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Temas atuais em educação - Vol. III

2019, Vivens

TEMAS ATUAIS EM EDUCAÇÃO Volume III Imagens da capa: https://pixabay.com/pt/educa%C3%A7%C3%A3o-%C3%ADconeseduca%C3%A7%C3%A3o-%C3%ADcones-3551841/ José Dias Junior Cunha Daniela Valentini (Organizadores) TEMAS ATUAIS EM EDUCAÇÃO Volume III Primeira Edição E-book Toledo - PR 2019 Copyright 2019 by Organizadores EDITORA: Daniela Valentini CONSELHO EDITORIAL: Dr. José Aparecido Pereira - PUCPR Dr. José Beluci Caporalini – UEM Dr. Lorivaldo do Nascimento - UNIOESTE REVISÃO FINAL: Organizadores CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Junior Cunha. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) T278 Temas atuais em educação, vol. III. / organizadores, José Dias, Junior Cunha, Daniela Valentini. – 1. ed. e-book – Toledo, PR: Vivens, 2019. 94 p. Modo de Acesso: World Wide Web: <http://www.vivens.com.br> ISBN: 978-85-92670-87-0 1. Aprendizagem. 2. Ensino religioso. Práticas pedagógicas. 4. Poesia. 5. Arte. 3. CDD 22. ed. 370 Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi Bibliotecária CRB/9-1610 Todos os direitos reservados aos Organizadores. Editora Vivens, Conhecer é Poder! Rua Pedro Lodi, nº 566 – Jardim Coopagro Toledo – PR – CEP: 85903-510; Fone: (45) 3056-5596 http://www.vivens.com.br; e-mail: contato@vivens.com.br SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ....................................................9 I A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Lucas Henrique Barbosa Alves ............................... 11 II A POESIA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM Maynara O. Scarpini Bortoluzzi Erickson Rodrigues do Espírito Santo Gilvane Paulo Leiser ............................................... 25 III AS EXPECTATIVAS DA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO COM A IMPLANTAÇÃO DA NOVA BNCC Renato Paulo .......................................................... 41 IV OS DESAFIOS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Lucas Henrique Barbosa Alves ............................... 73 8 Temas atuais em educação – Volume III APRESENTAÇÃO Com alegria apresentamos aos educadores e filósofos da educação o terceiro volume da coletânea Temas atuais em Educação, que recolhe quatro trabalhos teoricamente consistentes e portadores de alta relevância para a prática educacional. No primeiro capítulo, o professor Lucas Henrique Barbosa Alves trabalhou o tema da arte na educação infantil. No segundo capítulo, os professores Maynara O. Scarpini Bortoluzzi, Erickson Rodrigues do Espírito Santo e Gilvane Paulo Leiser trabalharam o tema da poesia como instrumento de aprendizagem. No terceiro capítulo, o professor Renato Paulo trabalhou o tema das expectativas da disciplina de ensino religioso com a implantação da nova BNCC. No quarto capítulo, o professor Lucas Henrique Barbosa Alves trabalhou o tema dos desafios e as práticas pedagógicas da educação de jovens e adultos. Boa leitura! 10 Temas atuais em educação – Volume III I A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Lucas Henrique Barbosa Alves* RESUMO: Durante a infância as crianças têm contato com a arte na educação infantil. Nessa fase é muito comum que elas fantasiem muito, sonhem, imaginam e assim elas vão descobrindo muitas coisas importantes para a sua vivência, elas não têm medo de criar, inventar. Considerando a arte como sendo um eixo essencial na educação infantil e a falta da mesma nos currículos e planos de aula, a pesquisa tem como objetivo principal o de ressaltar a importância de o professor valer-se desta fase da vida dos seus alunos e por meio dela, viabilizar recursos para que possam desenvolver e adquirir conhecimentos, aguçar a curiosidade, enriquecendo seu vocabulário e seus conhecimentos. É necessário compreender que os alunos precisam deste mundo de descobertas dentro do ambiente de aprendizagem. O principal fator de discussão deste estudo são os estereótipos, * Licenciado em Pedagogia pela Faculdade Geremário Dantas; Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranavaí; Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci; Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Itaquá; Especialista em Alfabetização e Letramento pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci; Mestrando em Ensino: Formação Docente Interdisciplinar pela Universidade Estadual do Paraná; faz parte do quadro de professores efetivos da Prefeitura Municipal de Inajá-PR. E-mail: lucas-le-ao@hotmail.com. 12 Temas atuais em educação – Volume III considerando a importância de refletir sobre e em que influência os alunos, especialmente na educação infantil, que é a fase onde a criança começa a receber ou perceber muitos valores e princípios até a fase adulta, nesta fase começa a pensar em conceitos, que devem ser seus e não algo já pronto que lhe seja imposto. Foram levantados dados bibliográficos e diálogos informais com profissionais da área. Como resultado obteve várias fontes de pesquisam que defendem este ponto, tornando-se um apoio ao professor. É muito importante ao professor em sala, utilizar ferramentas lúdicas para garantir a aprendizagem significativa de seus alunos, possibilitando a sua imaginação para fazer arte, considerando esta, um forte instrumento de aprendizagem e desenvolvimento. PALAVRAS-CHAVE: Infância. Criança. Educação. Arte. A Arte na Educação Infantil 13 INTRODUÇÃO A fase da infância é um período cheio de descobertas e magia e onde a maioria das crianças tem os primeiros contatos com a arte. Na educação infantil, as aulas de artes fazem parte dos eixos que integram os conteúdos e atividades necessárias nesta fase escolar. Profissionais especializados nessa área podem atuar de forma adequada visando o desenvolvimento artístico da criança. O professor precisa identificar as necessidades dos seus alunos e compreender que sua imaginação vai além do que se pode imaginar, é preciso considerar a sua criatividade e expressão da arte nas mais variadas formas, como por exemplo, nos desenhos, teatros, atividades com movimentos corporais dentre outros. Para que os alunos possam se desenvolver precisa se expressar, a arte é uma ótima metodologia para que se possa ter contato com uma forma de expressão. Através da arte, a criança se enxerga em um mundo diferente, onde ela pode criar, descobrindo novos conceitos para a sua vivência. Considerando que o contato com obras de artes e as suas reproduções feitas pelos alunos, é essencial e prazeroso, tanto para eles quanto para os professores, pois assim vão interagir através do lúdico, ao tentarem reproduzir a obra, descobrindo novas formas de fazer arte. Mesmo com tantas metodologias, muitos professores ainda utilizam aqueles desenhos prontos extraídos da internet, onde a criança deve pintar com giz de cera, lápis de cor ou tinta, ou ainda aqueles que entregam sempre uma folha em branco e pede para 14 Temas atuais em educação – Volume III que os alunos desenhem o que quiserem isso acontece tanto na educação infantil, quanto nas séries iniciais do ensino fundamental, impedindo assim, que a criança descubra outras formas de se expressar e se desenvolver, tantas áreas que são influenciadas pela arte e pelo lúdico. É preciso repensar se os professores e professores com habilitação em artes estão realmente preparados para atuar com a educação infantil, é preciso compreender a necessidade de trabalhar as diversas linguagens da arte, onde as crianças são livres para expressar o que sentem ou conhecem sem se preocupar com algum limite ou regra. É importante pensar em que o ensino de artes influência sobre o fazer artístico do meu aluno da educação infantil e no seu desenvolvimento social e pedagógico, compreender a arte com crianças, e no que a arte influencia na vida da criança. Para as crianças o que importa é o brincar, a diversão, pois brincando elas também aprendem e através do lúdico tem a possibilidade de sonhar com um mundo que é só seu. É preciso compreender que os elementos da arte estão presentes no cotidiano, devemos observála como uma forma de possibilitar prazer às crianças, desenvolvendo a coordenação motora, a arte deve ser compreendida como uma metodologia que contribui para a construção e desenvolvimento do conhecimento. É fundamental que o professor possibilite a criança esse mundo cheio de novidades e descobertas, permitindo que argumentem, se A Arte na Educação Infantil 15 movimentem, compartilhem experiências e assim podem ampliar a visão de mundo. 1.1 A ARTE NA EDUCAÇÃO Arte é uma das disciplinas obrigatórias em todas as escolas sejam particulares ou públicas e que o acesso a esse conhecimento deve ser contemplado desde a educação infantil, até o ensino médio. Sobre a arte na educação, Barbosa (2007, p.23), diz que: A arte na educação é importante para a identificação cultural e o desenvolvimento criador individual. Através da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação para aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo realizar a realidade e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. Durante as aulas de artes os alunos podem desenvolver habilidades e capacidades de imaginação, despertando a criatividade na produção ou reprodução de atividades artísticas. A educação artística tem função essencial na vivência das crianças até a vida adulta, por meio dos perfis individuais, ampliam as formas de expressão e a inteligência de cada criança. Na escola a arte não tem o objetivo de formar artistas, mas sim formar o aluno. Como ensino de arte é possível desfrutar dos vários convites proporcionados pela arte, assim podem enriquecer o 16 Temas atuais em educação – Volume III seu repertório artístico e cultural, considerando que a arte incentiva que o aluno tenha descobertas. Através da educação, que é o processo que o indivíduo está em formação, ele vivencia e adota conhecimentos e experiências que pode ser transmitida. Considerando o relato de MANSUR (1999) de que a educação tem o papel importante na formação da criança enquanto atuante e ativa no mundo e precisa considerar todos os locais, principalmente na escola. 1.2 O ENSINO DE ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Com as descobertas no cotidiano o mundo da criança é cheio de magia e encanto, e elas se aventuram, na educação infantil isso é muito importante para o processo de aprendizagem, pois contribui no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das crianças. Trevisan (2007, p. 55) defende que: A criança recebe, transforma, e cria aquilo que absorve, modifica e dá-lhe novos significados. Não é possível continuar falando de infância, mas de infâncias, assumindo-se que ela varia de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, e mesmo dentro de grupos aparentemente uniformes. O pedagogo Friedrich Fröebel, alemão conhecido como o pai do jardim de infância, é o primeiro que se tem notícia a discutir sobre a importância das atividades lúdicas, da arte e do A Arte na Educação Infantil 17 brincar, ele popularizou um conceito de que as crianças tinham a necessidade de criar as suas próprias artes e se expressar da forma como fosse possível, considerando a sua faixa etária. Em nosso país, temos a educação infantil precisa de profissionais que compreendam a arte nas suas diversas modalidades e todas as suas variações, como o nível escolar da criança de forma lúdica, envolvente, porém intencional. Quando as crianças são estimuladas desde cedo, torna-se pessoas adultas com valores importantes a vida. A arte possibilita o desenvolvimento de muitas outras áreas, além de a sensibilidade, o senso crítico e desenvolver a sua capacidade de criar, capaz de fazer leituras de mundo. Os elementos artísticos estão presentes no cotidiano das crianças, podem ser observados nas imagens fixadas na parede, em quadros, brinquedos e até mesmo no caminho que fazem de casa para a escola, podem induzir os alunos a conhecerem dificuldades e possibilitar o seu desenvolvimento, explorando as reais potencialidades. A educação infantil precisa de meios que respeitem as etapas do desenvolvimento da criança. Cabe aos professores de educação infantil, utilizar as linguagens lúdicas como a música, os jogos, a arte , presentes na sala de aula, desenhando, modelando, recorte e colagem, pintura com os mais variados tipos de pinceis, são algumas das atividades que possam auxiliar e/ou desenvolverem de forma significativa a coordenação motora, é necessários estímulos. 