i
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE BIOLOGIA
Shesterson Aguiar
“Morfoanatomia de frutos e
sementes em Apocynaceae”
Tese apresentada ao Instituto de Biologia
para a obtenção do Título de Doutor em
Biologia Vegetal.
Orientadora: Profa. Dra. Sandra Maria Carmello-Guerreiro
Coorientadora: Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita
CAMPINAS, 2009
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE BIOLOGIA – UNICAMP
Ag93m
Aguiar, Shesterson
Morfoanatomia de frutos e sementes em Apocynaceae. /
Shesterson Aguiar. – Campinas, SP: [s.n.], 2009.
Orientadora: Sandra Maria Carmello-Guerreiro.
Tese (doutorado) – Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Biologia.
1. Apocynaceae. 2. Frutas - Anatomia. 3. Sementes
- Anatomia. 4. Anatomia vegetal. I. Carmello-Guerreiro,
Sandra Maria. II. Universidade Estadual de Campinas.
Instituto de Biologia. III. Título.
Título em inglês: Morphoanatomy of fruits and seeds in Apocynaceae.
Palavras-chave em inglês: Apocynaceae; Fruits - Anatomy; Seeds - Anatomy; Plant anatomy.
Área de concentração: Biologia Vegetal.
Titulação: Doutor em Biologia Vegetal.
Banca examinadora: Sandra Maria Carmello -Guerreiro, Ismar Sebastião Moscheta, Marília de
Moraes Castro, Ana Paula Stechhahn Lacchia, Maria Carolina Scatolin do Rio.
Data da defesa: 03/04/2009.
Programa de Pós-Graduação: Biologia Vegetal.
iii
Campinas, 03 de abril de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Profa.Dra.Sandra Maria Carmello-Guerreiro (Orientadora)
Prof. Dr. Ismar Sebastião Moscheta
Profa.Dra. Ana Paula Stechhahn Lacchia
Profa.Dra.Marília de Moraes Castro
Dra. Maria Carolina Scatolin do Rio
Profa.Dra. Ingrid Koch
_________________________
Assinatura
Prof. Dr. Diego Demarco
_________________________
Assinatura
Prof. Dr. André Olmos Simões
_________________________
Assinatura
iv
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a
sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção das sementes”
(Henfil)
v
“Dedico esta tese à minha família, aos meus amigos, aos meus professores, à
minha orientadora e ao Márcio; pessoas que tanto me ajudaram para que este
sonho se tornasse realidade”
vi
POESIA: Fruto
Fruto é resultado, prole, produto
Assim o é para o vegetal também
Após a fecundação dos óvulos
O ovário muito cresce, vai além
Outros, silenciosos, lá no alto da mata
Oferecem seus ventres, ação corajosa
Liberam as sementes lentamente
Estratégia esta muito formosa
Sua parede aumenta de volume
Agora pericarpo, bem diferente
Responsável pela propagação
Torna-se estrutura eficiente
Imitando as sementes aladas
Sâmara quer o privilégio de voar
Mesmo sendo robusta, pesada
Grande distância pode alcançar
Órgão multiplicador da espécie
Quer alcançar a maturidade
Oferecer bom ambiente a semente
Funcionar como maternidade
Ao ser rasgado por uma fenda
O folículo revela a sutura ventral
Já no legume, fruto bem parecido
Surge também a abertura dorsal
Protege com seu corpo a semente
Mostra-se atraente no momento certo
Pode então ser destruído sem dó
Objetivo alcançado, mesmo que incerto
Com mericarpos temos lomento
Com deiscência transversal, pixídio
Nervuras como moldura, craspédio
Contendo muitos gomos, hesperídio
No limão taiti, banana e uva
Não ocorre a tão esperada fecundação
São ditos frutos partenocárpicos
Portanto, sementes ali não estão
Se do ovário de uma só flor ele é simples
Ovário apocárpico, agregado é o fruto
Resultado de muitas flores, múltiplo
Se é de outro lugar, pseudofruto
Gostoso é o fruto carnoso
Seu sacrifício não será em vão
Ao ser destruído como alimento
Liberta a semente, é dispersão
Como camadas distintas ou não
Falamos de exo, meso e endocarpo
Despertam interesse anatômico
Ajudam a entender o pericarpo
Já nos frutos secos, estratégia diferente
Seu pericarpo ressequido, resistente
Como barreira contra predação
Também demonstra ser eficiente
Para não confundir baga com drupa
Recorremos ao desenvolvimento
Aquilo que poderia ser endocarpo
Muitas vezes é tegumento
Fechado, introspectivo e egoísta
O cariopse ao aquênio se alia
Intimamente envolve a semente
Não quer ficar sem companhia
Dificuldades mil na classificação
Retratam o quanto devemos estudar
Buscando em cada forma diferente
Maneira sutil para poder agrupar
Quando deiscente pode ser explosivo
Parecendo raivoso, barulhento
Expele com inesperado estalido
Para bem longe importante rebento
Ismar Sebastião Moscheta
(09/10/2006)
vii
POESIA: Semente
Resultado do crescimento do óvulo
Melhor dito, rudimento seminal
Eis que surge a semente, bem diferente
Produto de transformação fenomenal
Assim, enterrada, soterrada ou abandonada
Como milagre completa-se o ciclo da vida
Germinação toma lugar, surge a plântula
A espécie tem nova chance de sobrevida
Ao ser identificada como semente
Mostra sua composição estrutural
Contém embrião, endosperma ou não
Tegumento como roupa natural
Podendo ser pequena, delicada, muito leve
Ou grande, rústica e muito pesada
A semente guarda inúmeros segredos
Revelados um pouco quando pesquisada
Como registro de sua origem
Traz cicatrizes em seu tegumento
Hilo, rafe e micrópila são vistas
São marcas de reconhecimento
Com muito albúmem na maturidade
É conhecida como albuminosa
Mas se o embrião já se fartou
Então é dita exalbuminosa
Muitas vezes outra reserva aparece
Oriunda do nucelo, não é endosperma
O embrião poderá escolher então
Por uma outra fonte, o perisperma
Quando pertencente às gimnospermas
Mostra-se nua, que falta de pudor
Nas angiospermas já é bem diferente
O pericarpo envolvente é o protetor
Apresentando dormência ou não
Além dos tegumentos tégmen e testa
Como indumento especial de destaque
Encontramos arilo, carúncula e sarcotesta
No seu interior, muito bem acomodado
E até com disfarçada tranqüilidade
O embrião, já um vencedor qualificado
Quer mostrar ao mundo sua vitalidade
Com a chegada da água, ocorre a embebição
O embrião acorda de seu sono letárgico
Com a energia guardada rompe o tegumento
Cresce rapidamente, quase um ato mágico
Ismar Sebastião Moscheta
(25/09/2007)
viii
AGRADECIMENTOS
Ao programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal do Instituto de Biologia da Unicamp através de
sua coordenação, que nos primeiros anos deste trabalho esteve a cargo da Profa. Dra. Sandra Maria
Carmello-Guerreiro e que atualmente está sob responsabilidade da Profa. Dra. Eliana Forni Martins, por
terem me aceitado como aluno regular no curso, e aos funcionários deste programa, especialmente à
Maria Roseli, que sempre me ajudou com muita predisposição.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho
Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq) pelas bolsas concedidas durante a elaboração
desta tese e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio à pesquisa
fornecido (proc. 01/12364-0).
Ao Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia da Unicamp, principalmente ao
laboratório de Anatomia Vegetal, onde recebi toda a infra-estrutura necessária para a realização desta
tese.
À minha orientadora Profa. Dra. Sandra Maria Carmello-Guerreiro por todos estes 8 anos de
incentivo na vida de pesquisa, que transformaram este apto professor em um pesquisador. Saiba que lhe
agradeço do fundo do meu coração por ter me aceitado como seu aluno, simplesmente do jeito que eu
sou, e por ter me ajudado nos momentos difíceis de mudanças que ocorreram na minha vida. Além do
mais agradeço pelos ensinamentos na anatomia de frutos e sementes, pelos conselhos, pelo carinho,
pelas broncas e por sempre ter acreditado em meu potencial, dando-me liberdade para seguir com meus
próprios passos.
À minha coorientadora Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita pelo auxílio concedido na elaboração
deste trabalho e principalmente pela amizade, fortalecida nestes últimos anos nas disciplinas de
graduação, nas quais fui monitor (PED B e voluntário). Saiba que estas monitorias foram extremamente
importantes na minha formação profissional, pois recebi muito respaldo e incentivo para me tornar um
apto professor universitário.
À Profa. Dra. Marília de Moraes Castro, pessoa que admiro e estimo pelo conhecimento, prestígio e
profissionalismo na Anatomia Vegetal. Saiba que você teve um importante papel na construção do meu
conhecimento na Anatomia Vegetal, sem o qual teria dificuldade na interpretação dos resultados da
minha tese. Além do mais, lhe agradeço por ter me tratado com muito carinho e respeito em todos estes
anos que estive no laboratório.
Aos membros da pré-banca Profa. Dra. Ana Paula Stechhahn Lacchia, Prof. Dr. Diego Demarco, Dra.
Maria Carolina Scatolin do Rio e Profa. Dra. Marília de Moraes Castro pelas excelentes sugestões,
discussões e correções que foram primordiais para o aperfeiçoamento da atual versão da minha tese.
Ao Prof. Dr. Ismar Sebastião Moscheta por ter aceitado participar como membro da banca
examinadora da minha tese e por ter, gentilmente, me autorizado a colocar suas poesias sobre frutos e
sementes nas páginas iniciais do meu trabalho.
À Profa. Dra. Ana Paula Stechhahn Lacchia, ao Prof. Dr. André Olmos Simões, ao Prof. Dr. Diego
ix
Demarco, à Profa. Dra. Ingrid Kock, à Dra. Maria Carolina Scatolin do Rio e à Profa. Dra. Marília de
Moraes Castro por terem aceitado participar como membros da banca examinadora da minha tese.
Aos professores do Departamento de Biologia Vegetal, principalmente à Profa. Dra. Ângela Borges
Martins, Profa.Dra. Cláudia Haddad, Profa.Dra. Eliana Forni Martins, Profa.Dra. Kykio Yamamoto, Profa.
Dra. Maria do Carmo Estanislau do Amaral, Profa. Dra. Marlene Schiavinato, Prof. MSc. Jorge
Tamashiro e Prof. Dr. George John Shepherd que contribuíram, de uma forma ou de outra, para
aumentar o meu conhecimento na área de Botânica.
Ao Prof. MSc. Jorge Tamashiro e à Profa. Dra. Sandra Maria Carmello-Guerreiro que ajudaram
muito no meu crescimento como professor universitário ao me aceitarem como PED A na disciplina de
graduação BT 481 (Morfologia e Anatomia de Angiospermas), à qual ministrei com total respaldo e
liberdade.
Ao Prof. Dr. Angelo Luiz Cortelazzo, por ter me ajudado a interpretar os resultados dos testes
histoquímicos realizados no último capítulo deste trabalho.
Aos funcionários do Departamento de Biologia Vegetal (Maria Lúcia, João Carlos, Lívia,
Washington e Yara) por toda ajuda e prestatividade servidas e, principalmente, ao Sebastião Militão
“Tião” (técnico do laboratório de Anatomia Vegetal) por me auxiliar nas rotinas de laboratório.
Ao meu pai João Luiz pelo amor incondicional, por sempre me incentivar nos estudos e por servir
como exemplo vida e de pessoa batalhadora e à minha segunda mãe Claudinéia, que me recebeu como
filho no momento que mais precisava e por sempre me dar muito amor, carinho e dedicação.
À minha primeira mãe Irma Aparecida Muro Aguiar “in memorian” por ter me dado a vida e os
primeiros ensinamentos e pelo exemplo de pessoa que foi (saiba que sinto muito a sua falta).
Aos meus irmãos Shester, Shelton e Sharles, à minha irmã Sheyla, meu cunhado Julio, minha
sobrinha Júlia e ao Márcio, pelos deliciosos momentos de descontração, pelos conselhos, pelo apoio nos
momentos difíceis vividos nos últimos anos, pelo incentivo nos estudos, por compreenderem e
aceitarem as minhas ausências e pelo amor que sempre dedicaram a mim.
Aos meus amigos e amigas (Ana Cristina Andrade de Aguiar Dias, Ana Paula Caetano, Ana Paula
Stechhahn Lacchia, Carla Ferreira, Diego Demarco, Divina Vilhalva, Fabiana Pereira “Fabi”, Gláucia
Morelli Alves, Joana Desiderato, João Aranha, Kayna Agostini, Magali dos Santos, Marcela “Mabel”,
Maria Carolina Scatolin do Rio, Mariana Manzini, Patrícia Bellemo, Poliana Cardoso, Priscila
Andressa Cortez, Nazareth Urquiza, Raquel Antunes, Rodrigo Camargo, Rosina Marasca, Sandra
Obando e Simone Felippe) por todos os momentos de alegria, descontração e por toda ajuda que sempre
recebi e que foram de extrema importância para que eu chegasse até aqui.
À todos os meus parentes (avôs, avós, tios, tias, primos e primas) por sempre me tratarem com muito
amor, respeito e carinho, por entenderem as minhas ausências na maioria dos eventos comemorativos e
por sempre me incentivarem a seguir o meu destino e meus estudos.
Finalmente agradeço a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, ajudaram a transformar este
meu sonho em uma realidade.
x
ÍNDICE
RESUMO.......................................................................................................................1
ABSTRACT...................................................................................................................3
INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................5
JUSTIFICATIVA............................................................................................................7
OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................8
APRESENTAÇÃO DA TESE......................................................................................10
CAPÍTULO 1: A importância da anatomia de frutos na distinção de espécies de
Aspidosperma Mart. & Zucc. (Apocynaceae)
Resumo.........................................................................................................................11
Introdução.....................................................................................................................11
Materiais e Métodos......................................................................................................12
Resultados....................................................................................................................13
Discussão......................................................................................................................22
Conclusões...................................................................................................................26
Referências Bibliográficas............................................................................................27
CAPÍTULO 2: Morfoanatomia e ontogênese na caracterização dos frutos de
Allamanda blanchetii A. DC. e Allamanda schottii Pohl (Apocynaceae)
Resumo.........................................................................................................................30
Introdução.....................................................................................................................30
Materiais e Métodos......................................................................................................31
Resultados....................................................................................................................32
Discussão......................................................................................................................46
Conclusões...................................................................................................................49
Referências Bibliográficas............................................................................................49
CAPÍTULO 3: Ontogenia e estrutura do pericarpo na caracterização dos frutos de
Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Apocynaceae)
Resumo.........................................................................................................................53
Introdução.....................................................................................................................53
Materiais e Métodos......................................................................................................54
Resultados....................................................................................................................55
Discussão......................................................................................................................62
Conclusões...................................................................................................................66
Referências Bibliográficas............................................................................................67
xi
CAPÍTULO 4: Anatomia de frutos em Asclepiadoideae (Apocynaceae)
Resumo.........................................................................................................................72
Introdução.....................................................................................................................72
Materiais e Métodos......................................................................................................73
Resultados....................................................................................................................74
Discussão......................................................................................................................82
Conclusões...................................................................................................................85
Referências Bibliográficas............................................................................................85
CAPÍTULO 5: Anatomia e histoquímica em sementes de Apocynaceae
Resumo.........................................................................................................................89
Introdução.....................................................................................................................89
Materiais e Métodos......................................................................................................90
Resultados....................................................................................................................91
Discussão......................................................................................................................99
Conclusões.................................................................................................................103
Referências Bibliográficas..........................................................................................103
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................107
PERSPECTIVAS FUTURAS.....................................................................................108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (introdução geral e conclusões finais).....................111
1
RESUMO
Este estudo teve por objetivo contribuir para o conhecimento de Apocynaceae através do
levantamento de dados morfoanatômicos de frutos e sementes de representantes da família. Foram
contempladas neste estudo 13 espécies ocorrentes no Brasil e distribuídas em três das cinco subfamílias
atualmente descritas. Flores, frutos e sementes em vários estádios de desenvolvimento foram coletados,
fixados e submetidos a técnicas usuais de anatomia.
No primeiro capítulo foram estudados frutos maduros de Aspidosperma australe Müll. Arg., A.
olivaceum Müll. Arg. e A. pyrifolium Mart. Os frutos possuem epicarpo unisseriado, com cutícula
espessa, lenticelas e periderme. Tricomas de cobertura foram encontrados somente em A. australe. O
mesocarpo apresenta parênquima fundamental, laticíferos, feixes vasculares, ilhas de floema,
esclerócitos e idioblastos com cristais prismáticos. Em A. pyrifolium, os esclerócitos estão arranjados
em grupos de diversas células e A. olivaceum possui laticíferos com bainha parenquimática. Em todas as
espécies o endocarpo é multisseriado, mas só em A. australe as células são lignificadas.
No segundo capítulo foi realizado um estudo ontogenético das cápsulas de Allamanda
blanchetii A. DC. e Allamanda schottii Pohl. Apesar de estas cápsulas serem tradicionalmente
classificadas como loculicidas neste trabalho ficou comprovado que são, na realidade, cápsulas
septicidas bivalvares. O epicarpo das duas espécies é unisseriado e possui células epidérmicas de
paredes espessas, cutícula delgada e estômatos. No mesocarpo pode-se observar hipoderme
colenquimática, anel esclerenquimático, parênquima fundamental, aerênquima, feixes vasculares, ilhas
de floema e laticíferos. O endocarpo das duas espécies é constituído por diversas camadas de
esclerócitos, que possuem disposição cruzada somente em A. blanchetii. Apesar de apresentarem
pericarpo com muitas similaridades, foi possível constatar que somente A. blanchetii possui
aerênquima distribuído por todo o mesocarpo do fruto sendo este, portanto, um bom caráter para
distinguir estas espécies.
No terceiro capítulo foi realizado um estudo ontogenético dos frutos de Prestonia coalita (Vell.)
Woodson (Apocynaceae). O fruto de P. coalita, anteriormente chamado de folículo, na realidade é uma
cápsula septicida bicarpelar, sendo cada valva originada de um único carpelo. O epicarpo, originado
exclusivamente da epiderme externa do ovário, é formado por uma camada de células epidérmicas de
paredes pecto-celulósicas e cutícula espessas, estômatos, lenticelas e tricomas tectores. O mesocarpo
origina-se do mesofilo ovariano e é constituído por células colenquimatosas, células parenquimáticas,
fibras não lignificadas, feixes vasculares bicolaterais, ilhas de floema e laticíferos. O endocarpo é
formado por uma camada de esclerócitos e a deiscência da cápsula ocorre pela ruptura na região de
união das folhas carpelares e na região de união dos carpelos.
No quarto capítulo, frutos maduros de Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., Oxypetalum
appendiculatum Mart., O. balansae Malme e O. glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete, espécies da
subfamília Asclepiadoideae, foram estudados. O pericarpo de todas as espécies é constituído por um
2
epicarpo unisseriado revestido por cutícula espessa, estriada somente em B. bicuspidatum. Todas as
espécies possuem estômatos, mas tricomas de cobertura estão presentes somente em O.
appendiculatum. Os mesocarpos das espécies estudadas são similares, pois são constituídos de
parênquima fundamental, fibras, laticíferos, feixes vasculares, ilhas de floema e aerênquima. As fibras
possuem paredes espessas e sem lignina, achatadas em O. glaziovii ou arredondadas nas demais
espécies. Idioblastos com cristais do tipo drusa estão presentes somente no mesocarpo de O.
appendiculatum. Todas as espécies apresentam endocarpo lignificado uni ou bisseriado.
No quinto e último capítulo, sementes maduras de Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia
arborea (Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose
foram estudadas. Mesmo possuindo morfologia variada estas sementes apresentam diversas
características comuns, como envoltório único repleto de compostos fenólicos, endosperma e
cotilédones dorsiventrais. Como a camada mecânica localiza-se na exotesta, todas as sementes são
exotestais, sendo que somente M. arborea possui a exotesta multisseriada. As principais substâncias de
reserva encontradas foram proteínas e carboidratos. As proteínas, à exceção de M. arborea, ocorrem na
forma de corpos protéicos; já os carboidratos, apresentaram-se na forma de polissacarídeos de parede
celular, novamente com exceção para M. arborea que os reserva na forma de grãos de amido.
Finalmente, a única espécie com reserva lipídica significativa foi T. arborea, na forma de pequenas
gotas presentes no endosperma.
3
ABSTRACT
This paper had as objective contribute for the knowledge of Apocynaceae by a morph-anatomic
survey data from fruits and seeds from species of the family. On this study, 13 species present in Brazil
and distributed in three of the five families currently described, were included. Flowers, fruits and seeds
in many development levels were collected, fixed and submitted to anatomy usual techniques.
In the first chapter Aspidosperma australe Müll. Arg., A. olivaceum Müll. Arg. and A. pyrifolium
Mart. ripe fruits were studied. The fruits have uniseriate epicarp with thick cuticle, lenticels and
periderm. Cover trichomes were found only in A. australe. The mesocarp presents fundamental
parenchyma, laticifers, vascular bundles, sclereids and idioblasts with prismatic crystals. In A.
pyrifolium, the sclereids are arranged in groups of a variety of cells and A. olivaceum has laticifers with
parenchymatic sheath. All species have multiseriate endocarp but only in A. australe the cells are
lignified.
In the second chapter an ontogenetic study of the Allamanda blanchetii A. DC. and Allamanda
schottii Pohl capsules was made. Despite the fact these capsules has been traditionally classified as
loculicidal, on this paper it was verified that they are, really, septicidal bicarpelares capsules. The
epicarp of both species is uniseriate and has thick-walled epidermal cells, thin cuticle and stomata. In the
mesocarp we can observe collenchymatic hypodermis, sclereids ring, fundamental parenchyma,
aerenchyma, vascular bundles, islands of phloem and laticifers. The endocarp of both species is formed
by several layers of sclereids, which have crossed arrangement only in A. blanchetii. Dispite they
present pericarp with many similarities, it was possible to see that only A. blanchetii has aerenchyma
distributed throughout the mesocarp of the fruit and, so, this is a good characteristic to distinguish the
species.
In the third chapter an ontogenetic study of the Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Apocynaceae)
fruits was made. The fruit of P. coalita, previously called follicle, is a septicidal bicarpelar capsule, each
valve provided by a single carpel. The epicarp, originated exclusively from the external epidermis of the
ovary, is formed by one layer of epidermal cells with thick cuticle, stomata, lenticels and cover
trichomes. The mesocarp is originated from the ovarian mesophyll and is made by collenchymatic cells,
parenchyma cells, not-lignified fibers, bicolaterals vascular bundles, islands of phloem and laticifers.
The endocarp is formed by a layer of sclereids and the dehiscence of the capsule occurs due to the
rupture in the region of the leaves carpels union.
In the fourth chapter ripe fruits of Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., Oxypetalum
appendiculatum Mart., O. balansae Malme and O. glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete, species of
the subfamily Asclepiadoideae, were studied. The pericarp of all species is formed by a uniseriate
epicarp covered by a thick cuticle, striated only at B. bicuspidatum. All the species have stomata, but
cover trichome are present only at O. appendiculatum. The mesocarps of all species are very similar,
because they are formed by fundamental parenchyma, fibers, laticifers vascular bundles, islands of
phloem and aerenchyma. The fibers have thick walls and without lignin, flattened in O. glaziovii or
4
rounded in other species. Idioblasts with crystals of the druse type are present only in the mesocarp of O.
appendiculatum. All species have uni or bisseriate lignified endocarp.
In the fifth chapter ripe seeds of Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia arborea (Vell.) Miers,
Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry and Tabernaemontana arborea Rose were studied. All
have single seed-coat, embryo and endosperm. The seeds are exotestals and in the testa cells are
phenolic compounds. Only M. arborea presents multisseriate exotesta. In all species, the cotyledon is
dorsiventral. The main store substances found were proteins, normally forming protein bodies, being
detected in the cotyledon and endosperm of all studied species. Starch was detected only in the
cotyledons and endosperm of M. arborea and the aril of T. arborea. Lipid bodies were also observed in
T. arborea.
5
INTRODUÇÃO GERAL
Família Apocynaceae
A família Apocynaceae foi estabelecida por Adanson em 1768 sob o nome de Apocyna, a qual
englobava Apocynaceae e Asclepiadaceae como uma única família (Tournefort 1694). Posteriormente
Jussieu (1789) modificou o termo “Apocyna” para “Apocineae”, sem alterar a sua circunscrição e, a
partir daí, vem sendo citado como autor da família na maioria dos trabalhos. Logo após, Brown (1810)
considerou estas duas famílias separadamente baseando-se na presença de um translador em
Asclepiadeae (Asclepiadaceae) e ausência deste em Apocineae (Apocynaceae), sendo tal proposta
aceita e implementada. Segundo Cronquist (1981) estas famílias são as mais relacionadas entre si na
ordem Gentianales, e esta proximidade taxonômica se deve, dentre outros fatores, à presença de
laticíferos e glicosídeos cardiotônicos.
Nas últimas décadas, com o advento da biologia molecular, uma nova fonte de dados foi
disponibilizada para os taxonomistas a fim de verificar a estabilidade das classificações tradicionais
propostas para as diversas famílias de Angiospermas (Chase et al. 1993; Doyle et al. 1994; APG 2003).
O primeiro estudo filogenético para Apocynaceae sensu lato foi o de Sennblad & Bremer (1996)
que, ao estudarem gêneros de Apocynaceae e Asclepiadaceae, verificaram uma proximidade
filogenética entre as famílias, demonstrando a artificialidade das classificações propostas até o
momento para Apocynaceae sensu stricto. Esta proximidade já havia sido observada por Chase et al.
(1993) e por Judd et al. (1994) ao estudarem as relações filogenéticas existentes entre diferentes
famílias de Angiospermas.
Com base nas novas propostas de relacionamento filogenético entre Apocynaceae e
Asclepiadaceae, Endress & Bruyns (2000) corroboraram com a união das duas famílias em
Apocynaceae sensu lato e sugeriram a divisão da família em cinco subfamílias: Rauvolfioideae Kostel,
Apocynoideae Burnett., Periplocoideae R. Br. ex Endl., Secamonoideae Endl. e Asclepiadoideae R. Br.
ex Burnett.
Apocynaceae sensu lato tornou-se, então, uma das maiores e mais representativas famílias de
Angiospermas, contendo em seus limites atuais cerca de 400 – 480 gêneros e 4.300 – 4.800 espécies
com distribuição pantropical e em climas temperados (Albers & Meve 2001; Potgieter & Albert 2001;
APG 2003), incluindo espécies de diversos hábitos, como árvores, arbustos, subarbustos, lianas e ervas
(Judd et al. 2002; Kinoshita 2005; Simpson 2007).
Dentre as espécies pertencentes à família, algumas se destacam pelo grande potencial
econômico na produção de madeiras, como as perobas (Rizzini & Mors 1976), na produção de borracha,
como Funtumia elastica Stapf (Metcalfe & Chalk 1983), como fonte de fibras na fabricação de cordas e
papel (Marquete 2003), como fonte de óleo (Aspidosperma polyneuron Müll. Arg.) utilizado para
lustrar e preservar móveis (Ribeiro et al. 1999) ou como fonte de látex utilizado para calafetar canoas e
embarcações, bem como na caiação de palafitas (Prance & Silva 1975; Falcão & Lleras 1981;
Cavalcante 1991).
6
Outras espécies apresentam grande importância medicinal, como Catharanthus roseus L., da
qual são extraídas a vincristina e a vimblastina, utilizadas no tratamento do câncer (Souza & Lorenzi
2008), Calotropis procera (Ailton) W. T. Ailton, com propriedades anti-inflamatória, antimicrobial,
analgésica e espermicida (Kamath & Rana 2002), Vincetoxicum officinale Moench com propriedades
laxativas, diuréticas e antitumorais (Nowak & Kisiel 2000), Holarrhena antidysenterica Wall., usada
no controle da disenteria amebiana, Aspidosperma quebracho blanco Schlecht usada como fonte de
remédios anti-febris e como cardiotônicos (Metcalfe & Chalk 1965) e espécies do gênero Strophantus
DC., com propriedades cardiotônicas devido ao glicosídeo estrofandrina (Schultz 1990). Além disto,
outras espécies, como Mandevilla pohliana (Staldelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana catharinensis
A. DC., podem ser utilizadas no tratamento de picadas de cobras venenosas (Calixto et al. 1985; Calixto
& Yunes 1986; Batina et al. 1999).
Diversas espécies são cultivadas como ornamentais devido ao seu valor paisagístico, como
espécies de Mandevilla Lindl. (Almeida et al. 1988), de espirradeira (Nerium oleander L.), do chapéude-napoleão (Thevetia peruviana K. Schum.), do jasmim-manga (Plumeria Tourn. ex L.), de
Allamanda L. (Souza & Lorenzi 2008), da flor-de-cera (Hoya R. Br.) e da flor-estrela (Stapelia hirsuta
L.) (Ollerton & Liede 1997; Endress 1998).
Além disto, existem diversas espécies, como a mangaba (Hancornia speciosa Gomes), pepinodoce (Ambelania acida Aubl.), o amapazeiro [Parahancornia amapa (Huber) Ducke], o pequiá
(Macoubea guianensis Aubl.), o tucujá [Lacmellea arborescens (Müll. Arg. ex Mart.) Markgr.], a sorva
[Couma utilis (Mart.) Müll. Arg.] e a Rhigospira quadrangularis (Müll. Arg.) Miers, cujos frutos são
comestíveis e usados na fabricação de sucos, compotas e licores (Monachino 1945; Hoene 1946; Falcão
& Lleras 1981; Almeida et al. 1988; Cavalcante 1991; Costa et al. 2005; Falcão et al. 2003; Nogueira et
al. 2003).
Frutos e Sementes
Um dos maiores problemas no estudo de frutos e sementes é a escassa literatura específica sobre
o assunto e, no caso de frutos, a grande confusão nas terminologias utilizadas. Características
anatômicas de frutos e de sementes têm sido sempre negligenciadas em estudos sistemáticos porque são
tecnicamente difíceis de serem investigadas (Bobrov et al. 2005), no entanto elas podem ter uma grande
importância em trabalhos taxonômicos (Hutchinson 1969), devido à pequena plasticidade fenotípica
exibida pelos órgãos (Von Teichman & Van Wyk 1991) e ao grande número de dados morfoanatômicos
que podem revelar.
Em algumas famílias, como em Himantrandaceae (Doweld & Shevyryova 1998),
Anacardiaceae (Carmello-Guerreiro & Paoli 2005), Clusiaceae (Mourão & Beltrati 2000),
Melastomataceae (Clausing et al. 2000), Scrophulariaceae (Juan et al. 2000), Alstroemeridaceae (Sanso
& Xifreda 2001), Asteraceae (Pak et al. 2001), Apocynaceae (Potgieter & Albert 2001), Aizoaceae,
Gisekiaceae, Molluginaceae (Hassan et al. 2005), Chenopodiaceae (Shepherd et al. 2005) e
7
Sapindaceae (Weckerle & Rutishauser 2005), estes caracteres são decisivos no reconhecimento de
determinados grupos e até na identificação de espécies. Além da importância taxonômica, é inegável a
validade dos dados morfo-anatômicos de frutos e sementes para análises ecológicas e filogenéticas
(Simpson 1993).
Características morfológicas de frutos e sementes possuem grande importância na taxonomia da
família Apocynaceae, pois são utilizadas na identificação dos diversos clados presentes na família
(Endress & Bryuns 2000). Esta importância de deve, principalmente, à grande variedade morfológica
apresentada por estes órgãos na família.
Os frutos podem ser bacáceos, como os de Hancornia speciosa Gomes (Koch & Kinoshita 1999;
Kinoshita & Simões 2005), drupáceos, como os de Rauvolfia sellowii Müll. Arg. (Koch 2002, 2005),
capsulares, como os presentes nos gênero Allamanda L. (Sakane & Shepherd 1986) e Plectaneia Thou.
(Endress & Bryuns 2000), foliculares carnosos, como os de Tabernaemontana catharinensis A. DC.
(Aguiar 2003), ou foliculares secos, como os presentes em espécies das subfamílias Apocynoideae,
Periplocoideae, Secamonoideae e Asclepiadoideae (Endress & Bruyns 2000).
Já as sementes podem ser nuas, como as de Hancornia speciosa Gomes (Simões & Kinoshita
2002), ariladas, como as de Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003), aladas, como as de
Aspidoperma spp. (Marcondes-Ferreira 2005) ou comosas, como as presentes em espécies das
subfamílias Apocynoideae, Periplocoideae, Secamonoideae e Asclepiadoideae (Endress & Bruyns
2000).
Esta grande variedade fez com que Potgieter & Albert (2001) realizassem um trabalho onde as
características dos propágulos (frutos e sementes) e os dados de biologia molecular foram utilizados
para investigar as relações filogenéticas existentes na família Apocynaceae. Neste trabalho, os autores
ressaltam a importância de estudos morfoanatômicos de frutos e sementes para a família, além de
enfatizarem a escassez dos mesmos, frente à diversidade apresentada pela família.
JUSTIFICATIVA
Um dos fatores mais importantes para escolha do tema desenvolvido neste trabalho foi que este
representa uma continuidade do estudo de morfoanatomia de frutos e sementes de Apocynaceae
realizado em minha tese de mestrado intitulada “Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de
espécies de Apocynaceae do cerrado do estado de São Paulo”. Através dos dados obtidos ficou clara a
importância dos estudos morfoanatômicos em frutos e sementes de espécies da família, pois os frutos e
sementes de Tabernaemontana catharinensis A. DC. e de Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr.,
revelaram diversos dados morfoanatômicos que puderam ser utilizados na distinção destas espécies.
Estes resultados me estimularam a ampliar o estudo para abranger mais espécies das diferentes
subfamílias encontradas no Brasil. A experiência adquirida aliada a necessidade de mais estudos com
representantes da família me entusiasmaram a propor um projeto de doutorado, com o objetivo central
de estudar diferentes frutos e sementes de espécies de Apocynaceae, cujo desfecho culminou na
8
presentes tese.
Outro fator importante para o desenvolvimento desta tese é que ela está inserida em uma ampla
pesquisa, realizada no Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da UNICAMP e liderada pela
Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita, especialista na família, a qual tem por objetivo estudar aspectos
taxonômicos, florísticos, morfoanatômicos e filogenéticos de espécies Brasileiras da família
Apocynaceae. Os dados morfoanatômicos produziram diversas teses (Rio 2001; Aguiar 2003; Simões
2004; Demarco 2005; Gomes 2006; Rio 2006; Demarco 2008; Marasca 2008; Martins 2008) e vários
trabalhos científicos (Rio et al. 2002; Rio et al. 2005; Demarco et al. 2006; Simões et al. 2006; Simões et
al. 2007; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009).
Além disto, parte desta tese esteve vinculada ao projeto temático intitulado “Estudos
morfológicos, anatômicos, histoquímicos e ultra-estruturais em plantas de cerrado (sensu lato) do
Estado de São Paulo” (Biota/FAPESP proc. no 00/1249-3), que reuniu pesquisadores de vários centros
de pesquisa e Universidades Estaduais Paulistas, cujo objetivo foi estudar espécies de diferentes
famílias de Angiospermas, incluindo Apocynaceae.
Mesmo existindo alguns trabalhos relacionados à morfoanatomia de frutos (Tabela 1) e
sementes (Pearson 1948; Khan 1970; Corner 1976; Aguiar 2003 e Souza et al. 2004) em espécies de
Apocynaceae, eles são poucos frente a riqueza de espécies e diversidade de frutos e sementes
apresentada pela família. Além disto, a maioria das espécies contempladas nestes trabalhos não ocorre
na flora brasileira. Estima-se a ocorrência de 95 gêneros e 850 espécies de Apocynaceae no Brasil
(Souza & Lorenzi 2008), sendo, portanto, uma família muito representativa nos biomas brasileros
(Barroso 1991). Desta forma, estudos que contemplem espécies de nossa flora são de grande
importância nos dias de hoje, levando-se em conta a enorme diversidade ainda pouco estudada e
constantemente ameaçada pela ação humana.
OBJETIVO GERAL
O presente trabalho teve por objetivo contribuir para o conhecimento de Apocynaceae, por meio
do levantamento de caracteres morfoanatômicos presentes em frutos e sementes de espécies ocorrentes
no Brasil. As espécies contempladas neste estudo foram: Allamanda blanchetii A. DC., Allamanda
schottii Pohl., Aspidosperma australe Müll. Arg., Aspidosperma olivaceum Müll. Arg., Aspidosperma
pyrifolium Mart., Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., Malouetia arborea (Vell.) Miers, Mandevilla
pohliana (Mart. Ex Stadelm.) A. H. Gentry, Oxypetalum appendiculatum Mart., Oxypetalum balansae
Malme, Oxypetalum glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete, Prestonia coalita (Vell.) Woodson e
Tabernaemontana arborea Rose.
