http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v14i1.148024
A ESTRUTURAÇÃO DO SABER RELACIONADO
A GEOMETRIA COMPLEXA E A MODELAGEM
PARAMÉTRICA DE ESTRUTURAS REGENERATIVAS
NA ARQUITETURA
ARTIGO
The structuring of knowledge related to complex geometry and parametric
modeling of regenerative structures in architecture
Janice de Freitas Pires1, Alice Theresinha Cybis Pereira2
RESUMO: A arquitetura regenerativa surge com uma abordagem que vai além da sustentabilidade
dos edifícios, buscando ampliar a relação com o meio ambiente, de modo a promover a regeneração
dos sistemas vivos, através de uma compreensão completa do lugar no projeto de arquitetura.
Neste trabalho, com objetivo didático, é realizado um estudo sobre a geometria complexa das
estruturas com potencial regenerativo na arquitetura e sua modelagem paramétrica, como meio
de explicitar o saber envolvido em tais superfícies. A partir de duas teorias didáticas que destacam
a necessidade de se estudar a constituição de um saber com vistas a processos transpositivos,
reconhecem-se os princípios da arquitetura regenerativa e explicitam-se os elementos de saber
que envolvem as geometrias complexas recorrentes na natureza, a qual desenvolve suas estruturas
em estrita relação com as dinâmicas que são processadas no ambiente natural. Visando estudos de
transposição didática para arquitetura, a estruturação de processos de modelagem paramétrica de
tais geometrias também se integra ao propósito de disponibilizar uma rede de conceitos com foco
no estudo das superfícies matemáticas empregadas na arquitetura contemporânea recente.
Universidade Federal de
Pelotas - UFPEL
1
Universidade Federal de
Santa Catarina- UFSC
2
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura regenerativa; Geometria complexa; Ensino de arquitetura;
Modelagem paramétrica.
ABSTRACT: The regenerative architecture emerges with an approach beyond the sustainability
of buildings, seeking to extend the relationship with the environment, in order to promote the
regeneration of living systems, through a complete understanding of the place in architectural
design. In this work, with a didactic objective, a study is carried out on the complex geometry of
structures with regenerative potential in the architecture and its parametric modeling, as a means
of explaining the knowledge involved in such surfaces. Based on two didactic theories that highlight
the need to study the constitution of a knowledge with a view to transpositive processes, the
principles of regenerative architecture are recognized and the elements of knowledge that involve
the recurrent complex geometries in nature are explained, which develops its structures in strict
relation with the dynamics that are processed in the natural environment. Aiming at studies of
didactic transposition for architecture, the structuring of parametric modeling processes of such
geometries is also integrated with the purpose of providing a network of concepts focused on the
study of mathematical surfaces used in recent contemporary architecture.
KEYWORDS: Regenerative architecture; Complex geometry; Teaching architecture; Parametric
modeling.
How to cite this article:
PIRES, J. F.; PEREIRA, A. T. C. A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem
paramétrica de estruturas regenerativas na arquitetura. Gestão e Tecnologia de Projetos, São Carlos, v.14, n.1,
p.90-110, set.2019. http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v14i1.148024
Fonte de financiamento:
CNPQ
Conflito de interesse:
Declara não haver
Submetido em: 10/07/2018
Aceito em: 01/03/2019
2019; 14 (1): 90-110
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A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
INTRODUÇÃO
Nas últimas cinco décadas, devido a crescente preocupação com os
problemas ambientais, o conceito de sustentabilidade tem sido incorporado
sistematicamente na arquitetura. Segundo Gonçalves e Duarte (2006),
houve um período da história da arquitetura no qual a premissa era de
que a tecnologia de sistemas prediais ofereceria meios de controle total
das condições ambientais de qualquer edifício, de maneira artificial, não
havendo a necessidade de se considerar e utilizar os princípios naturais da
arquitetura bioclimática.
De acordo com os mesmos autores, na década de 1970, devido à crise
energética e as preocupações com o consumo de energia, a abordagem
da arquitetura sustentável se concentrou principalmente nos aspectos de
impacto ambiental da construção, com a preocupação de diminuir os danos
causados pelos processos de industrialização dos materiais e oferecer
sistemas prediais mais eficientes em relação ao desempenho energético.
Embora tenha havido uma evolução quanto a tais aspectos, por meio
de pesquisas e desenvolvimento de produtos e tecnologias prediais, Littman
(2009) aponta que a sustentabilidade na arquitetura, tal como é entendida
pela sociedade hoje, não é suficiente como solução para ser incorporada no
projeto de arquitetura, em projetos atuais e futuros. Isto se deve a que a
entrada contínua de energia e recursos em uma estrutura não é sustentável
de qualquer modo para que seu funcionamento seja saudável em relação ao
meio em que se insere. O mesmo autor aponta que o modelo de construção
atual na arquitetura emprega tecnologias obsoletas e implica em processos
de degeneração. Na concepção regenerativa o edifício necessita ter o
potencial para a integração do mundo natural como um parceiro igual.
Tal integração é possível a partir do conhecimento do lugar em um
nível profundo e íntimo pelo projetista com base nos padrões, forças e
energias existentes, os quais desenvolvem uma configuração única para tal
lugar. A sua dinâmica revela dados tangíveis os quais podem ser utilizados
como as informações generativas da arquitetura. Um destes padrões,
segundo Littmann (2009), é dado pela geometria das estruturas naturais, a
qual é resultado de um diagrama de forças que interagem em dado lugar
(THOMPSON, 1917).
A inserção do conhecimento específico da geometria das estruturas
naturais torna possível tratar ao mesmo tempo com conceitos fundamentais
que estão relacionados à definição da forma e ao seu desempenho
relativamente à conformação do objeto arquitetônico. A explicitação das
estruturas de saber (CHEVALLARD, 1999) que envolvem tais geometrias
possibilita por um lado compreendê-las e dar apoio à proposição de
processos de modelagem paramétrica visando sua aplicação na concepção
arquitetônica. Por outro lado, no contexto deste trabalho, foi considerada a
importância de tais estruturas de saber para subsidiar estudos de transposição
didática (CHEVALLARD, 1991) para arquitetura, fundamentados na análise
de um saber e na sua sistematização.
A importância deste aprendizado na formação em arquitetura está
em desmistificar ou até mesmo inibir o uso de superfícies curvas de
modo gratuito, sem consciência de sua estrutura formal e suas qualidades
arquitetônicas. Isto decorre da facilidade de ‘projetar ou representar uma
forma curva’ por intermédio de curvas e superfícies denominadas de
formas livres (tais como a da classe das NURBS). Outra relevância deste
estudo é no sentido de dar subsídios para que na formação em arquitetura
tais superfícies possam ser incluídas nas hipóteses de formalização
geométrica do projeto de arquitetura, de maneira consciente em termos
arquitetônicos, técnicos e tecnológicos. Isto somente será possível por meio
do reconhecimento de seus elementos geométricos fundamentais, tais como
curvas e processos de geração, as técnicas que possibilitam representar tais
superfícies e as tecnologias que dão subsídios às técnicas de representação.
Além disto, tais superfícies possuem qualidades de desempenho que
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Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
podem ser preponderantes em projetos direcionados a sustentabilidade ou
regeneração. Arquitetos como Vincent Callebaut têm adotado estratégias
formais com este propósito.