18 Temas atuais em educação – Volume III 1.3 O PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL O trabalho de artes na educação infantil precisa de muita atenção, respeitando as peculiaridades do desenvolvimento de cada faixa etária, a cognição da criança, a sensibilidade e a percepção devem ser estimuladas na criança, pois favorecem o desenvolvimento do social e as capacidades de criação. Para Freire (1996, p.86): O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não “uma cantiga de ninar”. Seus alunos cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas, atentando de certa forma à dialética de ensinar a aprender e aprender a ensinar. O bom professor precisa ter em seu planejamento diversas metodologias de aprendizagem, considerando que se em uma metodologia a criança não aprende, e outra ela pode ter mais sucesso, é preciso considerar que as metodologias sejam diversificadas para garantir e/ou possibilitar a real aprendizagem. A criação ou produção de arte deve ser exclusivamente das crianças, o professor pode intervir nesse processo de forma intencional, apresentando propostas e experiências diversas e buscando um caminho de construção que envolva opções e aprendizagem. A Arte na Educação Infantil 19 O desempenho pedagógico e artístico jamais pode ser comparado a qualquer outra criança, pois é preciso considerar que cada criança tem facilidade e dificuldade em temas específicos e cada um tem o seu tempo para aprender e desenvolver, o que o professor deve fazer é realizar intervenções para possibilitar a evolução do aluno no que diz respeito à aprendizagem. O professor precisa incentivar e encorajar os seus alunos, sem interferir na sua produção. Assim a criança inserida no contexto social é possível organizar as ideias para propiciar momentos para inventar e construir, a linguagem artística se faz presente na educação infantil, e ajuda a criança a fazer por si várias leituras de mundo. A arte na educação infantil tem a meta de enriquecer o nível cultural da criança, pois isso permitirá o seu desenvolvimento humano. Quando se fala em brincar, refere-se não somente aos jogos e brinquedos, mas também as diversas formas de diversão e expressão que possibilitam a aprendizagem da criança e sua visão de mundo: A atividade lúdica se caracteriza por uma articulação muito frouxa entre o fim e os meios. Isso não quer dizer que as crianças não tendam a um objetivo quando jogam e que não executem certos meios para atingi-lo, mas é frequente que modifiquem seus objetivos durante o percurso para se adaptar a novos meios ou vice-versa [...], portanto, o jogo não é somente um meio de exploração, mas também de invenção (BROUGÈRE, 1998, p.193). 20 Temas atuais em educação – Volume III Todas as formas de expressões artísticas contribuem para a construção do saber e do conhecimento de cada criança em desenvolvimento constante. Uma das ferramentas mais importantes para o desenvolvimento dos alunos é a arte, se a criança for estimulada e incentivada, certamente terá uma vida realizada e plena. É necessário que os professores tenham todos os recursos possíveis, a fim de que o ensino de artes na escola, não seja reduzido a atividades de coordenação motora ou apenas um passatempo na escola. A arte nas suas diversas linguagens faz parte do dia a dia das crianças, e contribuem grandemente no processo de ensino aprendizagem. Na educação infantil as práticas pedagógicas devem agregar valores para que pequenos se identifiquem como responsáveis e construtores dos seus saberes e aprendizagens, essenciais na formação humana. Na educação infantil, é preciso trabalhar de forma lúdica, é possível ensinar muitos conteúdos e valores, através de atividades lúdicas, a arte é uma opção, só não podemos reduzir o nosso pensamento e acreditar que arte é só aquela em que as crianças utilizam pinceis e tintas, a arte vai, além disso, está na música, no gesto, na contação de histórias, no teatro, são inúmeras as opções para promover o ensino de artes. Cunha (1999, p. 51) ressalta que: Trabalhar com o lúdico na educação infantil é importante para a criança, pois: Para fazer o lúdico infantil o que importa é a duração do instante criador. Importa é a necessidade, o impulso lúdico de abrir espaços, criar situações de exercício de um pensamento que integra emoção e razão como A Arte na Educação Infantil 21 estratégia para agir e conhecer. O que importa é justificar este ato criador é recriar-se através dessa experiência pictórica, exercitando experimentalmente sua liberdade de criar mundos a partir do mundo. Considerando que trabalhar com o lúdico permite que as crianças tenham uma capacidade muito grande de criação, a arte proporciona muitos caminhos, possibilitando o trabalho com diferentes métodos vivenciando as linguagens artísticas. As aulas trabalham muito com a sensibilidade e as expressões que a criança desenvolve enriquecendo o seu desenvolvimento, aprimorando o seu lado criativo e ampliando o mundo simbólico das crianças quando agem e pensam. Esse contato muitas vezes, prepara o aluno para lidar em determinadas situações, pois o aluno cria algumas habilidades, desempenhando os aspectos ao seu redor. Para Barbosa (2007, p. 23) essa capacidade humana de criar envolve: Desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, partir do conhecido e modificá-lo de acordo com contexto e a necessidade, são processos criadores desenvolvidos pelo fazer e ver a arte, fundamentais para a sobrevivência no mundo cotidiano. O processo de ensino aprendizagem pode variar devido a vários fatores, um deles pode ser a metodologia que o profissional utiliza dentro da sala de aula, isso interfere muito na aprendizagem das crianças, a forma como o professor se relaciona com seus alunos, a afetividade é muito importante 22 Temas atuais em educação – Volume III principalmente na educação infantil, é necessário que o professor seja criativo e que explore todas as situações que podem permitir a aprendizagem do seu aluno. No processo de ensino aprendizagem, é preciso exercitar e estimular cada vez mais a criatividade que possuída pelo aluno, pois é exercitando que provavelmente ela desenvolverá seu processo criativo. Ostrower (1987, p. 05) defende a criatividade, quando fala que: As potencialidades e os processos criativos não se restringem porem a arte. Em nossa época, as artes são vistas como áreas privilegiadas do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em plenitude emocional e intelectual inexistentes nos outros campos da atividade humana, e unicamente o trabalho artístico é qualificado de criativo. Não nos parece correta essa visão. O criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam. É importante que nas aulas de artes, os alunos interajam e observem imagens, porque isso permite que o aluno tenha compreensão, por meio da arte ou de outras lições. A prática pedagógica com diversos recursos estimula a criança e desperta nela a vontade de participar, inventar e aprender, professor tem que saber como trabalhar com os seus alunos utilizando vários recursos em sala de aula, é preciso oportunizar momentos para que o aluno possa se expressar, apresentando as suas habilidades de criação e imaginação. A Arte na Educação Infantil 23 1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O principal objetivo desta pesquisa foi o de apresentar a importância de um bom profissional para atuar na educação infantil e como as metodologias lúdicas podem contribuir no desenvolvimento da criança, observando as metodologias usadas e as formas de relacionar todas as atividades com as crianças. As concepções de infância variam de autor para autor, mas independente dessas variações é preciso que a arte esteja inclusa na vida da criança, pois auxilia no processo de desenvolvimento e aprendizagem, ela desenvolve a sua capacidade de criar, melhora suas formas de expressão, dentre outros fatores imprescindíveis ao seu desenvolvimento. Também é importante considerar a maneira com que o profissional articula a arte em sala de aula, é importante relacionar a arte a situações cotidianas vivenciadas pelos alunos na escola e em suas particularidades. O controle e a dedicação do professor de educação infantil para trabalhar com metodologias diversificadas são de extrema importância para o bom desempenho, pois através das linguagens artísticas, vários caminhos podem ser apreciados de forma diferente pelas crianças. Através de toda a fundamentação teórica da qual pesquisei para compor o presente estudo e considerando a experiência em sala de aula, compreendo que a arte deve ser inserida cada vez mais na educação infantil dando a possibilidade de a criança desenvolver sua criatividade. O professor tem uma missão importante, através de sua ação pode 24 Temas atuais em educação – Volume III salvar e transformar muitas vidas, fazer a diferença. Ser professor e muito mais importante do que se pode imaginar. REFERÊNCIAS BARBOSA. A. M. Educação estética e a constituição do sujeito: reflexões em curso. Florianópolis: NUP/CED/UFESC, 2007. BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. CUNHA, Vieira Regina. Cor som e movimento. Porto Alegre: Mediação, 1999. DORNELLES. V. Leni, TREVISAN. P. Gabriela. Produzindo pedagogias experiências de estágios. São Paulo: Papirus, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. Professora sim, Tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d`Água, 1997. FRITZEN, Celton. Educação e arte, as linguagens artísticas na formação humana. São Paula: Papirus. 2008 OSTETTO, Esmeralda Luciana. Saberes e fazeres da formação de professores. SP: Papirus, 2004. II A POESIA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM Maynara O. Scarpini Bortoluzzi* Erickson Rodrigues do Espírito Santo** Gilvane Paulo Leiser*** RESUMO: Como gênero literário, a importância da poesia na escola é fundamental como um dos meios para desenvolver a sensibilidade e a imaginação através da leitura e escrita prazerosa. Esse estudo buscou responder ao seguinte problema: Como estimular nos alunos o gosto pela leitura de poesias? Por que sistematizar práticas pedagógicas que desenvolvam o prazer de ouvir, ler e escrever poesia ampliando as experiências afetivas, cognitivas e psicológicas? Investiguei através de pesquisa bibliográfica se o uso da Poesia possibilita a ampliação do processo de construção do conhecimento através da leitura e de produções poéticas. Nesse processo de desenvolvimento e envolvimento, a interação com a poesia é uma das responsáveis pela ampliação da capacidade linguística da criança. O gênero da poesia é um dos instrumentos necessários ao * Graduada em Pedagogia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). E-mail: maynarascarpinib@gmail.com. ** Mestre em Educação; Graduado em Música e em Filosofia; Professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). E-mail: erickson.santo@unoesc.edu.br. *** Graduado em Música pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. gilvaneleiser@gmail.com 26 Temas atuais em educação – Volume III desenvolvimento pleno da capacidade linguística da criança, acesso, e a familiaridade com a linguagem poética, resulta o refinamento da sensibilidade, do vocabulário, para a compreensão do mundo. PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Poesia. Leitura. A poesia como instrumento 27 INTRODUÇÃO Falar de poesia é falar de amor, de alegria, é contar história de maneira diferente, a poesia é um genro literário que se caracteriza pela composição de versos, prosa, estrofes, bem estruturadas pelo poeta de forma harmoniosa, tem o poder de comover, sensibilizar e despertar sentimentos em palavras, expressar a arte e inspirar através de palavras mágicas, sublimes e belas. A escola é o lugar onde pode e deve fazer a aproximação da poesia com a criança. A magia da poesia sempre esteve em contato com a vida de todas as crianças na sua infância, nas cantigas de roda, de ninar, adivinhas, trava-línguas, parlendas. Coelho (2006, p.222) aponta: Poesia não é só palavra, poesia é também imagem e som. As palavras são signos que expressam emoção, sensações, ideias[...]através de imagens (símbolos, metáfora, alegorias[...] e de sonoridade (rimas e ritmos) [...]. É esse jogo de palavras, o principal fator da atração que as crianças têm pela poesia, transformada em canto (as cantigas de ninar, cantigas de roda, lengalengas[...]. Ou poesia ouvida ou lida em voz alta, que lhes provoca emoções, sensações, impressões, numa interação lúdica e gratificante. A poesia, além de fazer comunicação entre pessoas e gerações, de sentimento para sentimento, também é algo que nem precisa de muita explicação, a sensibilidade do leitor atento, sentir o que as palavras querem dizer, de coração para coração, através do coração do poeta, que motiva a expor as 28 Temas atuais em educação – Volume III emoções de quem ler e ouvem poemas, no caso dos poetas infantis, as rimas, o brincar com as palavras, faz a imaginação da criança viajar. Através das histórias infantis, a criança consegue imaginar um mundo de fantasia, sonhos, despertando um pensamento livre e criativo. Estabelece também uma relação de fantasia com a realidade, o que torna fácil a resolução e o entendimento de futuros conflitos internos. Dessa forma, Frantz (2001, p.16) traz a literatura como fonte de “[...] ludismo, é fantasia, é questionamento, e dessa forma consegue ajudar a encontrar respostas para as inúmeras indagações do mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepção das coisas.” 