.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
estudar as características anatômicas presentes no pericarpo de Aspidosperma Mart. & Zucc. para
levantar caracteres que sejam importantes na distinção das espécies e como subsídios para futuros
9
.
.
.
.
trabalhos taxonômicos e filogenéticos em Apocynaceae (Capítulo 1)
caracterizar, através de estudos ontogenéticos, os frutos de Allamanda blanchetii A. DC. e Allamanda
schottii Pohl, além de levantar dados anatômicos do pericarpo que possam ser utilizados na distinção
das duas espécies (Capítulo 2)
descrever, através de estudos ontogenéticos, as camadas do pericarpo e caracterizar
morfologicamente os frutos de Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Capítulo 3)
realizar um estudo dos caracteres anatômicos presentes em frutos de espécies da subfamília
Asclepiadoideae que possam auxiliar na distinção das espécies e no conhecimento da subfamília
(Capítulo 4)
descrever a anatomia e caracterizar os tipos de substâncias de reserva presentes em sementes maduras
de Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia arborea (Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A.
H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose, como uma contribuição ao conhecimento de
Apocynaceae (Capítulo 5)
APRESENTAÇÃO DA TESE
A tese está dividida em 5 capítulos redigidos na forma de artigos científicos seguindo a maioria
das normas da revista Acta Botanica Brasilica. Os quatro primeiros capítulos tratam de estudos com
frutos, sendo que no 1º e no 2º foram contempladas espécies da subfamília Rauvolfioideae, no 3º uma
espécie de Apocynoideae e no 4º espécies de Asclepiadoideae. Já o 5º e último capítulo, foram estudadas
sementes de representantes de Rauvolfioideae e Apocynoideae.
Capítulo 1: A importância da anatomia de frutos na distinção de espécies de Aspidosperma Mart. &
Zucc. (Apocynaceae)
Capítulo 2: Morfoanatomia e ontogênese na caracterização dos frutos Allamanda blanchetii A. DC. e
Allamanda schottii Pohl (Apocynaceae)
Capítulo 3: Ontogenia e estrutura do pericarpo na caracterização dos frutos de Prestonia coalita (Vell.)
Woodson (Apocynaceae)
Capítulo 4: Anatomia de frutos em Asclepiadoideae (Apocynaceae)
Capítulo 5: Anatomia e histoquímica em sementes de Apocynaceae
10
Tabela 1 – Lista das subfamílias e tribos de Apocynaceae baseada em Endress & Bruyns (2000), Endress et al. (2007) e
Simões et al. (2007) e dos frutos já estudados em cada uma delas
Rauvolfioideae Kostel
Subfamília
Tribo
Espécies estudadas
Aspidospermeae Miers
Aspidoperma polyneuron Müll. Arg. (Souza & Moscheta 1992) e
Aspidosperma parvifolium A.
DC. (Gomes 2008)
Alstonieae G. Don
Alstonia scholaris (L.) R. Br. (Thomas & Dave 1994)
Vinceae Duby
Raulvolfia serpentina Benth. ex Kurz (Gupta & Lampa 1981),
Catharanthus pusillus G. Don,
Apocynoideae Burnett.
Catharanthus roseus G. Don e Vinca major L. (Thomas & Dave 1994)
Willughbeieae A. DC.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Tabernaemontaneae G. Don
Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003)
Alyxieae G. Don
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Hunterieae Miers
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Plumerieae E. Mey.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Carisseae Dumort.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Wrightieae G. Don
Wrightia tinctoria R. Br. e Wrightia tomentosa Roem. & Schult. (Thomas & Dave 1994)
Nerieae Baill.
Nerium oleander L. (Thomas & Dave 1991) e Strophanthus wallichii A. DC. (Thomas & Dave
Apocyneae Rchb.
Aganosma caryophyllata G. Don, Ichnocarpus frutescens R. Br. e Vallaris solanacea Kuntze
Odontadenieae Miers.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
1994)
(Thomas & Dave 1994)
Mesechiteae Miers.
Mesechites mansoana (A. DC.) Woodson (Gomes 2008)
Echiteae G. Don
Parsonsia spiralis Wall. (Thomas & Dave 19 94), Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Aguiar
et al. 2009) e Prestonia coalita(Vell.) Woodson (Gomes 2008)
Baisseeae (Pichon ex De Kruif)
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
M. E. Endress
Periplocoideae
Cryptolepis buchananii Roem. & Schult. e Hemidesmus indicus R. Br. (Dave & Kuriachen 1991) e
R. Br. ex Endl.
Cryptostegia grandiflora Roxb. ex R. Br. (Thomas 1989 apud Dave & Kuriachen 1991)
Secamonoideae
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Asclepiadoideae
R. Br. ex Burnett.
Endl.
Fockeeae Kunze, Meve & Liede
Marsdenieae Benth.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Gymnema sylvestre R. Br., Marsdenia tenacissima Wight & Arn. e
Wattakaka volubilis Stapf
(Kuriachen et al. 1992)
Ceropegieae Decne. ex Orb.
Ceropegia bulbosa Roxb. e Leptadenia reticulata (Retz.) Wight & Arn. (Kuriachen et al. 1992)
Asclepiadeae (R. Br.) Duby
Araujia hortorum E. Fourn. (Castro 1986),
Asclepias curassavica L. (Souza et al . 2004),
Calotropis gigantea W. T. Ailton, Calotropis procera (Ailton) W. T. Ailton, Tylophora da lzellii
Hook. f. e Tylophora indica Merr. (Kuriachen et al. 1992)
11
Ca pít ulo 1
A importância da anatomia de frutos na distinção de espécies de
Aspidosperma Mart. & Zucc. (Apocynaceae)1
Shesterson Aguiar2, Sandra Maria Carmello-Guereiro2,3 , Washington Marcondes-Ferreira2 e Luiza Sumiko Kinoshita2
Resumo: O gênero Aspidosperma Mart & Zucc. apresenta 44 espécies de distribuição neotropical, sendo a maioria ocorrente
no Brasil. Devido à grande semelhança morfológica entre os frutos de algumas espécies, o principal objetivo deste trabalho
foi observar caracteres anatômicos que pudessem ser utilizados na distinção das mesmas. Frutos maduros de A. australe
Müll. Arg., A. olivaceum Müll. Arg. e A. pyrifolium Mart. foram coletados, fixados e submetidos a técnicas usuais de
anatomia. As três espécies estudadas possuem frutos do tipo folicários, constituídos, na maioria das vezes, de apenas um
folículo. Em todas as espécies o epicarpo é unisseriado, com cutícula espessa, lenticelas e periderme. Tricomas de cobertura
estão presentes somente em A. australe, sendo um caráter importante para a distinção das espécies. O mesocarpo é
constituído por parênquima fundamental, laticíferos, feixes vasculares, esclerócitos e idioblastos com cristais prismáticos.
Os principais caracteres distintivos no mesocarpo são esclerócitos, arranjados em grupos de diversas células somente em A.
pyrifolium e os laticíferos, que possuem bainha parenquimática somente em A. olivaceum. O endocarpo de todas as espécies
é multisseriado. Como somente A. australe possui as células do endocarpo lignificadas, este caráter também foi considerado
importante na distinção das espécies. Desta forma, pode-se observar neste trabalho que, mesmo possuindo frutos de
morfologia semelhante, A. australe, A. olivaceum e A. pyrifolium podem ser distinguidas através de caracteres presentes no
pericarpo.
Palavras – chave: Rauvolfioideae, Aspidosperma australe Müll. Arg., Aspidosperma olivaceum Müll. Arg., Aspidosperma
pyrifolium Mart., pericarpo
Introdução
Características anatômicas de frutos têm sido sempre negligenciadas em estudos sistemáticos
porque são tecnicamente difíceis de serem investigadas (Bobrov et al. 2005), no entanto elas podem ter
uma grande importância em trabalhos taxonômicos (Hutchinson 1969). Von Teichman & Van Wyk
(1991) reconheceram a importância taxonômica da morfologia dos frutos devido à pequena plasticidade
fenotípica exibida pelo órgão. Potgieter & Albert (2001) utilizaram características moleculares e dos
propágulos (frutos e sementes) de espécies de Apocynaceae para investigar as relações filogenéticas
existentes na família. No entanto, as características sugeridas pelos autores, como esclerificação do
pericarpo, espessura do exocarpo e consistência do mesocarpo foram baseadas apenas em observações
morfológicas dos frutos, e não em descrições anatômicas.
Apocynaceae é uma das maiores e mais representativas famílias de Angiospermas, contendo em
seus limites atuais cerca de 400 – 480 gêneros e 4.300 – 4.800 espécies com distribuição pantropical e
em climas temperados (Albers & Meve 2001; Potgieter & Albert 2001; APG 2003), incluindo espécies
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, vinculado ao programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas
Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
3
Autor para correspondência: smcg@unicamp.br
2
12
de diversos hábitos, como árvores, arbustos, subarbustos, lianas e ervas (Judd et al. 2002; Kinoshita
2005; Simpson 2007). Atualmente a família é dividida em 5 subfamílias (Endress & Bruyns 2000),
sendo o gênero Aspidosperma Mart. & Zucc. pertencente à subfamília Rauvolfioideae e à tribo
Aspidospermeae (Simões et al. 2007). O gênero apresenta 44 espécies com distribuição neotropical,
ocorrendo desde o México até a Argentina, sendo a maioria das espécies ocorrentes no Brasil
(Marcondes-Ferreira 2005).
Dentre as espécies pertencentes ao gênero, algumas se destacam pelo grande potencial
econômico na produção de madeiras, como as perobas (Rizzini & Mors 1976) e outras apresentam
grande importância medicinal, como Aspidosperma quebracho-blanco Schlecht usada como fonte de
remédios anti-febris e anti-asmáticos (Ezcurra 1981).
Os frutos, no gênero, são folículos teretos ou compressos, onde, usualmente, somente 1 dos
carpelos se desenvolve (Simões & Kinoshita 2002), apresentando consistência lenhosa a coriácea
(Marcondes-Ferreira 2005). Existem alguns trabalhos relacionados à anatomia de frutos em
Apocynaceae (Mahran et al. 1967; Castro 1986; Dave & Kuriachen 1990; Kuriachen et al. 1990; Dave
& Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Souza &
Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Aguiar 2003; Souza et al. 2004; Gomes 2008; Aguiar et al.
2009), mas somente Souza & Moscheta (1992) e Gomes (2008) estudaram frutos de representantes do
gênero.
Segundo o especialista no gênero Washington Marcondes-Ferreira (comunicação pessoal)
algumas espécies apresentam frutos muito semelhantes quanto à morfologia, sendo muito difíceis de
serem distinguidos entre si. Desta forma, um estudo das características anatômicas dos frutos de
espécies do gênero é de fundamental importância para auxiliar na distinção das espécies e fornecer
subsídios para futuros estudos taxonômicos e filogenéticos na família, sendo, portanto, o principal
objetivo do presente trabalho.
Materiais e métodos
Material Botânico
Para a realização deste trabalho foram utilizados frutos totalmente desenvolvidos, mas não
abertos, de Aspidosperma australe Müll. Arg., Aspidosperma olivaceum Müll. Arg. e Aspidosperma
pyrifolium Mart., coletados a partir de indivíduos localizados no Campus da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Este estádio de desenvolvimento foi escolhido pois, em estudo prévio, observouse que frutos maduros, ou seja, aqueles que já estavam abertos, apresentavam o pericarpo pouco
diferenciado, com a maioria das células colapsadas, contribuindo pouco com caracteres anatômicos de
valores diagnósticos.
Os exemplares foram identificados pelo Dr. Washington Marcondes Ferreira Neto (especialista
no gênero) e os materiais testemunha foram herborizados e incorporados ao Herbário UEC (Tabela 1).
13
Tabela 1. Dados referentes ao material testemunha das espécies estudadas.
Espécie
Localidade
Nome e no do coletor
A. australe
Campinas (SP)
“UNICAMP”
Campinas (SP)
“UNICAMP”
Campinas (SP)
“UNICAMP”
S. M. Gomes 656
07/X/2003
142189
S. M. Gomes 575
24/VI/2003
142145
S. M. Gomes 564
26/II/2003
142135
A. olivaceum
A. pyrifolium
Data da coleta Registro UEC
Metodologia
Os frutos coletados foram fixados em FAA (Johansen 1940) por 24 horas e colocados em bomba
à vácuo para facilitar a penetração do fixador, sendo posteriormente conservados em álcool etílico 70%.
Para o estudo anatômico, parte do material conservado foi incluída em resina plástica (Gerrits & Smid
1983), seccionada em micrótomo rotativo e as secções transversais e longitudinais, de 10 µm de
espessura, foram coradas com azul de toluidina (O' Brien et al. 1964) para análise estrutural. Para a
análise histológica as secções foram submetidas aos seguintes corantes e reagentes: Sudan black B
(Pearse 1985) para a detecção de lipídios totais na cutícula, reagente de lugol (Johansen 1940) para a
detecção de amido e floroglucina acidificada (Johansen 1940) para detecção de lignina. Algumas
secções foram submetidas à luz polarizada a fim de evidenciar constituintes celulares birrefringentes,
como cristais, amido e celulose (Evert 2006). Para a descrição dos resultados utilizaram-se as
terminologias de Roth (1977) e de Spjut (1994).
As ilustrações consistiram de esquemas, fotografias e fotomicrografias. Os esquemas das
secções transversais dos frutos foram obtidos em câmara clara acoplada a estereomicroscópio. As
fotomicrografias foram realizadas em microscópio Olympus BX 51 utilizando-se filme Kodak
ProImage ASA 100, cujo negativo foi posteriormente escaneado para a produção de imagens digitais de
alta resolução. As escalas das ilustrações foram calculadas através de lâmina micrométrica fotografada
nas mesmas condições ópticas das demais ilustrações. As ilustrações foram utilizadas na confecção das
pranchas, montadas no programa CorelDraw X3.
RESULTADOS
Os frutos de Aspidosperma australe Müll. Arg., A. olivaceum Müll. Arg. e A. pyrifolium Mart.
são folicários lenhosos, com um ou, raramente, dois folículos dolabriformes, pubérulos somente em A.
australe. Apresentam coloração esverdeada, quando jovens, tornando-se marrons à medida que
amadurecem. Todos possuem deiscência através de uma única sutura marginal, que ao se romper, faz
com que o fruto forme apenas uma valva e libere diversas sementes aladas. Com base nos frutos
observados no campo, pode-se perceber que poucos são constituídos de dois folículos, pois, mas na
maioria dos casos, somente um frutículo se desenvolve devido ao aborto de um dos carpelos.
O pericarpo dos frutos foi dividido em três regiões estruturalmente distintas: epicarpo,
mesocarpo e endocarpo. Abaixo são apresentadas, de forma separada, as principais características
anatômicas dos frutos das três espécies, que estão sumarizadas na tabela 2.
14
A
B
C
Figuras A – C. Frutos maduros. A e B. Aspidosperma australe Müll e . Arg. C. Aspidosperma olivaceum Mart.
Aspidosperma australe Müll. Arg.
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas de paredes delgadas (Fig. 2), citoplasma
de aspecto pouco denso, núcleo de posição basal e cutícula espessa, revelada no teste com Sudan black
B. Tricomas de cobertura multicelulares e unisseriados, com aproximadamente 5 células (Fig. 6), e
lenticelas (Fig. 5) também estão presentes no epicarpo do fruto. As lenticelas possuem células suberosas
de paredes delgadas (Fig. 5) e felogênio de origem subepidérmica. Em alguns locais do fruto, observa-se
a formação de uma periderme composta por células suberosas repletas de conteúdo fenólico (Fig. 5).
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental, laticíferos, esclerócitos, idioblastos
cristalíferos e feixes vasculares. As células do parênquima fundamental possuem paredes pectocelulósicas levemente espessas, sendo as localizadas próximas ao epicarpo menores que as demais (Fig.
2). Os laticíferos (Fig. 3, 8 e 10) estão distribuídos por todo o mesocarpo e formam um sistema alongado
no sentido longitudinal do fruto, algumas vezes ramificado. Possuem parede pecto-celulósica
ligeiramente espessa, corada em púrpura com azul de toluidina, sendo esta célula facilmente confundida
com as células parenquimáticas. O látex de aspecto denso (Fig. 3, 8 e 10) é a única característica que
facilita o reconhecimento desta célula. Os esclerócitos distribuem-se por todo o mesocarpo do fruto
(Fig. 5, 8 e 9), ocorrendo isolados ou, raramente, em duplas e sendo freqüentes na região de deiscência
(Fig. 8). Idioblastos com cristais prismáticos estão espalhados por todo o mesocarpo, ocorrendo ao
redor dos esclerócitos (Fig. 9) ou próximos ao endocarpo (Fig. 7). O sistema vascular consiste de
inúmeros feixes vasculares de diversos tipos, como concêntricos anficrivais (Fig. 3), colaterais (Fig. 10
e 11) e bicolaterais, que se distribuem por todo o mesocarpo (Fig. 1). Os feixes vasculares de maior
calibre são os que ocorrem na região de deiscência, ficando um de cada lado da linha de deiscência.
15
Fv
Ep
Ms
Ld
Cs
En
1
1cm
2
60µm
Ms
Xi
Cs
Fl
60µm
3
170µm
4
Figuras 1 – 4. Fruto maduro de Aspidosperma australe Müll. Arg. 1. Esquema do corte transversal do fruto. 2. Epicarpo e células
parenquimáticas do mesocarpo. 3. Feixe vascular anficrival e laticífero (seta) com conteúdo denso. 4. Endocarpo em luz polzarizada
(seta = cristal prismático). Cs = cavidade seminal; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Ld = linha de
deiscência; Ms = mesocarpo; Xi = xilema
Endocarpo – formado por várias camadas de esclerócitos de paredes espessas e lignificadas (Fig. 4 e 7)
e de disposição cruzada. A lignificação do endocarpo é centrífuga, pois ocorre da cavidade seminal em
direção ao mesocarpo. Cristais prismáticos podem ocorrer no interior dos esclerócitos (Fig. 4).
Região de deiscência – constituída por laticíferos, feixes vasculares, esclerócitos, parênquima
fundamental e idioblastos cristalíferos (Fig. 8). A linha de deiscência é formada por duas a três camadas
de células pequenas e de paredes delgadas (Fig. 8), que se estendem da cavidade seminal até o epicarpo
(Fig. 1).
Aspidosperma olivaceum Müll. Arg.
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas de paredes pecto-celulósicas delgadas de
arranjo frouxo (Fig. 14). A cutícula é extremamente espessa, sendo na maioria das vezes maior do que a
própria célula epidérmica (Fig. 14). Lenticelas também estão distribuídas por toda a superfície do fruto
(Fig. 17), e são formadas a partir do felogênio de origem subepidérmica (Fig. 16). As células suberosas
da lenticela apresentam protoplasto vazio ou com conteúdo fenólico e parede celular variando de
16
Le
Es
5
110µm
9
40µm
Lt
6
60µm
Fl
40µm
40µm
7
Xi
10
Fl
Xi
110µm
Es
8
60µm
11
Figuras 5 – 11. Secções transversais do fruto maduro de Aspidosperma australe Müll. Arg. 5. Lenticela. 6. Tricomas de cobertura no
epicarpo. 7. Esclerócitos do endocarpo e cristais prismáticos em luz polarizada (setas). 8. Região de deiscência, com esclerócitos,
laticíferos (setas brancas), células parenquimáticas, idioblastos cristalíferos e linha de deiscência (seta preta). 9. Esclerócito de parede
secundária extremamente espessa e idioblasto cristalífero com cristal prismático (seta). 10. Feixe vascular colateral e laticífero com látex
denso. 11. Feixe vascular colateral. Es = esclerócito; Fl = floema; Le = lenticela; Lt = laticífero; Xi = xilema
17
Fv
Ep
En
Cu
Ld
Cs
Ms
12
µm
14
110µm
Fl
Es
Lt
Xi
Fl
Lt
110µm
13
110µm
Es
15
Figuras 12 – 15. Fruto maduro de Aspidosperma olivaceum Müll. Arg. 12. Esquema do corte transversal do fruto. 13. Região de
deiscência, com esclerócitos, laticíferos (setas brancas), células parenquimáticas, idioblastos cristalíferos (seta preta) e linha de deiscência
(seta branca). 14. Epicarpo com cutícula espessa e células parenquimáticas do mesocarpo. 15. Feixe vascular bicolateral e esclerócitos.
Cs = cavidade seminal; Cu = cutícula; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Es = esclerócito; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Ld = linha de
deiscência; Lt = laticífero; Ms = mesocarpo; Xi = xilema
delgada a espessa (Fig. 17). Observa-se também a presença de uma periderme repleta de células
suberosas com conteúdo fenólico (Fig. 19).
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental e clorofiliano, laticíferos, esclerócitos,
idioblastos cristalíferos e feixes vasculares. As células parenquimáticas que ocorrem logo abaixo ao
epicarpo são menores, com poucos espaços intercelulares e apresentam inúmeros cloroplastos (Fig. 14,
16 e 19). Já as demais células parenquimáticas do restante do mesocarpo são maiores, sem cloroplastos,
e possuem abundantes espaços intercelulares (Fig. 18). Os laticíferos são distribuídos por todo o
mesocarpo e são facilmente distinguidos das demais células devido ao calibre e espessura da parede
pecto-celulósica (Fig. 13, 18, 21 e 22). O látex possui aspecto pouco denso (Fig. 22), sendo composto
pelo próprio protoplasto do laticífero, pois podem ser observados diversos núcleos dispersos no látex.
Os laticíferos apresentam ao seu redor uma bainha parenquimática (Fig. 13 e 21), o que os torna mais
18
evidentes no mesocarpo. Os esclerócitos estão distribuídos por todo o mesocarpo (Fig. 13, 15, 16, 18, 20
e 23), sendo mais abundantes na região de deiscência (Fig. 13 e 20). Podem ocorrer isolados (Fig. 16 e
23), forma predominante, ou em grupos de até 5 células. Idioblastos com cristais prismáticos são
raramente observados, estando sempre associados aos esclerócitos (Fig. 16 e 23). O sistema vascular
consiste de inúmeros feixes vasculares dispersos por todo o mesocarpo (Fig. 12). Podem ser observados
diversos tipos de feixes, como concêntricos anficrivais, colaterais e bicolaterais (Fig. 15). Próximo à
linha de deiscência, observam-se dois feixes vasculares bicolaterais de maior calibre, um de cada lado
da linha.
Endocarpo – formado por várias camadas de células de paredes ligeiramente espessas e não
lignificadas (Fig. 18). A orientação das células é muito variada, pois existem células alongadas no
sentido longitudinal e transversal do fruto (Fig. 18). As células do endocarpo podem ser distinguidas das
do mesocarpo por não apresentarem espaços intercelulares. Uma cutícula delgada, revelada em teste
com Sudan black B, recobre as células do endocarpo que se encontram em contato com a cavidade
seminal.
Região de deiscência - Na região de deiscência são observados laticíferos, feixes vasculares,
esclerócitos, células parenquimáticas e idioblastos cristalíferos (Fig. 13 e 20). A linha de deiscência é
formada por duas a três camadas de células parenquimáticas pequenas e de paredes delgadas (Fig. 13),
que se estendem da cavidade seminal até o epicarpo (Fig. 12).
Aspidosperma pyrifolium Mart.
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas de arranjo frouxo, paredes delgadas,
citoplasma pouco denso e núcleo de posição basal revestidas por uma cutícula espessa (Fig. 26 e 28).
Diversas lenticelas recobrem a superfície do fruto, cujas células suberosas possuem paredes delgadas e,
algumas vezes, conteúdo fenólico (Fig. 31). Em alguns locais do fruto nota-se a formação de uma
periderme formada por células suberosas de conteúdo fenólico e felogênio de origem subepidérmica
(Fig. 30).
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental e clorofiliano, laticíferos, esclerócitos,
idioblastos cristalíferos e feixes vasculares. Logo abaixo ao epicarpo são encontradas 5 a 10 camadas de
células parenquimáticas pequenas, de paredes pecto-celulósicas delgadas e ricas em cloroplastos (Fig.
26 e 28). Entremeados a estas células parenquimáticas observam-se esclerócitos isolados (Fig. 28), em
duplas ou grupos, além de idioblastos com cristais prismáticos (Fig. 30). As demais células
parenquimáticas que formam o mesocarpo do fruto são maiores, possuem parede pecto-celulósica
delgada e conteúdo pouco denso (Fig. 28), sendo que as que ficam localizadas próximo ao endocarpo
apresentam abundantes espaços intercelulares (Fig. 33). Os esclerócitos também ocorrem em grupos de
19
Le
Cu
19
40µm
16
40µm
Lt
Le
140µm
}
Lt
21
60µm
Lt
20
Lt
17
40µm
Lt
40µm
22
Es
Fl
En
80µm
18
40µm
Xi
23
Figuras 16 – 23. Secções transversais do fruto maduro de Aspidosperma olivaceum Müll. Arg. 16. Lenticela em início de formação,
epicarpo com cutícula espessa, esclerócito e idioblasto cristalífero (seta). 17. Lenticela com células de preenchimento de paredes
espessadas (seta). 18. Mesocarpo com células parenquimáticas, laticíferos e esclerócitos e endocarpo com células justapostas de
disposição cruzada. 19. Periderme repleta de compostos fenólicos e mesocarpo. 20. Região de deiscência em luz polarizada (seta = linha de
deiscência). Notar brilho proeminente nas paredes dos laticíferos e esclerócitos. 21. Laticífero com células parenquimáticas adjacentes de
disposição radial. 22. Laticífero de conteúdo pouco denso onde nota-se núcleo (seta) com três nucléolos. 23. Esclerócitos, idioblastos
cristalíferos (setas) e feixe vascular colateral. Cu = cutícula; En = endocarpo; Es = esclereíde; Fl = floema; Le = lenticela; Lt = laticífero;
Xi = xilema
20
En
Es
Ld
Ep
Cu
Se
µm
Fv
40µm
24
25µm
25
40µm
26
Es
27
Figuras 24 – 27. Fruto maduro de Aspidosperma pyrifolium Mart. 24. Esquema do corte transversal do fruto. 25. Esclerócitos do
mesocarpo em luz polarizada (seta = cristal prismático). 26. Epicarpo com cutícula espessa e células parenquimáticas do mesocarpo. 27.
Região de deiscência com esclerócitos, células parenquimáticas e linha de deiscência (seta). Cu = cutícula; En = endocarpo;
Ep = epicarpo; Es = esclerócito; Fv = feixe vascular; Ld = linha de deiscência; Se = semente
inúmeras células (Fig. 25, 27 e 28) e apresentam numerosas pontuações nas paredes secundárias que são
extremamente espessas, deixando o lume celular extremamente reduzido ou ausente. Em alguns
esclerócitos observam-se cristais prismáticos (Fig. 25). Os laticíferos estão distribuídos por todo o
mesocarpo e são diferenciados das demais células parenquimáticas por serem calibrosos e apresentarem
parede pecto-celulósica homogeneamente espessada (Fig. 32). Possuem formato cilíndrico e alongado
no sentido longitudinal do fruto sendo, algumas vezes, ramificados. O sistema vascular consiste de
inúmeros feixes vasculares dispersos por todo o mesocarpo do fruto (Fig. 24). Podem ser visualizados
diversos tipos de feixes, como concêntricos anficrivais (Fig. 29), colaterais e bicolaterais. Próximo à
linha de deiscência observam-se dois feixes vasculares bicolaterais de maior calibre, um de cada lado da
linha (Fig. 24).
Endocarpo – formado por várias camadas de células de paredes delgadas e não lignificadas (Fig. 33). A
orientação das células é muito variada, pois existem células alongadas no sentido longitudinal e
transversal do fruto (Fig. 33). Estas células são revestidas por cutícula delgada, revelada em teste com
Sudan black B. As células do endocarpo podem ser distinguidas das células parenquimáticas do
mesocarpo por não apresentarem espaços intercelulares.
21
Es
30
50µm
Le
31
110µm
Es
40µm
28
Lt
40µm
32
Xi
60µm
Fl
}
En
29
100µm
33
Figuras 28 – 33. Secções transversais do fruto maduro de Aspidosperma pyrifolium Mart. 28. Vista geral do pericarpo evidenciando
cutícula espessa (seta) no epicarpo, esclerócitos e células parenquimáticas no mesocarpo. 29. Feixe vascular concêntrico anficrival. 30.
Periderme com células repletas de conteúdo fenólico e idioblastos cristalíferos (setas) no mesocarpo. 31. Lenticela. 32. Laticífero de
parede pecto-celulósica homogeneamente espessada. 33. Mesocarpo, com células parenquimáticas e esclerócitos, e endocarpo. En =
endocarpo; Es = esclerócito; Fl = floema; Le = lenticela; Lt = laticífero; Xi = xilema
22
Região de deiscência – constituída por células parenquimáticas, laticíferos, feixes vasculares e
idioblastos cristalíferos. Os esclerócitos delimitam a linha de deiscência que é formada por células
parenquimáticas pequenas e de citoplasma denso (Fig. 27), que se estende da cavidade seminal até a
metade do mesocarpo, não atingindo o epicarpo (Fig. 24).
Tabela 2 – Resumo das principais características anatômicas dos frutos de A. australe, A. olivaceum e A. pyrifolium,
estudados no presente trabalho, e de A. polyneuron (Souza & Moscheta 1992)
+ = presença, - = ausência, NO = não observado; e ... = dado não informado
Características anatômicas
Epicarpo
Mesocarpo
Endocarpo
A. australe Müll. Arg.
A. olivaceum Müll. Arg.
A. pyrifolium Mart.
A. polyneuron Müll. Arg
(Souza & Moscheta 1992)
no de camadas
1
1
1
1
estômatos
NO
NO
NO
+
lenticelas
+
+
+
+
cutícula
+
+
+
+
tricomas
+
-
-
-
Tipo de feixe
vascular
concêntrico, colateral e
bicolateral
concêntrico, colateral e
bicolateral
concêntrico e colateral
concêntrico e colateral
laticíferos
+
+
+
+
linha de
deiscência
+ (se estende da cavidade
seminal até o epicarpo)
+ (se estende da cavidade
seminal até o epicarpo)
+ (se estende da cavidade
seminal até metade do
mesocarpo)
+ (se estende da cavidade
seminal até o epicarpo)
esclerócitos
+ (predominantemente isolados)
+ (predominantemente isolados)
+ (predominantemente em
grupos de inúmeras células)
+ (predominantemente isolados)
idioblastos
cristalíferos
+ (com cristais prismáticos)
+ (com cristais prismáticos)
+ (com cristais prismáticos)
...
no de camadas
15 a 20
10 a 15
5 a 10
multisseriado
cutícula
-
+
+
...
Células
lignificadas
+
-
-
+
Discussão
O presente trabalho mostra a importância da anatomia de frutos na distinção de espécies de
Aspidosperma Mart. & Zucc. (Apocynaceae). O gênero pertence à subfamília Rauvolfioideae,
considerada a mais basal na família (Endress et al. 2007). Nesta subfamília existem vários tipos
morfológicos de frutos, dentre eles bacáceos, como os de Hancornia speciosa Gomes (Koch &
Kinoshita 1999; Kinoshita & Simões 2005), drupáceos, como os de Rauvolfia sellowii Müll. Arg. (Koch
2002, 2005), capsulares, como os presentes nos gênero Allamanda L. (Sakane & Shepherd 1986),
Plectaneia Thou. (Endress & Bruyns 2000) e em Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Gomes 2008),
foliculares carnosos, como os de Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003), ou secos,
como os do gênero Aspidosperma Mart. & Zucc. Apesar do ovário de espécies do gênero Aspidosperma
ser apocárpico e bicarpelar (Marcondes-Ferreira & Kinoshita 1996) geralmente um único folículo se
desenvolve, devido ao aborto de um dos carpelos (Simões & Kinoshita 2002), fato também observado
por Souza & Moscheta (1992) em A. polyneuron Müll. Arg. e nas três espécies estudadas neste trabalho.
A parede do fruto é dividida anatomicamente em três regiões: epicarpo, mesocarpo e endocarpo
(Roth 1977). De acordo com Fahn (1990), a separação serve para facilitar a descrição anatômica, sendo
23
que a definição destes termos varia conforme cada autor. A maioria dos autores modernos prefere usar os
termos epicarpo e endocarpo em seu sentido mais amplo (sensu lato), que inclui na sua formação além
das epidermes externa e interna, respectivamente, também células do mesofilo ovariano (Roth 1977).
De acordo com Roth (1977) o epicarpo é usualmente unisseriado e representa a camada mais
externa do pericarpo. As três espécies estudadas neste trabalho apresentam epicarpo unisseriado, da
mesma forma que a maioria das espécies já estudadas na família (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976;
Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Dave & Kuriachen 1990; Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al.
1992; Souza & Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Souza et al. 2004; Aguiar et al. 2009). No
entanto, a presença de epicarpo unisseriado nos frutos não é válida para todas as espécies da família, pois
foi observado epicarpo multisseriado em Tylophora dalzellii Hook.f. (Kuriachen et al. 1990), Nerium
oleander L. (Thomas & Dave 1991), além de outras (Thomas & Dave 1994), sendo que em todas estas
espécies o epicarpo é considerado sensu lato, pois é formado por uma camada de células epidérmicas e
camadas subseqüentes de células colenquimatáticas e/ou esclerenquimáticas subepidérmicas. Somente
em Aganosma caryophyllata G. Don (Thomas & Dave 1994) observa-se epicarpo multisseriado sensu
stricto. Souza & Moscheta (1992) encontraram epicarpo unisseriado e glabro em A. polyneuron e citam
a presença de estômatos e inúmeras lenticelas no fruto. Neste trabalho não foram observados estômatos
em nenhuma das espécies estudadas, mas todas apresentam grande quantidade de lenticelas.
Tricomas de cobertura estão presentes somente em A. australe sendo este um caráter de extrema
importância para auxiliar na distinção das espécies aqui estudadas. A presença de tricomas de cobertura
é freqüente em espécies da família, como os de Calotropis procera (Ailton) W. T. Ailton (Mahran et al.
1967; Dave & Kuriachen 1987), Catharanthus roseus G. Don (Zala et al. 1976), Araujia hortorum E.
Fourn. (Castro 1986), Pergularia daemia (Forssk.) Chiov. (Kuriachen & Dave 1989), Aganosma
caryophyllata G. Don, Ichnocarpus frutescens R.Br., Wrightia tinctoria R. Br. (Thomas & Dave 1994) e
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Aguiar et al. 2009), tendo provável função de contribuir para a
redução da transpiração. Já em C. roseus, Parsonsia spiralis Wall. e Vallaris solanacea Kuntze os
tricomas são unicelulares (Thomas & Dave 1994).
A superfície dos frutos sempre se encontra recoberta por cutícula, sendo a sua formação
influenciada por vários fatores, como luz, temperatura, dentre outros (Roth 1977). Cutícula espessa é
um caráter muito comum em frutos de Apocynaceae (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976; Castro 1986;
Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991;
Thomas & Dave 1991; Souza & Moscheta 1992; Kuriachen et al. 1993; Thomas & Dave 1994; Aguiar
2003; Souza et al. 2004; Aguiar et al. 2009) e também está presente nos frutos aqui estudados. A cutícula
possui papel fundamental na diminuição da perda de água para o ambiente (Thomas & Dave 1994),
sendo esta função de grande importância em A. pyrifolium, pois esta planta está submetida a altas
intensidades luminosas e a baixos índices pluviométricos, visto que é encontrada na caatinga.
As funções desempenhadas pelos estômatos nos frutos são a de controle da temperatura e
controle do balanço hídrico através da evaporação (Roth 1977). Estômatos foram observados em vários
24
exemplares da família (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976; Dave & Kuriachen 1987; Kuriachen &
Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave
1991; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1994), sendo classificados como paracíticos,
anomocíticos ou ciclocíticos. Dave & Kuriachen (1987) realizaram um estudo sobre o desenvolvimento
de estômatos nos frutos de C. procera classificando os estômatos nesta espécie como perígenos. Em A.
polyneuron (Souza & Moscheta 1992), e espécies de Parsonsia R. Br. e Strophanthus A. DC. (Thomas
& Dave 1994) os estômatos são substituídos por lenticelas. Apesar de todas as espécies apresentarem
lenticelas, em nenhuma delas foi possível observar, em microscopia óptica, a existênica de estômatos.
Segundo Roth (1977) estômatos são freqüentemente presentes na superfície dos frutos, mas são em
menor número quando comparados com as folhas. A ausência de estômatos não é exclusiva da espécie
estudada neste trabalho, pois já foi mencionada para outras espécies da família por Kuriachen et al.
