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IGREJA ADVENTISTA: UM MOVIMENTO DA MODERNIDADEi Ismael Fuckner (UFPA) O movimento adventista surgiu nos Estados Unidos da América em meados do século XIX e foi trazido por missionários ao Brasil no início do século XX. Os adventistas do sétimo dia espalhados por diversos países consideram-se portadores de uma verdade única e salvadora que deve ser pregada a todos os seres humanos. Este tipo de exclusivismo é considerado por Pierre Sanchis (1997) como uma característica das religiões modernas, pois o autor entende que a modernidadeii traz consigo a “emergência de definição” - de ser fiel a um grupo exclusivo. Logo que surgem, os adventistas lutam para defenderem-se de práticas alimentares, uso de trajes e inovações como cinema em voga no auge da Modernidade. A cidade e seus efeitos maléficos à saúde física e mental foi também combatida. Os adventistas do sétimo dia formataram um corpus doutrinário incorporando formas de identidade afeitas ao exclusivismo religioso em oposição ao secularismo da época e reelaboram seus significados reencantando-se e encantando suas práticas ao incorporarem ao seu ethos símbolos da modernidade à sombra de velhos dogmas. São marcas identitárias (vistas pelo olhar de não-adventistas) deste grupo religioso hoje: os cuidados com o corpo por meio de uma dieta alimentar natural e vegetariana e a preocupação com o uso do tempo na preservação do sábado como um dia de descanso e adoração, ressignificados com discursos médicos e conceitos ecológicos e que podem ser percebidas em suas práticas cotidianas, num tempo que muitos teóricos já chamam de pós-modernoiii. Rute Fuckner, uma professora adventista de Santa Catarina, ao rememorar o passado mostra um pouco daquilo que se espera de um fiel adventista: Não sei por que, mas de vez em quando uma brisa bate em meu rosto e entra pela janela da minha alma, trazendo lembranças de fatos vividos na infância. Elas me levam ao tempo em que minha mãe usava o ferro de passar roupa cheio de brasas para deixar nossas roupas prontinhas para o sábado. Meu saudoso pai bem antes do pôr do soliv, já estava tocando gaita de boca para nos lembrar de que era hora de estar com tudo pronto. (...) Minha mãe costurava, lavava roupas para ajudar nas despesas, ou cuidava da horta cantando hinos que ficaram registrados em minha mente. Diariamente fazíamos os cultos matutino e vespertino. De onde vinha tanta sabedoria para administrar o tempo com uma família tão grande? (...) Será que nossos filhos também sentirão saudades de nosso lar? (REVISTA ADVENTISTA, 2010: 17) 1 Weber (1989) comenta que os protestantes ascéticos consideram-se guardiães do corpo e do tempo que lhes foram confiados por Deus aos quais se subordinavam como administradores. É meu objetivo colocar em discussão aqui as ressignificações produzidas por adventistas de tradições herdadas desses reformadores protestantes, em solo brasileiro e mais especificamente no estado do Pará. As perguntas de Rute podem muito bem expressar algumas das questões que pretendo aqui discutir. Como os adventistas em seu cotidiano celebram os rituais prescritos pela igreja? Eles conseguem ou buscam manter estes ideais tão caros para Rute? Como eles administram o tempo e o corpo? Como celebram seus cultos nas tardes de sexta – feira antes do pôr - do - sol sem “o ferro de passar roupa cheio de brasas”? Como são administradas as famílias em que as mães terminam sua jornada de trabalho no mesmo horário e até após o seu marido chegar em casa e não têm mais tempo nem gosto de cultivar uma horta no quintal? Ou seja, buscar compreender o que faz um adventista na busca pela felicidade ou ainda o que faz para “viver num mundo que ele é incapaz de compreender” (GEERTZ, 1978: 158). Igreja Adventista do 7º Dia: um movimento da modernidade O movimento adventista contemporâneo foi formado por pessoas que começaram a esperar e a pregar a segunda vinda de Jesus a Terra entre os anos de 1840 e 1860 nos Estados Unidos e na Europa e vai além dos limites do adventismo do sétimo dia e até mesmo do protestantismo, pois havia entre aqueles pregadores alguns representantes do catolicismo como o padre Manuel de Lacunzav (1731-1801). Os adventistas do sétimo dia são herdeiros do movimento mileriano, um dos movimentos adventistas da época, que incluía pessoas das mais variadas denominações e tinha como líder o batista William Millervi (1782-1849). Esse fazendeiro pregou durante aproximadamente 13 anos em pelo menos 500 cidades. Mais de 200 pastores aceitaram suas concepções sobre o iminente retorno de Cristo a Terra e o conseqüente