estranho, um antígeno que penetraria um dito organismo e consequentemente perturbaria o seu equilíbrio. Nesse caso podemos incluir espíritos, bactérias, demônios, vírus, etc. Não obstante, em outros períodos mais modernos as patologias eram frisadas por um invés psíquico-individual, ou seja, genéticas, internas e que fazem parte desse próprio organismo. Aqui podemos mencionar a época em que a homossexualidade era considerada doença, a loucura, as deficiências e muitos outros. Nessa perspectiva de causa sui (causa de si mesmo), o patogênico é criado e repercutido pelo e para o próprio organismo. O objetivo desse texto é aventar como o patológico e o normal não se atém a nenhuma ciência exclusiva, mas escorregam de saber a saber, metamorfoseando-se e trocando de posição conforme o olhar que recaí sobre um dito fenômeno.
Percepções sobre a depressão, trabalho moderno e exaustão "Nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto (...) Os ativos rolam como rola a pedra, segundo a... more
Percepções sobre a depressão, trabalho moderno e exaustão

"Nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto (...) Os ativos rolam como rola a pedra, segundo a estupidez da mecânica" (Nietzsche, p.37, 53).

O presente texto tem como objetivo elucidar os conceitos de depressão segundo a psicanálise e a filosofia. Será feita uma interlocução com as redes de trabalho e subjetividades implicadas na modernidade, que terão como ponto de apoio a obra do filósofo coreano Byung-Chul Han.
O abuso sexual é um ato que existe na humanidade desde tempos primórdios da civilização. Com o passar das eras, tal ato foi mudando de significante conforme as forças sociais e circunstanciais também mudavam: castigo de guerra, correção... more
O abuso sexual é um ato que existe na humanidade desde tempos primórdios da civilização. Com o passar das eras, tal ato foi mudando de significante conforme as forças sociais e circunstanciais também mudavam: castigo de guerra, correção da sexualidade, reiteração da predominância do desejo masculino em detrimento de qualquer outro. O objetivo desse texto é aventar alguns dos funcionamentos que estão inclusos nas dinâmicas de abusos sexuais, para isso o instrumento de análise será a psicanálise, revisão bibliográfica como suporte e recortes clínicos como referência.
A angustia-nossa de cada dia nos dai hoje Derivado do latim angustiare, o vocábulo angustia significa principalmente estreiteza, restrição e limitação, significantes que expressam as sensações dos sujeitos que se descrevem em estado de... more
A angustia-nossa de cada dia nos dai hoje Derivado do latim angustiare, o vocábulo angustia significa principalmente estreiteza, restrição e limitação, significantes que expressam as sensações dos sujeitos que se descrevem em estado de angustia: aperto no peito, sufocação, impotência. Por isso, não raramente observamos esses mesmos sujeitos desejando soluções para a dita sensação: "tenho vontade de sumir", "por mim, eu só queria sair correndo para não sei onde". "Larga-se um pedaço para salvar o que resta" (Soler, 2012, p. 151).
Da função paterna ou da inscrição do simbólico na formação do sujeito Em nossa contemporaneidade, as formações familiares não correspondem nem de perto àquelas que eram observáveis na primeira metade do século XX. Inserção da mulher no... more
Da função paterna ou da inscrição do simbólico na formação do sujeito Em nossa contemporaneidade, as formações familiares não correspondem nem de perto àquelas que eram observáveis na primeira metade do século XX. Inserção da mulher no mercado de trabalho, aumento gradativo das jornadas de trabalho e, acima de tudo, um querer cada vez menor de preencher o ideal de família, composta tradicionalmente por um membro homem, detentor dos meios e do poder, e sua respectiva esposa, provedora do seio emocional do núcleo familiar. De um lado observamos a decadência do pai fálico, pilar financeiro e balizador da linguagem, que funcionaria como um registro na família, sendo deixado de lado em detrimento de novas configurações familiares, como a monoparental, homo parental, etc. De outro lado, boa parte dos psicanalistas ortodoxos advertem com urgência que a porosidade da imago paterna nas famílias modernas teria como eminente consequência um aumento alarmante no desencadeamento de novos indivíduos psicóticos, ou ainda, em termos winnicottianos, indivíduos "delinquentes" que não possuem fronteiras entre princípio de prazer e princípio de realidade, e que são mestres em testar os limites dessa última. O objetivo do presente texto é trazer a superfície diversos conceitos lacanianos, e suas respectivas lógicas, que podem ser ferramentas úteis contra esse espírito alarmista relacionado ao "apocalipse paterno".
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Psicanálise e homossexualidade Da antiga Grécia, passando pelo imperador romano Heliogábalo conhecido por seus numerosos amantes e que no início do século III escandalizou seus contemporâneos casando-se publicamente duas vezes vestido de... more
Psicanálise e homossexualidade Da antiga Grécia, passando pelo imperador romano Heliogábalo conhecido por seus numerosos amantes e que no início do século III escandalizou seus contemporâneos casando-se publicamente duas vezes vestido de mulher, até os dias atuais, com a política, movimentos sociais, teoria queer e regimes de visibilidade, a homossexualidade sempre foi um tema de discussão, e não seria diferente para a psicanálise. Com o passar da sua história e desenvolvimento, a psicanálise ramificou-se para muitas áreas distintas, mas sempre se manteve ancorada no eixo da sexualidade. Bissexualidade, perversão polimorfa, pulsão sadomasoquista, função paterna são apenas alguns exemplos que compõem o vasto léxico da sexualidade e do corpo sob a ótica da psicanálise. O objetivo do presente texto é abordar algumas falácias sobre a homossexualidade que, devido a intentos conservadores, tentativas de criminalizar a diversidade ou até mesmo desqualificar a psicanálise, permearam a cena psicanalítica e as comunidades LGBT's. No início dos estudos da psicologia, um marco na área do conhecimento da sexualidade foi o livro Psychopathia sexualis, de Krafft-Ebing (1886), no prefácio da mesma obra, encontramos que a proposta desse estudo é a de examinar cientificamente "os sintomas psicopatológicos da vida sexual, de conduzi-los a sua origem e deduzir as leis de seu desenvolvimento e de suas causas" (Krafft-Ebing, 1886, p. VI). Entretanto, "o Tratado de Krafft-Ebing constitui, nesse momento histórico, um texto unificador dos conhecimentos até então elaborados de maneira esparsa e assistemática no campo médico-psiquiátrico. Para definir a normalidade em relação à qual determinados comportamentos sexuais serão considerados desviantes, Krafft-Ebing buscará recurso à noção biológica, portanto natural, de 'preservação da espécie'. O prazer obtido da relação sexual será natural na medida em que contribua para a reprodução.