(1992) e por Thomas & Dave (1994). No entanto acredita-se que estudos com MEV sejam necessários
para verificar a ocorrência dos estômatos nas superfícies dos frutos.
Esclerócitos foram observados no mesocarpo de A. polyneuron por Souza & Moscheta (1992) e
nas três espécies deste trabalho. Em A. pyrifolium eles ocorrem, predominantemente, em grupos de
inúmeras células, tornando o pericarpo do fruto extremamente duro. Nas demais espécies, A. australe e
A. olivaceum, os esclerócitos também são abundantes no mesocarpo do fruto, mas não formam grupos
de numerosas células, tornando o mesocarpo menos rígido. A presença de grupos formados por diversos
esclerócitos em A. pyrifolium foi um caráter de grande importância na distinção das espécies estudadas
neste trabalho.
Laticíferos são células (ou fileiras de células) espalhadas por todo o corpo da planta, contendo
um fluido chamado látex (Esau 1965; Evert 2006), de composição química muito variada (Fahn 1979).
Sua função é de proteger a planta contra herbivoria, microorganismos e também selar ferimentos (Fahn
1979, 1990; Farrell et al. 1991; Hunter 1994). Os laticíferos também se desenvolvem em frutos e já
foram reportados em várias espécies como Ficus carica L. (Moraceae), Carica papaya L. (Caricaceae)
e Papaver somniferum L. (Papaveraceae) (Roth 1977). Na família Apocynaceae diversos trabalhos
citam a presença de laticíferos em frutos (Mahran et al. 1967; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989;
Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991;
Kuriachen et al. 1992; Souza & Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Aguiar 2003; Souza et al. 2004;
Aguiar et al. 2009). Nas três espécies estudadas os laticíferos são localizados por todo o mesocarpo do
fruto e apresentam parede espessa. Somente em A. olivaceum foi verificada bainha parenquimática ao
redor dos laticíferos, caráter considerado distintivo para as espécies deste trabalho.
O endocarpo, segundo Roth (1977) pode se originar da epiderme interna do ovário (endocarpo
sensu stricto), somente das camadas subepidérmicas do mesofilo ovariano, ou ainda da combinação de
ambas (endocarpo sensu lato). Nas três espécies, o endocarpo é formado por várias camadas de células,
mas acredita-se que somente a camada mais interna (em contato com a cavidade seminal) origina-se da
epiderme interna do ovário. Aguiar et al. (2009) realizaram um estudo ontogenético nos frutos de P.
25
riedelii e concluíram que o endocarpo, bisseriado e lignificado, é formado pelo desenvolvimento da
epiderme interna do ovário e por uma camada subepidérmica do mesofilo ovariano, sendo desta forma,
considerado endocarpo sensu lato. Souza & Moscheta (1992) ao estudarem a ontogenia dos frutos de A.
polyneuron sugerem origem epidérmica para as fibras do endocarpo. Neste trabalho, assim como
observado por Aguiar et al. (2009), sugere-se que as células do endocarpo das três espécies tenham
origem mista, ou seja, da epiderme ovariana e de camadas sub-epidérmicas, sendo desta forma, um
endocarpo sensu lato segundo Roth (1977). Das três espécies estudadas somente A. australe apresentou
células lignificadas no estádio estudado, sendo este um bom caráter distintivo entre as espécies. Apesar
de A. olivaceum e A. pyrifolium não apresentarem endocarpo lignificado neste estádio sugere-se que em
estádios posteriores ocorrerá lignificação das células, pois estas células possuem as mesmas
características das células do endocarpo de P. riedelii, estudadas por Aguiar et al. (2009), em estádios
anteriores a lignificação.
Neste trabalho foi adotado o termo esclerócito para caracterizar as células que formam o
endocarpo de A. australe, devido à quantidade de pontuações, formato irregular e curto tamanho
apresentado pelas células. No entanto, em grande parte das espécies já estudadas na família o tipo
celular mais citado para o endocarpo dos frutos são as fibras. Souza & Moscheta (1992) citam a presença
de fibras e esclerócitos no endocarpo de A. polyneuron. Nos trabalhos de Zala et al. (1976), Kuriachen et
al. (1991), Thomas & Dave (1991, 1994) é citada a presença de células lignificadas ou
esclerenquimáticas no endocarpo dos frutos, sem mencionar o tipo celular apresentado por elas. Gupta
& Lamba (1981) citam vários tipos de esclerócitos presentes no endocarpo de Rauvolfia serpentina
Benth. ex Kurz (macroesclerócitos, braquiesclerócitos, esclerócitos filiformes e esclerócitos
fusiformes), mas como neste trabalho não foi realizado macerado no endocarpo de A. australe não se
pode chegar a nenhuma conclusão quanto ao tipo de esclerócito que forma o mesmo.
A deiscência dos folículos das três espécies estudadas ocorre ao longo das margens do carpelo.
Antigamente este tipo de deiscência era chamado de ventral, mas Roth (1977) considera que este termo
é inadequado, pois o lado ventral do carpelo corresponde à face interna deste. Assim sendo, utilizou-se o
termo deiscência marginal, sugerido por Roth (1977), para os folículos estudados, visto que a sutura se
forma ao longo das margens do carpelo. Semelhante deiscência foi também retratada para A. polyneuron
(Souza & Moscheta 1992) e para P. riedelii (Aguiar et al. 2009). Segundo Roth (1977) os mecanismos
de deiscência são baseados, em geral, em movimentos de tecidos vivos e mortos. Dois tipos
fundamentais de mecanismos de deiscência podem ocorrer: o higroscópico e o de turgor. Os
higroscópicos dependem, geralmente, do encolhimento ou distenção das paredes de células mortas,
enquanto que o de turgor funciona com células vivas, de paredes elásticas. No caso dos frutos de A.
australe, A. olivaceum e A. pyrifolium pode-se concluir que a deiscência é do tipo higroscópica
xerocástica, visto que o pericarpo do fruto seca à medida que o fruto amadurece. Vários fatores auxiliam
na abertura dos frutos, como a presença de uma linha de deiscência, formada por células de paredes
delgadas, a ocorrência de células parenquimáticas no mesocarpo e a lignificação, mesmo que tardia em
26
A. olivaceum e A. pyrifolium, do endocarpo. As células lignificadas e de paredes altamente espessadas,
presentes no endocarpo, e a perda de água pelas células parenquimáticas do mesocarpo, criam uma
tensão higroscópica no fruto, contribuindo para o mecanismo de abertura.
A partir dos resultados obtidos no presente estudo e de dados do trabalho de Souza & Moscheta
(1992) foi possível elaborar uma chave de identificação de espécies de Aspidosperma baseada somente
em caracteres anatômicos dos frutos.
Chave para a identificação das três espécies de Aspidosperma baseada em caracteres anatômicos dos frutos
1. Epicarpo com tricomas de cobertura.................................................................................................... A. australe Müll. Arg.
1’. Epicarpo sem tricomas de cobertura.
2. Laticíferos com bainha parenquimática.............................................................................. A. olivaceum Müll. Arg.
3. Laticíferos sem bainha parenquimática....................................................................................... A. pyrifolium Mart.
Conclusões
Com base nos dados obtidos neste trabalho pode-se concluir que os frutos das espécies de
Aspidosperma estudadas podem ser distinguidos a partir de caracteres anatômicos presentes no
pericarpo. Além disto, notou-se uma semelhança entre as espécies, no que diz respeito à estrutura do
pericarpo, como presença de lenticelas, epicarpo unisseriado, cutícula espessa, feixes vasculares
distribuídos por todo o mesocarpo, laticíferos, esclerócitos no mesocarpo, linha de deiscência formada
por células parenquimáticas de parede delgada e endocarpo multisseriado. Características anatômicas
exclusivas em cada um dos frutos, como tricomas de cobertura e endocarpo lignificado em A. australe,
esclerócitos formando grupos de diversas células e linha de deiscência se estendendo somente até a
metade do mesocarpo em A. pyrifolium e laticíferos com bainha parenquimática em A. olivaceum
também foram levantadas.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela bolsa concedida ao primeiro autor durante a
elaboração deste trabalho e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
auxílio à pesquisa fornecido (proc. 01/12364-0).
27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de Apocynaceae do
cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita, L.S. 2009. Ontogenia e estrutura do pericarpo de
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update on the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Bobrov, A.V.F.CH.; Endres, P.K.; Melikian, A.P.; Romanov, M.S.; Sorokin, A.N. & Bejerano, A.P. 2005.
Fruit structure of Amborella trichopoda (Amborellaceae). Botanical Journal of the Linnean
Society 148: 265 – 274.
Castro, M.A. 1986. Anatomia del fruto de Araujia horotorum E. Fourn. (Asclepiadaceae). Parodiana 4:
195 – 203.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1987. Structure and development of stomata on the fruit wall of Calotropis
procera (Arr.) R. BR. Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 97(6):
449 – 456.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1990. Structure and development of the follicle of Asclepias curassavica L.
(Asclepiadaceae) with note on dehiscence. Beitrage zur Biologie der Pflanzen 65: 109 – 122.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of Periplocaceae follicles and
their taxonomic significance. Feddes Repertorium 102(1/2): 63 – 68.
Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in Apocynaceae: the enlightenment,
an introduction. Annals of the Missouri Botanical Garden 94(2): 260 – 267.
Esau, K. 1965. Plant anatomy. 2nd ed. Tokyo, Toppan Company LTDA.
Evert, R.F. 2006. Esau's plant anatomy: meristems, cells and tissues of the plant body – their
structure, function and development. New Jersey, John Wiley & Sons, Inc.
Ezcurra, C. 1981. Revisión de las Apocináceas de la Argentina. Darwiniana 23: 367 – 474.
Fahn, A. 1979. Secretory tissues in plants. London, Academic Press.
Fahn, A. 1990. Plant anatomy. Oxford, Pergamon Press.
Farrel, B.D.; Dussourd, D.E. & Mitter, C. 1991. Escalation of plant defense: do latex/resin canals spur
plant diversification? American Naturalist 138: 881 – 900.
28
Gerrits, P.O. & Smid, L. 1983. A new, less toxic polymerization system for the embedding of soft tissues
in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy 132: 81
– 85.
Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae: significado
ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521 – 534.
Gupta, V. & Lamba, L.C. 1981. Sclereids in the endocarp of Rauvolfia serpentina (L) Benth ex Kurz.
Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 90(1): 79 – 84.
Hunter, J. R. 1994. Reconsidering the functions of latex. Tree 9: 1 – 5.
Hutchinson, J. 1969. Evolution and phylogeny of flowering plants. London, Academic Press.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Kinoshita, L.S. & Simões, A.O. 2005. Hancornia Gomes. Pp. 54. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. 2002. Estudos das espécies neotropicais do gênero Rauvolfia L. (Apocynaceae). Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Koch, I. 2005. Rauvolfia L. Pp. 78. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S. Melhem & A.M. Giulietti
(orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. & Kinoshita, L.S. 1999. As Apocynaceae s. str. da região de Bauru, São Paulo, Brasil. Acta
Botanica Brasilica 13: 61 – 86.
Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall ornamentations in
Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae). Proceedings of the Indian Academy of
Sciences – Plant Sciences 99(1): 15 – 20.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the follicle of Tylophora
dalzellii HK. F. Phytomorphology 40(3/4): 349 – 347.
Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and dehiscence of follicles of
Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae). Korean Journal of Botany 34(2): 107 – 112.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic significance of fruit walls
in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103(3/4): 179 – 193.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1993. Ultrastructural studies of the ovary wall and pericarp of
Asclepias curassavica L. II. Mesocarp development. Feddes Repertorium 104(3/4): 227 – 235.
Mahran, G.H.; Saber, A.H. & Rizkallah, M.M. 1967. Calotropis procera (Ait.) R. Br. IV. The fruits, its
macro and micromorphology. Journal of Pharmacological Sciences of United Arab Republic 9:
81 – 100.
29
Marcondes-Ferreira, W. 2005. Aspidosperma Mart. Pp. 39 – 47. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Marcondes-Ferreira, W. & Kinoshita, L.S. 1996. Uma nova divisão infragenérica para Aspidosperma
Mart. (Apocynaceae). Revista Brasileira de Botânica 19(2): 203 – 214.
O'Brien, T.P.; Feder, N. & Mc Cully, M.E. 1964. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine
blue O. Protoplasma 59(2): 368 – 373.
Pearse, A.G.E. 1985. Histochemistry theoretical and applied. vol. 2. Edinburgh, C. Livingstone.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Rizzini, C.T. & Mors, W.B. 1976. Botânica Econômica Brasileira. São Paulo, EPU USP.
Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin, Gebrüder Borntraeger.
Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L. (Apocynaceae). Revista
Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas region, Minas Gerais,
Brazil. Darwiniana 40(1/4): 127 – 169.
Simões, A.O.; Livshultz, T.; Conti, E. & Endress, M.E. 2007. Phylogenetic and systematics of the
Raulvolfioideae (Apocynaceae) based on molecular and morphological evidence. Annals of the
Missouri Botanical Garden 94: 268 – 297.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de Aspidosperma
polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de Biologia 52(3): 439 – 447.
Spjut, R.W. 1994. A systematic treatment of fruit types. Memoirs of the New York Botanical Garden
70: 1 – 82.
Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium indicum Mill.
(Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399 – 407.
Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae. Acta Societatis
Botanicorum Poloniae 63(1): 9 – 20.
Von Teichman, I. & Van Wyk, A.E. 1991. Trends in the evolution of dicotyledonous seeds based on
character associations, with special reference to pachycalazy and recalcitrance. Botanical Journal
of the Linnean Society 105: 211 – 237.
Zala, J.V.; Patel, N.D. & Dave, Y.S. 1976. Structure of the developing and dry pericarp of Catharanthus
roseus (Apocynaceae). Flora 165: 335 – 360.
30
Ca pít ulo 2
Morfoanatomia e ontogênese na caracterização dos frutos de
Allamanda blanchetii A. DC. e Allamanda schottii Pohl (Apocynaceae)1
Shesterson Aguiar2, Sandra Maria Carmello-Guereiro2,3 e Luiza Sumiko Kinoshita2
Resumo: As espécies do gênero Allamanda L. possuem frutos do tipo cápsula, muito semelhantes quanto à morfologia.
Desta forma os principais objetivos do presente trabalho foram caracterizar, através de estudos ontogenéticos, os frutos de
Allamanda blanchetii A. DC. e Allamanda schottii Pohl, além de levantar dados anatômicos do pericarpo que possam ser
utilizados na identificação das duas espécies. Flores, frutos jovens e maduros foram coletados, fixados e submetidos a
técnicas usuais de anatomia. Apesar das cápsulas do gênero Allamanda serem tradicionalmente classificadas como
loculicidas, neste trabalho ficou comprovado que as cápsulas de A. blanchetii e A. schottii são, na realidade, cápsulas
septicidas bivalvares. O epicarpo das duas espécies é unisseriado e possui células epidérmicas de paredes espessas, cutícula
delgada e estômatos. No mesocarpo pode-se observar hipoderme de células colenquimatosas, anel esclerenquimático,
parênquima fundamental, aerênquima, feixes vasculares, ilhas de floema e laticíferos. O endocarpo das duas espécies é
constituído por diversas camadas de esclerócitos, que possuem disposição cruzada somente em A. blanchetii. Apesar de
apresentarem pericarpo com muitas similaridades, foi possível constatar que somente A. blanchetii possui aerênquima
distribuído por todo o mesocarpo do fruto sendo este, portanto, o principal caráter para distinguir as espécies.
Palavras – chave: Rauvolfioideae, Allamanda, pericarpo, cápsula septicida
Introdução
Apocynaceae é uma das maiores e mais representativas famílias de Angiospermas, contendo em
seus limites atuais cerca de 400 – 480 gêneros e 4.300 – 4.800 espécies com distribuição pantropical e
em climas temperados (Albers & Meve 2001; Potgieter & Albert 2001; APG 2003), incluindo espécies
de diversos hábitos, como árvores, arbustos, subarbustos, lianas e ervas (Judd et al. 2002; Kinoshita
2005; Simpson 2007). A família exibe vários tipos morfológicos de frutos, como bacáceos, drupáceos e
foliculares (Simões & Kinoshita 2002), além de cápsulas, presentes no gênero Allamanda L. (Sakane &
Shepherd 1986) e Plectaneia Thou. (Endress & Bruyns 2000).
Allamanda L. é um pequeno gênero da família, pertencente à subfamília Rauvolfioideae Kostel
(Endress & Bruyns 2000) e à tribo Plumerieae E. Mey. (Simões et al. 2007). O gênero apresenta 14
espécies nativas do continente americano, sendo que 12 ocorrem no Brasil (Sakane & Shepherd 1986).
Algumas espécies são utilizadas como plantas ornamentais, devido a suas flores vistosas, e na medicina
popular (Simões & Kinoshita 2005), principalmente A. cathartica L., cuja infusão das folhas é utilizada
como catártico (Sakane & Shepherd 1986).
Seus frutos são classificados como cápsulas bicarpelares elíptico-compressas ou globosas
(Simões & Kinoshita 2005) geralmente espinescentes (Sakane & Shepherd 1986) e muito semelhantes
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, vinculado ao programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas
Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
3
Autor para correspondência: smcg@unicamp.br
2
31
quanto à morfologia externa. Apesar de Barroso et al. (1999) terem classificado seus frutos como
cápsulas loculicidas, análises morfoanatômicas prévias sugerem que estes frutos são na verdade
cápsulas septicidas.
A carência de estudos ontogenéticos em frutos tem gerado dificuldades na descrição e correta
classificação dos frutos (Spujt 1994). Apesar de existirem trabalhos relacionados à anatomia de frutos
em Apocynaceae (Mahran et al. 1967; Khan 1970; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Dave &
Kuriachen 1990; Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas &
Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Kuriachen et al. 1993; Souza & Moscheta 1992; Thomas & Dave
1994; Souza et al. 2004; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009), eles são poucos frente a variedade
morfológica de frutos apresentada pela família (Potgieter & Albert 2001) e, além disto, em nenhum
destes trabalhos foram contempladas espécies de Allamanda.
Desta forma, um estudo ontogenético em frutos de A. blanchetii e A. schottii além de ser de
extrema importância para uma correta caracterização morfológica dos frutos, também poderá contribuir
com dados anatômicos que possam ser utilizados na distinção das duas espécies, sendo, portanto, os
principais objetivos do presente trabalho.
Materiais e métodos
Material Botânico
Para a realização deste trabalho foram utilizados botões florais, flores e frutos em vários estádios
de desenvolvimento de Allamanda blanchetii A. DC. e de Allamanda schottii Pohl coletados a partir de
indivíduos cultivados como ornamentais no Campus da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP).
Allamanda blanchetii A. DC. (Fig. D) é uma espécie de fácil identificação devido a suas flores
violáceas. É um arbusto ou planta escandente ocorrente em caatingas, em lugares secos e pedregosos,
cuja distribuição se estende por todo o Nordeste Brasileiro, desde o Maranhão até a Bahia (Sakane &
Shepherd 1986). Allamanda schottii Pohl (Fig. A) é uma arbusto sublenhoso de flores amarelas ou
amarelo-alaranjadas. A planta cresce à beira da mata, em lugares úmidos como as margens de rios,
ocorrendo na Argentina, Paraguai e no Brasil, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de
Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Sakane & Shepherd 1986).
Os exemplares foram identificados pela Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita (especialista na
família) e os materiais testemunha herborizados e incorporados ao Herbário UEC (Tabela 1).
Tabela 1. Dados referentes ao material testemunha das espécies estudadas.
Espécie
Localidade
Nome e no do coletor
A. blanchetii
Campinas (SP)
“Unicamp”
Campinas (SP)
“Unicamp”
S. M. Gomes 487
28/XI/2002
142021
S. M. Gomes 488
28/XI/2002
142022
A. schottii
Data da coleta Registro UEC
32
Metodologia
Os materiais coletados foram fixados em FAA (Johansen 1940) por 24 horas e colocados em
bomba à vácuo para facilitar a penetração do fixador, sendo posteriormente conservados em álcool
etílico 70%. Após este período os materiais foram incluídos em resina plástica (Gerrits & Smid 1983),
seccionados em micrótomo rotativo e as secções longitudinais e transversais, de 10µm
aproximadamente, foram coradas com azul de toluidina (O' Brien et al. 1964), para análise estrutural.
Algumas secções foram submetidas ao teste com Sudan black B (Pearse 1985), para análise de lipídios
totais, ao reagente de Lugol (Johansen 1940), para detecção de amido e à luz polarizada, a fim de
evidenciar constituintes celulares birrefringentes, como cristais, amido e celulose (Evert 2006). Para a
descrição dos resultados utilizaram-se as terminologias de Roth (1977) e de Spjut (1994).
As ilustrações consistiram de fotografias e fotomicrografias. As fotomicrografias foram
realizadas por meio de uma câmera digital acoplada ao microscópio Olympus BX 51, utilizando-se o
programa Olympus DP Controller. As ilustrações foram utilizadas na confecção das pranchas, montadas
no programa CorelDraw X3.
Resultados
1. Morfologia dos frutos
Os frutos de A. blanchetii e A. schottii se desenvolvem a partir de flores com gineceu sincárpico,
bicarpelar, unilocular, de ovário súpero e placentação parietal (Fig. 1 e 26), sendo classificados como
cápsulas septicidas bivalvares. As cápsulas são elíptico-compressas e espinhosas, apresentam coloração
esverdeada, quando jovens e totalmente desenvolvidas (Fig. B e E), e marrom, quando maduras (Fig. C
e F). Possuem deiscência através de duas suturas longitudinais marginais, que ao se romperem, formam
duas valvas (Fig. C e F) que expõem diversas sementes. Cada valva é originada a partir do
desenvolvimento de um único carpelo.
2. Anatomia
O estádio inicial do desenvolvimento dos frutos de A. blanchetii e A. schottii é representado pelo
ovário das flores em antese. Com base nas alterações anatômicas que ocorrem durante o
desenvolvimento dos frutos, como o espessamento de parede das células do epicarpo, a diferenciação
dos esclerócitos e o surgimento do aerênquima no mesocarpo e a lignificação das células do endocarpo,
foram utilizados dois estádios de desenvolvimento para descrever o pericarpo: estádio I – fruto jovem e
estádio II – fruto desenvolvido. Para melhor entendimento, o pericarpo dos frutos foi dividido em três
regiões anatômicas claramente diferenciadas em todos os estádios de desenvolvimento: epicarpo,
mesocarpo e endocarpo. Tanto a anatomia da parede do ovário quanto dos frutos são tratadas de forma
separada para as duas espécies.
33
A
D
B
E
C
F
Figuras A – C. Allamanda schottii Pohl. D – F. Allamanda blanchetii A. DC.
A e D. Hábito. B e E. Frutos maduros. C e F. Frutos abertos.
34
Fig. 8
Mf
}
Ei
1
500µm
Fv
Ee
2
50µm
Ee
Ee
20µm
3
4
15µm
50µm
5
}
Fv
Ei
20µm
6
10µm
7
200µm
8
Figuras 1 – 8. Secções transversais do ovário de Allamanda blanchetii A. DC. 1. Vista geral do ovário. 2. Pormenor da figura 1,
evidenciando a parede do ovário (seta = laticífero). 3. Epiderme externa e células parenquimáticas do tecido fundamental. 4. Cutícula da
epiderme externa do ovário, evidenciada pelo teste com Sudan black B. 5. Laticíferos (seta) e feixe vascular. 6. Epiderme interna,
laticíferos (seta) e células parenquimáticas do tecido fundamental. 7. Cutícula da epiderme interna do ovário, evidenciada pelo teste com
Sudan black B. 8. Pormenor da figura 1, indicando a região de união dos carpelos (seta). Ee = epiderme externa; Ei = epiderme interna; Fv =
feixe vascular; Mf = mesofilo ovariano
Allamanda blanchetii A. DC.
Parede do ovário
A epiderme externa do ovário é constituída por uma camada de células quadrangulares, com
núcleos basais, vacúolo de posição apical (Fig. 2 e 3) e cutícula delgada (Fig. 4). Estômatos em início de
diferenciação, apesar de raros, estão presentes na epiderme externa.
O mesofilo ovariano é formado por parênquima, feixes vasculares e laticíferos, dispostos em 30
a 35 camadas (Fig. 2). As células parenquimáticas, de paredes pecto-celulósicas delgadas e núcleos
evidentes, são as mais abundantes do tecido fundamental (Fig. 2) e armazenam pequenos grãos de
35
amido. Já os laticíferos são as estruturas mais destacadas no tecido fundamental por apresentarem
parede pecto-celulósica levemente espessada e formato cilíndrico (Fig. 2, 5 e 6). No protoplasto de
alguns deles é possível observar diversos núcleos (Fig. 5). O sistema vascular é formado por feixes
vasculares pouco diferenciados, sendo que os mais desenvolvidos são os marginais (Fig. 8), próximos à
região de deiscência, e os dorsais (Fig. 2). Inúmeros cordões procambiais estão distribuídos no mesofilo
ovariano.
A epiderme interna do ovário é unisseriada e revestida por cutícula delgada (fig. 7), possuindo
células levemente colunares de citoplasma e núcleo evidentes (Fig. 2 e 6).
Pericarpo
Estádio I
A epiderme externa, agora denominada epicarpo, permanece composta por uma única camada
de células que, neste estádio, tornam-se levemente colunares e com paredes periclinais externas
espessadas (Fig. 11). Os estômatos, agora diferenciados, são pouco freqüentes no epicarpo.
Durante o desenvolvimento do fruto ocorre espessamento do pericarpo, devido a um aumento no
número de células que compõem o mesocarpo, além do alongamento das células e aumento na
quantidade de espaços intercelulares (Fig. 9). O mesocarpo, desenvolvido a partir do mesofilo ovariano,
é constituído por parênquima, idioblastos cristalíferos, feixes vasculares, ilhas de floema e laticíferos
(Fig. 9).
As células parenquimáticas do mesocarpo são diferentes conforme a região onde são
encontradas. As que se localizam próximas ao epicarpo são menores e não possuem espaços
intercelulares (Fig. 9 e 11); já a grande maioria das células parenquimáticas do mesocarpo possui
grandes espaços intercelulares, formando um aerênquima (Fig. 9). Idioblastos cristalíferos estão
espalhados entre as células parenquimáticas e possuem cristais prismáticos e/ou drusas (Fig. 12 e 13).
Os laticíferos são as células mais destacadas no mesocarpo, pois possuem espessamento pectocelulósico de parede (Fig. 9, 14 e 15) e conteúdo de aspecto denso (Fig. 9 e 10). Os feixes vasculares,
apesar de estarem mais diferenciados (Fig. 15), ainda não estão totalmente desenvolvidos.
Os espinhos são formados a partir de divisões celulares de camadas epidérmicas e
subepidérmicas que iniciam a formação de um domo que se desenvolverá em espinho. Neste estádio, o
espinho é constituído de células epidérmicas, parenquimáticas, feixes vasculares e laticíferos e, devido
à baixa quantidade de células lignificadas, ainda não são rígidos.
A epiderme interna e camadas subepidérmicas formam o endocarpo (Fig. 9 e 10), que possui
células de paredes delgadas e justapostas, todas com mesmo formato.
Estádio II
No epicarpo, a principal mudança é o aumento da espessura das paredes das células epidérmicas,
principalmente a periclinal externa (Fig. 17 e 18). A cutícula torna-se mais evidente, apesar de
36
Ep
Pp
Ep
11
40µm
}
Fv
Ms
20µm
12
30µm
14
60µm
100µm
En
13
9
Xi
60µm
En
10
110µm
Fl
15
Figuras 9 – 15. Secções transversais do fruto jovem (estádio I) de Allamanda blanchetii A. DC. 9. Vista geral do pericarpo (seta =
laticífero). 10. Mesocarpo e endocarpo (seta = laticífero). 11. Epicarpo e células parenquimáticas do mesocarpo. 12. Cristal prismático
(seta). 13. Cristal prismático em luz polarizada. 14. Laticífero ramificado (seta). 15. Feixe vascular e laticíferos (setas) do mesocarpo. En =
endocarpo; Ep = epicarpo; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Ms = mesocarpo; Pp = parede periclinal externa; Xi = xilema
37
permanecer delgada (Fig. 22). Apesar dos estômatos continuarem presentes (Fig. 17) sua freqüência é
muito menor.
Junto ao epicarpo, nota-se uma hipoderme, constituída por 2 a 4 camadas de células
colenquimatosas, de paredes pecto-celulósicas espessas (Fig. 18) e repletas de cloroplastos. Entre estas
células podem ser observados idioblastos cristalíferos. Em contato direto com a hipoderme
colenquimática nota-se o anel esclerenquimático, constituído por 5 a 8 camadas de esclerócitos de
paredes extremamente espessas e lignificadas (Fig. 16 e 18), originados a partir da transdiferenciação de
células parenquimáticas presentes no estádio I. Idioblastos cristalíferos também podem ser encontrados
nas proximidades do endocarpo (Fig. 21 e 25).
As células parenquimáticas localizadas entre o anel esclerenquimático e o endocarpo possuem
grandes espaços intercelulares e formam o aerênquima, que é o tecido mais desenvolvido do mesocarpo
(Fig. 16).
Distribuídos por todo aerênquima, estão os laticíferos que, devido à parede espessa e conteúdo
de aspecto denso, são as células mais destacadas no mesocarpo (Fig. 16, 19, 20, 23 e 24). O
espessamento pecto-celulósico da parede não é uniforme em toda a extensão do laticífero, visto que
podem ser visualizadas regiões com espessamento pronunciado e regiões sem espessamento (Fig. 19).
Os feixes vasculares são colaterais, concêntricos ou bicolaterais e possuem, neste estádio, as
células totalmente diferenciadas (Fig. 16 e 24). Estão distribuídos por todo o mesocarpo, mas os que se
encontram na região mediana do mesocarpo são os mais desenvolvidos. Também podem ser observadas
ilhas de floema próximas ao endocarpo (Fig. 23), não distinguidas no estádio anterior.
Neste estádio, os espinhos completam o seu crescimento e tornam-se rígidos, devido ao
espessamento das células do epicarpo, da diferenciação da hipoderme colenquimática e da lignificação
das células do anel esclerenquimático e dos feixes vaculares.
O endocarpo torna-se totalmente diferenciado, e é constituído por 4 a 8 camadas de esclerócitos
de parede extremamente espessa e lignificada (Fig. 16, 21 e 25). Os esclerócitos são alongados
preferencialmente no sentido longitudinal do fruto, mas células alongadas no sentido transversal
também podem estar presentes (Fig. 25). Mesmo possuindo lume extremamente reduzido, devido ao
espessamento da parede, em algumas células do endocarpo pode-se observar cristais prismáticos (Fig.
21 e 25).
Nas regiões de união dos carpelos, notam-se as linhas de deiscência, constituídas, cada uma, por
1 a 2 camadas de células parenquimáticas de paredes delgadas e sinuosas, menores do que as
parenquimáticas adjacentes.
38
Ep
Ae
17
20µm
Pp
Ep
Hp
}
Fv
Ae
Ms
18
40µm
50µm
19
50µm
20
En
200µm
En
16
60µm
21
Figuras 16 – 21. Secções transversais do fruto maduro (estádio II) de Allamanda blanchetii A. DC. 16. Vista geral do pericarpo do fruto
(setas = laticíferos). 17. Estômato. 18. Epicarpo, hipoderme colenquimática e anel esclerenquimático (seta branca = cutícula; seta preta =
cristal). 19 e 20. Laticíferos (setas). 21. Endocarpo (seta = cristal prismático). Ae = anel esclerenquimático; En = endocarpo; Ep =
epicarpo; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Hp = hipoderme; Ms = mesocarpo; Pp = parede periclinal externa
39
Pp
Ep
24
100µm
22
20µm
}
If
25µm
En
23
50µm
25
Figuras 22 – 25. Secções transversais do fruto maduro (estádio II) de Allamanda blanchetii A. DC. 22. Cutícula do epicarpo (seta),
evidenciada pelo teste com Sudan black B. 23. Laticífero (seta) e ilha de floema. 24. Feixe vascular (seta = laticífero). 25. Endocarpo em luz
polarizada (seta = cristal). En = endocarpo; Ep = epicarpo; If = ilha de floema; Pp = parede periclinal externa
Allamanda schottii Pohl
2. Anatomia
Parede do ovário
As epidermes externa e interna do ovário são unisseriadas e constituídas por células de
citoplasma com aspecto denso com numerosos grãos de amido (Fig. 29), núcleos evidentes e cutícula
delgada (Fig. 30 e 31). Estômatos, em início de diferenciação, estão presentes somente na epiderme
externa.
O mesofilo ovariano é formado 20 a 25 camadas de células parenquimáticas (Fig. 27) entre as
quais estão dispersos feixes vasculares, cordões procambiais e laticíferos. As células parenquimáticas
possuem paredes delgadas, núcleos evidentes e citoplasma de aspecto denso (Fig. 27, 28, 30, 31 e 32)
repleto de grãos de amido (Fig. 29). Os laticíferos são células bem destacadas no tecido fundamental por
apresentarem parede pecto-celulósica levemente espessa, formato cilíndrico (Fig. 27), muitas vezes
ramificado, e diversos núcleos (Fig. 32). O sistema vascular do ovário consiste de feixes vasculares
pouco diferenciados, sendo mais desenvolvidos os marginais (Fig. 28), próximos a região de deiscência,
e os dorsais (Fig. 27).
Na região de união dos carpelos nota-se uma linha, pouco proeminente, constituída de células
parenquimáticas de paredes bem justapostas (Fig. 28), que se estende da epiderme externa até a
placenta. Próximos às linhas de deiscência estão localizados feixes vasculares marginais (Fig. 28).
40
Fig.28
Ei
}
Fv
26
250µm
50µm
Ee
27
}
Fv
28
50µm
20µm
30
20µm
29
50µm
31
25µm
32
Figuras 26 – 32. Secções transversais do ovário de Allamanda schottii Pohl. 26. Vista geral do ovário. 27. Pormenor da figura 26,
indicando a parede do ovário (seta = laticífero). 28. Pormenor da figura 26, indicando a região de união dos carpelos (seta). 29. Teste com
reagente de Lugol, indicando grãos de amido, corados em preto, nas células parenquimáticas e epidérmicas. 30. Epiderme externa e
células parenquimáticas do tecido fundamental. 31. Epiderme interna. 32. Laticíferos (seta) e feixe vascular. Ee = epiderme externa; Ei =
epiderme interna; Fv = feixe vascular
Pericarpo
Estádio I
A camada mais externa do pericarpo, o epicarpo, origina-se exclusivamente da epiderme externa
do ovário, sendo, portanto, um epicarpo sensu stricto. É constituído por uma camada de células
epidérmicas, de citoplasma com aspecto pouco denso e núcleo de posição basal (Fig. 35). As paredes
delgadas das células são pecto-celulósicas e revestidas externamente por cutícula delgada. Estômatos
são pouco freqüentes no epicarpo do fruto.
Células parenquimáticas, idioblastos cristalíferos, esclerócitos, feixes vasculares, ilhas de
41
floema e laticíferos constituem o mesocarpo (Fig. 33), que se forma a partir do desenvolvimento do
mesofilo ovariano. Durante o desenvolvimento dos frutos ocorre um aumento no número de células que
compõem o mesocarpo, devido a divisões, em vários planos, das células que o constituem. Nas regiões
próximas ao epicarpo, observam-se células parenquimáticas alongadas (Fig. 35) que se
transdiferenciarão em esclerócitos no fruto maduro. Neste estádio ainda observam-se poucos espaços
intercelulares entre as células parenquimáticas do mesocarpo.
Os laticíferos distribuem-se por todo o mesocarpo e possuem parede pecto-celulósica mais
espessa do que as das células parenquimáticas adjacentes, facilitando o seu reconhecimento (Fig. 36 e
37). Possuem formato cilíndrico e alongado, algumas vezes ramificado, e látex pouco denso, sendo
possível distinguir núcleos com seus respectivos nucléolos (Fig. 36) no protoplasto destas células.
O sistema vascular do fruto consiste de inúmeros feixes pouco diferenciados e ilhas de floema
(Fig. 34 e 37). Os feixes vasculares se distribuem uniformemente pelo mesocarpo, sendo que os de
maior calibre são os que se localizam nas regiões de deiscência (Fig. 34). As ilhas de floema são pouco
proeminentes e restritas as proximidades do endocarpo.
Neste estádio de desenvolvimento, o endocarpo é constituído somente por uma camada de
células de paredes pecto-celulósicas delgadas, alongadas, principalmente, no sentido longitudinal do
fruto (Fig. 38), e estão pouco diferenciadas quando comparadas ao estádio anterior.