final deste mundo. Estima-se que o número de crentes que se uniu a ele chegou a 100.000 pessoas. A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) foi sendo consolidada a partir deste movimento embrionário e possui atualmente mais de 12 milhões de membros espalhados em quase todos os países do mundo. (SEAMAN, 2001) Como Jesus não apareceu na data em que os “mileritas” esperavam, aqueles seguidores de Miller experimentaram o que ficou conhecido no meio adventista como “o 2 grande desapontamento”. A maioria dos que haviam se juntado ao movimento saiu em profunda desilusão e alguns deles retornaram às suas igrejas de origem. Uns poucos, no entanto, voltaram a pesquisar o assunto para tentar entender o que havia acontecido ou se haviam cometido algum erro de interpretação dos textos bíblicosvii. O movimento adventista surgiu naquele cenário confuso, a partir de um pequeno grupo que se recusou a desistir. Despontaram no meio daquelas pessoas vários líderes que construíram a base do que viria a ser a IASD, curiosamente todos apresentavam graves dificuldades com sua saúde e muitas preocupações com alimentação. Destacam-se como líderes da IASD Tiago Springer Whiteviii (1821-1881) que, quando menino, era débil fisicamente e sofria especialmente de uma enfermidade nos olhos, que o impediu de ir à escola até os 19 anos. Ellen Gold Harmonix (1827-1915) que, aos nove anos, enquanto voltava para casa de uma escola pública, foi ferida por uma pedra atirada por uma colega da classe. Teve o nariz quebrado e, na melhor das hipóteses um choque, pois o ferimento foi seguido por três semanas de inconsciência. A experiência deixou-a desfigurada, doente e debilitada. Por dois anos esteve incapaz de manter suas mãos suficientemente firmes para escrever e o esforço a deixava tonta. Dessa maneira, sua educação formal foi interrompida quando tinha apenas 9 anos de idade. José Batesx (17921872) que, aos 30 anos de idade, abandonou o uso de bebidas alcoólicas e logo depois parou de mascar fumo e fumar e aos 40 anos abandonou chá, café, carne, manteiga, gordura, bolos muito açucarados, queijo e condimentos. Assim, antes de os adventistas se organizarem em um grupo religioso, José Bates era um entusiasta advogado dos princípios de saúde que a IASD passou a defender mais tarde. Em 1860, em Battle Creek, Michigan, EUA, um grupo de congregações adventistas escolheu o nome oficial do movimento e em 1863 foi organizada formalmente a igreja com um número de 3.500 membros. Em 1903, a sede da denominação mudou de Battle Creek, Michigam, para Washington, DC, e em 1989 para Silver Spring, Maryland, onde continua a funcionar até hoje. Os fundadores da IASD deram muita ênfase ao ensino de uma rigorosa prática alimentar como um dos elementos do que ficou conhecida como “a grande reforma de saúde” e à observância do sétimo dia da semana como um dia reservado exclusivamente às atividades religiosas que ficou conhecida como “a grande reforma do sábado”. Essas práticas, segundo eles, complementariam a obra iniciada pelos líderes da “primeira reforma religiosa”, liderada por Martinho Lutero (1483-1546), cujos seguidores ficaram conhecidos como protestantes; bem como pela “segunda reforma religiosa”, 3 liderada por Ulrico Zuínglio (1484-1531) e João Calvino (1509-1564), cujos seguidores passaram a se autodenominar de reformados. Daí a grande similaridade entre os princípios defendidos pelos adventistas do sétimo dia e os preceitos da ascese protestantexi sobejamente analisado por Weber (1989), especialmente no último capítulo de seu magnífico livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. A publicação e distribuição de literatura, juntamente com a construção de sanatórios e casas de recuperação, foram as principais alavancas para o crescimento do movimento adventista. A primeira editora adventista começou a funcionar em 1855, em Battle Creek, Michigan e foi devidamente legalizada em 1861, com o nome de SeventhDay Adventist Publishig Association. Em 1993, a IASD possuía 56 casas publicadoras, espalhadas em cinqüenta e três países. Os adventistas do sétimo dia consideram a obra de publicações como uma das maiores fontes de sucesso da igreja, bem como uma evidência da inspiração divinaxii dada a Ellen White, em 1848. (PACHECO, 2001) Em conseqüência da expansão das publicações e da obra missionária idealizada pelo movimento adventista, no final do século XIX já havia missionários adventistas instalados em todos os continentes. Os primeiros missionários adventistas que vieram dos Estados Unidos para o Brasil transmitiam suas idéias através de folhetos e revistas que ingressavam