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O Mal-estar na homossexualidade Na clínica, é comum observamos que os membros da comunidade LGBT trazem no discurso constantes crises identitárias, ao contrário dos heterossexuais, suas crises são assentadas não apenas em uma... more
O Mal-estar na homossexualidade Na clínica, é comum observamos que os membros da comunidade LGBT trazem no discurso constantes crises identitárias, ao contrário dos heterossexuais, suas crises são assentadas não apenas em uma descorporalização de si, mas principalmente no que chamo de ''curto-circuito do desejo''. De um lado, da parte da heterossexualidade, apesar de termos crises como se achar muito magro, pouco másculo ou muito gordo, o sujeito sabe o que lhe aflige, via de regra se sente mal por não pertencer a uma estética dominante ou padronizada, seu superego lhe imputa um desejo de adaptação, de pertencimento. De outro lado, o sujeito que possui um desejo ou identidade de gênero em discordância com o discurso dominante, traz questões de outra ordem, como por exemplo uma não permissão de sentir o que sente, ou ainda de não possuir identidade alguma, esse sujeito é imperativamente convocado a aceder a um giro de auto nomeação e construção de si. A probabilidade hipotética que apresento aqui, é, segundo as majoritárias narrativas, uma desorganização e negação tanto do desejo constituinte quanto (em alguns casos) do conhecimento corporal. Opto pela palavra ''conhecimento'', pois, segundo Lacan (1995), esse termo se refere a uma vista dos objetos pela consciência do eu, apontando que o conhecimento é sempre imaginário, ou melhor, paranoico, na medida em que nada mais é senão a projeção da consciência sobre os objetos. O conhecimento não se equipara ao saber, o qual, sendo da ordem do simbólico, implica elaboração e não está na dependência do ponto de vista do eu. Dessa forma, nenhum sujeito ''sabe'' sobre seu próprio corpo, mas o (re)conhece enquanto contorno, perímetro e limite de si.
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Ser sujeito e o tempo ''Em geral, o homem compreende sua própria vida como um conteúdo a partir do que se dá em sua experiência, mas a vida não pode ser determinada por um 'que', ou seja, por uma perspectiva teórica-objetivante; ela deve... more
Ser sujeito e o tempo ''Em geral, o homem compreende sua própria vida como um conteúdo a partir do que se dá em sua experiência, mas a vida não pode ser determinada por um 'que', ou seja, por uma perspectiva teórica-objetivante; ela deve ser compreendida a partir do 'como' de sua realização, no movimento no e pelo qual ela vem a si mesma. Fenômeno não é apenas o que é experienciado, mas também o modo de experienciar o que é experienciado, o como, estritamente entendido como o método, no sentido aristotélico de caminho, e não no sentido de uma técnica. Essa compreensão do conceito método é, para Heidegger, nada menos do que temporalidade.'' (Blasio, 2007. p.4) As concepções de tempo que vigoram em nossa sociedade, dos pré-socráticos até Einstein, se dão pela definição do tempo enquanto medida de movimento. Nas religiões é possível encontrar o conceito de eternidade, o que, para Heidegger, é uma desvalorização ontológica do tempo, pois procuram alcançar o tempo a partir daquilo que está fora dele (Heidegger, 2009). Nas ciências modernas o tempo é agenciado por instrumentos que atravessam os sentidos humanos: posição do sol, ponteiro dos relógios, horários para as refeições; nesses casos o tempo é apenas uma forma de calcular, de controlar. Já que o Dasein é finito, o poder constitutivo da temporalidade tem limites. E é exatamente para tentar escapar à finitude angustiante da temporalidade originária que se impõe a concepção vulgar do tempo infinito no seio do qual se inseririam as múltiplas temporalidades finitas. Indagaremos então: haveria a possibilidade de pensarmos o tempo enquanto um elemento subjetivo? Se o tempo que pauta a nossa leitura, o escutar de uma música, se basear apenas no tempo como medida de movimento, o caráter desaparece e nós nos tornaremos apenas cumpridores de etapas (Dastur, 1997). Para ter uma experiência qualitativa do tempo, é preciso reconhecer a
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Ensaio para uma sociologia do desejo Dentre as múltiplas teorias que abordam as diversas esferas do ser humano, talvez aquelas que mais se encontrem em tensão seja a da sociologia e a da psicanálise. De um lado, a pretensão nos estudos de... more
Ensaio para uma sociologia do desejo Dentre as múltiplas teorias que abordam as diversas esferas do ser humano, talvez aquelas que mais se encontrem em tensão seja a da sociologia e a da psicanálise. De um lado, a pretensão nos estudos de um nível macro-determinante, e de um outro uma redoma de lógica própria que se fecha em si mesma, enquanto teatro e representação, sujeito vs inconsciente. No que tange a sociologia, se tomarmos em conta por exemplo a teoria marxista, a questão do desejo e da subjetividade no pensamento de Marx permanece, ainda hoje, amplamente inexplorada, sendo, inclusive, tratada por determinadas correntes no interior do pensamento marxista de forma preconceituosa, como uma questão secundária a ser desconsiderada. Alguns autores apontaram-na como uma deficiência, tendo em vista que, para estes, há na obra de Marx um forte traço economicista e determinista, à medida que ele compreende os mecanismos internos, as atividades da consciência, como um fenômeno secundário, mero reflexo das determinações materiais, das relações de produção, inviabilizando, assim, uma reflexão rica e complexa sobre a subjetividade humana. (Chagas,2013) Algumas passagens na obra de Marx, particularmente em A Ideologia Alemã (Die deutsche Ideologie) (1845-1846), na qual ele afirma que é a vida que determina a consciência, e não o contrário, e no Prefácio (Vorwort) à obra Para a Crítica da Economia Política (Zur Kritik der politischen Ökonomie) (1859), em que ele reafirma tal posição, salientando que "[...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência." (Marx, 1983, p.9). Essa interpretação do pensamento marxista, que podemos nomear de determinismo materialista, apressa-se em concluir o sujeito enquanto desprovido da capacidade de filtrar e deslocar os limites da realidade material que está submerso.
