IX ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DE
DEFESA (ABED)
AT 7- Segurança Internacional e Defesa
A QUESTÃO DA SEGURANÇA FRONTEIRIÇA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL
E SUAS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS E MILITARES PARA A DEFESA
DA REGIÃO AMAZÔNICA - 1985 A 2015
LUÍS FERNANDO TAVARES FERREIRA
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
“ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO”
RESUMO
A questão da segurança fronteiriça na Amazônia ocidental e suas consequências
políticas e militares para a defesa da região amazônica a partir de 1985 vem sendo
influenciada por uma variedade de fatos e fatores ao longo dos últimos anos. A segurança
está relacionada a um estado ideal a ser alcançado e a defesa como um conjunto de ações
planejadas para a obtenção de tal ideal. Quando tratamos do campo da segurança e da
defesa, estamos lidando com estes conceitos na perspectiva da sobrevivência do Estadonação, este percebido como uma unidade política soberana, que pode vir a sofrer uma gama
variada de ameaças, tanto provenientes do seu contexto externo como interno. Neste caso, a
segurança do Estado seria um objetivo a ser alcançado fundamentado em ações de defesa
organizadas pelo corpo estatal e/ou por governos estabelecidos. Dentro dessa concepção, o
Estado Brasileiro passou a enfocar a ocupação duradoura dessa região como o objetivo de
aumentar a presença estatal, potencializando a segurança e os meios de defesa dessa porção
estratégica do território nacional. Nesse contexto faz-se necessário citar os projetos estatais
para a obtenção do desenvolvimento e do controle da faixa de fronteira, em especial o Projeto
Calha Norte (PCN). Na Amazônia, a ausência de órgãos do Estado é quase absoluta, se não
fosse a presença das Forças Armadas, em especial a do Exército Brasileiro. Fruto disso, a
questão da segurança e da defesa amazônica reveste-se de importância crucial para o
fortalecimento da presença estatal nessa região, uma vez que produz consequências políticas
e militares na região desde os idos de 1985 até aos dias atuais.
Palavras-chave: Segurança – Defesa – Amazônia Ocidental – Consequências
Políticas e Militares
A QUESTÃO DA SEGURANÇA FRONTEIRIÇA NA AMAZÔNIA OCIDENTAL E SUAS
CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS E MILITARES PARA A DEFESA DA REGIÃO AMAZÔNICA
- 1985 A 2015
Luís Fernando Tavares Ferreira 1
(ECEME/PPGCM)
1. INTRODUÇÃO
A nova ordem mundial vem sendo influenciada por diversos fatores e fatos. Diversas
nações do mundo vêm enfrentando ao longo dos últimos anos, problemas correlacionados
com esses elementos, tais como o narcotráfico, o crime organizado e a degradação do meio
ambiente.
A Amazônia historicamente é uma espaço geográfico quase que absolutamente vazio.
Conforme Magnoli (1997, p. 175): [...] o início da presença militar na Amazônia coincide com
a sua conquista, em 1616, quando foi erguido o Forte do Presépio, que deu origem a Belém
do Pará. Mas a primeira colônia militar só viria a se estabelecer em 1840, na região do rio
Araguari — seguindo-se a instalação de outras em São João do Araguaia, São Pedro de
Alcântara, Óbidos, Oiapoque e Tabatinga.
É inegável que a Amazônia configura um espaço estratégico brasileiro. A Estratégia
Nacional de Defesa assevera que a Amazônia é um dos escopos da Estratégia Nacional de
Defesa, in verbis: [...] A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa.
A defesa da Amazônia exige avanço de projeto de desenvolvimento sustentável e passa pelo
trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença. O Brasil será vigilante na
reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Amazônia brasileira. Repudiará, pela
prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela sobre as suas
decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e de defesa da Amazônia. Não
permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros
— políticos ou econômicos — que queiram enfraquecer a soberania brasileira. [...]
A fronteira amazônica ocidental compreende a faixa de fronteira que se estende do
estado do Amazonas até o estado de Rondônia.
