NEARCO: Revista Eletrônica de Antiguidade
2021, Volume XIII, Número II – ISSN 1982-8713
Núcleo de Estudos da Antiguidade - NEA
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
ISSN 1982-8713
O Gênero Teatral Latino: dos Primórdios às Tragédias de Sêneca
Latin Theatrical Genre: From the Origins to the Tragedies of Seneca
Douglas Castro Carneiro1
1
Pós-doutorando em História Social pela Universidade Estadual de Londrina, sob supervisão da
professora Monica Selvatici, Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás, Mestre em História
pela Universidade Federal de Ouro Preto e graduado em história pela Universidade Estadual de Maringá.
E-mail: douglascarneiro229@gmail.com.
DOI: 10.12957/nearco.2021.50707
Resumo
O objetivo desse artigo é analisar o gênero teatral latino desde suas origens até as
tragédias senequianas. Os dramas latinos foram um dos primeiros gêneros literários
que se estabeleceram em Roma nos espaços dos festivais públicos e religiosos da
sociedade romana.
Palavras-chave: Roma, Tragédias, Sêneca.
Abstract
The aim of this article is to analyze the Latin theatrical genre from its origins until the
tragedies of Seneca. The Latin dramas were the first genres to establish in Rome using
public and festival religious in roman society.
Keywords: Rome, Tragedies, Seneca.
O objetivo deste artigo é analisar, em termos gerais o gênero teatral latino,
desde suas origens, até as tragédias de Sêneca. Os dramas latinos foram um dos
primeiros gêneros que se estabeleceram em Roma, em especial nos festivais públicos e
religiosos na sociedade romana. De acordo com Pierre Grimal (1978, p.79), em 364
a.C. o senado romano fez vir da Etrúria, bailarinos e músicos e os princípios dos jogos
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cênicos. De acordo com W. E Beare (2011, p.35), a época do século III a.C., havia
atividades teatrais em diversas partes da Itália em Roma, por exemplo. Nesta o
cenário teatral consistia em brincadeiras improvisadas com a presença de música e
dança, bem como a influência religiosa, que auxiliava na formação das representações
teatrais latinas devido a sua vinculação com ritos religiosos (LÍVIO, Ab Urbe Condita
Libre, VII, 2-4). Segundo Tito Lívio:
Por isso não se levou a cabo nada mais do que mereceu ser
registrado, sem excertuarmos que para conseguir a paz dos deuses
[...] Entre outros recursos para aplicar a cólera divina organizavam-se
também às representações teatrais, era uma novidade para um povo
guerreiro, pois seu único espetáculo havia sido o circo. A partir daí,
os histriões tiveram em mão, um cantor por sua voz quando era
reservada para os diálogos. Uma vez que, com este sistema, as
representações teatrais foram afastando-se do riso e de uma chance
incontrolável o que foi se transformando em arte e as representações
das obras teatrais.
Na fronteira sul do Lácio existe uma espécie de fábula atelã13, que mostra os
diversos tipos de situaçãoes anômalas. Todas as tragédias latinas eram adaptações das
peças gregas junto com suas formas dramáticas para uma audiência romana (BOYLE,
2004, p.24).
Além disso, se nos voltarmos para as discussões propostas por Christopher Star
(2015, p.238), veremos que a origem da tragédia latina se dá após a vitória de Cartago,
em especial a Primeira Guerra Púnica14, com a performance de uma tragédia grega
13
Um estilo de drama cômico que possuía estereótipos semelhantes aos palhaços, com o uso de
máscaras, participação de humor frequentemente associada às atividades sexuais. Esse tipo de
entretenimento dramático associado à cidade de Óstia na Campânia e parece ser muito mais antiga do
que a explosão dramática no final do século III a.C. (BOYLE, 2004, p.12).