2.1 A POESIA APRENDIZAGEM COMO INSTRUMENTO DE No Brasil, a poesia fazia parte do sistema educativo, reformado pela a burguesia da época, com método de memorização que não era muito atrativo para os alunos, recitativas, sentimental, exemplar patriota, transmitido ideias e comportamento sem alterações do que os mais velhos sabiam e faziam, levando os alunos a terem vergonha e até a detestarem os poemas das aulas de leitura impostos na época. (COELHO, 2006). Era costume, antigamente, os pais contarem histórias, lendas, contos, lerem poemas para os filhos em roda de conversas, quando ainda não tinha televisão, a leitura era um entretenimento que servia para introduzir a cultura para os mais novos, a criança A poesia como instrumento 29 já tinha contato com a poesia através do folclore popular que era transmitido de pai para filhos ainda de forma informal, sem ser conhecida como gênero literário, sendo mais aprimorado com ida da criança para escolar. Como destaca (CAMARGO, 2011, s/p.), O gênero poesia infantil surge de braços dados com a escola, visando principalmente a aprendizagem da língua portuguesa. “Não são os escritores que querem ampliar seu público, escrevendo também para crianças, mas os professores que começam a organizar e escrever antologias de textos em prosa e verso para utilização como livros de leitura escolar”, [...] O antologista procurou, segundo suas próprias palavras, ter "o maior cuidado em aproveitar o que fosse estritamente acomodado ao entendimento e à sensibilidade infantil", incluindo, assim, poemas que tematizavam a infância ou escritos para crianças. Nos dias atuais, a educação está focada em fazer a criança descobrir a realidade que rodeia seu cotidiano, a conviver com as outras, ter consciência de si mesmo e de mundo, sem muito uso da linguagem poética que poderia enriquecer de forma significativa a intuição do que está além das palavras, ensinar as crianças a comunicar-se com os outros através desse instrumento didático rico que é a linguagem poética. Portanto, cabe aos professores da nova ênfase a literatura poética compreendendo seu percurso histórico, sua natureza, seus objetivos e principalmente a relação com a escola, diferenciando os poemas entre si, temas, problemas, situações ou intenções. 30 Temas atuais em educação – Volume III 2.1.1 Poesia e poema O poema é um gênero textual, que segundo o dicionário, significa composição poética, que é merecedor de ser cantado em versos, o poema a palavra escrita, e uma obra de poesia, mas que usa palavras como matéria-prima, porém, convencionouse dizer que tanto o poema quanto a poesia são textos feitos em versos, que são as linhas que constituem uma obra desse gênero. Podemos considerar que a diferença entre a poesia e o poema seria que a poesia é a expressão do sentimento e da emoção, enquanto o poema traduz todas as emoções do poeta através das estrofes e dos versos. A construção dos poemas leva em consideração algumas técnicas em que os textos podem ser escritos, prosa e verso são uma coisa, prosa e poesia outra, “o texto em prosa se constitui por linhas contínuas que ocupam toda a extensão da folha. O texto em verso apresenta-se em linhas impressas uma debaixo da outra, ocupando um espaço especial do papel”. (SORRENTI, 2007, p. 59). 2.1.2 A poesia infantil Tanto a poesia infantil e quanto a poesia para adultos, possuem características parecidas no que diz respeito de ser uma forma de transmitir conhecimento, sentimentos, manifestação do pensamento cultural que passa de geração em geração, transmitir magia e também diversão, a poesia infantil e a poesia adulta, fazem a imaginação aflorar, o sentimento manifestar os sentidos, à medida que as palavras são lidas, que os sons são ouvidos, A poesia como instrumento 31 a imagem das produções líricas tem relação com os símbolos que se utiliza do imaginário que os poetas querem transmitir através das épocas e de suas culturas, Camargo (2011, p. 03), cita como exemplo: Dentre esses poemas, um dos mais antigos é um soneto de Alvarenga Peixoto (c. 1744-1792), mais conhecido por sua participação na Inconfidência Mineira, frustrado movimento político que tentou tornar o Brasil independente de Portugal, em 1789. Esse soneto inicia pelo vocativo “Amada filha” e, diz a tradição, foi escrito quando sua filha Maria Efigênia completou 7 anos (em torno de 1786). Nele, Alvarenga Peixoto aconselha sua filha a desprezar a beleza, as honras e a riqueza, cultivando a caridade, o amor a Deus e aos semelhantes. O soneto conclui recomendando: “procura ser feliz na eternidade, que o mundo são brevíssimos instantes”. No Brasil provavelmente o primeiro livro de poesia infantil, seja, Flores do campo, de José Fialho Dutra (1855-?), publicado em Porto Alegre, em 1882. “Mas, na realidade, ele só pode ser assim considerado em função do seu subtítulo, “poesias infantis”, pois os poemas não apresentam características formais ou temáticas que indiquem preocupação com o leitor infantil”. (CAMARGO, 2011, p. 05). Escrever poemas para crianças requer conhecimentos, domínio amplo das estruturas, dos componentes de constituição da poesia como gênero literário infantil, muitos autores, principalmente os mais conservadores e antigos, evidencia o discurso da poesia voltada para mero recurso pedagógico levando em conta apenas aspectos funcional que 32 Temas atuais em educação – Volume III servira somente para a formação formal da criança, desconsiderando o aspecto artístico, sendo que o universo da literatura infantil, mas se deva a arte e os elementos de âmbito estéticos, como aponta Silva (2006, p. a 02): É precisamente na conjunção das esferas pedagógica e artística que se situa a poesia infantil, na medida em que se afirma, a um só tempo, como instância própria do complexo instrutivo do ser humano e como manifestação estética, inscrevendo-se de forma singular e irredutível no complexo universo infantil. Outro fator, a se considerar na transição da poesia tradicional para a contemporânea na poesia infantil atual e dos autores atuais, é o da linguagem poética, levando em conta o despertar do imaginário, da fantasia e da estética, através da interação da intenção lúdica com a intenção pedagógica, utilizando de textos criativos que estimula a aprendizagem e a criatividade, como aponta Silva (2006, p. 04): A poesia infantil contemporânea nasce como uma alternativa à produção poética tradicional, que, como vimos, apresenta uma faceta mais conservadora na forma e mais moralista no conteúdo. Ao contrário desta, contudo, as manifestações contemporâneas da poética infantil valorizam o lúdico e desenvolvimento crítico da realidade, optando antes por uma intenção pedagógica não moralizadora, já que parece haver um consenso em relação ao fato de que a poesia infantil, [...]. Não que ela não possua um caráter didático, não que não possa ser utilizada dentro de um contexto em que a formação da criança como A poesia como instrumento 33 indivíduo e cidadão esteja em questão, mas o que se deve considerar, nesse aspecto, é uma didática voltada para a descoberta e a experimentação. O que também se deve considerar é que o leitor desse século não é o mesmo do século passado, com a importância que a criança tem na sociedade, a mudança dos valores, a criança vem se tornando o centro da família com vontades próprias do que lhe agrada ou não, influenciado a forma coma a literatura infantil passou a ser construída a evidenciar ainda mais o lúdico, o jogo da palavra com brincadeira. 2.1.3 A poesia e o desenvolvimento cognitivo da criança É um desafio da escola, em fazer o gênero poesia, a literatura infantil e todos os conteúdos dentro da sala de aula, conversar com o desenvolvimento integral da criança, sendo a criança um ser social e histórico. O processo da aprendizagem é um fator complexo na vida de uma criança e está atrelada ao seu desenvolvimento, que está presente desde o nascimento, e vai se desenvolvendo com a interação das relações com o meio que esta vai se estabelecendo e propiciando a aprendizagem e por consequência o seu próprio desenvolver, como afirma Lima, (2002, p. 05-06): O ser humano realiza aprendizagens de naturezas diversas durante toda a sua vida [...] O desenvolvimento do ser humano prossegue pela contínua transformação resultante de sua interação com o meio. [...] A direção que tomará seu 34 Temas atuais em educação – Volume III desenvolvimento é função do meio em que ele nasce e das práticas culturais, das instituições de que participa e das possibilidades de acesso a informações existentes em seu contexto. A autora defende que a escola como embora seja espaço formal de aprendizagem, não é único, é possível aprender em ambientes não formais, pois, “escola não é um espaço independente de socialização e aprendizagem, mas um espaço que vem se somar aos outros nos quais o ser humano transita, no qual já imprimiram certas marcas (tanto sistemas expressivos, como simbólicos)” (LIMA, 2002, p. 06). Assim o ser humano aprende na relação com o outro: a natureza da aprendizagem humana é sempre social, que ver o ser humano e a humanidade como produtos da história criada pelos próprios seres humanos ao longo da história. Processo de criar e desenvolver a cultura, gestos objetos e instrumentos para sua formação intelectual, valores, hábitos e costumes, um conjunto de características, experiências, habilidades e competências formando sua história por meio da atividade humana. Uma das peculiaridades qualitativas do desenvolvimento infantil envolve a distinção do desenvolvimento funcional e pelo desenvolvimento geral e evolutivo-cognitivo. Da assimilação dos conhecimentos e capacidades isoladas, e internalizadas pela criança. Para Vygotsky o desenvolvimento acontece na interação dos domínios individual e social, como aponta Gauthier e Tardif (2ª ed. 2013, p.454): A poesia como instrumento 35 Vygotsky considera que o pensamento é indissociável do conjunto de ferramentas semiótica com o auxílio das quais exercemos certo controle sobre nossa própria atividade. Essas ferramentas, antes de se tornarem parte integrante do funcionamento psíquico interno, foram primeiro socialmente construídos ao longo do desenvolvimento histórico-cultural no humano, (...) muito cedo no desenvolvimento da criança, a atividade pratica se torna inseparável das formas de pensamento simbólico, pelas quais ela se remodela. Dessa forma o uso da poesia que começa ainda na criança de colo, quando a mãe conta canções para a criança dormir, já se está dando início ao seu desenvolvimento e aprendizagem, que deixa marcas simbólicas na construção do pensamento e da linguagem. Assim como com os brinquedos, é também um período de muitas curiosidades e brincadeiras, por essa razão, é fundamental que o adulto estimule o a leitura, a música, o brincar na criança durante essa fase da vida, pois, é sem dúvida, um real aprendizado e aquisição da linguagem. [...] na poesia, o aprendizado possível se produz pela própria estrutura do poema, que seduz e estimula o leitor fisicamente pelos ritmos e efeitos acústicos e intelectual e afetivamente pelas representações ou vivências que suscita, (BORDINI, 1986). Segundo as concepções de Vygotsky sobre o processo da aprendizagem da linguagem e o pensamento da importância considerável ao “processo de interiorização gradual da linguagem no desenvolvimento do pensamento verbal de modo que 36 Temas atuais em educação – Volume III a linguagem não se refere exclusivamente atividade intelectual, pois serve também para expressar emoções ou para designá-las”, Gauthier e Tardif (2013, p.457). Esse conceito de aprendizagem, ele dominou de as Zonas de Desenvolvimento Real, que é aquilo que a criança já sabe com a Zona de Desenvolvimento Potencial, o que ela aprende com a ajuda dos outros, a parte fundamental da aprendizagem da criança. Estas duas Zonas de desenvolvimento levantadas pelas teorias de Vygotsky possuem uma distância chamada por ele de Zona de Desenvolvimento Proximal, desta forma as práticas pedagógicas devem se utilizar de didáticas que ensinem concepções de aprendizagens, em que o conhecimento é cultivado de forma coletiva, vindo da prática social e a ela retorna. E para dar ênfase ao ensino de forma onde à interação entre os alunos apendem com o outro, é de responsabilidade dos profissionais da educação e gestores, buscarem no seu ambiente educativo, propostas de ensino e aprendizagem significativas, ações, efetivas para esse desenvolvimento psicológico, cognitivo e afetivo para a vida em sociedade. Baseando se nisso, conforme os Referenciais Curriculares da Educação Infantil: As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam considerados como conteúdo a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A aprendizagem de conteúdo deste A poesia como instrumento 37 tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição. (BRASIL, 1998, p.51). A escola atende a sua função social de expansão de conhecimentos e cultura, tendo o papel de valorizar as experiências poéticas que os alunos já possuem consigo ao ingressar nela e possibilitar o aprimoramento dessas habilidades com a leitura, a imaginação, o sonho, a metáfora, as emoções e os sentimentos, que faz a ponte do ensino aprendizagem. 