__________
Mestrando do programa de pós-graduação “Stricto Sensu” em Ciências Militares da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio de Janeiro. Mestre em Operações Militares pela Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais, 2009. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das
Agulhas Negras, 2000. Trabalhou nos 1°,3°,4° Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) do Comando de
Fronteira Solimões/8°Batalhão de Infantaria de Selva (CFSol/8°BIS), de 2001 a 2013.
1
Figura 1 – Mapa geral da Amazônia Legal
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
As legislações nacionais têm buscado reprimir com maior rigor tais problemas, tratandoos como delitos de extrema gravidade que, na maioria das vezes, percorrem itinerários que
passam por dois ou mais países, o que representa um elevado grau de dificuldade para as
autoridades encarregadas de investiga-los e contê-los.
A maior parte das fronteiras brasileiras são guarnecidas basicamente pelas tropas do
Exército Brasileiro que, com o apoio das demais forças singulares, assumem a importante
missão de protegê-las e mantê-las a todo custo, atuando, como verdadeiro guardião da
Soberania Nacional.
A partir de 1985, o Estado brasileiro procurou se fazer mais presente na faixa de
fronteira da Amazônia, especialmente, na parte ocidental como forma de potencializar a
segurança, ao mesmo tempo, aumentar os meios de defesa nessa área.
Para isso, o Estado lançou diversos projetos, os quais objetivaram a vivificação da
faixa da fronteira. A lógica dessa ação foi povoar para desenvolver. Assim, se buscou o
povoamento como forma de induzir o desenvolvimento da região, pois o desenvolvimento
aumenta a segurança e a defesa.
O agravamento da problemática das segurança nacional e interna é uma situação, que
nos últimos anos, vem se tornando um cenário de difícil gerenciamento por parte do Estado
Brasileiro e, também, constituindo-se um óbice ao pleno desenvolvimento nacional com
influências nefastas em todas as expressões do Poder Nacional.
Tal consideração conduz os limites de responsabilidade pela segurança interna na
direção das Forças Armadas (FA), as quais, em especial o Exército Brasileiro (EB), que, a
partir de meados da década de 1990, passou a ser empregado de maneira mais frequente,
por meio das Operações de Garantia da Lei e da Ordem (Op GLO) e, mais recentemente, por
intermédio das Operações de Intensificação de Presença em Faixa de Fronteira (Op IPFF).
Além da limitada capacidade dos órgãos responsáveis pela segurança interna em
matéria de logística e de pessoal, a opinião pública tem clamado por uma atuação mais
incisiva do estamento militar na repressão ao crime.
No ano de 2010, as Forças Armadas receberam a chancela legal para agir com poder
de polícia na faixa de fronteira, a teor do que dispõe o art. 16A, da LC nº 97/99. Tal fato contribuiu
para o crescimento de seu emprego nessa seara operacional, citando como exemplo
emblemático as diversas Operações AGATA realizadas ao longo dos anos, culminando com
a AGATA X transcorrida no ano de 2015, além das Operações CURARE e CURARETINGA,
realizadas pelas Brigadas de Infantaria de Selva (Bda Inf Sl) e pelos Batalhões de Infantaria
de Selva (BIS) respectivamente. Essas operações serviram como incremento à segurança
por meio da intensificação das ações de defesa do território brasileiro.
O agravamento da problemática da segurança interna está intimamente ligada `a
atuação mais incisiva das ações das Organizações Criminosas (ORCRIM), principalmente
junto à faixa de fronteira, desencadeando a chamada “Guerra da Fronteira”, cujas
consequências são sentidas nos grandes centros urbanos (Guerra Urbana).
Assim, este trabalho objetiva apresentar a questão da segurança fronteiriça na
Amazônia ocidental e suas consequências políticas e militares para a defesa da região
amazônica a partir de 1985, sendo composto pelas seguintes seções: introdução,
metodologia, desenvolvimento e considerações finais.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa objetiva ampliar substancialmente o rol de conhecimentos acerca
do tema escolhido.