14
Os conflitos mais celebrados, e mais devastadores, foram às primeiras Guerras Púnicas, contra
Cartago. A primeira durou mais de vinte anos (de 264 a 241 a.C.), a maior parte dela travada na Sicília e
nos mares em volta, exceto a desastrosa incursão romana no território cartaginês, no norte da África. O
conflito terminou com a Sicília sob controle romano — e após uns poucos anos a Sardenha e a Córsega
também, embora o epitáfio do filho de Barbato exagere um pouco suas realizações afirmando que ele
“capturou” a ilha (BEARD, 2015, p.177). A segunda guerra púnica marca na história de Roma o começo
de um processo de transformações que produziu grandes mudanças na estrutura do estado e da
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traduzida por Lívio Andrônico, que era de origem grega em 240 a.C. nos jogos
romanos ludi romani- a qual pretendia honrar Júpiter Optimus. Como sugere Florence
Dupont (2006, p.145), o teatro latino inaugurado por Lívio Andrônico 15, tornou-se
parte do teatro latino que iniciava e terminava com espetáculos cênicos ou na forma
de danças. A autora aponta algumas questões que consideramos relevantes para a
compreensão da teatralidade latina. De acordo com as suas palavras:
A tradição do teatro grego para os romanos é um ato religioso, uma
expiação (piaculum), como boa parte das inovações culturais
acompanhadas na República. Lívio Andrônico era um poeta e um
tradutor. Foi um desses estrangeiros trazidos para Roma, assim como
por intermédio de concursos, dentro de uma política de inovação que
força uma originalidade da civilização romana. A inovação romana se
apresenta como um ato conservador e que correspondia a uma
situação de crise (DUPONT, 2006, p. 147).
Posto isto, Dupont (2006, p.154), afirma que as tradições literárias assim como
as tradições religiosas são inseparáveis do teatro romano. A religião romana é
geralmente apresentada nas análises modernas como uma religião altamente
ritualizada, com poucas concessões à expressão religiosa (BELTRÃO, 2006, p.131).
Desse modo, a prática da suplicatio aproximava-se das performances
dramáticas com seus movimentos e gestos, já que os coros se organizavam para cantar
as orações enquanto caminhavam ou dançavam em procissão. Ao invocar os deuses,
os suplicantes faziam gestos com as mãos, ajoelhavam-se e proferiam as súplicas
durante a procissão, em especial no momento de encontro com a divindade
sociedade. As novas condições originavam-se em parte das repercussões que teve para a Itália na
Segunda Guerra Púnica consistindo na decadência e proletarização do campesinato itálico (ALFÖLDY,
1989, p.65).
15
Nascido por volta de 280 a.C. e falecido em 205 a.C., é autor de obras que sobreviveram em
fragmentos tais como Aquiles, Egisto Agamêmnon, Cassandra, Ajax, Andromeda, Danai, Hermione, O
Cavalo Troiano, Tereu, Andrômaca, Procne, Ino, Gladiolos, Ludius, A Adaga, O jogador, Odisséia
(GRATWICK, 2008, p.82).
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representada, simbolicamente, pela presença de suas estátuas ou seus leitos
(puluinaria) nos templos (SILVA, 2019, p.143).
De acordo com John Scheid (2001,
p.241), os sacrifícios encontravam-se no centro dos cultos. Dependendo do contexto e
das divindades que eram honradas havia uma grande variedade na maneira como os
sacrifícios eram realizados, no uso de incensos e libações. Os detalhes de um sacrifício
eram igualmente influenciados por um contexto ritual em todas as grandes cerimônias
religiosas.
Embora, o trabalho de muitos autores republicanos tenha sobrevivido em
fragmentos, podemos identificar características de seus estilos, motivos e tópicos em
tragédias pessoais. Nesse sentido, inserimos em nossa argumentação discussões sobre
Gneu Névio16. De acordo com Gesine Manuwald (2011, p. 139), este começou a
produzir suas peças após Lívio Andrônico, a época da primeira guerra púnica. Tal
informação aparece em sua obra O Canto da Guerra Púnica.
Nesse sentido, entendemos que os primeiros dramaturgos romanos
compuseram peças leves e sérias, desenvolvendo, dessa forma uma estética dramática
que, de certa maneira, recebia influência do estilo grego (GRATWICK, 2008, p.92).
Assim, a partir de 235 a.C., Névio foi um poeta ativo em Roma; não só produziu
tragédias e comédias, mas também poemas épicos.
Das tragédias latinas, apenas
alguns fragmentos sobreviveram entre os séculos III a II a.C. na forma de citações de
autores clássicos. De acordo com Elaine Fantham (2005, p.118), Névio falava latim e
tinha idade suficiente para luta na Primeira Guerra Púnica.