Emergências na forma de espinhos (Fig. 33 e 34) são formadas neste estádio de
desenvolvimento, sendo constituídas por células epidérmicas, parenquimáticas, feixes vasculares e
laticíferos. A formação dos espinhos inicia-se a partir de divisões mitóticas de camadas subepidérmicas
que inicialmente formam um domo (Fig. 34), que continua a crescer até se transformar em espinho (Fig.
33) que, neste estádio, ainda não estão rígidos devido à baixa lignificação de suas células.
Nas regiões de união dos carpelos, notam-se as linhas de deiscência, constituídas de células
parenquimáticas de paredes justapostas e sem espaços intercelulares (Fig. 34), pouco diferentes do
estádio anterior, além de feixes vasculares marginais.
Estádio II
A principal mudança no epicarpo é o espessamento das paredes das células, que é mais
pronunciado na parede periclinal externa (Fig. 40 e 48). As células continuam dispostas em uma única
camada e são revestidas por cutícula um pouco mais espessa que no estádio anterior (Fig. 40, 48 e 51).
Os estômatos (Fig. 40) tornam-se ainda mais escassos no epicarpo.
Diversas mudanças ocorrem no mesocarpo. Junto ao epicarpo nota-se a presença de 2 a 3
camadas de células colenquimatosas, com paredes pecto-celulósicas espessas formando a hipoderme
(Fig. 40 e 48). Em contato direto com estas células observa-se um anel esclerenquimático, constituído
por aproximadamente 5 a 8 camadas de esclerócitos de paredes extremamente espessas e lignificadas
(Fig. 39, 40, 45 e 48) que percorrem todo o mesocarpo do fruto, sendo interrompida somente nas regiões
de deiscência do fruto. Os esclerócitos do anel esclerenquimático originam-se a partir da
}
42
Ep
}
Es
Em
50µm
35
50µm
36
50µm
37
Ms
200µm
33
}
Em
200µm
Fv
}
}
Fv
34
25µm
En
38
Figuras 33 – 38. Secções transversais do fruto jovem (estádio I) de Allamanda schottii Pohl. 33. Vista geral do pericarpo (setas =
laticíferos). 34. Região de união dos carpelos indicando a linha de deiscência (seta). 35. Detalhe do epicarpo e dos esclerócitos em
diferenciação do mesocarpo. 36. Detalhe dos laticíferos com núcleos (setas). 37. Feixe vascular e laticíferos (seta). 38. Mesocarpo e
endocarpo. Em = emergência; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Es = esclerócitos em diferenciação; Fv = feixe vascular; Ms = mesocarpo
43
transdiferenciação de células parenquimáticas presentes no fruto no estádio anterior. Alguns
esclerócitos do anel esclerenquimático possuem cristais prismáticos (Fig. 40).
Logo abaixo ao anel esclerenquimático, observam-se diversas camadas de células
parenquimáticas cujos espaços intercelulares tornam-se maiores do que no estádio anterior (Fig. 39).
Nas proximidades do endocarpo estes espaços são mais pronunciados, formando um aerênquima (Fig.
39 e 44). Idioblastos cristalíferos com cristais prismáticos e/ou drusas (Fig. 46) estão dispersos entre as
células parenquimáticas do mesocarpo.
Esclerócitos com paredes repletas de pontuações (Fig. 43) também ocorrem isolados no
mesocarpo, principalmente nas proximidades do endocarpo, sendo possível verificar em alguns deles
cristais prismáticos (Fig. 47).
Os laticíferos possuem parede mais espessa que no estádio anterior, sendo mais facilmente
reconhecidos no mesocarpo (Fig. 39, 41, 42, 47 e 49). Quando se observa o laticífero em corte
longitudinal, nota-se que sua parede não possui espessamento homogêneo, havendo regiões onde a
parede ainda permanece delgada (Fig. 41). Eles estão distribuídos por todo o mesocarpo entre as células
parenquimáticas, mas também estão presentes ao redor dos feixes vasculares (Fig. 49), entre as células
da hipoderme ou até próximos ao endocarpo (Fig. 47). O formato cilíndrico, a presença de conteúdo
com aspecto denso (Fig. 42) e de ramificações facilitam o reconhecimento desta célula.
Os feixes vasculares tornam-se mais evidentes devido à diferenciação dos elementos condutores
(Fig. 49), sendo classificados como colaterais, concêntricos ou bicolaterais. Os mais desenvolvidos se
concentram na região mediana e os menores se distribuem homogeneamente pelo mesocarpo. As
diversas ilhas de floema (Fig. 44) continuam restritas às proximidades do endocarpo.
O endocarpo torna-se lignificado e multisseriado (Fig. 39, 44 e 47). É constituído por
esclerócitos de parede extremamente espessa, alongados no sentido longitudinal do fruto, e distribuídos
em 3 ou 4 camadas: a camada mais interna, em contato direto com a cavidade seminal, deriva-se da
única camada existente no endocarpo no estádio anterior (Fig. 44 e 47); já as demais camadas originamse a partir da transdiferenciação de camadas subepidérmicas do mesocarpo (Fig. 44 e 47). Possuem
lume extremamente reduzido, mas algumas células, principalmente as que se localizam em contato
direto com o mesocarpo, podem acumular cristais prismáticos (Fig. 44 e 47).
Os espinhos possuem, neste estádio, hipoderme colenquimática e anel esclerenquimático,
tornando-os rígidos e resistentes (Fig. 45). Além destes tecidos citados, no espinho também podem ser
encontrados feixes vasculares, laticíferos, parênquima fundamental, laticíferos e células epidérmicas de
paredes espessas (Fig. 45 e 48).
Nas regiões de união dos carpelos ocorre espessamento das células das linhas de deiscência e
afrouxamento das células parenquimáticas adjacentes (Fig. 50).
Com base nos dados obtidos, foi elaborada uma tabela comparativa (tabela 2) na qual estão
descritas as principais características morfoanatômicos presentes nos frutos de A. blanchetii e A. schotti.
44
Ep
Pp
Ae
Ep
Hp
Ae
20µm
40
41
50µm
Ms
}
Fv
100µm
µm
42
25µm
43
}
If
En
250µm
En
39
25µm
44
Figuras 39 – 44. Secções transversais do fruto maduro (estádio II) de Allamanda schottii Pohl. 39. Vista geral do pericarpo do fruto (setas =
laticíferos). 40. Epicarpo, hipoderme colenquimática e anel esclerenquimático (seta = cutícula). 41 e 42. Laticíferos (setas). 43.
Esclerócitos do mesocarpo (seta = pontuações simples). 44. Endocarpo e ilha de floema (seta = cristal prismático). Ae = anel
esclerenquimático; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Fv = feixe vascular; Hp = hipoderme colenquimática; If = ilha de floema; Ms =
mesocarpo; Pp = parede periclinal externa espessada
45
Ae
Hp
Ep
Ae
Ep
50µm
45
20µm
46
}
48
25µm
49
50µm
Lt
Es
Ep
}
Fv
En
50µm
47
50µm
50
20µm
51
Figuras 45 – 51. Fruto maduro (estádio II) de Allamanda schottii Pohl. 45, 48 e 51. Secções longitudinais. 46, 47, 49 e 50. Secções
transversais. 45. Espinho. 46. Cristais prismáticos e drusas (seta) do mesocarpo em luz polarizada. 47. Endocarpo, feixe vascular,
laticífero, esclerócito e cristais prismáticos (setas). 48. Pormenor da figura 45, evidenciando epicarpo com cutícula (seta), hipoderme
colenquimática e anel esclerenquimático. 49. Feixe vascular e laticíferos (seta) do mesocarpo. 50. Linha de deiscência (seta). 51. Cutícula
do epicarpo (seta), evidenciada pelo teste com Sudan black B. Ae = anel esclerenquimático; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Es =
esclerócito; Fv = feixe vascular; Hp = hipoderme colenquimática;
Lt = laticífero
46
Tabela 2. Resumo das principais características morfoanatômicas observadas nos frutos de Allamanda blanchetii A. DC. e
A. schottii Pohl (Apocynaceae). + = presente; - = ausente
Características morfoanatômicas
Allamanda blanchettii
Allamanda schottii
cápsula bicarpelar septicida
cápsula bicarpelar septicida
lenhosa
lenhosa
espinhos
+
+
número de camadas do epicarpo
1
1
estômatos
+
+
delgada
delgada
lenticelas
-
-
tricomas
-
-
espessamento d e parede d as células
+
+
tipo de fruto
consistência do fruto
espessura da cutícula
epidérmicas
+
+
(estende-se por todo mesocarpo)
(restrito a região do mesocarpo próxima ao endocarpo)
2a4
2a3
5a8
5 a 10
laticíferos
+
+
ilhas de floema
+
+
Colateral, bicolateral e concêntrico
Colateral, bicolateral e concêntrico
idioblastos cristalíferos
+
+
esclerócitos no mesocarpo
+
+
4a8
3a4
esclerócito
esclerócito
cruzada
alongadas no sentido longitudinal
aerênquima
número de camadas de células na
hipoderme
número de camadas de esclerócitos n o
anel esclerenquimático
tipo de feixe vascular
número de camadas do endocarpo
tipo de célula do endocarpo
orientação das células do endocarpo
(predomínio de células alongadas no sentido longitudinal)
linha de deiscência
células de paredes delgadas
células de paredes espessas
Discussão
Morfologia dos frutos
Frutos do tipo cápsula são raros na família Apocynaceae, sendo encontrados na subfamília
Raulvolfioideae, como no gênero Allamanda L. (Sakane & Shepherd 1986) e Plectaneia Thou.
(Endress & Bruyns 2000), e, recentemente, descritos também para a subfamília Apocynoideae, como
em Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Gomes 2008). As cápsulas de espécies de Allamanda foram
descritas como loculicidas por Barroso et al. (1999) mas neste trabalho foi demonstrado que os frutos de
A. blanchetii e A. schottii são cápsulas septicidas e não loculicidas.
Cápsulas são frutos simples, secos ou carnosos, provenientes de ovário súpero ou ínfero,
bicarpelares a pluricarpelares, plurispérmicos e deiscentes mediante fendas longitudinais (Souza 2006).
Quando a deiscência ocorre ao longo da nervura mediana, produzindo valvas constituídas, cada uma, de
47
metades de dois carpelos adjacentes, as cápsulas são denominadas loculicidas (Richard 1808; Barroso
et al. 1999); já quando a deiscência ocorre ao longo de uma sutura ventral, produzindo valvas que
correspondem a carpelos completos, as cápsulas são septicidas (Richard 1808; Hertel 1959; Spjut
1994).
Tendo em vista que as valvas presentes nas cápsulas das duas espécies estudadas são originadas,
cada uma, a partir do desenvolvimento de carpelos inteiros e que as suturas longitudinais ocorrem nas
regiões marginais, pode-se concluir que as cápsulas estudadas são septicidas. Segundo Spjut (1994),
algumas vezes torna-se difícil distinguir cápsulas loculicidas de septicidas, o que não ocorreu neste
trabalho.
Estrutura do pericarpo
O pericarpo das duas espécies constitui-se de três zonas bem demarcadas: o epicarpo, o
mesocarpo e o endocarpo. Através de estudos ontogenéticos, pode-se observar, nas duas espécies, que o
epicarpo origina-se exclusivamente da epiderme externa do ovário, sendo, portanto, um epicarpo sensu
stricto. Em A. blanchetii as células epidérmicas do epicarpo possuem espessamento pecto-celulósico
mais pronunciado do que em A. schottii, indicando uma maior proteção contra radiação solar, visto que
esta espécie é comumente encontrada em lugares secos, como a caatinga (Sakane & Shepherd 1986).
A hipoderme, presente nas duas espécies, está localizada em contato direto com o epicarpo,
aumentando a resistência dos frutos. Este tecido já foi descrito para diversos folículos da família (Dave
& Kuriachen 1991; Thomas & Dave 1991; Souza & Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Gomes
2008).
Esclerócitos são freqüentemente encontrados em frutos (Roth 1977) e, no caso das espécies aqui
estudadas, formam um anel esclerenquimático. Esta camada mecânica torna o pericarpo extremamente
resistente e protege os feixes vasculares do acesso de fitófagos. Estas células também estão presentes
nos folículos de Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. (Souza & Moscheta 1992), Tabernaemontana
catharinensis A. DC. (Aguiar 2003) e Aspidosperma parvifolium A. DC. (Gomes 2008), mas, nestas
espécies, eles estão distribuídos por todo o mesocarpo, e não formam bainha.
A função dos cristais de oxalato presentes no pericarpo das duas espécies estudadas não é clara,
mas as funções comumente relatadas destas estruturas são as de proteção contra a herbivoria e regulação
da concentração de cálcio na planta (Webb 1999; Molano-Flores 2001; Franceschi & Nakata 2005). A
composição química, morfologia e localização destas estruturas na planta podem ser importantes para a
taxonomia (Baas 1981). No entanto, outros autores consideram os cristais como caracteres de baixo
valor diagnóstico, devido à variação que pode ocorrer entre organismos da mesma espécie. Nas duas
espécies estudadas, os cristais são muito freqüentes, podendo ser vistos na hipoderme, entre as células
parenquimáticas do mesocarpo ou no endocarpo.
Segundo Sharma (1964), espinhos são providos de feixes vasculares e podem se originar a partir
de ramos, pecíolos, estípulas ou outras partes de uma planta. Espinhos não são muito comuns em frutos
48
de espécies da família Apocynaceae, mas em Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadoideae)
(Kuriachen & Dave 1989), a ontogenia destas estruturas foi bem retratada. Nesse trabalho, os autores
observam que os espinhos são originados a partir de proliferação de células subepidérmicas em estádios
iniciais de desenvolvimento dos frutos e possuem praticamente todos os tecidos do mesocarpo, fato
também observado nas espécies estudadas neste trabalho. A rigidez apresentada pelos espinhos de A.
blanchetii e A. schottii se deve ao fato de serem constituídos por células epidérmicas de paredes
espessas, hipoderme colenquimática e anel esclerenquimático, além da presença de tecido vascular.
Laticíferos são células (ou fileiras de células) espalhadas por todo o corpo da planta, contendo
um fluido chamado látex (Esau 1965; Evert 2006), que possui uma composição química muito variada
(Fahn 1979). Sua função é de proteger a planta contra herbivoria, microorganismos e também selar
ferimentos (Fahn 1979, 1990; Farrell et al. 1991; Hunter 1994). Como a presença de laticíferos é
universal na família (Cronquist 1981), praticamente todos os trabalhos com frutos citam a presença
destas estruturas (Mahran et al. 1967; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990;
Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Souza &
Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Souza et al. 2004; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009). No entanto,
os laticíferos de A. blanchetii e A. schottii são ligeiramente diferentes dos já descritos, pois possuem
parede com espessamento irregular. Em P. riedelii (Aguiar et al. 2009) os laticíferos também possuem
parede pecto-celulósica espessada, principalmente nos ângulos de contato com as células
parenquimáticas que o margeiam, mas quando observado em corte longitudinal, apresenta padrão de
deposição de parede homogênea. Desta forma um estudo ultraestrutural, histoquímico e de
imunolocalização nos laticíferos de A. blanchetii e A. schottii seria interessante para esclarecer a
composição química e função dos laticíferos nestas espécies, já que possuem um padrão diferente das
demais espécies da família.
Aerênquima está presente no mesocarpo das duas espécies, mas é mais desenvolvido em A.
blanchetii, sendo considerada a principal característica distintiva entre os frutos das espécies. Este
tecido é comumente encontrado em plantas aquáticas para aumentar a flutuabilidade (Evans 2003), mas
quando presente em frutos possui também a função de diminuir a densidade do órgão para facilitar a
dispersão pelo vento ou água (Roth 1977). Espécies da subfamília Aclepiadoideae comumente possuem
este tecido no mesocarpo (Castro 1986; Kuriachen et al. 1992; Souza 2004), tendo provável relação com
o mecanismo de deiscência dos folículos. Assim sendo, acredita-se que, da mesma forma que nos
folículos em Asclepiadoideae, este tecido colabore com os mecanismos de deiscência das cápsulas.
O endocarpo, segundo Roth (1977) pode se originar da epiderme interna do ovário (endocarpo
sensu stricto), somente das camadas subepidérmicas do tecido fundamental ovariano, ou ainda da
combinação de ambas (endocarpo sensu lato). Nas duas espécies aqui estudadas, pôde-se verificar que o
endocarpo lignificado dos frutos maduros é derivado da epiderme interna do ovário e de camadas
subepidérmicas, sendo considerado endocarpo sensu lato. A lignificação completa só ocorre no fruto
em estádio maduro, garantindo, desta forma, o crescimento das sementes no interior da câmara seminal.
49
Em A. schottii as células do endocarpo, além de serem ligeiramente menos numerosas do quem
A. blanchetii, não possuem disposição cruzada, sendo este um critério distintivo entre as duas espécies.
Segundo Potgieter & Albert (2001) a presença de endocarpo lignificado seria uma característica
primitiva em Apocynaceae e foi descrita nos frutos drupáceos de Rauvolfia serpentina Benth. ex Kurz
(Gupta & Lamba 1981) e folículos de diversas outras espécies (Kuriachen et al. 1990; Kuriachen et al.
1991; Thomas & Dave 1991; Souza & Moscheta 1992; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1994;
Gomes 2008; Aguiar et al. 2009). Somente poucas espécies como Tabernaemontana catharinensis A.
DC. (Aguiar 2003) e Asclepias curassavica L. (Souza et al. 2004) possuem endocarpo não lignificado..
Conclusões
Através de estudos ontogenéticos e estruturais pode-se comprovar que os frutos de A. blanchetii
e A. schottii, anteriormente descritos como cápsulas loculicidas, são na realidade cápsulas septicidas
bivalvares. Apesar dos dois frutos terem pericarpo muito semelhante, alguns caracteres anatômicos,
como número e disposição das células do endocarpo e grau de desenvolvimento do aerênquima, podem
ser utilizados para o reconhecimento das espécies. Desta forma, este trabalho demonstrou a importância
da utilização de caracteres anatômicos de frutos na caracterização morfológica dos frutos, na distinção
das espécies e também na aquisição de dados que possam ser utilizados em futuras análises filogenéticas
e taxonômicas para o grupo.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela bolsa concedida ao primeiro autor durante a
elaboração deste trabalho e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
auxílio à pesquisa fornecido (proc. 01/12364-0). Agradecimentos especiais a Ana Paula de Souza
Caetano, por ter ajudado a processar parte do material utilizado neste trabalho.
Referências Bibliográficas
Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de Apocynaceae do
cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita, L.S. 2009. Ontogenia e estrutura do pericarpo de
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
50
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update oh the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L. & Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e sementes: morfologia
aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa, Imprensa Universitária (UFV).
Bass, P. 1981. A note on stomatal types and crystals in the leaves of Melastomataceae. Blumea 27: 475 –
479.
Castro, M.A. 1986. Anatomia del fruto de Araujia horotorum E. Fourn. (Asclepiadaceae). Parodiana 4:
195 – 203.
Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. New York, Columbia
University Press.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1990. Structure and development of the follicle of Asclepias curassavica L.
(Asclepiadaceae) with note on dehiscence. Beitrage zur Biologie der Pflanzen 65: 109 – 122.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of Periplocaceae follicles and
their taxonomic significance. Feddes Repertorium 102(1/2): 63 – 68.
Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Esau, K. 1965. Plant anatomy. 2nd ed. Tokyo, Toppan Company LTDA.
Evans, D.E. 2003. Aerenchyma formation. New Plytologist 161: 35 – 49.
Evert, R.F. 2006. Esau's plant anatomy: meristems, cells and tissues of the plant body – their
structure, function and development. New Jersey, John Wiley & Sons, Inc.
Fahn, A. 1979. Secretory tissues in plants. London, Academic Press.
Fahn, A. 1990. Plant anatomy. Oxford, Pergamon Press.
Farrel, B.D.; Dussourd, D.E. & Mitter, C. 1991. Escalation of plant defense: do latex/resin canals spur
plant diversification? American Naturalist 138: 881 – 900.
Franceschi, V.R. & Nakata, P.A. 2005. Calcium oxalate in plants: formation and function. Annual
Review of Plant Biology 56: 41 – 71.
Gerrits, P.O. & Smid, L. 1983. A new, less toxic polymerization system for the embedding of soft tissues
in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy 132: 81
– 85.
Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae: significado
ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521 – 534.
Gupta, V. & Lamba, L.C. 1981. Sclereids in the endocarp of Rauvolfia serpentina (L) Benth ex Kurz.
Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 90(1): 79 – 84.
Hertel, R.J.G. 1959. Contribuições para a fitologia teórica II. Algumas concepções na carpologia.
Humanitas 4: 1 – 43.
51
Hunter, J. R. 1994. Reconsidering the functions of latex. Tree 9: 1 – 5.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Khan, P.S.H. 1970. Structure and development of seed coat and fruit wall in Catharanthus pusillus G.
Don. Proceedings of the National Academy of Science 40(B): 22 – 25.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall ornamentations in
Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae). Proceedings of the Indian Academy of
Sciences – Plant Sciences 99(1): 15 – 20.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the follicle of Tylophora
dalzellii HK. F. Phytomorphology 40(3/4): 349 – 347.
Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and dehiscence of follicles of
Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae). Korean Journal of Botany 34(2): 107 – 112.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic significance of fruit walls
in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103(3/4): 179 – 193.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1993. Ultrastructural studies of the ovary wall and pericarp of
Asclepias curassavica L. II. Mesocarp development. Feddes Repertorium 104(3/4): 227 – 235.
Mahran, G.H.; Saber, A.H. & Rizkallah, M.M. 1967. Calotropis procera (Ait.) R. Br. IV. The fruits, its
macro - and micromorphology. Journal of Pharmacological Sciences of United Arab Republic 9:
81 – 100.
Molano-Flores, B. 2001. Herbivory and calcium concentrations affect calcium oxalate crystal
formation in leaves of Sida (Malvaceae). Annals of Botany 88: 387 – 391.
O'Brien, T.P.; Feder, N. & Mc Cully, M.E. 1964. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine
blue O. Protoplasma 59(2): 368 – 373.
Pearse, A.G.E. 1985. Histochemistry theoretical and applied. vol. 2. Edinburgh, C. Livingstone.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Richard, L.C. 1808. Démonstrations botaniques, ou analyse du fruit considéré em general. Paris,
Chez Gabon.
Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin, Gebrüder Borntraeger.
Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L. (Apocynaceae). Revista
Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.
52
Sharma, P.C. 1964. Morphology of fruit projections I. Ricinus communis L. and Datura metel L. Proc.
Natl. Acad. Sci. India B 34: 476 – 480.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas region, Minas Gerais,
Brazil. Darwiniana 40(1/4): 127 – 169.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2005. Allamanda L. Pp. 37 – 39. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Simões, A.O.; Rio, M.C.S. do; Castro, M. de M. & Kinoshita, L.S. 2007. Gynostegium morphology of
Mesechitae Miers (Apocynaceae, Apocynoideae) as it pertains to the classification of the tribe.
International Journal of Plant Sciences 94: 268 – 297.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
Souza, L.A. 2006. Fruto. Pp. 11 – 163. In: L.A. Souza (org.). Anatomia do fruto e da semente. Ponta
Grossa, UEPG.
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de Aspidosperma
polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de Biologia 52(3): 439 – 447.
Spjut, R.W. 1994. A systematic treatment of fruit types. Memoirs of the New York Botanical Garden
70: 1 – 82.
Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium indicum Mill.
(Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399 – 407.
Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae. Acta Societatis
Botanicorum Poloniae 63(1): 9 – 20.
Webb, M.A. & Arnott, H.J. 1999. A survey of calcium oxalate crystals and other mineral inclusions in
seeds. Scanning Electron Microscopy 3: 1109 – 1131.
53
Ca pít ulo 3
Ontogenia e estrutura do pericarpo na caracterização dos frutos de
Prestonia coalita (Vell.) Woodson (Apocynaceae)1
Shesterson Aguiar2, Sandra Maria Carmello-Guereiro2,3 e Luiza Sumiko Kinoshita2
Resumo: O presente trabalho foi realizado com o objetivo de descrever o pericarpo e caracterizar os frutos de Prestonia
coalita (Vell.) Woodson (Apocynaceae). Para a realização deste trabalho foram coletadas flores e frutos em vários estádios
de desenvolvimento. Os materiais foram processados no laboratório de anatomia vegetal seguindo técnicas usuais. O fruto
de P. coalita, anteriormente chamado de folículo, é uma cápsula septicida bicarpelar, sendo cada valva originada de um único
carpelo. O epicarpo, originado exclusivamente da epiderme externa do ovário, é formado por uma camada de células
epidérmicas de paredes pecto-celulósicas e cutícula espessas, estômatos, lenticelas e tricomas tectores. O mesocarpo
origina-se do mesofilo ovariano e é constituído por células colenquimatosas, células parenquimáticas, anel de fibras não
lignificadas, feixes vasculares bicolaterais, ilhas de floema e laticíferos. O endocarpo é formado por 1 a 2 camadas de
esclerócitos e a deiscência da cápsula ocorre pela ruptura na região de união das folhas carpelares e na região de união dos
carpelos.
Palavras – chave: Apocynoideae, cápsula septicida, anatomia, folículo
Introdução
Apocynaceae é uma das maiores e mais representativas famílias de Angiospermas, contendo em
seus limites atuais cerca de 400 – 480 gêneros e 4.300 – 4.800 espécies com distribuição pantropical e
em climas temperados (Albers & Meve 2001; Potgieter & Albert 2001; APG 2003), incluindo espécies
de diversos hábitos, como árvores, arbustos, subarbustos, lianas e ervas (Judd et al. 2002; Kinoshita
2005; Simpson 2007). Dentre as espécies pertencentes à família, algumas se destacam pelo grande
potencial econômico na produção de madeiras, como as perobas (Rizzini & Mors 1976); na produção de
borracha, como Funtumia elastica Stapf (Metcalfe Chalk 1983); mas muitas espécies apresentam
grande importância medicinal, como Catharanthus roseus G. Don, da qual são extraídas a vincristina e a
vimblastina, utilizadas no tratamento do câncer (Souza & Lorenzi 2008). Além disto, as flores brancas,
róseas e púrpuras em espécies de Mandevilla Lindl. (Almeida et al. 1988) têm valor paisagístico, assim
como as da espirradeira (Nerium oleander L.), chapéu-de-napoleão (Thevetia peruviana K. Schum.),
jasmim-manga (Plumeria Tourn. ex L.) e Allamanda L. (Souza & Lorenzi 2008).
A família Apocynaceae exibe uma variedade de tipos morfológicos de frutos, dentre eles
bacáceos, como os de Hancornia speciosa Gomes (Koch & Kinoshita 1999; Kinoshita & Simões 2005),
drupáceos, como os de Rauvolfia sellowii Müll. Arg. (Koch 2002, 2005), mericarpos articulados, como
os de Condylocarpon isthmicum (Vell.) A. DC. (Kinoshita 2005), cápsulas bivalvares, como as
presentes nos gênero Allamanda L. (Sakane & Shepherd 1986), folículos carnosos, como os de
1
2
3
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, vinculado ao programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas
Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
Autor para correspondência: smcg@unicamp.br
54
Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003), ou secos, como os presentes em espécies das
subfamílias Apocynoideae, Periplocoideae, Secamonoideae e Asclepiadoideae (Endress & Bruyns
2000; Endress et al. 2007).
Segundo a última classificação proposta para a família Apocynaceae, o gênero Prestonia R. Br.
está incluído na subfamília Apocynoideae Burnett e, dentro desta, na tribo Echiteae G. Don (Endress &
Bruyns 2000; Endress et al. 2007). Prestonia coalita (Vell.) Woodson, conhecida popularmente como
áurea, erva-de-lagarto ou cipó-de-leite, é a espécie mais comum do gênero, podendo ocorrer tanto em
beira de floresta estacional semidecídua quanto em formações de cerrado, caatinga e, mais raramente,
restinga (Rio & Kinoshita 2005).
O gênero tem sido descrito como apocárpico na literatura (Woodson 1936; Markgraf 1968;
Simões & Kinoshita 2002; Rio & Kinoshita 2005), mas recentemente, no trabalho de Gomes (2006), foi
verificado que P. coalita possui gineceu sincárpico de origem mista (congênita e pós-gênita). Desta
forma, Gomes (2008) sugere que os frutos desta espécie, anteriormente descritos como folículos
moniliformes unidos pelo ápice (Rio & Kinoshita 2005), são na verdade cápsulas bivalvares septicidas.
Trabalhos recentes demonstram que estudos ontogenéticos são de grande importância para a
correta classificação dos frutos e das camadas que compõem o pericarpo (Julio & Oliveira 2007;
Martins & Oliveira 2007; Cortez & Carmello-Guerreiro 2008; Aguiar et al. 2009). Desta forma, um
estudo ontogenético dos frutos de P. coalita é de fundamental importância para classificar corretamente
os frutos da espécie, além de poder levantar, junto com o trabalho de Aguiar et al. (2009), novos dados
morfoanatômicos que possam ser utilizados por taxonomistas na distinção das espécies do gênero e nos
trabalhos filogenéticos realizados para família, sendo, portanto, os principais objetivos do presente
trabalho.
Materiais e Métodos
Material Botânico
Para a realização deste trabalho foram utilizados botões florais, flores e frutos, em vários
estádios de desenvolvimento, de Prestonia coalita (Vell.) Woodson coletados a partir de indivíduos ?
Os exemplares foram identificados pela Profa.Dra. Sueli Maria Gomes (especialista na família) e
os materiais testemunha herborizados e incorporados ao Herbário UEC.
Metodologia
Os materiais coletados foram fixados em FAA (Johansen 1940) por 24 horas e colocados em
bomba à vácuo para facilitar a penetração do fixador, sendo posteriormente conservados em álcool
etílico 70%. Após este período os materiais foram incluídos em resina plástica (Gerrits & Smid 1983),
seccionados em micrótomo rotativo e as secções longitudinais e transversais, de 10µm
aproximadamente, foram coradas com azul de toluidina (O' Brien et al. 1964) para análise estrutural.
55
Algumas secções foram submetidas ao teste com floroglucina acidificada (Johansen 1940) para
detectar lignina, ao teste com Sudan black B (Pearse 1985) para análise de lipídios totais e ao reagente de
Lugol (Johansen 1940) para detectar amido. Outras secções foram submetidas à luz polarizada a fim de
evidenciar constituintes celulares birrefringentes, como cristais, amido e celulose (Evert 2006).
A nomenclatura utilizada para descrever as camadas do pericarpo foi baseada em Roth (1977) e
para descrever a morfologia dos frutos em Spjut (1994).
As ilustrações consistiram de esquemas, fotografias e fotomicrografias. O esquema da flor em
corte longitudinal foi obtido em câmara clara acoplada a microscópio. As fotomicrografias de alta
resolução foram obtidas em câmera digital acoplada ao microscópio Olympus BX 51, utilizando-se o
programa Olympus DP Controller, e utilizadas na confecção das pranchas, montadas no programa
CorelDraw X3.
Resultados
Morfologia
O fruto de P. coalita é uma cápsula septicida bivalvar (Fig. 1), sendo cada valva muito
semelhante a um fruto do tipo folículo (Fig. 6). As valvas são moniliformes (Fig. 1) e unidas entre si
(Fig. 6, 11 e 23) por toda a extensão do fruto. O fruto jovem possui tricomas tectores (Fig. 6, 7 e 12) e
coloração verde; à medida que o fruto amadurece parte dos tricomas tectores cai, permanecendo
somente poucos no pericarpo do fruto maduro, e a coloração torna-se marrom. Cada valva do fruto
assemelha-se a um folículo por ser fechada e apresentar região de deiscência, que representa a região de
ligação da folha carpelar (Fig. 11 e 23). Além desta, existe também a região de deiscência das valvas, que
corresponde à região de união entre os carpelos (Fig. 6, 11 e 23). Na maturidade, ocorre primeiro ruptura
na região de deiscência da folha carpelar (Fig. 23); posteriormente, ocorre ruptura na região de união
dos carpelos, com conseqüente separação das valvas e liberação de diversas sementes comosas. Os
frutos se originam de flores com gineceu sincárpico, bicarpelar, bilocular, de ovário semi-ínfero e
placentação sutural (Fig. 2 e 4).
Anatomia
Parede do ovário
A parede do ovário, em cada um dos carpelos, é constituída de uma epiderme externa, de
mesofilo ovariano e de uma epiderme interna (Fig. 3).
A epiderme externa é unisseriada, com células de citoplasma abundante, núcleo esférico de
posição central e cutícula delgada (Fig. 3). Já a epiderme interna, também unisseriada, é constituída por
células maiores e de citoplasma de aspecto menos denso (Fig. 3), levemente alongadas no sentido
transversal.
O mesofilo ovariano é formado por cerca de 10 camadas de células parenquimáticas em meio às
quais são encontrados laticíferos e feixes vasculares (Fig. 2 e 3). Os laticíferos são cilíndricos,
56
1
1cm
Ee
Mf
Fig. 5
Ei
2
50µm
4
25µm
50µm
}
Fv
3
5
Figuras 1 – 5. Prestonia coalita (Vell.) Woodson. 2, 3 e 5. Secções transversais. 1. Fruto maduro. 2. Secção na região do ovário. 3. Detalhe
da parede do ovário (seta = laticífero). 4. Esquema da flor, em corte longitudinal, na região do ovário. 5. Pormenor da figura 2,
evidenciando a região de união dos carpelos (seta branca) e ligação da folha carpelar (seta preta). EE = epiderme externa; Ei = epiderme
interna; Fv = feixe vascular; Mf = mesofilo ovariano
alongados, de paredes pecto-celulósicas pouco espessas e látex de aspecto pouco denso (Fig. 3), sendo
facilmente confundidos com as demais células parenquimáticas do mesofilo. O sistema vascular de
cada carpelo consiste de 8 a 10 feixes vasculares pouco diferenciados que se concentram na região
mediana de todo tecido fundamental (Fig. 2 e 3).
Os carpelos são unidos entre si através de uma região formada por células parenquimáticas (Fig.
5); próximo a esta região também se observa a região de ligação de cada folha carpelar (Fig. 5).
57
Pericarpo
Com base nas alterações anatômicas que ocorrem durante o desenvolvimento do fruto, como
aparecimento de tricomas no epicarpo, formação das lenticelas, diferenciação das fibras no mesocarpo e
lignificação das células do endocarpo, foram utilizados dois estádios de desenvolvimento para
descrever o pericarpo: estádio I – fruto jovem e estádio II – fruto maduro. Para melhor entendimento, o
pericarpo dos frutos foi dividido em três regiões anatômicas estruturalmente distintas nos dois estádios
de desenvolvimento: epicarpo, mesocarpo e endocarpo.
Estádio I – O epicarpo, derivado exclusivamente da epiderme externa do ovário, é constituído por uma
camada de células de paredes pecto-celulósicas periclinais externas ligeiramente convexas, com
núcleos proeminentes e centrais, recobertas por cutícula delgada (Fig. 8 e 9). Tricomas tectores (Fig. 6, 7
e 12), estômatos (Fig. 9) e lenticelas em início de desenvolvimento (Fig. 10) também estão presentes no
epicarpo. Os tricomas são multicelulares e unisseriados (Fig. 7 e 12), e originam-se a partir do
alongamento e divisões periclinais das células epidérmicas durante o desenvolvimento dos frutos, visto
que não estão presentes no ovário.
Parênquima, feixes vasculares, ilhas de floema, laticíferos e fibras em diferenciação são
encontradas no mesocarpo (Fig. 7) que se desenvolve a partir do mesofilo ovariano. Durante o
desenvolvimento, as células do mesocarpo não realizam muitas divisões celulares no sentido de
aumentar a espessura do pericarpo, pois o número de camadas de células é muito semelhante ao que se
observa no ovário: cerca de 10 a 15 camadas (Fig. 7).
Na região mediana do mesocarpo de cada valva, encontra-se o sistema vascular do fruto, que é
constituído por 8 a 10 feixes vasculares e por diversas ilhas de floema. Apesar de possuírem elementos
de condução em diferentes estádios de desenvolvimento, os feixes vasculares bicolaterais são
facilmente distinguidos no mesocarpo (Fig. 7 e 11). As ilhas de floema encontram-se sempre entre os
feixes vasculares do mesocarpo.
Fibras em diferenciação situam-se nas proximidades do floema externo dos feixes, sendo
derivadas de células parenquimáticas que se alongam e iniciam a deposição de parede secundária.
Os laticíferos possuem formato cilíndrico e alongado (Fig. 12) e estão distribuídos por todo o
mesocarpo do fruto, espalhados entre as células parenquimáticas (Fig. 7, 10 e 12). Diferente do que foi
verificado no ovário, os laticíferos podem ser facilmente reconhecidos pela parede pecto-celulósica
levemente espessada nos ângulos de contato com as células adjacentes ou pelo conteúdo de aspecto
denso (Fig. 7 e 10) que apresentam.
