livro de resumos
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FICHA TÉCNICA
TÍTULO
4.º Congresso Internacional “Pelos mares da língua portuguesa” – Livro de Resumos
EDITORES
António Manuel Ferreira, Carlos Morais, Maria Fernanda Brasete, Rosa Lídia Coimbra
CAPA
Sofia Almeida (SCIRP-UA), a partir de um logótipo de Álvaro Sousa (DECA-UA)
EDIÇÃO
UA Editora – Universidade de Aveiro
1.ª EDIÇÃO
Maio de 2018
ISBN
978-972-789-542-7
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Índice
Apresentação
…….…………………….…………. 6
Comissões
…….…………………….…………. 7
Programa
…….…………………….…………. 9
Resumos
Apoios
5
Comunicações orais
…….…………………….…………. 23
Pósteres
…….…………………….…………. 129
…….…………………….…………. 135
Apresentação
Este congresso situa-se, este ano, entre dois marcos importantes para a língua portuguesa:
o dia do autor português, a 22 de maio, e o dia de África, a 25 de maio. Pretendemos,
assim, na linha das três edições anteriores, sublinhar a importância da língua portuguesa
como meio de comunicação intercultural.
O programa do congresso inclui conferências plenárias, mesas-redondas, comunicações
livres, pósteres, exposições.
Painéis temáticos
1. Pelos mares de África
2. Pelos mares da América
3. Pelos mares da Europa
4. Pelos mares do Oriente
Nestes quatro painéis serão abordados os seguintes tópicos:
• O português, uma língua de comunicação e culturas
• Diversidades linguísticas, culturais e literárias
• A língua portuguesa na era digital
• Geografias da língua portuguesa – redes de ensino (língua materna, língua segunda, língua
estrangeira, língua de herança)
• Roteiros da língua portuguesa (museológicos, científicos, turísticos, literários)
• Diálogos interartes (cinema, música, ilustração, fotografia, pintura, etc.)
• A língua portuguesa em diálogo com outras línguas
• Vozes literárias em língua portuguesa: textos, contextos e intertextos
• A língua portuguesa nos negócios e na diplomacia
http://mares4.web.ua.pt
dlc-mares@ua.pt
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Comissão Organizadora
António Manuel Ferreira
Carlos Morais
Maria Fernanda Brasete
Rosa Lídia Coimbra
Comissão Científica
Agnaldo Rodrigues da Silva (UNEMAT/AML, Brasil)
Alberto Sismondini (Universidade de Coimbra)
Álvaro Iriarte Sanromán (Universidade do Minho)
Ana Paula Arnaut (Universidade de Coimbra)
Andrés J. Pociña López (Universidad de Extremadura, Espanha)
Andrés Pociña (Universidad de Granada, Espanha)
António Fernando Cascais (Universidade Nova de Lisboa)
Aurora López-López (Universidad de Granada, Espanha)
Benjamin Abdala Júnior (Universidade de São Paulo, Brasil)
Carlos Ascenso André (Universidade de Coimbra / Instituto Politécnico de Macau)
Catarina Xu (Universidade de Línguas Estrangeiras de Xangai, China)
Cristina Martins (Universidade de Coimbra)
David Gibson Frier (University of Leeds, UK)
Elisabeth Battista (UNEMAT, Brasil)
Fernanda Cavacas (Ensaísta)
Fernando Curopos (Sorbonne Universités, França)
Fernando Venâncio (Universiteit van Amsterdam, Holanda)
Flavia Maria Corradin (Universidade de São Paulo, Brasil)
Francisco Maciel Silveira (Universidade de São Paulo, Brasil)
Francisco Topa (Universidade do Porto)
Inês Cardoso (York University, Toronto, Canada)
Isabel Falé (Universidade Aberta, Lisboa)
Isabel Roboredo Seara (Universidade Aberta, Lisboa)
João Manuel Nunes Torrão (Universidade de Aveiro)
João Nuno Corrêa-Cardoso (Universidade de Coimbra)
João Paulo Silvestre (King’s College, Londres, UK)
José Teixeira (Universidade do Minho)
Kathrin Sartingen (Universität Wien, Áustria)
Luís Filipe Barbeiro (Instituto Politécnico de Leiria)
Lurdes de Castro Moutinho (Universidade de Aveiro)
Marisa Mendonça (Diretora Executiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa)
Martin Neumann (Institut für Romanistik, Universität Hamburg, Alemanha)
Martins Mapera (Unizambeze, Moçambique)
Miguel Gonçalves (Universidade Católica, Braga)
Nobre Roque dos Santos (Unizambeze, Moçambique)
Olga Maria Castrillon-Mendes (Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil)
Rolf Kemmler (UTAD, Vila Real)
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Simone Caputo Gomes (Universidade de São Paulo, Brasil)
Solange Fiuza (Universidade Federal de Goiás, Brasil)
Sónia Catarina Gomes Coelho (UTAD, Vila Real)
Tania Celestino Macêdo (USP, Brasil)
Tania Martuscelli (University of Colorado Boulder, EUA)
Vera Maquêa (Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil)
Xavier Frias Conde (UNED, Espanha)
e os membros da comissão organizadora.
Coordenação do apoio e secretariado
Inês Costa
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programa
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Quarta-feira, 23 de maio de 2018
08h15 – Receção dos participantes e entrega de documentação
09h00 – Sessão de abertura (Auditório Aldónio Gomes)
-Paulo Jorge Ferreira, Reitor da Universidade de Aveiro
-João Manuel Nunes Torrão, Diretor do Departamento de Línguas e Culturas
-Maria Teresa Cortez, Coordenadora do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas
-Carlos Morais, Membro da Comissão Organizadora
09h15 – Momento musical, por Vítor Castro e Peng Yujing (Anésia)
-Verdes anos (Carlos Paredes)
-Cantar de Emigração (Adriano Correia de Oliveira; poema de Rosalía de Castro e música de
José Niza)
-Fico assim sem você (Adriana Calcanhoto; compositores: Agnaldo Batista de Figueiredo /
Marcos Cabral Neves / Samille Figueiredo Ferreira de Souza)
-Sôdade (Cesária Évora; compositores: Amândio Cabral / Luís Morais)
09h30 – Conferência inaugural (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: António Manuel Ferreira
-Kathrin Sartingen (Universität Wien, Áustria), Pelos mares do filme lusófono: navegando,
naufragando, narrando
10h00 – Sessão plenária (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Rosa Lídia Coimbra
-Fernando Venâncio (Universiteit van Amsterdam, Holanda), Luís de Camões e Luís Fróis: o
Oriente como renovador da língua portuguesa
-Benjamin Abdala Júnior (Universidade de São Paulo, Brasil/ CNPq/Projeto Pensando
Goa), Liberdade e censura nos periódicos dos tempos coloniais, a partir de O signo da ira (Orlando da
Costa) e de Luuanda (Luandino Vieira)
11h00 – Momento literário, com Edgar Correia
“Foi o mar que os trouxe”, António Trabulo, Ofício de contar (vencedor do III Prémio
Literário Aldónio Gomes, em 2014)
11h05 – Intervalo
11h30 – 13h00 – Sessões simultâneas A
MESA 1 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: David Gibson Frier
-Ana Paula Arnaut (Universidade de Coimbra), Vi o livro, li o filme: Ensaio sobre a Cegueira
-António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro), Doença e maldição: A febre das almas
sensíveis, de Isabel Rio Novo
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-Maria José Carneiro Dias (ILCML – FLUP), Maria Velho da Costa – um mistério glososo
-Inês Costa (Universidade de Aveiro), Granta África: uma leitura pós-colonial
MESA 2 (sala 2.5.9)
Moderação: Martin Neumann
-Carlos Rodrigues, Ana Grifo & Emanuel Leite Jr (GOVCOPP, Universidade de
Aveiro), Panorama da investigação em Políticas Públicas na CPLP
-Cláudia Martins (Instituto Politécnico de Bragança & CLLC-UA), Roteiros museológicos – a
voz da acessibilidade nos museus portugueses
-Djair Rodrigues de Souza (Bibliotecário – Biblioteca Central, Coordenador do Núcleo de
Ação Cultura do Sistema integrado de Bibliotecas SIB-UFES Universidade Federal do
Espírito Santo – UFES), O papel da Biblioteca frente à queda de público leitor
-Maria Erotildes Moreira e Silva (PPGL, Universidade Federal do Ceará, Brasil), Interfaces
entre ações oficiais e concepções de professores de PLE acerca da internacionalização do português
MESA 3 (sala 2.5.8)
Moderação: Sara Augusto
-Abdelilah Suisse (DLC/CLLC, Universidade de Aveiro), O léxico de origem árabe na língua
portuguesa: análise morfológica e semântica
-Aline Bazenga (Universidade da Madeira) & Lorena Rodrigues (Universidade Federal do
Ceará), Usos não-padrão do clítico lhe em variedades do português
-Edyta Jabłonka (Universidade Maria Curie – Skłodowska, Lublin, Polónia), O omnipresente
inglês – moda ou necessidade?
-Renata Junqueira de Souza (UNESP), Daniela Maria Segabinazi (UFPB) & Jhennefer
Alves Macêdo (UFPB), Ensino de literatura e letramento literário: as estratégias metacognitivas de
leitura e a formação de leitores
14h45 – 16h15 – Sessões simultâneas B
MESA 4 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Andrés Pociña López
-Lurdes de Castro Moutinho & Rosa Lídia Coimbra (CLLC, Universidade de
Aveiro), Sociolinguística urbana. Um estudo de caso na cidade do Porto
-Isabel Falé (Universidade Aberta, Lisboa), Pelas ondas sonoras do português europeu: variação
entoacional na produção de frases imperativas
-Isabel Roboredo Seara (Universidade Aberta, Lisboa), O paradoxo do género ‘comentário digital’:
da exaltação à violência verbal
-Angelina Paulino Comé (Universidade Pedagógica, Moçambique), Desvios gramaticais dos
alunos moçambicanos em Língua Portuguesa: Norma(s) de língua em uso e estratégias de ensino
MESA 5 (sala 2.5.9)
Moderação: Inês Cardoso
-Andréia de Fátima Rutiquewiski Gomes (UTFPR) & Audria Leal (CLUNL /FCT), Brasil e
Portugal: diálogo sobre o ensino da gramática
-Cláudia Martins, Nazaré Cardoso & Cecília Falcão (ESSE, Instituto Politécnico de
Bragança), Os cinco sentidos no diálogo idiomático do Português Europeu com Línguas Estrangeiras
-Marcela Moura Torres Paim (Universidade Federal da Bahia-Brasil), A variação lexical do
português revelada no Atlas Linguístico do Brasil
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-Marcela Moura Torres Paim (Universidade Federal da Bahia-Brasil) & Josane Moreira de
Oliveira (Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil), Fraseologia e variação: recortes do
português brasileiro
MESA 6 (sala 2.5.8)
Moderação: Inês Costa
-Elisabeth Batista (Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil), “Sem o direito
fundamental de voltar para casa”: Maria Archer – uma autora portuguesa no exílio
-Sara Manuela Ribeiro Augusto (Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa,
Instituto Politécnico de Macau), Poesia de viagem a Oriente
-Rejane Queiroz (Saint Louis University, Madrid Campus, Espanha), O ensino da literatura
nas aulas de PLE
16h15 – Intervalo
17h00 – Momento literário, com Bruno Esteves (Biblioteca da Universidade de Aveiro)
“Uma biblioteca”, Ana Damião da Cunha, Descontrolo (vencedor do V Prémio Literário
Aldónio Gomes, em 2016)
17h05 – Sessão plenária (Biblioteca da Universidade de Aveiro)
Moderação: Carlos Morais
-David Gibson Frier (University of Leeds, UK), A África Portuguesa em dois textos literários do
século XIX (Camilo e Eça)
-Andrés Pociña (Universidad de Granada, Espanha) & Aurora López (Universidad de
Granada, Espanha), Viagens reais e imaginárias de Rosalía de Castro por terras e mares de Portugal
18h10 – Momento literário, com Maria Clara de Noronha (Biblioteca da Universidade de
Aveiro)
“Fala de Públia”, de Armando Nascimento Rosa, Duas Peças com História(s): O livro de Simão
de Sagres, seguido de Duas Mulheres e um Teatro (vencedor do I Prémio Literário Aldónio
Gomes, em 2012)
18h15 – Apresentação de livro (Biblioteca da Universidade de Aveiro)
Apresentação, por Carlos Morais, do livro Rosalía de Castro: Documentación biográfica y
bibliografia crítica (1991-2000), de Aurora López & Andrés Pociña
18h30 – Inauguração de exposição (Biblioteca da Universidade de Aveiro)
Inauguração da Exposição “Camilo Castelo Branco e Rosalía de Castro”
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Quinta-feira, 24 de maio de 2018
09h00 – Sessão plenária (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Maria Fernanda Brasete
-Flavia Maria Corradin (Universidade de São Paulo, Brasil), O eterno mito inesiano redivivo no
além-mar
-Francisco Maciel Silveira (Universidade de São Paulo), Mar transcontinental: a paixão abissal de
Pedro e Inês segundo a visão ciclópica do divã de Freud
10h00 – Apresentação de livros (Auditório Aldónio Gomes)
-Apresentação das duas últimas obras do escritor brasileiro Eduardo Mahon: O homem
binário e outras memórias da senhora Bertha Kowalski e Alegria
-Apresentação do livro Pelos mares da língua portuguesa 3, por Maria Fernanda Brasete
10h30 – Momento literário, com Bruna Alves (Auditório Aldónio Gomes)
“A bofetada”, de Paula Teixeira de Queiroz, A Bruxa de Grade (vencedor do II Prémio
Literário Aldónio Gomes, em 2013)
10h35 – Intervalo e sessão de pósteres
-Ana Alexandra Costa Rodrigues Silva, Ana Paula Oliveira Loureiro & Isabel Maria de
Almeida Santos (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Construção da
concordância nominal em produções orais de aprendentes de PL2
-Ana Isabel Paulos Rodrigues & Ana Paula de Oliveira Loureiro (CELGA-ILTEC,
Universidade de Coimbra), Colocação de clíticos em Português LE por aprendentes de LM Espanhola
– casos de subida de clítico
-Carlos Morais, Rosa Lídia Coimbra, Mai Ran & Wang Suoying (DLC/CLLC,
Universidade de Aveiro), Chineses aprendem português e portugueses aprendem chinês: representações,
expectativas e estereótipos
11h05 – 12h15 – Sessões simultâneas C
MESA 7 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Fernando Venâncio
-José Teixeira (Universidade do Minho), Decálogo de clichês mais ou menos enganadores sobre os
mares da língua portuguesa
-Xavier Frias Conde (UNED, Espanha), Galego e Lusofonia: uma questão de padrões e de normas
-Andrés J. Pociña López (Universidad de Extremadura, Espanha), Fontes do léxico do crioulo
cabo-verdiano
MESA 8 (sala 2.5.9)
Moderação: Benjamim Abdala Jr.
-Olga Maria Castrillon-Mendes (Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil), Aspectos
do romance contemporâneo em Mato Grosso
-Simião Alberto Muhate (Universidade Pedagógica – Maputo), Abordagem mitocrítica dos
répteis prenunciadores da morte no grupo etno-linguístico dos Varhonga
14
-Luciene Lages Silva (Universidade Federal de Sergipe/UFS/Brasil), Memória, ficção e história
na configuração das terras brasílicas por Luiz dos Santos Vilhena
MESA 9 (sala 2.5.8)
Moderação: Martins Mapera
-Irene Mendes (Universidade Politécnica, Moçambique), O léxico em textos jornalísticos: da
morfologia à semântica
-Matilde Gonçalves & Rute Rosa (CLUNL e FCT), O suporte digital na leitura e compreensão
textual
-Jerónimo Simão (DEP, Universidade de Aveiro / Universidade Pedagógica, Maputo),
Hildizina Norberto Dias (Universidade Pedagógica, Maputo) & Luísa Álvares Pereira
(DEP/CIDTFF, Universidade de Aveiro), Competências de leitura e escrita em alunos do 1.º ciclo
do Ensino Básico em Moçambique
14h15 – 15h45 – Sessões simultâneas D
MESA 10 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Isabel Falé
-Sónia Coelho & Susana Fontes (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Do silêncio
à palavra: a mulher e a língua na tradição portuguesa
-Bianca do Rocio Vogler (Universidade de Coimbra/CAPES), Afonso da Maia: uma
personagem de tragédia grega no romance de Eça de Queirós
-Catarina Santos (Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira de Gouveia), Jorge Costa Lopes
(ILCML / FLUP) & Paula Cristina Isidoro (Universidade de Salamanca), Vergílio Ferreira:
Da minha língua vê-se a montanha
-Danuza Américo Felipe de Lima (Universidade de Coimbra/ Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Avaré) & José Luís Pires Laranjeira
(Universidade de Coimbra), A crioulidade na obra de José Eduardo Agualusa.
