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Inferno fiscal

2016, Público

Tentar tributar os mais ricos é tão pueril como tentar encher de água um buraco na areia: eles escapam-se.

Periodicidade: Diário Temática: Diversos Público Classe: Informação Geral Dimensão: 423 20­06­2016 Âmbito: Nacional Imagem: S/PB Tiragem: 51453 Página (s): 46 Inferno fiscal JoséMiguelPintodosSantos Se muitos russos imigram para França também há alguns franceses que escolhem ir viver para a Rússia As razões que levaram tantos russos para França durante os últimos séculos são variadas clima mais ameno culinária mais requintada sociedade mais liberal Já as motivações que levam os franceses para a Rússia são menos óbvias Mas um caso recente e mediático dá nos uma pista A 3 de Janeiro de 2013 foi anunciado que Vladimir Putin acabara de assinar o decreto presidencial que concedia a nacionalidade russa a um citoyen de origem humilde que tendo começado a trabalhar como operário aos 13 anos conseguira com esforço e talento subir a escada do sucesso económico e social até se tornar uma das faces mais visíveis da civilisation française contemporânea nem mais nem menos que a Gérard Depardieu Que Depardieu com toda a sua energia e talento é um pouco excêntrico já todos sabíamos Mas excêntrico ao ponto de abandonar a pátria liberal que lhe nutriu o sucesso pelas estepes gélidas do autoritarismo nepotismo e compadrio Poucas coisas afetam tanto o comportamento humano como o dinheiro e os impostos Dinheiro é verdadeiramente deus o princípio superior que rege o comportamento de muitos e impostos são verdadeiros demónios a antítese do que é bom no dinheiro Depardieu descobriu a sua súbita vocação eslávica quando François Holande decidiu aumentar os impostos sobre os rendimentos mais elevados Numa carta pública a Monsieur Ayrault o então chefe do governo Depardieu depois de apontar que pagara em impostos 85 do seu rendimento de 2012 explicava lhe a sua decisão parto porque pensa que o sucesso a criação o talento e tudo o que é diferente deve ser punido Quem paga impostos considera os até certo ponto como um mal menor ou até mesmo como uma contribuição legítima se bem que imposta para o bem estar da sociedade Mas a partir de certo limite os impostos deixam de ser vistos quer como contribuição quer como legítimos e passam a ser considerados como pior que roubo como punição injusta como verdadeira tirania como um inferno diabólico Não é sem razão que se chamam a países com baixa tributação paraísos Mas lá porque Depardieu foi quem estrebuchou mais publicamente com este aumento de impostos não se deve pensar que foi o único que abandonou a França nessa altura muitos milhares de empresários e profissionais com altos rendimentos trocaram na pela Bélgica Reino Unido Luxemburgo e Suíça Tentar tributar os mais ricos é tão pueril como tentar encher de água um buraco na areia eles escapam se Quando o estado precisa mesmo de dinheiro a solução é sempre a mesma taxar os mais pobres que esses dificilmente conseguem fugir Os que trabalham para viver mas que não conseguiram obter o êxito profissional de um Depardieu só têm uma solução quando sentem que o limite do razoável na tributação foi ultrapassado a revolução Professor de Finanças AESE 2 cm