A presente seção ter por finalidade apresentar a metodologia a ser utilizada para
apresentar o tema intencionado. Planeja-se levar a cabo o presente trabalho com base
inicialmente em uma revisão bibliográfica para o levantamento teórico das ações relacionadas
à segurança e à defesa na Amazônia.
DOMINGUES (2007) assevera que a pesquisa científica pode ser definida como “a
realização concreta de uma investigação planejada e desenvolvida de acordo com as normas
consagradas pela metodologia científica”. Portanto, torna-se necessário o emprego de um
correto planejamento da metodologia científica.
GODOY (1995) afirma que “a principal preocupação deste tipo de trabalho é o estudo
do ambiente natural e a análise do mundo empírico, valorizando de forma efetiva o contato
direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação estudada”. Sendo assim,
cabe ao acadêmico selecionar, analisar, interpretar os dados coletados, como forma de
entender a questão da segurança fronteiriça na Amazônia ocidental e suas consequências
políticas e militares para a defesa da região amazônica.
As fontes utilizadas durante a pesquisa serão, em sua grande maioria, de caráter
documental, tais como: legislação federal, revistas e periódicos militares relacionados ao tema
em tela. Já a pesquisa bibliográfica será o grande alicerce do trabalho, onde os trabalhos
acadêmicos produzidos anteriormente, tais como trabalhos de conclusão de curso,
dissertações de mestrado, teses de doutorados tendo como objeto de estudo o assunto em
questão, além de obras literárias produzidas por autores nacionais, garantirão a consecução
dos objetivos propostos.
Dessa forma, a pesquisa científica se desenvolverá de maneira gradativa, com o
propósito de promover um raciocínio lógico e ordenado, a partir da apresentação da missão
do Exército culminando com a apresentação das consequências políticas e militares para a
defesa da região amazônica decorrentes da questão da segurança na fronteira amazônica
ocidental.
3. AS FORÇAS ARMADAS E A SEGURANÇA E A DEFESA DA AMAZÔNIA
A missão constitucional das Forças Armadas está prevista no artigo 142 da
Constituição Federal de 1988.
As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
A presença das Forças Armadas se dá de forma permanente na fronteira amazônica
Ocidental. A faixa de fronteira brasileira possui uma extensão aproximada de 16.866 Km,
sendo que na Região Amazônica corresponde aproximadamente a 11.600 km.
O Exército se faz presente na região amazônica com os Pelotões Especiais de
Fronteira (PEF) orgânicos dos Batalhões de Infantaria das Brigadas de Infantaria de Selva
presentes na faixa de fronteira até os Grandes Comandos Logísticos, como a 12ª Região
Militar (12ª RM) e Operacionais, como o 2º Grupamento de Engenharia (2º Gpt E) e o
Comando Militar da Amazônia (CMA). Essa distribuição de Organizações Militares (OM) está
contemplada em Boa Vista/RR (1ª Bda Inf Sl), São Gabriel da Cachoeira/Am (2ª Bda Inf Sl),
Tefé/Am (16ª Bda Inf Sl) e Porto Velho/RO (17ª Bda Inf Sl), 01 (um) Grupamento de
Engenharia (2º Gpt E), 01 (um) Grande Comando Logístico (12ª Região Militar) e 01 (um)
Comando Militar de Área (Comando Militar da Amazônia), todos situados em Manaus/Am.
Figura 2 – Disposição das tropas do Exército na fronteira amazônica ocidental
Fonte: Comando Militar da Amazônia (CMA)
Na fronteira amazônica ocidental, encontra-se a 2ª Bda Inf Sl e o Comando de
Fronteira Rio Negro/5º Batalhão de Infantaria de Selva (CFRN/5ºBIS) em São Gabriel da
Cachoeira/Am. No município de Tabatinga/Am, se faz presente o Comando de Fronteira
Solimões/8º Batalhão de Infantaria de Selva (CFRN/8ºBIS), o Comando de Fronteira Acre/4º
Batalhão de Infantaria de Selva (CFAC/4ºBIS) em Rio Branco/Am e o Comando de Fronteira
Rondônia/6º Batalhão de Infantaria de Selva (CFRO/6ºBIS) em Guajará-mirim/RO.