MESA 11 (sala 2.5.9)
Moderação: Ana Martins
-Luís Filipe Barbeiro (Instituto Politécnico de Leiria), Aprender Língua Portuguesa: Do mar de
possibilidades aos rochedos de incorreções
-Conceição de Maria de Araújo Ramos & José de Ribamar Mendes Bezerra (UFMA,
Universidade Federal do Maranhão, Brasil), Fraseologismos na língua oral: um estudo com base
no corpus do Atlas Linguístico do Brasil concernente ao campo semântico convívio e comportamento
social
-Vanessa Yida (UEL/CAPES) & Vanderci de Andrade Aguilera (UEL/CNPq), O pão nosso
de cada dia: variantes para pão francês no corpus do projeto ALIB
-Marana de Almeida Moreira Ribeiro (Universidade Federal da Bahia) & Marcela Moura
Torres Paim (Universidade Federal da Bahia), Como se dá a distribuição diatópica da palatalização
de /t, d/ antes de /i/ no interior da Bahia?
MESA 12 (sala 2.5.8)
Moderação: José Teixeira
-Maria Helena Ançã (DEP, Universidade de Aveiro), Investigação em Português Língua Não
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Materna: o caso do Laboratório de Investigação em Educação em Português
-Luís Gonçalves (Princeton University / AOTP – American Organization of Teachers of
Portuguese), “Scaffolding” ou andaimes na construção de atividades cognitivas para a aula de português
como língua estrangeira
-Maria João Marçalo (Universidade de Évora) & Cecília Santanchè (Università degli Studi di
Chieti, Pescara), A criação do contexto para o ensino do PLNM
-Isabel Sebastião (Centro de Linguística da Universidade do Porto), Manuais de português
língua estrangeira: um posicionamento ideológico?
15h45 – Intervalo
16h15 – 17h45 – Sessões simultâneas E
MESA 13 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Luís Filipe Barbeiro
-Inês Cardoso (Camões, Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I. P.), York
University, Canadá; CIDTFF), Maria João Dodman (York University, Canadá) & Luciana
Graça (Camões, I. P., University of Toronto, Canadá), Estudos lusófonos no ensino superior
canadiano: percursos e estratégias de duas universidades no Ontário
-Filipa Filipe (Universidade Nova de Lisboa), Pelos mares da América: Uma aprendizagem
contextualizada da Língua Portuguesa nos Estados Unidos da América
-Arturo Ramírez Hernández (Escuela Nacional de Lenguas, Lingüística y Traducción,
Universidad Nacional Autónoma de México), Diálogo intercultural: aprender português no México
-Vanderléia da Silva Oliveira (Universidade Estadual do Norte do ParanáUENP/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), O lugar da educação literária no
ensino de língua portuguesa: práticas de leitura
MESA 14 (sala 2.5.9)
Moderação: Isabel Roboredo Seara
-Helena Maria da Silva Santana (Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de
Aveiro) & Maria do Rosário da Silva Santana (Escola Superior de Educação, Comunicação
e Desporto do Instituto Politécnico), O sonho e a Arte reditos na magia de uma obra – As
Feiticeiras, de António Chagas Rosa e Maria Teresa Horta
-Hilarino Carlos Rodrigues da Luz (CHAM, FCSH-UNL/UAC), O mar na poesia de Ruy
Duarte de Carvalho, Jorge Barbosa e na obra Os Pescadores, de Raul Brandão
-Jorge Vicente Valentim (UFSCar / FAPESP, Brasil), “Corpo no outro corpo é o nome do amor”:
homoerotismo e resistência na narrativa portuguesa contemporânea
-Maísa Medeiros Pacheco de Andrade (Universidade de Coimbra), A guerra, o trauma e o
testemunho em A Costa dos murmúrios, de Lídia Jorge
MESA 15 (sala 2.5.8)
Moderação: Olga Maria Castrillon-Mendes
-Maria José Coracini (Unicamp, Universidade Estadual de Campinas), Linguagem-trauma e
resistência: o caso de moradoras de rua no século XXI
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-João Nuno Corrêa-Cardoso (Universidade de Coimbra), Atitudes linguísticas de estudantes
universitários timorenses perante a norma do português europeu
-Ana Rita Gorgulho (CIDTFF, Universidade de Aveiro), Nilza Costa (CIDTFF,
Universidade de Aveiro), Madalena Teixeira (ESE Instituto Politécnico de Santarém /
CEAUL, Universidade de Lisboa), Leonor Santos (ESE do Instituto Politécnico de
Santarém / CIDTFF, Universidade de Aveiro / Instituto Marquês de Valle Flôr), A Língua
Portuguesa em São Tomé e Príncipe – O início de uma rede
-Vanessa Gomes Teixeira & Rogélio Ponce de León Romeo (Universidade do
Porto), Reflexões sobre a educação de surdos no Brasil no século XX
MESA 16 (sala 2.5.7)
Moderação: Flavia Maria Corradin
-Sérgio de Carvalho Rodrigues (Universidade de Évora), A identidade cultural na poesia de
Agostinho Neto: “O Içar da Bandeira” e “A voz Igual”
-Rosana Baptista dos Santos (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
MG-Brasil), O fantástico em Mário de Carvalho e Murilo Rubião
-Sara Grünhagen (Doutoranda em Literatura Portuguesa pela Université Sorbonne
Nouvelle em cotutela com a Universidade de Coimbra), Falar a língua dos homens e dos anjos:
intertextualidade e metalepse em O Evangelho segundo Jesus Cristo
-Danuza Américo Felipe de Lima (Universidade de Coimbra/ Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Avaré), A Crónica 1344 e seu construtor de
passados: visitação à produção de Dom Pedro de Barcelos
Programa Social
18h15 – Partida de autocarro para Sangalhos
19h00 – Visita ao Aliança Underground Museum
20h00 – Jantar do Congresso – Caves Aliança/Bacalhôa
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Sexta-feira, 25 de maio de 2018 (Dia de África)
09h00 – Sessão plenária (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Rosa Lídia Coimbra
-Tania Celestino Macêdo (USP-Brasil), Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Império
Colonial: o silêncio azul
-Martin Neumann (Institut für Romanistik, Universität Hamburg, Alemanha), O papel das
“pequenas” literaturas lusófonas de África (Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe) no
universo das literaturas de língua portuguesa
10h00 – Momento literário, com Sónia Gonçalves e Nuno Monteiro (Auditório Aldónio
Gomes)
-“Diálogo dramático entre o Actor e a Actriz”, de Manuel Córrego, O Inquisidor
Geral (vencedor do VI Prémio Literário Aldónio Gomes, em 2017)
10h05 – Apresentação de Projeto (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Carlos Morais
-Marisa Mendonça (Diretora Executiva do IILP, Moçambique) & Fernanda Cavacas
(Ensaísta), Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Atualização e
divulgação através de uma plataforma digital
10h30 – Apresentação de livros (Auditório Aldónio Gomes)
-Apresentação, por Carlos Morais, do livro de A. Roma Torres, Escura Primavera
-Apresentação, por António Manuel Ferreira, do livro de Jorge Vicente Valentim, Corpo no
outro corpo: homoerotismo na narrativa portuguesa contemporânea
11h00 – Intervalo
11h30 – 13h00 – Sessões simultâneas F
MESA 17 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Tania Martuscelli
-Agnaldo Rodrigues da Silva (UNEMAT, AML, Brasil), A reconciliação com a memória e a
identidade: A árvore dos antepassados (Licínio Azevedo, Moçambique) e O grande circo
autêntico (José Mena Abrantes, Angola)
-Francisco Topa (Universidade do Porto), “Galinha à cafreal”: José Craveirinha meio século depois
-Maria do Carmo Mendes (Universidade do Minho), “O oceano parece um grande lago”: o mar e a
diáspora cabo-verdiana
-Edvaldo Aparecido Bergamo (UnB, Universidade de Brasília), O romance histórico Lueji, de
Pepetela: o mito, a memória e a nação (a mulher angolana, ontem e hoje)
18
MESA 18 (sala 2.5.9)
Moderação: Xavier Frias Conde
-Matteo Migliorelli (Dipartimento di Filologia, Letteratura e Linguistica, Universidade de
Pisa), A aprendizagem do português por estudantes italófonos: o papel do transfer linguístico
-Giselle Menezes Mendes Cintado (Universidade Pablo de Olavide, Sevilha, Espanha), Uma
interação sociolinguística através da gramática comunicativa com universitários em aulas de PLE – alguns
casos de estudo no sul da Andaluzia
-Julio Reis Jatobá (Universidade de Macau), Uma China de distância: a cultura dos PLP em
materiais didáticos para o Ensino de PLE na China
-Eliete Sampaio Farneda (CET- Academic Programs – São Paulo, Brasil) & Marina Nédio
(Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), A abordagem comunicativa através de gêneros
textuais no processo de ensino de Português Língua Estrangeira
MESA 19 (sala 2.5.8)
Moderação: Fernanda Cavacas
-Adrianna Machado Meneguelli (UALG/ IFES, Universidade do Algarve), O roteiro poéticovisual de Murilo Mendes
-Alberto Sismondini (Universidade de Coimbra), Manifestações da alteridade nos Contos
Completos, de Alberto Mussa
-Alice Atsuko Matsuda (UTFPR-Campus Curitiba/ PPDE-CAPES / Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra), Literatura infantil digital no sistema de ensino português
-Jossemar de Matos Theisen (Universidade do Minho) & Cleide Inês Wittke (UFPel,
Universidade Federal de Pelotas), Estudos dos letramentos: letramento digital e leitura online na
universidade
MESA 20 (sala 2.5.7)
Moderação: Elisabeth Batista
-Cleide Inês Wittke (UFPel, Universidade Federal de Pelotas, Brasil) & Jossemar de Matos
Theisen (Universidade do Minho), Didática da escrita nas aulas de português
-Maria João Macário (LEIP/CIDTFF/Universidade de Aveiro), Cristina Manuela Sá
(LEIP/CIDTFF/ Universidade de Aveiro) & Cristina Vieira da Silva (Escola Superior de
Educação de Paula Frassinetti), Relações entre o Português europeu e as suas variedades
internacionais: um estudo com futuros profissionais da Educação
-Juvêncio Sidumo (Doutorando em Estágio na UA / Pós-Graduação da Universidade
Pedagógica de Maputo), Martins Mapera (supervisor na Universidade Pedagógica de
Maputo) & Ana Margarida Ramos (supervisora do Estágio na Universidade de
Aveiro), Estratégias de intervenção intercultural no ensino da Língua Portuguesa em Moçambique
-Tomásia Alícia Mataruca Nhazilo (Universidade Pedagógica), Representações sociolinguísticas do
Português na sua aprendizagem como L2
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14h45 – 16h30 – Sessões simultâneas G
MESA 21 (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: Francisco Maciel
-Ana Isabel Correia Martins (FCT / CECH, Universidade de Coimbra), As vozes camaleónicas
de Agualusa: intercorrências transficcionais e intertextuais
-Eliane Santana Dias Debus (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil), Para além de
três continentes: a literatura para infância do escritor moçambicano Pedro Pereira Lopes
-Emanuel Madalena (Universidade de Aveiro), Fazer no silêncio catedral: a leitura e a escrita
em Jesusalém, de Mia Couto
-Dina Maria Silva Baptista & Sónia Catarina Lopes Estrela (ESTGA- Universidade de
Aveiro), Os desafios da comunicação digital nas PME
MESA 22 (sala 2.5.9)
Moderação: Francisco Topa
-Isabelle Simões Marques (Universidade Aberta, CLUNL & CLLC), Navegando pelas línguas:
interculturalidade e plurilinguismo literário
-Marcelo Ferraz de Paula (UFG/UPorto), Da guerra ao exílio, do exílio à memória: história e
testemunho em Manuel Alegre
-Angelina Paulino Comé, Josefina Marília Rodrigues Caetano Ferrete & Tomásia Alícia
Mataruca Nhazilo (Universidade Pedagógica, MOZ), O desenvolvimento da intercompreensão nas
escolas moçambicanas: Uma reflexão sobre a comunicação intercultural e multilingue
-Cristina Vieira da Silva (Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti – CIPAF;
CIEC-UM) & Cláudia Andrade (Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti –
CIPAF), Os recursos digitais ao serviço do ensino e aprendizagem da gramática
MESA 23 (sala 2.5.8)
Moderação: Tania Macedo
-Delfim Correia da Silva (CLP-Camões, I.P. / Universidade de Goa, Índia), Viagem da
Língua Portuguesa pelo mar “susegad” de Goa: Uma breve perspetiva histórica e sincrónica do estado dos
Estudos Portugueses
-Manuella Bezerra de Melo & Maria do Carmo Pinheiro Silva Cardoso Mendes
(Universidade do Minho), Breviário do Brasil, de Agustina-Bessa-Luís: um contributo para a
manutenção do olhar colonizador e eurocêntrico no espaço lusófono
-Inês Conde & Susana Nunes (ESECS, Instituto Politécnico de Leiria; CELGAILTEC), Pelos mares do Oriente: visões da língua portuguesa na imprensa macaense
-Martins Mapera (Unizambeze, Moçambique), Rir junto é um abraço pelos mares da Língua
Portuguesa
MESA 24 (sala 2.5.7)
Moderação: Agnaldo Rodrigues
-Ângelo Ferreira (UA), A timoridade pela língua portuguesa: o caso do Externato de São José durante
a ocupação indonésia
-Josenilde Cidreira Vieira (FLUP / IFMA, Instituto Federal de Educação Tecnológica do
Maranhão) & Maria Alexandra de Araújo Guedes Pinto (FLUP, Faculdade de Letras da
Universidade do Porto), Discurso político em língua portuguesa na era digital: Processos linguísticos de
construção do ethos do governador do Maranhão, Flávio Dino (BR), nos media sociais Facebook e Twitter
20
-Sílvia Ribeiro (ESTGA, UA & CLLC, UA), Se decausativo em PB e PE – entre a perda e a
manutenção
-Wenjun Gu (Universidade de Estudos Internacionais de Xangai / Universidade Nova de
Lisboa) & Ana Madeira (Universidade Nova de Lisboa), Pronomes clíticos na aprendizagem da
língua portuguesa como LE: um estudo empírico sobre a sua produção por falantes de chinês
16h30 – Intervalo
17h00 – Momento literário, com Cláudia Mateus (Auditório Aldónio Gomes)
“Escreve-se o instante”, de Rui Miguel Fragas, O Rumor das Máquinas (vencedor do IV
Prémio Literário Aldónio Gomes, em 2015)
17h00 – Conferência de encerramento (Auditório Aldónio Gomes)
Moderação: António Manuel Ferreira
-Tania Martuscelli (University of Colorado Boulder, EUA): Brasil e Portugal na Literatura:
hibridismo e hospitalidade
18h30 – Programa Social (Museu da Cidade de Aveiro)
Inauguração da Exposição “Malangatana à la minuta”
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resumos
comunicações orais
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Abdelilah Suisse
DLC/CLLC, Universidade de Aveiro
O léxico de origem árabe na língua portuguesa:
análise morfológica e semântica
Palavras-chave: Léxico, língua portuguesa, cultura, arabismos.
A cultura luso-árabe foi desenvolvida pelos muçulmanos na região do Gharb AlAndalus, entre o início do século VIII e XII, precisamente em Sevilha, Badajoz, Lisboa,
Sintra, Almada, Évora, Santarém, Mértola, Alcácer do Sal. Essa cultura foi extremamente
rica, abarcando domínios dispares como a língua, a literatura, a arquitetura, a construção
naval, a matemática, a medicina, a teologia, a filologia e a filosofia.
Com efeito, esta comunicação tem como objetivo analisar, numa perspetiva
histórica, linguística e cultural, os arabismos na língua portuguesa, referindo aos domínios
semânticos onde se integram estas palavras de origem árabe. Além disso, explicamos as
características morfológicas e semânticas dos arabismos, a sua evolução, destacando aqueles
arabismos, que ainda estão em uso na língua portuguesa
Nota curricular: Abdelilah Suisse é Licenciado em Língua e Literatura Espanholas (1993) pela Universidade de Sidi
Mohamed Ben Abdellah de Fez, em Marrocos e Mestre em Literatura Comparada pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa (2000). Concluiu com aproveitamento, em 1999, o Curso de Especialização “Diploma
Universitário de Formação de Professores de Português Língua Estrangeira” na Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Obteve o grau de Doutor em Educação – Ramo Didática e Desenvolvimento Curricular pela Universidade de
Aveiro (2016) na qual é leitor, desde 2003. Abdelilah Suisse faz parte do Conselho do Departamento Línguas e Culturas.