A dificuldade de modelar tais superfícies reside em que o conhecimento
necessário para tal não é abordado na arquitetura e a maioria das
superfícies mínimas exige um conhecimento específico e profundo da área
da matemática, como de cálculo complexo. A inserção deste conhecimento
matemático demandaria uma enorme reformulação nos currículos de
arquitetura, que não poderia ser concretizada em curto prazo. Frente à
inserção nos escritórios de arquitetura principalmente da denominada
modelagem paramétrica , que possibilita a adoção de formas mais
complexas, livres e muitas vezes até mesmo com superfícies mínimas,
parece urgente tratar no contexto didático com o conhecimento que envolve
tais geometrias, principalmente a partir de seus elementos fundamentais e
processos de geração.
Nesse sentido, a explicitação da geometria das superfícies das estruturas
naturais proposta neste trabalho tem o propósito de se constituir como
uma ontologia de apoio para a modelagem paramétrica (ou qualquer outro
tipo de representação gráfica digital) da forma arquitetônica direcionada
a regeneração. Tal ontologia, além da estrutura formal, busca explicitar
aspectos positivos de utilização das formas curvas complexas, os quais
frequentemente não são considerados quando são propostas tais tipos de
superfícies.
REFERENCIAIS TEÓRICOS E PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
O presente estudo tem um enfoque didático amparado nas teorias
didáticas de Chevallard: a Teoria da Transposição Didática (1991) e a Teoria
Antropológica da Didática (1999). Conforme já mencionado, este autor
destaca os elementos de um saber que devem ser considerados em processos
de ensino e aprendizagem, com vistas a uma transposição didática de tal
saber. Tendo por base tais teorias, identificou-se que a natureza descritiva da
modelagem algorítmica, que exige reconhecer elementos teóricos, técnicos
e tecnológicos, pode potencializar a explicitação do saber da geometria
complexa das estruturas regenerativas empregadas na arquitetura. O
reconhecimento de processos de modelagem paramétrica desenvolvida
em linguagem de programação visual por meio do plug-in Grasshopper
junto ao software Rhinoceros, ao integrar a linguagem algorítmica em uma
abordagem descritiva e visual, pode ser considerado como uma estratégia
didática no ensino de arquitetura.
A modelagem paramétrica introduz também maiores possibilidades
para a definição de geometrias complexas, a geração de instâncias de projeto
e a avaliação destas instâncias, por ser um processo de representação
baseado em um sistema que armazena todos os dados relacionados à
geometria do objeto que está sendo criado e representado e permite fazer
relações entre estes dados. A escolha pela modelagem com linguagem de
programação visual e descritiva também se justifica pelo fato de que ainda
não se conta nos cursos de arquitetura com a inserção da linguagem pura de
programação, exclusivamente por meio do uso de scripts.
No contexto em que este trabalho se insere já vem sendo adotadas
desde o ano de 2003 estratégias didáticas em que os processos descritivos
(principalmente por meio do desenvolvimento de mapas conceituais
analíticos), relativos à geometria de objetos arquitetônicos, são utilizados
como suporte aos processos de representação gráfica digital (modelagem
geométrica e visual). Isto está fundamentado na Teoria Antropológica da
Didática de Chevallard (1999), a qual considera que o saber relativo a um
objeto de estudo está constituído por quatro elementos que se relacionam
dinamicamente: um problema ou uma classe de problemas que envolvem
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
tal objeto; as técnicas de resolução deste problema ou da classe de problemas
associados; as tecnologias que justificam, explicam ou produzem técnicas
relativas à resolução do problema; e as teorias, que possuem o mesmo
papel em relação às tecnologias (de justificação, explicação e produção de
tecnologias).
Com isto, tem-se um quadro teórico de análise do saber que se está
querendo inserir em dado contexto. Devido à própria característica dos
contextos educativos, Chevallard (1991) salienta a importância do saber estar
constituído em sua estrutura integral. A finalidade do reconhecimento de tal
estrutura de saber é dar subsídios aos próprios docentes para a estruturação
de situações didáticas e aos estudantes para tornarem-se conscientes de
suas escolhas e proposições projetuais, além do uso adequado da liberdade
formal e não de modo gratuito.
Dessa maneira, o estudo refere-se às etapas de reconhecimento e
explicitação das estruturas de saber que envolvem a geometria complexa
de estruturas com potencial de regeneração e está estruturado pelas
seguintes etapas: - Reconhecimento dos conceitos que envolvem aspectos de
regeneração em arquitetura; - Reconhecimento das estruturas da natureza
que possuem princípios de regeneração; - Explicitação da geometria (tipo
de superfícies) de tais estruturas da natureza e do emprego destas na
arquitetura; - Reconhecimento de processos de modelagem paramétrica
de tais superfícies; - Discussão sobre a adequação dos elementos de saber
reconhecidos nas etapas anteriores e sua possibilidade de inserção no
ensino de arquitetura.
Para o reconhecimento do emprego de superfícies mínimas na
arquitetura adotaram-se as análises e descrições dadas por Burry & Burry
(2010) para duas obras de arquitetura, uma que emprega uma superfície
mínima obtida matematicamente e outra conformada a partir de modelos
físicos de suspensão. A adoção deste referencial teórico justifica-se por
seu aprofundamento na descrição e busca pelos conceitos matemáticos
que envolvem tais geometrias empregadas na arquitetura contemporânea
recente, adotando-se o método de ampliação das estruturas de saber
identificadas em tais descrições, a partir de autores específicos das áreas
em questão (da matemática e da física). Devido ao enfoque didático, dois
dos modelos geométricos selecionados para os processos de modelagem
inserem-se no contexto da classe de superfícies curvas tradicionais,
sistematizadas na geometria descritiva, mas que também são superfícies
mínimas, e um dos modelos é uma superfície mínima mais complexa,
descoberta no século XX, empregada em uma obra de arquitetura, descrita
em Burry & Burry (2010). Esta possui geometria com elementos fundamentais
(curvas) que se repetem nas primeiras duas superfícies estudadas, sendo de
interesse didático tratar de maneira sequencial com estas três superfícies
mínimas.
No enfoque da teoria didática adotada, o reconhecimento de estruturas
de saber é uma etapa prévia a estruturação de situações e materiais
didáticos, válida para qualquer contexto educativo. Dessa maneira, o
presente trabalho será limitado à discussão sobre a explicitação do saber
que envolve as estruturas com potencial de regeneração na arquitetura, não
abordando as aplicações didáticas já realizadas, as quais serão descritas e
discutidas em trabalhos futuros.
EXPLICITAÇÃO DO SABER QUE ENVOLVE A GEOMETRIA
COMPLEXA DE ESTRUTURAS REGENERATIVAS NA ARQUITETURA
Alguns princípios regenerativos na arquitetura
Littmann (2009) traçou alguns princípios para projetos de regeneração
na arquitetura, que estão baseados na compreensão do funcionamento do
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Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
meio natural. Esta seria uma das premissas da arquitetura regenerativa, ou
seja, o meio natural seria o seu gerador, sendo necessária uma compreensão
abrangente e completa dos sistemas naturais e de vida, a ser empregada no
projeto de uma estrutura.
Neste contexto, a análise do local, com vistas a identificar tais padrões,
exerce, segundo Littmann (2009), um papel central no desenvolvimento
de um projeto de concepção regenerativa. Para o autor isso ocorre, em
parte, porque os tecidos são construídos em torno do fluxo de energia e
consequentemente tornam-se a expressão física ou forma de realização
(personificação) desta energia. Este é um processo em que a natureza
essencial do fluxo e a correspondente natureza do meio através do qual ele
passa determinam a sua expressão na forma. A percepção de lugar como um
conjunto de padrões e sistemas interdependentes é o primeiro passo que o
projetista deve dar no processo de concepção regenerativa.