2.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS A criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim podemos dizer que a criança só pega gosto pela leitura se tiver motivação, pois muitos pais não leem e também não estimulam seus filhos, criando uma dificuldade muito grande no futuro dessa criança. A poesia deve fazer parte dos conteúdos ensinados na escola, nos níveis da Educação Infantil, nos Anos Iniciais da Educação Básica, de forma lúdica, e significativa, que sensibiliza e dar prazer, nas mais variadas formas de abordar em conteúdo, o gênero poesia sem necessariamente ser uma disciplina isolada, ela pode ser abordada em todas as ocasiões do processo de ensino e aprendizagem para formar cidadãos humanizados e autônomos. 38 Temas atuais em educação – Volume III Diante disso, é importante validar a poesia como um dos recursos mais encantadores do processo de aprendizagem, objetivando um crescimento crítico e literário, sendo imprescindível que o poema seja trabalhado de forma que sua sensibilidade e concepção de mundo seja construída através de leituras, compondo um aprendizado de capacidades mentais. REFERÊNCIAS BORDINI, Maria da Graça. Poesia e consciência linguística na infância. Leitura e desenvolvimento da linguagem. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1989. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAMARGO, Luiz. A Poesia infantil no Brasil. Disponível em: www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/artigos/art0 21.htm. Acesso em: 10/05/2018. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 7. ed. São Paulo: Verte, 2006. FRANTZ, Maria Helena Zancan. O ensino da literatura nas séries iniciais. 3 ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2001. A poesia como instrumento 39 GAUTHIER, Clermont; TARDIF, Maurice. A Pedagogia - Teorias e Práticas da Antiguidade Aos Nossos Dias. 2. ed. São Paulo: Vozes, 2013. LIMA. Elvira Souza. Desenvolvimento e Aprendizagem na Escola. São Paulo: Editora Sobradinho 107, 2002. REVISTA NOVA ESCOLA. Qual a diferencia entre Poema Poesia e Soneto. Editado por Bruna Nicolielo. Publicado em NOVA ESCOLA Edição 248, dezembro 2011. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/qualdiferenca-poema-poesia-soneto-670485.shtml. Acesso em: 10/05/2018. SILVA. Mauricio. Poesia infantil contemporânea: dimensão linguística e imaginário infantil. In Imaginário, v.12, n.13. São Paulo, 12/2006. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1413666X 2006000200016&script=sci_arttext. Acesso em: 10/05/2018 40 Temas atuais em educação – Volume III III AS EXPECTATIVAS DA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO COM A IMPLANTAÇÃO DA NOVA BNCC Renato Paulo* RESUMO: O presente trabalho, objetiva compreender o processo de incorporação da disciplina de Ensino Religioso a partir da implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como oferta obrigatória nas matrizes disciplinares da educação básica. Potencialmente as manifestações religiosas enfatizam a formação cognitiva dos indivíduos ao longo de sua vivência, troca de experiência e do próprio processo de ensino-aprendizagem, incorporando assim, noções intelectuais, sociais e culturais. A ideia central deste projeto é entender a associação da disciplina de Ensino Religioso como um dos elementos norteadores de aprendizagem à Base Nacional Comum Curricular diante da considerável reforma proposta para a educação brasileira. Para tal, buscar-se-á uma interpretação consistente da BNCC ao que tange a disciplina de Ensino Religioso, confrontando ideias e dialogando * Licenciado em História pela UNESPAR; Especialista em Metodologia de Ensino de História pela UNIASSELVI; Especialista em Metodologia de Ensino em Filosofia e Sociologia pela Faculdade Alfamérica; Especialista em Ensino Religioso pela Universidade Católica Paulista. Email: renatopaulo_rp@hotmail.com. 42 Temas atuais em educação – Volume III opiniões, por meio de levantamentos bibliográficos. A investigação será pautada na análise de documentos específicos que norteiam a legitimidade da reforma da educação básica (como a própria BNCC), além de bibliografias voltadas à preocupação da excelência e qualidade de ensino com respeito a diversidade cultural. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Religioso. Base Nacional Comum Curricular. Educação Básica. As expectativas da disciplina... 43 INTRODUÇÃO Compreendendo a Religião e o próprio conhecimento religioso como parte eminente do pensamento humano ou até mesmo como produto de ações intrínsecas à humanidade, vê-se que, historicamente, a vasta contribuição aos princípios básicos de inter-relacionamento social, como a cultura, economia e a própria política estão de alguma forma vinculados à prática fideísta ou a fé. A disciplina de Ensino Religioso, no contexto de formação intelectual e cultural da sociedade, surge para estabelecer orientação didática aos estudantes sobre as diferentes expressões e organizações religiosas em suas diversas tradições no mundo passado e no contemporâneo, mapeando e dialogando com os principais campos cognitivos. Recentemente, no palco do poder judiciário brasileiro, a disciplina de Ensino Religioso sugeriu discussões sobre sua necessidade nas matrizes curriculares e nomenclatura cognitiva à educação básica. No episódio, tornou-se, não só permanente na oferta curricular das escolas públicas do país, mas também considerada parte inerente à formação intelectual dos cidadãos. A proposta de reforma do sistema de ensino brasileiro, a partir da implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), apresenta novas perspectivas a toda conjuntura educacional, ao que tange a disciplina de Ensino Religioso. Está sob a iminência de alcançar maiores espaços na educação básica, diante de competências exclusivas que sugerem novos conceitos e oportunidades de 44 Temas atuais em educação – Volume III relacionamento social, étnico e cultural aos alunos em seu desenvolvimento intelectual proposto pela escola. O presente projeto buscará, portanto, elucidar as expectativas quanto à disciplina de Ensino Religioso no novo processo de ensino e aprendizagem sob a adesão da recente Base Nacional Comum Curricular – BNCC, norteando seus princípios cognitivos e pedagógicos como fundamentos na aquisição do conhecimento. 3.1 HISTÓRICO DA DISCIPLINA DE ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL O Brasil ao longo de sua historiografia, sempre incorporou elementos culturais relacionados a fé por meio de seitas, cultos entre outras venerações religiosas, iniciando com a crença milenar das tribos indígenas, posteriormente adotando o cristianismo introduzido pelos europeus, além da múltipla religiosidade africana como legado das comunidades negras escravas. Este cenário de diversidades sob diferentes gêneros fideístas, condiciona o Brasil sob uma vasta miscigenação étnica-religiosa apontando uma sociedade com fenótipo cultural bastante peculiar e autêntico. A religião católica, em virtude do processo de colonização exploratório organizado por Portugal, como salienta Saviani (2007), foi sem dúvidas a mais hegemônica de todas as organizações religiosas. Legitimada ainda no período colonial, o catolicismo foi a primeira cultura religiosa a ser difundida oficialmente no país, passando por vários estágios até sua estruturação curricular na disciplina de Ensino As expectativas da disciplina... 45 Religioso sob a categoria confessional respeitando todos os princípios e doutrinação da igreja católica, uma catequese expandida. De acordo com Passos (2007) inclusive, “a catequese era vista como construção, como uma prática escolar voltada para a formação das ideias corretas em oposição às ideias falsas” (PASSOS, p. 57; 2007) 3.1.1 Desenvolvimento religioso no brasil histórico do ensino Segundo Cardoso (2017), percebe-se que a eminência curricular da disciplina de Ensino Religioso absorveu contribuições de diferentes momentos da história do Brasil: influência das missões jesuítas no período colonial; legitimação da fé católica apostólica romana com a família real durante o período imperial, e, no período republicano, a promoção do pensamento laico ao ensino público em relação as instituições educacionais além do processo de rompimento entre estado e igreja. 3.1.1.1 O Ensino Religioso no contexto dos períodos Colonial e Imperial Brasil Colônia: A gênese da educação religiosa no Brasil, pode ser encontrada em seu período colonial, através da catequização das tribos indígenas desenvolvida pelas companhias jesuítas afim de organizar um ambiente que se fortalecesse na doutrinação cristã dos indivíduos através do trabalho organizado e da educação ideológica por meio da fé cristã. ▪ 46 Temas atuais em educação – Volume III De acordo com Pessoa (1997, apud CARDOSO 2017), a organização religiosa dos Jesuítas entorno da propagação da fé era intensa no Brasil, ao passo que se desenvolvia no interior da sociedade uma reação ao choque religioso diante da nova realidade imposta, pois os nativos tinham que renunciar radicalmente seus hábitos, crenças e costumes para viveram a fé cristã da qual estavam sendo inseridos. Cardoso (2017, p. 192), destaca que durante o processo de colonização no Brasil: Os jesuítas dedicaram-se a duas tarefas: a pregação da fé católica e o trabalho educativo. A ação educacional se iniciou com a escola de alfabetização, e o ensino da leitura e da escrita era direcionado para a catequese. A maioria das escolas se situava junto aos senhores mais ricos para formar elites. Os negros e os mestiços eram excluídos do procedimento formal. Com o tempo, a escola visava cada vez mais, junto com o educador, dominar os negros e os índios tornandoos pertencentes a fé cristã, e sua administração ficava sob a responsabilidade do Estado e da Igreja. Os jesuítas, sob seu doutrinário ideológico, mantinham os índios em tribos, com rotina em que envolvia trabalho e religiosidade ao propósito de conversão. Este mecanismo de condicionamento aos nativos era a contrapartida para sua própria segurança, considerando que os mesmos estavam sujeitos, enquanto mão de obra barata a atividade escrava desenvolvida pelos negros. Conforme aponta Saviani (2007 apud CARDOSO 2017), a principal intenção dos As expectativas da disciplina... 47 colonizadores portugueses, com o envio das caravanas jesuítas, era de catequizar os índios e negros, com o objetivo de estimular a fé católica e mantê-los submissos a coroa portuguesa. Entretanto ao serem expulsos em 1759, deixando várias escolas em atividade, os jesuítas, não foram substituídos por nenhuma outra companhia causando reflexo direto em todo o trabalho desempenhado anteriormente em relação a educação que foi exaurida ao longo do tempo pelas forças do mercado e dependência exorbitante da colônia a sua metrópole. O legado intelectual deixado pelas companhias jesuítas contribuiu não apenas para a sistematização educacional, mas para o enriquecimento cultural do Brasil, considerando que a educação era de sua inteira responsabilidade por praticamente todo o período colonial. Segundo o que aponta Azzi (1983) as instituições jesuítas sob uma educação informal, comportando índios, negros e subalternos, buscavam dilatar as fronteiras da fé e do império para a implantação de uma sociedade cristã como parte do projeto colonizador português. Ao que aponta Saviani (2007), paralelamente a educação dos gentis, havia também a tida educação formal dedicada aos brancos filhos dos portugueses e aos futuros membros da própria companhia de Jesus, fazendo com que os jesuítas despertassem o interesse de implantação dos primeiros espaços escolares. Compondo as primeiras caravanas jesuítas no processo de catequização no Brasil colônia, por exemplo, apresentava nomes como os dos Padres José de Anchieta e Manoel da Nobrega, ambos pioneiros e com projetos intelectuais imprescindíveis para a história letrada do Brasil neste período. Os Temas atuais em educação – Volume III 48 trabalhos destes jesuítas, para se ter ideia, transcendem a difusão da cultura e fé católica, expandindo-se às ações educacionais promovidas junto as comunidades indígenas e o vasto espólio literário que contribui como acervo ao estudo da história do Brasil colonial até os dias atuais. Brasil Império: Assim como no período colonial, a educação religiosa durante o império, após a vinda da família real, em 1808, manteve a religião católica como epicentro da fé educacional. Agora como responsabilidade do estado, após a saída dos jesuítas, o sistema educacional no Brasil, passou a remontar-se como aparelho ideológico da metrópole sob a colônia. Bundchen (2007 apud SILVA 2016) acrescenta que: ▪ Se pode verificar que o ensino religioso no período imperial não mudou muito de figura, tudo porque a religião católica era a religião oficial do império e o ensino religioso passou a ser “acobertado” e submetido à metrópole como aparelho ideológico, já que nessa época a igreja era dona de um vasto patrimônio econômico e cultural e não conflitava com a corte, isso sem falar que a mesma trabalhava com a educação, mesmo sendo papel do Estado. Vale salientar ainda que a Igreja nesse período tinha seus interesses, o de evangelizar pregando ou impondo a doutrina católica romana. De acordo com os apontamentos do Fonaper 2004 o cenário de condução educacional através do estado, mantém a religião cristã católica como a As expectativas da disciplina... 