Além de Danais, é ainda citado por Andrômaca Ifigênia e Licurgo. Assim,
podemos afirmar que os fragmentos não nos permitem maiores análises, inclusive isso
16
Nascido entre os anos de 280 a.C. a 200 a.C. Suas obras que sobreviveram em fragmentos foram: O
canto da Guerra Púnica dividido em sete livros dos quais sobreviveram apenas fragmentos, escreveu
também peças que possuía o modelo grego. Tais como Ariolo, Clamidaria, Demétrio e Andrômaca,
Danai, Cavalos Troianos, Ifigênia, Licurgo (GRATWICK, 2008, p.100).
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se aplica aos principais escritores trágicos como, por exemplo, Ênio (239 a.C. – 169
a.C.), Pacúvio (220 a.C. – 130 a.C.) e Ácio17 (170 a.C. – 80 a.C.) (SCHIERL, 2015, p.67).
O terceiro autor que pontuamos é Quinto Ênio. Conforme Mario Erasmo
(2008, p.18), Ênio, experimentou um contato inicial com a cultura grega devido à sua
terra natal estar localizada ao sul da Itália. Assim, como Névio serviu como militar,
depois de ter sido trazido para Roma por Márcio Pórcio Catão, cultivou amizades
importantes com homens de estado. Nesse âmbito podemos observar que:
As tragédias de Ênio trouxeram ao mundo romano ao palco, o qual
contribuiu para o crescimento recíproco da realidade entre o palco e
fora dele que começou com Névio. Assim como Névio, Ênio escreveu
praetextae e incorporou elementos romanos em suas tragédias.
Completo desenvolvimento de alusões meta-teatrais por Ênio leva ao
crescente reconhecimento teatral fora do palco. Se os romanos
pudessem se ver no palco, seria inevitável que eles reconheceriam as
alusões teatrais fora do palco. Assim Ênio abriu caminho para Pacúvio
e Ácio para explorarem mais a retórica e antecipar a nebulosa
realidade dentro (ERASMO, 2005, p.280).
Podemos observar que as tragédias de Ênio transformaram a realidade do
palco, pois reflete de certa forma, uma espacialidade política, cultural e social do
momento em que o autor vivia. Logo, “Ênio estruturou o caminho para Pacúvio para
explorar a retórica e antecipar a visão da realidade, fora do palco, durante o final da
República” (ERASMO, 2004, p.22).
Temos, por exemplo, os fragmentos dos Anais de Pacúvio (FISCHER, 2012,
p.10).18 Em conformidade com E. H Warmington (1982, p.20-21), este nasceu na região
da Calábria por volta de 220 a.C., filho da irmã do poeta Ênio.
Dirigiu-se a Roma, juntando-se ao círculo literário do Lácio, passando grande
parte de sua vida escrevendo suas tragédias. Pacúvio tornou-se amigo de Ácio, seu
17
Nasceu por volta de 170 a.C. e faleceu em 89 a.C. Aquiles, Medeia, Hécuba, Antígona Patróclo, Egisto,
entre outros (SCHIERL, 2015, p.68).
18
Nascido em 220 a.C. e falecido em 130 a.C. (WARMINGTON, 1936, p. 35).
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contemporâneo e sucessor na tragédia romana em 140 a.C., quando este tinha oitenta
anos. Pacúvio teria lido sua obra Atreu para Ênio.
Ao mencionarmos Lúcio Ácio, contemporâneo de Pacúvio, veem-se em suas
peças a utilização de títulos e elementos gregos. Além disso, várias tragédias eram
baseadas na Ilíada ou possuíam temas fundamentados no ciclo troiano (FANTHAM,
2005, p.143). De acordo com Zélia de Almeida Cardoso (2005, p.20), Lúcio Ácio era
original e com grande capacidade descritiva, explorou temas de heroísmo e terror.
Suas obras agradavam ao público e, por exigência deste, a tragédia de sua autoria
(Clitemnestra) foi levada em cena em 55 a.C., ao ser inaugurado o teatro de Pompeu.19
Ao final da República Romana, ocorreu aquilo que estudiosos das tragédias
republicanas tais como Warmington (1982), Wilkinson e Schierl (2015) afirmam ser
uma decadência desse gênero literário. De acordo com Sander Goldberg (2007, p.574),
a existência dessas peças aparece somente em fragmentos de obras de poetas – como,
por exemplo, Cássio de Parma-pois elas se perderam. À época de Augusto, 20 a
literatura latina chegou ao seu auge, contudo, poucos autores se dedicaram às
tragédias.