prioritariamente nas colônias de imigrantes alemães e austríacos, nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo. O primeiro missionário adventista a chegar ao Brasil, em 1893, foi o colportorxiii Albert Stauffer, que iniciou a venda de livros publicados em língua inglesa e alemã. A IASD foi iniciada oficialmente no Brasil em 1895, com o batismo do missionário estadunidense Guilherme Stein Jr., na cidade de Piracicaba, estado de São Paulo. (VIEIRA, 1995) De lá para cá a igreja vem se expandindo pelo território nacional e possuía em 2004, segundo dados oficiais da Igreja, 1.329.662 membros no Brasil. Essa instituição religiosa preza muito pelo trabalho de publicação e divulgação de suas doutrinas e filosofia de vida e por isso foi criada em 1907, na cidade de São Bernardo do Campo – SP, a Sociedade de Tratados do Brasil passa a ser a primeira editora adventista no país, que recebeu o nome de Casa Publicadora Brasileira, em 1920 e atualmente funciona em modernos estabelecimentos na cidade de Tatuí – SP. (PRESTES FILHO, 2006) Muita coisa já foi publicada em folhetos, jornais, revistas e livros a respeito da IASD. No entanto, somente a partir de 1972 dissertações e teses têm sido produzidas sobre o tema nas universidades brasileiras. Isto representa uma mudança significativa no olhar 4 sobre os adventistas do sétimo dia, já que até aquele momento a produção bibliográfica restringia-se aos adeptos do adventismo ou a seus opositores - uma produção predominantemente apologética. Essas pesquisas acadêmicas perfazem um total de 15 trabalhosxiv em diversas áreas do conhecimento como história, ciências da religião, educação, psicologia, antropologia e sociologia. Essas pesquisas contêm uma diversidade de discursos apresentados sob diversas perspectivas teórico-metodológicas peculiares à área específica de conhecimento de cada um deles e abarcam temas diversos peculiares às próprias especificidades da cosmovisão adventista e apresentam a idéia de providência divina na história demarcando o “tempo do fim”xv como o fundamento da visão missionária da IASD desde sua formação, como procurei expor acima. Com o objetivo de expandir suas crenças e modos de vida os adventistas criaram uma sólida estrutura burocrática de grande articulação com o sistema capitalista estadunidense e brasileiro e defendem o uso racional dos dízimos na manutenção dos pastores e das ofertas em empreendimentos no campo educacional, tanto na educação básica como superior, e na construção de hospitais e clínicas, além da edificação de templos e divulgação de literatura. (PEREIRA, 1998 e OLIVEIRA FILHO, 1972) Os adventistas do sétimo dia do Marco Em minha pesquisa de mestrado em antropologiaxvi me propus a investigar sobre as práticas alimentares deste grupo religioso que freqüenta a Igreja Adventista do Sétimo Dia do Marco, em Belém do Pará e como embasamento para esta discussão utilizei também o conteúdo de algumas dissertações já produzidas sobre os adventistas no Brasil, especialmente três delasxvii que se referem a aspectos específicos: saúde e sábado. Entendo que a antropologia possui especificidades marcantes em relação às demais áreas do conhecimento que buscam compreender as mulheres e os homens em suas relações sociais. Carlos Rodrigues Brandão destaca, além do relativismo, que para alguns antropólogos é um “artigo de fé”, a vocação holística da antropologia que busca estudar “desde o ponto de vista das relações que produzem a totalidade dos fenômenos sociais de que são parte [e] aspira ainda a lidar com estruturas, relações e símbolos sociais como fatos sociais totais, feliz expressão de Marcel Mauss, um dos fundadores da Antropologia Social”. (1987: 49) Considerei, portanto, fundamental que esta pesquisa fosse 5 acompanhada de representações de adventistas de um lugar específico, e foi na igreja do Marco que realizei esta pesquisa de campo. A igreja do Marco conta com uma forte expressão na cidade de Belém do Pará, pois, além de possuir um templo bem localizado, na Travessa Barão do Triunfo - entre a Av. Almirante Barroso e a Av. João Paulo II -, é a maior Igreja Adventista do Norte do Brasil, com aproximadamente 2 mil membros que participam semanalmente de cultos e outras programações. Meu primeiro contato com esse grupo de adventistas ocorreu em 1992 quando iniciei um trabalho como professor de história no Instituto Adventista Grão Pará, instituição de educação básica fundada em 1961 que está localizada exatamente em frente a esta Igreja. Segundo Prestes Filho (2006: 17), os primeiros missionários adventistas chegaram na Amazônia em 1927. O pastor estadunidense John Brown