Como investigador, é membro integrado do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas e responsável pelo projeto Línguas
e Aprendizagens. Colabora com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
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Adrianna Machado Meneguelli
UALG/ IFES, Universidade do Algarve
O roteiro poético-visual de Murilo Mendes
Palavras-chave: Poesia, cinema, cidades portuguesas, tradição, Língua Portuguesa.
Murilo Mendes, poeta modernista brasileiro que residiu por muito tempo em
Portugal, rende homenagem às cidades e paisagens lusitanas através da obra Janelas verdes
(1970), pouco explorada pela crítica e marcada pelo apuro na construção das imagens. São
fragmentos de prosa poética que dialogam abertamente com o cinema, a começar por seu
recurso mais importante, a câmera no olhar a produzir verdadeiras “tomadas”, amparadas
pela técnica da montagem, que sela esse vínculo dialógico entre os dois meios
intersemióticos. No flerte com a tradição, o movimento dessa obra poética identifica-se
com o movimento sequencial dos fotogramas fílmicos, ao passo que rende homenagem à
língua portuguesa, que emoldura cada traçado desse roteiro afetivo.
Nota curricular: Adrianna Machado possui mestrado em Estudos Literários (Ufes) e doutorado em Literatura
Comparada (Ufmg). É coordenadora do Curso de Letras Português do Ifes campus Venda Nova do Imigrante, ES/ Brasil,
e atualmente realiza estágio de pós-doutoramento no Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC), da UAlg,
sob a supervisão de Ana Isabel Candeias Dias Soares.
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Agnaldo Rodrigues da Silva
UNEMAT/ AML, Brasil
A reconciliação com a memória e a identidade - A árvore dos antepassados (Licínio
Azevedo/Moçambique) e O grande circo autêntico (José Mena Abrantes/Angola)
Palavras-chave: Memória e identidade, teatro e cinema africanos, José Mena Abrantes e
Licínio Azevedo.
O Grande Circo Autêntico (1978) e A Árvore dos Antepassados (1994) são duas
produções que articulam aspectos políticos e culturais, inerentes ao processo de
colonização e descolonização de países do Continente Africano, particularmente Angola,
Moçambique e República Democrática do Congo. A peça de Abrantes discute o processo
neocolonial, articulado ao momento histórico da pós-colonização, quando se buscavam a
afirmação da memória e identidade de nações recém-independentes; o filme de Azevedo,
do mesmo modo, propõe uma viagem de retorno às origens, cujo destino é a reconciliação
com os antepassados, a partir da reinterpretação do cotidiano de refugiados moçambicanos,
após 15 anos de guerra civil. Na perspectiva política da arte, Abrantes e Azevedo atingem a
dimensão de registro de situações calamitosas, que diante dos contextos vividos, somente
os campos da criação literária e artística poderiam representar. Nessa direção, pode-se
afirmar que tanto o teatro quanto o cinema discutem a sociedade sob o ponto de vista
ideológico, tomando como referencial o mundo em crise, identificando e construindo
olhares sobre os aspectos que abalam as estruturas políticas, econômicas e existenciais das
sociedades e do homem. Produções artísticas de matrizes políticas, o teatro de Abrantes e o
cinema de Licínio apresentam o lugar do discurso africano, diante da reinscrição do sujeito
no contexto da pós-colonização, pois dessas perspectivas emergem o testemunho de países
do Terceiro Mundo e o discurso das minorias que, na concepção de Bhabha (O local da
cultura, 2013), subvertem a normalidade hegemônica imposta pelo centro (Europa), diante
de histórias diferenciadas de nações, raças, comunidades e povos.
Nota curricular: Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Mestre e doutor pela Universidade
de São Paulo (USP), Pós-doutorado pelo Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Membro da Academia Mato-Grossense de Letras, ocupando a cadeira n. 10, com pesquisas em estudos literários e
teatrais, além de destacar-se na escrita de ficção, com diversos livros de contos publicados. Principais obras: Mito e História
no Teatro Trágico (São Paulo, 2008, crítica), Diálogos Literários – literatura, Comparativismo e ensino (São Paulo, 2010, crítica), Do
teatro grego ao moderno teatro de língua portuguesa (São Paulo, 2015, crítica), Teatro Mato-Grossense: história, crítica e textos (Curitiba,
2010, História e Crítica), Plínio Marcos – o signo de um tempo mau (coautor, São Paulo, 2016), Trajectórias culturais e literárias das
Ilhas do Equador – estudos sobre São Tomé e Príncipe (coorganizador com Inocência Mata, São Paulo, 2018), Mente Insana (São
Paulo, 2010, Contos), Dose de Cicuta (São Paulo, 2010, contos). Atua no Programa de Pós-graduação em Estudos
Literários (nível de Mestrado e Doutorado). Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Literatura, Líder do
Grupo de Pesquisa em Estudos da Cultura e da Literatura Comparada.
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Alberto Sismondini
Universidade de Coimbra
Manifestações da alteridade
nos Contos completos de Alberto Mussa
Palavras-chave: Alberto Mussa, Contos Completos, Literatura Brasileira, alteridade,
imagiologia, Rio de Janeiro.
A literatura brasileira contemporânea tem em Alberto Mussa (1961) um escritor
notável. A sua produção literária pode caracterizar-se, em parte, por apresentar uma
história do Rio de Janeiro elaborada em moldes de conto fantástico ou policial,
frequentemente sob a lupa da irrealidade e do humorismo.
A antologia Os contos completos (2016) é uma singular recolha de narrações breves,
uma espécie de súmula, com escolha do próprio autor, dos trabalhos compostos nas
últimas décadas. Na nossa apresentação pretendemos observar as dinâmicas, intercorrentes
nos contos do escritor carioca, entre personagens de raças e etnias diferentes, à luz das
posições assumidas pelo autor contra determinados preconceitos patentes em obras
caracterizadoras do património literário brasileiro de Novecentos.
Nota curricular: Doutor em Literaturas comparadas e Tradução Literária pela Universidade de Siena (Itália), é docente
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e membro da Direção do Centro de Línguas da mesma instituição. É
membro integrado do Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra. Publicou os seguintes livros: I Cedri
del Sertão -Scritture della memoria libanese in Brasile (2015) e Arabia brasilica (2017).
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Alice Atsuko Matsuda
UTFPR-Campus Curitiba/ PPDE-CAPES / Faculdade de Letras, Universidade de
Coimbra, Portugal
Literatura infantil digital no sistema de ensino português
Palavras-chave: Literatura digital infantil, ensino de literatura, Plano Nacional de Leitura,
plurimedialidade, interatividade, hipertextualidade.
Considerando a relevância que a literatura digital vai adquirindo no contexto
cultural europeu, propomo-nos analisar o lugar da literatura digital infantil no sistema de
ensino português, nomeadamente, no Plano Nacional de Leitura, uma lista de sugestões
que deverão acompanhar os alunos ao longo da sua frequência do ensino obrigatório. Para
tal, procedemos a um levantamento exaustivo das características de cada uma das obras,
observando não só as categorias comuns do livro infantil – autor, ilustrador, obra original
ou adaptada, prémios, etc. –, mas as que o livro digital lhe acrescenta, nomeadamente a
plurimedialidade e a interatividade (Ryan, 2001, 2009, Simanowski, 2010). Na análise do
corpus, recorrer-se-á à terminologia de Yoo (2007, citada por Kirchof, 2009), distinguindo
literatura digitalizada, editoração colaborativa, literatura hipertextual e literatura
hipermediática. Em função dos dados já recolhidos, parece poder afirmar-se que a oferta de
literatura digital no Plano Nacional de Leitura se reduz a e-books, uma subespécie de
editoração colaborativa, que se apresentam com uma escassíssima, quando não nula,
interação ou hipermedialidade. Assim, apesar de documentos como o Perfil do aluno para
o século XXI se abrirem ao digital na escola, a realidade é diversa e subsume-se no
multimédia. Esta constatação deu origem a alguns projetos de tradução de literatura e de
criação digital infantil que, todavia, têm esbarrado com a resistência das editoras e das
escolas.
Nota curricular: Doutorado em Letras – Estudos Literários pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmente,
desenvolve Estágio Pós-Doutoral na Universidade de Coimbra, integrando o Grupo de Investigação em Materialidades da
Literatura, com apoio da Capes, Programa 227-Pesquisa Pós-doutoral no Exterior, Edital n.º 15/2016. É professor titular
– Adjunto 4 – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Curitiba. Docente permanente do Programa de
Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL). É líder do Grupo de Pesquisa Literatura Infantil e Juvenil: análise
literária e formação do leitor. Participa também como membro do GT Leitura e Literatura Infantil e Juvenil da ANPOLL.
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Aline Bazenga
Universidade da Madeira
Lorena Rodrigues
Universidade Federal do Ceará
Usos não-padrão do clítico lhe em variedades do português
Palavras-chave: Usos não padrão do clítico lhe, variedades do português, lheísmo, variação
acusativo/dativo, variação 2.ª pessoa / 3.ª pessoa, convergência linguística.
Este trabalho tem por foco a descrição dos usos não padrão do clítico lhe em
variedades do português europeu, brasileiro e africano, L1 e L2, a partir de dados coletados
nestas variedades e publicados em teses e outros estudos de referência. Nestas variedades,
observa-se com maior ou menor frequência, o recurso ao clítico dativo lhe como uma
variante de realização do objeto direto anafórico do caso acusativo de terceira pessoa com
traço [+humano]. Conhecido por lheísmo, este uso generalizado poderá ser considerado
como um exemplo de convergência linguística. Na análise proposta, serão também postos
em evidência diferentes padrões de uso, relacionados com fatores sociais e linguísticos, e
com distribuição lacunar pelas variedades consideradas. Tal diz respeito, por exemplo, ao
uso de lhe de segunda pessoa no caso acusativo em variedades do Português do Brasil, em
contraste com o que ocorre nas variedades europeias, que não apresentam ocorrências
deste tipo. Com este estudo, pretende-se contribuir para a discussão em torno da relação
linguística entre as variedades do português, na qual intervêm duas perspetivas: a que
aponta para um continuum Brasil-Africa e para a proeminência do contacto linguístico na
formação das variedades não europeias do português, por um lado, e, por outro, a hipótese
da deriva linguística, segundo a qual, muitas das características inovadoras destas variedades
correspondem a tendências já presentes no português medieval.
Notas curriculares:
Aline Bazenga - Universidade da Madeira. Professora Auxiliar da Faculdade de Artes e Humanidades. Investigadora do
CLUL e do CIERL-UMa. Doutor em Letras – Linguística Francesa.
Lorena Rodrigues - Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-graduação em Linguística. Centro de Investigação
dm Estudos Regionais e Locais (CIERL-UMa). Doutoranda em Linguística. Bolsista CAPES/PDSE.
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Ana Isabel Correia Martins
FCT / CECH, Universidade de Coimbra
As vozes camaleónicas de Agualusa:
intercorrências transficcionais e intertextuais
Palavras-chave: Colectânea, memória, identidade, realidade, ficcionalidade.
“Não se vai para o Inferno, não se vai para o Paraíso. Vamos é com eles para toda a
parte. Trazemo-los dentro de nós. Há pessoas que expandem o inferno que trazem
dentro de si e outras o Paraíso. Muitas não chegam a desenvolver nenhum dos dois.
Essas são as mais infelizes”. (p.22)
“À escala da eternidade toda a improbabilidade é mais do que certa. Tudo o que não
pode acontecer, acontecerá. (p.25)
O Livro dos Camaleões, de José Eduardo Agualusa, é uma colectânea de contos, já
publicados dispersamente noutros contextos, agora reescritos pelo autor para o presente
volume. Estas vozes literárias são diferentes entre si, tanto no estilo e na abordagem, como
na(s) época(s) e na(s) geografia(s) que convocam. No entanto, todas as personagens
comungam de um mesmo ímpeto: a procura de identidade no trânsito pela descoberta do
seu lugar no mundo e o leitor torna-se um viajante pelos mares de África (Angola, São
Tomé) do Brasil (Rio de Janeiro, Salvador da Baía) e da Europa (Paris). Nas palavras do
escritor, as personagens são, na sua generalidade, "arrancadas à realidade ou inspiradas em
figuras reais", o ditador angolano poderia ser de qualquer outro país uma vez que os
ditadores têm todos o mesmo nome. Por serem falaciosamente anónimas, onomásticamente indefinidas - o Construtor de Castelos, O Menino que vendia amendoins, o Escritor
cego, o Engenheiro de Pontes, o Marinheiro, o Antropólogo, a Sombra – aglutinam
identidades colectivas, numa narrativa próxima da tradição oral e que revela ainda uma
espessura cultural e um comprometimento com a realidade. As intercorrências
transficcionais, em dinâmicas metalépticas variáveis, e as várias intertextualidades
surpreendem o leitor. Quem poderia esperar confrontar-se com Carlos da Maia e João da
Ega a reclamarem dos flamingos, enquanto recordam Edvard Munch?
Realce-se, porém, o topos preferencial e recorrente em toda a colectânea: o desejo,
em todas as manifestações e variações semântico-pragmáticas, e se a sua natureza é pessoal
e intransmissível por que motivo “fazemos de conta” ser quem não somos? Teremos medo
que os outros não gostem da pessoa que realmente somos? Será mais fácil sermos
múltiplos em vez de um só? Vaidade, medo, vontade, verdade, viagem, memória,
identidade, crença(s), mito(logia) são alguns dos temas estruturantes da obra. Em suma,
todos estes camaleões revelam as fragilidades de uma natureza às quais se adaptam como
instinto de sobrevivência, explorando as labilidades e os vazios da realidade para
(res)surgirem sob outras formas e novas aparências.
Nota curricular: Licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa e doutorada em Filologia Latina pela
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Investigadora integrada no Centro de Estudos Clássicos e
Humanísticos e pós-doutoranda da Fundação para a Ciência e Tecnologia, desde 2015. Em 2014, ganhou a fellowship da
International Society for the History of Rhetoric e integra a comissão científica da revista Phaine: Revista de Estudos sobre a
Antiguidade e da Revista Castilla. Estudios de Literatura da Universidade de Valladolid.
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Ana Paula Arnaut
Universidade de Coimbra
Vi o livro, li o filme: Ensaio sobre a Cegueira
Palavras-chave: Fidelidade, violência, cegueira, visão, mulher, solidariedade.
Reconhecendo embora as inevitáveis diferenças entre a linguagem da Literatura e a
do Cinema, a verdade é que o filme Ensaio sobre a Cegueira (estreia 2008, DVD 2009), com
direção de Fernando Meirelles e roteiro de Don McKeller, não mantém apenas o que
Vergílio Ferreira designa como o “espírito do livro”, ou, para o mesmo efeito, não mantém
só a dimensão universal do romance, aqui também conseguida por um elenco principal que
reúne várias raças. De facto, reclamando como legítima a subjetividade que preside à
contemplação de qualquer objeto artístico, acreditamos que a fidelidade do filme ao
romance se instaura, principalmente, pela manutenção das grandes sequências do enredo,
não havendo lugar a deslocamentos assinaláveis, e, em paralelo, pela colagem muito
próxima aos diálogos encenados pelo verbo saramaguiano.
Em todo o caso, talvez seja legítimo dizer que a redução de algumas cenas contribui
para a impressão de que, estranhamente, ou talvez não, o livro seja mais visual, e também
mais violento, do que o filme, assim se confirmando a capacidade de José Saramago para o
redimensionamento pictórico do verbo e assim se permitindo a (con)fusão dos níveis de
imersão que, em regra, são atribuídos ao texto impresso e ao texto visual.
Nota curricular: É doutorada com agregação pela Universidade de Coimbra, onde leciona Literatura Portuguesa
Contemporânea. Publicou Memorial do Convento. História, Ficção e Ideologia (1996), Post-Modernismo no Romance Português
Contemporâneo: Fios de Ariadne-Máscaras de Proteu (2002); Homenagem a Cristóvão de Aguiar: 40 anos de vida literária (org.)
(2005), José Saramago (2008), Entrevistas com António Lobo Antunes. 1979-2007. Confissões do Trapeiro (ed.) (2008), António Lobo
Antunes (2009), António Lobo Antunes: a Crítica na Imprensa. 1980-2010. Cada um Voa como Quer (ed.) (2011). As mulheres na
ficção de António Lobo Antunes. (In)variantes do feminino) (2012), Viagens do Carnaval: no espaço, no tempo, na imaginação (coedição
com Maria Aparecida Ribeiro) (2014), O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago (2017), Identity(ies): a Multicultural and
Multidisciplinary Approach (org.) (2017). Tem também artigos publicados em inúmeras revistas nacionais e internacionais.