Como um dos princípios orientadores para a regeneração, o autor
destaca a integração dos sistemas inteiros de design, que está amparada
nos seguintes critérios: Todos os sistemas e entidades são contabilizados e
incorporados no projeto geral do sistema; Todos os sistemas estão envolvidos
em comunidades de relações de apoio mútuo; Cada uma das entidades do
sistema deve desempenhar mais do que uma função ou satisfazer mais do
que uma necessidade dentro do sistema (multiplicidade); cada necessidade
dentro do sistema é recebida com mais de uma solução, não existindo uma
única solução para o seu funcionamento (redundância). Por exemplo, a
aquisição de energia utilizável por meio de mais de uma solução (energia
solar, eólica ou biomassa) fortalece o sistema, em termos energéticos, pois
permite solidificar a entrada de energia, tornando-o mais confiável, eficiente
e benéfico.
Outro princípio apontado pelo autor é da integração na paisagem, em
que se destacam as seguintes ideias: a análise do local, seus elementos e
sistemas naturais são a base geradora do projeto; a habitação e integração
paisagística criam uma nova unidade / entidade inteira; a construção da
habitação é naturalmente artificial ou artificialmente natural, tendo-se,
na arquitetura regenerativa, a necessidade de transpor-se a lacuna entre o
artificial e o natural, fazendo-se uma síntese da relação existente entre os
dois.
O princípio dos limites inteligentes estabelece que cada programa tenha
um limite mínimo exigido, com uma máxima potencialmente infinita.
O projeto reflete o equilíbrio do programa e cada material e espaço é
potencialmente maximizado e integrado em todo o seu potencial de entrada
líquida positiva no sistema. A noção de “Limites inteligentes” é crucial para o
processo de design, pois garante que o equilíbrio possa ser cumprido dentro
do sistema, sem limitar o potencial de regeneração dentro do sistema.
O princípio da construção inteligente refere-se à construção da
arquitetura, bem como a construção de sistemas e o local; respeita a
eficiência dos materiais, maximização de seu potencial e construtibilidade.
O princípio da ecologia ousada (Bold Ecology) refere-se à implementação e
proliferação de sistemas ecológicos que executam múltiplas funções, são
regenerativos e fornecem uma produção líquida positiva.
A partir de tais ideias é possível afirmar que as estruturas naturais
se desenvolvem em torno do fluxo de energia e sua forma é uma resposta
aos princípios anteriormente apontados.
Estas estruturas integram
princípios regenerativos, o que aponta a importância de considera-las como
referenciais para o emprego na arquitetura.
Estruturas da natureza que integram princípios de regeneração
Bertol (2011) considera que a natureza é uma tendência que leva a uma
abordagem interdisciplinar em projeto. Para a autora, a beleza das formas
encontradas na natureza é reforçada pela sua funcionalidade, pois além da
inspiração estética, oferece estratégias de projeto e eficiência estrutural.
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
Segundo a autora, “As ciências naturais têm um papel importante em
ajudar-nos a compreender a lógica do mundo natural e oferecem muitas
lições para o desenho de formas artificiais” (Bertol, 2011, p. IV). Neste
contexto, a geometria possui uma estrita relação com a estrutura de tais
formas, englobando uma caracterização que pode ser aplicada para a
maioria dos fenômenos e objetos do mundo real.
A definição de D’Arcy Thompson (1917) da forma como ‘um diagrama de
forças’ é entendida em Bertol (2011, pág. IV) como “um ponto de partida para
um discurso arquitetônico contemporâneo, em que a definição das formas
no ambiente construído deva ser impulsionada por intuição estrutural em
um diálogo entre geometria, estética e materiais”. A autora destaca que
as formas e os padrões podem oferecer um meio potente para interpretar
os fenômenos que ocorrem na natureza (desde a biologia, química, física,
geometria, zoologia, biofísica e ciências dos materiais). Podem assim
oferecer modelos conceituais para a concepção de formas artificiais.
Um importante conceito geométrico apontado por Bertol (2011)
como recorrente na natureza são os triângulos e hexágonos como formas
fundamentais para o equilíbrio. Em estática, o triângulo é a figura de base
para alcançar o equilíbrio estrutural. Na arquitetura, as geodésicas propostas
por Buckminster Fuller (à direita da Figura 1) são um exemplo de aplicação
desta abordagem. Segundo a autora, este princípio de equilíbrio pode ser
alargado a processos biológicos, tais como a divisão celular e crescimento.
Algumas radiolárias possuem estrutura semelhante, com padrão triangular
(à esquerda e ao centro da mesma Figura).
Figura 1: Radiolária desenhada
por E. Hackel (1872) e forma
geodésica do Planetário em
Jena (C. Zeiss)
Fonte: Perez-Garcia e GómezMartínez (2009).
Bertol (2011) relata que Plateau ao fazer suas observações em bolhas de
espuma de sabão identificou que estas no plano bidimensional se cruzam em
três vértices de um ângulo que tende a ser de 120° e em três dimensões, via
quatro vértices semelhantes aos ângulos de um tetraedro. Posteriormente
aos experimentos de Plateau, D’Arcy Thompson (1917) reconheceu que os
mesmos princípios geométricos se aplicam a células vivas, que seguem os
princípios da tensão superficial com base na eficiência energética: células
hexagonais convergindo em agregados a cerca de ângulos 120° são uma
característica muito comum de formas na natureza.
Os experimentos de Plateau com formas de bolhas de sabão e sua
configuração tiveram grande influência na evolução de uma teoria de uma
classe especial de superfícies recorrentes na natureza, denominadas de
superfícies mínimas. Este teoria teve suas primeiras definições no século
XVIII, em 1760 por Lagrange, e foi impulsionada a partir da metade do
século XIX e principalmente no século XX, com a evolução da dinâmica de
fluidos, na física, e sistemas complexos, na matemática (BERTOL, 2011).
Uma superfície mínima é a superfície que possui menor área para um dado
contorno fixo (OSSERMAN, 1986). Mas sua principal característica é possuir
um equilíbrio de tensões devido à curvatura média igual à zero em todos
os seus pontos (CARMO, 1987), resultando em uma forma que responde
otimamente em termos estruturais sem consumir energia para isto. Ou seja,
a forma responde as condições físicas a partir de sua geometria, o que faz
com que se corresponda com os princípios da arquitetura regenerativa.
Esta geometria que assume uma ‘forma correta’ em relação ao meio físico,
segundo Kanaiya (2013), é denominada de ‘geometria funicular’, sendo esta
conformada em ‘estruturas funiculares’.
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Tendo propriedades de minimização de quantidades, o hexágono,
por exemplo, minimiza áreas de superfícies, assim como ocorre com as
superfícies mínimas conformadas por bolhas de sabão experimentadas
por Plateau a partir de 1843. O padrão hexagonal é descrito como ladrilho
de área de superfície mínima: com este padrão, as abelhas minimizam a
quantidade de cera necessária para a construção da colmeia (BERTOL, 2011).
A autora destaca que o favo de mel é um exemplo perfeito de uma forma
gerada como resposta à eficiência estrutural e economia de material.