“Em 12 a.C., da única tragédia de Ovídio, intitulada Medea, sobreviveram
alguns fragmentos” (KENNEY, 2008, p.130). Ovídio retomou um antigo tema trágico
Nesse espaço temporal, podemos considerar Marco Túlio Cícero (103 a.C. – 43 a.C.), estudado como
político e homem das letras e mencionado em algumas tragédias (WILKINSON, 2012, p.230). Cícero
esclarece aspectos diferentes das tragédias republicanas, demonstrando interesses em fenômenos
linguísticos. Podemos ressaltar que escreveu “em uma época na qual a tragédia desempenhava um
papel fundamental na vida cultural de Roma” (SCHIERL, 2015, p.78-80). Petra Schierl deixa claro haver
referências a antigos poetas e tragediógrafos (Andrônico, Ênio e Pacúvio) em obras tais como: Pro
Sestio, Sobre o orador e Tusculanas.
19
20
Devemos nos atentar ao fator de que a forte e recorrente menção aos feitos de Augusto e ao próprio
Princeps está intrinsecamente associada aos incentivos realizados pelo mesmo a muitos aspectos sociais
e culturais, incluindo os poetas e seus escritos, por meio dos círculos literários, especialmente os que
giravam em torno das figuras de Mecenas e de Messala Corvino (MEDEIROS, 2015, p.30).
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com o qual compôs a tragédia Medeia, que foi lida numa sessão pública e hoje é
considerada perdida (CARDOSO, 2005, p.21).
Após o governo de Augusto, poucos tragediógrafos sobreviveram como
Marmelio Escadauro e Publio Pomponio. Durante os jogos comemorativos da vitória de
Otávio em Ácio, foi representada, em Roma, a tragédia Tiestes, da autoria de Lucio
Vário Rafo, da qual só resta um pequeno fragmento. No momento em que as tragédias
não eram mais representadas nos espaços públicos, já em meados do império, apenas
as tragédias senequianas sobreviveram. Como se observa, o gênero trágico senequiano
inspirou-se nas tragédias de Eurípedes e Ésquilo, mas readaptou os dramas latinos da
época republicana, utilizando-se, sobretudo, o épico e o lírico (CARDOSO, 2005, p.33).
Dessa forma,
As lendas mitológicas que fornecem o assunto a ser desenvolvido,
são em muitos casos reformulados em alguns de seus pormenores.
Em As Troianas, por exemplo, a ocultação de Astíanax, no túmulo de
Heitor parece ser uma criação senequiana, em As Fenícias,
diferentemente do que ocorre em Sófocles, Jocasta assiste ao duelo
dos filhos, em Medéia a feiticeira mata uma das crianças diante do
esposo, em Fedra à confissão feita pela madrasta à ama é original,
bem como o expediente de que esta se vale para salvaguardar a
honra da filha de criação, acusando Hipólito diante do povo de
Atenas (CARDOSO, 2005, p. 35).
Neste sentido, procuramos apresentar as tragédias de Sêneca e quais são as
devidas importâncias diante dessa realidade que nos é apresentada as nove tragédias
Hercules Furioso, Troianas, Fenícia, Medeia, Fedra, Édipo, Agamêmnon, Tiestes e
Hércules no Éta (SANCHES, 2012, p.10) – bem como uma tragédia apócrifa, Otávia.
Não obstante, apresentaremos nos próximos parágrafos estas tragédias para nossos
leitores: Hercules Furioso passa-se em Tebas. Em uma explosão de ciúmes e ódio, Juno
dá vazão a sua frequente frustração. Não só Hércules saiu vitorioso de todos os
trabalhos que lhe foram impostos, mas por meio deles tornou-se um bem-feitor e
mesmo aposta sua imortalidade. As fúrias o deixam louco e contaminado pelo
assassinato, desejam que Hercules volte para o submundo.
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No primeiro canto (125-204), o coral canta às primeiras tarefas as primeiras
tarefas dos pastores e dos marinheiros e em seguida descreve como os moradores da
cidade completam seus deveres (BILLERBECK, 2014, p.49). No segundo ato (205-523),
Hércules é ameaçado pelo usurpador Lico, o velho Anfítro, Megara e seus filhos
refugiam-se no altar de Júpiter. O tirano a todo custo força Megara a se casar com ele
e como parte de sua estratégia, deprecia maliciosamente os feitos heróicos do herói
ausente.