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Ana Rita Gorgulho
CIDTFF, Universidade de Aveiro
Nilza Costa
CIDTFF, Universidade de Aveiro
Madalena Teixeira
ESE Instituto Politécnico de Santarém / CEAUL, Universidade de Lisboa
Leonor Santos
ESE do Instituto Politécnico de Santarém / CIDTFF, Universidade de Aveiro / Instituto
Marquês de Valle Flôr, São Tomé, São Tomé e Príncipe
A Língua Portuguesa em São Tomé e Príncipe
– O início de uma rede
Palavras-chave: Língua Portuguesa, produção escrita, formação em serviço, conhecimento
profissional docente, São Tomé e Príncipe, cooperação para o desenvolvimento.
No sentido de melhorar o sistema de ensino e capacitar o seu corpo docente, o
Ministério da Educação de São Tomé e Príncipe (STP) concebeu o Programa Acelerar o
Desempenho Educativo (PADE 2015-2018)1, tendo definido como eixos estratégicos, entre
outros, a melhoria do sistema de avaliação das aprendizagens e do sistema de ensino, assim
como a valorização e profissionalização docente. Neste último eixo, destacamos a medida
de “capacitar e formar docentes dos diversos níveis do ensino” (p.43), por revelar a
consciencialização da importância da formação profissional dos professores, num contexto
que apresenta ainda uma elevada taxa de docentes sem habilitação para a docência.
Portugal é um parceiro estratégico no quadro da cooperação para o
desenvolvimento com STP, país que tem vindo a beneficiar de várias ações na área da
educação. Neste sentido, e no âmbito de uma investigação de doutoramento em curso2,
com foco na construção de conhecimento profissional sobre o processo de avaliação da
aprendizagem da escrita, na formação em serviço de professores de Língua Portuguesa
(LP) do 2.º Ciclo do Ensino Básico (CEB), em São Tomé (ST), com esta comunicação
pretendemos: i) Analisar o Programa Oficial do Ensino Básico de STP, no que respeita à
disciplina de LP; ii) Fazer uma caracterização dos professores de LP do 2.º CEB de ST,
com base nos resultados de questionários; iii) Apresentar o plano de uma oficina de
formação, a partir de necessidades formativas identificadas.
1 Ministério da Educação Cultura e Ciência de São Tomé e Príncipe (s.d.). Programa Acelerar o Desempenho Educativo 20152018. Acesso em: http://mecc.gov.st/index.php/publicacoes/item/736-programa-acelerar-o-desempenho-educativo2015-2018
2 A avaliação do ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa – Para uma Cooperação Internacional para o Desenvolvimento na Formação
de Professores. Esta investigação é financiada por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto FRH/BD/118163/2016.
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Notas curriculares:
Ana Rita Gorgulho é formada em Educação Básica, com mestrado em Ensino do 1.º e do 2.º ciclos do Ensino Básico,
pela Escola Superior de Educação de Santarém. Atualmente encontra-se a fazer doutoramento em Educação, no ramo da
Supervisão e Avaliação, na Universidade de Aveiro, sendo bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Nilza Costa é membro do CIDTFF da Universidade de Aveiro, professora catedrática em Educação, tendo-se
especializado nas áreas da Avaliação e da Formação de Professores. Tem sido responsável pela coordenação de vários
projetos de investigação, nacionais e internacionais, desenvolvidos no âmbito da Avaliação. É orientadora da Ana
Gorgulho.
Madalena Teixeira é professora adjunta com agregação, na Escola Superior de Educação de Santarém. Fez pósdoutoramento na Universidade Federal de Goiás, doutoramento na Universidade de Lisboa, mestrado na Universidade do
Minho. É investigadora na Universidade de Lisboa. Tem-se dedicado ao ensino da Língua Portuguesa e participado em
diversos projetos de âmbito internacional. É coorientadora da Ana Gorgulho.
Leonor Santos é professora adjunta da Escola Superior de Educação de Santarém e colaboradora do CIDTFF (U.
Aveiro). Tem pós-doutoramento em Pedagogia do Ensino Superior e doutoramento de Didática de Línguas, ambos pela
Universidade de Aveiro. Tem-se dedicado sobretudo à formação de professores e participado em projetos nacionais e
internacionais. Está, desde setembro de 2015, ao serviço de projetos da Cooperação Portuguesa de apoio ao ensino
secundário em São Tomé e Príncipe. É coorientadora da Ana Gorgulho.
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Andréia de Fátima Rutiquewiski Gomes
UTFPR, Brasil
Audria Leal
CLUNL/FCT
Brasil e Portugal: diálogo sobre o ensino da gramática
Palavras-chave: Ensino de Português, língua materna, trabalho com a gramática, Portugal,
Brasil, análise crítico-comparativa.
Esta comunicação tem como objetivo realizar uma discussão acerca do ensinoaprendizagem de Português como língua materna no Brasil e em Portugal. Dá-se enfoque
especial à gramática em sala de aula na educação básica. Para isso, expõem-se os
documentos que fundamentam o ensino em ambos os países e, a seguir, aprofundam-se os
princípios teórico-metodológicos que norteiam o trabalho com a gramática. Bases legais
(Brasil, 2018; Brasil, 1998, 2000, 2002, 2006; Buescu et al. 2014) e literatura pertinente
(Antunes, 2003, 2007, 2014; Mendonça, 2006; Marcuschi, 2008; Lopes, 2005; Wachowicz,
2010, Bulea-Bronckart, 2015; entre outros) respaldam as pesquisas documentais e as
bibliográficas. Realiza-se, na sequência, uma análise crítico-comparativa entre as
concepções e os pressupostos nos dois contextos de ensino. Os resultados sugerem
convergências e divergências entre as abordagens discutidas. Contudo, de modo geral,
observa-se no contexto brasileiro um forte apelo ao ensino de uma gramática reflexiva,
desenvolvida de maneira contextualizada e articulada às demais práticas (leitura, escrita e
oralidade) e, no cenário português, uma ênfase a um adequado desenvolvimento da
consciência linguística e metalinguística do sujeito. Por fim, vale destacar que, apesar de
esta pesquisa focalizar fundamentos teóricos e diretrizes governamentais, compreende-se
que a efetivação de uma determinada prática pedagógica depende da transposição dos
conhecimentos teórico-metodológicos por parte dos docentes para a sala de aula.
Notas curriculares:
Andréia de Fátima Rutiquewiski Gomes é Professora de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Doutora em Letras. Desenvolve pesquisas sobre o ensino de português como língua materna.
Audria Leal é investigadora do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. Integra a equipa do Grupo
Gramática & Texto. É doutorada em linguística – Teoria do Texto pela Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da
Universidade NOVA de Lisboa. Tem vindo a publicar trabalhos no domínio da linguística aplicada, multimodalidade,
linguística do texto e do discurso, no qual privilegia o quadro teórico e metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo,
da Semântica Enunciativa e a da Semiótica Social.
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Andrés José Pociña López
Universidad de Extremadura, Espanha
Fontes do léxico do crioulo cabo-verdiano
Palavras-chave: Línguas crioulas, Cabo Verde, lexicologia, etimologia, língua portuguesa,
línguas africanas.
Pretende-se neste estudo pesquisar as fontes principais do léxico do crioulo de
Cabo Verde, com atenção especial (ainda que não exclusiva) à variante da Ilha de Santiago.
É sabido que a fonte fundamental do léxico é o português, mas que português? De facto,
boa parte do vocabulário crioulo de origem portuguesa procede de um português que não é
o de hoje: português dos séculos XV e XVI, ou de dialetos e variantes regionais do
português. Para além disso, há uma incidência, pelo menos no que ao crioulo de Santiago
se refere, das línguas africanas (sobretudo línguas mandingas) como fontes de empréstimos
léxicos. Acresce o facto de existirem diferenças no tratamento dos vocábulos de
procedência portuguesa, dependendo do momento da sua entrada na língua (sobretudo há
divergências importantes entre os vocábulos que penetraram no idioma durante o seu
processo de formação, e aqueles que têm vindo a entrar como empréstimos, cultismos, etc.,
ao longo da história da língua crioula, e sobretudo desde os começos do século XIX até aos
nossos dias). Para além disso, o idioma cabo-verdiano é fértil em criatividade léxica,
usando de estratagemas para ampliação vocabular dignas de serem recenseadas.
Nota curricular: É Professor Titular de Universidade no Departamento de Línguas Modernas e Literaturas Comparadas
da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Extremadura (Espanha), Área de Filologia Galega e Portuguesa.
Habilitações Literárias: Doutor em Filologia Românica pela Universidade de Granada (11 de novembro de 1997), após a
defesa da Tese de Licenciatura subordinada ao tema La Cultura Espiritual en la Obra de Gil Vicente. Algumas publicações:
Sóror Violante do Céu (1607-1693), Madrid, Ediciones Clásicas, 1998; Coordenação, com a Doutora María Jesús Fernández
García, do volume Gil Vicente: Clásico Luso-Español, Mérida, Junta de Extremadura, 2004; Gil Vicente y las Naves de los Locos,
Salamanca, Luso-Española de Ediciones, 2006; “A papiaçam de Macau: História e caracterização sociolinguística de um
crioulo oriental de base portuguesa”, in Maria Iliescu, Heidi Siller-Runggaldier, Paul Danler (éds.), Actes du XXVe Congrès
International de Linguistique et de Philologie Romanes (Innsbruck, 3-8 septembre 2007), Berlin/ New York, De Gruyter Verlag,
2010, tome VII, pp. 343-358; Clásicos Lusitanos. Estudios sobre la influencia de la Antigüedad Clásica en la Literatura Portuguesa,
Salamanca, Luso-Española de Ediciones, 2013; “Subsídios para um estudo sobre a normativa gramatical das línguas
crioulas de base portuguesa, na sua relação com a identidade cultural crioula”, in Carlos Morais e Rosa Lídia Coimbra
(org.), Pelos mares da Língua Portuguesa, Aveiro, Universidade de Aveiro, 2013, pp. 73-81.
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Andrés Pociña
Aurora López
Universidad de Granada, Espanha
Viagens reais e imaginárias de Rosalía de Castro
por terras e mares de Portugal
Palabras clave: Portugal en Rosalía, Rosalía en Portugal.
Rosalía nunca estuvo en Portugal, pero llevaba a Portugal en su corazón, como lo
llevamos siempre las gallegas y los gallegos. El último poema en gallego de la escritora,
"Dend' as fartas orelas do Mondego", se publica en Lisboa a finales de 1884, en el
Almanach das senhoras para 1885, dirigido por doña Guiomar Torrezão. Poemas suyos
son publicados en Portugal cuando todavía vivía por T. Braga; Eça de Queirós conocía y
amaba sus versos, y ella conocía la obra de Camilo Castelo Branco.
Después de muerta Rosalía, el viaje real por Portugal es por obra y por boca de
otros: en 1917 en la "Oda a Galiza" de Carlos Soto de Oliveira; en 1923 en el Homenaje a
Rosalía del Instituto Histórico do Minho; en 1925 "A Rosalía de Castro" de Teixeira de
Pascoaes; en 1954 la Cámara Municipal de Porto celebra un Homenagem a Rosalía,
inaugurándose una escultura suya en la Praça de Galiza, obra del escultor Barata Feyo, etc.
Por los mares de Portugal hubiera deseado Rosalía ir al Brasil, donde tampoco fue:
uno de sus "Cantares gallegos" más bonitos glosa la copla popular gallega: "Si o mar tivera
barandas / fórate ver ao Brasil; / mais o mar non ten barandas, / amor meu, ¿por dónde
hei de ir?"
Notas curriculares:
Andrés Pociña - Es Catedrático de Filología Latina de la Universidad de Granada, de la que fue Decano de la Facultad de
Filología y Letras y Director del Departamento de FIlología Latina. Responsable del Grupo de Investigación HUM 318
de la Junta de Andalucía. Imparte las enseñanzas de Literatura Latina (Grado) y Teatro grecolatino y su pervivencia en los
teatros modernos (Máster). Investiga fundamentalmente sobre Literatura Latina (diversos géneros); Pervivencia del teatro
clásico; Literatura gallega; Poesía griega del siglo XX.
Aurora López López - Realizó los estudios de Licenciatura en Filosofía y Letras en la Universidad de Salamanca,
licenciándose en abril de 1975 en Filología Clásica. Fue Profesora Ayudante de Filología Latina en el curso 1975-76. Se
doctoró en la misma Universidad, en febrero de 1979, con la tesis Fabularum togatarum fragmenta (Edición crítica). Es
Catedrática de Filología Latina de la Universidad de Granada. Fue elegida por el Claustro universitario (2006) miembro de
la Comisión de Reclamaciones. Por designación del Rector creó en 2008 y dirigió durantre siete años la Unidad de
Igualdad entre Mujeres y Hombres.
Sus líneas preferentes de investigación son: 1. Literatura latina, especialmente los
géneros comedia y tragedia. 2. Investigación sobre la literatura de la mujer y sobre la mujer. 3. Pervivencia y tradición
clásica. 4. Edición de textos clásicos. 5. Estudios, edición crítica, bibliografía crítica de Rosalía de Castro.
37
Angelina Paulino Comé
FCLCA, Universidade Pedagógica, Moçambique
Desvios gramaticais dos alunos Moçambicanos em Língua Portuguesa:
Norma(s) de língua em uso e estratégias de ensino
Palavras-chave: Norma e variação linguística, análise de erro, ensino da gramática, Língua
Segunda.
Em Moçambique, o ensino é veiculado em Língua Portuguesa (LP), língua oficial e
Língua Segunda (L2) para a grande maioria dos alunos, particularmente nas zonas
suburbanas onde quase todos eles são bilingues, praticando um bilinguismo funcional.
Atinente ao contexto indicado, Hyltenstam & Stroud (1997: 86) entendem que “os falantes de
L2 experimentam maiores dificuldades na escola do que os falantes nativos da língua de instrução/oficial”.
Diante desta alocução complexa e controversa, o estudo em curso aborda o tema
em epígrafe, encontrando fundamentação e suporte teórico em vários autores alguns dos
quais aqui listados: Hyltenstam, K. & Stroud, C. (1997), Gonçalves, P. (2001), Lopes, A. J.
(2004), Ançã, Mª H. (1999 e 1995), Flores, C. M. M. (2005), Corder, S. P. (1980), Dias, H.
N. (2005), Perini, M. (2005), Possenti, S. (1996), Travaglia, L. C. (2009), Waal, D. V. D.
(2009).
A partir de uma pesquisa de abordagem qualitativa e quantitativa, a nossa
investigação propõe-se analisar os “erros” ou desvios gramaticais de LP que ocorrem nos
textos produzidos por alunos do 2.º Ciclo do ESG; avaliar as normas de língua em uso e as
estratégias de gestão desses “erros” ou desvios gramaticais privilegiadas pelos professores
na sala de aulas.
Relativamente à norma adoptada para o ensino em Moçambique, a nossa ambição é
primeiro inventariar e classificar os “erros” ou desvios gramaticais em LP, destacando os
mais recorrentes e relevantes nas produções escritas desses alunos e, a partir da aplicação
de um questionário aos professores, verificar, a(s) norma(s) de língua em uso na aula de LP
e as estratégias de ensino privilegiados. No fim, com base no quadro teórico e nas
constatações registadas, fazer uma discussão e avaliação dessas ocorrências em função dos
aspectos implicados para sugerirmos acções de intervenção pedagógica de acordo com os
traços linguísticos e outros, que caracterizam estes alunos.
Nota curricular: Docente de Didáctica de Português; Mestre em Didáctica de Português Língua não Materna;
Doutoranda em Ciências de Linguagem Aplicada ao Ensino de Línguas pela Universidade Pedagógica de Moçambique,
com interesse no estudo da problemática do ensino da gramática da Língua Portuguesa em contexto de L2.
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Angelina Paulino Comé
Josefina Marília Rodrigues Caetano Ferrete
Tomásia Alícia Mataruca Nhazilo
FCLCA, Universidade Pedagógica, Moçambique
O desenvolvimento da intercompreensão nas escolas moçambicanas:
Uma reflexão sobre a comunicação intercultural e multilingue
Palavras-chave: Estratégias didácticas, intercompreensão, interculturalismo,
multilinguismo.