O endocarpo é constituído por uma camada de células epidérmicas de paredes pecto-celulósicas
delgadas (Fig. 7 e 12), derivada, exclusivamente, da epiderme interna do ovário. As células do
endocarpo, da mesma forma que as da epiderme interna do ovário, são alongadas no sentido transversal
do fruto (Fig. 7).
As valvas da cápsula bicarpelar são unidas entre si (Fig. 6) por uma região de conação, formada
58
Ep
Ms
Cs
Fv
Fig.11
6
200µm
100µm
En
7
Cu
30µm
8
9
30µm
10
40µm
Ep
Ms
Fv
50µm
11
25µm
En
12
Figuras 6 – 12. Secções do fruto jovem (estádio I) de Prestonia coalita (Vell.) Woodson. 6 - 11. Secções transversais. 12. Secção
longitudinal. 6. Aspecto geral das valvas do fruto. 7. Detalhe do pericarpo (seta = laticífero). 8. Detalhe do epicarpo. 9. Detalhe de um
estômato (seta). 10. Início de formação de lenticela (seta branca); seta preta = laticífero. 11. Pormenor da figura 6, evidenciando a região de
união dos carpelos (seta branca) e a região de ligação da folha carpelar (seta preta). 12. Detalhe do pericarpo (seta branca = laticífero; seta
preta = tricoma tector). Cs = cavidade seminal; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Fv = feixe vascular; Ms = mesocarpo
59
por células parenquimáticas (Fig. 11). As valvas são fechadas e possuem, cada uma, uma região de
deiscência que consiste no local de união da folha carpelar, constituída por células parenquimáticas
pequenas, de paredes delgadas e citoplasma de aspecto denso (Fig. 11).
Estádio II – As principais mudanças que ocorrem no epicarpo dos frutos são o espessamento da parede
das células epidérmicas (Fig. 13, 16, 17 e 22) e a diminuição na quantidade de tricomas tectores. O
epicarpo é constituído ainda por uma camada de células epidérmicas, porém nesta fase as células
possuem espessamento pecto-celulósico de parede (Fig. 13, 16, 17 e 22). O formato das células
permanece oval e o contorno da parede periclinal continua sinuoso, sendo recobertas por cutícula que se
torna mais espessa (Fig. 24). À medida que o fruto vai crescendo, ocorre diminuição dos tricomas
tectores, sendo raramente encontrados nos frutos maduros. Ocorre também desenvolvimento e aumento
na quantidade de lenticelas nos frutos (Fig. 20 e 21) que são constituídas por células suberosas (Fig. 21).
Estômatos ainda podem ser encontrados no epicarpo (Fig. 22), porém são menos freqüentes. Em
algumas regiões do fruto observa-se a formação de uma periderme com células suberosas de paredes
delgadas.
O mesocarpo possui o mesmo número de camadas do estádio anterior, indicando que não houve
muitas divisões celulares entre os estádios I e II (Fig. 13, 16 e 20). A mudança mais expressiva neste
estádio é a diferenciação das fibras (Fig. 13, 14, 15, 16, 19 e 20), da hipoderme colenquimática (Fig. 13,
16 e 17) e dos feixes vasculares (Fig. 13, 15 e 23).
Em contato direto com o epicarpo existe uma camada de células colenquimatosas de paredes
pecto-celulósicas ligeiramente espessadas (Fig. 13, 16 e 17), formando uma hipoderme. Estas células
são levemente alongadas no sentido longitudinal do fruto (Fig. 16) e podem apresentar cloroplastos.
Neste estádio, as células parenquimáticas do mesocarpo possuem paredes pecto-celulósicas
mais espessas (Fig. 13, 16 e 20) quando comparadas com o estádio anterior. A última camada de células
parenquimáticas do mesocarpo, em contato direto com o endocarpo, é formada por células pequenas, de
paredes delgadas e sinuosas sendo facilmente distinguidas das demais.
As fibras, originadas a partir de células parenquimáticas do fruto jovem, encontram-se
totalmente diferenciadas (Fig. 13, 14, 15, 16, 19 e 20). São alongadas no sentido longitudinal do fruto
(Fig. 16 e 19) e formam um anel periférico, quase contínuo, por todo o mesocarpo (Fig. 13 e 20), estando
quase sempre em associação com os feixes vasculares (Fig. 13 e 15) e com as ilhas de floema (Fig. 13, 14
e 20). Estas células possuem parede secundária extremamente espessa (Fig. 14 e 19), com um padrão
diferente do esperado para este tipo celular, pois apresentam coloração púrpura e não verde ao ser corada
com azul de toluidina (Fig. 13, 14, 15, 16, 19 e 20). Com a realização do teste de floroglucina
acidificada, foi constatada a ausência de lignina na parede das fibras e confirmada a natureza pectocelulósica da mesma. Em algumas fibras, constatou-se a presença de citoplasma e núcleo (Fig. 14),
mostrando que ainda estão vivas neste estádio de desenvolvimento.
Os feixes vasculares, agora totalmente diferenciados (Fig. 13 e 15), distribuem-se ainda na
60
Ep
Ep
Hp
Hp
Fb
Fb
En
13
50µm
En
50µm
16
Cu
Fb
Hp
}
17
25µm
If
14
25µm
Fb
Fl
Xi
Fl
50µm
En
15
50µm
18
50µm
19
Figuras 13 – 19. Secções do fruto maduro (estádio II) de Prestonia coalita (Vell.) Woodson. 13, 14, 15 e 17. Secções transversais. 16, 18 e
19. Secções longitudinais. 13. Aspecto geral do pericarpo (setas brancas = laticíferos; seta preta = ilha de floema). 14. Detalhe das fibras,
laticíferos (setas pretas) e ilha de floema (seta branca = núcleo da fibra). 15. Detalhe do feixe vascular bicolateral e do endocarpo (seta =
laticífero). 16. Aspecto geral do pericarpo. 17. Detalhe do epicarpo e da hipoderme colenquimática (seta = laticífero). 18. Laticífero com
látex denso (seta). 19. Fibras (seta = extremidade afilada de uma fibra). Cu = cutícula; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Hp = hipoderme; If =
ilha de floema; Fb = fibra; Fl = floema; Xi = xilema
61
Le
Hp
22
25µm
Cs
Fv
Fb
}If
En
50µm
20
50µm
Cs
23
Ep
25µm
21
20µm
24
Figuras 20 – 24. Secções transversais do fruto maduro (estádio II) de Prestonia coalita (Vell.) Woodson. 20, 22 e 23. Azul de toluidina. 21
e 24. Teste com Sudan black B. 20. Aspecto geral do pericarpo do fruto (setas brancas = laticíferos). 21. Lenticela; notar suberina nas
paredes das células. 22. Detalhe da epiderme com estômato e hipoderme colenquimática. 23. Detalhe da região de união das valvas (seta
preta) e da linha de deiscência de cada valva (seta branca). 24. Detalhe do epicarpo com cutícula (seta branca) e do laticífero (seta preta).
En = endocarpo; Ep = epicarpo; Hp = hipoderme; If = ilha de floema; Fb = fibra; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Xi = xilema
região mediana do mesocarpo (Fig. 13), internamente ao anel de fibras. Todos os feixes encontrados são
bicolaterais (Fig. 15), e possuem o floema interno (voltado para o endocarpo) mais desenvolvido que o
externo, que é protegido pelas fibras. As ilhas de floema (Fig. 13, 14 e 20) são mais distinguíveis que no
estádio anterior e ocorrem somente na região interfascicular.
Os laticíferos (Fig. 13, 14, 15, 18 e 20) tornam-se mais evidentes no mesocarpo, devido à
espessura da parede (Fig. 14), que é mais pronunciada nos ângulos de contato entre as células
parenquimáticas que o circundam (Fig. 12), além do fato de possuírem formato alongado (Fig. 18) e
conteúdo de aspecto denso (Fig. 14, 15, 18 e 20). Nota-se que os laticíferos mais próximos ao epicarpo
(Fig. 13 e 17) são menos calibrosos que os localizados na região mediana do mesocarpo ou próximos ao
endocarpo.
62
Durante o amadurecimento do fruto, as células do endocarpo produzem parede secundária
espessa e se transdiferenciam em esclerócitos (Fig. 13, 15, 16 e 20). Estes esclerócitos são lignificados,
pois coram em verde com azul de toluidina (Fig. 13, 15, 16 e 20) e em vermelho com floroglucina
acidificada, sendo revestidos por cutícula delgada. São células alongadas preferencialmente no sentido
transversal (Fig. 13 e 20) do fruto, mas próximo a região de deiscência, encontram-se células alongadas
no sentido longitudinal (Fig. 23). Na maior parte do pericarpo o endocarpo é constituído por apenas uma
camada de células, mas em alguns trechos podemos encontrar duas camadas de células, sendo a segunda
derivada do mesofilo ovariano (Fig. 16). Em algumas regiões o endocarpo parece ser bisseriado, pelo
fato das extremidades das células alongadas se sobreporem (Fig. 13).
Neste estádio de desenvolvimento, o fruto ainda encontra-se fechado, portanto ainda observa-se
as duas regiões de deiscência: a região de união de cada valva e a região de união entre as valvas do fruto
(Fig. 23), ambas constituídas por células parenquimáticas de paredes delgadas.
Discussão
Classificação morfológica
Frutos de muitas espécies de Prestonia R. Br. têm sido descritos como foliculares (Woodson
1936; Markgraf 1968; Rio & Kinoshita 2005) ou do tipo folicário (Aguiar et al. 2009), possuindo, em
muitos casos, os frutículos unidos pelo ápice, separando-se na maturidade. O fruto de P. coalita tem sido
referido na literatura como par de folículos (Simões & Kinoshita 2002; Rio & Kinoshita 2005) ou como
cápsula septicida (Gomes 2008). Frutos do tipo cápsula estão descritos somente nas subfamílias
Rauvolfioideae, como os de Allamanda L. (Sakane & Shepherd 1986), originados a partir de gineceu de
sincarpia mista (Gomes 2006), e Plectaneia Thou. (Endress & Bruyns 2000).
O termo folículo, empregado para a maioria dos representantes do gênero, refere-se a frutos
unicarpelares e univalvares que apresentam deiscência por uma única sutura longitudinal (Judd 1985),
que pode ocorrer na região ventral (Linnaeus 1759) ou, raramente, na região dorsal (Souza 2006). Já o
termo cápsula é empregado para frutos simples, secos ou carnosos, provenientes de ovário súpero ou
ínfero, bicarpelares a pluricarpelares, plurispérmicos e deiscentes mediante fendas longitudinais (Souza
2006). Quando a deiscência ocorre ao longo da nervura mediana, produzindo valvas constituídas, cada
uma, de metades de dois carpelos adjacentes, as cápsulas são denominadas loculicidas (Barroso et al.
1999); quando a deiscência ocorre ao longo de uma sutura ventral, produzindo valvas que
correspondem a carpelos completos, as cápsulas são septicidas (Hertel 1959; Spjut 1994).
Por meio de estudos ontogenéticos, pode-se concluir que os frutos de P. coalita são na verdade
cápsulas septicidas bivalvares, pois são unidas através de conexão de tecidos por todo o comprimento do
fruto e não somente pelo ápice como sugerido por Rio & Kinoshita (2005). Apesar de cada valva do
fruto de P. coalita ser muito semelhante morfológica e anatomicamente a um folículo, foi observado por
Gomes (2006) e no presente trabalho que as flores possuem gineceu sincárpico, sendo desta forma
incoerente a classificação dos frutos como folículos. Assim sendo, os resultados deste trabalho
63
corroboram com o trabalho de Gomes (2008) que registra pela primeira vez a existência de cápsula
septicida no gênero e para a subfamília Apocynoideae, além de enfatizar a necessidade de estudos
ontogenéticos para corretas descrições morfológicas.
Outros frutos de morfologia semelhante à de P. coalita já foram estudados, como os de Nerium
oleander L. (Thomas & Dave 1991), Parsonsia spiralis Wall., Vallaris solanaceae O. Ktze. e Wrightia
tomentosa Roem. & Schult. (Thomas & Dave 1994) e foram tratados como “folículos fusionados”. Com
base nos resultados do presente trabalho sugere-se que sejam realizados estudos da mesma natureza nos
frutos acima mencionados, com o objetivo de verificar se não se tratam de cápsulas septicidas, da
mesma forma que os frutos de P. coalita.
Estrutura do pericarpo
O epicarpo de P. coalita é classificado como sensu stricto, pois se origina exclusivamente da
epiderme do ovário, e assemelha-se muito com o de Prestonia riedelii (Müll. Arg) Markgr. (Aguiar et al.
2009), por apresentar uma camada de células, estômatos, cutícula e tricomas tectores multicelulares.
Nossas observações contradizem o trabalho de Gomes (2008), que ao estudar frutos maduros de P.
coalita considerou o epicarpo da espécie como multisseriado sensu lato, sendo constituído pela
epiderme unisseriada e por uma camada de colênquima.
Epicarpo unisseriado é muito comum na família Apocynaceae e já foi descrito para várias
espécies (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Dave &
Kuriachen 1990; Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al. 1992; Souza & Moscheta 1992; Thomas &
Dave 1994; Aguiar 2003; Souza et al. 2004; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009). No entanto epicarpo
multisseriado já foi descrito para Tylophora dalzellii Hook. f. (Kuriachen et al. 1990), Hemidesmus
indicus R. Br. (Dave & Kuriachen 1991), N. oleander (Thomas & Dave 1991), Aganosma caryophyllata
G. Don, Holarrhena antidysenteria (L.) Wall., Strophanthus wallichii A. DC., V. solanacea, Wrightia
tinctoria (Roxb.) R. Br., W. tomentosa (Thomas & Dave 1994) e Aspidosperma parvifolium A. DC.
(Gomes 2008), sendo que em todas estas espécies o epicarpo é considerado sensu lato, pois é formado
por uma camada de células epidérmicas e camadas subseqüentes de células colenquimáticas e/ou
esclerenquimáticas subepidérmicas. Somente em algumas regiões do pericarpo de A. caryophyllata
(Thomas & Dave 1994), observa-se epicarpo multisseriado sensu stricto.
Cutícula espessa, observada nos folículos de P. coalita, é um caráter muito comum em frutos de
Apocynaceae (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et
al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991; Souza & Moscheta
1992; Kuriachen et al. 1993; Thomas & Dave 1994; Aguiar 2003; Aguiar et al. 2009). A cutícula possui
papel fundamental na diminuição da perda de água para o ambiente (Thomas & Dave 1994), sendo esta
função de grande importância em P. riedelii visto que esta planta está submetida a altas intensidades
luminosas, pois geralmente é encontrada em encostas e bordas de matas (Aguiar et al. 2009). Estriações
cuticulares estão presentes em folículos de Calotropis procera (Ailton) W. T. Ailton (Mahran et al.
64
1967; Dave & Kuriachen 1987; Kuriachen et al. 1991), Asclepias curassavica L. (Dave & Kuriachen
1990), T. dalzellii (Kuriachen et al. 1990), Calotropis gigantea W. T. Ailton e Tylophora indica Merr.
(Kuriachen et al. 1992), mas não foram observadas em P. coalita.
Tricomas de cobertura multicelulares e unisseriados foram observados no epicarpo de P. coalita,
da mesma forma que em C. procera (Mahran et al. 1967; Dave & Kuriachen 1987), Catharanthus
roseus G. Don (Zala et al. 1976), Araujia hortorum E. Fourn. (Castro 1986), Pergularia daemia
(Forssk.) Chiov. (Kuriachen & Dave 1989), A. caryophyllata, Ichnocarpus frutescens R. Br. e W.
tinctoria (Thomas & Dave 1994) e P. riedelii (Aguiar et al. 2009), tendo provável função de contribuir
para a redução da transpiração. Já em H. indicus (Dave & Kuriachen 1991), C. roseus, P. spiralis e V.
solanacea (Thomas & Dave 1994) os tricomas são unicelulares. Somente no epicarpo de N. oleander
(Thomas & Dave 1991) e de T. indica (Kuriachen et al. 1992) existem tricomas uni e multicelulares.
Da mesma forma que P. coalita, praticamente todos os frutos estudados de espécies de
Apocynaceae possuem estômatos (Mahran et al. 1967; Zala et al. 1976; Dave & Kuriachen 1987;
Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991;
Thomas & Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1994; Gomes 2008), sendo classificados
como paracíticos, anomocíticos ou ciclocíticos. Em Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. (Souza &
Moscheta 1992), P. spiralis e S. wallichii (Thomas & Dave 1994), A. parvifolium e Mesechites
mansoana (A. DC.) Woodson (Gomes 2008) os estômatos são substituídos por lenticelas, fato
observado também neste trabalho.
Fibras não lignificadas estão presentes no mesocarpo de P. coalita e são semelhantes às
encontradas em P. riedelii (Aguiar et al. 2009) e em diversas outras espécies da família (Thomas & Dave
1994). Kuriachen et al. (1990) denominaram estas células de fibras celulósicas, termo utilizado por
pesquisadores em outros trabalhos (Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1992) para nomear as
células formadoras das bainhas vasculares. Neste trabalho, assim como no de Gomes (2008) e no de
Aguiar et al. (2009), foi realizado o teste com floroglucina acidificada para confirmar a ausência de
lignina nas fibras e a natureza pecto-celulósica das mesmas. Segundo Esau (1965), a presença de lignina
não é uma condição indispensável às fibras, pois fibras extra-xilemáticas podem ou não se apresentar
lignificadas. Nas espécies descritas em outros trabalhos (Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al.
1992; Thomas & Dave 1994) as fibras protegem os feixes vasculares, fato também observado no
pericarpo de P. coalita. Percebe-se que estas células não estão presentes somente em frutos, pois Larrosa
& Duarte (2005) também encontraram fibras sem lignificação no pecíolo de Himatanthus sucuuba
(Spruce ex Müll. Arg.) Woodson. Segundo Roth (1977), as fibras do mesocarpo dos frutos atuam como
um tecido de resistência, mas no caso de P. coalita, além desta função, acredita-se que estas células
contribuam também para a proteção contra fitófagos, por protegerem o floema externo dos feixes
vasculares, e na deiscência do fruto, por exibir grande capacidade de absorção e perda de água, criando
uma tensão higroscópica no pericarpo. A hidrofilia apresentada pela parede faz com que esta célula
tenha capacidade e facilidade de perder água rapidamente, auxiliando o mecanismo higroscópico-
65
xerocástico de deiscência do fruto. Em dias quentes, estas células perdem água e a parede sofre retração
que, junto da retração das células parenquimáticas do mesocarpo, contribui para a contração do
pericarpo e conseqüente ruptura na região de deiscência.
Segundo Gorshkova & Morvan (2006), fibras não lignificadas são semelhantes a fibras
gelatinosas, pois os autores a tratam como sinônimos. Neste trabalho, pode-se observar que as fibras não
lignificadas do mesocarpo de P. coalita são diferentes das fibras gelatinosas, pois as últimas apresentam
a camada mais externa lignificada e a camada mais interna (camada G) não lignificada, rica em celulose
e hidrofílica (Ranjani & Krishnamurthy 1988; Evert 2006). Com a realização do teste de floroglucina
acidificada, pode-se constatar que as fibras dos frutos de P. coalita, da mesma forma que as presentes
nos frutos de P. riedelii (Aguiar et al. 2009), não possuem lignina em nenhuma de suas camadas,
fazendo com que não possam ser classificadas como gelatinosas.
Laticíferos são células (ou fileiras de células) espalhadas por todo o corpo da planta, contendo
um fluido chamado látex (Esau 1965; Evert 2006), que possui uma composição química muito variada
(Fahn 1979). Sua função é de proteger a planta contra herbivoria, microorganismos e também selar
ferimentos (Fahn 1979, 1990; Farrell et al. 1991; Hunter 1994). Os laticíferos também se desenvolvem
em frutos e já foram reportados em várias espécies como Ficus carica L. (Moraceae), Carica papaya L.
(Caricaceae) e Papaver somniferum L. (Papaveraceae) (Roth 1977). Como a presença de laticíferos é
universal na família (Cronquist 1981), diversos trabalhos citam a presença de destas estruturas em
frutos (Mahran et al. 1967; Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Dave &
Kuriachen 1991; Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Souza &
Moscheta 1992; Thomas & Dave 1994; Souza et al. 2004; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009). Em P.
coalita, os laticíferos estão localizados por todo o mesocarpo do fruto, apresentando parede pectocelulósica espessada, principalmente nos ângulos de contato com as células parenquimáticas que o
margeiam, e conteúdo de aspecto denso. Na maioria dos trabalhos de anatomia de frutos em
Apocynaceae (Castro 1986; Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Dave & Kuriachen 1991;
Kuriachen et al. 1991; Thomas & Dave 1991; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1994; Souza et al.
2004), os laticíferos são descritos como não-articulados, mas em nenhum destes trabalhos estudou-se
com detalhe o desenvolvimento destas estruturas nos frutos. Por meio de estudos de ontogenia,
Demarco et al. (2006) demonstraram a ocorrência de laticíferos articulados em Aspidosperma australe
Müll. Arg. e Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., sugerindo o mesmo para outras espécies da família
Apocynaceae.
O sistema vascular de P. coalita consiste de feixes vasculares bicolaterais e ilhas de floema.
Feixes vasculares bicolaterais são freqüentes em frutos de espécies de Apocynaceae (Dave & Kuriachen
1991; Kuriachen et al. 1990; Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1991;
Thomas & Dave 1994; Aguiar et al. 2009) e é o único tipo de feixe encontrado no mesocarpo de P.
coalita. Outros tipos de feixes vasculares, como colaterais (Dave & Kuriachen 1991; Kuriachen et al.
1990; Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al. 1992; Thomas & Dave 1991; Thomas & Dave 1994;
66
Aguiar et al. 2009) e concêntricos (Souza & Moscheta 1992; Gomes 2008), também foram encontrados
em frutos de espécies da família. O floema externo dos feixes e as ilhas de floema são margeados por
fibras, que certamente garantem uma proteção contra o acesso de fitófagos à seiva.
O endocarpo, segundo Roth (1977), pode se originar da epiderme interna do ovário (endocarpo
sensu stricto), somente das camadas subepidérmicas do tecido fundamental ovariano, ou ainda da
combinação de ambas (endocarpo sensu lato). Em P. coalita, o endocarpo desenvolve-se a partir da
epiderme interna do ovário e, somente em algumas regiões, de uma camada subepidérmica interna do
mesofilo ovariano, diferente do que foi observado por Aguiar et al. (2009) para P. riedelii, que possui
endocarpo bisseriado e de disposição cruzada. A lignificação do endocarpo de P. coalita ocorre somente
no fruto maduro, facilitando, desta forma, o crescimento das sementes na cavidade seminal.
A tabela (2) mostra os principais caracteres anatômicos presentes em frutos de P. coalita
(presente trabalho e Gomes 2008) e P. riedelii (Aguiar et al. 2009).
Tabela 2. Tabela comparativa entre as principais características morfológicas e anatômicas presentes nas flores e frutos de
Prestonia coalita (Vell.) Woodson (presente trabalho e Gomes 2008) e Prestonia. riedelii (Müll. Arg) Markgr. (Aguiar et al.
2009). + = presente; - = ausente; ... = dado não informado
Características morfológicas e
anatômicas
posição do ovário
união dos carpelos
tipo de fruto
P. coalita
P. coalita
P. riedelii
(presente trabalho)
(Gomes 2008)
(Aguiar et al. 2009)
semi-ínfero
...
súpero
sincárpico
sincárpico
hemi-sincárpico
cápsula septicida bivalvar
cápsula bicarpelar septicida
folicário
número de camadas do epicarpo
1
2
1
estômatos
+
+
-
cutícula
+
...
+
tricomas tectores
+
+
+
espessamento de parede das
+
...
+
lenticelas
+
+
-
periderme
+
...
-
células epidérmicas
o
n de camadas no mesocarpo
10 a 15
8 a 11
30 a 35
hipoderme
+
-
+
fibras não lignificadas
+
+
+
laticíferos
+
+
+
ilhas de floema
+
...
+
bicolateral
bicolateral
colateral e bicolateral
1a2
1a2
2
tipo de célula do endocarpo
esclerócito
fibra
esclerócito
lignificação das células do
+
+
+
cruzada (transversal e
transversal
cruzada (transversal e
tipo de feixe vascular
número de camadas do endocarpo
endocarpo
orientação das células do
endocarpo
tipo de deiscência
região de deiscência
longitudinal)
longitudinal)
septicida e sutural
septicida
marginal
+
+
+
67
Conclusões
O estudo ontogenético foi fundamental na caracterização morfológica dos frutos de P. coalita
que, anteriormente descritos como foliculares, são na verdade cápsulas septicidas bivalvares. A análise
da estrutura do pericarpo, além de ser importante na classificação morfológica dos frutos, demonstrou
ser importante nos estudos filogenéticos, pois a espécie possui características anatômicas
compartilhadas por várias espécies da família, além de possuir características anatômicas próprias, que
podem ser utilizadas para a identificação da mesma.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela bolsa concedida ao primeiro autor durante a
elaboração deste trabalho e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
auxílio à pesquisa fornecido (proc. 01/12364-0). Agradecimentos especiais a Dra. Maria Carolina
Scatolin do Rio e a Profa. Dra. Sueli Maria Gomes por terem cedido parte do material botânico utilizado
na elaboração deste trabalho.
Referências Bibliográficas
Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de Apocynaceae do
cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita, L.S. 2009. Ontogenia e estrutura do pericarpo de
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
Almeida, S.P. de; Proença, C.E.B.; Sano, S.M. & Ribeiro, J.F. 1988. Cerrado: espécies vegetais úteis.
Planaltina, Embrapa/CPAC.
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update oh the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L. & Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e sementes: morfologia
aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa, Imprensa Universitária (UFV).
Castro, M.A. 1986. Anatomia del fruto de Araujia horotorum E. Fourn. (Asclepiadaceae). Parodiana 4:
195 – 203.
Cortez, P.A. & Carmello-Guerreiro, S.M. 2008. Ontogeny and structure of the pericarp and the seed coat
of Miconia albicans (Sw.) Triana (Melastomataceae) from “cerrado”, Brazil. Revista Brasileira de
Botânica 31(1): 71 – 79.
68
Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. New York, Columbia
University Press.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1987. Structure and development of stomata on the fruit wall of Calotropis
procera (Arr.) R. BR. Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 97(6):
449 – 456.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1990. Structure and development of the follicle of Asclepias curassavica L.
(Asclepiadaceae) with note on dehiscence. Beitrage zur Biologie der Pflanzen 65: 109 – 122.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of Periplocaceae follicles and
their taxonomic significance. Feddes Repertorium 102(1/2): 63 – 68.
Demarco, D.; Kinoshita, L.S. & Castro, M. de M. 2006. Laticíferos articulados anastomosados – novos
registros para Apocynaceae. Revista Brasileira de Botânica 29: 133 – 144.
Endress, M.E. Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in Apocynaceae: the enlightenment,
an introduction. Annals of the Missouri Botanical Garden 94(2): 260 – 267.
Esau, K. 1965. Plant anatomy. 2nd ed. Tokyo, Toppan Company LTDA.
Evert, R.F. 2006. Esau's plant anatomy: meristems, cells and tissues of the plant body – their
structure, function and development. New Jersey, John Wiley & Sons, Inc.
Fahn, A. 1979. Secretory tissues in plants. London, Academic Press.
Fahn, A. 1990. Plant anatomy. Oxford, Pergamon Press.
Farrel, B.D.; Dussourd, D.E. & Mitter, C. 1991. Escalation of plant defense: do latex/resin canals spur
plant diversification? American Naturalist 138: 881 – 900.
Gerrits, P.O. & Smid, L. 1983. A new, less toxic polymerization system for the embedding of soft tissues
in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy 132: 81
– 85.
Gomes, S.M. 2006. Ontogênese floral com ênfase no estudo do gineceu em Apocynaceae s.l. Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae: significado
ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521 – 534.
Gorshkova, T. & Morvan, C. 2006. Secondary cell-wall assembly in flax phloem fibers: role of
galactans. Planta 223: 149 – 158.
Hertel, R.J.G. 1959. Contribuições para a fitologia teórica II. Algumas concepções na carpologia.
Humanitas 4: 1 – 43.
Hunter, J. R. 1994. Reconsidering the functions of latex. Tree 9: 1 – 5.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company.
Judd, W.S. 1985. A revised traditional/descriptive classification of fruits for using in floristics and
teaching. Phytologia (Huntsville) 58 (4): 233 – 242.
69
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Julio, P.G.S. & Oliveira, D.M.T. 2007. Morfoanatomia e ontogênese do fruto e da semente de Styrax
camporum Pohl. (Styracaceae), espécie de cerrado do estado de São Paulo. Revista Brasileira de
Botânica 30(2): 189 – 203.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Kinoshita, L.S. & Simões, A.O. 2005. Hancornia Gomes. Pp. 54. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. 2002. Estudos das espécies neotropicais do gênero Rauvolfia L. (Apocynaceae). Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Koch, I. 2005. Rauvolfia L. Pp. 78. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S. Melhem & A.M. Giulietti
(orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. & Kinoshita, L.S. 1999. As Apocynaceae s. str. da região de Bauru, São Paulo, Brasil. Acta
Botanica Brasilica 13: 61 – 86.
Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall ornamentations in
Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae). Proceedings of the Indian Academy of
Sciences – Plant Sciences 99(1): 15 – 20.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the follicle of Tylophora
dalzellii HK. F. Phytomorphology 40(3/4): 349 – 347.
Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and dehiscence of follicles of
Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae). Korean Journal of Botany 34(2): 107 – 112.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic significance of fruit walls
in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103(3/4): 179 – 193.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1993. Ultrastructural studies of the ovary wall and pericarp of
Asclepias curassavica L. II. Mesocarp development. Feddes Repertorium 104(3/4): 227 – 235.
Larrosa, C.R.R. & Duarte, M.R. 2005. Contribuição ao estudo anatômico de Himatanthus sucuuba
(Spruce ex Müll. Arg.) Woodson, Apocynaceae. Revista Brasileira de Farmacognosia 15: 110 –
114.
Linnaeus, C. 1759. Systema naturae II. Holmiae, Laurentii Salvii.
Mahran, G.H.; Saber, A.H. & Rizkallah, M.M. 1967. Calotropis procera (Ait.) R. Br. IV. The fruits, its
macro - and micromorphology. Journal of Pharmacological Sciences of United Arab Republic 9:
81 – 100.
Markgraf, F. 1968. Apocináceas. Pp. 1 – 112. In: P.R. Reitz (ed.). Flora Ilustrada Catarinense. Itajaí,
Herbário Barbosa Rodrigues.
70
Martins, M.A.G. & Oliveira, D.M.T. 2007. Morfoanatomia comparada dos frutos em desenvolvimento
de Vernonia brevifolia Less. e V. herbacea (Vell.) Rusby (Asteraceae). Revista Brasileira de
Botânica 30(1): 101 – 112.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1983. Anatomy of the dicotyledons: wood structure and conclusion of
the general introduction. London, Oxford.
O'Brien, T.P.; Feder, N. & Mc Cully, M.E. 1964. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine
blue O. Protoplasma 59(2): 368 – 373.
Pearse, A.G.E. 1985. Histochemistry theoretical and applied. vol. 2. Edinburgh, C. Livingstone.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Ranjani, K. & Krishnamurthy, K.V. 1988. The gelatinous fibres of Caesalpiniaceae. Cannadian
Journal of Botany 66: 394 – 399.
Rio, M.C.S. do & Kinoshita, L.S. 2005. Prestonia (Apocynaceae) do Sul e Sudeste do Brasil. Hoehnea
32(2): 233 – 258.
Rizzini, C.T. & Mors, W.B. 1976. Botânica Econômica Brasileira. São Paulo, EPU USP.
Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin, Gebrüder Borntraeger.
Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L. (Apocynaceae). Revista
Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas region, Minas Gerais,
Brazil. Darwiniana 40(1/4): 127 – 169.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
Souza, L.A. 2006. Fruto. Pp. 11 – 163. In: L.A. Souza (org.). Anatomia do fruto e da semente. Ponta
Grossa, UEPG.
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de Aspidosperma
polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de Biologia 52(3): 439 – 447.
Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2008. Botânica sistemática: guia para identificação das famílias de
fanerógamas Brasileiras nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2a ed. Nova Odessa,
Plantarum.
Spjut, R.W. 1994. A systematic treatment of fruit types. Memoirs of the New York Botanical Garden
70: 1 – 82.
Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium indicum Mill.
(Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399 – 407.
Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae. Acta Societatis
Botanicorum Poloniae 63(1): 9 – 20.
71
Woodson Jr., R.E. 1936. Studies in the Apocynaceae IV – the American genera of Echitoideae. Annals
of the Missouri Botanical Garden 23: 341 – 611.
Zala, J.V.; Patel, N.D. & Dave, Y.S. 1976. Structure of the developing and dry pericarp of Catharanthus
roseus (Apocynaceae). Flora 165: 335 – 360.
72
Ca pít ulo 4
Anatomia de frutos em Asclepiadoideae (Apocynaceae)1
Shesterson Aguiar2, Sandra Maria Carmello-Guereiro2,3 e Luiza Sumiko Kinoshita2
Resumo: As espécies da subfamília Asclepiadoideae (Apocynaceae) possuem frutos do tipo folículo, muito semelhantes
quanto à morfologia. Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi realizar um estudo dos caracteres anatômicos presentes
em frutos de espécies desta subfamília que pudessem auxiliar na identificação das espécies e no seu maior conhecimento.
Frutos de Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., Oxypetalum appendiculatum Mart., O. balansae Malme e O. glaziovii (E.
Fourn.) Fontella & Marquete foram coletados, fixados e submetidos a técnicas usuais de anatomia. O pericarpo de todos os
frutos estudados é constituído por um epicarpo unisseriado revestido por cutícula espessa, sendo estriada somente em B.
bicuspidatum. Todas as espécies possuem estômatos, mas tricomas de cobertura estão presentes somente em O.
appendiculatum. O mesocarpo de todas as espécies é muito similar, pois é constituído de parênquima fundamental, fibras,
laticíferos, feixes vasculares, ilhas de floema e aerênquima. As fibras possuem paredes espessas e sem lignina, sendo
achatadas em O. glaziovii e arredondadas nas demais espécies. Os laticíferos estão distribuídos por todo o mesocarpo e
possuem parede pecto-celulósica levemente espessa. Idioblastos com cristais do tipo drusa estão presentes somente no
mesocarpo de O. appendiculatum. Todas as espécies apresentam endocarpo lignificado uni ou bisseriado.
Palavras - chave: Blepharodon bicuspidatum, Oxypetalum appendiculatum, Oxypetalum balansae e Oxypetalum glaziovii
Introdução
Tradicionalmente, Asclepiadaceae era reconhecida como uma família distinta de Apocynaceae,
principalmente com base na presença de um ginostégio e de polínias (Souza & Lorenzi 2008). Os
estudos recentes em filogenia revelaram que, embora os gêneros reconhecidos em Asclepiadaceae
formem um grupo bem definido, o seu reconhecimento como uma família à parte torna as Apocynaceae
um grupo parafilético (Sennblad & Bremer 1996; Endress & Stevens 2001). Estudos cladísticos e
moleculares apóiam o conceito da junção de Apocynaceae sensu stricto com Asclepiadaceae (Endress
& Bruyns 2000; Rapini et al. 2001). Desta forma, Apocynaceae sensu lato tornou-se uma das maiores e
mais representativas famílias de Angiospermas, contendo, em seus limites atuais, cerca de 400 – 480
gêneros e 4.300 – 4.800 espécies com distribuição pantropical e em climas temperados (Albers & Meve
2001; Potgieter & Albert 2001; APG 2003), incluindo espécies de diversos hábitos, como árvores,
arbustos, subarbustos, lianas e ervas (Judd et al. 2002; Kinoshita 2005; Simpson 2007), distribuídas em
5 subfamílias (Endress & Bruyns 2000), sendo uma delas Asclepiadoideae R. Br. ex Burnett.
O estudo das espécies desta subfamília desperta interesse principalmente pelas flores, que são
consideradas uma das mais complexas entre as Angiospermas (Marquete 2003). Além disto, algumas
espécies pertencentes à subfamília destacam-se por apresentarem importância medicinal, como
Calotropis procera (Ailton) W. T. Ailton, que possui propriedades anti-inflamatória, antimicrobial,
1
2
3
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, vinculado ao programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas
Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
Autor para correspondência: smcg@unicamp.br
73
analgésica e espermicida (Kamath & Rana 2002) e Vicentoxicum officinale Moench, com propriedades
laxativas, diuréticas e antitumorais (Nowak & Kisiel 2000). Outras espécies são utilizadas como fonte
de borracha e fibras na fabricação de cordas e papel (Marquete 2003) ou utilizadas como plantas
ornamentais, como a flor-de-cera (Hoya R. Br.) e a flor-estrela (Stapelia hirsuta L.) (Ollerton & Liede
1997; Endress 1998). Além disto, várias espécies do gênero Asclepias L. são combatidas como pragas,
pois são tóxicas e prejudicam a criação de animais (Rapini et al. 2001).