O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 2 Dando continuação a ultima postagem, descreverei sucintamente três dos quatro principais discursos, é importante atentar-se as imagens dos matemas na postagem anterior, para facilitar a... more
O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 2 Dando continuação a ultima postagem, descreverei sucintamente três dos quatro principais discursos, é importante atentar-se as imagens dos matemas na postagem anterior, para facilitar a compreensão:-O discurso do mestre: Aqui, trago duas interpretações distintas. A primeira, podemos entender o respectivo matema através de Marx, que nitidamente Lacan estudou e interpretou sob o viés da economia psíquica. Este primeiro discurso vem diretamente do coletivo. Lacan parece estar relendo Marx. O lugar do agente é ocupado pelo significante mestre, que é o capital. No lugar da verdade, fundamentalmente implícita e velada, se encontram as subjetividades. O outro do discurso é o proletário como depositário de um conhecimento, de um saber-fazer (savoir-faire). Ele é aquele que a dominância capitalista faz trabalhar. O resultado desta operação é a mais-valia produzida por S2 e recuperado por S1. S1, como significante mestre, apresenta-se como o fundamento do discurso, da linguagem e finalmente do vínculo social. Ela se coloca como um fundamento auto justificado do vínculo social. Deste ponto de vista, em nível coletivo, este discurso pode de fato ser chamado de o discurso da ideologia. Totems, ancestrais, deuses múltiplos, o único Deus ou grandes políticos venerados são ou foram esses significantes mestres no discurso dominante de muitas sociedades. O "Estado", a "Liberdade", a "Ciência", os "Direitos Humanos" também tem sido este significante auto justificador em diferentes níveis (Clastres, 2012). O que esta ideologia, S1, coloca em movimento (mise au travail) é um certo conhecimento, S2. Podemos dizer que atualmente, de forma dominante, o saber científico, busca produzir um gozo que reforça a ideologia S1. O vínculo social é construído em torno desta ideologia, através do trabalho do S2 e o mais-de-gozar. O apelo deste discurso
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O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 3 Neste texto finalizarei o bloco sobre os quatro discursos, trabalhando com os dois últimos, a saber: o discurso do analista e o discurso do capitalista.-O discurso do analista: a → $ S2 S1 Como... more
O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 3 Neste texto finalizarei o bloco sobre os quatro discursos, trabalhando com os dois últimos, a saber: o discurso do analista e o discurso do capitalista.-O discurso do analista: a → $ S2 S1 Como podemos observar, o analista é colocado como elemento de agente, em uma posição mais privilegiada. O analista é representado como o pequeno objeto a, pois se apresenta como um efeito opaco, resto da operação da linguagem. Lacan dirá que a posição do analista deve se encontrar no polo oposto a toda vontade de dominar. "Oferecer-se como ponto de mira para o desejo de saber", "oferecer-se como causa de desejo" (Lacan, 1992. p.99, p.100) são outros nomes que Lacan dá à posição do agente do discurso do analista, único discurso onde o lugar o agente é ocupado pelo objeto, ou seja, no lugar do analista não há nenhuma pretensão de sujeito. Assim sendo, é de uma proposta de silêncio do agente do discurso que torna o discurso do analista subversivo, pois este não pretende nenhuma solução e pede aquilo que não quer. Outra particularidade do discurso do analista é ser o único que trata o outro como sujeito $. No discurso do mestre o outro é tratado como escravo, no discurso da histérica o outro é tratado como mestre e no discurso universitário o outro é considerado objeto (Almeida, 2010). Pois tratar o outro como sujeito é possibilitar que ele se manifeste com sua singularidade, que pertence ao inconsciente de cada um, com seu S1, produto do discurso do analista. Esse sujeito que é dividido ($), é sempre o sujeito do inconsciente, que através das palavras se contradiz, cliva-se entre pensar e dizer, falado e dito, em suma, que ao tomar a
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O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 1 Primeiramente, o que é um discurso? Lacan salienta, tanto no seu seminário XX, Mais, ainda (Encore) quanto no seminário XVII O Avesso da Psicanálise (L'Envers de la Psychanalyse) que o discurso é... more
O que são os 4 discursos de Lacan?-parte 1 Primeiramente, o que é um discurso? Lacan salienta, tanto no seu seminário XX, Mais, ainda (Encore) quanto no seminário XVII O Avesso da Psicanálise (L'Envers de la Psychanalyse) que o discurso é o laço social: ''No final, há apenas isso, o laço social. Eu o designo de discurso porque não há outra maneira de chamá-lo, assim que você se dá conta de que o laço social só se instaura ancorando-se na forma como a língua está situada e impressa, se situa no que ela se acumula, ou seja, o ser falante. '' (Lacan, 1975. p.51) O termo "discurso" geralmente se refere aos trabalhos seculares da retórica clássica onde constatamos que dizer é fazer, agir e prescrever lugares, para as análises de Benveniste, Lyotard, Barthes e especialmente Foucault, que inclui neste termo os dispositivos, técnicas e