49 oficial do império, porém com estruturas a garantir que a formação religiosa, social e educacional seja de responsabilidade do estado gerando maior dependência política da igreja em relação ao estado além de acentuada restrição religiosa na colônia. Enquanto no período colonial, a educação era tida como um dever a ser cumprido como a de um súdito, na administração imperial sob preceitos de ideias liberais, passou a ser compreendida como direito do cidadão e dever do estado que segundo, Manacorda (2004) incorpora uma metodologia de ensino mútuo, denominado de lancasteriano, onde os alunos em grupos passam a desenvolver atividades em equipes sob orientação do decreto de lei de 1870, em que expressa: A parte capital da educação pública, dever ser o ensino da doutrina em cujo seio vivemos. Quanto mais viva brilhar no coração do povo a chama da fé religiosa, mais segura será sua moralidade, maior respeito às leis, menor a necessidade de repressão (BRASIL, 1870). De acordo com Peres (2005), Rui Barbosa buscava implementar durante o período imperial, a ideia de ensino livre no Brasil incorporando manutenções no ensino secundário e superior apontando para uma escola financiadas pelo Estado sem definições padronizadas de crença. Apesar de fomentar ideologias antes inquestionáveis, quanto ao domínio educacional exclusivamente pela religião, o período imperial é marcado por um grande avanço em relação a formação das escolas de caráter “público” com função 50 Temas atuais em educação – Volume III social de aparelhamento ideológico da metrópole e manutenção da fé católica. 3.1.1.2 O Ensino Religioso durante a República No primeiro período republicano (a partir de 1889), conhecido como república velha, o Brasil esteve diante de algumas alterações extremamente relevantes ao que tange a sua educação, sobretudo quando reestruturada a partir do rompimento entre estado e igreja, que passou a definir os parâmetros curriculares mais laicos e menos doutrinários. De acordo com Gomes (2007), a igreja católica, inicia uma fase difícil na preservação e manutenção ideológica da fé cristã, considerando a hegemonia do pensamento positivista oriundo da nova ordem política, em desavenças ao pensamento obsoleto da Santa Sé do ultramontanismo1. Considerando o novo plano político administrativo no país, nota-se, portanto, uma educação mais autônoma e laica, sem condicionamentos religiosos e livre de mecanismos cognitivos que conduziam e orientavam sua estrutura curricular e cultura letrada. O indivíduo, aluno de escola pública, estava livre para fazer suas próprias opções religiosas e ditar sua conduta fideísta. De acordo com este novo cenário Scampini (1978; apud MARQUES 2013) elucida que, A liberdade de ensino é uma consequência da liberdade de consciência. Por isso é leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos. Para sufragar essa opinião, alega-se que os cidadãos 1 Ideologia de política centralizadora na igreja católica. As expectativas da disciplina... 51 pagando o imposto contribuem para a manutenção das escolas e que, podendo cada um adotar e seguir uma religião diferente, não seria justo que a República ministrasse um ensino de que só poderiam aproveitar aqueles que porventura pertencessem à religião preferida. A reaproximação da igreja católica com a política nacional no Brasil, acontece a partir da revolução de 1930, já no governo Getúlio Vargas, em que mantém o Ensino Religioso nas grades curriculares de ensino, porém na condição de disciplina facultativa das escolas conforme descrito no decreto. O ensino religioso será de frequência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais (BRASIL, 1991). Para Cury (2004) a ideia de facultativa perpassa por alguns seguimentos e enfatiza que: O caráter facultativo da oferta do ensino religioso merece uma pequena reflexão. Ser facultativo é não ser obrigatório na medida em que não é um dever. O caráter facultativo caminha na direção de salvaguardas para não ofender o princípio da laicidade. O mesmo pode-se dizer da vedação de quaisquer formas de proselitismo e do fato de deixar a uma entidade civil multirreligiosa a definição de conteúdos. 52 Temas atuais em educação – Volume III A partir do demonstrativo de ações sóciopolíticas em relação a eminência curricular da disciplina de ensino religioso na história do Brasil, percebe-se a sua consolidação processual: As expectativas da disciplina... 53 FIGURA 01: Quadro Cronológico Comparativo. Fonte: Zalamena, 2017 O cenário de uma sociedade mais laica, como produto de uma política republicana, ganhou forma e resistência não só com o novo perfil de política brasileira, mas também com o próprio fenótipo social com alterações substanciais. 3.1.2 As transformações sociais e a educação no brasil Ao se estabelecer novo plano político com alterações significativas aos laços embrionários entre igreja e estado, ou mesmo seu rompimento no âmbito político, durante o Brasil república, Gomes (2007), considera o cenário como produto de uma transformação em que sua gênese esteja na própria sociedade. É fato que os brasileiros enfrentam muitos problemas hegemônicos de natureza, a educação não poderia se afastar desta problemática, 54 Temas atuais em educação – Volume III considerando que a mesma faz parte de um processo de desencadeamento cultural amarrado nas entranhas vertiginosas do arcabouço ideológico e político do país, sendo sensível as alteridades sociais estabelecidas em todos os âmbitos e setores. A legitimação do processo educacional relativo e democrático, está intrinsecamente condicionado as necessidade e transformações sociais. As medidas adotadas para promover a educação foram sem dúvidas resultado de um longo e considerável processo de desenvolvimento intelectual. Para Saviani (2008), muito vinculada a atender interesses políticos ou então de grupos dominantes, a educação brasileira, exerceu muito tempo uma função secundária: o de promover ou garantir a estabilidade técnica comercial sob interesses determinados pelo capitalismo e legitimado pelo estado. Nesta perspectiva, o que se cria é um fenótipo educacional bastante peculiar e obsoleto ao desenvolvimento crítico e social dos indivíduos. A intervenção docente passa a ser meramente reprodutivista sem conceituação ou reflexão que estimule a autonomia crítica e intelectual no processo de aquisição do conhecimento. Observa-se nas nomenclaturas educacionais do Brasil, vários momentos em que seu público estudantil reputou adversidades em seu processo de aquisição de conhecimento diante das variáveis que norteavam as estruturas curriculares em diferentes faces e propósitos como visto a seguir: a. Voltadas as premissas e dogmatismo da igreja católica; b. Promoção ao ensino religioso confessional facultativo da igreja católica; As expectativas da disciplina... c. d. e. f. 55 Organização e aceitação do estado laico; Práticas tecnicistas; Estímulo às práticas e promoção social; Atenção as exigências ao mercado de trabalho. No decorrer do tempo a escola passa por transformações bem assemelhadas a consciência da sociedade, assim percebe-se que os valores e as intenções curriculares voltadas a educação básica, são estabelecidos de acordo com o cenário social, político e econômico vigente. A prática educacional do ensino religioso ou educação religiosa é um grande exemplo quanto a esta perspectiva, considerando seu domínio nos currículos de escola pública sob exaltação da fé cristã pela igreja católica e decadência ou fragilidade posteriormente, diante do interesse político de promoção do estado laico. 3.2 A REFORMA DA BRASILEIRA E A BNCC EDUCAÇÃO BÁSICA Ao que tange a educação básica brasileira, percebe-se uma grande fragilidade quanto as matrizes de ordem curricular e cognitiva em todas as esferas da educação básica. Saviani (2008) aponta que o aluno brasileiro, historicamente, sofre com os intemperes educacionais que gerem o processo de ensino aprendizagem no país. As políticas públicas desenvolvidas até então não vêm suprindo as necessidades gritantes da comunidade escolar e da própria formação intelectual dos indivíduos. Contreras (2002) define que tamanha insistência a cumprir exigências do mercado 56 Temas atuais em educação – Volume III financeiro, a escola se descaracterizou, o professor perdeu sua autonomia e o currículo passou a ser fragmentado e obsoleto. O autor define que a autonomia da escola deve ser resgatada e valorizada, que o professor deve sair dos meios capitalistas e impor-se socialmente dentro de uma condição que é sua por direito, deixar de ser um “proletariado” e usar sua concepção e intervenções crítica. A partir do momento que a escola recupera sua autonomia o professor e todo o corpo a acompanha. É fato que a educação básica brasileira, está diante de uma crise da qual foge seu perfil cognitivo e alcança a esfera política. A muito se discute no Brasil a intenção de um programa curricular que comporte e centralize as áreas de conhecimentos, estabelecendo um ambiente comum de aprendizagem em todas as instâncias educacionais do país. Neste contexto de organização curricular centralizada e nivelada entre os estados, surge a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a propósito de gerir alternativas de ensino e organizá-las de forma padronizada as necessidades vigentes. Sob um impasse estabelecido entre comunidade escolar e estado, a nova base nacional comum fomenta discrepâncias entre o contexto educacional, político e a própria sociedade. Segundo Dias e Ponce (2015, p. 612) O cenário das políticas curriculares para a educação básica, em diferentes escalas, tem sido marcado pela intensa produção de regulações que tem como características fundamentais a centralização curricular, a produção de materiais didáticos, os processos de avaliação externa do desempenho dos alunos, a associação entre os As expectativas da disciplina... 57 resultados obtidos nessas avaliações com o trabalho e a formação docente. O risco que se corre é o da responsabilização do professor, de modo isolado, pelo fracasso escolar. A produção de políticas é um processo complexo tensionado por diferentes forças, processos de significação em diferentes contextos e, portanto, tem o desafio de dar voz aos diferentes sujeitos da e na educação, a todo momento. Santos e Diniz-Pereira (2016, p.283) apontam que atualmente as atuais Leis de Diretrizes e Bases (LDB-1996), são as responsáveis de nortearem a função legal da comunidade escolar bem como a estrutura curricular. Essas diretrizes constituíram-se em normas obrigatórias para orientar o trabalho dos sistemas de ensino e das escolas, bem como preconizaram que os currículos escolares deveriam ter uma parte comum e uma parte diversificada. Elas definiram, na parte comum, os conteúdos curriculares de cada etapa e modalidade da educação básica, em termos de áreas de estudos ou disciplinas a se- rem trabalhadas, além de apresentarem objetivos e propósitos mais gerais da educação e de mostrarem os valores e os comportamentos a serem alcançados. A BNCC questiona alguns pontos da LDB 1996, em função das facetas curriculares presentes em disparidades nas diferentes regiões do país, enfatizando a necessidade de um currículo que seja comum e permanente a todas os indivíduos. Há, portanto, um âmbito aparentemente adverso entre a BNCC e as leis de Diretrizes e Bases que segundo 58 Temas atuais em educação – Volume III Santos e Diniz-Pereira (2016, p. 285) possuem atribuições fundamentais em seus processos de socialização e promoção do saber, De uma maneira geral, elas apontam ainda a responsabilidade da escola na elaboração do Projeto Político Pedagógico, ressaltam a importância da avaliação, mostram a necessidade de uma boa relação família e escola, bem como de uma gestão participativa, entre outras orientações, como forma de oferecer subsídios políticos e pedagógicos para os sistemas de ensino e as instituições escolares. Apesar de propor instrumentos curriculares e mecanismos que promovam o bem comum, a maior crítica que fazem a BNCC, tal como Saviani (2010 apud GAMA e DUARTE, 2017) é o destaque a falta de clareza da normativa em relação as suas competências e matrizes aos estágios graduais da educação básica. A nova base nacional comum, traz consigo, uma intenção, a necessidade em atender rapidamente o mercado de trabalho com formação intelectual sem intervenção crítica. Existem diversas lacunas a serem exauridas ao novo documento normativo à educação básica brasileira, que só pode ser corrigido a partir do momento que se possa abrir ao diálogo com a comunidade escolar a fim de absorver a necessidades do conjunto da obra e não impor condições que comprometem o curso e processo de aquisição do conhecimento. Santos e Diniz-Pereira (2016, p. 287), argumentando sobre as tentativas de padronização As expectativas da disciplina... 