chegou em Belém do Pará, com os colportores Hanz Mayr, a esposa deste e André Gedrath. A igreja do Marco não foi a primeira igreja adventista a ser construída na cidade de Belém, mas é a maior e a mais conhecida delas. As primeiras reuniões desta igreja foram realizadas nas dependências do pátio interno do Instituto Adventista Grão-Pará em 1967 e o atual templo da Igreja Adventista do Sétimo Dia do Marco foi inaugurado no ano de 1979. Geralmente a Igreja Adventista do Marco é associada ao Hospital Adventista de Belém, por sua credibilidade conquistada em toda a região após 57 anos de funcionamento na cidade. Por ser considerada “igreja de rico” e carregar a fama de liberal, agrega pessoas de um nível sócio-econômico superior às demais no estado e é formada, em parte, por muitos estudantes universitários e por pessoas com formação acadêmica de nível superior, inclusive alguns professores e médicos ligados às escolas adventistas e ao hospital adventista. Meu contato, portanto, foi predominantemente com pessoas com uma formação acadêmica de nível médio e superior, o que não se vê nas demais igrejas adventistas na cidade. Por esta razão, alguns adventistas em Belém comentam que há quatro igrejas adventistas: a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Igreja Adventista da Promessa, a Igreja Adventista da Reformaxviii e a Igreja Adventista do Marco. Os adventistas do Marco, portanto, parece que formam um grupo distinto dentre os demais adventistas nesta cidade. Considerei interessante aprofundar uma pesquisa neste lócus em especial, pois é ali, a meu ver, que se estabelecem as relações mais intensas e complexas entre os princípios oficiais da Igreja e as práticas consideradas secularizantes, com forte expressão nas grandes cidades, como é o caso de Belém. Este entrelaçamento se dá por conta da própria 6 condição sócio - econômica dos membros desta igreja que os diferenciam dos demais adventistas nesta metrópole. Este grupo específico de adventistas constitui um segmento urbano que vive num contexto sócio-cultural específico e diferente dos demais adventistas de Belém. Só para citar alguns exemplos é na Igreja Adventista do Marco que os jovens fazem mais uso de jóias e cosméticos, freqüentam aos cinemas da cidade, namoram pessoas que não compartilham as mesmas crenças e se relacionam sexualmente antes do casamento com maior freqüência do que em outras igrejas adventistas da cidade; práticas que são proibidas pela liderança da igreja. Por compreender que a religião e os religiosos são construídos historicamente na trama social, adotei de forma predominante uma abordagem interpretativa na qual o conceito de cultura é semiótico, seguindo os passos de Geertz, para quem “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu. [Deste modo, o autor define] a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experiencial em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de significados” (1978: 4). Assim, no decorrer da pesquisa, permaneci atento aos discursos contidos em palestras e sermões proferidos aos adventistas do Marco com o propósito de coletar depoimentos em momentos distintos e extrair deles significados de suas práticas. Minha perspectiva durante a pesquisa não foi a de um adventista que nunca passou pela “domesticação teórica do olhar” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1996: 15), nem tampouco igual ao olhar daqueles que têm a prática da pesquisa de campo, mas nunca participaram dos rituais peculiares ao universo adventista. Sinto-me numa posição intermediária entre o nativo e o pesquisador, pois nasci numa família adventista e sou membro batizado nesta igreja desde meus 9 anos de idade e mesmo permanecendo afastado das práticas formais peculiares ao universo adventista por aproximadamente 8 anos nunca deixei de conviver com adventistas nem de manter certas práticas em meu dia a dia. Foi instigante perceber, nos dias de hoje, o interesse, por ensinamentos que conduzem a um tradicionalismo que remonta pelo menos ao início da modernidade, motivado talvez por um inconformismo com a contemporaneidade ou, usando mais uma vez as palavras de Geertz, pela “confusão moral da vida contemporânea [que faz] as pessoas voltarem-se para ideias e valores mais conhecidos, mais profundamente arraigados e mais familiares” (2001: 158). E por que não dizer, na tentativa de dar um “beliscão” no destino utilizando-se de símbolos repassados geração após geração no “impulso de retirar um sentido da experiência, de dar-lhe forma e ordem” (GEERTZ, 1978: 158). 