materiais que aparelham um discurso. Lacan, por sua vez, nos mergulha no meio de um paradoxo: um discurso, se ele pressupõe a constituição da linguagem, e se ele se manifesta na palavra dirigida, de outro lado ele não é em si mesmo nem linguagem, nem palavra. Para Lacan, o que faz os seres humanos se manterem em um conjunto, é a relação com o discurso. O discurso é uma estrutura que na linguagem se fixa, se cristaliza, utiliza seus recursos linguísticos para que o laço social entre os humanos funcione. Sabemos que a linguagem nos constitui. Somos seres de linguagem. Mas a linguagem não é apenas interna, é também palavra que dirigimos à nós mesmos e aos os outros. Faz parte da textura do vínculo social. É nomeação, repartição de lugares, distribuição de posições e, portanto, pode-se dizer, constituição de um vínculo social. É nessa palavra que tomamos uma posição, ou ainda, que fixamos nossa posição. Nós somos em um discurso. Um discurso, de acordo com Lacan, é uma estrutura de linguagem definida por quatro lugares: o agente, o outro, a produção, a verdade, e por quatro letras: $, S1, S2 e a. Ao fazer uma certa combinatória das letras em relação aos lugares de acordo com um
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A psicopatologia e o esquema L em Lacan-parte 2 Antes de tudo, é importante demarcar uma distinção entre significante e significado. Podemos dizer que o significante é o material da linguagem, sua imagem acústica, seu estado bruto e mais... more
A psicopatologia e o esquema L em Lacan-parte 2 Antes de tudo, é importante demarcar uma distinção entre significante e significado. Podemos dizer que o significante é o material da linguagem, sua imagem acústica, seu estado bruto e mais universal, enquanto o significado remete à significação. Salientando que o significado de uma palavra não se resume a uma única significação. (Bouquet, 2009) Por exemplo, algumas palavras pronunciadas por sujeitos delirantes, são neologismos, e isso se insere no campo do significante. Todavia, ao analisarmos mais detidamente, constatamos que essas palavras possuem significações cujas ligações se remetem a elas próprias, como uma espécie de significado irredutível. Adiante, na psicose não se trata de fantasia e sim de delírio ou alucinação, uma vez que o significante forcluído da cadeia simbólica retorna pela via do real, o que implica uma realidade que se estrutura a partir do registro real. O que Lacan destaca ser o ponto primordial de diferença entre neurose e psicose é o modo de relação do sujeito com o significante, ou seja, sua posição diante do grande Outro. O neurótico, por possuir o significante do Nome-do-Pai, é capaz de encadear os significantes e emergir como sujeito intervalar, na escansão, entre os significantes encadeados. O Nome-do-Pai é responsável pela organização da cadeia de significantes a partir da articulação entre S1 e S2. O S1, significante unário, é aquele que introduz o primeiro corpo de significantes e articula-se a S2. S2 é sempre uma tentativa de repetição de S1 e, a partir daí, desenvolve-se a cadeia como tal. No entanto, na psicose, devido à não incidência do Nome-do-Pai e à não instituição da lei fálica no simbólico, a relação do sujeito com o S1 se diferencia do que se vê na neurose.
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O que é a análise do discurso? Até meados do final da década de 60 havia a ciência da linguagem assentada sobre, basicamente, três fundações: havia o estruturalismo sob o curso de linguística geral de Saussure (2012) que negava o efeito... more
O que é a análise do discurso? Até meados do final da década de 60 havia a ciência da linguagem assentada sobre, basicamente, três fundações: havia o estruturalismo sob o curso de linguística geral de Saussure (2012) que negava o efeito sujeito e a situação da linguagem; a gramática gerativa transformacional proposta por Noam Chomsky (2007), com a abreviação ''GGT", que atribuía valor puramente biológico a linguagem; e por fim a teoria semiótica de Peirce (1993) que aventava a tríade signo, seu objeto e sua interpretação: os três sujeitos da semiose, ou ainda os conceitos de índice, ícone e símbolo. No final dos anos 1960, Michel Pêcheux (1938-1983), então pesquisador da École Normale Supérieure (ENS Paris) propõe a teoria da análise de discurso, na França. Para a proposição de sua teoria, Pêcheux baseou-se em importantes estudos realizados por Canguilhem e Althusser. ''A análise de discurso surge, então, com a discussão de questões que advogam contra o formalismo hermético da linguagem, questionando a negação da exterioridade. A linguagem não é mais concebida como apenas um sistema de regras formais com os estudos discursivos. A linguagem é pensada em sua prática, atribuindo valor ao trabalho com o simbólico, com a divisão política dos sentidos, visto que o sentido é movente e instável. O objeto de apreciação de estudo deixa de ser a frase, e passa a ser o discurso, uma vez que foge da apreciação palavra por palavra na interpretação como uma sequência fechada em si mesma.'' (Brasil, p.172) O grande rompimento que é importante destacar, é quando a análise do discurso francesa salienta o caráter histórico da linguagem, fazendo com que o campo de estudo da linguagem passe então a ser impelido a refazer uma série de reconsiderações.