59 do currículo no Brasil por meio da nova Base Nacional Comum, elucidam que: A BNCC, na forma como está sendo proposta, vai de encontro às políticas de inclusão, uma vez que a diferença e a diversidade não podem ser alcançadas a partir de uma base nacional comum. Os estudos no campo do currículo [...] apontam para a impossibilidade, na prática, de implantação de uma base nacional comum, porque aquilo que for definido em nível nacional será reinterpretado/recontextualizado de acordo com as experiências e tradições de diferentes esferas: as secretarias estaduais e municipais de educação, a escola, o professor e o aluno. Assim, uma base nacional comum não é garantia de que os estudantes brasileiros terão res- guardados seus direitos a determinados conhecimentos, como argumenta o discurso oficial. Dentro de vários entendimento e interpretações sobre a nova Base Nacional Comum proposta como reforma a educação básica do Brasil, evidencia-se também a ótica de Santos e DinizPereira (2016), salientando a importância do novo documento a sociedade brasileira considerando sua relevante importância na preservação e manutenção e gestão do currículo, complementado pelas garantias do Mistério da Educação (MEC, 2016), A BNCC vai deixar claro os conhecimentos essenciais aos quais todos os estudantes brasileiros têm o direito de ter acesso e se apropriar durante sua trajetória na Educação Básica, ano a ano, desde o ingresso na Creche até o final do Ensino Médio. Com ela os sistemas educacionais, 60 Temas atuais em educação – Volume III as escolas e os professores terão um importante instrumento de gestão pedagógica e as famílias poderão participar e acompanhar mais de perto a vida escolar de seus filhos. Santos e Diniz (2016), atribuem a BNCC, da forma como está sendo proposta na, um elo de ligação entre as políticas de inclusão, uma vez que a diferença e a diversidade não podem ser alcançadas a partir de uma base nacional comum ou do próprio currículo. 3.3 OS DESAFIOS PARA O ENSINO RELIGIOSO A PARTIR DA BNCC A educação religiosa no Brasil, ao longo dos anos passou por uma considerável alteração curricular para voltar a ganhar espaços na proposta pedagógica das escolas públicas após um vasto debate epistemológico, entre a função do estado em propor princípios laicos e a necessidade do indivíduo de imputar a seu currículo e cognição as referências fideístas. Na compreensão de Cury (2004, p. 183): O ensino religioso é mais do que aparenta ser, isto é, um componente curricular em escolas. Por trás dele se oculta uma dialética entre secularização e laicidade no interior de contextos históricos e culturais precisos. Nas sociedades ocidentais e mais especificamente a partir da modernidade, a religião deixou de ser o componente da origem do poder terreno (deslocado para a figura do indivíduo) e, lentamente, foi cedendo espaço para que o Estado As expectativas da disciplina... 61 se distanciasse das religiões. O Estado se tornou laico, vale dizer tornou-se equidistante dos cultos religiosos sem assumir um deles como religião oficial. A modernidade vai se distanciando cada vez mais do cujus regio, ejus religio. A laicidade, ao condizer com a liberdade de expressão, de consciência e de culto, não pode conviver com um Estado portador de uma confissão. Por outro lado, o Estado laico não adota a religião da irreligião ou da anti-religiosidade. Ao respeitar todos os cultos e não adotar nenhum, o Estado libera as igrejas de um controle no que toca à especificidade do religioso e se libera do controle religioso. Isso quer dizer, ao mesmo tempo, o deslocamento do religioso do estatal para o privado e a assunção da laicidade como um conceito referido ao poder de Estado. Já a secularização é um processo social em que os indivíduos ou grupos sociais vão se distanciando de normas religiosas quanto ao ciclo do tempo, quanto a regras e costumes e mesmo com relação à definição última de valores. Um Estado pode ser laico e, ao mesmo tempo, presidir a uma sociedade mais ou menos secular, mais ou menos religiosa. Grupos sociais podem professarse agnósticos, ateus, outros preferem o reencantamento do mundo, muitos continuarão seguindo várias e variadas confissões religiosas e todos podem convergir na busca da paz. A ideia de se estruturar um âmbito escolar a partir de uma prática docente que vá de encontro com as necessidades primárias de ensino em que o princípio hegemônico seja o equilíbrio e isonomia social, fez com que a nova Base Nacional, apenas considerasse a implementação curricular do Ensino Religioso a partir de sua terceira revisão (ainda em tramitação e análise no Conselho Nacional de 62 Temas atuais em educação – Volume III Educação - CNE), nas duas anteriores foi excluso, por ser interpretado como elemento indissolúvel as políticas públicas e capaz de intimidar a consciência ampla e democrática da sociedade, estabelecida pelos princípios laicos de acordo com Cury (2004). A partir da ampliação e a abertura ao diálogo com a comunidade escolar a qual identificou inúmeros problemas e lacunas quanto a formação curricular, a nova Base Nacional, incorporou a demanda curricular correspondente ao Ensino Religioso à Educação Básica, com matrizes abertas a conteúdos filantrópicos e flexíveis, para que possa dialogar com a realidade dos alunos e promover uma construção cognitiva com maior ênfase e liberdade dentro do processo de aquisição do conhecimento. Um dos maiores desafios da disciplina de Ensino Religioso atualmente, no âmbito educacional brasileiro, é confrontar-se com laicidade social. A sociedade se transformou ao longo dos anos, potencializando um ambiente plural em que as ideias, os gêneros, os conceitos e os próprios indivíduos estão em relacionamento constante, hora discordando um com os outros, hora definindo soluções comuns. São a estes desafios que a proposta da reforma de ensino brasileiro a partir da BNCC busca se aproximar, o equilíbrio cognitivo, atribuído a padronização e coerência curricular faz com que a educação religiosa proponha perspectivas ao estado multifacetário. Outro ponto muito pertinente as provocações de sustentabilidade da disciplina de Ensino Religioso, segundo Albuquerque e Sá (2013) parafraseando o Bispo do Rio de Janeiro, Dom Nelson Francelino Ferreira, é a ausência de professores com formações As expectativas da disciplina... 63 específicas para a orientação religiosa em sala de aula. A falta de formação do professor de ensino religioso (ER) gera um caminho marcado por equívocos. É essencial para a força do professor de ensino religioso a sua formação pessoal e continuada, para que ele saiba sistematizar bem aquilo que está sendo ensinado e possa ajudar os alunos a raciocinar sobre a fé que professam, afirmou o bispo auxiliar do Rio. Vê-se que a atualidade, gera um ambiente promiscuo as premissas da educação religiosa, enfraquecido diante das transformações sociais e disparidades das opiniões sociais. Entretanto, ao que propõe Junqueira (1995, p.14) não é “função do Ensino Religioso escolar, promover conversões, mas oportunizar ambiente favorável para a experiência do Transcendente, em vista de uma educação integral, atingindo as diversas dimensões da pessoa. 3.3.1 Definições e parâmetros da BNCC ao ensino religioso Epistemologicamente, ao analisar a estrutura cognitiva da disciplina de Ensino Religioso, bem como sua proposta curricular aos estudantes brasileiros, pode-se entender o conceito descrito no acordo traçado entre Brasil e a Santa Sé no ano de 2008 e formalizado por decreto de lei Nº 7.107 -02/2010., onde transpõe em seu artigo 11; § 1º a preservação do respeito cultural em consonância as leis vigentes: 64 Temas atuais em educação – Volume III A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa. §1º O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação. As perspectivas do estado, é que a educação religiosa, dentro de suas perspectivas, corrobore com a construção intelectual do indivíduo diante de sua formação moral e cidadã. Nesta ótica, a proposta vinculada a reforma da educação básica através da BNCC estabelece seis competências a disciplina do Ensino Religioso: 1. Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos, estéticos e éticos. 2. Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofas de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e territórios. 3. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto expressão de valor da vida. 4. Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos de ser e viver. 5. Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia, As expectativas da disciplina... 65 da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio ambiente. 6. Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz (BRASIL, 2018). Amparado sob suas competências a nova Base Nacional Comum estabelece que sejam abordadas nas escolas públicas as manifestações religiosas de diferentes culturas e sociedades, a partir de pressupostos étnicos e científicos, sem que haja privilégios de nenhuma crença. Para tal condicional quatro grandes elementos serão geridos: a) proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos a partir da realidade dos estudantes; b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de consciência e crença com constante proposta de promoção dos direitos humanos; c) Desenvolver compreensão e habilidades para ajudar no diálogo entre várias posições com respeito ao pluralismo de ideias; d) contribuir para que o aluno tenha sentido na vida pessoal a partir de valores e princípios étnicos da cidadania. O documento normativo, ainda em processo de discussões nas instituições de ensino bem como no Ministério da Educação, “aberto ao diálogo” destacou a importância do acesso da criança ao ensino religioso, enfatizando que a partir do contato com o Ensino Religioso na estrutura curricular fornecida, os alunos poderão aprender a combater a intolerância, a discriminação e a exclusão. 66 Temas atuais em educação – Volume III 3.3.2 A obrigatoriedade da oferta da disciplina nas escolas públicas Diante da apreciação na esfera jurídica, sob sua vulnerabilidade laica, a disciplina de Ensino Religioso, foi outorgada a grade curricular de todas as escolas públicas do Brasil. Durante vários meses de discussão, análise e questionamentos sobre a integridade do currículo da educação básica brasileira, a decisão do STF (Superior Tribunal Federal), permite ainda que o educador tenha a liberdade de promover suas crenças em uma aula laica e homogênea. A recomendação do Supremo é que as escolas públicas continuem a oferecer a disciplina de Ensino Religioso no formato facultativo. A grande questão, porém, é a natureza deste ensino em que se optou pelo confessional, em que a responsabilidade cognitiva é inteiramente realizada pelo docente, pois de acordo com os magistrados, o educador tem a liberdade de promover suas crenças em sala de aula, ou seja, lecionar como representante de uma religião. 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Quanto ao retrato cronológico da Educação Religiosa no Brasil, assim como seus reflexos na constante transformação da sociedade, pode-se ver que sua expressão cognitiva se faz necessária, até mesmo quando legitimada pelo Superior Tribunal Federal atribuindo efeitos normativos de necessidade a formação intelectual do indivíduo. As hesitações que enfrentam as matrizes curriculares da disciplina de Ensino Religioso, As expectativas da disciplina... 67 atualmente permeiam a reforma da educação básica brasileira por meio da Base Nacional Comum Curricular. A equidade do currículo e a preservação de um cenário laico pressupõem perspectivas básicas da BNCC a disciplina de ER. A BNCC dispõe a disciplina de Ensino Religioso, fundamentos básicos de manutenção social, moral e religiosa da qual a intolerância, a discriminação e a exclusão possam ser varridas do contexto escolar em detrimento da construção intelectual da moral, da fé e sobre tudo da ética. Apesar da nova Base Nacional Comum Curricular, encontrar e expor controversas em sua proposta de equilíbrio curricular entre as instancias federativas, ao que tange ao Ensino Religioso, apesar de algumas lacunas evidentes, constitui uma normativa clara e sensata a produção do conhecimento aos alunos, com uma prerrogativa básica a sua qualidade e excelência: a intervenção e prática docente bem elaborada e estruturada. Mediante a todo conteúdo analisado e assimilando o diálogo intelectual traçado entre as fontes elencadas, pode-se perceber que o documento normativo que propõe a reforma da educação básica no Brasil é frágil e repleto de lacunas, sobretudo por não integrar majoritariamente as necessidades e anseios da comunidade escolar em sua integra. Ao que tange ao ensino religioso as prerrogativas que o documento elucida, vincula as reais transformações sociais da atualidade, propondo metas e perspectivas bastante peculiares que fomentam a promoção da cidadania da ética e isonomia nacional durante o processo de aquisição do conhecimento. 