7 No entanto, a pesquisa não seria completa sem uma atenta observação participante aos cultos realizados no templo e nas residências, pois como lembra Cardoso de Oliveira, citando Radcliffe- Brown: “no empenho de compreender uma religião devemos primeiro concentrar atenção mais nos ritos que nas crenças” (1996: 19). Os adventistas são educados a serem extremamente cuidadosos com a vestimenta especialmente nos cultos de sábado, a prepararem a melhor comida para o almoço do sábado, deixando tudo pronto antes do pôr – do – sol da sexta feira e cantar muito em todas as cerimônias. Tudo isto e muito mais pode ser observado atentamente durante a pesquisa e a partir daí foi possível produzir algumas etnografias, que são descrições densas, segundo Geertz (1978), essenciais para compreender como são ressignificados os princípios estabelecidos pela igreja em um lócus específico em solo paraense. Chizzotti (1991: 91) destaca a importância da observação participantexix, pois segundo ele: “Sua ressurgência em pesquisa tem auxiliado interpretações mais globais das situações analisadas”. No entanto, adverte o autor, que sua aplicação exige: “cuidados e um registro adequado para garantir a fiabilidade e pertinência dos dados e para eliminar impressões meramente emotivas, deformações subjetivas e interpretações fluidas, sem dados comprobatórios”. Na história da formação da antropologia como uma ciência social, há uma tradição neste sentido iniciada nos trabalhos de Malinowski que considera que uma pesquisa bem estruturada pode mostrar muito sobre uma dada realidade, mas o antropólogo as compara ao “esqueleto” de um corpo. Para ele é necessário também que o pesquisador adentre nos meandros de um grupo social para que não faltem “carne e sangue” à sua pesquisa. (MALINOWSKI, 1976: 40) Uma etnografia dos adventistas do Marco Uma incursão pela culinária regional, intermediada em especial pelo trabalho do casal de antropólogos paraenses Maria Angelica Motta-Maués e Raymundo Heraldo Maués (1978 e 1980), demonstrará com maior clareza que as restrições anunciadas pelos interlocutoresxx não vêm do céu, mas daqui mesmo da terra, o que acabou influenciando na escolha do título de minha dissertação. Isso porque pode-se encontrar em muitos tabus alimentares da região norte do Brasil uma certa aproximação com as restrições instituídas pela IASD. Assim, foi possível aproximar certas práticas alimentares de moradores do estado do Pará, com hábitos defendidos pelos membros da igreja do Marco como Sara, uma dona de casa, adventista de berçoxxi, mas vegetariana há pouco tempo, que afirma não 8 comer de jeito nenhum caranguejo, camarão, siri, peixe de pele (o peixe têm que ter escama e barbatana), carne de porco e seus derivados: mortadela e presunto; e que só pode comer animal que tem casco fendido e que rumina e aves com papo e moela. O pato, segundo ela, não deve ser comido porque não tem moela. Minhas amigas cozinheiras me mostraram uma mesa farta e apetitosa com variadas receitas vegetarianas e ovo-lactovegetarianasxxii. A comida pode ser diversificada, havendo espaço tanto para os ingredientes importados como para as iguarias da culinária regional, pois as pessoas reinventam o que é prescrito e adaptam as regras ao seu gosto pessoal e ao estilo de vida da própria família. Boa parte dos adventistas está preocupada em praticar uma dieta vegetariana (sem uso de ovos, leite e seus derivados), mas também com uma dieta “natural” (sem produtos químicos) com o objetivo de prevenir ou curar diversas doenças. Sara conta que suas amigas “pegam no seu pé” porque ela usa gérmen de trigo em tudo o que faz. E também granola, pão integral e óleo de milho. Ela diz que gosta de variar, tem vezes que usa feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha. Segundo ela, todos eles têm ferro e o mesmo valor nutritivo do feijão. “Agora, eu vou te confessar uma coisa, eu gosto mesmo é do feijão preto”, desabafa. Conta que a casca da banana também é alimento e contém fibras e bons nutrientes: “pode ser picada e misturada ao refogado da farofa para surpreender o pessoal na hora do almoço, em vez de se jogar alimento nutritivo na lata do lixo”. Ela evita usar óleo refinado e açúcar branco, mas concorda que apesar de ser prejudicial em excesso, uma certa quantidade de gorduras e óleos é necessária para o corpo e por esta razão utiliza o azeite de oliva e o óleo de girassol. Explica que as gorduras vegetais tendem a ser mais saudáveis, sendo para ela um dos benefícios mais evidentes da dieta vegetariana. Lia indica arroz integral, temperado levemente com ervas e limão e salpicado com castanha-do-pará e sementes de girassol. Recomenda cozinhar o arroz em uma mistura de água e