Trabalhos que descrevem as características anatômicas de frutos em Asclepiadoideae são
escassos e não contemplam espécies da nossa flora (Castro 1986; Kuriachen et al. 1990; Kuriachen et al.
1991; Kuriachen et al. 1992). Segundo Hutchinson (1969) características anatômicas de frutos podem
ter grande importância em trabalhos taxonômicos, mas têm sido sempre negligenciadas em estudos
sistemáticos porque são tecnicamente difíceis de serem investigadas (Bobrov et al. 2005).
Segundo Fontella-Pereira (2005), as espécies da subfamília possuem frutos do tipo folículo
muito semelhantes quanto à morfologia. Por apresentarem frutos tão semelhantes, a identificação das
espécies sem a presença das flores torna-se difícil. Desta forma, um levantamento das características
anatômicas presentes nos frutos de espécies de Asclepiadoideae é de grande importância para auxiliar
na distinção das mesmas, além de contribuir para o conhecimento da subfamília, sendo, portanto, o
principal objetivo do presente trabalho.
Materiais e Métodos
Material Botânico
Para a realização deste trabalho foram utilizados frutos maduros de Blepharodon bicuspidatum
E. Fourn., Oxypetalum appendiculatum Mart., O. balansae Malme e O. glaziovii (E. Fourn.) Fontella &
Marquete coletados, respectivamente, a partir de indivíduos de Campinas (SP), Aquidauana (MS) e
Passa Quatro (MG).
Os exemplares foram identificados pela Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita, pela Profa. Dra.
Sueli Maria Gomes e pelo MSc. Shesterson Aguiar e os materiais testemunha (Tabela 2) foram
herborizados e incorporados ao Herbário UEC.
Tabela 2. Dados referentes ao material testemunha das espécies estudadas.
Espécie
Localidade
Nome e no do coletor
Data da coleta
B. bicuspidatum
Campinas (SP)
D. Demarco 9
29/VIII/2003
O. appendiculatum
Campinas (SP)
S. M. Gomes 572
25/VIII/2005
O. balansae
Aquidauna (MS)
S. M. Gomes 531
02/IX/2006
O. glaziovii
Passa Quatro (MG)
L. D. Meireles et al. 2551
19/IX/2006
74
Metodologia
Os frutos coletados foram fixados em FAA (Johansen 1940) por 24 horas e colocados em bomba
à vácuo para facilitar a penetração do fixador, sendo posteriormente conservados em álcool etílico 70%.
Após este período, alguns frutos foram cortados na região mediana, incluídos em resina plástica (Gerrits
& Smid 1983), seccionados em micrótomo rotativo e as secções longitudinais e transversais, de 10µm
aproximadamente, foram coradas com azul de toluidina (O' Brien et al. 1964), para análise estrutural.
Algumas secções foram submetidas ao teste com floroglucina acidificada (Johansen 1940), para análise
de lignina, e ao teste com Sudan black B (Pearse 1985), para análise de lipídios totais na cutícula. Outras
secções foram submetidas à luz polarizada a fim de evidenciar constituintes celulares birrefringentes,
como cristais, amido e celulose (Evert 2006). Para a descrição dos resultados utilizaram-se as
terminologias de Roth (1977) e de Spjut (1994).
As ilustrações foram efetuadas através de imagens de alta resolução obtidas em câmera digital
acoplada ao microscópio Olympus BX 51, utilizando-se o programa Olympus DP Controller. As
imagens foram utilizadas na confecção das pranchas, realizadas no programa CorelDraw X3.
Resultados
Todas as espécies estudadas neste trabalho possuem frutos do tipo folicário, constituído de dois
frutículos do tipo folículo. Os frutos possuem o pericarpo dividido em três regiões anatômicas,
estruturalmente distintas: epicarpo, mesocarpo e endocarpo. Abaixo são apresentadas as principais
características anatômicas do pericarpo das quatro espécies estudadas neste trabalho.
Blepharodon bicuspidatum E. Fourn.
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas de citoplasma de aspecto pouco denso,
núcleo de posição basal e paredes pecto-celulósicas espessas (Fig. 4 e 5), mais pronunciadas na região
periclinal externa (Fig. 5). As células são revestidas por cutícula espessa e estriada (Fig. 5). Estômatos
também estão presentes e possuem células-guarda bem conspícuas (Fig. 4). Tricomas e lenticelas não
foram observados no epicarpo desta espécie.
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental, aerênquima, laticíferos, fibras, feixes
vasculares e ilhas de floema. As células parenquimáticas são as mais abundantes do mesocarpo e
apresentam paredes pecto-celulósicas delgadas (Fig. 1). As localizadas próximas ao epicarpo são
menores e não possuem espaços intercelulares (Fig. 1); as que se localizam na região mediana do
mesocarpo são maiores e possuem espaços intercelulares de diferentes tamanhos e dimensões (Fig. 1);
já as que se localizam próximas ao endocarpo possuem grandes espaços intercelulares, formando um
aerênquima (Fig. 3), que ocupa praticamente metade do mesocarpo. Os laticíferos estão distribuídos por
todo o mesocarpo e formam um sistema alongado no sentido longitudinal do fruto, algumas vezes
75
Ep
4
25µm
Pp
Ep
5
20µm
1
100µm
Lt
Xi
50µm
6
20µm
7
Fl
2
80µm
Ae
50µm
En
3
20µm
8
Figuras 1 – 8. Secções transversais do fruto maduro de Blepharodon bicuspidatum E. Fourn. 1. Região de deiscência onde nota-se e
reentrância no epicarpo (seta preta) e a linha de deiscência no mesocarpo (seta branca). 2. Feixe vascular. 3. Aerênquima e endocarpo. 4.
Estômato (seta) no epicarpo. 5. Estriações cuticulares (seta) e espessamento da parede periclinal externa das células do epicarpo. 6.
Laticíferos; notar o espessamento de parede. 7. Ilha de floema (seta = placa crivada). 8. Fibras do mesocarpo com duas camadas de
deposição da parede secundária (seta = núcleo). Ae = aerênquima; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Fl = floema; Lt = laticífero; Pp = parede
periclinal externa; Xi = xilema
76
ramificado, sendo mais calibrosos os que de encontram próximos ao endocarpo (Fig. 6), quando
comparados com os localizados próximos ao epicarpo. Possuem parede pecto-celulósica circular
ligeiramente espessa e látex de aspecto denso (Fig. 6), sendo facilmente identificados. As fibras (Fig. 8)
são fusiformes e alongadas no sentido longitudinal do fruto, distribuindo-se entre as células
parenquimáticas ou associando-se aos feixes vasculares. Estas células possuem parede secundária
espessa, com raras pontuações, e depositada em duas camadas (Fig. 8), sendo a camada externa mais
birrefringente em luz polarizada do que a interna. As fibras são coradas em púrpura com azul de
toluidina. Por meio do teste com floroglucina acidificada, constatou-se a ausência de lignina na parede
destas células, confirmando natureza pecto-celulósica das mesmas. Em algumas fibras constatou-se a
presença de núcleo e nucléolo (Fig. 8), mostrando que ainda estão vivas neste estádio de
desenvolvimento. O sistema vascular consiste de vários feixes vasculares (Fig. 2), colaterais ou
bicolaterais, dispersos por todo o mesocarpo e inúmeras ilhas de floema (Fig. 7).
Endocarpo – formado por uma, ou raramente duas, camadas de esclerócitos alongados no sentido
transversal do fruto (Fig. 3), de paredes lignificadas e com inúmeras pontuações.
Região de deiscência – identificada por uma reentrância na margem de união do carpelo e por possuir
duas a três camadas de células achatadas e de paredes delgadas (Fig. 1), que formam a linha de
deiscência. Esta linha se estende a partir da reentrância até a cavidade seminal, sendo margeada por
células parenquimáticas e laticíferos (Fig. 1).
Oxypetalum appendiculatum Mart.
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas de citoplasma com aspecto pouco denso e
paredes com espessamento pecto-celulósico revestidas por cutícula espessa e sem estriações (Fig. 9 e
12). O epicarpo também possui estômatos com pequenas câmaras subestomáticas (Fig. 9 e 12) e
tricomas de cobertura, multicelulares e unisseriados, constituídos de células basais muito conspícuas
(Fig. 9 e 13). Lenticelas não foram encontradas no epicarpo dos frutos.
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental, aerênquima, idioblastos cristalíferos,
laticíferos, fibras, feixes vasculares e ilhas de floema. As células parenquimáticas são as mais
abundantes do mesocarpo e apresentam paredes pecto-celulósicas delgadas (Fig. 9, 11 e 17). Próximo
ao endocarpo as células parenquimáticas são levemente colapsadas e com grandes espaços
intercelulares, formando um aerênquima (Fig. 11 e 17), no qual estão dispersos alguns idioblastos com
drusas (Fig. 17). Os laticíferos estão distribuídos por todo o mesocarpo e formam um sistema alongado
no sentido longitudinal, sendo algumas vezes ramificado. Apresentam parede pecto-celulósica
ligeiramente espessada (Fig. 14) e látex de aspecto denso (Fig. 9), sendo mais calibrosos aqueles que se
77
Cu
Cb
Fig. 12
Ep
Cs
25µm
Fb
12
Ms
9
50µm
Fb
Cb
Lt
50µm
13
50µm
Lt
14
Fl
Xi
100µm
10
25µm
11
25µm
15
Ae
En
50µm
16
50µm
17
Figuras 9 – 17. Secções transversais do fruto maduro de Oxypetalum appendiculatum Mart. 9. Epicarpo com tricoma e estômato e
mesocarpo com fibras e laticíferos (setas). 10. Feixe vascular da região mediana do mesocarpo. 11. Aerênquima e endocarpo. 12.
Pormenor da figura 9, evidenciando epicarpo com estômato e cutícula espessa. 13. Tricoma de cobertura do epicarpo. 14. Laticíferos da
região próxima ao endocarpo. 15. Fibras em luz polarizada; notar diferença na birrefringência das camadas. 16. Ilha de floema (seta = placa
crivada). 17. Idioblasto cristalífero (seta) disperso no aerênquima. Ae = aerênquima; Cb = célula basal; Cs = câmara subestomática; Cu =
cutícula; En = endocarpo; Ep = epicarpo; Fb = fibra; Fl = floema; Lt = laticífero; Ms = mesocarpo; Xi = xilema
78
localizam próximos ao endocarpo (Fig. 14), quando comparados com os próximos ao epicarpo. As
fibras estão distribuídas por todo o mesocarpo formando grupos de diversas células (Fig. 15), mas
também podem ocorrer em duplas ou até mesmo isoladas (Fig. 9). Estas células estão localizadas
próximas ao epicarpo ou então em associação com os feixes vasculares (Fig. 10). São alongadas no
sentido longitudinal e possuem parede secundária espessa e com duas camadas de deposição, sendo a
camada externa mais birrefringente do que a interna (Fig. 15). Por meio do teste com floroglucina
acidificada foi observada ausência de lignina na parede das fibras e confirmada a natureza pectocelulósica das mesmas. O sistema vascular consiste de diversos feixes vasculares (Fig. 10) e inúmeras
ilhas de floema (Fig. 16). Os feixes estão distribuídos em três regiões no mesocarpo: nas proximidades
do epicarpo, na região mediana do mesocarpo e nas proximidades do endocarpo, sendo os localizados
na região mediana (Fig. 10) maiores que os das demais regiões. Podem ser encontrados feixes colaterais
e bicolaterais. As ilhas de floema estão restritas às proximidades do endocarpo, sendo facilmente
identificadas entre as células parenquimáticas (Fig. 16).
Endocarpo – formado por uma, ou raramente duas, camadas de esclerócitos, alongados
preferencialmente no sentido transversal do fruto (Fig. 11), de paredes lignificadas e com numerosas
pontuações.
Região de deiscência – identificada por uma pronunciada reentrância na margem de união do carpelo e
pela presença de duas camadas de células parenquimáticas de paredes delgadas e sinuosas, que formam
a linha de deiscência. Esta linha, não muito proeminente, se estende a partir da reentrância até a cavidade
seminal, sendo circundada por células parenquimáticas e laticíferos.
Oxypetalum balansae Malme
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas achatadas (Fig. 18 e 21), com citoplasma
de aspecto pouco denso, núcleo de posição basal e paredes com espessamento pecto-celulósico (Fig.
21), revestidas por cutícula espessa e sem estriações (Fig. 21). Estômatos com pequenas câmaras
subestomáticas (Fig. 21) também estão presentes no epicarpo. Tricomas e lenticelas estão ausentes no
epicarpo do fruto.
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental, aerênquima, laticíferos, fibras, feixes
vasculares e ilhas de floema. No mesocarpo podem ser distinguidas 4 regiões: a primeira região, em
contato direto com o epicarpo, é formada por células parenquimáticas, sem espaços intercelulares,
fibras e laticíferos pouco calibrosos (Fig. 18); a segunda região possui um aerênquima com grandes
lacunas, feixes vasculares com fibras associadas (Fig. 25) e laticíferos bem calibrosos; a terceira região
é constituída por células parenquimáticas com pequenos espaços intercelulares, feixes vasculares, ilhas
79
Cu
Cs
Ms
Fb
200µm
21
25µm
18
Lt
Lt
Lt
Lt
22
50µm
}Fv
Fb
Ae
19
200µm
20µm
20µm
Fb
Ae
24
Xi
Fl
En
50µm
23
20
50µm
25
Figuras 18 – 25. Secções transversais do fruto maduro de Oxypetalum balansae Malme. 18. Vista geral do epicarpo e da região I do
mesocarpo. 19. Região III do mesocarpo com feixes vasculares, laticíferos (setas), parênquima fundamental e aerênquima. 20.
Aerênquima e endocarpo. 21. Epicarpo com estômato. 22. Laticíferos da região III do mesocarpo. 23. Fibras do mesocarpo; notar as duas
camadas de deposição de parede secundária. 24. Fibras do mesocarpo em luz polarizada; notar brilho pronunciado na camada mais externa
da parede. 25. Feixe vascular. Ae = aerênquima; Cs = câmara subestomática; Cu = cutícula; En = endocarpo; Fb = fibra; Fl = floema; Fv =
feixe vascular; Lt = laticífero; Ms = mesocarpo; Xi = xilema
80
de floema e laticíferos calibrosos (Fig. 19); já a quarta e última região possui células parenquimáticas
ligeiramente colapsadas com grandes espaços intercelulares que formam outro aerênquima (Fig. 20)
próximo ao endocarpo. Os laticíferos possuem parede pecto-celulósica ligeiramente espessada (Fig. 22)
e látex de aspecto pouco denso. As fibras, raramente isoladas, são arranjadas em grupos de inúmeras
células fusiformes e alongadas no sentido longitudinal do fruto (Fig. 23). São encontradas nas regiões I
e II do mesocarpo, podendo estar associadas aos feixes vasculares (Fig. 25). Possuem parede pectocelulósica secundária espessa (Fig. 23 e 24), com birrefringência mais intensa na camada externa,
sugerindo a presença de grande quantidade de celulose. A natureza pecto-celulósica da parede das fibras
foi confirmada com o teste de floroglucina acidificada, que revelou ausência de lignina. O sistema
vascular consiste de diversos feixes vasculares (Fig. 19 e 25), colaterais ou bicolaterais, e inúmeras ilhas
de floema, que estão distribuídas por todo mesocarpo do fruto.
Endocarpo – formado predominantemente por uma camada de esclerócitos lignificados e alongados no
sentido transversal do fruto. Já na região próxima a linha de deiscência, frequentemente se observa uma
camada adicional de esclerócitos alongados no sentido longitudinal do fruto (Fig. 20).
Região de deiscência – identificada por uma grande reentrância na margem de união do carpelo e pela
presença de 4 a 5 camadas de células parenquimáticas de paredes levemente espessadas, mas com
pequenos espaços intercelulares, formando a linha de deiscência. Esta linha não é muito proeminente,
pois é circundada por células parenquimáticas com pequenos espaços intercelulares.
Oxypetalum glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete
Epicarpo – formado por uma camada de células epidérmicas (Fig. 26, 29 e 30), de citoplasma de
aspecto pouco denso, núcleo e posição basal e paredes com espessamento pecto-celulósico (Fig. 30),
revestidas cutícula espessa e sem estriações (Fig. 29 e 30). Estômatos também estão presentes e podem
ser facilmente identificados por apresentarem células-guarda conspícuas (Fig. 29). Tricomas e
lenticelas não estão presentes no epicarpo dos frutos.
Mesocarpo – constituído por parênquima fundamental, hipoderme colenquimática, laticíferos, fibras,
feixes vasculares e ilhas de floema. Logo abaixo ao epicarpo observa-se a hipoderme colenquimática,
constituída por células de parede pecto-celulósica levemente espessada (Fig. 26 e 30) e cloroplastos. As
células parenquimáticas do mesocarpo possuem paredes delgadas e são maiores do que as células da
hipoderme colenquimática (Fig. 26). Próximo ao endocarpo, as células parenquimáticas possuem
grandes espaços intercelulares e formam um aerênquima (Fig. 26). Os laticíferos estão distribuídos por
todo o mesocarpo e possuem parede pecto-celulósica ligeiramente espessada e látex de aspecto pouco
denso (Fig. 33). Apresentam tamanhos variados, pois os que se localizam nas proximidades do
81
Ep
Cs
Fb
50µm
29
Cu
Ms
}
Hp
Fv
50µm
30
Ae
Fl
En
25µm
31
30µm
27
28
20µm
32
Lt
If
Xi
60µm
40µm
26
En
}
200µm
Lt
33
Figuras 26 – 33. Secções transversais do fruto maduro de Oxypetalum glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete. 26. Vista geral do
pericarpo (setas brancas = laticíferos). 27. Feixe vascular. 28. Esclerócito do endocarpo (seta = pontuação simples). 29. Epicarpo com
estômato. 30. Epicarpo, laticífero e células parenquimáticas. 31. Fibras do mesocarpo. 32. Fibras em luz polarizada; notar brilho intenso na
camada mais externa da parede. 33. Laticíferos e da ilha de floema. Ae = aerênquima; Cs = câmara subestomática; Cu = cutícula; En =
endocarpo; Ep = epicarpo; Fb = fibra; Fl = floema; Fv = feixe vascular; Hp = hipoderme colenquimática; If = ilha de floema; Lt = laticífero;
Ms = mesocarpo; Xi = xilema
82
endocarpo (Fig. 26 e 33) são mais calibrosos que os localizados próximos ao epicarpo (Fig. 26 e 30). As
fibras (Fig. 26), fusiformes e alongadas no sentido longitudinal do fruto, estão distribuídas nas
proximidades do epicarpo formando um anel quase contínuo no mesocarpo, mas também podem ser
observadas em associação com feixes vasculares. Formam grupos de inúmeras células achatadas em
secção transversal (Fig. 31) de parede secundária espessa (Fig. 32) e sem lignina, com baixa quantidade
de pontuações. O sistema vascular consiste de diversos feixes vasculares (Fig. 26 e 27), colaterais e
bicolaterais e concentrados na região mediana do mesocarpo, além de ilhas de floema (Fig. 33), restritas
as proximidades do endocarpo.
Endocarpo – formado por uma, ou raramente duas, camadas de esclerócitos de paredes lignificadas e
com numerosas pontuações, alongados no sentido transversal do fruto (Fig. 26 e 28).
Região de deiscência – identificada por uma pequena reentrância na margem de união do carpelo e pela
presença de 2 a 3 camadas de células parenquimáticas de paredes delgadas, que formam a linha de
deiscência. Esta linha não é muito proeminente, pois é circundada por células parenquimáticas
colapsadas.
Discussão
Os frutos estudados neste trabalho exibem uma organização dos tecidos internos muito similar e
característica, semelhante a outras espécies já estudadas na subfamília. Este fato já havia sido notado
por Kuriachen et al. (1992) ao estudarem frutos de diferentes espécies de Asclepiadoideae. No entanto,
pode-se notar que os frutos estudados exibem algumas características anatômicas particulares que
puderam ser utilizadas para a distinção das espécies.
O pericarpo de B. bicuspidatum, O. appendiculatum, O. balansae e O. glaziovii é constituído por
três regiões estruturalmente distintas: epicarpo, mesocarpo e endocarpo. Epicarpo é a camada mais
externa do pericarpo e em muitos frutos representa a principal camada de proteção (Roth 1977). Nas
quatro espécies estudadas o epicarpo é unisseriado, sendo constituído exclusivamente pela epiderme
externa do fruto. Kuriachen et al. (1992) descrevem o epicarpo dos frutos de diferentes espécies da
subfamília como multisseriado, e constituído por uma camada de células epidérmicas e por uma
hipoderme colenquimatosa. Segundo Souza (2006) é recomendável realizar um estudo ontogenético
para saber a verdadeira origem dos tecidos que formam o pericarpo. Ao analisar os resultados obtidos
por Kuriachen et al. (1992) pôde-se concluir que eles utilizaram o termo epicarpo no sensu lato, ou seja,
incluindo camadas de origem subepidérmica. Desta forma, se considerarmos a origem ontogenética do
epicarpo, as espécies estudadas por Kuriachen et al. (1992) também possuem epicarpo senso strictu
unisseriado, da mesma forma que as espécies estudadas neste trabalho.
As quatro espécies estudadas neste trabalho possuem estômatos que, segundo Roth (1977),
desempenham a função de controle da temperatura e do balanço hídrico através da evaporação.
83
Estômatos são encontrados em diferentes espécies da subfamília (Mahran et al. 1967; Castro 1986;
Dave & Kuriachen 1987; Kuriachen & Dave 1989; Kuriachen et al. 1990; Kuriachen et al. 1991;
Kuriachen et al. 1992; Souza et al. 2004), sendo classificados como paracíticos, anomocíticos ou
ciclocíticos. Mas a existência de estômatos no epicarpo de espécies de Asclepiadoideae aparentemente
não é uma característica universal, pois Kuriachen et al. (1992) estudaram espécies onde estas estruturas
não foram observadas.
Tricomas de cobertura estão presentes somente nos frutos de O. appendiculatum, sendo um
importante caráter diagnóstico dentre as espécies aqui estudadas. A presença destes tricomas é comum
em frutos de espécies da subfamília (Mahran et al. 1967; Castro 1986; Dave & Kuriachen 1987,
Kuriachen & Dave 1989, Kuriachen et al. 1992) tendo provável função de contribuir para a redução da
transpiração.
A cutícula possui papel fundamental na diminuição da perda de água para o ambiente pelos
frutos (Roth 1977). Apesar de todas as espécies aqui estudadas apresentarem cutícula desenvolvida,
somente em B. bicuspidatum foram observadas estriações cuticulares. Estriações cuticulares em frutos
de Asclepiadoideae já foram encontradas em Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Mahran et al. 1967;
Kuriachen et al. 1991), em Araujia hortorum E. Fourn. (Castro 1986), em Calotropis gigantea (L.) R.
Br. e Tylophora indicum (Burm. f.) Merril (Kuriachen et al. 1992).
Um tecido presente no mesocarpo de todas as espécies estudadas é o aerênquima. Aerênquima é
um termo utilizado para tecidos vegetais que apresentam grandes espaços intercelulares (Evans 2003)
com a função de auxiliar na flutuabilidade das plantas aquáticas, de frutos dispersos pela água, ou
diminuir a densidade de frutos ou sementes dispersos pelo vento (Roth 1977). No caso das espécies
estudadas a função mais provável deste tecido é a de auxiliar no mecanismo de deiscência dos frutos,
visto que são todos frutos deiscentes e que dispersam suas sementes comosas por anemocoria. Este
tecido é freqüente em frutos da subfamília, pois já foi descrito em diversas espécies (Castro 1986;
Kuriachen et al. 1992; Souza 2004), estando ausente somente em Gymnema sylvestre R. Br. (Kuriachen
et al. 1992).
As fibras formam um tecido quase contínuo no mesocarpo de todas as espécies estudadas. Estas
fibras apresentam estrutura ligeiramente diferente da usualmente encontrada neste tipo celular, pois
possuem parede secundária sem lignina. A presença de lignina não é uma condição indispensável às
fibras, pois Esau (1965) afirma que as fibras extra-xilemáticas podem ou não serem lignificadas. Estas
células foram reconhecidas como fibras pelo espessamento secundário da parede, pelo formato
fusiforme alongado e pela baixa quantidade de pontuações. Kuriachen et al. (1990) encontraram estas
células no pericarpo de Tylophora dalzellii Hook. f. e as denominaram fibras celulósicas.
Posteriormente foram encontradas estas células no pericarpo de outras espécies de Asclepiadoideae
(Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al. 1992), em Periplocoideae (Dave & Kuriachen 1991) e até em
espécies de Apocynoideae (Thomas & Dave 1994; Gomes 2008; Aguiar et al. 2009). A presença de
fibras não lignificadas é um fenômeno raro nos vegetais e acredita-se que a presença destas células no
84
mesocarpo de espécies das subfamílias Asclepiadoideae, Periplocoideae e Secamonoideae seja um
caráter que ressalta a proximidade filogenética destas subfamílias e corrobore com a atual circunscrição
de Apocynaceae. Além disto, o formato destas células foi um caráter importante neste trabalho para a
identificação das espécies, visto que somente em O. glaziovii as fibras são achatadas, sendo que nas
demais espécies as fibras são arredondadas. A hidrofilia apresentada pela parede faz com que esta célula
tenha capacidade e facilidade de perder água rapidamente, auxiliando o mecanismo higroscópicoxerocástico de deiscência do fruto. Em dias quentes estas células perdem água e a parede retrai
contribuindo para a contração do pericarpo e conseqüente ruptura na linha de deiscência.
Laticíferos são células (ou fileiras de células) espalhadas por todo o corpo da planta, contendo
um fluido chamado látex (Esau 1965; Evert 2006) que possui uma composição química muito variada
(Fahn 1979). Sua função é de proteger a planta contra herbivoria, microorganismos e também selar
ferimentos (Fahn 1979, 1990; Farrell et al. 1991; Hunter 1994; Dussourd & Denno 1991). Nos trabalhos
de Mahran et al. (1967), Castro (1986), Kuriachen & Dave (1989), Kuriachen et al. (1990), Dave &
Kuriachen (1991), Kuriachen et al. (1991) e Kuriachen et al. (1992) os laticíferos dos frutos são
descritos como não-articulados. Demarco et al. (2006) afirmam que somente através de estudos
ontogenéticos pode-se classificar os laticíferos como articulados ou não articulados. Desta forma, como
não foram realizados estudos detalhados de desenvolvimento dos frutos, optou-se por não classificar os
laticíferos das espécies estudadas.
Outra característica comum no pericarpo das espécies estudadas é a presença de endocarpo
lignificado. Segundo (Potgieter & Albert 2001) a presença de endocarpo lignificado seria uma
característica primitiva em Apocynaceae. Além disto, a estrutura do endocarpo das espécies aqui
estudadas revelou ser semelhante as demais espécies já estudadas na subfamília (Castro 1986;
Kuriachen et al. 1990; Kuriachen et al. 1991; Kuriachen et al. 1992). A maioria dos trabalhos de frutos
em Asclepiadoideae cita a presença de fibras no endocarpo mas neste trabalho as células do endocarpo
foram classificadas como esclerócitos, com base na quantidade de pontuações, no formato variável e na
ausência de paredes terminais afiladas. Este termo já havia sido utilizado por Castro (1986) para
caracterizar o endocarpo de Araujia hortorum E. Fourn., espécie pertencente a mesma subfamília.
Os frutos de B. bicuspidatum, O. appendiculatum, O. balansae e O. glaziovi possuem deiscência
do tipo higroscópico xerocástica, visto que o pericarpo dos frutos seca à medida que amadurece. Vários
fatores auxiliam na abertura dos frutos, como a presença de uma linha de deiscência, formada por
células de paredes delgadas, a ocorrência das fibras não lignificadas e aerênquima no mesocarpo, e a
presença de endocarpo lignificado. De acordo com Fahn & Zohary (1955), as fibras são células que
apresentam grande capacidade de absorção e perda de água (inchaço e encolhimento), criando uma
tensão higroscópica muito importante na abertura dos frutos. Desta forma acredita-se que as fibras do
mesocarpo das espécies aqui estudadas sejam muito importantes para a abertura dos folículos,
corroborando com as observações de Thomas & Dave (1994) e de Aguiar et al. (2009), que já haviam
sugerido esta mesma função para as fibras encontradas nos frutos das espécies estudadas por eles. As
85
células lignificadas e de paredes altamente espessadas, presentes no endocarpo, também criam uma
tensão higroscópica no fruto, contribuindo para o mecanismo de abertura, assim como o aerênquima,
que comprime os frutos na maturidade e esta força de compressão auxilia no processo de deiscência.
A partir dos dados obtidos foi possível elaborar uma chave de identificação (abaixo) para as
espécies estudadas no presente trabalho baseada somente em caracteres anatômicos dos frutos.
Chave para a identificação das espécies estudadas neste trabalho baseada em caracteres anatômicos do s frutos
1. Cutícula com estriações................................................................................................... ................B. bicuspidatum E. Fourn.
1’. Cutícula sem estriações……………………………………………………………………………………..………………2
2. Fibras do mesocarpo achatadas.................................................................... O. glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete
2’. Fibras do mesocarpo arredondadas............................................................................................................................ .......3
3. Epicarpo com tricomas de cobertura.......................................................................................O. appendiculatum Mart.
3’. Epicarpo sem tricomas de cobertura .............................................................................................O. balansae Malme
Conclusões
Os frutos da subfamília Asclepiadoideae possuem pericarpo muito similar e característico,
constituídos por epicarpo sensu stricto unisseriado, fibras não lignificadas, aerênquima, laticíferos de
parede pecto-celulósica levemente espessada, endocarpo unisseriado lignificado e linha de deiscência
formada por células de parede delgada. Acredita-se que a presença de fibras não lignificadas no
mesocarpo de espécies da subfamília Asclepiadoideae seja um caráter importante que ressalta a
proximidade filogenética desta subfamília com Apocynoideae e corrobora com a atual circunscrição de
Apocynaceae. Além disto, este trabalho demonstrou a importância da utilização de caracteres
anatômicos de frutos na distinção das espécies e na aquisição de dados que possam ser utilizados em
futuras análises filogenéticas e taxonômicas para a subfamília.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa
concedida ao primeiro autor durante a elaboração deste trabalho e à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio à pesquisa fornecido (proc. 01/12364-0). Agradecimentos
também ao Prof. Dr. Diego Demarco, ao MSc. Leonardo Dias Meireles e à Profa.Dra. Sueli Maria Gomes
por terem coletado e cedido os materiais botânicos utilizados neste trabalho.
Referências Bibliográficas
Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita, L.S. 2009. Ontogenia e estrutura do pericarpo de
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica
86
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update oh the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Bobrov, A.V.F.CH.; Endres, P.K.; Melikian, A.P.; Romanov, M.S.; Sorokin, A.N. & Bejerano, A.P. 2005.
Fruit structure of Amborella trichopoda (Amborellaceae). Botanical Journal of the Linnean
Society 148: 265 – 274.
Castro, M.A. 1986. Anatomia del fruto de Araujia horotorum E. Fourn. (Asclepiadaceae). Parodiana 4:
195 – 203.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1987. Structure and development of stomata on the fruit wall of Calotropis
procera (Arr.) R. BR. Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 97(6):
449 – 456.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of Periplocaceae follicles and
their taxonomic significance. Feddes Repertorium 102(1/2): 63 – 68.
Demarco, D.; Kinoshita, L.S. & Castro, M. de M. 2006. Laticíferos articulados anastomosados – novos
registros para Apocynaceae. Revista Brasileira de Botânica 29: 133 – 144.
Dussourd, D.E. & Denno, R.F. 1991. Deactivation of plant defense: correspondence between insect
behavior and secretory canal architecture. Ecology 72(4): 183 – 1396.
Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Endress, M.E. & Stevens, W.D. 2001. The renaissance of the Apocynaceae s.l.: Recent advances in
systematics, phylogeny, and evolution: Introduction. Annals of the Missouri Botanical Garden
88: 517 – 522.
Endress, P.K. 1998. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge, Cambridge
University Press.
Esau, K. 1965. Plant anatomy. 2nd ed. Tokyo, Toppan Company LTDA.
Evans, D.E. 2003. Aerenchyma formation. New Plytologist 161: 35 – 49.
Evert, R.F. 2006. Esau's plant anatomy: meristems, cells and tissues of the plant body – their
structure, function and development. New Jersey, John Wiley & Sons, Inc.
Fahn, A. 1979. Secretory tissues in plants. London, Academic Press.
Fahn, A. 1990. Plant anatomy. Oxford, Pergamon Press.
Fahn, A. Zohary, M. 1955. On the pericarpial structure of legumen, its evolution and relation to
dehiscence. Phytomorphology 5: 99 – 111.
Farrel, B.D.; Dussourd, D.E. & Mitter, C. 1991. Escalation of plant defense: do latex/resin canals spur
plant diversification? American Naturalist 138: 881 – 900.
87
Fontella-Pereira, J. (coord.). 2005. Asclepiadaceae. Pp. 93 – 156. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Gerrits, P.O. & Smid, L. 1983. A new, less toxic polymerization system for the embedding of soft tissues
in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy 132: 81
– 85.
Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae: significado
ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521 – 534.
Hunter, J. R. 1994. Reconsidering the functions of latex. Tree 9: 1 – 5.
Hutchinson, J. 1969. Evolution and phylogeny of flowering plants. London, Academic Press.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Kamath, J.V. & Rana, A.C. 2002. Preliminary study on antifertility activity of Calotropis procera roots
in female rats. Fitoterapia 73: 111 – 115.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Kuriachen, P.M. & Dave, Y. 1989. Structure and development of fruit wall ornamentations in
Pergularia daemia (Forsk.) Chiov (Asclepiadaceae). Proceedings of the Indian Academy of
Sciences – Plant Sciences 99(1): 15 – 20.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1990. Morphohistogenic studies in the follicle of Tylophora
dalzellii HK. F. Phytomorphology 40(3/4): 349 – 347.
Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and dehiscence of follicles of
Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae). Korean Journal of Botany 34(2): 107 – 112.
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic significance of fruit walls
in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103(3/4): 179 – 193.
Mahran, G.H.; Saber, A.H. & Rizkallah, M.M. 1967. Calotropis procera (Ait.) R. Br. IV. The fruits, its
macro - and micromorphology. Journal of Pharmacological Sciences of United Arab Republic 9:
81 – 100.
Marquete, N.F. da S. 2003. O gênero Oxypetalum R. Br. (Asclepiadoideae – Apocynaceae) no estado
do Rio de Janeiro, Brasil. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
Nowak, R. & Kisiel, W.H. 2000. Hancobinol from Vincetoxicum officinale. Fitoterapia 71: 584 – 586.
O'Brien, T.P.; Feder, N. Mc Cully, M.E. 1964. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine
blue O. Protoplasma 59(2): 368 – 373.
88
Ollerton, J. & Liede, S. 1997. Pollination systems in the Asclepiadaceae: a survey and preliminary
analysis. Biological Journal of the Linnean Society 62: 593 – 610.
Pearse, A.G.E. 1985. Histochemistry theoretical and applied. vol. 2. Edinburgh, C. Livingstone.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Rapini, A.; Mello-Silva, R. de & Kawasaki, M.L. 2001. Asclepiadoideae (Apocynaceae) da cadeia do
espinhaço de Minas Gerais, Brasil. Boletim Botânico da Universidade de São Paulo 19: 55 – 169.
Roth, I. 1977. Fruits of angiosperms: encyclopedia of plant anatomy. Berlin, Gebrüder Borntraeger.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
Seenblad, B. & Bremer, B. 1996. The familial and subfamilial relationships of Apocynaceae and
Asclepiadaceae evaluated with rbcL data. Plant Systematics and Evolution 202: 153 – 175.
Souza, L.A. 2006. Fruto. Pp. 11 – 163. In: L.A. Souza (org.). Anatomia do fruto e da semente. Ponta
Grossa, UEPG.
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2008. Botânica sistemática: guia para identificação das famílias de
fanerógamas Brasileiras nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2a ed. Nova Odessa,
Plantarum.
Spjut, R.W. 1994. A systematic treatment of fruit types. Memoirs of the New York Botanical Garden
70: 1 – 82.
Thomas, V. Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae. Acta Societatis
Botanicorum Poloniae 63(1): 9 – 20.