Outro exemplo apontado por Bertol (2011) de estrutura natural que
integra os conceitos anteriormente citados é de uma radiolária (organismos
unicelulares, caracterizados por um esqueleto mineral, que na maioria dos
casos é feita de sílica - dióxido de silício). A Callimetra Nassellaria, desenhada
por Haeckel (à esquerda da Figura 2), tem a forma de um tetraedro esférico,
com as faces que se assemelham as superfícies de área mínima. A autora
ainda cita outras ocorrências de padrões hexagonais que exercem princípios
de equilíbrio e eficiência estrutural, tais como o das asas das libélulas e da
lama rachada de formações geológicas.
Para Allgayer (2009), as configurações que são assumidas nas superfícies
mínimas que se desenvolvem na natureza decorrem da busca em anular
as forças externas e internas que atuam sobre os limites físicos da matéria
que constitui estas superfícies. Ao buscar o equilíbrio, a superfície de área
mínima é configurada, como o objetivo de alcançar o melhor aproveitamento
de sua tensão superficial. Desta maneira, estas superfícies caracterizam-se
pela redução de material, pela otimização das tensões de trabalho e por
atuarem no equilíbrio energético.
Perez-Garcia e Gómez-Martínez (2009) identificaram que os arranjos
mais usuais na natureza são controlados por quatro fatores principais: a
natureza das forças, a forma global, o design local e a qualidade do material.
Segundo os autores, estes fatores determinam a geometria. No entanto,
parâmetros adicionais, tais como padrão ou iluminação do material, irão
influenciar outras características gerais como a flexibilidade, a integração,
a continuidade ou a autotensão, envolvidos em alguns exemplos. Estes se
configuram geralmente nas estruturas de pneus, conchas, árvores, teias e
esqueletos. Entre estas, para os mesmos autores, as estruturas pneumáticas
são as mais eficientes em termos de espaço / peso, sendo estabilizadas
por si mesmas por terem um envelope dúctil tensionado, internamente
pressurizado por um fluido e rodeado por um meio. Dessa maneira, são
muito adaptáveis, tendo flexibilidade para mudar a sua forma com vistas
a acomodar a geometria circundante (PEREZ-GARCIA e GÓMEZ-MARTÍNEZ,
2009). Para os autores, as estruturas finais da natureza, tais como ovos, ossos,
esqueletos, conchas e teias, na maioria dos casos, resultam da solidificação
de pneus.
Figura 2: À esquerda, Radiolária Callimetra desenhada por E. Hackel (1872) com a forma de um tetraedro esférico e de superfície
mínima e, ao centro e à direita, superfície mínima triplamente periódica
Fonte: à esquerda, Bertol (2011) e, à direita, , http://www.indiana.edu/~minimal/archive/Triply/genus3/PLines/web/index.html
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
Estas estruturas pneumáticas se combinam para produzir grades
ideais com comportamento de menos energia, sendo estruturalmente e
energeticamente eficientes. Bertol (2011) destaca que se pode identificar na
natureza a ocorrência de partições uniformes do espaço também associadas
a alguns tipos de superfícies mínimas matemáticas, tal como a superfície
de Schwarz, que é triplamente periódica. Ela se configura por translação
de um elemento básico segundo uma grade regular (á direita da Figura 2).
Osserman (1986) afirma que está é a única superfície mínima obtida por
translação.
A geometria de superfícies mínimas e seu emprego na arquitetura
Nos séculos XIX e XX Gaudi e Frei Otto utilizaram amplamente o princípio
anteriormente descrito ao propor suas estruturas para arquitetura. Para Frei
Otto, sendo o pneu o sistema responsável do crescimento, a forma definitiva
é recorrente de um arranjo chamado de funicular, o qual é produzido pelas
cargas no pneu flexível. Segundo Perez-Garcia e Gómez-Martínez (2009),
este é um processo tecnológico muito elevado de encontrar a forma ótima.
Tendo a propriedade de superfícies mínimas, as tensões superficiais são
semelhantes em todas as direções, como foi experimentado nas tendas de
tração de Frei Otto no século XX. Meio século antes de Otto, no final do século
XIX, Gaudi, influenciado por tais ideias, trabalhou com modelos físicos
para definir estruturas funiculares, com o objetivo de conceber projetos de
estruturas geométricas complexas e ao mesmo tempo de alto desempenho
estrutural, como na Colônia Güell e na Sagrada Família (primeira linha da
Figura 3).
No século XX outros arquitetos e engenheiros fizeram uso dos modelos
funiculares, como Frei Otto para o Mannheim gridshell (BURKHARDT &
BÄCHER, 1978) e Heinz Isler, que desenhou suas conchas de concreto com
base em modelos de pano pendurado (CHILTON, 2000; 2017). Estes modelos
e obras estão ilustrados respectivamente na segunda e terceira linhas da
Figura 3.
Figura 3: Modelos funiculares empregados na arquitetura nos séculos XIX e XX
Fonte: https://www.quora.com/What-is-Funicular-geometry-What-is-its-significance-in-Structures-in-Architecture; Beraldo e
Meirelles (2016, pág. 07); https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214399815300011; Chilton e Chuang (2017).
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Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
O Main Station de Ingenhoven Architects é uma estação de passagem
que conecta várias ferrovias no centro da cidade de Stuttgart, Alemanha.
Segundo Burry & Burry (2010), a superfície da estação segue o uso de
superfícies que são encontradas fisicamente pela suspensão de uma rede
de corrente que irá conformar, após ser submetida à deformação pela
gravidade, uma superfície mínima. A superfície encontrada para o projeto
da estação foi posteriormente refinada por métodos de cálculo complexo
utilizando um software de elementos finitos (FEM). O objetivo foi resolver
duas questões principais (Burry & Burry, 2010): a primeira é a economia
estrutural e material; e a segunda é a provisão de luz e ar para o vasto
espaço subterrâneo, sem criar consumo de energia significativo ou poluição
de carbono. Estas superfícies podem ser formadas em torno de um orifício,
chamado “olho”, no qual um funil igual a um cálice é formado, resultando
em uma unidade modular protótipa. Tal módulo permite combinar
telhado, suporte vertical e abertura para o céu em uma única superfície
mínima (Figura 5). Ao configurar um telhado de casca contínua, neste
projeto possibilita cobrir todo o espaço subterrâneo, admitindo luz natural
e ventilação em todos os lugares através dos olhos cálice. Burry & Burry
(2010) descrevem que, para descobrir como múltiplos suportes de cálice e
paredes de calha interagiriam juntos em uma estrutura contínua de telhado,
foi construído um modelo de corrente física suspensa em forma de malha
quadrilateral. Este modelo corresponde com o mesmo tipo de modelo
desenvolvido por Frei Otto na década de 1960. A malha quadrilateral foi
ancorada nos pontos alto e baixo com o objetivo de ser deformada sob seu
peso próprio para dar uma forma em pura tensão. Quando invertida e feita
rígida, esta mesma forma de superfície distribui forças na compressão pura,
minimizando a profundidade e a necessidade de reforço de aço na estrutura
da casca. A proposta em formato de “olho” e “cálice” se baseou em modelos
de superfícies mínimas experimentados por Otto no Instituto de Estruturas
Leves de Stuttgart (Figura 5, à esquerda), desde o ano de 1963, sendo este
arquiteto o consultor técnico para a definição da superfície mínima da
estação.