suco de maçã, misturando brócolis com uva-passa, sementes de girassol e amêndoas nas saladas. “Fica muito gostoso cozinhar cenouras, nabos, repolho e outros vegetais em suco de laranja e fazer a pizza sem queijo, mas com muitas coberturas vegetais”, sugere. Conta também que prepara panquecas com berinjela e croquetes de soja ou de grão-de-bico e indica vatapá de palmito para o almoço de sábado. Diz que é possível também fazer bifes com diversos vegetais, como: cenoura, batata, ervilha, soja etc. Ela diz também que comida 9 feita na grelha é mais saudável quando feita com alimentos vegetais. Pode-se grelhar fatias grossas de vegetais embebidos em molho grosso, como berinjelas, pepinos ou tomates. Lia disse que seu patrão adora pizza de berinjela, assado de palmito, mas no meio da refeição ele sempre pede um ovinho frito, às vezes dois. Ele tem muita preocupação com a “má combinação”: frutas doces com frutas cítricas ou frutas com verduras, por exemplo, são consideradas como uma péssima combinação alimentar. Por esta razão Lia não prepara sobremesa durante a semana, só aos sábados “que é um dia especial”. Normalmente as frutas são reservadas para a refeição da manhã ou de final de tarde. As saladas de frutas devem ser feitas respeitando-se o tipo de fruta (só as doces, como a banana e o mamão ou só as cítricas, como a laranja e o abacaxi) e o açúcar refinado pode ser substituído por mel de abelha. As refeições de sábado são especiais, a comida deve ser preparada com mais cuidado. Geralmente se prepara tudo na sexta feira, antes do sol se pôr, conta Ana. O pastor Moisés lembra, com lágrimas nos olhos, como era gostoso quando sua mãe começava a limpar a casa e cobrir os assados, conta que o arroz e alguns pratos ficavam na geladeira e “eram apenas aquecidos no sábado quando voltávamos do culto divino”xxiii. Quando chegava a hora do culto do por do sol, na sexta feira, seu pai ia para a sala e tinha que estar tudo pronto e todos deveriam estar banhados, mas o jantar era servido sempre após o culto doméstico. Este é o momento ritual mais marcante para um adventista.Assado é uma palavra mágica para os nossos interlocutores. Quase todos os pratos carnívoros podem ser substituídos por assados. Assado de palmito, de berinjela, de chuchu, de soja etc. Davi comenta que é fascinado por aquela casquinha crocante e quentinha que fica por cima dos legumes. Ele conta que quando estudava no colégio interno “adorava comer assado com suco natural geladinho, que era servido geralmente aos sábados”. Uma olhada atenta nas dicas culinárias dos adventistas é suficiente para perceber como os adventistas do Marco misturam ingredientes da cozinha regional com uma lista de ingredientes muito peculiares a outras regiões do mundo, inclusive ao hemisfério norte. Podem ser saboreados numa mesma refeição o famoso cheiro verde com folhas de louro ou ainda os flocos de aveia intercalados com farinha d’água, apenas para ficarmos com alguns exemplos. Essas reinvenções feitas especialmente por donas de casa recebem uma marca especial no preparo de pratos em que se prioriza a beleza, em especial no preparo de saladas que geralmente são feitas com critérios na variedade de cores. No entanto, suas reinvenções culinárias são também adaptações de uma cozinha vegetariana com temperos 10 da macrobiótica japonesa, como shoyu e tamari. São utilizados ingredientes diversos vindos da Índia, a exemplo dos iogurtes e diversas receitas com derivados do leite, mesclados por delícias da cozinha brasileira como a feijoada (adaptada para feijoada vegetariana) e com temperos paraenses e pratos regionais modificados. É possível encontrar também as deliciosas massas italianas, já há muito tempo incorporadas ao cardápio nacional, com um toque especial contendo farinha integral, queijo de soja e recheios vegetais. Penso que esta seja uma boa maneira peculiar de abordar um tema candente – Modernidade & Globalização. 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São Paulo: Pioneira, 1989. i Trabalho apresentado no XIII Simpósio Nacional da Associação Brasileira de História das Religiões, realizado entre os dias 29 de maio e 1º de junho de 2012, em São Luiz, MA, Brasil. ii Modernidade para Sanchis (1997: 104) pode ser definida como “... a representação ideal do indivíduo portador de uma razão única, de uma decisão soberana, que se exerce nos quadros de uma lógica universal”. iii Vou me limitar aqui a apresentar em linhas gerais o que Sanchis considera pós-moderno nas práticas religiosas no Brasil. Sinteticamente a pós-modernidade, para este autor, é “... uma composição eclética mais ainda do que um