A diversidade linguística e cultural característica de Moçambique constitui uma
riqueza para o país e, simultaneamente, um grande desafio para o Sistema Nacional de
Educação. Se, por um lado, os alunos cuja L1 é uma língua bantu são confrontados com
um ensino veiculado em Língua Portuguesa, sua L2, língua oficial e de ensino, devendo,
por isso, desenvolver estratégias para a compreensão das diferentes disciplinas veiculadas
em Português a partir de transferências da L1 para esta L2; por outro, considerando a
escola e a sala de aulas espaços que agregam uma diversidade linguística e cultural, os
professores vêem-se desafiados a adoptarem diferentes estratégias de ensino a partir de
abordagens que visem a consolidação da identidade de cada aluno e o seu
desenvolvimento cognitivo, na base de uma comunicação inclusiva, reflexiva, intercultural
e multilingue. No entanto, o problema que se coloca neste desafio imposto aos
professores é que, na sua maioria, a sua formação não lhes proporciona competências que
os habilite a agir em conformidade com os desafios impostos.
É dentro deste quadro que, assente nos pressupostos do interculturalismo, do
multilinguismo e da intercompreensão, nos propomos apresentar os resultados da reflexão
feita sobre as estratégias usadas pelos professores moçambicanos para garantir a
intercompreensão na sala de aulas, fundamentados em Porcher (1981), Camilleri (1985),
Cotrim, A. M., et al. (1995), Peres (1999), Abdallah-Pretceille (1999), Araújo e Sá, Mª. H. &
Melo, S. (2006).
Com recurso a metodologias de pesquisa qualitativa aplicadas nas escolas da
periferia das cidades de Maputo e Matola, ao longo da comunicação, procuraremos mostrar
as estratégias usadas pelos professores; avaliar a sua funcionalidade na garantia da
assimilação dos conteúdos programáticos e o processo interactivo de intercompreensão na
aula de LP, respeitando a diversidade cultural e linguística dos alunos; e, por fim,
apresentaremos algumas propostas didácticas face a esta situação.
Notas curriculares:
Angelina Paulino Comé – Docente de Didáctica de Português; Mestre em Didáctica de Português Língua não Materna;
Doutoranda em Ciências de Linguagem Aplicada ao Ensino de Línguas pela Universidade Pedagógica de
Moçambique, com interesse no estudo da problemática do ensino da gramática da Língua Portuguesa em contexto
de L2.
Josefina Marília Rodrigues Caetano Ferrete – Docente de Didáctica de Português; Mestre em Ensino do Português
L2/LE; Doutoranda em Didáctica em Ensino de Línguas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
(FLUP), em Portugal; desenvolve um estudo sobre abordagens dos Temas Transversais em Escolas Moçambicanas.
Tomásia Alícia Mataruca Nhazilo – Docente de Linguística; Mestre em Educação/ Português L2; com interesse em
estudos na área da Sociolinguística aplicada à Educação e Representações Sociais da LP no contexto de L2.
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Ângelo Ferreira
Universidade de Aveiro
A timoridade pela língua portuguesa:
o caso do Externato de São José durante a ocupação indonésia.
Palavras-chave: Timor-Leste, escola, cultura, identidade, identidade nacional, resistência,
timoridade.
Este ensaio, baseado em parte do trabalho de investigação realizado no âmbito de
um doutoramento em Educação, assente num estudo de caso dedicado ao Externato de
São José (Díli, 1976-1992), procura identificar e compreender, em entrevistas
semiestruturadas realizadas a antigos professores e antigos alunos, qual o papel da língua
portuguesa para a defesa e ou construção de uma imaginada identidade timorense ou
timoridade.
Durante 24 anos, os timorenses lutaram, na frente militar, clandestina e diplomática,
pela sua independência como estado-nação e contra a violenta ocupação indonésia. Apesar
do massivo esforço educativo do Estado ocupante para os indoneizar, uma escola da Igreja
Católica assumiu-se, entre 1976 e 1992 (altura em que foi fechada e destruída), como o
último reduto de resistência cultural a essa subjugação. Nesse período, o Externato de São
José decidiu manter o ensino em língua portuguesa, desde o básico ao secundário, apesar
das dificuldades e pressões, desde logo das autoridades indonésias, que perseguiam aquela
língua como elemento que atrasava a integração efetiva do povo timorense na grande e
diversa Indonésia. Das salas de aula daquela escola saíram empenhados ativistas da causa da
independência, organizadores da rede clandestina de Resistência, que se vieram a tornar,
em muitos casos, destacados profissionais e figuras públicas da sociedade timorense.
Nota curricular:
Ângelo Ferreira é membro do projeto "Formar Mais", Universidade de Aveiro. Foi presidente da Associação Académica
da UA entre 1996 e 1999, e foi, entre 2001 e 2004, representante da Fundação das Universidades Portuguesas em TimorLeste e, já na academia de Aveiro, coordenador-adjunto da reestruturação do Ensino Secundário Geral em Timor-Leste.
Atualmente é bolseiro de doutoramento no Departamento de Educação.
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António Manuel Ferreira
CLLC, Universidade de Aveiro
Doença e maldição:
A Febre das Almas Sensíveis, de Isabel Rio Novo
Palavras-chave: Literatura, doença, sanatório, corpo maldito, exclusão.
O romance A Febre das Almas Sensíveis (2018), de Isabel Rio Novo, é uma narrativa
tecnicamente sofisticada, constituída por discursos de variada tipologia. No entanto, a
diversidade discursiva não propicia a fragmentação, porque todos os textos são
coordenados por uma questão aglutinadora: a tuberculose. Tendo como centro topográfico
o sanatório do Caramulo, o romance desenvolve-se num esquema de esferas concêntricas,
unificando, desse modo, todos os discursos. Assim, o núcleo diegético, situado nos anos
quarenta do século XX, é enriquecido por uma resenha biobibliográfica de escritores que
morreram tuberculosos, bem como por apontamentos de teor diarístico, que permitem
uma reflexão atual acerca dos acontecimentos ficcionais decorridos no passado. A
convergência do registo literário com as incursões históricas e filosóficas proporciona à
autora a elaboração de um retrato de Portugal durante a época salazarista: um país pobre,
atrasado e injusto, muito afastado, portanto, do mundo figurado em A Montanha Mágica, de
Thomas Mann, um dos intertextos mais famosos de A Febre das Almas Sensíveis.
Nota curricular: António Manuel Ferreira é professor de Literatura e Língua Portuguesas na Universidade de Aveiro.
Organizou a edição das Obras Completas de Branquinho da Fonseca, publicadas pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda
em 2010, em defluência da sua tese de doutoramento, igualmente editada pela Imprensa Nacional, em 2004: Arte Maior:
Os Contos de Branquinho da Fonseca. Fundou e dirige a revista Forma Breve. Em 2012, publicou o livro de ensaios Sinais de
Cinza: Estudos de Literatura (Guimarães: Opera Omnia).
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Arturo Ramírez Hernández
Escuela Nacional de Lenguas, Lingüística y Traducción, Universidad Nacional Autónoma
de México
Diálogo intercultural:
aprender português no México
Palavras-chave: Português, língua, proximidade, cultura, espanhol, ensino.
O presente trabalho tem como objectivo fazer uma avaliação sobre a importância
que a língua portuguesa tem, como língua de aprendizagem no ensino universitário na
Cidade do México. Para desenvolver esta avaliação foram consideradas duas realidades de
ensino na Cidade do México, onde um importante número de estudantes, que estavam
maioritariamente em formaturas profissionais, tencionava aprender português como língua
estrangeira. A primeira realidade foi a Escuela Nacional de Lenguas, Lingüística y
Traducción (ENALLT) da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM);
enquanto a segunda realidade foi o Centro de Enseñanza de Idiomas (CEI) da Facultad de
Estudios Superiores Acatlán, também da UNAM. Como instrumentos para desenvolver a
nossa avaliação fizemos uma análise dos planos curriculares de cada centro, onde
consideramos o conceito de língua, a abordagem da cultura e finalmente o tratamento da
proximidade linguística, considerando que a maioria dos alunos são de língua materna
espanhol. Do mesmo jeito, fizemos um inquérito a uma turma de cada centro de ensino
para reconhecer as necessidades e intenções que os aprendentes tiveram ao momento de
escolherem estudar português como língua estrangeira. Com ambos os dados colhidos,
fizemos uma análise aprofundada para reconhecer o valor e a importância que a língua
portuguesa tem numa realidade afastada tanto do Brasil, como de Portugal. Finalmente
aproveitámos os dados colhidos para que nesta comunicação possamos apresentar
recomendações ao respeito da promoção da língua portuguesa e reflexões sobre a sua
importância como língua de comunicação e língua de trabalho no México.
Nota curricular: É professor de português na ENALLT, onde trabalha como professor tanto nos cursos gerais, como
nos cursos de preparação para a certificação (CAPLE e CELPE-BRAS). Igualmente, é co-autor do programa de estudos
de português da ENALLT e também participou no desenvolvimento das diretrizes para a elaboração do exame de
nivelamento de português da ENALLT.
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Benjamin Abdala Junior
USP/CNPq/Projeto Pensando Goa
Liberdade e censura nos periódicos dos tempos coloniais,
a partir de O signo da ira (Orlando da Costa) e de Luuanda (Luandino Vieira)
Palavras-chave: Literatura, política e sociedade, comunitarismo supranacional, censura
ditatorial, resistência político-cultural, Luandino Vieira, Orlando da Costa.
Em uma conhecida observação, na introdução do livro Memórias do cárcere, o escritor
brasileiro Graciliano Ramos aponta que “Liberdade completa ninguém desfruta:
começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem
Política e Social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos
podemos mexer”. Como já indicamos em vários momentos, somos envolvidos pelo
mundo das formas tradicionais, que – como muros da vida social – nos envolvem. Pior
ainda quando esses muros são configurados por formas de poder autoritárias, como o da
censura a que se refere o escritor. É de acordo com esse contexto que situamos dois
episódios que marcaram a vida colonial portuguesa nos anos de 1960: a proibição de
circulação de Luuanda, de Luandino Vieira, e de O signo da ira, de Orlando da Costa.
Analisaremos a campanha autoritária dos periódicos da época e as estratégias
discursivas dos autores dessas narrativas – um preso no campo de concentração do
Tarrafal, em Cabo Verde; o outro, de pais goeses, vivendo em Portugal. Nessas narrativas,
ressaltam-se as marcas do discurso e as estratégias discursivas, formuladas num contexto de
censura opressiva, que não deixaram de trazer as marcas críticas do autor implícito, que
vieram a opor-se às atitudes autoritárias do poder ditatorial português.
Nota curricular: Benjamin Abdala Junior, Prof. Titular de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa do
DLCV/FFLCH da Universidade de São Paulo, foi por sete anos cada, representante de Letras e Linguística no CNPq Conselho Nacional de Pesquisa; representante dessa área na CAPES, do Ministério da Educação e representante de
Humanas no Conselho Técnico-Científico do Ensino Superior desse órgão federal. Publicou quarenta e oito títulos entre
livros autorais, coletâneas críticas e antologias, entre eles A escrita neorrealista; Literatura, história e política; De vôos e ilhas literatura e comunitarismo e Literatura comparada e reflexões comunitárias, hoje; Foi, com Maria Aparecida Santilli, introdutor da
disciplina de Literaturas Africanas no país. Ex-presidente de várias organizações, entre elas a Associação Brasileira de
Literatura Comparada, foi igualmente por duas vezes chefe de seu departamento na FFLCH/USP.
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Bianca do Rocio Vogler
Universidade de Coimbra/CAPES
Afonso da Maia: uma personagem de tragédia grega
no romance de Eça de Queirós
Palavras-chave: Afonso da Maia, Os Maias, Eça de Queirós, tragédia grega, Édipo Rei,
Tirésias.
No artigo que aqui desenvolvo, apresento uma leitura acerca do romance Os Maias,
do escritor português Eça de Queirós, em que se considera a existência de determinadas
características de algumas personagens trágicas clássicas na constituição da personagem
Afonso da Maia, entendendo-o, a partir dessa perspectiva, como a figura central da obra
eciana e dos acontecimentos trágicos que nela se desenvolvem. Para tanto, faz-se uma
ponderação sobre a problemática da tragédia clássica grega, empregando a visão de alguns
dos principais estudiosos sobre esse gênero literário, como: Aristóteles, Albin Lesky, Lígia
Militz Costa e Maria Luiza Ritzel Remédios, entre outros. A partir de tal análise, pretendese, então, localizar os aspectos componentes das peças trágicas gregas que nos possibilitam
realizar uma aproximação relativamente à obra-prima de Eça, mais especificamente no que
diz respeito às personagens dessas peças que podem ser observadas na caracterização da
personagem do patriarca Maia, nomeadamente o Édipo e o Tirésias das peças sofoclianas
Édipo Rei e Antígona.
Nota curricular: Graduação em Letras, com habilitação em Línguas Portuguesa e Inglesa e respectivas Literaturas, e
mestre pelo Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG). Doutoranda do Programa de Doutoramento em Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de
Coimbra, com bolsa do programa de Doutorado Pleno no Exterior da CAPES.
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Carlos Rodrigues
Ana Grifo
Emanuel Leite Jr.
GOVCOPP, Universidade de Aveiro
Panorama da investigação em Políticas Públicas na CPLP
Palavras-chave: CPLP, grupos de investigação, políticas públicas, GOVCOPP.
A CPLP tem vindo a definir como prioridades a ciência, tecnologia e ensino
superior, domínios para os quais tem em ação um plano estratégico. O Espaço de Ensino
Superior da CPLP já se encontra formalizado e a Associação das Universidades de Língua
Portuguesa (observador consultivo da CPLP) tem promovido a cooperação universitária
entre os Estados lusófonos. Com vista ao estreitamento de laços institucionais entre a
unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas e grupos de
investigação da lusofonia, encetou-se um esforço de procura de interesses comuns.
Pretende-se aqui esboçar o panorama geral da investigação na CPLP no domínio das
Políticas Públicas. Notou-se que Timor, Guiné Bissau e São Tomé têm poucos centros de
investigação nesta área. Angola, Moçambique e Cabo Verde já apresentam números
ligeiramente mais elevados em relação aos países anteriormente mencionados. Já o Brasil é
o Golias deste grupo. Em consulta à Plataforma Lattes, do CNPq, utilizando o termo
“Políticas Públicas”, tendo como único filtro “grupos certificados”, foram identificados
3027 centros de investigação. Número que caiu consideravelmente ao se acrescentarem os
seguintes critérios: categorias (IA, IB, IC, ID) e conceito do programa (7, 6, 5 - sendo que
as notas 7 e 6 equivalem a padrões internacionais de excelência e a nota 5 corresponde a
nível de excelência nacional). O resultado foi de 124 grupos, das cinco regiões do país. As
áreas científicas com maior incidência foram, pela ordem: Educação (20), Sociologia (18),
Planeamento Urbano e Regional (13) e Ciência Política (9). Numa análise por regiões, a
partir da localização das instituições de ensino superior, constatou-se que grande parte se
encontra concentrada na região Sudeste: 77, ou 62%. A região Nordeste vem na sequência,
mas com apenas 21 grupos (17%). Ao passo que a região Norte, com somente quatro
grupos (3%), foi a menos representada.
Notas curriculares:
Carlos Rodrigues - Professor Auxiliar, Diretor do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Diretor do
Mestrado em Estudos Chineses, investigador na unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas
Públicas (GOVCOPP) da Universidade de Aveiro.
Ana Grifo - Mestre em Ciência Política pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa,
bolseira de investigação na unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP)
da Universidade de Aveiro.
Emanuel Leite Jr. - Doutorando em Políticas Públicas, Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, na
Universidade de Aveiro, bolseiro de investigação na unidade de investigação em Governança, Competitividade e Políticas
Públicas (GOVCOPP) da Universidade de Aveiro.
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Catarina Santos
Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira de Gouveia
Jorge Costa Lopes
ILCML / FLUP
Paula Cristina Isidoro
Universidade de Salamanca
Vergílio Ferreira:
Da minha língua vê-se a montanha
Palavras-chave: Vergílio Ferreira, montanha, aldeia, roteiro literário, mar.