89
Ca pít ulo 5
Anatomia e histoquímica em sementes de Apocynaceae1
Shesterson Aguiar2, Sandra Maria Carmello-Guereiro2,4, Angelo Luiz Cortelazzo3 e Luiza Sumiko Kinoshita2
Resumo: O presente trabalho teve por objetivo descrever a anatomia e caracterizar os tipos de substâncias de reserva
presentes em sementes maduras de espécies de Apocynaceae, visando contribuir para o conhecimento da família. As
espécies contempladas neste trabalho foram: Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia arborea (Vell.) Miers, Mandevilla
pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose, que possuem ala, pelos ao redor de toda semente, coma
e arilo como, respectivos, apêndices. Secções transversais de sementes fixadas em FAA foram submetidas à análise
estrutural e histoquímica. Mesmo possuindo morfologia variada estas sementes apresentam diversas características comuns,
como envoltório único repleto de compostos fenólicos, endosperma e cotilédones dorsiventrais. Como a camada mecânica
localiza-se na exotesta, todas as sementes são exotestais, sendo que somente M. arborea possui a exotesta multisseriada. As
principais substâncias de reserva encontradas foram proteínas e carboidratos. As proteínas, à exceção de M. arborea,
ocorrem na forma de corpos protéicos; já os carboidratos, apresentaram-se na forma de polissacarídeos de parede celular,
novamente com exceção para M. arborea que os reserva na forma de grãos de amido. Finalmente, a única espécie com
reserva lipídica significativa foi T. arborea, na forma de pequenas gotas presentes no endosperma.
Palavras - chave: Allamanda blanchetii, Malouetia arborea, Mandevilla pohliana e Tabernaemontana arborea
Introdução
Cerca de 70% de todo o alimento consumido pelo homem provém de sementes, pois além do
consumo direto na dieta, elas também são utilizadas na produção de óleos industriais e bebidas (Harris et
al. 1993). A semente representa o óvulo fertilizado e desenvolvido (Bell 1991; Souza 2006),
funcionando como a unidade reprodutiva das espermatófitas (Johri 1984). O sucesso no
estabelecimento de uma nova planta é determinado pelas características anatômicas, fisiológicas e
bioquímicas da semente (Carvalho & Nakagawa 1983; Bewley & Black 1994).
A identificação de sementes por meio de características morfológicas e anatômicas é importante
na sistemática e taxonomia (Esau 1965), no entendimento da fisiologia, em paleobotânica, arqueologia,
fitopatologia, em análises na agricultura e horticultura, bem como no estudo de comunidades vegetais
(Silva & Paoli 2000). Esta grande diversidade de características morfológicas e anatômicas tem atraído
a atenção de muitos pesquisadores (Nikolaeva 2004). Mesmo assim são poucos os trabalhos, como os de
Pearson (1948), Khan (1970), Corner (1976), Aguiar (2003) e Souza et al. (2004), que tratam da
anatomia de sementes em Apocynaceae. Segundo Potgieter & Albert (2001) faltam estudos de
características dos propágulos na família como um todo. Além disto, a maioria dos estudos sobre a
composição química das sementes são realizados em espécies cultivadas, pois elas são utilizadas para
nossa alimentação e também como matéria-prima em indústrias (Bewley & Black 1994), sendo raros os
1
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, vinculado ao programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas
Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
Departamento de Biologia Celular, Instituto de Biologia, Caixa Postal no 6109, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 13083 – 970, Campinas, SP, Brasil
4
Autor para correspondência: smcg@unicamp.br
2
3
90
trabalhos com espécies selvagens.
Apocynaceae é uma das maiores e mais representativas famílias de Angiospermas, contendo em
seus limites atuais cerca de 400 – 480 gêneros e 4.300 – 4.800 espécies com distribuição pantropical e
em climas temperados (Albers & Meve 2001; Potgieter & Albert 2001; APG 2003), incluindo espécies
de diversos hábitos, como árvores, arbustos, subarbustos, lianas e ervas (Judd et al. 2002; Kinoshita
2005; Simpson 2007). Dentro da família as sementes possuem uma diversidade morfológica, podendo
se apresentar nuas, como as de Hancornia speciosa Gomes (Simões & Kinoshita 2002), ariladas, como
as de Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003), aladas, como as de Aspidosperma spp.
(Marcondes-Ferreira 2005) ou comosas, como as presentes em todas as espécies de Apocynoideae,
Periplocoideae, Secamonoideae e Asclepiadoideae (Endress & Bruyns 2000).
Tendo em vista a escassez de estudos e a diversidade morfológica das sementes dos
representantes da família, o objetivo deste trabalho foi descrever a anatomia e caracterizar os tipos de
substâncias de reserva presente em sementes maduras de Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia
arborea (Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose,
como uma contribuição ao conhecimento de Apocynaceae. Estas espécies foram escolhidas por serem
representantes da flora brasileira, apresentarem morfologia variada e possuírem diferentes tipos de
apêndices: ala, pelos ao redor de toda semente, coma e arilo, respectivamente.
Materiais e métodos
Material Botânico
O material botânico utilizado para este trabalho constou de sementes maduras de 4 espécies da
família Apocynaceae: Allamanda blanchetii A. DC. (Fig. A), Malouetia arborea (Vell.) Miers (Fig. D e
E), Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry (Fig. C) e Tabernaemontana arborea Rose (Fig. B).
As coletas foram realizadas em áreas de Mata Atlântica (Cananéia – Fazenda Folha Larga),
fragmentos de Cerrado (Campinas – Fazenda Santa Eliza – IAC), no Campus da Universidade Estadual
de Campinas e de indivíduos ornamentais cultivados no CEASA de Campinas, SP.
As espécies foram identificadas pela Profa. Dra. Luiza Sumiko Kinoshita (especialista na
família) e os materiais testemunha herborizados e incorporados ao Herbário UEC (Tabela 1).
Tabela 1 – Dados referentes ao material testemunha das espécies estudadas
Espécie
Localidade
A. blanchetii
Campinas (SP)
“Unicamp”
Cananéia (SP)
“Fazenda Folha Larga”
Campinas (SP)
“Ceasa – indivíduo cultivado”
Campinas (SP)
“Fazenda Sta Eliza”
M. arborea
M. pohliana
T. arborea
Nome e no do coletor
Data da coleta
S. M. Gomes 487
28/XI/2002
142021
C. Urbanetz 221
20/XI/2003
133528
S. Aguiar 18
18/III/2007
144567
S. M. Gomes 568
28/II/2003
142140
Registro UEC
91
Metodologia
As sementes coletadas foram fixadas em FAA (Johansen 1940) e conservadas em álcool etílico
70%. Posteriormente estas sementes foram incluídas em resina plástica (Gerrits & Smid 1983),
seccionadas em micrótomo rotativo e as secções, de 10 µm aproximadamente, foram coradas com azul
de toluidina (O' Brien et al. 1964), para análise estrutural, ou submetidas aos testes histoquímicos
listados na tabela 2. Algumas secções foram submetidas à luz polarizada a fim de evidenciar
constituintes celulares birrefringentes, como cristais, amido e celulose (Evert 2006).
Tabela 2 – Testes histoquímicos utilizados na caracterização do tipo de substância de reserva presente nas sementes
Grupo de Compostos
Lipídios
Carboidratos
Proteínas
Compostos fenólicos
Testes histoquímicos (Referência Bibliográfica)
Lipídios totais
Preto de Sudão B “Sudan Black B” (Pearse 1985) CI. 26150
Lipídios totais
Sudão IV (Pearse 1985) CI. 26105
Lipídios ácidos e neutros
Sulfato azul do Nilo (Cain 1947) CI. 51180
Ácidos graxos
Acetato de cobre/ácido Rubeânico (Ganter & Jollés 1969)
Amido
Reagente de Lugol (Johansen 1940)
Mucilagem
Ácido tânico/cloreto férrico (Pizzolato 1977)
Mucilagens ácidas
Vermelho de r utênio (Gregory & Baas 1989)
Polissacarídeos totais
Reação PAS (Jensen 1962) CI . 42500
Proteínas totais
Preto de amido B “Aniline Blue Black” (Fisher 1968) CI. 20470
Proteínas totais
Xylidine Ponceau (Cortelazzo & Vidal 1991) CI. 16150
Compostos fenólicos totais
Cloreto férrico (Johansen 1940)
As ilustrações consistiram de esquemas, fotografias e fotomicrografias. Os esquemas das
sementes foram obtidos em câmara clara acoplada a estereomicroscópio. As fotomicrografias foram
realizadas em microscópio Olympus BX 51 utilizando-se filme Kodak ProImage ASA 100, cujo
negativo foi posteriormente escaneado para a produção de imagens digitais de alta resolução. As escalas
das ilustrações foram calculadas através de lâmina micrométrica fotografada nas mesmas condições
ópticas das demais ilustrações. As ilustrações foram utilizadas na confecção das pranchas, montadas no
programa CorelDraw X3.
Resultados
Abaixo segue a descrição anatômica de cada uma das sementes estudadas neste trabalho e dos
principais resultados obtidos nos testes histoquímicos, que estão sumarizados na tabela 3.
Allamanda blanchetii A. DC.
A semente madura é constituída por um envoltório (testa), endosperma e embrião (Fig. 1 e 4). A
testa é formada pela exotesta unisseriada, constituída de células de paredes anticlinais e periclinal
interna delgadas e periclinal externa espessas (Fig. 4), repletas de compostos fenólicos (Fig. 3). Além
92
A
B
D
C
E
Figuras A – E. Sementes maduras. A. Allamanda blanchetii A. DC. B. Tabernaemontana arborea Rose (seta = arilo). C. Mandevilla
pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry. D e E. Malouetia arborea (Vell.) Miers.
desta camada, a testa também possui várias camadas de células colapsadas (Fig. 4), pertencentes à
mesotesta e endotesta, cujas paredes também possuem compostos fenólicos evidenciados pelo cloreto
férrico (Fig. 3) e corados em verde intenso pelo azul de toluidina (Fig. 4). Em algumas regiões
observam-se saliências na testa, resultantes do alongamento de células da exotesta (Fig. 4) ou de células
da exotesta acrescidas de células da mesotesta. O prolongamento da testa da semente forma a ala (Fig.
1), que é constituída pela exotesta e por diversas camadas de células colapsadas da mesotesta (Fig. 2).
O endosperma (Fig. 4) possui células de paredes espessas, núcleos pouco evidentes e citoplasma
com numerosos grânulos de reserva. As paredes das células são ricas em polissacarídeos de reserva, pois
tiveram resultado positivo para reação PAS (Fig. 5). Já os grânulos de reserva, que preenchem todo o
citoplasma das células, são corpos protéicos, pois tiveram resultado positivo somente para os testes com
aniline blue black (Fig. 6) e xylidine ponceau (Fig. 7).
Os cotilédones são revestidos pela epiderme que é constituída por células de paredes delgadas,
núcleos evidentes (Fig. 4 e 8) e citoplasma repleto de grânulos de reserva, maiores na face adaxial do que
na abaxial (Fig. 4). A epiderme envolve o mesofilo que é constituído por 10 a 12 camadas de células
parenquimáticas entre as quais estão dispersos feixes vasculares e laticíferos (Fig. 4 e 8). Junto à
epiderme da face adaxial observa-se uma camada de células parenquimáticas colunares, diferente das
demais camadas que possuem formato variado (Fig. 4 e 8), caracterizando o mesofilo como
93
Te
Sl
Fig. 4
}
Al
Fig. 2
Ex
Mt
2cm
Co
Ed
1
Ab
80µm
2
70µm
3
50µm
40µm
5
8
}
Ed
110µm
40µm
50µm
4
Ad
6
50µm
7
9
Figuras 1 – 9. Semente madura de Allamanda blanchetii A. DC. 1. Esquema da secção transversal da semente. 2 - 9. Secções transversais.
2, 4 e 8. Teste com azul de toluidina. 3. Teste com cloreto férrico. 5. Reação PAS. 6 e 9. Teste com aniline blue black. 7. Teste com Xylidine
ponceau. 2. Ala da semente. 3. Detalhe da testa com compostos fenólicos. 4. Vista geral da testa, do endosperma e de um cotilédone (seta =
feixe vascular). 5. Detalhe das células do endosperma, evidenciando as paredes espessadas com polissacarídeos (seta). 6 e 7. Corpos
protéicos das células do endosperma. 8. Detalhe do cotilédone (seta branca = laticífero; seta preta = feixe vascular). 9. Cotilédone repleto
de corpos protéicos corados em azul escuro. Ab = face abaxial; Ad = face adaxial; Al = ala; Co = cotilédone; Ed = endosperma; Ex =
exotesta; Mt = mesotesta; Sl = saliência; Te = testa
94
dorsiventral. A parede das células parenquimáticas é delgada e rica em substâncias pécticas,
apresentando forte metacromasia após a coloração com azul de toludina e o citoplasma é repleto de
grânulos de reserva (Fig. 8). Os feixes vasculares são pouco diferenciados e estão distribuídos na região
mediana do cotilédone (Fig. 4 e 8); já os laticíferos são diferenciados e se distribuem por todo mesofilo,
sendo distinguidos das células parenquimáticas pelo formato cilíndrico, pelas paredes celulares
espessas, pelo conteúdo citoplasmático de aspecto mais denso e por serem pouco calibrosos (Fig. 8). Os
grânulos de reserva das células epidérmicas e parenquimáticas do embrião, da mesma forma que os
encontrados no endosperma, são corpos protéicos, pois tiveram resultado positivo somente para os
testes com aniline blue black (Fig. 9) e xylidine ponceau.
Malouetia arborea (Vell.) Miers
A semente madura é totalmente envolvida por tricomas lignificados (pêlos) originados a partir
do prolongamento das células da testa (Fig. 10) que também apresenta várias camadas de esclerócitos
lignificados (Fig. 10), repletos de pontuações (Fig. 13) e compostos fenólicos, fortemente corados em
verde pelo AT (Fig. 13) e com reação positiva para o cloreto férrico (Fig. 17). Os tricomas lignificados e
os esclerócitos formam a exotesta. Logo abaixo, observa-se a mesotesta (Fig. 10), constituída por várias
camadas de células parenquimáticas de paredes delgadas, ricas em pectinas, com núcleos e nucléolos
evidentes (Fig. 12), entre as quais estão dispersos diversos idioblastos cristalíferos (Fig. 12). A endotesta
e uma parte da mesotesta são formadas por células colapsadas (Fig. 10).
O endosperma possui células de parede delgada (Fig. 10) e citoplasma de aspecto pouco denso,
cuja reserva ocorre somente na forma de pequenos grãos de amido (Fig. 15), pois os testes para proteínas
tiveram resultado negativo (Fig. 14). As células do endosperma que estão em contato direto com a testa
são revestidas por camada lipídica levemente espessa, revelada em teste com Sudan black B (Fig. 16).
Os cotilédones possuem mesofilo constituído por células parenquimáticas, feixes vasculares,
laticíferos e idioblastos cristalíferos (Fig. 11), envolto pela epiderme. As células da epiderme possuem
parede delgada, citoplasma de aspecto denso com grãos de amido e proteínas de reserva e núcleo visível.
O mesofilo é dorsiventral, pois se observa uma leve diferenciação no formato das células
parenquimáticas que o constituem: as que estão em contato direto com a epiderme da face adaxial
possuem formato levemente colunar (Fig. 11); já nas demais camadas o formato das células é variado
(Fig. 11 e 18). As células parenquimáticas possuem paredes delgadas, núcleo proeminente (Fig. 18) e
citoplasma com proteínas de reserva (Fig. 19), não organizadas em corpos protéicos, além de pequenos
grãos de amido.
Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry
A semente comosa de M. pohliana é envolvida pela testa, constituída por uma exotesta de células
com paredes anticlinais levemente espessadas e conteúdo fenólico (Fig. 20, 21 e 22), e por várias
camadas de células colapsadas e impregnadas de conteúdo fenólico coradas em verde intenso pelo azul
95
Ad
}
Ex
}
Mt
110µm
}
Ed
10
80µm
11
Ab
Ex
Mt
12
60µm
13
40µm
Te
Ed
Ed
14
60µm
60µm
17
15
40µm
40µm
18
25µm
40µm
Te
16
19
Figuras 10 – 19. Secções transversais da semente madura de Malouetia arborea (Vell.) Miers. 10 – 13 e 18. Teste com azul de toluidina. 14
e 19. Teste com Aniline blue black. 15. Reação com reagente de lugol. 16. Teste com Sudan Black B. 17. Teste com cloreto férrico. 10. Vista
geral da testa e do endosperma (seta = tricoma). 11. Cotilédone (seta branca = drusa; seta preta = feixe vascular). 12. Detalhe da exotesta e
da mesotesta (setas = cristais prismáticos). 13. Detalhe dos esclerócitos da exotesta (seta branca = pontuação simples; seta preta =
compostos fenólicos). 14. Testa e endosperma. 15. Grão de amido, corados em preto, nas células do endosperma. 16. Camada lipídica
(seta) nas células do endosperma. 17. Detalhe dos esclerócitos da exotesta evidenciando compostos fenólicos na parede. 18. Feixe vascular
(seta preta), idioblastos cristalíferos com drusas (seta branca) e células parenquimáticas do cotilédone. 19. Proteínas de reserva, coradas
em azul, no citoplasma das células do cotilédone. Ab = face abaxial; Ad = face adaxial; Ed = endosperma; Ex = exotesta; Mt = mesotesta; Te
= testa
96
de toluidina (Fig. 21), pertencentes à mesotesta e endotesta, entre as quais estão dispersos idioblastos
com cristais prismáticos (Fig. 21).
As células do endosperma possuem parede espessa (Fig. 20 e 21) e rica em polissacarídeos de
reserva, evidenciados pela reação PAS (Fig. 23). O citoplasma das células é granuloso e o núcleo
evidente (Fig. 20 e 21). Os grânulos de reserva do citoplasma são corpos protéicos, pois tiveram
resultado positivo somente para os testes com xylidine ponceau (Fig. 24) e aniline blue black (Fig. 25).
Os cotilédones do embrião são constituídos por uma epiderme unisseriada, que reveste o
mesofilo (fig. 20 e 26). As células epidérmicas, de paredes delgadas e citoplasma repleto de corpos
protéicos (Fig. 27 e 28), são maiores na face adaxial do que na abaxial (Fig. 20 e 26). O mesofilo é
constituído por células parenquimáticas, feixes vasculares e laticíferos (Fig. 20 e 26). As células
parenquimáticas, de paredes delgadas e citoplasma repleto de corpos protéicos (Fig. 27 e 28), possuem
formato levemente colunar, quando localizadas junto à epiderme da face adaxial, ou variado, no restante
do mesofilo (Fig. 20 e 26). Os feixes vasculares são pouco diferenciados e estão distribuídos na região
mediana do mesofilo (Fig. 20 e 26); já os laticíferos possuem formato cilíndrico e conteúdo de aspecto
denso (Fig. 20 e 26), sendo facilmente reconhecidos.
Tabernaemontana arborea Rose
A semente madura é envolvida, quase que totalmente, pelo arilo, constituído de células
parenquimáticas de paredes delgadas e conteúdo de aspecto pouco denso e por feixes vasculares (Fig.
33). O tipo de substância de reserva presente em algumas células é o amido, evidenciado pelo reagente
de Lugol (Fig. 34).
Logo abaixo do arilo observa-se o envoltório (testa) que é constituído exclusivamente pela
exotesta (Fig. 30 e 31), que se apresenta repleta de saliências e reentrâncias (Fig. 29). A exotesta é
formada por uma camada de esclerócitos de paredes lignificadas (Fig. 30 e 31) e conteúdo fenólico (Fig.
32). Na região das reentrâncias, os esclerócitos possuem somente as paredes anticlinais basais
espessadas (Fig. 31); já na região das saliências os esclerócitos da exotesta possuem tanto as paredes
anticlinais basais, como as periclinais externas espessadas (Fig. 30), deixando um lume pouco
desenvolvido, mas repleto de compostos fenólicos (Fig. 32). As células da mesotesta e da endotesta são
totalmente consumidas durante o desenvolvimento da semente, estando ausentes na semente madura.
O endosperma é ruminado (Fig. 29) e constituído por células de parede espessa (Fig. 35) e
citoplasma repleto de grânulos de reserva. Através dos testes histoquímicos, pode-se constatar que os
grânulos de reserva, presentes no citoplasma, são corpos protéicos (Fig. 37) e que a parede espessa
possui polissacarídeos de reserva (Fig. 35). Além dos corpos protéicos também foram detectadas,
através do teste com Sudan Black B (Fig. 36), pequenas gotas de lipídios ao redor dos corpos protéicos.
Os cotilédones possuem um mesofilo, constituído por células parenquimáticas, feixes
vasculares e laticíferos, envolto pela epiderme, que possui células de parede delgada (Fig. 38) e
citoplasma repleto de grânulos de reserva. O mesofilo é dorsiventral, pois se observa uma leve
97
Te
Te
}
Ed
Ed
50µm
21
Cf
60µm
20
Ab
20µm
22
Te
Ed
25µm
23
24
40µm
Ed
40µm
26
40µm
27
25
40µm
40µm
Co
28
Figuras 20 – 28. Secções transversais da semente madura de Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry. 20, 21 e 26. Teste com azul de
toluidina. 22. Teste com cloreto férrico. 23. Reação PAS. 24 e 27. Teste com xylidine ponceau. 25 e 28. Teste com aniline blue black. 20.
Vista geral da testa, do endosperma e do cotilédone (seta branca = laticífero; seta preta = feixe vascular). 21. Testa com cristais prismáticos
(seta) e endosperma. 22. Compostos fenólicos nas células da testa. 23. Detalhe das células do endosperma com resultado positivo para
polissacarídeos totais nas paredes espessadas (seta). 24. Testa e endosperma. Notar corpos protéicos corados em vermelho no endosperma.
25. Corpos protéicos, corados em azul escuro, nas células do endosperma. 26. Cotilédone (seta branca = laticífero; seta preta = feixe
vascular). 27. Corpos protéicos, corados em vermelho, das células do cotilédone. 28. Corpos protéicos, corados em azul escuro, das células
do cotilédone. Ab = face abaxial; Cf = compostos fenólicos; Co = cotilédone; Ed = endosperma; Ex = exotesta; Te = testa
98
Te
Ed
1cm
29
110µm
30
30µm
31
Cf
60µm
32
25µm
60µm
Ab
60µm
80µm
33
34
53
35
40µm
53
36
40µm
53
37
38
40µm
39
40µm
40
Figuras 29 – 40. Semente madura de Tabernaemontana arborea Rose. 29. Esquema da secção transversal da semente. 30 – 40. Secções
transversais. 30, 31, 33 e 38. Teste com azul de toluidina. 32. Teste com cloreto férrico. 34. Reação com reagente de lugol. 35. Reação PAS.
36. Teste com Sudan black B. 37 e 39. Teste com aniline blue black. 40. Teste com xylidine ponceau. 30. Exotesta lignificada e repleta de
compostos fenólicos da região das saliências. 31. Exotesta localizada na região das reentrâncias. Notar lignificação somente nas paredes
basais. 32. Compostos fenólicos na exotesta. 33. Feixe vascular e células parenquimáticas do arilo. 34. Grãos de amido, corados em preto,
presente nas células do arilo. 35. Detalhe das células do endosperma, evidenciando as paredes espessadas com polissacarídeos. 36. Corpos
lipídicos, corados em preto, no endosperma. 37. Corpos protéicos, corados em azul escuro, nas células do endosperma. 38. Cotilédone. 39.
Corpos protéicos, corados em azul escuro, nas células do cotilédone. 40. Corpos protéicos, corados em vermelho, nas células do
endosperma. Ab = face abaxial; Cf = compostos fenólicos; Ed = endosperma; Te = testa
99
diferenciação no formato das células parenquimáticas que o constitui: as duas camadas que estão em
contato direto com a epiderme da face adaxial possuem formato levemente colunar; já as demais
camadas possuem formato variado (Fig. 38). As substâncias de reserva das células epidérmicas e
parenquimáticas são corpos protéicos, evidenciados pelos testes com aniline blue black (Fig. 39) e
xylidine ponceau (Fig. 40).
Tabela 2 – Resultados dos tratamentos aplicados em sementes maduras de Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia arborea
(Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose.
+ = reação positiva; - = reação negativa; Ar = arilo; Co = cotilédone; Ed = endosperma
Grupo de Compostos
Lipídios totais
Lipídios ácidos e
T
Allamanda blanchetii
estes histoquímicos
Malouetia arborea
Mandevilla pohliana
Tabernaemontana arborea
Ed
Co
Ed
Co
Ed
Co
Ed
Co
Sudan black B
-
-
-
-
-
-
+
-
Ar
-
Sudan IV
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Nile Blue
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Acetato de cobre/Ácido
-
-
-
-
-
-
-
-
-
neutros
Ácidos graxos
rubiânico
Amido
Reagente de Lugol
-
-
+
+
-
-
-
-
+
Mucilagem
Ácido tânico/Cloreto
-
-
-
-
-
-
-
-
-
férrico
Pectina
Vermelho de rutênio
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Polissacarídeos Totais
Reação PAS
+
-
+
+
+
-
+
-
+
(parede)
(amido)
(amido)
(parede)
Aniline blue black
+
+
-
+
+
+
+
+
-
Xylidine Ponceau
+
+
-
+
+
+
+
+
-
(parede)
(amido)
Proteínas totais
Discussão
Desenvolvimento da semente
Sementes maduras de A. blanchetii, M. arborea, M. pohliana e T. arborea são revestidas por um
envoltório único, denominado testa, cuja camada mecânica ocorre na exotesta. Quando a camada de
células protetora e lignificada se localiza na epiderme da testa, a semente é chamada de exotestal
(Corner 1976; Souza 2006). Desta forma, todas estas sementes, aqui estudadas, são exotestais, da
mesma maneira que outras espécies estudadas na família, como Catharanthus pusillus (Murr.) G. Don
(Khan 1970), Holarrhena antidysenterica Wall. (Latoo 1974), Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. e
Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Aguiar 2003), Asclepias curassavica L. (Souza et al. 2004) e
todas as espécies da família Apocynaceae descritas por Corner (1976). Além disto, o número de
camadas da exotesta revelou ser um caráter potencialmente distintivo, pois somente M. arborea possui
exotesta multisseriada.
O tipo celular presente na exotesta de M. arborea e T. arborea é o esclerócito. Segundo Werker
(1997), esclerócitos são muito comuns nos tegumentos, variando em relação à espessura da parede e
quanto ao número de camadas nas quais estão dispostos. No caso de P. riedelii, o espessamento é do tipo
escalariforme-reticulado e restrito às paredes basais (Aguiar 2003), diferente de M. arborea que possui
100
espessamento homogêneo de parede. O padrão de espessamento dos esclerócitos de T. arborea revelou
ser muito semelhante ao encontrado em T. catharinensis (Aguiar 2003), sugerindo ser uma
característica conservada no gênero.
Compostos fenólicos foram detectados na testa de todas as espécies estudadas através do teste
com cloreto férrico (Johansen 1940). Segundo Swain (1979), os compostos fenólicos são encontrados
em todas as plantas vasculares atuando na defesa das plantas contra herbívoros. Werker (1977) reforçou
esta afirmativa e indicou que os compostos fenólicos nas sementes aparentemente atuam na proteção
contra herbívoros, fungos e bactérias tendo ainda possível efeito contra vírus. Também ajudam os
tegumentos a se tornarem mais rígidos e impermeáveis, funcionam como inibidores da germinação
(Mayer & Poljakoff-Maber, 1975), conferem a coloração amarronzada de muitas sementes (Werker
1979) e também servem para a proteção contra luz (Boesewinkel & Bouman 1984). Outras espécies da
família, como Holarrhena antydisenterica Wall (Latoo 1974) e T. catharinensis (Aguiar 2003) também
possuem estas substâncias na testa de suas sementes.
Outras estruturas presentes no tegumento de M. arborea e M. pohliana são os cristais
prismáticos. Cristais têm sido freqüentemente encontrados no tegumento de muitas sementes, cuja
função tem sido atribuída a proteção contra invasão de microorganismos, estoque de cálcio e síntese de
proteínas de reserva (Webb & Arnott 1982; Ilarslan et al. 1997) e foram encontrados em outros membros
da família, como Asclepias curassavica (Souza et al. 2004). Além dos cristais na testa, também foram
encontrados cristais do tipo drusa no cotilédone de M. arborea.
Ruminação no tegumento pode ou não envolver ruminação no endosperma (Werker 1997). No
caso de T. arborea, a única espécie a apresentar endosperma ruminado, a exotesta é uma das
responsáveis pela ruminação do endosperma, visto que possui saliências e reentrâncias cujas células
apresentam diferentes graus de desenvolvimento e espessamento de parede. Este fato já havia sido
descrito por Periasamy (1963) para sementes de Voacanga grandifolia Rolfe, Ervatamia heyneana
Cooke e Tabernaemontana sp. que, da mesma forma que T. arborea, possuem endosperma ruminado.
Segundo o autor, o endosperma de Tabernaemontana sp. só se torna ruminado por crescer
acompanhando as ondulações da exotesta e comprimir as células da mesotesta. Os dados encontrados
neste trabalho corroboram com as observações de Periasamy (1963) e enfatizam a participação da testa
no processo de ruminação do endosperma de T. arborea.
O endosperma funciona como um tecido intermediário, pois absorve nutrientes de outros
tecidos, como envoltório e nucelo, e os acumula no interior de suas células (Werker 1997) com a função
de repassar esta reserva para o embrião. Apesar de todas as espécies serem albuminosas, somente em M.
arborea foi observada uma camada lipídica, revelada em teste com Sudan Black B, revestindo as células
do endosperma em contato com a testa da semente. A presença desta camada no endosperma é um
fenômeno raro nunca retratado para Apocynaceae, sendo observado em espécies de outras famílias
como Sapium sebiferum Roxb. (Euphorbiaceae), Sterculia foetida L. (Sterculiaceae) e em Datura
stramonium L. (Solanaceae) (Vaughan 1970; Maldonado & Lott 1991), onde esta camada lipídica foi
101
denominada cutícula. Neste trabalho adotou-se o termo camada lipídica, pois o termo cutícula tem sido
sempre empregado para células epidérmicas e, com exceção dos trabalhos mencionados acima, não é
referido em outros tecidos do vegetal. Como se trata de uma estrutura raramente encontrada nas
sementes, sua função permanece desconhecida.
Substâncias de reserva
Os principais materiais de reserva em sementes maduras são proteínas, usualmente na forma de
corpos protéicos, substâncias lipofílicas como corpos lipídicos (oleossomos, esferossomos), e
carboidratos na forma de grânulos, usualmente de amido, ou como constituinte de paredes celulares
espessadas (Werker 1997). As substâncias de reserva são mobilizadas durante o desenvolvimento da
semente e seus produtos são usados para vários propósitos, como geração de energia e produção de
compostos orgânicos (proteínas, carboidratos, lipídios, ácidos nucléicos) para construção de células e
tecidos (Mayer & Poljakoff-Mayber 1975).
Todas as espécies estudadas armazenam substâncias de reserva no endosperma e no embrião.
Segundo Werker (1997), os materiais de reserva podem ser acumulados praticamente em todos os
tecidos da semente, temporariamente ou permanentemente, para posterior germinação. No caso de T.
arborea, além das reservas presentes no endosperma e embrião, também existem substâncias de
reserva, no caso amido, no arilo que envolve boa parte das sementes.
Segundo Carvalho & Nakagawa (1983), dentre os componentes químicos das sementes, as
proteínas se apresentam em menor proporção que os carboidratos e lipídios, exceção feita à soja. Nos
resultados obtidos neste trabalho, pode-se observar resultado diferente do sugerido pelos autores, pois
em todas as espécies estudadas, as principais substâncias de reserva encontradas nos cotilédones e
endosperma, são as proteínas. Em sementes secas, as reservas protéicas aparecem de duas formas: como
discretos corpos protéicos ou grãos de aleurona, envolvidos por uma membrana única; ou como uma
matriz amorfa dispersa no citoplasma (Werker 1997). Com exceção de M. arborea, as espécies
estudadas neste trabalho armazenam proteínas na forma de corpos protéicos, tanto nos cotilédones
quanto no endosperma. Estes dados corroboram com o trabalho de Aguiar (2003) que também observou
material de reserva de origem protéica, na matriz celular e em corpos protéicos, nos cotilédones e
endosperma de P. riedelii e T. catharinensis. A principal função destas proteínas é a de fornecer
aminoácidos e nitrogênio para plântulas em desenvolvimento (Amaral et al. 2001) e também auxiliar no
processo de embebição das sementes (Mayer & Poljakoff-Maber 1975). No caso de M. arborea foi
detectada reserva de proteínas somente nos cotilédones, mas não na forma de corpos protéicos, como
nas demais espécies, mas sim de forma dispersa na matriz celular.
Arilo é uma excrescência carnosa que se forma na superfície das sementes (Corner 1976; Kapil
et al. 1980) tendo importante papel na dispersão das mesmas (Pijl 1969). Ele pode se originar de
diferentes partes das sementes (Werker 1997). Usualmente, os arilos possuem amido e óleos,
variavelmente localizados, mas também podem apresentar células mucilaginosas (Corner 1976). Os
102
pigmentos podem ser localizados em cromoplastos (Raju 1956) ou vacúolos (Werker 1997). Algumas
vezes, os pigmentos de óleos funcionam também como reserva (Vaughan 1970; Corner 1976), estando
presentes em grandes gotas no interior da célula (Werker 1997). Apesar de T. arborea apresentar arilo de
cor laranja nenhuma gota de lipídio foi evidenciada nos tratamentos para substâncias lipofílicas. O
único tipo de substância de reserva encontrado no arilo foi o amido, corroborando com os resultados
obtidos por Aguiar (2003) que também observou esta substância no arilo de T. catharinensis.
A forma mais comum de reserva de carboidrato nas sementes é o amido (Werker 1997), seguido
por frutanos e polissacarídeos de parede celular (Buckeridge et al. 2000). O amido é constituído de
diferentes proporções de amilose e amilopectina, ambos polímeros de glicose (Bewley & Black 1994).
Das espécies estudadas neste trabalho somente M. arborea armazena amido no endosperma e
cotilédone. Aguiar (2003) também observou presença de amido na testa, endosperma e cotilédones de P.
riedelii e no endosperma e cotilédones de T. catharinensis. O amido é depositado em organelas
denominadas amiloplastos (Duffus 1992), cujos grãos semicristalinos exibem birrefringência em forma
de cruz de malta (Banks & Muir 1980). Os grãos de amido variam quanto à morfologia entre espécies,
com relação ao tamanho, forma, estrutura de anéis, localização e forma do hilo, podendo algumas vezes
auxiliar na taxonomia (Werker 1997). A forma do grão é determinada pela quantidade de amilose, pois
quanto maior for a quantidade deste composto no grão mais arredondado ele será (Bewley & Black
1994). Amaral et al. (2001) analisaram a presença de amido nas células do endosperma de Bixa orellana
L. e verificaram a presença de grãos pequenos e de forma elíptica nos primeiros estádios de
desenvolvimento, sendo que com o decorrer do tempo, estes grãos tornaram-se maiores e mais
arredondados.
De acordo com Buckeridge et al. (2000), os polissacarídeos de parede são classificados em três
grupos: mananos (mananos puros, glucomananos e galactomananos), xiloglucanos e galactanos. Eles
podem estar presentes no endosperma, perisperma e cotilédones (Werker 1997). Dentre as espécies
estudadas, somente M. arborea possui endosperma com células de paredes delgadas; nas demais
espécies as células do endosperma possuem parede espessa, com acúmulo de polissacarídeos de
reserva. Desta forma, além dos corpos protéicos, a parede celular do endosperma destas espécies
também atua na reserva de substâncias para a germinação.
A única espécie que possui reserva lipídica é T. arborea, na forma de pequenas gotas localizadas
ao redor dos corpos protéicos. Reserva lipofílica aparece como gotas de óleos (esferossomos),
envolvidos por meia unidade de membrana e apresentando material eletron denso (Adams et al. 1983).
Aguiar (2003) também verificou presença de corpos lipídicos nos cotilédones e endosperma de T.
catharinensis. Quando ocorre junto com corpos protéicos, os corpos lipídicos são localizados na
periferia da célula e dos corpos protéicos (Werker 1997), fato também observado em T. arborea.