No terceiro ato (592-894), com o orgulho de ter superado o senhor do
submundo, Hércules encontra a luz do dia e Juno, que lhe propõe outro obstáculo, que
ironicamente será ele mesmo. No quarto ato (895-1137), em comemoração ao seu
triunfo sobre Lico, Hércules prepara uma oferta de agradecimento (para os deuses). De
repente, a loucura abate as crianças e ataca Megara. Hércules cai no chão, vencido por
um sono entorpecedor. O ato atroz de Hércules provoca tristeza em si, já que seus
filhos estão mortos.
No quinto ato (1138-1344), Hércules desperta de seu sono profundo, e tenta
voltar à realidade. Em uma explosão apaixonada do desamparo, recorre ao suicídio.
Finalmente, Hércules recupera-se e segue seu fiel amigo Teseu para Atenas.
A segunda tragédia que apresentamos é Troianas. Nesse texto pertencente ao
ciclo troiano, tem-se uma versão dos fatos, após a guerra finda, especificamente sobre
as resoluções, por parte dos gregos, do destino das troianas. Em 1179 versos, os
personagens se apresentam: Hécuba, Taltíbio, Pirro, Agamêmnon, Calcante,
Andromaca, um ancião, Astíanax, Ulisses, Helena, Políxena, um mensageiro e o coro
das troianas.
Com a cidade de Tróia destruída, os gregos ansiavam por retornar a Grécia, mas
a sombra de Aquiles, aparecendo exigindo a imolação de Políxena sobre seu túmulo. A
partir da divergência de Pirro e Agamêmnon sobre o sacrifício da troiana, consulta-se o
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adivinho Calcante, que confirma o pedido, ao qual se soma também a morte de
Astíanax.
A execução das mortes é o que motiva as ações, aciona os personagens e
encerra a peça. A peça se inicia com o lamento de Hécuba, rainha troiana, sobre seu
destino e o de Tróia (v. 1-65). Um coro de troianas acompanha, lastimando a
destruição da cidade e as mortes de Príamo e Heitor (v. 67-162). No primeiro episódio
(v. 164-408), Taltíbio relata o aparecimento da sombra de Aquiles e seu pedido: o
sangue de Políxena, pela mão de Pirro, deve regar o seu túmulo (CARNEIRO, 2019,
p.83).
A terceira tragédia apresentada é Fenícias. Ao contrário é uma peça que propõe
à primeira leitura várias indagações. O texto é reduzido em 664 versos, compondo
duas partes distintas que tanto poderiam ser consideradas dois episódios justapostos
de uma peça única. O prólogo, os coros e o epílogo presentes nas demais obras aqui
são ausentes, e não se pode abordar construção, unidade e progressão de uma
unidade dramática (CARDOSO, 2005, p.30). A longa cena de abertura é construída em
torno de uma mudança gradual do foco da percepção de Édipo e de sua própria culpa
para um retrato cada vez mais ameaçador de seus filhos, cujo destino pode gerar uma
tragédia (FANTHAM, 1983, p. 42).
A quarta tragédia é Medeia. Esta história se desenvolve em Corinto, diante do
palácio real. As personagens são Medeia, esposa de Jasão, a ama de Medeia, Creonte,
rei de Corinto, Jasão, os filhos de Medea e Jasão, o coro de coríntios e o mensageiro. A
tragédia senequiana inicia-se com a crise e a tensão psicológica de Medeia quando
esta clama em desespero pelos deuses a fim de se vingar da infidelidade de Jasão.
A quinta tragédia é Fedra. É considerada uma das peças mais envolventes
deste autor pelos estudiosos. A ação dramática é mais coerente do que nas outras
peças, o coro é integrado à ação e muitas vezes anunciam a chegada e as falas de
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outros personagens. A data da composição dessa peça é de difícil determinação,
embora possamos supor que foi escrita no final do reinado de Cláudio.
O monólogo de Hipólito na abertura de Fedra tem um formato insólito em
comparação com a fala. Isso pode ser verificado primeiramente pela métrica
empregada. Ao invés do prólogo habitual, a peça tem início com o canto de Hipólito
(LONHNER, 1999, p. 50). Ao final do primeiro ato, canta o poder do amor como tema.