A Marinha do Brasil está presente na Amazônia ocidental desde os idos do século
passado. Atualmente, a Força Singular naval se faz presente na região amazônica por meio
do 9º Distrito Naval (9º DN), do Comando da Flotilha do Amazonas (COMFLOTAM), da
Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC), todas organizações militares navais
sediadas em Manaus.
A Marinha do Brasil atua na fronteira amazônica ocidental por meio da Capitania Fluvial
de Tabatinga (Am) e de diversas Agências Fluviais presentes em diversos municípios dessa
extensa região fluvial.
Figura 3 – Disposição das organizações militares da Marinha do Brasil na Amazônia Ocidental
Fonte: 9° Distrito Naval (9°DN)
A Força Aérea Brasileira (FAB) está presente na Amazônia ocidental por meio do
VII Comando Aéreo Regional (VII COMAR), da Base Aérea de Manaus (BAMN) e do Batalhão
de Infantaria da Aeronáutica Especial (BINfAE), todos sediados em Manaus.
Na faixa de fronteira ocidental da Amazônia, a FAB atua por meio do Destacamento
Aéreo de São Gabriel da Cachoeira (Am) – DASG além de outros destacamentos aéreos
presentes nessa área.
Figura 4 – estruturação da FAB na Amazônia
Fonte: Força Aérea Brasileira (FAB)
A Política Nacional de Defesa (PND, 2012) conceitua a segurança, em linhas gerais,
como a condição em que o Estado, a sociedade ou os indivíduos se sentem livres de riscos,
pressões ou ameaças, inclusive de necessidades extremas. Por sua vez, defesa é a ação
efetiva para se obter ou manter o grau de segurança desejado.
A relação entre segurança e defesa nacional é também marcada pela subordinação e
pela complementariedade. Na busca da segurança prepara-se a defesa; defesa constitui-se
na instrumentalização de recursos para se alcançar uma situação de segurança.
É mister salientar o conceito de faixa de fronteira, uma vez que essa delimitação
espacial está intimamente relacionada ao assunto em tela. Essa é conceituada pelo artigo 1º
da Lei 6.634, de 02 de maio e 1979, in verbis [...] considera-se área indispensável à Segurança
Nacional a faixa interna de 150 Km (cento e cinquenta quilômetros) de largura, paralela à linha
divisória terrestre do território nacional, que será designada como Faixa de Fronteira.
Além desse dispositivo legal, o conceito de Faixa de Fronteira foi ratificado pela
Constituição Federal de 1988, obtendo a tutela constitucional conforme o artigo 20, § 2°, in
verbis [...] a faixa de fronteira de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para a
defesa do território nacional, e sua ocupação serão reguladas em lei.
4. OS PROJETOS ESTRUTURANTES VIGENTES PARA A SEGURANCA E A DEFESA DA
REGIÃO AMAZÔNICA
A região amazônica apresenta peculiaridades que agravam a sua vulnerabilidade
política-estratégica: área com mais de 1,2 milhões de Km 2 contrastando com a baixa
densidade demográfica da região. A presença de índios com diversos graus de aculturação,
a falta de integração ao território nacional, acentuada carência de recursos sociais básicos,
especialmente na área de saúde, incipientes vias de comunicações e transportes terrestres,
com grande dependência das condições climáticas, solos sujeitos `a erosão e a rápida perda
de nutrientes, dependentes de cobertura vegetal, sendo solos férteis, em geral, restrito `as
áreas ribeirinhas, subsolo extremamente rico em recursos naturais, identificados em sua
maior parte, utilização predatória dos recursos naturais, com degradação do solo, flora e fauna
em alguns pontos da região, existência do narcotráfico, sendo a plantação, colheita, refino e
comercialização de epadu (coca) movimentam recursos financeiros que, muitas vezes,
neutralizam a presença do poder público na região, ocorrência do contrabando e descaminho
de recursos minerais diversos, desordenada atividade de garimpagem, acarretando danos ao
meio ambiente, com graves deficiências sociais e trabalhistas, por fim, problemas decorrentes
de conflitos envolvendo, principalmente, índios, garimpeiros (BRASIL, Governo Federal,
1985).