A cartografia ficcional de Vergílio Ferreira privilegia dois grandes espaços: o mar
e, sobretudo, a montanha. O autor anota, aliás, num fragmento de Escrever, que a
montanha onde nasceu lembra-lhe o “estável e o eterno”, enquanto o mar fala-lhe da
“constante inquietação”. A montanha e a “aldeia eterna” marcam, assim, presença em
praticamente todos os romances de Vergílio Ferreira. Somente nas páginas de Apelo da
Noite, Estrela Polar (1962) e nos dois últimos romances, Em Nome da Terra (1990) e Na tua
Face (1993), é que se encontram praticamente ausentes. Talvez por isso confesse, noutra
entrada de Escrever, que já pouco relembra a montanha, como se tivesse trocado a sua
mitologia pela do mar. Confissão estranha em Vergílio Ferreira que regressará, porém, à
montanha das origens no derradeiro título da sua ficção, Cartas a Sandra (1996),
continuação epistolar de Para Sempre (1983), que fecha simbolicamente (cursum peregi) o
círculo da sua biobibliografia.
O nosso trabalho pretende analisar a importância da aldeia genesíaca e da
montanha na ficção de Vergílio Ferreira. O seu título constitui ainda uma homenagem à
célebre frase que leu aquando da atribuição do Prémio Europália, em 1991 (“Da minha
língua vê-se o mar”). Assim, focaremos o nosso estudo no Roteiro Literário Vergiliano
que o Município de Gouveia inaugurou em 2016, aquando das Comemorações do
Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira. Pretendemos, pois, abordar este grande
topografema do autor de Alegria Breve, segundo uma perspetiva de reavaliação da mimesis e
da representação na verosimilhança narrativa, reavaliação que acompanha, aliás, a atual
fortuna crítica do espaço literário, manifestada na criação de conceitos como os de, por
exemplo, geocrítica, ecocrítica, geografia literária e realema.
Notas curriculares:
Catarina Santos – Licenciada em História- FLUC. Pós-graduada em Ciências Documentais- UBI. Professora do 3.º
Ciclo até 2005. Diretora da Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira.
Jorge Costa Lopes doutorou-se na FLUP – Fac. de Letras da Univ. do Porto, com a tese As Vozes do Silêncio – As
marginalia de Vergílio Ferreira nos livros de Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Eduardo Lourenço. É autor dos livros Sobre o Riso
e o Cómico em Vergílio Ferreira e As Polémicas de Vergílio Ferreira. Investigador e membro integrado do ILCML – Instituto de
Literatura Comparada Margarida Losa da FLUP.
Paula Cristina Isidoro - Professora de língua e literatura portuguesa na Universidade de Salamanca desde 2011, depois de
passar pela Nigéria e pela África do Sul ao serviço do Instituto Camões como leitora e diretora dos respectivos centros de
língua portuguesa de Abuja e Joanesburgo, exerce também funções de professora de francês no ensino secundário e de
formadora de professores no Centro de Formação de Professores de Idiomas de Valladolid.
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Cláudia Martins
Instituto Politécnico de Bragança & CLLC-UA
Roteiros museológicos
– a voz da acessibilidade nos museus portugueses
Palavras-chave: Acessibilidade, deficiência/incapacidade visual, audioguias, roteiros
museológicos, museus portugueses, análise macro - e microestrutural.
A acessibilidade apresenta-se, acima de tudo, como uma questão de direitos
humanos não só direcionada para as liberdades individuais mais básicas, mas também para
a obrigação de os Estados assegurarem a participação das pessoas com deficiência na vida
social e cultural, em circunstância de igualdade. As barreiras de acessibilidade que se
levantam nas relações sociais entre pessoas com e sem deficiência são discutidas por
diversos autores, tais como Dodd & Sandell (1998) e Sassaki (2005), mas para além dos
habituais obstáculos físicos, financeiros e informativos, convém destacar os obstáculos
emocionais, atitudinais e sensoriais. Isto significa destronar a ideia comum de que a
acessibilidade equivale a uma rampa de acesso; pelo contrário, a acessibilidade implica um
vasto e complexo conjunto de variantes que envolvem simultaneamente recursos físicos,
financeiros e humanos, mas também atitudes positivas face à diferença.
O nosso objetivo consiste em apresentar um estudo realizado no contexto da
investigação de doutoramento. O estudo teve como objetivo primordial mapear as
condições de acessibilidade nos espaços museológicos portugueses, no que se refere,
especificamente, às necessidades dos visitantes com deficiência/ incapacidade visual. Neste
sentido, o estudo de campo baseou-se na constituição de um roteiro museológico que
incluiu 20 museus portugueses que, aquando da sua visita, oferecessem audioguias, ou guias
descritivos (Neves, 2014). Este roteiro compreendeu duas etapas: a visita das instituições e
a utilização do respetivo audioguia em tempo real, assim como a análise a posteriori de uma
seleção de comentários retirados desses audioguias. Seguidamente, a análise abordou, por
um lado, a macroestrutura do audioguia, em função de critérios técnicos, institucionais e
macroestruturais, e, por outro, a microestrutura, com ênfase na produção de conteúdo que
servisse as necessidades das pessoas com deficiência/ incapacidade visual. Desta forma, a
nossa finalidade reside em auscultar a voz da acessibilidade no contexto museológico
português.
Nota curricular: Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (português/Inglês) na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, onde prosseguiu com o mestrado em Terminologia e Tradução. Concluiu o doutoramento em
2015 em Tradução Audiovisual, com tese sobre a acessibilidade museológica para pessoas cegas ou com baixa visão, na
Universidade de Aveiro. Tem lecionado inglês como língua estrangeira, Linguística Inglesa, Terminologia e Tradução
Audiovisual desde 2001 na Escola Superior de Educação do Politécnico de Bragança. Interesses académicos: Linguística;
Terminologia; Estudos de Tradução; Fraseologia e Paremiologia.
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Cláudia Martins – Instituto Politécnico de Bragança / CLLC-UA
Nazaré Cardoso – I. P. Bragança / Agrupamento de Escolas Abade de Baçal
Cecília Falcão – I. P. Bragança / Agrupamento de Escolas Miguel Torga
Os cinco sentidos no diálogo idiomático do Português Europeu com Línguas Estrangeiras
Palavras-chave: Aquisição da língua materna, aprendizagem de línguas estrangeiras,
recursos didáticos, fraseologia contrastiva, idiomaticidade, cinco sentidos.
A idiomaticidade nas línguas naturais constitui um recurso linguístico de elevada
importância, por vezes menorizado e negligenciado na língua materna, contrariamente ao
que ocorre na aprendizagem das línguas estrangeiras (LE). A motivação para este trabalho
deriva da necessidade de integrar a reflexão sobre este fenómeno e o uso de expressões
idiomáticas na prática letiva. Enquanto professoras de línguas, identificamos a necessidade
de estabelecer um diálogo idiomático entre a língua materna dos alunos – o português – e
as LE que os mesmos adquirem nos cursos de línguas da nossa instituição (i.e. Línguas
Estrangeiras: Inglês e Espanhol e Línguas para Relações Internacionais). Assim,
trabalhamos os fraseologismos em aula de modo sistemático, segundo uma organização
onomasiológica, acompanhando as áreas temáticas de cada unidade curricular (UC).
Contudo, abordar o tópico das expressões idiomáticas implica explorar as questões da
linguagem figurativa (versus linguagem literal) e o continuum de idiomaticidade e fixidez que
compreende desde as colocações aos fraseologismos mais opacos. Concomitantemente, é
fundamental discutir as implicações metafóricas e a força imagética que, tipicamente, nestas
expressões se concentra, tornando-as mecanismos de simplificação linguística no
quotidiano e outrossim de vulgarização científica nas línguas de especialidade. É, pois,
fundamental ter presente esta multiplicidade de reflexões no estudo dos fraseologismos.
No contexto desta comunicação, pretendemos operacionalizar uma abordagem de
investigação-ação, a partir da recolha de fraseologismos referentes aos cinco sentidos –
visão, audição, olfato, paladar e tato e os verbos e nomes relacionados – que estabelecem
uma ponte dialógica entre os aprendentes de línguas e facilitam intercâmbios de natureza
multidisciplinar e multicultural. O projeto tem por objetivo a construção de um produto
didático que funcione como base comum para os diversos professores de línguas da
instituição. Esta plataforma de fraseologismos, potenciadora da motivação dos alunos e
facilitadora da aprendizagem, contribuirá igualmente para uma abordagem interdisciplinar
entre as unidades curriculares das licenciaturas de línguas.
Notas curriculares:
Nazaré Cardoso - Licenciada em inglês e alemão pela UTAD. Mestre em ensino do inglês e do espanhol no Ensino
Básico pela ESE do Instituto Politécnico de Bragança. Doutoranda em Didáticas das Línguas Estrangeiras na
Universidade de Valladolid, Espanha. Tem lecionado línguas estrangeiras (alemão, espanhol e inglês), Didática das LE
e Literatura Infanto-Juvenil nos últimos 15 anos. Interesses académicos: Didática das línguas e da literatura.
Cecília Falcão - Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas na FLUP. Professora de português e francês na Escola
Secundária Miguel Torga em Bragança e professora bibliotecária. Tem lecionado na ESE do Instituto Politécnico de
Bragança na área do francês e do português, Estudos de Tradução e Supervisão Pedagógica. Possui especializações
em Lexicologia e Lexicografia, Terminologia e Tradução, Revisão de Texto e Ciências Documentais. Interesses
académicos: Fraseologia e Paremiologia, Lexicologia e Lexicografia, Terminologia e Tradução.
Cláudia Martins - Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas na FLUP, onde prosseguiu com o mestrado em
Terminologia e Tradução. Concluiu o doutoramento em 2015 em Tradução Audiovisual, com tese sobre a
acessibilidade museológica para pessoas cegas ou com baixa visão. Tem lecionado inglês como língua estrangeira,
Linguística Inglesa, Terminologia e Tradução audiovisual desde 2001 na ESE do Instituto Politécnico de Bragança.
Interesses académicos: Linguística; Terminologia; Estudos de Tradução; Fraseologia e Paremiologia.
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Cleide Inês Wittke
UFPel, Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Jossemar de Matos Theisen
Universidade do Minho
Didática da escrita nas aulas de português
Palavras-chave: Língua Portuguesa, escrita, Ensino Fundamental, sequência didática,
crônica, Interacionismo Sociodiscursivo.
O trabalho com a língua portuguesa via gêneros textuais é uma didática ainda
recente nas escolas brasileiras, todavia, já podemos vislumbrar resultados produtivos,
especialmente na prática voltada à escrita (Machado, 2005; Guimarães, 2006; Marcuschi,
2008, 2010). Assim, esta comunicação objetiva socializar, descrevendo e refletindo acerca
dos resultados obtidos com uma oficina voltada ao exercício da escrita, realizada em um
oitavo ano do ensino fundamental, em uma escola municipal do sul do Brasil. A partir de
uma abordagem interacionista sociodiscursiva da linguagem (Bronckart, 2008, 2012),
elaboramos um dispositivo, através de uma sequência didática, com base no modelo
didático de gênero desenvolvido por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2010), com o intuito de
abordar a crônica. Tomando esse modelo como base, no primeiro encontro,
contextualizamos a proposta de escrita a ser realizada, seguindo com uma produção inicial
do gênero em foco. A leitura das crônicas produzidas pelos alunos funcionou como
diagnóstico para definir os saberes a serem trabalhos nos módulos que nortearam esse
dispositivo didático. Com a realização das atividades nos três módulos previstos,
finalizamos a proposta com uma produção final. A análise dos resultados obtidos com a
oficina, principalmente dos textos escritos, comprovou nossa hipótese de que o ensino de
língua por meio de gênero textual não somente motivou o aluno a escrever, mas também a
refletir sobre o processo de escrita, além de buscar sanar as dificuldades encontradas nessa
prática social (Dolz, Gagnon, Decândio, 2010; Wittke, 2015, 2016). Vale dizer que essa
atividade faz parte do projeto de pesquisa intitulado Estudos da linguagem e da língua sob uma
perspectiva da Interação Verbal, uma continuidade do projeto anterior, finalizado em julho de
2017, do qual fazem parte bolsistas de iniciação científica, mestrandas e professoras
universitárias de uma Instituição do sul do Brasil.
Notas curriculares:
Cleide Inês Wittke - Professora Associada na UFPEL, atuando na Graduação e na Pós-graduação. Com Graduação em
Letras Português/Inglês e Português/Alemão pela UNISC. É Mestra e Doutora em Linguística Aplicada pela UFSM e
PUCRS, com Pós-doutorado em Didática das Línguas pela UNIGE. Desenvolve atividades de ensino e de pesquisa em
teorias do texto e do discurso. Publicou três livros, vários capítulos e artigos em diferentes periódicos.
Jossemar de Matos Theisen – Doutora em Letras pela Universidade Católica de Pelotas. Pesquisadora externa na
Universidade do Minho, Portugal. De 2009 a 2013 atuou como docente e tutora na UFPel. Trabalha nas áreas de práticas
e metodologias de leitura online, gêneros textuais, letramento digital e aprendizagem de línguas. Pesquisa sobre a inserção
de práticas das tecnologias digitais no contexto acadêmico e também no ensino de língua portuguesa para estrangeiros.
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Conceição de Maria de Araujo Ramos
José de Ribamar Mendes Bezerra
UFMA, Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Fraseologismos na língua oral: um estudo com base no corpus
do Atlas Linguístico do Brasil concernente ao campo semântico
convívio e comportamento social
Palavras-chave: Fraseologismos, variação lexical, língua portuguesa, convívio e
comportamento social, Projeto ALiB, Projeto VALEXTRA.
Este estudo é parte de uma pesquisa mais ampla vinculada ao Projeto
VALEXTRA (Variação lexical: teorias, recursos e aplicações): do condicionamento lexical às constrições
pragmáticas, projeto este objeto do convênio CAPES/COFECUB 838/15, celebrado entre a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Paris 13. Como parceira da
UFBA, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) vem explorando o corpus do Atlas
Linguístico do Brasil (ALiB) no sentido de inventariar e analisar as unidades fraseológicas e
suas variantes presentes no português oral do Brasil, com vistas a oferecer subsídios para a
construção da base de dados do Projeto VALEXTRA. Nessa perspectiva, este estudo,
embasado teoricamente nos trabalhos sobre fraseologismos (Gross M., 1982; Gross G.,
1996; Mejri, 1997, 2012), objetiva apresentar uma amostra de fraseologismos concernentes
ao campo semântico convívio e comportamento social recolhidos no corpus do ALiB, com base
em um recorte dos dados do interior do Maranhão, estado brasileiro situado no Nordeste
do País. Este recorte contempla oito pontos linguísticos, o que equivale examinar os dados
referentes a trinta e dois informantes do ALiB. A análise preliminar dos dados aponta que
as unidades lexicais examinadas constituem uma formação polilexical, apresentando,
portanto, uma das características principais das unidades fraseológicas; como grande parte
das palavras de uma língua, essas unidades têm como função básica denominar; os falantes
usam, de maneira sistemática, unidades fraseológicas junto a outras unidades lexicais
simples ou não, no processo de nomeação da realidade (pé de cana ~ bêbado); a variação
se apresenta como um elemento da dicotomia fixidez/variação (Sfar, 2016).
Notas curriculares:
Conceição de Maria de Araujo Ramos é professora Associada IV do Departamento de Letras e do Programa de PósGraduação em Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Possui doutorado em Letras (área de concentração
Linguística). É coordenadora do Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA). É integrante dos projetos de pesquisa Atlas
Linguístico do Brasil e Tesouro do Léxico Patrimonial Galego-Português, com pesquisas e orientações no âmbito da
descrição e análise linguística.
José de Ribamar Mendes Bezerra é professor Associado II do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação
em Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Possui doutorado em Letras (área de concentração
Linguística). É integrante dos projetos de pesquisa Atlas Linguístico do Brasil, Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA) e
Tesouro do Léxico Patrimonial Galego-Português, com pesquisas e orientações no âmbito da descrição e análise
linguística.
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Cristina Vieira da Silva
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - CIPAF; CIEC-UM
Cláudia Andrade
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - CIPAF
Os recursos digitais ao serviço do ensino e aprendizagem da gramática
Palavras-chave: Língua portuguesa, gramática, recursos digitais, ensino e aprendizagem,
focus group, entrevista.