verdadeiro sincretismo, que recorta os universos simbólicos – o do seu grupo e os alheios todos igualmente ‘virtuais’, - e multiplica as ‘colagens’, ao sabor de uma criatividade idiossincrática (‘idiossincrética’), radicalmente individual, mesmo se se articula em tribos de livre escolha”. (1997: 104/105) iv Ela se refere aqui ao entardecer de sexta - feira, momento em que os adventistas do sétimo dia se preparam para as atividades religiosas do sábado, dia reservado para o descanso de atividades consideradas seculares. v Nasceu em Santiago, Chile. Foi admitido na Ordem Jesuíta em sua juventude e fez seus votos em 1766. Em 1767 foi expulso do Chile com todos os outros jesuítas, quando a ordem foi suprimida nos domínios espanhóis. Indo primeiramente para Cádiz, Espanha, estabelecendo depois em Imola, perto de Bologna, no centro da Itália, ele começou a estudar os Pais da Igreja e então as profecias bíblicas, lendo todos os comentários que poderia achar. Em 1779, dedicou-se somente ao estudo das Escrituras. O fruto de vinte anos de estudo foi La Venida del Mesías en Gloria y Majestad, escrito em espanhol aproximadamente em 1791 sob o nome de Juan Josafa Ben-Ezra. O livro enfatizava o Segundo Advento de Jesus a Terra no início do milênio. (ENCICLOPÉDIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, disponível em http: www.) vi William (Guilherme) Miller foi um estudioso leigo da Bíblia e pioneiro do movimento adventista e para alguns autores não adventistas foi o principal fundador da IASD. Nasceu em Pittsfied, Massachusetts. Em sua juventude cria na Bíblia, mas adotou, após o seu casamento, o deísmo. Em 1816, após ter assistido em sua igreja a um comovente apelo de um pregador, se volta com ardor a estudar a Bíblia. Sua visão era de que a Bíblia, se fosse realmente a “Palavra de Deus”, deveria explicar por si só suas aparentes contradições. Entre 13 1816 e 1818 estudou instensivamente usando apenas a concordância de Cruden. (ENCICLOPÉDIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, disponível em http: www.) vii Toda esta polêmica doutrinária partiu da interpretação de um texto bíblico encontrado no Antigo Testamento: Daniel 8:14, que diz o seguinte: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” - versão encontrada na BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA (1999). Considerando, como era usual na época, que a palavra santuário referia-se a Terra, Willian Miller calculou que Jesus poderia retornar a Terra (ao Santuário) em 22 de Outubro de 1844, para purificá-la do pecado. A IASD foi consolidada a partir de interpretações mais amplas do livro de Daniel e até hoje fundamenta suas crenças distintivas neste livro. As interpretações feitas pela IASD sobre as profecias de Daniel estão descritas em um vasto material, mas considero o mais interessante para quem deseja iniciar esses estudos o livro de FEYERABEND (2004). viii Fundador da IASD. Nasceu em Palmyra, Maine em uma família de pioneiros ingleses. Ele relatou em seu livro Life Incidents (p. 9) que seu pai descendia de um dos Peregrinos que vieram no navio Mayflower e desembarcaram em Plymouth Rock, em dezembro de 1620. Aos 15 anos de idade, Tiago foi batizado na denominação chamada Conexão Cristã, à qual seus pais pertenciam. Ao voltar para casa depois de uma classe de inverno, conheceu a mensagem adventista. Persuadido a assistir as reuniões realizadas pelos “Irmãos Oakes, de Boston”, convenceu-se da importância do que ele tinha ouvido. Deixou a escola a fim de se unir à proclamação da mensagem adventista. Em setembro de 1842, em Castine, no Oeste do Maine, ouviu Guilherme Miller. Ao voltar para Palmyra em abril de 1843, foi ordenado ao ministério na denominação cristã a qual pertencia. (ENCICLOPÉDIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, disponível em http: www.) ix Co-fundadora da IASD, escritora, oradora e conselheira da igreja. Nasceu em uma fazenda ao Norte da vila de Gorham, Maine, a Oeste de Portland. Seus pais, Robert Harmon e Eunice Gould Harmon possuíam antepassados britânicos da Nova Inglaterra. Ellen e sua irmã gêmea (não idêntica) eram as filhas mais novas. Havia quatro irmãs mais velhas e dois irmãos. Os Harmons eram membros da igreja metodista. Em março de 1840, Ellen e os outros membros da família ouviram Guilherme Miller pregar em Portland e aceitaram seus pontos de vista sobre o Segundo Advento de Cristo no ano de 1843. Em setembro de 1843, por causa de suas crenças adventistas, ela e seus pais e outros membros da família foram expulsos da igreja metodista. (ENCICLOPÉDIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, disponível