Fruto dessa situação, o Estado Brasileiro entrou em nova ciclo de desenvolvimento
para a Amazônia com a edição do Projeto Calha Norte (PCN) em 1985. Esse projeto iniciou
uma nova fase de atuação do Estado na região amazônica.
Segundo COSTA, 1994, apud MARQUES, 2007, P.157, os objetivos iniciais do PCN
eram o incremento das relações bilaterais, o aumento da presença militar na área,
intensificação das campanhas de recuperação dos marcos limítrofes; definição de uma
política indigenista apropriada à região, ampliação da infraestrutura viária, aceleração da
produção de energia hidrelétrica, interiorização dos polos de desenvolvimento econômico e
ampliação da oferta de recursos sociais básicos.
SILVA, 2004 apud MARQUES, 2007, P.159, as premissas geopolíticas do Programa
Calha Norte foram maximizadas com o tempo e atualmente o principal objetivo desse
programa é aumentar a presença do poder público na região norte do Rio
Solimões/Amazonas, contribuindo para a Defesa Nacional e proporcionando assistência às
populações e fixando o homem na região.
Outro projeto estruturante de vulto para a segurança e a defesa da região amazônica
é o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM). Ele teve início com a Exposição de Motivos
n° 194 do Ministério da Aeronáutica, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e do
Ministério da Justiça ao presidente Fernando Collor de Melo em 1990. Tal exposição focou na
necessidade de dotar a nação brasileira de um sistema eficiente de produção e
processamento de informações para a essa região estratégica do país.
Assim, o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) construiu toda a infraestrutura
necessária ao SIPAM, cujo objetivo básico é a proteção do território e do patrimônio da
Amazônia e a defesa da soberania nacional nessa região, além de sistematizar e otimizar as
ações públicas, potencializando os resultados pretendidos pelas políticas públicas existentes
para a região.
LOURENÇÃO (2003) argumenta que o SIVAM/SIPAM é um projeto multiministerial,
voltado para a otimização de recursos públicos que busca responder eficientemente às ações
de novos atores não-governamentais nacionais e internacionais que atuam na Amazônia. Um
aspecto importante elencado pelo autor é que o SIVAM/SIPAM contempla recursos originais
não contemplados no Projeto Calha Norte, tais como o controle do tráfego aéreo e o
monitoramento ambiental.
Figura 5 – visualização da estrutura do SIVAM/SIPAM
Fonte: Força Aérea Brasileira (FAB)
Em 2006, o SIVAM foi extinto e o SIPAM passou a ser elemento gerenciador de
sistema de proteção, proporcionando um avanço nítido no controle e no gerenciamento dessa
importante região do território nacional.
5. CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS E MILITARES PARA A DEFESA DA REGIÃO
AMAZÔNICA
A questão da segurança na fronteira amazônica ocidental vem sendo influenciada por
várias fatos e fatore, contribuindo diretamente para a ocorrência das consequências políticas
e militares.
No tocante às consequências políticas, pode-se enumerar as seguintes:
- maior necessidade de ser ter uma política orçamentária que proporcione uma
continuidade de recursos para as Forças Armadas, visando a execução das ações de defesa
planejadas;
- maior necessidade de se implementar políticas públicas para a região, objetivando o
desenvolvimento sustentável dessa área para fortalecer o sentimento nacionalista dos
brasileiros residentes nessa região fronteiriça;
- maior necessidade de maior integração das políticas de defesa da fronteira entre os
países limítrofes dessa região com o propósito de otimizar os meios empregados para a
defesa dessa área;
- maior necessidade de preservar a cultura indígena como forma de fortalecer o
sentimento de brasilidade dos índios amazônidas, concretizando a soberania nacional sobre
essa área;
- aprimoramento da política nacional de defesa, com o objetivo de concretizar as ações
voltadas para a defesa da região amazônica previstas nesse documento de defesa;
- maior necessidade de se buscar o multilateralismo regional para concretizar as ações
de defesa nessa região.