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A psicopatologia e o esquema L em Lacan-parte 1 No senso etimológico (Bastos,1928), a palavra ''análise'', do grego análysis vem de analýein, isto é, aná (para cima) + lýein (soltar, afrouxar, decompor). Análise significa desfazer, jogar... more
A psicopatologia e o esquema L em Lacan-parte 1 No senso etimológico (Bastos,1928), a palavra ''análise'', do grego análysis vem de analýein, isto é, aná (para cima) + lýein (soltar, afrouxar, decompor). Análise significa desfazer, jogar para o alto. O termo provavelmente tem sua origem no beneficiamento do trigo in natura que, quando triturado e jogado para o alto, é possível separar os grãos da palha. Ao contrário do empirismo que aborda o psicopatológico através dos fenômenos de causa e efeito, como é o caso da psicologia, a psicanálise aborda esta temática através das relações: relações de afeto, de significantes, objetos e pulsões, enfim, de como essas relações se fazem emergir através dos discursos e que o analista escuta e decompõe em elementos de uma estrutura. Como função tópica, devemos necessariamente recorrer na obra de Lacan a topologia, que nesse caso exerce a função de tornar espacializado o psiquismo. As relações entre Ego, Id e Superego em Freud serão repensadas sob a forma da relação espacial entre Simbólico, Imaginário e Real O esquema L figura os quatro lugares que suportam a palavra falada (D'Agord 2009): o sujeito, o eu, o outro e o Outro, respectivamente, S, a, a' e A (Usa-se "a'' pois em francês ''autre'' significa ''outro''. Esses quatro lugares caracterizam a estrutura que antecipa outras estruturas, também quaternárias, adotadas por Lacan (o grafo, os quatro discursos). Diante disso, esse quaternário nos permite aplicar uma noção de estrutura, ou seja, um conjunto de elementos entre os quais se definem uma ou varias operações, concomitantemente ou não. Adiante, o núcleo de duas estruturas básicas, a saber a neurose e a psicose, é o corpo imaginário. O corpo imaginário é aquele que foi apreendido enquanto efeito do estádio do espelho, através da confirmação do outro a criança é capaz
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Lacan e a interpretação do sintoma "O inconsciente é, em seu fundo, estruturado, tramado, encadeado, tecido de linguagem" (LACAN, 1981, p. 135) Em meados dos anos 1950, que marcam o que poderíamos chamar de primeiro ensino de Lacan, o... more
Lacan e a interpretação do sintoma "O inconsciente é, em seu fundo, estruturado, tramado, encadeado, tecido de linguagem" (LACAN, 1981, p. 135) Em meados dos anos 1950, que marcam o que poderíamos chamar de primeiro ensino de Lacan, o inconsciente é concebido como um habitante de uma estrutura simbólica. A partir do pensamento estruturalista (Lévi-Strauss, por exemplo) e linguístico (Saussure, Pierce, etc.), Lacan registra a proposição do inconsciente estruturado como uma linguagem. O inconsciente seria formado por cadeias de significantes e regulado pelas leis de metáfora e de metonímia (Lacan, 1957/1998). Primeiramente, na metáfora, um significante procederia ao outro na forma de uma substituição, em uma releitura freudiana, diríamos que um significante sintomático vem a se sobrepor a um significante recalcado. Logo, o sujeito do inconsciente não teria a significação sintomática acessível. Através da experiencia analítica, o sintoma é passível de interpretações, cortes e pontuações do analista, pelos quais o analisando passa a experimentar efeitos de sentido. Segundamente, na metonímia, um significante desliza a outro, o que é próprio da associação livre, quando um significante escorrega a outro formando uma cadeia metonímica. A partir disso, na interpretação analítica, segundo Lacan, o analista tem a função de decifrar as manifestações inconscientes enquanto fenômenos de linguagem. É frequente escutarmos de que a interpretação é relativa, ou totalmente aberta dependendo de quem observa um objeto de estudo ou escuta um determinado discurso. No entanto, no Seminário XI, Lacan aventa que a interpretação não é aberta a todos os sentidos, é falso dizer que todas as interpretações são possíveis, que a interpretação estaria aberta a qualquer sentido "sob pretexto de que só se trata da ligação de um significante a um significante e,
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Da importância do recalque e mais ainda do recalcado ''O homem é onde não pensa e pensa onde não é'' (Lacan) Freud formaliza um dualismo pulsional. De um lado, situa as pulsões do ego, aquelas movidas pela busca da autopreservação do eu,... more
Da importância do recalque e mais ainda do recalcado ''O homem é onde não pensa e pensa onde não é'' (Lacan) Freud formaliza um dualismo pulsional. De um lado, situa as pulsões do ego, aquelas movidas pela busca da autopreservação do eu, que são ligadas as necessidades corporais, como o alimentar-se, por exemplo. As pulsões do ego funcionam paralelamente ao princípio de realidade e a pulsão de vida. Além disso, para serem satisfeitas necessitam concretamente de objetos reais, excluindo assim, em estados não patológicos do psiquismo, as fantasias. Do outro, as pulsões sexuais, que operam como exigências de obtenção de prazer, ou seja, possuem uma catexia maleável e uma estreita ligação com a possibilidade de satisfação através de fantasias. Essas pulsões seriam um objeto alvo dos recalques pelos neuróticos, que são ariscos aos próprios desejos. Os sintomas das neuroses de transferência são lidos como resultantes de um conflito de interesses entre esses dois polos pulsionais. De um lado poderíamos dizer que na neurose de maneira geral há uma prevalência das pulsões do Ego, enquanto que nas perversões é possível dizer que temos uma prevalência das pulsões sexuais. "A pulsão nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo" (FREUD, 1915, p.127). Adiante, na formação neurótica, devido a castração o sujeito se encontra necessariamente em falta, dívida consigo mesmo e com quer que ele fantasie
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Moral, ética e ressentimento em Nietzsche-Parte 1 Em grego, o termo ethos significava ''maneira de ser''. Mas para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, existe uma maneira de ser que é originada e difundida através da moral, que esmaga... more
Moral, ética e ressentimento em Nietzsche-Parte 1 Em grego, o termo ethos significava ''maneira de ser''. Mas para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, existe uma maneira de ser que é originada e difundida através da moral, que esmaga nossa vontade de potência, que quer expandir-se. Moral, para o pensamento aqui proposto, não pertence ao campo do certo ou errado, do bom e do mal, mas sim do forte ou do fraco, do espírito livre ou do castrado, ou ainda, moral naturalista e moral antinatural. A moral antinatural, ou seja, quase todas as morais que foram até aqui ensinadas, honradas e pregadas, remete-se, de modo inverso, exatamente contra os instintos vitais. ''Ela é uma condenação ora secreta, ora tonitruante e insolente destes instintos. No que ela diz 'Deus observa os corações', ela diz Não aos desejos vitais mais baixos e mais elevados, tomando Deus como Inimigo da Vida… O santo, junto ao qual Deus sente prazer, é um castrado ideal… A vida chega ao fim, onde o "Reino de Deus" começa…'' (Nietzsche, apud Oliveira, 2009, p. 135) Conseguimos visualizar a moral em Nietzsche a partir da divisão da moral dos fortes (moral naturalista), reconhecida como o livre fluxo da potência, e a moral dos fracos (moral antinatural), vista como potência movida por forças reativas, que precisam da referência do outro (e precisam barrar a potência do outro) para existir. A moral é como um todo que valora a vida e constitui o homem, o coloca no mundo e o faz perceber o mundo e suas hierarquias de uma forma particular (Oliveira, 2010). A moral valora. A vida mesma nos obriga a instaurar valores, ''lentes'' que nos fazem enxergar e atuar conosco e com o mundo, o dilema aqui proposto entre os fracos e fortes é que os primeiros se articulam através de dados imutáveis, enquanto o segundo a coloca em movimento sob a égide de fluxos, questionamentos e mutações constantes.