A ama diz a Fedra que ela está nas garras da paixão e o palácio é aberto para revelar
uma cena, já que Fedra é mostrada ansiosa. A pedido da ama, Fedra pede a Diana que
traga Hipólito sobre o controle de Vênus. Aparentemente essa oração é respondida e
Fedra solicita a Hipólito que abandone sua resistência ao amor. Este responde com
uma justificativa de sua própria ação. Fedra confessa seu amor e ele a repudia. Hipólito
foge e a ama busca abrandar o sofrimento de Fedra.
O segundo ato termina e o coro comenta a morte de Hipólito. Voltou ao
submundo e perguntou por que seu palácio estava entregue ao pesar. O discurso de
Teseu, no qual ele almadiçoa o filho até a morte como um dos seus desejos que
prometeu a ele seu pai Netuno. Em diálogo com sua ama, Fedra lamenta-se por ser
esposa de Teseu e pela dor que toma conta de si e tira-lhe a tranquilidade, pois está
loucamente apaixonada por Hipólito, seu jovem enteado. A sua ama e confidente da
paixão que lhe consome repreende-lhe de forma incisiva, aconselhando-lhe,
demovendo-a de seus pérfidos destinos (PIRATELI, 2010, p.30).
A sexta tragédia que iremos abordar é Édipo. A peça inicia-se com um
monólogo de Édipo, que reclama sobre a peste em Tebas e sobre a natureza traiçoeira
do reino a ele outorgada depois de sua morte em Corinto. Édipo consultou o oráculo
de Delfos e este disse que iria matar seu pai e se casar com sua mãe. A praga que
assolava a cidade é descrita com detalhes (TOCHTERLE, 2014, p.42). No primeiro ato
(1-211), que serve para o prólogo, Édipo e Jocasta lamentavam sobre a peste. No
segundo ato (202-508), do seu retorno de Delfos, Creonte anuncia a vontade do deus
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Apolo e que se expie a morte de Laio e que a peste não cesse antes que o assassino
seja descoberto.
No terceiro ato (509-763), Creonte comunica que os indícios das
práticas adivinhatórias o sinalizam como assassino de Laio. Édipo, convencido de que
seu pai era Políbio, não aceita como resposta em uma conspiração para destroná-lo e
matar Creonte.
No quarto ato (764-914), começa a se suspeitar de Édipo por causalidade,
aquele que matou seu pai sem o saber, se dirigiu a Delfos e perguntou a idade de Laio.
Um ancião enviado por Merópe e pelos coríntios informa sobre a morte de Políbio.
Forbas, que era pastor de Cíteron, reconheceu Édipo como o antigo menino da
profecia. No quinto ato (915-997), o mensageiro relata como Édipo decidiu arrancar os
olhos e como isto constou em sua decisão. O coro, seguindo a doutrina estoica de que
todos estão submetidos a um destino, trata de desculpar Édipo. No quinto e último ato
(998-1061), Jocasta comete suicídio e Édipo vai para o exílio.
A sétima tragédia é Agamêmnon. Em 1012 versos, Sêneca apresenta a volta de
Agamêmnon,21 rei de Micenas, depois de dez anos de guerra em Troia, retorna para
sua casa e narra como é recebido. A peça tem início com a aparição da sombra de
Tiestes, o qual prediz o assassinato de Agamêmnon, compondo-se, assim, o prólogo.
Então, no párodo, um coro de argivas canta a força da Fortuna que causa
reviravoltas, especialmente nos palácios, causando incertezas e inseguranças. Em sua
primeira aparição, no primeiro episódio, Clitemnestra, que se uniu a Egisto, filho de
Tiestes, durante a ausência de Agamêmnon, se mostra titubeante frente à ideia
fomentada pelo amante de matar o rei de Micenas, filho de Atreu. A nutriz procura
acalmá-la e fazer com que abandone as intenções funestas, mas Egisto surge para
fomentar a dor e o desagravo da rainha, instigando-a a agir. Neste momento, no
Sêneca inspira sua obra na peça homônima de Ésquilo, que fazia parte da trilogia de Oréstias, no qual
se incluem Eumênides e Coéforas. Foi representada pela primeira vez em Atenas no ano de 458 a.C.
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primeiro estásimo, o coro de argivas exalta Febo e, ao final do canto, anuncia a
chegada do soldado Euríbates, o qual é conhecido por sua fidelidade ao rei.