No tocante às consequências militares, as seguintes ações podem ser citadas:
- maior necessidade de obtenção de capacidades dissuasórias, como meio de
fortalecimento da soberania brasileira sobre a fronteira amazônica ocidental;
- necessidade de manutenção do preparo e do emprego das tropas existentes na
região e das tropas de Força de Ação Rápida (FAR) em índices satisfatórios;
- necessidade de manutenção de organizações militares localizadas nessa região;
- necessidade de aumentar a presença militar em pontos destacados da fronteira
ocidental amazônica, por meio dos Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) e/ou de novos
Batalhões de Selva;
- criação de instalações físicas de apoio às tropas em áreas indígenas, geralmente
localizadas em áreas de fronteira, como forma de facilitar futuros empregos nessas regiões;
- criação de instalações de apoio, em diversos pontos da fronteira amazônica
ocidental, para futuros empregos de tropas e meios originários dos militares das Forças
Armadas, como meio de otimizar as operações logísticas nessas regiões;
- necessidade de aumentar as capacidades logísticas das forças singulares presentes
nessas áreas, objetivando a otimização da cadeia de suprimento em operações futuras.
Dessa forma, observa-se que diversas consequências, tanto políticas quanto militares,
são observadas em decorrência da segurança fronteiriça na Amazônia ocidental, contribuindo
para a necessidade de uma constante e permanente reflexão sobre a defesa dessa
estratégica região do território brasileiro.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segurança e a defesa da região fronteiriça da Amazônia Ocidental é um assunto
sensível em decorrência das diversas condicionantes políticas, estratégicas e militares
existentes.
Conhecer as peculiaridades do ambiente amazônico, em especial da fronteira ocidental,
é fator essencial para uma correta compreensão da realidade existente nessa região. De
posse dessa visão holística, uma análise isenta poderá ser realizada, como meio auxiliar para
a formulação de políticas públicas nacionais e regionais eficientes, visando alcançar o
desenvolvimento dessa área com respeito irrestrito ao meio-ambiente e aos povos da floresta.
A busca constante pela segurança nessa parte da fronteira brasileira exige do Poder
Nacional a adoção de medidas direcionadas a obtenção dessa sensação de segurança no
seio da sociedade local. Para tal, é imprescindível a união dos atores estatais, nas suas três
esferas de atuação, e os diversos atores não-estatais presentes na sociedade atual. A união
de esforços entre o Poder Público e os Entes privados tem o condão de potencializar os
resultados advindos da adoção das medidas de defesa necessárias para essa região.
A permanência efetiva de órgãos públicos na região da fronteira amazônica ocidental é
condição básica para a obtenção da sensação de segurança por meio de medidas de controle
e monitoramento de pessoas e atividades nessa faixa de fronteira, como meio de fazer o
Estado presente nessa área de importância estratégica para o país.
Dentro dessa concepção atual, os projetos e sistemas que visam o desenvolvimento
dessa região merecem ser contemplados pelo poder público. Nessa seara, o Projeto Calha
Norte (PCN) e o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) atuam como indutores desse
estado final desejado de plena integração à estrutura pública e ao território nacional, além de
um estágio mínimo de desenvolvimento econômico-social local.
Diante dessa conjuntura de desafios, faz-se necessário que a problemática da
segurança nessa região ganhe contornos de prioridade nacional como forma de se priorizar
recursos e meios para esse objetivo, uma vez que tal deficiência vem promovendo diversas
consequências política e militares que podem vim a comprometer a soberania brasileira nessa
região de fundamental importância para a nação brasileira.
.
REFERÊNCIAS
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______. Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999, à Constituição da República
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______. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de
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www.fab.mil.br/.../defesa/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf>. Acesso em: 11 de
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COSTA, Eugênio Pacelli Lazzarotti Diniz. O Projeto Calha Norte: Antecedentes Políticos.
1994. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo – USP, 1994.
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GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. São
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LOURENÇÃO, Humberto J. A defesa nacional e a Amazônia: o Sistema de Vigilância da
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MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa do
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