em http: www.) x Marinheiro, reformador, pregador adventista, um dos fundadores da IASD. Nasceu em Rochester, Massachusetts, perto de New Bedford. Com a idade de 15 anos, partiu de seu lar para seguir o mar na Marinha Britânica e fez carreira como mercador, tornando-se capitão em 1820. Em 1827 uniu-se à Igreja Cristã de Fairhaven, à qual pertencia sua esposa. (ENCICLOPÉDIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, disponível em http: www.) xi Um aprofundamento sobre o tema pode ser lido em meu artigo (FUCKNER, 2005) xii Ellen Gold Harmon adotou o nome de Ellen Gold White após casar-se com Tiago White. Muito jovem passou a ter visões e a ditar diversos conselhos sobre ssaúde, educação, administração, finasnças e teologia e é considerada ainda hoje como a única profetisa da IASD. xiii Colportores adventistas são pessoas que divulgam e vendem a literatura produzida pela IASD e sobrevivem deste trabalho. Eles foram muito importantes no início das atividades missionárias dos adventistas no Brasil. Sobre a influência das publicações na expansão do movimento adventista no Brasil, indico uma ampla abordagem histórica sobre o tema na Revista Adventista (2010: 2 – 15). Para quem deseja conhecer a história da editora adventista no Brasil indico o livro de Rubens Lessa (2000). xiv Pude listar até o momento de meu levantamento 1 tese em História (PRESTES FILHO, 2006), 2 dissertações em História (HOSOKAWA, 2001; MATOS, 1993), 1 tese em Ciências da Religião (SCHUNEMANN, 2001), 2 dissertações em Ciências da Religião (RIBEIRO, 2006; PEREIRA, 1998), 1 tese em Sociologia (OLIVEIRA FILHO, 1972), 1 dissertação em Sociologia (PACHECO, 2001), 2 teses em Educação (STENCEL, 2006; SILVA, 2001), 3 dissertações em Antropoplogia (FUCKNER, 2003; TEIXEIRA, 1990, ROCHA, 1972) e 2 dissertações em Psicologia (SCHEROKI, 1998 e SCHUNEMANN, 1995). xv Tempo do fim é um conceito construído pelos adventistas do 7º dia no decorrer de sua história e faz parte de sua própria experiência de movimento profético iniciado em meados do século XIX, momento em que aguardavam o retorno de Jesus a Terra. Sobre a concepção de “tempo do fim” sugiro a leitura das teses de Schunemann (2001 e 1995) e Prestes Filho (2006). xvi O título de minha dissertação foi sugestão da Profª Drª Maria Angelica Motta-Maués, que percebia em minha pesquisa de mestrado uma grande preocupação com as relações entre os ideais prescritos aos adventistas, portanto coisas do céu e os caminhos traçados por eles mesmos a partir de combinações (comidas da terra). (FUCKNER, 2003) xvii Os trabalhos são de Ribeiro (2006), Pacheco (2001) e Rocha (1972). 14 xviii A Igreja Adventista da Reforma e a Igreja Adventista da Promessa surgiram a partir de uma ruptura com a IASD. A primeira por defender de forma mais veemente as idéias de Ellen G. White e a segunda por possuir uma orientação pentecostal. xix “A observação participante, introduzida pela Escola de Chicago nos anos 20, duramente contestada pelas pesquisas experimentais, foi abandonada, durante algumas décadas.” (CHIZZOTTI, 1991: 91) xx Meus interlocutores - 8 homens e 4 mulheres – são identificados aqui por codnomes na intensão de preservar sua identidade. Nem todos residiam no bairro do Marco apenas Moisés, Lia, Ana, Davi e Lucas, mas todos freqüentavam a igreja do Marco. Abraão e Marcos residiam no bairro da Pedreira. Jeremias, Samuel, Rute, Sara e Balaão vinham de Ananindeua, município próximo a Belém, para assistir às programações da igreja. Das 4 mulheres, apenas Lia não é adventista, mas trabalha na casa de uma família adventista. Ana possui curso superior, Rute e Sara concluíram o ensino médio e Lia não concluiu o ensino fundamental. Dos 8 homens, apenas Balaão e Jeremias não possuem o ensino fundamental completo e apenas Balaão não é adventista, mas mora na casa de seu filho que é adventista há 11 anos. Entre os homens entrevistados 6 possuem curso superior: há entre eles, dois médicos, dois pastores, um engenheiro e um advogado. As entrevistas foram concedidas em 2002 e 2003. xxi Termo utilizado entre os adventistas do sétimo dia para indicar que o membro nasceu em uma família de tradição adventista. xxii Uma dieta que pode incluir, além dos vegetais: ovos, leite e seus derivados. xxiii No sábado pela manhã a programação na IASD é dividida em dois momentos: de 9h até as 10h30m ocorre um momento de estudos conhecido como a Escola Sabatina e no segundo momento (das 10h30m até as 12h) acontece o principal culto entre os adventistas que é chamado de Culto Divino. Há mais três cultos regulares: no sábado a tarde, no domingo a noite e na quarta-feira a noite. 15