Figura 4: Na parte superior, o interior do Main Station Stuttgart, de Ingenhoven Architects, e uma seção da estrutura de
superfície mínima; Na parte inferior, vistas externa e interna do Australian Wildlife Health Centre, do arquiteto Paul Minifie,
Austrália, destacando-se a superfície mínima empregada
Fonte:
http://www.ingenhovenarchitects.com/projects/more-projects/main-station-stuttgart/?img=1;
http://www.
behmerwright.com.au/projects/australian-wildlife-centre-healesville/; http://www.archello.com/en/project/australian-wildlifehealth-centre/image-2.
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
A obra Australian Wildlife Health Centre (segunda linha da Figura 4)
emprega outro tipo de superfície mínima, a qual se diferencia da superfície
da estação de trem de Stuttgart por ter sido obtida por meio de formulações
matemáticas. O matemático brasileiro Celso Costa obteve esta superfície
em 1982, como resultado de seu trabalho de doutorado no Instituto de
Matemática Pura e Aplicada (IMPA). De acordo com Burry e Burry (2010),
esta superfície mínima possui três furos, com três oculi (aberturas redondas)
que trazem a luz natural no pátio e que atuam como chaminés solares.
Estas aberturas criam três clarabóias que são distribuídas uniformemente
ao redor do principal espaço de visão do ambulatório. Topologicamente a
superfície de Costa é derivada de um toro circular, em uma transformação
em que três pontos do toro são lançados ao infinito (CARMO, 1987) conforme
as imagens da Figura 6. Esta superfície possui três fins (relacionados às
regiões onde os pontos são omitidos, ao ser configurada a superfície), sendo
dois deles em catenoide e o terceiro planar.
Figura 5: Modelo funicular (de corrente de suspensão) de Otto proposto para o Main Station Stuttgart
Fonte: http://architecturehabitat.blogspot.com.br/2010/10/final-submission.html.
Figura 6: A topologia da superfície de Costa a partir de um toro circular
Fonte: https://victorcdt.wordpress.com/2013/09/08/12/.
A teoria das superfícies mínimas evoluiu desde os primeiros
estudos de Lagrange em 1760 e os experimentos de Plateau com bolhas
de sabão para modelos mais complexos, encontrados principalmente
nos séculos XIX e XX. A palavra mínima, segundo Carmo (1987), está
relacionada com o seguinte problema proposto por Lagrange em 1760:
Dada uma curva fechada C (sem autointersecções), achar a superfície
de área mínima que tem esta curva como fronteira. Lagrange, no entanto,
só conseguiu formular matematicamente o exemplo trivial do plano. A
fórmula de Lagrange que permitiu esta definição não pode ser aplicada
para encontrar a área mínima superficial para qualquer tipo de curva
fechada, em uma generalização.
2019; 14 (1): 90-99
99
Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
Em 1776, Jean Baptiste Meusnier, visando simplificar o problema
apresentado por Lagrange e obter novos exemplos de superfícies mínimas,
aplicou algumas condições à fórmula descrita por tal matemático, obtendo
duas superfícies mínimas, as primeiras além do plano: o catenoide,
superfície obtida pela revolução de uma curva catenária em torno de
um eixo ortogonal ao eixo de simetria da curva (Figura 7a), e o Helicoide,
gerado pela translação e rotação simultânea de uma reta apoiada em duas
curvas hélices cilíndrica (Figura 7b). Para cada ponto no helicoide, existe
uma hélice que passa através desse ponto. Mais tarde, Scherk provou que o
Helicoide compartilha algumas propriedades interessantes com o Catenoide,
tais como a habilidade de dobrar um no outro sem rasgar a superfície, sendo
estas superfícies pertencentes a uma família associada.
Em 1834, Heinrich Ferdinand Scherk descobriu duas outras superfícies
mínimas, que foram chamadas de Primeira Superfície de Scherk e Segunda
Superfície de Scherk. A primeira superfície é duplamente periódica,
enquanto a segunda é apenas individualmente periódica. As superfícies são
conjugadas entre si (Figuras 7c e 7d).
Em 1855, como parte de seu trabalho sobre superfícies regulares
mínimas, o matemático belga Eugene Charles Catalan criou uma superfície
mínima contendo toda uma família de parábolas, agora chamada de
superfície mínima catalã (Figura 7e).
Em 1864, Alfred Enneper descobriu uma superfície mínima conjugada
a si própria, agora chamada Superfície Enneper (CARMO, 1987). Ela é uma
superfície mínima completa com duas linhas retas em sua estrutura, sendo
que esta superfície não é mergulhada, ou seja, ela possui autointerseção
(Figura 7f).
Figura 7: Catenoide, Helicoide, Primeira e Segunda superfícies de Scherk, Superfície de Catalã, Enneper e Superfície de Costa
Fonte:https://www2.le.ac.uk/departments/mathematics/extranet/staff-material/staff-profiles/kl96/stuff/lopez-rosdeformation-of-the-catenoid/view; http://www.daviddarling.info/encyclopedia/H/helicoid.html; http://numod.ins.uni-bonn.de/
grape/EXAMPLES/AMANDUS/GIF/towersym.gif; https://www.math.hmc.edu/~gu/curves_and_surfaces/surfaces/catalan.html;
http://www.indiana.edu/~minimal/maze/enneper.html; http://www.eg-models.de/models/.
Segundo Carmo (1987), as superfícies mínimas completas e de curvatura
total finita nos permitem dar uma descrição razoável de sua estrutura
conforme (relacionada à preservação na transformação topológica
e conforme dos ângulos das curvas que se cruzam sobre a superfície), por
isso a determinação de tais propriedades foi fundamental para a
formalização de exemplos de superfícies mínimas. As condições de tais
superfícies serem mergulhadas (sem autointersecção) e de curvatura total
finita foram importantes para a obtenção no século XX de novas superfícies
mínimas, pela possibilidade de simplificação no cálculo matemático que
envolve suas formulações. Devido a isto, durante mais de cem anos foi
buscado pelos matemáticos um terceiro exemplo de superfície mínima com
estas condições. Até o ano de 1982 tal exemplo não havia sido obtido e as
únicas superfícies mínimas com estas propriedades geométricas eram o
plano e o catenoide.
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
O helicoide, embora se caracterize como uma superfície mergulhada,
não possui curvatura total finita.
Segundo Carmo (1987), as superfícies mínimas completas e de curvatura
total finita nos permitem dar uma descrição razoável de sua estrutura
conforme (relacionada à preservação na transformação topológica e
conforme dos ângulos das curvas que se cruzam sobre a superfície), por isso
a determinação de tais propriedades foi fundamental para a formalização
de exemplos de superfícies mínimas. As condições de tais superfícies
serem mergulhadas (sem autointersecção) e de curvatura total finita foram
importantes para a obtenção no século XX de novas superfícies mínimas,
pela possibilidade de simplificação no cálculo matemático que envolve suas
formulações. Devido a isto, durante mais de cem anos foi buscado pelos
matemáticos um terceiro exemplo de superfície mínima com estas condições.
Até o ano de 1982 tal exemplo não havia sido obtido e as únicas superfícies
mínimas com estas propriedades geométricas eram o plano e o catenoide.
O helicoide, embora se caracterize como uma superfície mergulhada, não
possui curvatura total finita. O brasileiro Celso Costa, a partir do estudo
de tais propriedades e das características dos fins da superfície para que
ela não tivesse autointersecção, encontrou o terceiro exemplo procurado
pelos matemáticos, uma superfície mínima que está ilustrada pela Figura
8g. Trabalhando com funções elípticas e a representação paramétrica de
Weierstrass, desenvolvida em 1866, Costa definiu uma superfície como a
primeira de gênero 1 com estas propriedades e equivalente conformemente
a um toro circular. O gênero 1 da superfície relaciona-se a equivalência
topológica do toro circular a uma esfera com uma alça, segundo Carmo
(1987).