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Notas sobre a personalidade autoritária Em meados de 1930, um grupo de intelectuais se inquieta com o programa político de Hitler. Este programa aparenta ser promissor para uma parcela majoritária da sociedade, sejam comerciantes,... more
Notas sobre a personalidade autoritária Em meados de 1930, um grupo de intelectuais se inquieta com o programa político de Hitler. Este programa aparenta ser promissor para uma parcela majoritária da sociedade, sejam comerciantes, estudantes ou trabalhadores domésticos. Essa agenda consistia em extirpar os aproveitadores, eliminar os sujos, desintegrar aqueles que apodrecem a sociedade, que obstaculizam o avanço da economia: judeus, negros, ciganos, homossexuais ou qualquer outro que não se encaixava no conceito de ''boa nação'', bom trabalhador alemão, com boa moral, branquitude, limpo e saudável. O nazismo se choca frontalmente com o trabalho de um grupo de intelectuais alemães, a maioria deles de origem judaica, que escrevem e pesquisam junto ao Instituto de Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt, inaugurado em 1923. Dedicado inicialmente à pesquisa do movimento operário alemão, o Instituto tomará uma orientação muito singular de pesquisa, que será chamada mais tarde de Teoria Crítica da sociedade. O nazismo, como fenômeno social e político alemão, não poderia ser deixado de fora do trabalho intelectual do Instituto. (Alves, 2003). As características básicas dessa empreitada intelectual já estavam sendo constituídas no início dos anos 1930 pelo Instituto. Aqui ganha destaque a figura do filósofo Max Horkheimer (1895-1973) e seu futuro companheiro acadêmico Theodor W. Adorno (1937-1969). A personalidade autoritária (1950) é pensada como um amplo conjunto de trabalhos de investigação psicossocial sobre preconceito e autoritarismo. Trata-se de uma pesquisa inteiramente feita nos Estados Unidos, para onde o Instituto e a maioria de seus membros haviam emigrado, após o início do regime nazista.
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Moral, ética e ressentimento em Nietzsche-Parte 2 De maneira geral, em filosofia e psicologia, o ressentimento é uma forma de rancor ou hostilidade. O ressentimento é um sentimento de hostilidade ao que é identificado como a causa da... more
Moral, ética e ressentimento em Nietzsche-Parte 2 De maneira geral, em filosofia e psicologia, o ressentimento é uma forma de rancor ou hostilidade. O ressentimento é um sentimento de hostilidade ao que é identificado como a causa da frustração. Sentimentos de fraqueza ou inferioridade, ou mesmo ciúmes, diante da "causa" geradora dessa frustração, levam a atacar, rejeitar ou recusar a fonte percebida dessa frustração (Scheler, 1970). Nietzsche, em Genealogia da Moral, seres de ressentimento são uma raça de homens para os quais "a verdadeira reação, a da ação, é proibida e que se compensam apenas por meio de vingança imaginária" (Nietzsche 1999). Ele liga assim o ressentimento diretamente ao que ele chama de "moral do escravo": a moral do escravo é, em essência, constituída pelo ressentimento, por um não-criar. Assim, o ser de ressentimento é profundamente reativo, ou seja, está em uma situação de impotência que gera frustração. Todo homem, seja quem for, que está proibido de agir e, portanto, impotente, é afetado pelo ressentimento: ou seja, só pode sofrer a impossibilidade de se exteriorizar. A força consiste em superar este estado (que é então apenas um estado temporário), como quando se supera por exemplo, o desejo de vingança. A fraqueza, por outro lado, não consegue se livrar deste estado (por exemplo, quando o desejo de vingança se torna uma obsessão, ou quando o arrependimento de um ato se torna uma tortura moral que não deixa mais o pensamento em repouso), ela então transforma suas frustrações em vantagem ou mérito para si mesma, encontrando justificações para sua impotência, através da negação e reversão axiológica: esta vontade de encontrar justificações caracteriza precisamente a mentalidade de "escravo", segundo Nietzsche. Tal mentalidade de ressentimento se encontra, por exemplo, em ideologias que se definem e ancoram em relação a um "inimigo" real ou suposto: o inimigo (ou a causa da impotência) é julgado
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A civilização do espetáculo A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em... more
A civilização do espetáculo A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo nossa natural propensão a nos divertirmos. No passado, a cultura foi uma espécie de consciência que impedia que virássemos as costas para a realidade. Agora, atua como mecanismo de distração e entretenimento. O termo ''Civilização do Espetáculo'' foi cunhado pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, possivelmente fazendo alusão a uma obra francesa denominada ''Sociedade do Espetáculo'', escrita por Guy Debord. Llosa analisa que, seja em ditaduras ou em democracias, em países ricos ou pobres, a cultura está gradativamente aumentando sua tendência em criar ''protagonistas políticos do entretenimento'', ou seja, atores, cantores, modelos e animadores na vida política das nações. Alguns exemplos nacionais: Regina Duarte, Alexandre Frota, Tiririca, e muitos outros. Os profissionais do lazer substituíram os pensadores e escritores, como estes substituíram os 'cidadãos respeitáveis' como figuras estelares da vida pública. Em todas as partes, as disputas eleitorais se decidem cada vez mais em função da publicidade e cada vez menos por causa dos programas e razões propostos pelos candidatos. O essencial nestas disputas não são as propostas em jogo, mas a maneira como estas propostas chegam ao eleitor, convertidas em slogans, cartazes, anúncios breves divulgados pelas redes sociais e televisão. Isso não quer dizer que a forma crie o conteúdo, como nas obras literárias e artísticas. Neste caso, a forma faz as vezes de conteúdo e permite prescindir dele.
