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Cine Subaé, uma antologia

2024, Cine Subaé: Escritos sobre Cinema (1960 - 2023)

Prefácio do livro "Cine Subaé: Escritos sobre Cinema (1960 - 2023)", de Caetano Veloso. Com organização de Claudio Leal e Rodrigo Sombra, "Cine Subaé" é um precioso testemunho que atesta o impacto que o Cinema Novo, as películas exuberantes norte-americanas, o neorrealismo italiano e o existencialismo das fitas francesas tiveram sobre a formação cultural de Caetano Veloso. O texto de orelha é assinado pelo cineasta Orlando Senna, editor de algumas das primeiras críticas publicadas pelo artista na imprensa baiana. Com 64 textos – destes, 46 inéditos em coletâneas do artista –, 12 entrevistas e 76 fragmentos de opiniões sobre filmes e diretores, "Cine Subaé" demonstra o impacto de Caetano e do movimento tropicalista, da música ao cinema. Como se sabe, ele exerceu a crítica cinematográfica na juventude em Santo Amaro e Salvador. E não parou de pensar o cinema até hoje. Fruto de quatro anos de pesquisas, o livro expõe seu trabalho crítico em paralelo a discos e shows.

PREFÁCIO Claudio Leal e Rodrigo Sombra CINE SUBAÉ, UMA ANTOLOGIA O elo de Caetano Veloso com o cinema enfrenta a contradição de, a um só tempo, ser conhecido em demasia e continuar mal iluminado. Em suas entrevistas, o compositor endossou a visão consensual de que o exercício da crítica de cinema cou cristalizado em seu passado. Com efeito, depois de sua atuação concentrada entre os dezoito e os anos, em Salvador, ele não voltou a se reconhecer nem a ser visto como um exegeta de lmes. Seu gesto de reencontro veio por outros caminhos. Criou trilhas musicais — a de São Bernardo ( ), de Leon Hirszman, é um marco vanguardista —, dirigiu o lme-ensaio O cinema falado, em , atuou em longas de Julio Bressane e no curta Dom Quixote ( ), de Haroldo Marinho Barbosa, e viveu a si próprio em obras de Cacá Diegues e dos espanhóis Carlos Saura e Pedro Almodóvar. Um segmento de textos sobre cinema na coletânea O mundo não é chato, que abrange outras artes além da música, sob a organização do poeta Eucanaã Ferraz, expôs uma fatia de seu pensamento audiovisual, mas, ao longo do tempo, persistiu a memória de um ofício restrito aos verdes anos. Se foi exposta a importância do cinema na gênese do tropicalismo, movimento interpelado pelos imaginários de Glauber Rocha e Jean-Luc Godard, a espessura da intervenção de Caetano nesse campo se manteve na penumbra. Esta antologia contesta a convicção do próprio autor de que houve um abandono da crítica em sua trajetória. Ainda que seus ensaios sejam esporádicos em tempos recentes, um volume com textos sobre cinema constitui uma obra ensaística original na geração de músicos nacionais e estrangeiros dos anos , considerando a amplitude e a acuidade de suas análises. Com um dos seus pés na canção e vinculado aos críticos do pioneiro Chaplin Club, no Rio de Janeiro, o poeta Vinicius de Moraes também produziu numerosos textos sobre lmes, nos anos e . Mas, se observarmos a tradição, Caetano assumiu uma posição singular na história da música brasileira e do próprio cinema depois do tropicalismo, por in uenciar diretamente o desenvolvimento de ideias e linguagens de cineastas. Em seções deste livro, uma compilação de doze entrevistas e fragmentos de conversas eleva a complexidade do lugar anfíbio de Caetano nas artes e a continuidade de seu ânimo interdisciplinar. A posição de músico não o afastou de questões estéticas e históricas do cinema, nem do diálogo continuado com diretores. De forma intermitente, com rigor estilístico, ele desenvolveu a primeira vocação às margens de discos e shows. Os espelhamentos entre cinema e música popular atravessam seus ensaios. E o imaginário de espectador a ora nas canções “Clever Boys Samba”, “Alegria, alegria”, “Tropicália”, “Superbacana”, “Cinema Olympia”, “Nine out of Ten”, “Épico”, “Sugar Cane Fields Forever”, “Giulietta Masina” e “Michelangelo Antonioni”, informadas pela cultura cinematográ ca ou permeadas pela transposição poética dos cortes de