Neste trabalho, analisamos a forma como, para efeitos do ensino e aprendizagem
da gramática, os recursos digitais poderão ser um instrumento facilitador das aprendizagens
de alunos do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico. A escolha desta temática prende-se, por um
lado, com a perceção generalizada de que gramática é tida como uma área crítica no ensino
e aprendizagem da língua portuguesa (Silva & Pereira, 2014; 2017) e, por outro, com a
constatação de que as crianças manifestam, desde cedo, motivação e capacidade para
usufruírem de recursos digitais. Neste contexto, o nosso objetivo consistiu em analisar em
que medida a utilização de recursos digitais poderá facilitar o ensino e aprendizagem da
gramática de crianças a frequentar o 1.º e 2.º CEB. Para o efeito, procuramos compreender
a perceção quer dos alunos quer dos professores junto dos quais foi desenvolvida a prática
de ensino supervisionada, nestes dois ciclos de escolaridade, face à utilização de recursos
digitais ao serviço do ensino e aprendizagem gramatical. Tivemos ainda oportunidade de
dinamizar atividades que promovessem esta articulação e de analisar o impacto das mesmas
junto dos alunos. Foi adotada uma metodologia mista que envolveu recurso a entrevistas e
focus group, registo áudio e vídeo/ fotográfico de alguns momentos de aula, e ainda análise
documental, nomeadamente, de resultados dos exames de português, especificamente,
resultados relativos aos níveis de desempenho no domínio gramatical. Com esta
metodologia e com as atividades implementadas, foi possível concluir que os recursos
digitais poderão ser uma chave para uma maior motivação e eficácia quer no ensino quer na
aprendizagem da gramática. No entanto, se no que diz respeito aos alunos, concluímos que
os recursos digitais mantêm o seu interesse e são ferramentas que contribuem para a
apropriação e compreensão de conteúdos gramaticais, já relativamente aos professores,
identificou-se a necessidade de maior formação.
Notas curriculares:
Cristina Vieira da Silva, doutorada em Linguística pela FCSH da UNL, é professora coordenadora na ESEPF, onde dirige
o mestrado em Ensino do 1.º CEB e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º CEB. Membro integrado no
Centro de Estudos da Criança da Univ. do Minho, os seus interesses de investigação situam-se nas áreas da didática do
português e do ensino e aprendizagem da gramática.
Cláudia Sofia Pereira Andrade, mestre em Ensino do 1.º CEB e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º
CEB pela ESEPF.
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Danuza Américo Felipe de Lima
Bolsista da CAPES/ Brasil – Proc. BEX 1772/15
Universidade de Coimbra/ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo – Avaré
A Crónica 1344 e seu construtor de passados:
visitação à produção de Dom Pedro de Barcelos
Palavras-chave: Historiografia, reescrita, legitimação, discurso, poderes, literatura.
Dom Pedro Afonso, o conde de Barcelos, ficou por muito tempo olvidado entre as
personagens que compuseram a nobreza portuguesa, no entanto, atualmente, é atribuído a
ele fundamental valor na constituição da historiografia que compõe o quadro cultural
português dos séculos XIII e XIV. Logo, é constantemente mencionado nos trabalhos
científicos, bem como reconhecido enquanto figura histórica e patrimônio da memória,
como ocorre na freguesia de Lalim, onde residiu após se afastar da corte régia e onde
supostamente teria redigido sua produção trovadoresca, nobiliária e historiográfica. São
atribuídos a ele o Livro das Cantigas, o Livro de Linhagens e a Crónica Geral de Espanha de 1344.
Por muito tempo, o período de produção escrita no qual está inserida a obra do conde
representou uma enorme lacuna na investigação científica e filológica da historiografia
portuguesa. Foi apenas após os estudos realizados por Luís Filipe Lindley Cintra que
finalmente foi devolvida a contribuição portuguesa para a historiografia da Península
Ibérica deste período. Como sabemos, desde muito cedo as sociedades descobriram o valor
e o poder da memória. É por isso que essa restituição tem para a crítica e os estudos
historiográficos portugueses uma importante valoração simbólica, à medida que contribui
para o reconhecimento de pertença em um contexto dos estudos medievalistas em que só
existiam referências externas, sendo muitas vezes dificultada a acessibilidade a essas obras
por causa das barreiras culturais e linguísticas. É relevante destacar que essa restituição só
foi possível após os novos caminhos metodológicos incorporados pela investigação
científica desses textos que passou a incluir a análise de seus discursos. A proposta deste
trabalho é a apresentação do perfil biográfico do conde Dom Pedro de Barcelos e a
importância da sua produção textual.
Nota curricular: Danuza Américo Felipe de Lima é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de São Paulo, campus Avaré e doutoranda em Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra - com uma
bolsa de doutorado pleno no exterior Capes/Brasil. Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de São
Carlos, licenciada em Letras (Português-Espanhol) pela mesma Universidade.
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Danuza Américo Felipe de Lima
Bolsista da CAPES/ Brasil – Proc. BEX 1772/15
Universidade de Coimbra/ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo – Avaré
José Luís Pires Laranjeira (orientador)
Universidade de Coimbra
A crioulidade na obra de José Eduardo Agualusa.
Palavras-chave: literatura, Angola, crioulidade, identidade, nação, cultura.
José Eduardo Agualusa apresenta, em suas obras, um senso de identidade cultural
heterogêneo com visíveis marcas de uma transitoriedade que envolve os diversos espaços
falantes da língua portuguesa, em especial Angola, Brasil e Portugal. As personagens dos
seus contos e romances estão em constante trânsito geográfico e inferem reflexões sobre a
compreensão identitária angolana desassociadas do pertencimento a categorias fixas. Logo,
sua produção literária é frequentemente classificada como híbrida, mestiça, diaspórica ou
fronteiriça. É por meio dessa noção que Agualusa retoma o tema da crioulidade. Esse
conceito foi utilizado pela primeira vez para se referir a Angola, no final da década de 1960,
por Mário António que o descreve como oriundo de uma elite urbana, culturalmente
mestiça, assimilada e formada entre os séculos XVII e XIX. A proposta deste trabalho é a
investigação da crioulidade e a atuação estilística na obra do autor.
Nota curricular: Danuza Américo Felipe de Lima é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de São Paulo, campus Avaré e doutoranda em Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra - com uma
bolsa de doutorado pleno no exterior Capes/Brasil. Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de São
Carlos, licenciada em Letras (Português-Espanhol) pela mesma Universidade.
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David Frier
University of Leeds, UK
A África Portuguesa em dois textos literários do século XIX (Camilo e Eça)
Palavras-chave: Camilo, Eça de Queirós, política ultramarina portuguesa, Moçambique.
Nesta comunicação vou criar um contraste na visão da presença portuguesa entre O
Degradado de Camilo (das Novelas do Minho) e o romance A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de
Queirós. Se por um lado o capítulo final desta obra oferece uma visão aparentemente
pacífica e bem conseguida do colonialismo português no Moçambique do final do século
XIX, por outra parte o texto camiliano apresenta uma realidade mais caótica da ocupação
lusa do mesmo território. Na realidade, porém, a diferença entre estes dois textos não
reside numa visão fundamentalmente distinta da política portuguesa ultramarina, mas sim
em questões de classe social e dos respetivos momentos históricos refletidos nas duas
obras. Com esta base, vou sugerir uma leitura dos dois textos que indique uma consciência
profunda e complementar por parte destas duas figuras chave da literatura da época da
fraqueza fundamental do colonialismo português na África.
Nota curricular: Investigador (Honorary Research Fellow) em Estudos Portugueses, Universidade de Leeds (desde 2015).
Professor de Estudos Portugueses (Senior Lecturer), Universidade de Leeds (até 31-01-2015), Professor de Estudos
Portugueses e Espanhóis (Lecturer), Universidade de Edimburgo (10-1988 até 09-1996); Professor Visitante de Estudos
Portugueses (Visiting Professor) na Universidade de Califórnia, Santa Barbara (outono de 2000) e na Universidade de
Califórnia, Los Angeles (primavera de 2000 e outono de 2001). Doutoramento (Universidade de Glasgow, 1989), com o
título: “Perspectives on the self in the novels of Camilo Castelo Branco (1850-1870)”. Licenciatura (Estudos Alemães e
Hispânicos): Universidade de Glasgow, 1982.
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Delfim Correia da Silva
CLP-Camões, I.P. / Universidade de Goa, Índia
Viagem da Língua Portuguesa pelo mar “susegad” de Goa:
Uma breve perspetiva histórica e sincrónica do estado dos Estudos Portugueses
Palavras-chave: Ensino de PLE, História, Goa, Leitorado do Camões, Universidade de
Goa, Lusofonia.
Após os acontecimentos de 1961, Goa assumiu a tendência que já vinha
manifestando, o inglês e as línguas nacionais e regionais dominaram a vida administrativa e
o sistema de ensino. A erradicação definitiva do Português só não aconteceu graças ao
empenho de alguns que o mantiveram vivo em contexto familiar.
Com o restabelecimento das relações diplomáticas, assistimos a uma gradual
afirmação da Língua Portuguesa na Índia, e em Goa em particular. Procuraremos traçar
essa evolução, dando uma especial atenção aos desafios colocados à implementação dos
programas de Estudos Portugueses no subcontinente indiano, destacando a centralidade
que Goa assume devido à sua enormíssima herança cultural e às potencialidades
pedagógico-educativas de que beneficia.
Apresentaremos dados atuais sobre o universo estudantil, dos níveis de escolaridade
onde se integra o Português como língua estrangeira de opção curricular, dos diversos
programas de Estudos Portugueses, das instituições públicas e privadas que ministram o
Português, da formação de professores de PLE em Goa e dos centros de recursos
documentais e acervos bibliográficos.
Por fim, tentaremos justificar o papel dinamizador que a Universidade de Goa e o
CLP do Camões, I.P. devem assumir na articulação dos interesses convergentes na
promoção e difusão da Língua Portuguesa e das culturas dos países lusófonos nesta região
do sudoeste asiático.
Nota curricular: Delfim Correia da Silva, Licenciado pela Universidade de Aveiro em Licenciatura em Ensino de
Português-Francês (1990), Mestre em Estudos Portugueses Interdisciplinares pela Universidade Aberta (2008),
doutorando em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos na FLUP, é leitor do Camões, I.P. na Universidade de Goa e
responsável pelo CLP do Camões em Goa desde 2008. Desempenhou funções de leitor nas Universidade Jawaharlal
Nehru, Nova Deli (1996-2001) e St.Kliment Ohridski, Sófia (2002-2006). É membro do Projeto temático “Pensando
Goa”, FAPESP/USP.
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Dina Maria Silva Baptista
Sónia Catarina Lopes Estrela
ESTGA, Universidade de Aveiro
Os desafios da Comunicação digital nas PME
Palavras-chave: Comunicação empresarial, comunicação digital, PME, estratégias,
conteúdos, redes sociais.
Da mesma forma que a Língua Portuguesa atravessou os mares desconhecidos, no
período dos Descobrimentos, também hoje algumas PME navegam pelos mares ainda
desconhecidos da comunicação digital.
A inovação digital modificou os canais e a forma como as empresas comunicam
com os seus públicos, quer internos quer externos. Atualmente as formas tradicionais de
comunicação sofreram alterações, explanados na utilização de instrumentos de
comunicação digital diversos (website, redes sociais, blogs), e na necessidade de adoção de
novas formas de gestão da informação, ao nível da produção, circulação e adequação ao
contexto digital. Esta nova abordagem comunicacional implica uma maior aproximação e
interação com os seus públicos, assim como um posicionamento estratégico que lhes
garanta uma projeção diferente dos seus produtos e serviços.
O objetivo principal deste estudo é compreender de que forma as PME estão a
adequar a sua comunicação a esta mudança de paradigma comunicacional ao nível da
adoção de novos instrumentos de comunicação, da produção de conteúdos e da
contratação de profissionais que deem resposta aos desafios que estas empresas enfrentam
numa economia cada vez mais competitiva e globalizada.
Os dados recolhidos, através da administração de um inquérito por questionário,
dirigido a PME, permitem identificar os instrumentos de comunicação digital utilizados,
analisar a tipologia dos conteúdos publicados nos diferentes canais de comunicação e aferir
sobre os requisitos comunicacionais específicos dos colaboradores responsáveis pela
produção de conteúdos ao nível das técnicas de copywriting.
Notas curriculares:
Dina Baptista é licenciada em Ensino de Português, Latim e Grego, pós-graduada em Inovação e Comunicação Digital e
doutorada em literatura, é professora adjunta convidada, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda, da
Universidade de Aveiro (UA), responsável por unidades curriculares na área do Português, do Secretariado e da
Comunicação. É investigadora-colaboradora do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas da UA.
Sónia Estrela é licenciada em História, pós-graduada em Ciências Documentais (ramos Arquivo e Bibliotecas e
Documentação) e em Sistemas de Informação Empresariais. É mestre e doutora em Ciência da Informação.
É professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda, onde leciona unidades curriculares nas áreas
da gestão da informação e sistemas de informação organizacionais.
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Djair Rodrigues de Souza
UFES, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
O papel da Biblioteca frente à queda de público leitor
Palavras-chave: Biblioteca, leitura, livro, cultura, Língua Portuguesa/divulgação, incentivo
à leitura.
O presente relato busca demonstrar as estratégias hoje adotadas na Biblioteca
Central da Universidade Federal do Espírito Santo, como forma de atrair o público leitor,
num cenário global onde cada vez mais se percebe o baixo interesse pela leitura, sobretudo
livros em suporte papel.
Mesclar eventos culturais das mais diversas vertentes, mas com ênfase aos saraus
literários, e pondo à cara do público frequentador os livros, em acordo com a temática da
exposição/palestra/mostra.
Faz-se assim a mediação do contato usuário-livro. Disseminando portanto a leitura
e o interesse pelo livro impresso pela comunidade em geral. Através dos saraus e encontro
com escritores a ênfase principal é a literatura em língua portuguesa.
Os resultados obtidos demonstram que a aproximação do objeto “livro”, num
ambiente de produção e exposição cultural variada é importante para promover o interesse
pelo livro e pela leitura.
Nota curricular: Bibliotecário - Biblioteca Central. Coordenador do Núcleo de Ação Cultura do Sistema integrado de
Bibliotecas SIB-UFES, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.
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Edvaldo Aparecido Bergamo
UnB, Universidade de Brasília, Brasil
O romance histórico Lueji, de Pepetela:
o mito, a memória e a nação (a mulher angolana, ontem e hoje)
Palavras-chave: Romance histórico, narrativa angolana, mito nacional, memória coletiva,
passado e presente, representação feminina.
A nova concepção histórica foi um fator decisivo para a conformação do romance
no século XIX, o que possibilitou a criação e desenvolvimento de uma forma literária
específica destinada a captar o tempo precedente como movimento contínuo que interfere
na vida corrente. A composição ficcional em questão tornou-se uma projeto artístico
supranacional de conhecimento e de desvelamento de uma realidade específica de antanho,
incógnita ou encoberta, ou de um outrora ignoto a ser reexaminado sob bases ideológicas
renovadas, de sorte que literatura e história passam a ser aliadas na busca de um singular
modo de analisar e interpretar os tempos idos, concebidos e vivenciados como um
pretérito que não findou totalmente, sendo assim, passível de ser plasmado e configurado
em distintos escopos humanistas. O romance histórico de língua portuguesa em particular,
da era romântica à contemporaneidade, na África, na América e/ou na Europa, mimetiza,
em diferentes obras, com alcances estéticos diversos, os primórdios da nacionalidade
ibérica na Idade Média, os impasses da colonização americana e africana em condições
mercantilistas e imperialistas, os embates brasileiros pela emancipação política no século
das revoluções, a tenacidade da luta pela independência total da África no pós-guerra e a
derrocada final do esclerosado domínio colonial lusitano de longeva memória atlântica e
índica. Considerando semelhantes aspectos teóricos e críticos, nosso objetivo nesta
comunicação é examinar a obra Lueji (1989), de Pepetela, como um romance histórico
contemporâneo que trespassa espaços, tempos e personagens para narrar a formação da
nação angolana, enfocando principalmente a trajetória de duas mulheres especiais, Lueji e
Lu, separadas por 400 anos, mas ligadas pela força do mito, pela razão da História e pelo
significado da identidade, numa intersecção reveladora dos impasses do passado e dos
desacertos do presente, na constituição de um país africano moderno que se reconhece na
valorização da tradição.
Nota curricular: Realizou Pós-Doutoramento na Universidade de Lisboa (2014-2015). Possui Graduação, Mestrado e
Doutorado em Letras pela UNESP/Assis, com ênfase na área de Literatura Comparada. É professor do Departamento de
Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras da Universidade de Brasília. Tem atuado no Programa de PósGraduação em Literatura da referida instituição, com pesquisa voltada principalmente ao romance histórico
contemporâneo em Língua Portuguesa.
58
Edyta Jabłonka
Universidade Maria Curie – Skłodowska, Lublin, Polónia
O omnipresente inglês
– moda ou necessidade?
Palavras-chave: português, anglicismo, estrangeirismo, empréstimo, blogue, neologia.