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Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 3-O preservativo era, até meados do final da década de 90, praticamente a única ferramenta de combate ao HIV e outras IST's (infecções sexualmente transmissíveis). Porém, com o avanço... more
Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 3-O preservativo era, até meados do final da década de 90, praticamente a única ferramenta de combate ao HIV e outras IST's (infecções sexualmente transmissíveis). Porém, com o avanço tecnológico, mudanças medicamentosas e transformações das dinâmicas sexuais sociais, o preservativo sofreu uma descentralização de sua relevância.-Seguindo a linha de raciocínio das outras duas publicações anteriores, o conceito de agenciamento nos aventa que: a fluidez dos usos dos prazeres e dimensões corpóreas demanda uma nova linha de tecnologias e saberes sexuais, estes últimos por sua vez reverberam retroativamente nos sujeitos fazendo com que eles alterem novamente suas concepções de sexualidade, sexo, gênero, prazer, gozo, etc. fomentando uma progressiva fluidez do âmbito geral das sexualidades, seja ao nível micro (subjetivo e/ou individual), seja ao nível macro (econômico e/ou biomédico).-A título de exemplo, de forma mais pragmática, podemos salientar a Prevenção Combinada, na qual se considera a prevenção como um conjunto de elementos pertencentes ao biológico, tecnológico, sócio cultural e assim por diante.-A Prevenção Combinada é uma estratégia que faz uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção (biomédica, comportamental e estrutural) aplicadas em múltiplos níveis (individual, nas parcerias/relacionamentos, comunitário, social) para responder a necessidades específicas de determinados segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do HIV. As intervenções biomédicas são ações voltadas à redução do risco de exposição, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de infecção. Essas estratégias podem ser divididas em dois grupos: intervenções biomédicas clássicas, que empregam métodos de barreira física ao vírus, já
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Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 1-A contrassexualidade é um termo cunhado pelo espanhol Paul Preciado, ativista queer e trans, que propõe o decretar do fim da natureza como ordem que legitima a sujeição de determinados... more
Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 1-A contrassexualidade é um termo cunhado pelo espanhol Paul Preciado, ativista queer e trans, que propõe o decretar do fim da natureza como ordem que legitima a sujeição de determinados corpos a outros, incluindo, no realizar dessa morte, propostas de práticas de tecnologias de resistência-ou melhor, de contradisciplina-, as quais revelam aspectos políticos do desejo, aqui desterritorializado do que se entende como centros erógenos do corpo. (Preciado, 2014)-Na contrassexualidade, os corpos passam a ser entendidos como textos, alheios ao binômio homem/mulher, e o sistema sexo/gênero é compreendido como um sistema de escritura.-As territorializações do corpo em dimensões erógenas são ditadas por fluxos históricos, sociais e políticos. Tomemos como exemplo o local privilegiado do dualismo pênis/vagina, além das explicações biológicas destes dois órgãos, um dos fatores que mais impregnou esses dois membros como o ápice do erotismo e do prazer foi a construção política religiosa do sexo enquanto reprodutivo, que investiu estes com a mais alta estirpe de catalização de nossos desejos e uso dos prazeres.-Pensemos a partir disso que a tecnologia sexual e biopolítica recorta e seleciona arbitrariamente determinados órgãos na existência humana e lhes confere significados que totalizarão o corpo e significarão a existência, destinando os demais à periferia. Apresenta-se aqui o argumento já colocado por Butler, de que os corpos só adquirem significado enquanto sexuados, caindo na abjeção da monstruosidade aqueles cuja existência fuja da correspondência exigida pela matriz heterossexual de inteligibilidade cultural.-Os princípios da sociedade contrassexual propõem: novas tecnologias de sexualidade de resistência, contradisciplinas, alheias a quaisquer fins reprodutivos e contraproducentes, alternativas de prazer-saber e saber-p(h)oder.
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Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 2-A sexualidade passa por processos sócio-históricos pautados por um agenciamento entre o sujeito, seus respectivos usos dos prazeres e outras forças externas que imputam uma modificação... more
Contrassexualidade e a prevenção de DST's, parte 2-A sexualidade passa por processos sócio-históricos pautados por um agenciamento entre o sujeito, seus respectivos usos dos prazeres e outras forças externas que imputam uma modificação destes. Ou seja, há uma troca entre a subjetividade e fatores tecnológicos, econômicos, sociais, culturais, etc. que irão fomentar o que conhecemos como sexualidade.-Segundo Foucault (1988), em princípio, o sexo se esconderia do sujeito, cabendo a um exame clínico resgatá-lo (inconsciente). O interlocutor, hermeneuticamente, decifra o sexo do outro. Cria-se um poder-saber sobre o sujeito: "Nós dizemos a sua verdade, decifrando o que dela ele nos diz, e ele nos diz a nossa, liberando o que temos oculto" (p.79) Assim é criado o dispositivo da sexualidade, não sobre a repressão dos instintos (externo), mas fundamentalmente sobre leis que regem o desejo (constitutivas do próprio desejo, logo, interno) e criando o próprio sujeito e as identidades tal qual a conhecemos hoje.-Entretanto, para um funcionamento da concepção e agenciamento da sexualidade plena, é necessário renunciar a princípios universalizantes que conceituam tendências, pré-disposições, propensões, tendo como base a seguinte pergunta: Como você goza, o que te dá prazer? É necessário refutar que as mulheres sentem mais prazer em um determinado lugar do corpo, ou que então os homens possuem inatamente uma certa conduta sexual. Cada sociedade deve ser estudada em seus específicos contextos socioeconômicos: "é preciso investigar as relações recíprocas entre os influxos biológicos e sociais e, renunciando a uma afirmação da validade geral do complexo de Édipo, estudar separadamente cada tipo de cultura a fim de estabelecer seu 'específico complexo 'correspondente''' (MALINOWSKI, 1926-1963, p. 267).