Estas e mais outras superfícies mínimas foram descritas entre os
séculos XIX e XX, utilizando-se da geometria diferencial e do cálculo por
variáveis complexas, além da descrição paramétrica de superfícies. No
entanto, segundo Carmo (1987), estes desenvolvimentos matemáticos não
permitiram encontrar uma solução global para a fórmula de Lagrange. Estes
primeiros exemplos, exceto a de Costa, segundo Verzea (2012), integram
superfícies mínimas cujas parametrizações são simples. O autor destaca
que a superfície mínima descoberta por Celso Costa em 1982 possui uma
parametrização bem mais complexa, mesmo pertencendo em álgebra ao
mesmo grupo diédrico de simetrias. Enquanto Costa foi o primeiro a ter
imaginado a superfície e tê-la descrito por meio de funções elípticas (CARMO,
1987), parametrizá-la seria muito difícil e a primeira parametrização teve
que esperar até 1986 (VERZEA, 2012). Outra questão a destacar é que esta
superfície só pode ser visualizada em 1986 quando David A. Hoffman e
William H. Meeks inseriram uma descrição paramétrica em um programa
de computação gráfica (CARMO, 1987). Em tal momento foi possível ‘ver’ a
beleza da superfície e suas simetrias rotacionais e de reflexão (Figura 8).
Figura 8: Simetrias da superfície de Costa
Fonte: http://www.indiana.edu/~minimal/archive/Tori/Tori/Costa/web/index.html; http://www.indiana.edu/~minimal/maze/
costa.html.
2019; 14 (1): 90-101
101
Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
A inserção de atividades de representação gráfica digital de tais
superfícies no ensino de arquitetura resulta ao mesmo tempo na sua
compreensão espacial, dos seus entes fundamentais (curvas geratrizes e
diretrizes) e dos seus processos de geração. Considera-se que tais atividades
exemplificam concretamente o potencial que a configuração de tais
superfícies possui para sua adoção no projeto de arquitetura. Na sequência,
serão desenvolvidos processos de modelagem paramétrica destas superfícies
com um enfoque didático para aplicação na arquitetura.
O reconhecimento de processos de modelagem paramétrica de
superfícies mínimas
Compreender a geometria complexa que conformam algumas
superfícies presentes na natureza, tal como as de superfícies mínimas, é
o primeiro passo para representar parametricamente estruturas naturais
com potencial regenerativo para arquitetura. Tais modelos paramétricos
de estruturas geométricas regenerativas podem ser usados para suportar: a
atividade de análise de padrões que moldam as formas do local, no sentido de
compreender como estes padrões influenciam os processos de regeneração;
a avaliação de desempenho das estruturas quanto ao condicionamento
térmico do edifício projetado; a proposição formal de estruturas em um
processo generativo, alcançado por meio de técnicas paramétricas de
representação digital (PIRES et al, 2016).
Para Bertol (2011), por meio dos modelos digitais se podem gerar vários
níveis de complexidade em diferentes escalas do mesmo modelo. Neste
sentido, tais modelos incorporam propriedades e atributos que podem
definir uma forma não apenas em seus aspectos geométricos, mas também
como uma configuração dinâmica que muda com o tempo, definindo-a
quase como um organismo vivo. A autora entende que as representações
computacionais contemporâneas trazem ideias para a interpretação das
formas naturais. Devido a isto, a exploração de uma forma orgânica deve ir
além do seu valor representacional, integrando o seu modelo computacional
em vários aspectos, o que exige um conhecimento aprofundado de modelos
(por exemplo, para simulações dos aspectos físicos em interação com
geometria e materiais).
No presente trabalho, o estudo será focado na representação da geometria
em seus aspectos conceituais. Para tanto, foram desenvolvidos processos de
modelagem paramétrica da geometria de algumas das superfícies mínimas
descritas na seção anterior: o catenoide, o helicoide e a superfície mínima
descoberta por Costa. Desde que estas superfícies possuem propriedades
interessantes do ponto de vista arquitetônico, considera-se que as suas
representações paramétricas oportunizam explicitar uma estrutura de
saber que auxilia a compreender a geometria complexa de estruturas
regenerativas para arquitetura.
A modelagem paramétrica pode ser desenvolvida com base em vários
tipos de representação, tais como: pelos elementos principais da superfície
(geratrizes e diretrizes) e os processos de geração; por descrição paramétrica;
e por simulação das condições físicas que as conformam (forças atuantes
sobre a superfície, tais como de expansão e relaxamento aplicadas sobre
superfícies topologicamente equivalentes ou sobre modelos funiculares de
referência). Neste trabalho será abordado o primeiro tipo de representação,
aquele em que as superfícies são conformadas por meio da modelagem de
seus elementos principais e dos seus processos de geração.
102
Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
A modelagem paramétrica do catenoide de superfície mínima
O processo de geração do catenoide de superfície mínima foi definido
anteriormente neste trabalho: é a superfície gerada pela revolução de uma
curva catenária em torno de um de seus eixos, sendo este ortogonal ao seu
eixo de simetria. Em função desta definição, o primeiro passo é representar
a curva catenária que é a geratriz da superfície. Os seus parâmetros
de representação são: os pontos inicial e final da curva (A) e (B); o seu
comprimento (L); e a direção da gravidade (G), que se encontra no eixo Y,
já que a curva foi orientada lateralmente para a revolução em torno de um
eixo vertical.
A figura 9 ilustra as etapas do processo de geração do catenoide e a
correspondente representação paramétrica por linguagem de programação
visual, desenvolvida no plug-in Grasshopper junto ao software Rhinoceros.
Figura 9: Modelagem paramétrica de um catenoide de superfície mínima
Fonte: Elaboração própria.
Em tal processo de modelagem são reconhecidos os elementos principais
que integram a estrutura geométrica da superfície: a geratriz catenária, o
eixo de revolução e o tipo de processo de geração, por superfície de
revolução. O eixo de revolução foi definido por uma curva orientada (SDL)
no eixo z (uma reta vertical) e a revolução (RevSrf ) exigiu informar os
parâmetros: perfil para a revolução (P), neste caso a curva catenária, o eixo
de revolução (A) e um domínio (D), que é dado pelo ângulo de revolução,
neste caso, 360°.
A modelagem paramétrica do helicoide de superfície mínima
Os Helicoides (Figura 10) são gerados por uma reta que se apoia em
diretrizes , sendo da classe de superfícies regradas (POTTMANN et al, 2007)
ou denominada de retilíneas de acordo com a classificação de Gaspar
Monge adotada em Rodrigues (1960). Nesta classe, se tem os helicoides
desenvolvíveis e não desenvolvíveis , tendo-se nesta última subclasse o
helicoide de superfície mínima ou helicoide de plano diretor.
Esta denominação se deve
ao fato da geratriz reta se manter, durante o
movimento de geração, paralela
a um plano diretor (RODRIGUES, 1960)
Figura 10: Processos de geração de
helicoides: à esquerda, o helicoide
desenvolvível, gerado por uma reta
apoiada em uma diretriz hélice (d2) e
uma diretriz circunferência (d1); ao centro
e à direita, o helicoide não desenvolvível,
gerado por uma reta e que possui
somente diretrizes hélices
Fonte: Elaboração própria com base
em Rodrigues (1960).