68 Temas atuais em educação – Volume III REFERÊNCIAS AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica durante a Primeira Época Colonial. In: HOORNAERT, Eduardo. História da Igreja no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1983. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução no 4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Diário Oficial da União, DF, 14/07/2010a. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução no 7, de 14 de dezembro de 2010. Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Diário Oficial da União, DF, 15/12/2010b. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Consulta Pública. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME,2015. Disponível em: http://historiadabncc.mec.gov.br/documentos/BNCCAPRESENTACAO.pdf. Acesso em: 01/11/2018. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segunda versão revista. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2016. Disponível em: http://historiadabncc.mec.gov.br/documentos/bncc2versao.revista.pdf. Acesso em: 12/11/2018. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março de 1824. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/cons tituicao24.htm. Acesso em: 18/11/2018. As expectativas da disciplina... 69 BUNDCHEN, Célia Marize. O Ensino Religioso: Significados de Religião em Diferentes Contextos Educativos. Porto Alegre, Editora Concórdia, 2007. CARDOSO. M. A. Breve trajetória histórica do ensino religioso no brasil. In: UNITAS – Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, Vitória-ES, v. 5, n.2, Ago-Dez., 2017. Disponível em: file:///C:/Users/Renato%20Paulo.Renato/Downloads/ 529-2043-1-PB%20(6).PDF. Acesso em: 14/11/2018 CASTRO. Lucilda L.C.T. e PEREIRA. Julio. E. D. Tentativas de Padronização do Currículo e da Formação De Professores No Brasil. Cad. Cedes, Campinas, v. 36, n. 100, p. 281-300, set.-dez., 2016 CONTRERAS, José. Autonomia de professores. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2002. 296 p. CURY. C.R.J., Ensino religioso na escola pública: o retorno de uma polêmica recorrente. Revista Brasileira de Educação. Ensino Religioso em Escola Pública. p. 183 – 191. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbedu/n27/n27a12.pdf. Acesso em: 16/11/2018. DIAS, Rosanne Evangelista; PONCE, Branca Jurema. Formação docente frente às políticas no cenário de centralização curricular. In: Revista eCurriculum [en linea] 2015, 13 (Octubre-Diciembre): Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76643232002. Acesso em: 14/11/2018 70 Temas atuais em educação – Volume III JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. O desenvolvimento da experiência religiosa. Petrópolis: Vozes, 1995. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Ensino Religioso: diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/DEB, 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Caderno de Expectativas de Aprendizagem. Curitiba: SEED/DEB, 2012. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Pública Estadual do Paraná. Ensino Religioso. Curitiba: SEED/DEB, 2008. MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2004. MARQUES, Gabriel L. A educação religiosa em escolas públicas: fundamentos constitucionais para a defesa da modalidade supraconfessional. XXII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP. 2013. PASSOS, João Décio. Ensino religioso: construção de uma proposta. São Paulo: Paulinas. 2007. PESSOA, Xavier Carneiro. Sociologia da Educação. Campinas: SP, 1997. PILETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. 7. ed. São Paulo: Editora Ática, 2010. As expectativas da disciplina... 71 SAVIANI, D. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas – São Paulo: Autores Associados, 2007. SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados, 2008. Zalamena, J.C.M. Ensino religioso nas escolas públicas brasileiras: uma defesa de sua extinção. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&a rtigo_id=19164&revista_caderno=24. Acesso em: 23/11/2018. 72 Temas atuais em educação – Volume III IV OS DESAFIOS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Lucas Henrique Barbosa Alves* RESUMO: O presente estudo aborda a EJA - Educação de Jovens e Adultos, que com o passar dos anos vem ganhando espaço e visibilidades com a promoção da cidadania, permitindo a inclusão de pessoas que por algum motivo não tiveram a oportunidade estudar ou de concluir seus estudos do nível básico. O estudioso Paulo Freire traz algumas abordagens sobre o EJA, ele que é um dos principais defensores da educação libertadora, que considera a educação como sendo um direito que todos devem ter a fim de ampliar seus horizontes culturais e conhecimentos durante sua jornada. O estudo visa à compreensão da modalidade de ensino objeto da pesquisa, as metodologias adotadas, e como atuam ou devem atuar profissionais da educação que se dedicam ao ensino de jovens e adultos, e que é possível conhecer em que e de que * Licenciado em Pedagogia pela Faculdade Geremário Dantas; Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranavaí; Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci; Especialista em Educação Infantil pela Faculdade Itaquá; Especialista em Alfabetização e Letramento pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci; Mestrando em Ensino: Formação Docente Interdisciplinar pela Universidade Estadual do Paraná; faz parte do quadro de professores efetivos da Prefeitura Municipal de Inajá-PR. E-mail: lucas-le-ao@hotmail.com. 74 Temas atuais em educação – Volume III forma o EJA contribui para a vida escolar dos alunos, e ressaltar quais metodologias podem ser utilizadas, e alguns relatos de experiências no município de Inajá – Paraná. PALAVRAS-CHAVES: EJA. Práticas pedagógicas. Aprendizagem. Os desafios e as práticas pedagógicas... 75 INTRODUÇÃO Quando se fala em EJA, que significa Educação de Jovens e Adultos, falamos de uma modalidade que tem muitos fatores históricos, com todas as questões e transformações políticas essa modalidade de ensino, mantêm-se firma mesmo em uma sociedade dominante desinteressada cada vez mais. Sobre a educação, um dos estudiosos mais conhecidos e estudados é Paulo Freire, que foi quem originou o plano de alfabetização nacional, que tem como principais metas a formação de seres críticos, como novas ideias e uma visão ampla sobre o meio em que vive, mas com inúmeras propostas na área de educação a fim de promover a humanização e não o interesse do governo, com os desafios enfrentados durante a ditadura militar, perdeu espaço, e foi onde o modelo de alfabetização para jovens e adultos no Brasil – Mobral foi implantado e culturalmente disseminado dentre a população. Com o fim da ditadura, essa modalidade de ensino foi reconhecida na Constituição de 1988, garantindo o acesso ao ensino fundamental gratuito para todas as pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar à escola na idade adequada, lutando por uma educação igualitária e democrática. O curso é ofertado a partir de 15 anos de idade, A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.304/96, em seu artigo 37, apresenta sua preocupação na garantia da continuidade e do acesso aos estudos para aqueles que não tiveram oportunidade no tempo indicado. 76 Temas atuais em educação – Volume III A EJA como modalidade de ensino, enfrentou muitos desafios tanto para sua manutenção, quanto no que diz respeito à permanência dos alunos nas aulas dessa modalidade de ensino, que dentre os fatores negativos, encontra-se à evasão. O parecer do CEB nº 11, aprovado no dia 10 de maio de 2000, regulamenta as diretrizes curriculares nacionais da educação de jovens e adultos. Atualmente, a EJA não tem mais a função única e exclusivamente de atender as descobertas e dificuldades escolares, mas tem como principal meta a de reparar, qualificar e contribuir para a aprendizagem e o desenvolvimento social de cada indivíduo. Por ser uma opção para quem procura reduzir os problemas de exclusão social, essa modalidade de ensino apresenta muitos desafios, e estes englobam a toda a organização hospitalar. Paulo Freire é responsável pelo método que propõe a alfabetização dos jovens e adultos, considera a cultura, como fator essencial na introdução e conceito de educação que possa desenvolver-se, inventar e reivindicar. Para o educador Paulo Freire, cultura é a expressão da realidade que vivenciamos diariamente e que podem ser feitas por todos os participantes de uma formação que objetiva o resgate do conceito de cultura. A princípio antes de iniciar propriamente dito, qualquer metodologia a fim de promover ma alfabetização, é preciso conhecer quais os conhecimentos os alunos possuem, como diferenciam a cultura da natureza, qual a função do Os desafios e as práticas pedagógicas... 77 homem dentro da sociedade, dentre outros pontos importantes, é importante ouvir o que cada aluno tem a compartilhar, pois provavelmente serão experiências diferentes e que vão trazer certa riqueza para as aulas. 4.1 A EJA ENQUANTO MODALIDADE DE ENSINO A EJA é a modalidade que contempla o ensino em nível fundamental e médio, oportunizando a muitas pessoas o acesso a educação de qualidade, que por diversas causas foi interrompido, permitindo assim que os jovens e adultos possam prosseguir com seus estudos, e buscar o conhecimento. São muitas as causas que impossibilitam o processo de alfabetização na idade indicada, no decorrer da história. Esta modalidade é ofertada principalmente na rede pública de ensino, com isso muitas pessoas sentem a necessidade de se inserir e se igualar aos demais na sociedade, por questão de autoestima, superioridade ou simplesmente pelo desejo de conhecer e saber, por isso volta a estudar, De acordo com o que está previsto na lei, fica fixada em 15 anos de idade, a faixa etária mínima para estar inserido o indivíduo na EJA – ensino fundamental e a idade mínima de 18 anos para o nível médio o ingresso nos cursos de educação de jovens e adultos. De acordo com a constituição federal de 1988, prevê em seu artigo 208, que é dever do estado garantir que a educação de qualidade seja efetivada e gratuita, para todos que não conseguirem concluir seus estudos na idade adequada. 78 Temas atuais em educação – Volume III No que diz respeito a essa modalidade de educação, a LDB 9394/96, prevê em seu artigo quinto, parágrafo primeiro, definição das competências para os estados e municípios em um estado de colaboração, sendo subsidiados pela união. O primeiro diz respeito ao recenseamento da população que tenha idade escolar necessária para ser incluída na educação de jovens e adultos, mesmo que essa modalidade seja oferecida de forma gratuita, ainda precisa se adequar as muitas regras exigidas. Segundo a LDB 9394/96, artigo 32; as exigências necessárias no ensino da EJA – precisam ter como requisitos principais a formação dos conceitos básicos sobre cidadania. Dentre esses conceitos, está o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem, através do domínio da leitura, a compreensão e diferenciação entre algo que é natural e social, possibilitar meios para que se desenvolva o desenvolvimento das capacidades, o fortalecimento de ações que possam contribuir para os vínculos familiares. Já o ensino médio, BRASIL, (1996) de acordo com o descrito na LDB deve consolidar tudo o que foi adquirido durante o ensino fundamental, dando continuidade nos estudos, preparar as pessoas para o mercado de trabalho e para exercer o seu papel de cidadãos e a autorreflexão enquanto ser humano. Os desafios e as práticas pedagógicas... 