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Configurações de uma subjetividade nômade-Braidotti (2000) estrutura o nomadismo através da diferença sexual, esta explanada como um conceito que oferece localizações mutáveis para vozes ditas ''corporizadas''.-Braidotti parte da idéia em... more
Configurações de uma subjetividade nômade-Braidotti (2000) estrutura o nomadismo através da diferença sexual, esta explanada como um conceito que oferece localizações mutáveis para vozes ditas ''corporizadas''.-Braidotti parte da idéia em que a subjetividade e o próprio sujeito precisam ser repensados; pois o sujeito tal como o consideramos modernamente é puramente REPRESENTACIONAL.-As ações, pensamentos e relações deste sujeito estão fundadas em formas específicas dadas a partir de uma imagem ''idealizada''.-Em um sentido tradicional, a idéia de subjetividade contempla e se compreende a partir dos sujeitos ligados intrinsicamente à uma ordem estabelecida.-Nesse ponto, há um diálogo com Foucault (1988), segundo o qual nós temos duas concepções para o significado de sujeito, ou seja, aquilo que impõe uma lei da ''verdade'', fazendo com que nós reconheçamos nós mesmos e que exigimos que o outro nos reconheça a partir da mesma ótica: primeiramente uma semântica da palavra ''sujeito'', aquele que se sujeita, submetido ao controle e dependência do outro. Segundamente sujeito enquanto atado a sua própria identidade pela consciência e conhecimento de si mesmo: ''eu sou''. Ambos os casos sugerem uma submissão a um tipo de poder.-Logo, as relações de poder que determinam o que é um sujeito ou o que não o é outorgam um lugar, uma posição de hierarquia, consequentemente sujeitos que não respondem a esse lugar de subjetividade majoritária necessariamente são considerados ''diferentes'', todavia anexado ao senso de menor valor, menos que, etc.-Exemplo: a relação de subjetividade e sujeito é autenticada por uma hegemonia masculina, branca e europeia, como norteadores e marcadores de limites.
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O presente trabalho visa analisar os discursos mercadológicos sobre roupas ditas não binárias (genderless) tanto nas lojas de departamento multinacionais quanto em lojas brasileiras que não possuem abrangência internacional. Para isso... more
O presente trabalho visa analisar os discursos mercadológicos sobre roupas ditas não binárias (genderless) tanto nas lojas de departamento multinacionais quanto em lojas brasileiras que não possuem abrangência internacional. Para isso serão seguidos quatro processos: o primeiro refere-se à um senso histórico das roupas unissex do século XX até o início do século XXI. O segundo aborda algumas concepções teóricas modernas do que é identidade e identidade de gênero. O terceiro ponto atenta-se em expor os objetivos das respectivas marcas, objetivos esses retirados dos próprios sites institucionais dessas marcas que dizem produzir roupas sem gênero. O quarto e último foco é fazer uma análise discursiva das publicidades e objetivos divulgados por essas empresas.
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O ensaio trata de uma breve explanação da importância do sofrimento, articulando Nietzsche e o trabalho do psicanalista.
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Na obra o Anti-Édipo (2014), primeiro livro da série Capitalismo e esquizofrenia, Gilles Deleuze e Félix Guattari derrubam o pilar central da psicanálise, que é a concepção do desejo como uma falta, substituindo-o por uma teoria de... more
Na obra o Anti-Édipo (2014), primeiro livro da série Capitalismo e esquizofrenia, Gilles Deleuze e Félix Guattari derrubam o pilar central da psicanálise, que é a concepção do desejo como uma falta, substituindo-o por uma teoria de máquinas desejantes que articulam o desejo como um excesso, algo que transborda e deve ser codificado pelo socius, uma segunda máquina de produção em vertente social. Há uma abundante referência etnográfica com a intenção não apenas de denunciar os aspectos reacionários da psicanálise e sua respectiva legitimação com o capitalismo e a teoria do Édipo, mas busca-se também instaurar uma espécie de “anti-sociologia”. A intenção dos autores, com a teoria das multiplicidades, é abarcar o devir em uma epistemologia do sujeito “auto-antropológico”, uma espécie de pesquisador, alheio e imerso em si mesmo.
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O presente trabalho visa analisar os discursos mercadológicos sobre roupas ditas não binárias (genderless) tanto nas lojas de departamento multinacionais quanto em lojas brasileiras que não possuem abrangência internacional. Para isso... more
O presente trabalho visa analisar os discursos mercadológicos sobre roupas ditas não binárias (genderless) tanto nas lojas de departamento multinacionais quanto em lojas brasileiras que não possuem abrangência internacional. Para isso serão seguidos quatro processos: o primeiro refere-se à um panorama histórico das roupas unissex do século XX até o início do século XXI. O segundo aborda algumas concepções teóricas modernas do que é identidade e identidade de gênero. O terceiro ponto atenta-se em expor os objetivos das respectivas marcas, objetivos esses retirados dos próprios sites institucionais dessas marcas que dizem produzir roupas sem gênero. O quarto e último foco é fazer uma análise discursiva das publicidades e objetivos divulgados por essas empresas.
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