103
Conclusões
As sementes estudadas neste trabalho são morfologicamente distintas e possuem diferentes
tipos de apêndices: ala, em A. blanchetii, pelos ao redor de toda a semente, em M. arborea, coma, em M.
pohliana e arilo, em T. arborea. Mesmo assim estas sementes apresentam diversas características
comuns, como envoltório único repleto de compostos fenólicos, endosperma e cotilédones
dorsiventrais. Como a camada mecânica localiza-se na exotesta, todas as sementes são exotestais, sendo
que somente M. arborea possui a exotesta multisseriada. As principais substâncias de reserva encontradas
foram as proteínas e os carboidratos. As proteínas, à exceção de M. arborea, ocorrem na forma de corpos
protéicos; já os carboidratos, apresentaram-se na forma de polissacarídeos de parede celular, novamente
com exceção para M. arborea que os reserva na forma de grãos de amido. Finalmente, a única espécie com
reserva lipídica significativa foi T. arborea, na forma de pequenas gotas presentes no endosperma.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela bolsa concedida ao primeiro autor durante a
elaboração deste trabalho e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo
auxílio à pesquisa fornecido (proc. 01/12364-0). Agradecimentos especiais a MSc. Cátia Urbanetz por
ceder parte do material botânico utilizado na elaboração deste trabalho.
Referências Bibliográficas
Adams, C.A.; Norby, S.W. & Rinne, R.W. 1983. Ontogeny of lipid bodies in developing soybean seeds.
Crop Science 23: 757 – 759.
Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de Apocynaceae do
cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
Amaral, L.I.V.; Pereira, M.F.D.A. & Cortelazzo, A.L. 2001. Formação das substâncias de reserva
durante o desenvolvimento embrionário de urucum (Bixa orellana L. – Bixaceae). Acta Botanica
Brasílica 15 (1):125 – 132.
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update oh the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Banks, W. & Muir, D.D. 1980. Structure and chemistry of the starch granule. Pp. 321 – 329. In: P.R.
Stumpf & E.E. Conn (eds.). The biochemistry of plants. London, Academic Press.
104
Bell, A.D. 1991. Plant form: an illustrated guide to flowering plant morphology. New York, Oxford
University Press.
Bewley, J.D. & Black, M. 1994. Seeds: physiology of development and germination. 2nd ed. New
York, Plenum Press.
Boesewinkel, F.D. & Bouman, F. 1984. The seed: structure. Pp. 567 – 610. In: B.M. Johri (ed.).
Embryology of Angiosperms. New York, Springer – Verlag
Buckeridge, M.S.; Santos, H.P. & Tiné, M.A.S. 2000. Mobilization of storage cell wall polysaccharides
in seeds. Plant Physiology and Biochemistry 38 (1/2): 141 – 156.
Cain, A.J. 1947. The use of Nile Blue in the examination of lipoids. Quaterly Journal of
Microscopical Science 88: 383 – 392.
Carvalho, N.M. & Nakagawa, J. 1983. Sementes: ciência, tecnologia e produção. Campinas,
Fundação Cargill.
Corner, E.J. 1976. The seeds of dicotyledons. Cambridge, Cambridge University Press.
Cortelazzo, A.L. & Vidal, B.C. 1991. Soybean seed proteins: detection in situ and mobilization during
germination. Revista Brasileira de Botânica 14: 27 – 34.
Duffus, C.M. 1992. Control of grain growth and development. Pp. 125 – 149. In: C. Marshall & J. Grace
(eds.). Fruit and seed production: aspects of development, environmental physiology and
ecology. Cambridge, University Press.
Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Esau, K. 1965. Plant anatomy. 2nd ed. Tokyo, Toppan Company LTDA.
Fisher, D.B. 1968. Protein staining of ribboned epon sections for light microscopy. Histochemie 16: 92
– 96.
Ganter, P. & Jollés, G. 1969, 1970. Histologie normale et pathologique. vols. 1 e 2. Paris, Gauthier –
Villars.
Gerrits, P.O. & Smid, L. 1983. A new, less toxic polymerization system for the embedding of soft tissues
in glycol methacrylate and subsequent preparing of serial sections. Journal of Microscopy 132: 81
– 85.
Gregory, M. & Bass, P. 1989. A survey of mucilage cells in vegetative organs of the dicotyledons. Israel
Journal of Botany 38: 125 – 174.
Harris, N.; Henderson, J.; Abbot, S.J.; Mulchrone, J. & Davies, J.T. 1993. Seed developmental and
structure. Pp. 3 – 21. In: P.R. Shewry & K. Stobart (eds.). Seed storage compounds – biosynthesis,
interactions and manipulation. Oxford, Clarendon Press.
Ilarslan, H.; Palmer, R.G.; Imsande, J. & Horner, H.T. 1997. Quantitative demonstration of calcium
oxalate and oxalate in seeds of soybean (Leguminosae). American Journal of Botany 84: 1042 –
1046.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, McGraw-Hill Book Company.
105
Johry, B.M. 1984. Embryology of angiosperms. New York, Springer – Verlag.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Kapil, R.N.; Bor, J. & Bouman, F. 1980. Seed appendanges in Angiosperms. Botanische Jahrbüecher
fuer Systematik Pfanzengeschichte und Pfanzengeographine 101(4): 555 – 573.
Khan, P.S.H. 1970. Structure and development of seed coat and fruit wall in Catharanthus pusillus G.
Don. Proceedings of the National Academy of Science 40(B): 22 – 25.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Latoo, C.S. 1974. Morphology and embryology of Holarrhena antidysenterica Wall. Botanical
Gazette 135: 173 – 180.
Maldonado, S. & Lott, J.N.A. 1991. Protein bodies in Datura stramonium seeds: structure and mineral
nutrient composition. Canadian Journal of Botany 69: 2545 – 2554.
Marcondes-Ferreira, W. 2005. Aspidosperma Mart. Pp. 39 – 47. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Mayer, A.M. & Poljakoff-Maber, A. 1975. The germination of seeds. Exeter, Pergamon Press.
Nikolaeva, M.G. 2004. On criteria to use in studies of seed evolution. Seed Science Research 14: 315 –
320.
O'Brien, T.P.; Feder, N. & Mc Cully, M.E. 1964. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine
blue O. Protoplasma 59(2): 368 – 373.
Pearse, A.G.E. 1985. Histochemistry theoretical and applied. vol. 2. Edinburgh, C. Livingstone.
Pearson, N.L. 1948. Observations on seed and seed hair growth in Asclepias syriaca L. American
Journal of Botany 35: 27 – 36.
Periasany, K. 1963. Studies on seeds with ruminate endosperm. 3. Development of rumination in certain
members of Apocynaceae. Proceedings of the Indian Academy of Sciences (Plant Sciences) 58:
325 – 332.
Pijl, L. Van der. 1969. Principles of dispersal in higher plants. Berlin, Heidelberg & New York.
Pizzolato, T.D. 1977. Staining of Tilia mucilages with Mayer´s tannic acid-ferric chloride. Bulletin of
the Torrey Botanical Club 104: 277 – 279.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Raju, M.S.V. 1956. Embryology of Passifloraceae – I. Gametogenesis and seed development of
Passiflora calcarata Mast. Journal of the Indian Botanical Society 35: 126 – 138.
106
Silva, L.L. & Paoli, A.A.S. 2000. Caracterização morfoanatômica da semente de Zanthoxylum
rhoifolium Lam. – Rutaceae. Revista Brasileira de Sementes 22: 250 – 256.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas region, Minas Gerais,
Brazil. Darwiniana 40(1/4): 127 – 169.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
Souza, L.A. 2006. Fruto. Pp. 11 – 163. In: L.A. Souza (org.). Anatomia do fruto e da semente. Ponta
Grossa, UEPG.
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Swain, T. 1979. Tannins and lignins. Pp. 657 – 682. In: G.A. Rosenthal & D.H. Janzen (eds.).
Herbivores: their interactions with secondary plant metabolites. New York, Academic Press.
Vaughan, J.G. 1970. The structure and utilization of oil seeds. London, Chapman & Hall.
Webb, M.A. & Arnott, H.J. 1982. A survey of calcium oxalate crystals and other mineral inclusions in
seeds. Scanning Electron Microscopy 3: 1109 – 1131.
Werker, E. 1997. Seed anatomy. Berlin, Gebrüder Borntraeger.
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de existirem diversos trabalhos com frutos e sementes em Apocynaceae, eles são poucos
frente à riqueza e variedade apresentada pelos representantes da família. Desta forma este trabalho
trouxe dados inéditos para 13 espécies da família ocorrentes no Brasil, além de contribuir apara o
conhecimento da família como um todo. O levantamento de caracteres anatômicos dos frutos e das
sementes, a descoberta dos tipos de reserva presentes nas sementes e a revisão da classificação
morfológica de alguns frutos foram os principais objetivos do presente trabalho, explorados nos cinco
capítulos.
Frutos de Aspidosperma são muitos semelhantes quanto à morfologia, sendo assim no primeiro
capítulo foram estudados frutos maduros de A. australe, A. olivaceum e A. pyrifolium e levantados
caracteres anatômicos do pericarpo que puderam ser utilizados na distinção das espécies. Um exemplo
de um caráter utilizado foram os tricomas de cobertura e endocarpo lignificado, encontrados somente
em A. australe. Outros caracteres levantados foram os laticíferos com bainha parenquimática, presentes
somente em A. olivaceum, e os esclerócitos arranjados em grupos de diversas células, presente somente
no mesocarpo de A. pyrifolium. Apesar de possuírem características particulares, pode-se observar
também uma similaridade quanto às características do pericarpo destas espécies quando comparadas
entre si e quando comparadas com outras espécies já estudadas, como A. polyneuron Müll. Arg. (Souza
& Moscheta 1992) e A. parvifolium A. DC. (Gomes 2008).
No segundo capítulo também pôde se comprovar a importância de estudos anatômicos e
ontogenéticos nos fornecimento de dados úteis para distinguir espécies de Allamanda. Além do mais os
estudos ontogenéticos foram primordiais no fornecimento de subsídios para nova proposta de
classificação dos frutos. Os frutos, anteriormente descritos na literatura como cápsulas loculicidas
(Barroso et al. 1999), são na realidade cápsulas septicidas, pois as valvas são originadas, cada uma, de
um único carpelo, e não de metades de carpelos adjacentes, como ocorre nas cápsulas loculicidas. O
pericarpo de A. blanchetii e A. schotti, espécies estudadas neste capítulo, são muito similiares, pois
ambos possuem epicarpo com células de paredes espessas, estômatos e cutícula delgada; no mesocarpo
observa-se hipoderme colenquimática, anel esclerenquimático, aerênquima e feixes vasculares; e o
endocarpo é constituído por esclerócitos alongados no sentido longitudinal do fruto. Estas
características anatomias são muito diferentes das encontradas na cápsula de P. coalita (capítulo 3), que
pertence a uma subfamília mais derivada dentro de Apocynaceae. A única característica distintiva entre
as espécies está relacionada ao aerênquima, que é mais desenvolvido em A. blanchetii.
Trabalhos taxonômicos anteriores (Woodson 1936; Simões & Kinoshita 2002; Rio & Kinoshita
2005) consideraram os frutos de Prestonia em geral como folículos, mas Gomes (2008) sugere que em
P. coalita estes frutos são, na realidade, cápsulas septicidas bicarpelares. Desta forma, no capítulo 3, um
estudo ontogenético nos frutos de P. coalita comprovou que os frutos desta espécie são na realidade
cápsulas septicidas bicarpelares, assim como proposto por Gomes (2008). Além disto, foram levantados
diversos caracteres anatômicos do pericarpo, que, em conjunto com o trabalho de Aguiar et al. (2009),
108
ressaltam a importância do estudo de anatomia de frutos para uma correta caracterização morfológica
dos frutos, além de fornecer dados que possam ser utilizados em futuras análises filogenéticas para o
gênero.
No quarto capítulo foram estudadas quatro espécies de Asclepiadoideae e verificados caracteres
homólogos e caracteres que puderam ser utilizados na distinção das espécies, visto que todas as espécies
possuem frutos semelhantes quanto à morfologia. A presença de estriações cuticulares foi um caráter
distintivo no epicarpo de B. bicuspidatum. Em secção transversal, somente as fibras de O. glaziovii
possuem formato achatado, sendo este um outro caráter considerado distintivo para as espécies. Além
disto, a presença de tricomas de cobertura no epicarpo de O. appendiculatum é um caráter importante
para distinguir esta espécie de O. balansae. A presença de fibras não lignificadas no mesocarpo de todas
as espécies é um dado de extrema importância corrobora com a atual circunscrição de Apocynaceae,
pois estas células, consideradas raras, também foram encontradas em espécies das subfamílias
Periplocoideae (Dave & Kuriachen 1991) e Apocynoideae (Thomas & Dave 1994; Gomes 2008; Aguiar
et al. 2009), Além de estarem presentes em outras espécies de Asclepiadoideae (Kuriachen et al. 1991;
Kuriachen et al. 1992).
A partir dos dados obtidos nos 4 primeiros capítulos foi elaborado a tabela 2, comparativa entre
todas as espécies estudadas, onde nota-se a existência de caracteres comuns e particulares para cada uma
das espécies.
No quinto e último capítulo, foi possível verificar que todas as sementes estudadas, apesar de
possuírem morfologia variada e diferentes tipos de apêndices, apresentam similaridades quanto à
estrutura do tegumento, pois todas são exotestais e possuem compostos fenólicos. Além disto,
Allamanda blanchetii, Mandevilla pohliana e Tabernaemontana arborea possuem corpos protéicos
como principal substância de reserva, ao passo que em Malouetia arborea as substâncias de reserva
aparecem na forma de grãos de amido e proteínas de matriz. Corpos lipídicos estão presentes somente
em Tabernaemontana arborea, passando quase que despercebidos nos testes histoquímicos, devido à
abundância e tamanho dos corpos protéicos. Foi observada, em M. arborea, uma camada lipídica no
endosperma, envolvendo as células mais externas. Este é um dado muito incomum na literatura,
ocorrendo somente em algumas espécies, e inédito para a família Apocynaceae.
PERSPECTIVAS FUTURAS
A partir do trabalho de Aguiar (2003) iniciou-se, no laboratório de Anatomia Vegetal da
UNICAMP, uma linha de estudo cujo propósito é investigar caracteres morfoanatômicos de frutos e
sementes de espécies brasileiras de Apocynaceae. Com a realização do presente trabalho novas espécies
foram contempladas nos estudos e diversos dados foram obtidos. Diante do volume de dados várias
dúvidas e diversas propostas de futuros trabalhos são sugeridos. A seguir serão expostas as principais
propostas de trabalhos futuros, baseando-se nas perguntas e questionamentos que foram surgindo na
elaboração de cada um dos capítulos escritos:
.
.
.
109
coletar frutos deiscentes de Aspidosperma olivaceum Müll. Arg. e A. pyrifolium Mart. para confirmar
se ocorre lignificação tardia do endocarpo
estudar frutos de outras espécies de Aspidosperma Mart & Zucc. com o objetivo de fornecer dados
anatômicos que possam ser utilizados em possíveis análises filogenéticas
verificar, por meio de estudos químicos, a natureza das reservas das sementes de Allamanda
blanchetii A. DC., Malouetia arborea (Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e
Tabernaemontana arborea para confrontrar com os dados obtidos nos tratamentos obtidos no presente
trabalho
estudar frutos de outras espécies de Allamanda L. com o objetivo de fornecer dados anatômicos que
possam ser utilizados em possíveis análises filogenéticas
realizar um estudo ultraestrutural das fibras dos frutos de representantes de Asclepiadoideae e
Apocynoideae com o objetivo de comparar o padrão deste tipo celular nas diferentes subfamílias
confirmar, através de estudos ontogenéticos, se os folículos fusionados de Nerium oleander L.,
Parsonsia spiralis Wall., Vallaris solanaceae O. Ktze. e Wrightia tomentosa são cápsulas septicidas
bicarpelares, da mesma forma que os de Prestonia coalita (Vell.) Woodson
estudar frutos e sementes de representantes da subfamília Secamonoideae, visto que é a única que
não foi contemplada em estudos do gênero
realizar um estudo de revisão sobre anatomia de frutos em Apocynaceae, visto que já existem vários
trabalhos com diferentes espécies na família
realizar um estudo ontogenético nas sementes de Allamanda blanchetii A. DC., Malouetia arborea
(Vell.) Miers, Mandevilla pohliana (Stadelm.) A. H. Gentry e Tabernaemontana arborea Rose com o
objetivo de verificar a origem da ala, dos pelos, da coma e do arilo, respectivamente
estudar a formação da camada lipídica no endosperma de Malouetia arborea (Vell.) Miers e verificar
se esta característica é comum em outras espécies da família
abordar novas espécies da família em estudos de substância de reserva de sementes, visto que são
escassos em Apocynaceae
.
.
.
.
.
.
.
.
O estudo de frutos e sementes em Apocynaceae está no início, tendo em vista o grande número
de espécies e a grande variedade morfológica apresentada pelos órgãos na família. Acredita-se que a
continuação deste trabalho irá repercutir em trabalhos relevantes que serão de grande importância para o
entendimento da família como um todo, através da utilização dos dados em futuros estudos
taxonômicos, filogenéticos ou até mesmo de dispersão.
Tabela 2 – Resumo das principais características morfoanatômicas dos frutos de Aspidosperma australe Müll. Arg., Aspidosperma olivaceum Müll. Arg., Aspidosperma
pyrifolium Mart., Allamanda blanchetii A. DC., Allamanda schottii Pohl, Prestonia coalita (Vell.) Woodson, Blepharodon bicuspidatum E. Fourn., Oxypetalum
appendiculatum Mart., O. balansae Malme e O. glaziovii (E. Fourn.) Fontella & Marquete estudados nos 4 primeiros capítulos do presente trabalho. + = presente e - = ausente
Características morfoanatômicas
Tipo de fruto
Consistência do fruto
Epicarpo
A. australe
A. olivaceum
A. pyrifolium
A. blanchetii
A. schottii
P. coalita
B. bicuspidatum
O. appendiculatum
O. balansae
O. glaziovii
(capítulo 1)
(capítulo 1)
(capítulo 1)
(capítulo 2)
folicário
folicário
folicário
cápsula septicida
(capítulo 2)
(capítulo 3)
(capítulo 4)
(capítulo 4)
(capítulo 4)
(capítulo 4)
cápsula septicida
cápsula septicida
folicário
folicário
folicário
bicarpelar
bicarpelar
bicarpelar
folicário
esponjosa
lenhosa
lenhosa
lenhosa
lenhosa
lenhosa
coriácea
esponjosa
esponjosa
esponjosa
no camadas
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
cutícula
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
estômatos
…
…
…
+
+
+
+
+
+
+
lenticelas
+
+
+
-
-
+
-
_
-
-
tricomas
+
-
-
-
-
+
-
+
-
-
periderme
+
+
+
-
-
+
-
-
-
-
hipoderme colenquimática
-
-
-
+
+
+
-
-
-
+
(com estriações)
Mesocarpo
anel esclerenquimático
-
-
-
+
+
-
-
-
-
-
parênquima fundamental
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
parênquima clorofiliano
-
+
+
-
-
-
-
-
-
-
aerênquima
-
-
-
+
+
-
+
+
+
+
(muito
(pouco
(pouco
desenvolvido)
desenvolvido)
desenvolvido)
idioblastos cristalíferos
+
+
+
+
+
-
-
+
-
esclerócitos
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
fibras não lignificadas
-
-
-
-
-
+
+
+
+
+
laticíferos
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
bicolateral
colaterais e
colaterais e bicolaterais
(com bainha
parenquimática)
tipo de feixe vascular
Endocarpo
colateral,
colateral,
colateral,
colateral,
colateral,
bicolateral e
bicolateral e
bicolateral e
bicolateral e
bicolateral e
concêntrico
concêntrico
concêntrico
concêntrico
concêntrico
bicolaterais
colaterais e
colaterais e
bicolaterais
bicolaterais
Ilhas de floema
-
-
-
+
+
+
+
+
+
+
linha de deiscência
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
n camadas
15 a 20
10 a 15
5 a 10
4a8
3a4
1
1
1
1
1
orientação das células
cruzada
cruzada
cruzada
longitudinal
longitudinal
transversal
transversal
transversal
transversal
transversal
+
-
-
+
+
+
+
+
+
o
(raro cruzada)
+
110
lignificação
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adanson, M. 1768. Families des plantes. Paris, Ed. Lehre
Aguiar, S. 2003. Morfologia e ontogenia de frutos e sementes de espécies de Apocynaceae do
cerrado do estado de São Paulo. Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas.
Aguiar, S.; Carmello-Guerreiro, S.M. & Kinoshita, L.S. 2009. Ontogenia e estrutura do pericarpo de
Prestonia riedelii (Müll. Arg.) Markgr. (Apocynaceae). Acta Botanica Brasilica
Albers, F. & Meve, U. 2001. A karyological survey of Asclepiadoideae, Periplocoideae and
Secamonoideae and evolutionary considerations within Apocynaceae s.l. Annals of the Missouri
Botanical Garden 88: 624 – 656.
Almeida, S.P. de; Proença, C.E.B.; Sano, S.M. & Ribeiro, J.F. 1988. Cerrado: espécies vegetais úteis.
Planaltina, Embrapa/CPAC.
APG II (The Angiosperm Phylogeny Group). 2003. An update on the Angiosperm Phylogeny Group
classification for the orders and families of flowering plants. Botanical Journal of the Linnean
Society 141: 399 – 436.
Barroso, G.M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L. & Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e sementes: morfologia
aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa, Imprensa Universitária (UFV).
Batina, M.F.C.; Cintra, A.C.A.; Veronese, E.L.G.; Lavrador, M.A.S.; Giglio, J.R.; Pereira, P.S.; Dias,
D.A.; França, S.C. & Sampaio, S.V. 1999. Inhibition of the lethal and myotoxic activities of
Crotalus durissus terrificus venom by Tabernaemontana catharinensis: identification of one of the
active components. Planta Medica 66: 424 – 428.
Bobrov, A.V.F.CH.; Endres, P.K.; Melikian, A.P.; Romanov, M.S.; Sorokin, A.N. & Bejerano, A.P. 2005.
Fruit structure of Amborella trichopoda (Amborellaceae). Botanical Journal of the Linnean
Society 148: 265 – 274.
Brow, R. 1810. On the Asclepiadeae, a natural order of plants separated from the Apocineae of Jussieu.
Mem. Wern. Nat. Hist. Soc. 1: 12 – 78.
Calixto, J. B.; Nicolau, M. & Yunes, R. A. 1985. The selective antagonism of bradikinin actino on rat
isolated uterus by crude Mandevilla velutina extract. Brazilian Journal of Pharmaceutical
Sciences 85: 729-731.
Calixto, J. B. & Yunes, R. A. 1986. Effect of a crude extract of Mandevilla velutina on contractions
induced by bradikinin and [des-Arg9] – bradikinin in isolated vessels of the rabbit. Brazilian
Journal of Pharmaceutical Sciences 88: 937-941.
Carmello-Guerreiro, S.M. & Paoli, A.A.S. 2005. Anatomy of the pericarp and the seed-coat of Lithraea
molleoides (Vell.) Engl. with taxonomic notes. Brazilian Archives of Biology and Technology
48(4): 599 – 610.
Castro, M.A. 1986. Anatomia del fruto de Araujia horotorum E. Fourn. (Asclepiadaceae). Parodiana 4:
195 – 203.
112
Cavalcante, P. B. 1991. Frutas comestíveis da Amazônia. 5a ed. Belém, CEJUP.
Chase, M.W.; Soltis, D.E. & Olmstead, R.G. 1993. Phylogenetics of seed plants: an analysis of
nucleotide sequences from the plastid gene rbcL. Annals of the Missouri Botanical Garden 80:
528 – 580.
Clausing, G.; Meyer, K. & Renner, S.S. 2000. Correlations among fruit traits and evolution of different
fruits within Melastomataceae. Botanical Journal of the Linnean Society 133: 303 – 326.
Corner, E.J. 1976. The seeds of dicotyledons. Cambridge, Cambridge University Press.
Costa, C.M.; Cavalcante, U.M.T.; Goto, B.T.; Santos, V.F. dos & Maia, L.C. 2005. Fungos micorrízicos
arbusculares e adubação fosfatada em mudas de mangabeira. Pesquisa Agropecuária Brasileira
40: 225 – 232.
Cronquist, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. New York, Columbia
University Press.
Dave, Y. & Kuriachen, P.M. 1991. Comparative anatomical characters of Periplocaceae follicles and
their taxonomic significance. Feddes Repertorium 102(1/2): 63 – 68.
Demarco, D. 2005. Estruturas secretoras florais e coléteres foliares em espécies de cerrado de
Aspidosperma Mart. e Blepharodon Decne. (Apocynaceae s.l.). Tese de Mestrado. Universidade
Estadual de Campinas, Campinas.
Demarco, D. 2008. Glândulas de órgãos vegetativos aéreos e florais de espécies de Asclepiadeae (R.
Br.) Duby (Asclepiadoideae, Apocynaceae) de mata atlântica do estado de São Paulo. Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Demarco, D.; Kinoshita, L. S. & Castro, M. de M. 2006. Laticíferos articulados anastomosados – novos
registros para Apocynaceae. Revista Brasileira de Botânica 29: 133-144.
Doyle, J.A.; Donoghue, M.J. & Zimmer, E.A. 1994. Integration of morphological and ribosomal RNA
data on the origin of angiosperms. Annals of the Missouri Botanical Garden 81: 419 – 450.
Doweld, A.B. & Shevyryova, N.A. 1998. Carpology, seed anatomy and taxonomic relationships of
Glabulimia (Himantandraceae). Annals of Botany 81: 337 – 347.
Endress, P.K. 1998. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge, Cambridge
University Press.
Endress, M.E. & Bruyns, P.V. 2000. A revised classification of the Apocynaceae s.1. The Botanical
Review 66(1): 1 – 56.
Endress, M.E.; Liede-Schumann, S. & Meve, U. 2007. Advances in Apocynaceae: the enlightenment,
an introduction. Annals of the Missouri Botanical Garden 94(2): 260 – 267.
Falcão, M. de A. & Lleras, E. 1981. Aspectos fenológicos, ecológicos e de produtividade da sorva
(Couma utilis (Mart.) Muell. Arg.). Acta Amazônica 11 (4): 729 – 741.
Falcão, M. de A.; Clement, C. R. & Gomes, J. B. M. 2003. Fenologia e produtividade de sorva (Couma
utilis (Mart.) Muell. Arg.) na Amazônia Central. Acata Botânica Brasilica 17 (4): 541 – 547.
113
Gomes, S.M. 2006. Ontogênese floral com ênfase no estudo do gineceu em Apocynaceae s.l. Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Gomes, S.M. 2008. Morfo-anatomia de frutos e sementes em espécies de Apocynaceae: significado
ecológico e evolutivo. Acta Botanica Brasilica 22: 521 – 534.
Gupta, V. & Lamba, L.C. 1981. Sclereids in the endocarp of Rauvolfia serpentina (L) Benth ex Kurz.
Proceedings of the Indian Academy of Sciences – Plant Sciences 90(1): 79 – 84.
Hassan, N.M.S.; Meve, U. & Liede-Schumann, S. 2005. Seed coat morphology of AizoaceaeSesuvioideae, Gisekiaceae and Molluginaceae and its systematic significance. Botanical Journal
of the Linnean Society 148: 189 – 206.
Hoene, F. C. 1946. Frutos Indígenas. São Paulo, Instituto de Botânica (Publ. Av. – Série D).
Hutchinson, J. 1969. Evolution and phylogeny of flowering plants. London, Academic Press.
Juan, R.; Pastor, J. & Fernández, I. 2000. SEM and light microscope observations on fruit and seeds in
Scrophulariaceae from Southwest Spain and their systematic significance. Annals of Botany 86:
323 – 338.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 2002. Plant systematics: a phylogenetic
approach. Sunderland, Massachusetts, USA, Sinauer Associates Inc. Publishers.
Judd, W.S.; Sanders, R.W. & Donoghue, M.J. 1994. Angiosperm family pairs: preliminary phylogenetic
analysis. Harvard Papers in Botany 5: 1 – 51.
Jussieu, A.L. 1789. Genera plantarum. Zurique, Viduam Herissant.
Kamath, J.V. & Rana, A.C. 2002. Preliminary study on antifertility activity of Calotropis procera roots
in female rats. Fitoterapia 73: 111 – 115.
Khan, P.S.H. 1970. Structure and development of seed coat and fruit wall in Catharanthus pusillus G.
Don. Proceedings of the National Academy of Science 40(B): 22 – 25.
Kinoshita, L.S. (coord.). 2005. Apocynaceae. Pp. 35 – 91. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S.
Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo,
FAPESP/HUCITEC.
Kinoshita, L.S. & Simões, A.O. 2005. Hancornia Gomes. Pp. 54. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. 2002. Estudos das espécies neotropicais do gênero Rauvolfia L. (Apocynaceae). Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Koch, I. 2005. Rauvolfia L. Pp. 78. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; T.S. Melhem & A.M. Giulietti
(orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Koch, I. & Kinoshita, L.S. 1999. As Apocynaceae s. str. da região de Bauru, São Paulo, Brasil. Acta
Botanica Brasilica 13: 61 – 86.
Kuriachen, P.M.; Dave, Y. & Thomas, V. 1991. Development, structure and dehiscence of follicles of
Calotropis procera (Ait.) R. Br. (Asclepiadaceae). Korean Journal of Botany 34(2): 107 – 112.
114
Kuriachen, P.M.; Thomas, V. & Dave, Y. 1992. Taxonomic and phylogenetic significance of fruit walls
in Asclepiadaceae. Feeds Repertorium 103(3/4): 179 – 193.
Marasca, R.M. 2008. Estruturas secretoras em Raulvolfia sellowii Müll. Arg. (Apocynaceae,
Raulvolfioideae, Vinceae). Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Marcondes-Ferreira, W. 2005. Aspidosperma Mart. Pp. 39 – 47. In: M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd;
T.S. Melhem & A.M. Giulietti (orgs.). Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. vol. 4. São
Paulo, FAPESP/HUCITEC.
Marquete, N.F. da S. 2003. O gênero Oxypetalum R. Br. (Asclepiadoideae – Apocynaceae) no estado
do Rio de Janeiro, Brasil. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
Martins, F.M. 2008. Glândulas foliares e florais em espécies de Apocynaceae de cerrado. Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1965. Anatomy of the dicotyledons: leaves, stem, and wood in relation to
taxonomy with notes on economic uses. London, Oxford.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1983. Anatomy of the dicotyledons: wood structure and conclusion of
the general introduction. London, Oxford.
Monachino, J. 1945. A revision of Hancornia (Apocynaceae). Lilloa 11: 19 – 48.
Mourão, K.S.M. & Beltrati, C.M. 2000. Morphology and anatomy of developing fruits and seeds of
Mammea americana L. (Clusiaceae). Revista Brasileira de Biologia 60(4): 701 – 711.
Nogueira, R.J.M.C.; Albuquerque, M.B. de & Silva Junior, J.F. 2003. Effect of the substrate on the
emergence, growth and stomatal behavior in mangaba seedlings. Revista Brasileira de
Fruticultura 25: 15 – 18.
Nowak, R. & Kisiel, W.H. 2000. Hancobinol from Vincetoxicum officinale. Fitoterapia 71: 584 – 586.
Ollerton, J. & Liede, S. 1997. Pollination systems in the Asclepiadaceae: a survey and preliminary
analysis. Biological Journal of the Linnean Society 62: 593 – 610.
Pak, J.H.; Park, J.K. & Whang, S.S. 2001. Systematic implications of fruit wall anatomy and surface
sculpturing of Microseris (Asteraceae, Lactuceae) and relatives. International Journal of Plant
Science 162: 209 – 220.
Pearson, N.L. 1948. Observations on seed and seed hair growth in Asclepias syriaca L. American
Journal of Botany 35: 27 – 36.
Potgieter, K. & Albert, V.A. 2001. Phylogenetic relationships within Apocynaceae s.l. based on trnL
intron and trnL – F spacer sequences and propagule characters. Annals of Missouri Botanical
Garden 88: 523 – 549.
Prance, G. T. & Silva, M. F. 1975. Árvores de Manaus. Manaus, Instituo Nacional de Pesquisas da
Amazônia.
115
Ribeiro, J.E.L.; Hopkins, M.; Vicentini, A.; Sothers, C.A.; Costa, M.A. da S.; Brito, J.M.; Souza,
M.A.D. de; Martins, L.H.P.; Lohmann, L.G.; Assunção, P.A.C.L.; Pereira, E. da C.; Silva, C.F. da;
Mesquita, M.R. & Procópio, L.C. 1999. Flora da reserva Ducke: guia de identificação das
plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia central. Manaus, INPA/DFID.
Rio, M.C.S. do. 2001. Estudos taxonômicos e anatômicos do gênero Prestonia R. Br. nom. cons.
(Apocynaceae). Tese de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Rio, M.C.S. do. 2006. Estudos anatômicos em espécies de Forsteronia G.Mey. (Apocynaceae) de
cerrado. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Rio, M.C.S. do & Kinoshita, L.S. 2005. Prestonia (Apocynaceae) do Sul e Sudeste do Brasil. Hoehnea
32(2): 233 – 258.
Rio, M.C.S. do; Castro, M. de M. & Kinoshita, L.S. 2002. Coléteres foliares em Prestonia coalita (Vell.)
Woodson (Apocynaceae). Revista Brasileira de Botânica 25: 339 – 349.
Rizzini, C.T. & Mors, W.B. 1976. Botânica Econômica Brasileira. São Paulo, EPU USP.
Sakane, M. & Shepherd, G.J. 1986. Uma revisão do gênero Allamanda L. (Apocynaceae). Revista
Brasileira de Botânica 9: 125 – 149.
Sanso, A.M. & Xifreda, C.C. 2001. Generic delimitation between Alstroemeria and Bomarea
(Alstroemeridaceae). Annals of Botany 88: 1057 – 1069.
Schultz, A.R.H. 1990. Introdução à Botânica Sistemática. vol. 2. Porto Alegre, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Seenblad, B. & Bremer, B. 1996. The familial and subfamilial relationships of Apocynaceae and
Asclepiadaceae evaluated with rbcL data. Plant Systematics and Evolution 202: 153 – 175.
Shepherd, K.A.; Macfarlane, T.D. & Colmer, T.D. 2005. Morphology, anatomy and histochemistry of
Salicornioideae (Chenopodiaceae) fruits and seeds. Annals of Botany 95: 917 – 933.
Simões, A.O. 2004. Estudos filogenéticos e anatômicos da tribo Mesechiteae Miers (Apocynaceae,
Apocynoideae). Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Simões, A.O. & Kinoshita, L.S. 2002. The Apocynaceae s. str. of the Carrancas region, Minas Gerais,
Brazil. Darwiniana 40(1/4): 127 – 169.
Simões, A.O.; Castro, M. de M. & Kinoshita, L.S. 2006. Calicine colleters of seven species of
Apocynaceae (Apocynoideae) from Brazil. Botanical Journal of the Linnean Society 152: 387 –
398.
Simões, A.O.; Rio, M.C.S. do; Castro, M. de M. & Kinoshita, L.S. 2007. Gynostegium morphology of
Mesechitae Miers (Apocynaceae, Apocynoideae) as it pertains to the classification of the tribe.
International Journal of Plant Sciences 94: 268 – 297.
Simpson, M.G. 1993. Septal nectary anatomy and phylogeny of the Haemodoraceae. Systematic
Botany 18: 593 – 613.
Simpson, M.G. 2007. Plant systematics. London, Elsevier Academic Press.
116
Souza, L.A.; Iawazaki, M.C. & Oliveira, R.C. 2004. Morfologia do fruto e da semente em
desenvolvimento de Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae). Insula 33: 39 – 49.
Souza, L.A. & Moscheta, I.S. 1992. Morfo-anatomia do fruto e da plântula de Aspidosperma
polyneuron M. Arg. (Apocynaceae). Revista Brasileira de Biologia 52(3): 439 – 447.
Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2008. Botânica sistemática: guia para identificação das famílias de
fanerógamas Brasileiras nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2a ed. Nova Odessa,
Plantarum.
Thomas, V. & Dave, Y. 1991. Structure and development of follicles of Nerium indicum Mill.
(Apocynaceae). Feddes Repertorium 102: 399 – 407.
Thomas, V. & Dave, Y. 1994. Significance of follicle anatomy of Apocynaceae. Acta Societatis
Botanicorum Poloniae 63(1): 9 – 20.
Tournefort, P. 1694. Élémens de Botanique ou méthode pour connoitre Les Plantes. Tome Premiére –
Les Campaniformes: 161 – 170.
Von Teichman, I. & Van Wyk, A.E. 1991. Trends in the evolution of dicotyledonous seeds based on
character associations, with special reference to pachycalazy and recalcitrance. Botanical Journal
of the Linnean Society 105: 211 – 237.
Weckerle, C.S. & Rutishauser, R. 2005. Gynoecium, fruit and seed structure of Paullinieae
(Sapindaceae). Botanical journal of the Linnean Society 147: 159 – 189.
Woodson Jr., R.E. 1936. Studies in the Apocynaceae IV – the American genera of Echitoideae. Annals
of the Missouri Botanical Garden 23: 341 – 611.