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Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
Segundo Pottmann et al (2007), a hélice é uma curva descrita
simultaneamente por movimentos de translação e rotação: os pontos que
conformam a curva têm uma translação ao longo de um eixo z e uma rotação
ao redor do mesmo eixo. As hélices se encontram configuradas sobre as
superfícies de cilindros, cones ou esferas e, dentre estas, a hélice cilíndrica
é definida como uma curva geodésica do cilindro, ou seja, o caminho mais
curto entre dois pontos da superfície (POTTMANN et al, 2007).
Com o objetivo de otimizar o processo de representação da primeira
hélice cilíndrica (diretriz do helicoide) e inserir o conceito de curva geodésica,
esta curva foi encontrada diretamente sobre a superfície de um cilindro
utilizando-se o componente geodesic. O cilindro foi modelado a partir de
dois arcos deslocados um em relação ao outro no eixo vertical e a geração da
superfície entre os arcos por superfície regrada (ruled surface). O resultado
foi uma porção de superfície cilíndrica sobre a qual foi extraída tal curva
geodésica entre dois pontos da superfície.
A segunda diretriz, outra curva hélice cilíndrica, foi obtida aplicando-se
a transformação de equidistância (offset) sobre a primeira hélice cilíndrica
representada. A superfície foi configurada ao aplicar-se a técnica de geração
de superfície regrada (ruled surface) entre as curvas diretrizes. Na Figura 11
estão ilustrados o processo de geração do helicoide de superfície mínima e
as etapas deste processo, em linguagem descritiva, contendo os parâmetros
envolvidos em cada etapa. Na mesma figura está ilustrada a programação
visual em Grasshopper para este processo de modelagem.
Figura 11: Etapas do processo de modelagem paramétrica, parâmetros envolvidos e programação visual em Grasshopper
do helicoide de superfície mínima.
Fonte: Elaboração própria.
104
Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
A modelagem paramétrica da superfície mínima de Costa
A superfície de Costa possui três fins: dois deles são em catenoide e um
deles é planar, existindo, portanto, linhas retas nesta superfície (CARMO,
1987). E ela possui simetrias de rotação e translação, conforme descrito
anteriormente, o que indica a possibilidade de representa-la por intermédio
do emprego de processos compositivos sobre uma porção fundamental
da superfície. Anteriormente ao processo de modelagem, é necessário
realizar uma análise da geometria desta superfície, o que foi feito por meio
das seguintes atividades: identificação das simetrias das curvas geratrizes
e diretrizes, a partir de imagens disponibilizadas na web e também
diretamente sobre o modelo digital desenvolvido por David A. Hoffman e
William H. Meeks, disponível em http://www.eg-models.de/models/.
Como curvas diretrizes da porção fundamental, identificaram-se dois
arcos circulares e uma reta. Como curvas geratrizes desta mesma porção,
identificou-se a existência de uma curva catenária inclinada 13 graus em
relação ao eixo z e uma curva que se encontra unida a reta diretriz da
porção (Figura 12).
Figura 12: Curvas diretrizes e geratrizes da superfície mínima de Costa
Fonte: Elaboração própria a partir das imagens disponíveis em
http://www.indiana.edu/~minimal/essays/costa/index.html;
http://www.indiana.edu/~minimal/maze/costa.html; http://profs.sci.univr.it/~baldo/tjs/costa.html;.
A primeira parte do processo de modelagem paramétrica é
correspondente à representação das porções fundamentais da superfície
de Costa, a partir de suas curvas geratrizes e diretrizes. A representação
de tais curvas pode ser feita utilizando-se os componentes: arco
(Arc), catenária (Cat); curvas NURBS (Nurbs); e reta (Line). O processo de
geração da superfície pode ser obtido por aplicação de uma varredura
de suas curvas geratrizes apoiadas nas diretrizes, empregando-se o
componente Net surface, que representa gerar uma superfície a partir de
uma rede de curvas. A superfície gerada é correspondente a uma porção
fundamental da superfície, sobre a qual ao aplicar simetrias de reflexão e
rotação, obtém-se a superfície completa de Costa.
A segunda parte do processo de modelagem paramétrica refere-se
à representação das simetrias da superfície. A esta porção de superfície
aplicam-se três transformações de reflexão (Mirror): a primeira no plano
YZ; a segunda, no plano XZ; e a terceira no plano XY. Por fim, aplica-se,
sobre uma das composições obtidas, uma rotação (Rotate) de 90 graus para
completar a totalidade da superfície.
O processo completo de modelagem paramétrica está ilustrado nas
Figuras 13 à 16. Na Figura 13, à esquerda, a extração das curvas geratrizes
a partir de seções no modelo de Hoffmann e Meeks; na mesma Figura, na
primeira e segunda linha, um esquema visual da modelagem das curvas
e das porções fundamentais da superfície; ainda na mesma Figura, na
terceira linha, outro esquema visual ilustrando as etapas da modelagem
das simetrias da superfície. Nas Figura 14 e 15 estão ilustradas, em
linguagem de programação visual, as etapas de modelagem das curvas
geratrizes e das porções fundamentais de superfície, e na Figura 16, o
processo de modelagem da superfície inteira por meio de suas simetrias.
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Figura 13: Extração das curvas do modelo digital de Hoffmann e esquema visual das etapas do processo de geração das
porções fundamentais da superfície mínima de Costa e de suas simetrias
Fonte: Elaboração própria.
Figura 14: Etapas de modelagem paramétrica e programação visual em Grasshopper das curvas geratrizes e diretrizes da
superfície 1 (porção fundamental da superfície mínima de Costa).
Fonte: Elaboração própria.
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Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
Figura 15: Etapas de modelagem paramétrica e programação visual em Grasshopper das curvas geratrizes e diretrizes da
superfície 1 (porção fundamental da superfície mínima de Costa).
Fonte: Elaboração própria.
Figura 16: Etapas de modelagem paramétrica e programação visual em Grasshopper das simetrias da superfície mínima de
Costa.
Fonte: Elaboração própria.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sistematização de processos de modelagem paramétrica das
geometrias associadas às estruturas naturais, apresentada neste estudo,
foi possível ao aplicar-se uma teoria didática (CHEVALLARD, 1999), a qual
toma por base o próprio saber como modelo de análise, considerando que
este saber possui uma estrutura dinâmica formada por quatro elementos
2019; 14 (1): 90-107
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Janice de Freitas Pires, Alice Theresinha Cybis Pereira
fundamentais (problemas, técnicas, tecnologias e teorias), os quais devem
estar presentes em atividades didáticas. Para a proposição dos processos
de modelagem apresentados, foi necessário identificar estruturas de saber
relacionadas às teorias e técnicas que possibilitam representar as geometrias
presentes na natureza, as quais possuem propriedades regenerativas,
como as superfícies mínimas. As teorias trouxeram novas estruturas de
saber para uma maior compreensão de tais superfícies, principalmente
no âmbito da matemática, da representação gráfica digital e do ensino de
arquitetura. Conforme mencionado no referencial teórico, a explicitação
de tais estruturas de saber é essencial para a estruturação de situações
didáticas para arquitetura com foco na geometria complexa de potencial
regenerativo e na modelagem paramétrica. Também são estruturas de
saber que possibilitam aos estudantes terem uma maior compreensão dos
processos de geração de tais geometrias e das ações projetuais dos arquitetos
que as propõem em seus edifícios. Isto permite aos estudantes poderem
refletir sobre seus próprios processos projetuais, ao ponto de selecionarem
o refutarem conscientemente tais geometrias, sabendo como emprega-las.