Agamêmnon. Inicia-se o segundo episódio. É Clitemnestra que o recebe e pede
notícias do marido. O mensageiro, então, anuncia a chegada do rei a Micenas,
narrando longamente à viagem turbulenta, causada por uma tempestade que atingiu a
frota grega, as quais muitos estragos sofreram.
Surge, então, acompanhada de um coro de troianas, Cassandra, a sacerdotisa
de Febo e profetisa de Troia, que também pressente a morte de Agamêmnon, o qual
entra, em seguida, rejubilando-se pela vitória e pela chegada.
O coro de argivas, no terceiro estásimo, canta as façanhas dos discursos de
Clitemnestra. Conforme Marco Aurélio Rodrigues (2017), é fato que Sêneca não tinha
apenas a obra de Ésquilo como fonte, visto que, em outros momentos da mesma
trama, enfoca tragédias como Electra de Sófocles e Ifigênia em Áulis de Eurípides e
outros sete dramas que compõem uma temática semelhante. Portanto, nos parece
coerente considerar que o teatrólogo latino teve contato com essa obra. De acordo
com William Calder (1986, p.29), existe uma grande inovação no Agamêmnon de
Sêneca, se o compararmos com a obra de Ésquilo. O dramaturgo grego havia removido
Orestes de cena, colocando-o sobre os cuidados de um aliado. Esta cena descreve uma
dramatização desnecessária de um discurso dos mensageiros.
A oitava tragédia é Tiestes. Apesar da incerteza relativa à cronologia das
tragédias, a ampla teoria aceita a datação de Tiestes aos últimos anos de Sêneca com
base em motivos estilísticos e métricos (TORRE, 2014, p.506). A estrutura dessa obra
divide-se na seguinte atuação: no primeiro ato (1-175), Tântalo é tirado do inferno por
uma fúria e obrigado a alentar infames ódios contra seus netos. O coro de anciãos
implora aos deuses para que impeçam os males e os crimes que avançam contra a casa
de Pélope. No segundo ato (176-403), Atreu decide vingar-se de seu irmão com um
guarda do séquito.
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Tomando pé da discórdia entre os irmãos, o coro crítica a ambição dos
poderosos. No quarto ato (622-884), no banquete infame os filhos de Atreu são
oferecidos como manjares narrados pelos próprios mensageiros. No quinto ato (8851112), feliz o ímpio Atreu conseguiu vencer o seu irmão, uma vez que eram oferecidos
os manjares, assim como aparentemente convida seu irmão a beber, deseja ver seus
filhos e apresenta seus filhos para seu irmão e descobre o que aconteceu.
Nossa última tragédia foi Hercules no éta. A peça é constituída da seguinte
forma: No primeiro ato (1-232), Hercules dispõe-se a fazer um sacrifício e demonstrar
por que é digno de ir para os céus. No segundo ato (232-705), Hercules tem em mão
uma túnica envenada e Djanira encontra-se louca. No terceiro ato (706-1130), ao
observar que a túnica de Hercules esta envenada esta resolve colocarr o fim a sua
própria vida. No quarto ato (1131-1606), Hercules queixa-se e acredita que é indigno
de uma morte por engano. O coro pede ao sol que mostre que Hercules veio a falecer.
No quinto ato (1607-1996), Filoctete narra à morte de Hercules. Ele é transladado a
assembleia dos deuses e por fim é celebrada a apoteose.
Em suma, compreendemos
a importância destes trabalhos e procuramos não nos estender já que nosso objetivo
principal era apresentar estes autores e concluirmos com uma breve apresentação do
corpus trágico pertencentes a Sêneca.
Considerações finais
Neste artigo procuramos apresentar uma breve explanação sobre a origem do
gênero teatral latino. Analisamos Tito Lívio. Apresentamos Lívio Andrônico, Névio,
Ênio, Pacúvio e Accio. Ressaltamos que as tragédias latinas tinham uma conexão com a
religiosidade romana, sendo que a historiografia contemporânea demonstrou que
estes atos religiosos eram na verdade puramente rituais. Durante o início do império
romano, sobram-nos apenas nomes Marmélio Escadauro e Publio Pomponio e Lúcio
Vário Rafo. E por fim, as tragédias senequianas que sobreviveram completas.
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