79 4.2 OS DESAFIOS DA EJA Assim como nas turmas de ensino regular, a educação de jovens e adultos também enfrenta muitos desafios diariamente, para continuar funcionando. Considerando que nesta modalidade, geralmente são pessoas adultas, com famílias e histórias de trabalho, são desafios consideráveis, é preciso ter muita força de vontade e o principal que é vontade de aprender e transformar a realidade em que se vive. Um dos principais desafios está na evasão escolar, que pode ser causado devido a vários fatores, dentre eles os mais comuns são; o ciúme do parceiro (a), desmotivação, que pode ser gerada porque a escola esteja muito longe fisicamente do aluno, e não existem meios para que o indivíduo estude o desemprego que na maioria dos casos tira a esperança de buscar melhorias para a sua vida, devido à idade e o cansaço, porque muitos trabalham durante todo o dia, dentre outros, a dificuldade para cumprir os deveres escolares e o que é proposto, estão entre os principais motivos da evasão escolar na EJA. Em uma época de crise, a família brasileira como um todo, tem muita preocupação em relação a sua situação financeira, o que ocasiona dificuldade considerável na hora de avançar no processo de aprendizagem. BRUNEL (2011) ressalta que quando se fala em desmotivação, é preciso compreender que se refere à falta de interesse pelo que a escola oferece ou ensina. No Brasil a EJA, surgiu como uma forma de qualificar a mão de obra, esperando um melhor 80 Temas atuais em educação – Volume III desempenho as demandas industriais, onde se esperavam que agissem como verdadeiras máquinas, fazendo muito mais do que poderia esperar ou receber por tamanha dedicação, foi nesse período que Paulo Freire passou a pensar sobre a importância do ser, ser crítico. Ao longo da história muitos programas de incentivo a alfabetização foram oferecidos simultaneamente com a educação de jovens e adultos, a aprendizagem não tinha valor perante os governantes, porque a única coisa que importa era a formação da mão de obra, trabalhadores qualificados para exercer a sua função e mais além, e não seres pensantes e críticos que poderiam intervir na política ou na vida social, e se formos analisar, atualmente ainda existe esse pensamento, do governo para com a população. Na visão de Paulo Freire, a educação se deve à formação total do ser humano, considerada como uma espécie de preparação para a vida, onde são construídos valores, relacionados a uma pedagogia libertadora, e essencial no processo de construção de uma sociedade mais igualitária. Não é possível atuar em favor da igualdade, do respeito aos direito à voz, à participação, à reinvenção do mundo, num regime que negue a liberdade de trabalhar, de comer, de falar, de criticar, de ler, de discordar, de ir e vir, a liberdade de ser (FREIRE, 2002, p.193). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) coloca em pauta o direito de jovens e adultos a ter uma educação básica e de qualidade, devendo o poder público oferecer de forma gratuita o Os desafios e as práticas pedagógicas... 81 ensino supletivo durante a idade de 15 anos no ensino fundamental, e de 18 anos no ensino médio além de incluir a EJA no sistema de ensino regular. (BRASIL, 1996). A Educação de Jovens e Adultos, mesmo diante a tantas dificuldades precisa ser revista numa visão que contemple não somente a alfabetização, mas também o nível profissional. A educação está garantida na Constituição federal de 88 como um direito de todo cidadão brasileiro e é dever da família e do estado, inclui-se também o ensino fundamental gratuito, garante também a oferta de vagas para as pessoas que precisam estudar em níveis que não compactuam com a faixa etária, ou seja, todos os alunos que possuem acima de 15 anos não são considerados crianças, mas pessoas que já tem uma bagagem de vida, histórias de superação. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, em sua resolução CNE/CEB Nº1/2000, define a EJA como uma modalidade da educação básica, sendo um direito de qualquer cidadão, como uma forma de qualificação. 4.3 AS FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Esta modalidade de educação, objeto de estudo do presente artigo, possui três funções essenciais para uma educação de qualidade que acolhe todas as necessidades dos alunos. Tem a função de reparar os direitos conferidos por lei, mas 82 Temas atuais em educação – Volume III que são negados, a igualdade abordada na escola, profissionais e estrutura física adequada e de qualidade. É preciso ressaltar que escola bem estruturada e educação de qualidade são um direito de todas as pessoas, a educação de jovens e adultos, também é um direito e todos os usuários desta modalidade de ensino devem receber o melhor atendimento educacional (BRASIL, 2002). É importante compreender a diferença entre reparação (reparar algumas perdas) e suprimento (suprir de forma total ou parcial, tudo o que foi perdido em faixa etária adequada), tornam-se necessárias situações pedagógicas a fim de refletir e melhorar esse atendimento. Quando se ouve falar a respeito da fase equalizadora, referem-se ao apoio dos trabalhadores, aposentados dentre outros que busquem essa modalidade, e por diversos motivos tiveram que abandonar os estudos ou nem chegaram a iniciar devido às condições e a necessidade de cuidar da família e participar de tantas outras consultas. Para Soares (2002), o público que frequenta a EJA, são jovens ou adultos, com a vida escolar mais precária, estudantes e trabalhadores que esperam por um futuro melhor, com melhores condições de vida. Sobre a função de qualificar, qualificadora; possui como base o caráter insuficiente do ser, desenvolvimento dos potenciais, uma educação compromissada e direcionada às necessidades da era moderno-contemporânea. SOARES (2002, p.41) defende que todos devem aprender, sem exceção e ter os mesmos direitos que as demais crianças. Os desafios e as práticas pedagógicas... 83 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com todas as pesquisas e abordagens necessárias para a realização deste trabalho, foi possível realizar uma profunda reflexão acerca da modalidade de educação: EJA – educação de jovens e adultos, das práticas e metodologias abordadas, e conhecer alguns autores que defendem a educação libertadora, com sentido amplo. Compreendi que a educação de jovens e adultos tem função essencial no desenvolvimento dos conhecimentos, modalidade de educação que permite aos alunos, além de sanar muitas dúvidas impostas ao longo da vida, no que se refere à educação, desenvolvendo intelectualmente e socialmente. Compete aos professores que atuam nessa modalidade, pensar e repensar as suas práticas pedagógicas e o mais importante que é compreender e respeitar a história e vivência de seus alunos, considerando que o professor tem grande responsabilidade tanto no quesito pedagógico quanto no social, pois tem a função de transmitir e mediar o conhecimento, permitindo novas oportunidades de aprendizagem. É com a valorização e respeito às experiências dos seus alunos, que o professor pode garantir sentido a educação e a busca por ela, assim pode acontecer à socialização e construção dos conhecimentos, considerando essas ações como transformadoras e cheias de valores aos alunos. Os alunos que frequentem a EJA, de alguma forma e por algum motivo ou consequência tiveram sua vida escolar interrompida, os fatores são vários, 84 Temas atuais em educação – Volume III mas o que é preciso levar em consideração é que esta modalidade é essencial para essas pessoas que de certa forma foram excluídas durante a faixa etária correta, é preciso muito comprometimento no que diz respeito à acolhida. Pensando assim, foi possível compreender que a EJA, tem a missão de função de reparar algumas perdas que foram causadas no processo de aprendizagem e vivência de cada um. A educação de certa forma é vista como uma ação política, por exemplo, para muitas pessoas que retornam aos estudos, o principal motivo é a busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho e o desejo de conseguirem uma vaga em uma universidade, sem contar que para muitos jovens é uma boa opção por causa da redução do período de estudos. Para muitas pessoas, quanto mais estudos, quanto maior for o seu nível de conhecimento e titulação, mais oportunidade surgiu, o que não pode ser colocado como regra, pois não é dessa forma que ocorre. Falando historicamente sobre as informações existentes sobre a educação de jovens e adultos em nosso país, é possível verificar que essa modalidade de ensino, sofreu e sofre muitos obstáculos perante a sociedade, esta modalidade enfrentou muitos preconceitos. Foi na década de 60, que Paulo Freire divulgou em todo o país o PNA - Plano Nacional de Alfabetização, que aborda a educação com uma nova visão, muito mais ampla, libertadora, transformadora de mentes, considerando a educação como Os desafios e as práticas pedagógicas... 85 promoção do conhecimento, que assim pode formar pessoas críticas diante aos acontecimentos da sociedade. Esta modalidade só passou a apresentar algum avanço significativo, após a formação da constituição de 1988, que passou a ser garantida no ensino fundamental, de forma gratuita e com qualidade, para todas as pessoas que não tiveram oportunidades de estudar com a idade adequada. Cabe aos professores e profissionais que atuam na educação, em especial com o público dessa modalidade, muito profissionalismo, carisma e comprometimento, pois são pessoas que estão em busca de conhecimento, para acompanharem os acontecimentos mundiais, muitos tem uma rotina de trabalho cansativa, tem muitos outros compromissos, e ainda sim estão buscando aprender e se desenvolver. É preciso que isso seja valorizado, assim como as suas experiências, o aluno motivado, sem dúvidas terá um rendimento muito maior, e terá prazer em estar ali e fazer parte da EJA, situações como essa são muito gratificantes. REFERÊNCIA BARCELOS, Valdo. Formação de Professores para Educação de Jovens e Adultos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. BRASIL- Congresso Nacional. Constituição da República federativa do Brasil de 1988. 86 Temas atuais em educação – Volume III BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000. Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o parágrafo 2º do art. 36 e os artigos 39 e 42 da Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18/04/1997. BRASIL. Ministério da Educação. Legislação do Ensino Supletivo. Brasília: Departamento de Documentação e Divulgação, 1978. BRUNEL, Carmen: Jovens Cada Vez Mais Jovens na Educação de Jovens e Adultos. Cuiabá: Ed. Mediação, 2011. CUNHA, Conceição Maria da. Introdução – discutindo conceitos básicos. In: SEED-MEC. Salto para o futuro – Educação de jovens e adultos. Brasília, 1999. FREIRE, P. Conscientização teoria e prática de libertação. São Paulo. Cortez e Morais,1979. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma biobibliográfica. São Paulo. Cortez: instituto Paulo Freire 1996. LEAL, Telma Ferras. Desafios da educação de Jovens e Adultos: construindo práticas de Os desafios e as práticas pedagógicas... 87 alfabetização. Telma Ferraz Leal; Eliana Borges Correia de Albuquerque (Org.). 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. MEC. Ministério da Educação e Cultura. Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: www.mec.gov.com.br. Acesso em: 15/08/2017. ROCHA, Halline Fialho da [et. al]. As Práticas Educativas na Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 20/08/2017. SOARES, Leôncio José Gomes. O surgimento dos Fóruns de EJA no Brasil: articular, socializar e intervir. In: RAAAB, alfabetização e Cidadania – políticas Públicas e EJA. Revista de EJA, n.17, maio de 2004. 88 Temas atuais em educação – Volume III OS ORGANIZADORES JOSÉ DIAS Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo - RS (1996) e Bacharel em Teologia pela Unicesumar (2014); Especialista em Docência no Ensino Superior pela Unicesumar (2015); Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (1992); Mestre em Filosofia pela mesma Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2006); Doutor em Direito Canônico também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2005); Doutor em Filosofia também pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália (2008). Atualmente é professor Adjunto da UNIOESTE, no Campus de Toledo-PR, onde é Coordenador do curso de Licenciatura em Filosofia; pesquisador do Grupo de Pesquisa “ÉTICA E POLÍTICA”, da UNIOESTE, CCHS, Campus de Toledo-PR; parecerista de revistas filosóficas e jurídicas. E-mail: prof.dias.br@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231. JUNIOR CUNHA Graduando do curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em William Shakespeare. É autor de Educação e Direitos Humanos e A filosofia de Nietzsche: noções introdutórias. Para mais, escreve e pública, sobretudo, nos campos da Filosofia Política e da Ética. É bolsista do projeto de extensão Oficinas Pedagógicas Inclusivas em Educação Especial e subcoordenador dos cursos de extensão Produção de Artigos Científicos e Bobbio Originale: L’età dei diritti. Integra o Centro Acadêmico de Filosofia, gestão Existir e Resistir, e o Diretório Central dos Estudantes da Unioeste, gestão Universidade em Movimento. Atuou como subcoordenador do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais Contemporâneas. Estagiou na Biblioteca Universitária da Unioeste, Campus Toledo. Atuou como bolsista no projeto de extensão Teatro em Ação e no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. E-mail: juniorlcunha@hotmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103. DANIELA VALENTINI Italiana, nascida na cidade de Scontrone, Província de L'Aquila - Itália. Desde 2009 atua entre Brasil e Itália, no ramo editorial. Atuou também como Correspondente Internacional para a língua italiana, na redação da Revista Ecclesia, de distribuição nacional, ISSN: 2178-3101. Publicou, suas entrevistas a Pe. Gabriele Amorth, ISBN: 978-8561837-53-2. Graduanda em Letras Português, pela Universidade Paranaense. Professora de língua italiana na Polys Idiomas e Casa Cultural Itália. E-mail: danyval@hotmail.it. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0438038006154792.