O processo de reconhecimento de tais estruturas de saber apontou a
necessidade de detalhar em um nível mais profundo algumas caracterizações
apresentadas pelos autores de referência. Principalmente quanto aos
tipos de curvas diretrizes e geratrizes de tais superfícies e os processos
compositivos intrínsecos a suas simetrias. Embora as representações
propostas não abordem saberes mais específicos de cálculo matemático,
os quais envolveriam álgebra, funções ou descrição paramétrica de curvas,
e a lógica de programação, estas podem ser consideradas importantes
para explicitar estas geometrias espacialmente e em seus componentes
fundamentais, atingindo objetivos didáticos.
As estruturas de saber que caracterizam os processos de projeto e as
estruturas geométricas voltadas à regeneração e que foram apresentadas em
Littmann (2009) e Bertol (2010), didaticamente, podem ser oportunamente
associadas aos conceitos geométricos que envolvem as superfícies
representadas. Segundo Pottmann et al (2007), tais estruturas de saber
relacionam-se com o conceito de otimização e desempenho na arquitetura,
os quais vem sendo empregados como requisitos projetuais principalmente
em obras da arquitetura contemporânea dos últimos 20 anos.
Outra questão a destacar é que, para cada uma das abordagens
estudadas, foram desenvolvidos mapas conceituas (estruturação do saber)
como parte de uma rede de conceitos que foi constituída e disponibilizada em
um ambiente virtual de apoio ao ensino de projeto apoiado por tecnologias
digitais, a rede TEAR_AD, da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
(http://www.tearad.ufsc.br/). A estruturação e disponibilização de tal rede
de conceitos inserem-se em uma pesquisa de doutoramento relativa ao
estudo da geometria complexa recorrente na arquitetura contemporânea
e sua transposição ao ensino de arquitetura, com foco nas superfícies
matemáticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Perez-Garcia e Gómez-Martínez (2009), a natureza desenvolve
as suas estruturas a fim de alcançar sempre soluções energéticas ideais em
longo prazo. O conhecimento sobre estruturas da natureza permite assim
aprender sobre a morfologia ótima, integração funcional e eficiência,
atributos relacionados com a sua geometria. Para Pottmann et al (2007)
a realização de uma ideia de design de forma ótima é uma tarefa difícil e
complexa, principalmente por sua formulação matemática e algorítmica,
ainda mais tendo que levar em conta requisitos funcionais. O autor destaca
que as abordagens centrada em curvas, superfícies e malhas muito bem
conhecidas podem ser tomadas como possíveis soluções de problemas de
otimização, os quais são associados diretamente às superfícies mínimas,
merecendo atenção, de uma perspectiva arquitetônica. Além da abordagem
108
Gestão e Tecnologia de Projetos
A estruturação do saber relacionado a geometria complexa e a modelagem paramétrica de estruturas
regenerativas na arquitetura
de curvas e superfícies, os modelos físicos que conformam superfícies
mínimas ao serem estudados nesta perspectiva integrados a simulações
digitais paramétricas por atuação de forças, permitem tratar com a relação
entre forma e estrutura.
Como pesquisa futura e que se encontra em desenvolvimento no
presente momento é ampliar o desenho de situações didáticas para além
dos modelos matemáticos de superfícies mínimas (que foram alvo de
experimentações didáticas desenvolvidas no ano de 2017, mas que não
fazem parte do escopo deste trabalho), objetivando integrar a construção
física (real) de tais modelos a sua modelagem paramétrica. Isto será feito
obtendo-se tais modelos por meio da modelagem física com modelos de
suspensão e por simulações digitais que integram as propriedades físicas a
que tais superfícies ficam submetidas. As etapas de simulação digital destas
condições e de conformação geométrica do modelo da obra Main Station
Stuttgart (que utiliza um modelo de corrente suspensa de Frei Otto) já estão
concluídas, sendo que a próxima etapa da pesquisa é a de estruturar as
atividades didáticas que visam uma integração de tais tipos de simulações
ao ensino do projeto de arquitetura.
Em relação aos aspectos didáticos visando à inserção no ensino de
arquitetura, a explicitação das teorias e técnicas de modelagem paramétrica
de tais geometrias oferece uma base teórica e tecnológica que pode ser
considerada fundamental como conhecimento de projeto, principalmente
na concepção da arquitetura direcionada as abordagens contemporâneas
de design.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade Federal de Santa Catarina pela
oportunidade de desenvolver esta pesquisa em nível de doutoramento e ao
CNPQ por apoiar o desenvolvimento da rede TEAR_AD.
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Travessias, 10 (2), p. 14-34. 2016.
POTTMANN, H. ASPERL, A. HOFER,
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WOODBURY, R. Elements of Parametric
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Janice de Freitas Pires
janicefpires@hotmail.com
Alice Theresinha Cybis Pereira
acybis@gmail.com
110
Gestão e Tecnologia de Projetos
Notas:
A Modelagem paramétrica é a descrição computacional
de um modelo matemático com base em scripts,
parâmetros e relacionamentos (MONEDERO, 2000).
1
Segundo Monedero (2000), o projeto paramétrico é
entendido como um processo em que a descrição de
um problema é criada usando variáveis. Ao alterar essas
variáveis uma gama de soluções alternativas pode ser
criada, com base em alguns critérios selecionados que
levariam a uma solução final. Com este sentido, podese dizer que todo o projeto é paramétrico. O autor
destaca que, em termos computacionais, é o processo
de desenvolvimento de um modelo de computador
ou a descrição de um problema de design, com uma
representação baseada em relações entre os objetos
controlados por variáveis, possibilitando gerar modelos
alternativos. A seleção de uma solução é feita de
acordo com alguns critérios, tais como o desempenho, a
facilidade de construção, os requisitos de orçamento, as
necessidades do usuário, estética ou uma combinação
destes.
O projeto paramétrico permite a geração de soluções
customizadas que podem ser prototipadas e avaliadas
nas diferentes etapas do projeto de arquitetura.
Segundo Monedero (2000), ele é entendido como um
processo em que a descrição de um problema é criada
usando variáveis. Ao alterar essas variáveis, uma gama
de soluções alternativas pode ser criada, com base em
alguns critérios selecionados de uma solução final, que
podem ser relacionados com o desempenho, facilidade
de construção, requisitos de orçamento, as necessidades
do usuário, estética ou uma combinação destes. O autor
destaca que, em termos computacionais, é o processo
de desenvolvimento de um modelo de computador ou a
descrição de um problema de design.
Para Woodbury (2010), sistemas paramétricos e de
geração de formas permitem ter um maior controle das
possibilidades de geração de geometrias complexas e um
maior número de alternativas de projeto para avaliação e
seleção do projetista.
Woodbury (2010, pág. 24) descreve que “o processo de
criação de relacionamentos (necessariamente) requer
uma notação formal e introduz conceitos adicionais que
não tenham sido previamente considerados como parte
do “pensamento de design”, podendo assim alargar o
âmbito intelectual do projeto”.
Uma superfície S é chamada completa se ela não possui
pontos na fronteira que possam ser atingidos por uma
curva em S de comprimento infinito. Intuitivamente, é
aquela na qual se pode percorrer qualquer distância em
qualquer direção sem sair da superfície. Fonte: Carmo
2
(1987).