Durante muitos anos, o inglês enriqueceu o acervo lexical do português e sem
dúvida, até hoje a sua influência é atual. No nosso estudo, gostávamos de lembrar a entrada
dos anglicismos no léxico português, assim como apresentar as tendências atuais e alguns
problemas relacionados com o seu uso, especialmente concentrando-nos na linguagem dos
blogues portugueses e brasileiros. Como base do nosso estudo servir-nos-ão os trabalhos
de vários linguistas (Alves 1984, 1994, 2002, 2004, Carvalho 1998, Guilbert 1975,
Langacker 1972, Mattoso Câmara Jr. 1979, entre outros) que nos ajudarão a analisar o corpus
escolhido à base dos blogues femininos mais populares. Pretendemos ver os anglicismos
nos blogues como um elemento estilístico, no entanto, ao mesmo tempo devemos
sublinhar algumas dificuldades resultantes do conhecimento insuficiente do inglês das
autoras dos blogues. O seu uso exagerado é capaz de conduzir à falta da compreensão de
algumas expressões mais difíceis ou provenientes da linguagem especializada. Tomaremos
em consideração vários exemplos (t-shirts statement; dar um up; peça trendy
(apipocamaisdoce.sapo.pt); modelagens/styling escolhidos, um red carpet chiquérrimo; o
busto estruturado e o wet hair; vestido do pre fall da grife; rola aquele girl crush com a
Margot; o seu terceiro baby (garotasestupidas.com) e muitos outros) que confirmarão a
omnipresença do inglês na língua portuguesa em vários campos lexicais.
Nota curricular: A Professora Doutora Edyta Jabłonka leciona língua, gramática e cultura portuguesas no Departamento
de Estudos Portugueses no Instituto de Filologia Românica (Universidade Maria Curie – Sklodowska, Lublin, Polónia).
Participou em vários congressos na Polónia e em Portugal, assim como nos outros países europeus, em Macau e nos
EUA. Atualmente desenvolve a investigação na área da linguística portuguesa, nomeadamente na área da lexicologia,
realizando a pesquisa sobre a entrada dos estrangeirismos no português contemporâneo. Autora de vários artigos
científicos dedicados ao estudo da língua portuguesa, assim como à didática de português língua estrangeira.
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Eliane Santana Dias Debus
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Para além de três continentes: a literatura para infância
do escritor moçambicano Pedro Pereira Lopes
Palavras-chave: Literaturas Africanas, Pedro Pereira Lopes, infância, Moçambique, Brasil.
A presente comunicação analisa os títulos para infância do escritor moçambicano
Pedro Pereira Lopes, Kanova e o segredo da caveira (2013) e A história de João Gala-Gala (2017),
ambos publicados pela Escola Portuguesa de Moçambique, sendo que o primeiro está no
Brasil com a chancela da editora Kapulana e em Portugal como parte do acervo
selecionado para o Plano Nacional de Leitura (PNL) de Portugal, buscando estudar a
temática e as características dessa escrita. Circunscrita a três continentes (África, Europa e
América), nos deteremos ao espaço brasileiro, pois a leitura e divulgação das literaturas
africanas no Brasil decorre, para além do conhecimento da produção daquele país, da
emergência das políticas de ações afirmativas implantadas nos últimos anos, entre elas a Lei
10.639/2003 (Brasil, 2003) que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana no currículo da Educação Básica. Dar visibilidade as literaturas
africanas, nesse caso de língua portuguesa – Moçambique – possibilita ao leitor brasileiro a
ampliação do seu olhar frente a representação de uma cultura diversa, mas ao mesmo tempo
tão próxima, haja vista que a cultura brasileira tem a sua matriz imbricada a cultura daquele
continente. No caso dos leitores mirins se faz imprescindível esse encontro, que seja na
escola ou outros espaços de sociabilidade da leitura literária.
Nota curricular: Graduada em Letras, Mestre em Literatura Brasileira (UFSC, 1996), Doutorado em Letras (PUCRS,
2001), Bolsa Recém-Doutor Educação (2001-2004/ PPGE UFSC). Professora na Universidade de Santa Catarina,
atuando nos Cursos de Pedagogia e Letras e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Líder do Grupo de Pesquisa
sobre literatura infantil e juvenil e prática de mediações literária – Literalise.
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Eliete Sampaio Farneda
CET- Academic Programs – São Paulo, Brasil
Marina Nédio
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
A abordagem comunicativa através de gêneros textuais
no processo de ensino de Português Língua Estrangeira
Palavras-chave: Interação, gêneros textuais, produção textual, aprendizagem, avaliação.
Este trabalho visa observar como o ensino de uma língua através dos gêneros
textuais, pode auxiliar o processo de aprendizagem de Português como Língua Estrangeira
(PLE). A metodologia aplicada é qualitativa consistindo na aplicação de diferentes gêneros
textuais para culminar na produção de textos de opinião. Os dados foram constituídos por
atividades de leitura de textos autênticos, produção escrita, correção e reescrita aplicados na
unidade curricular de Comunicação Oral e Escrita no Curso de Português para
Estrangeiros nível B2+ da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O resultado
obtido confirma a hipótese de que a utilização de gêneros textuais, no ensino de PLE, pode
facilitar a construção de sentidos inerentes à estrutura dos textos servindo não só como
ferramenta mediadora interacional que coloca o estudante como sujeito do discurso, mas
também mostrando as funções sociais específicas exercidas por cada texto.
O aporte teórico deste trabalho pauta-se em Farneda e Futer (2016), Marcuschi
(2010), Miranda (2008), Bronckart (2005), Travaglia (2004), entre outros.
Notas curriculares:
Eliete Sampaio Farneda - Pós-doutoranda do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São
Paulo (USP) - Brasil. Possui Doutorado em Ensino de Português Língua Estrangeira, pela Atlantic International
University-USA e Mestrado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Recentemente, participou do VIII
Curso de Capacitação para a elaboração de materiais: Ensino de Português como Língua de Acolhimento no IILP Lisboa. Trabalhou com o ensino de PLE em universidades dos Estados Unidos e do Caribe. Atualmente, leciona PLE
para estudantes americanos universitários em intercâmbio no Brasil, no CET Academic Programs.
Marina Nédio - Mestra em Ensino de Português Língua Segunda/ Língua Estrangeira. Foi docente de PLE em
Universidades da China e Trinidad e Tobago; Lecionou também Cursos de Português para Estrangeiros, em Goa, através
da Fundação Cidade de Lisboa. Atualmente leciona no Curso Anual de Português para Estrangeiros na FLUC e como
formadora de PLE na Universidade de Aveiro.
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Elisabeth Battista
UNEMAT, Brasil
“Sem o direito fundamental de voltar para casa”:
Maria Archer – uma autora portuguesa no exílio
Palavras-chave: Literatura Portuguesa, exílio político, Maria Archer, Literatura e imprensa
de Língua Portuguesa.
Um grupo de escritores portugueses, portadores de alta expressão intelectual,
depois de terem se sentido no centro dos acontecimentos políticos em Portugal, em
meados do século XX, período de repressão maiúscula à liberdade de expressão, estavam
impedidos, pelo regime salazarista, de permanecer em Portugal. Assim, o exílio foi, para as
gerações de 1950 a 1970, a ruptura com o universo de referências que dera sentido à
resistência ao sistema político vigente em seu país natal. Em seu ensaio “Reflexões sobre o
exílio” (2003), Edward Said, representante da situação de diáspora, vivida por muitas
pessoas no século XX, afirma que este século é “com efeito, a era do refugiado, da pessoa
deslocada, da imigração em massa”. A nossa comunicação tem o objetivo fundamental em
refletir sobre o percurso da autora Maria Archer no exílio em terras brasileiras, desenhar
melhor a trajetória da sua atuação, situando-a historicamente no contexto de intenso
engajamento politico, social e cultural, vendo a especificidade do seu olhar sobre o Brasil.
Neste sentido indaga-se que imagens a escritora legou do Brasil através de suas produções?
Nota curricular: Elisabeth Battista é docente na graduação, na Faculdade de Educação e Linguagem- FACEL, Campus
Universitário de Cáceres e no Programa de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Estudos Literários PPGEL, da
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/Brasil.
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Emanuel Madalena
Universidade de Aveiro
Fazer no silêncio catedral:
a leitura e a escrita em Jesusalém, de Mia Couto
Palavras-chave: História da leitura e escrita, sociologia da leitura e escrita, Jesusalém, Mia
Couto, literatura lusófona, literatura moçambicana.
Começando a partir do tema da censura até à redenção – ou condenação – final
oferecida pela leitura, numa narrativa que prevê que só a memória escrita sobreviverá,
propomos explorar as representações da leitura e da escrita no romance Jesusalém, do
escritor moçambicano Mia Couto, a partir da importância fundamental dessas
representações para a narrativa, explorando as diversas dimensões que o tratamento destes
conceitos, nesta obra, pode inspirar, a partir de alguns dos temas clássicos da história e
sociologia da leitura e da escrita. Pretendemos alguma abrangência, e por isso entramos por
caminhos interpretativos por vezes algo sinuosos, especialmente nos domínios mais
metafóricos, ao procurarmos a leitura e a escrita em cada linha do texto, uma vez que os
leitores “expandem e condensam uma função que nos é comum a todos [e ler] letras numa
página é apenas uma das suas muitas manifestações”, como diz Alberto Manguel no seu
livro Uma História da Leitura. Recusamos, no entanto, qualquer pretensão de tentar esgotar a
proposta, quer pela óbvia impossibilidade ontológica e semiótica quer por preferirmos dar
espaço e até incentivar novas camadas e olhares sobre o tema.
Alicerçando a nossa exploração na história da leitura – nomeadamente nos
conceitos do tão telúrico quanto espirituoso livro não académico de Alberto Manguel, já
mencionado –, e num percurso omnívoro sobre a sociologia da leitura feito a partir da
docência de uma unidade curricular com tal designação, só não nos remetemos apenas à
leitura porque a escrita lhe é inseparável. Dizer que “sem escrita não haveria leitura” é
desnecessário, e este romance trata de interligar os dois impulsos como as duas faces da
mesma moeda que realmente constituem, como especificamos nesta comunicação que
agora propomos.
Nota curricular: Doutorando em Estudos Literários na Universidade de Aveiro; Mestre em Estudos Editoriais pela
Universidade de Aveiro; Licenciado em Comunicação e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto;
Docente na Universidade de Aveiro; Freelancer na área da edição.
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Fernando Venâncio
Universidade de Amsterdam
Luís Camões e Luís Fróis:
o Oriente como renovador da língua portuguesa
Palavras-chave: Léxico, português, castelhano, Oriente, Luís de Camões, Luís Fróis.
Uma observação das estreias lexicais no Português do século XVI põe em evidência
dois autores: o poeta Luís de Camões e o epistológrafo jesuíta Luís Fróis (1532-1597). Este
último viveu toda a sua vida adulta no Oriente, primeiro em Goa, depois no Japão. Uma
parte do tempo goês de Camões coincidiu com o de Fróis, não sendo de excluir que se
tenham conhecido. O desempenho linguístico de ambos (e de outros autores, como Gaspar
de Leão) reforça a imagem de Goa como pujante centro cultural em meados de
Quinhentos. O resultado líquido para a língua portuguesa é o de um considerável
enriquecimento do léxico culto de âmbito latino. Mas só parcialmente isso significa uma
'latinização' do nosso idioma, já que uma significativa parcela desse léxico era corrente em
castelhano, fazendo assim parte da enciclopédia passiva do português letrado. Isso não
diminui o papel da sociedade portuguesa oriental na renovação quinhentista do Português.
Nota curricular: Fernando Venâncio (Mértola, 1944) fez estudos secundários em Portugal e licenciou-se em Linguística
Geral na universidade de Amsterdam (1976), onde também se doutorou (1995). Exerceu docência nas universidades
holandesas de Nimega e Utreque, e sobretudo em Amsterdam, a que continua ligado como investigador sénior. Publicou
ensaio e crítica literária em periódicos portugueses (JL, Ler, Expresso, Colóquio-Letras e outros). Publica estudos de
linguística histórica portuguesa em revistas internacionais e actas de congressos.
64
Filipa Filipe
FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Pelos mares da América: Uma aprendizagem contextualizada
da Língua Portuguesa nos Estados Unidos da América
Palavras-chave: Português como Língua Estrangeira, ensino da Língua Portuguesa nos
Estados Unidos da América, American Council on the Teaching of Foreign Languages; Standards for
Foreign Language Learning in the 21st Century, proficiência, aprendizagem contextualizada de
línguas estrangeiras.
A finalidade deste estudo é apresentar uma panorâmica sobre o ensino da Língua
Portuguesa nos Estados Unidos da América, à luz de dois documentos estruturais (ACTFL
Proficency Guidelines e Standards for Foreign Language Learning in the 21st Century) da política
educative norte-americana para as línguas estrangeiras.
Partindo do papel central atribuído à comunicação, estabeleceremos uma relação
entre os cinco objetivos gerais para a aprendizagem das línguas estrangeiras e o quadro de
referência de níveis da American Council on the Teaching of Foreign Languages, tendo em vista a
sua operacionalização nos modos de comunicação interpretativo, interpessoal e expositivo.
O objetivo será avaliar as consequências ao nível curricular e didático da defesa de
uma instrução contextualizada das línguas estrangeiras, que reflete o uso real, e é a base
para uma abordagem que visa desenvolver a proficiência linguística em Português,
considerada uma língua crítica no país.
Nota curricular: Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos e mestre em Ensino de Português e de Línguas
Clássicas pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem desempenhado funções
como formadora de professores, em Timor-Leste, e como professora de línguas modernas – Português (LM/LE),
Espanhol (LE) e Inglês (LE) –, em Portugal e nos Estados Unidos.
65
Flavia Maria Corradin
Universidade de São Paulo, Brasil
O eterno mito inesiano redivivo no além-mar
Palavras-chave: Língua portuguesa, literatura
intertextualidade, literatura luso-brasileira.
infanto-juvenil,
Inês
de
Castro,
Esta comunicação intenta discutir, sob a óptica da intertextualidade, três textos de
autores brasileiros contemporâneos que dialogam com o eterno mito de Inês de Castro
que, há quase sete séculos, transcende as fronteiras do imaginário português para encontrar
abrigo em outros espaços europeus, mas também no além-mar, em terras brasileiras, onde
ecoa e é flagrado pela língua pátria. Dentro deste contexto, pretendemos tratar de textos
que veiculam linguagens distintas e dirigem-se a públicos de diferentes faixas etárias, tendo
como fio condutor o mito inesiano que, em última instância, versa a saudade, termo tão
próprio da nossa Língua Portuguesa. Trataremos, pois, dos cordéis O Caso de Pedro e Inês:
inês(quecível) até o fim do mundo, de Francisco Maciel Silveira e A história de Inês de Castro: a
dama lourinha que, depois de morta, virou rainha, de Fábio Sombra, e do livro infantil: Inês, de
Roger Mello.
Nota curricular: Professora Associada (Livre-Docente) de Literatura Portuguesa Universidade de São Paulo, onde
obteve os títulos de Mestre, Doutora e Livre Docente com os trabalhos Antônio José da Silva, o Judeu: textos versus
(con)textos, Camilo Castelo Branco: dramaturgia e romantismo e O teatro da história em Jaime Gralheiro: Futuro de que passado?,
respectivamente. Ensaísta e crítica literária, tem publicado no Brasil e no Exterior. Atua na docência, pesquisa e
orientação com ênfase no Romantismo e no teatro português.
66
Francisco Maciel Silveira
Universidade de São Paulo, Brasil
Mar transcontinental: a paixão abissal de Pedro e Inês
segundo a visão ciclópica do divã de Freud
Palavras-chave: Mito, Freud, História, Teatro, Literatura luso-brasileira, Mar transcontinental.
Propõe-se uma comunicação em torno de Inês de Castro, peça escrita pelo
historiador e biógrafo Gondim da Fonseca (RJ, 1899-1977). Justifica-se a proposta por, na
vasta bibliografia em torno do mito inesiano, não se dar atenção à referida peça, que, sem
dúvida alguma, merece ser examinada pela originalidade e pelo inusitado enfoque. Nela,
Gondim da Fonseca, em três atos e um minucioso Posfácio elucidativo, trata do caso
Pedro/Inês à luz da psicanálise freudiana, sugerindo que a eternidade do mito decorre da
bolinação de zonas românticas e edipianas do inconsciente coletivo, no diálogo
transcontinental entre Portugal e Brasil.
Nota curricular: Professor Titular de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, onde obteve os títulos de Mestre, Doutor e Livre-Docente, com trabalhos em torno da
oratória sagrada dos Padres António Vieira, Manuel Bernardes e da comediografia de António José da Silva, o “Judeu”.
Crítico literário, tem publicado ensaios e resenhas em periódicos do Brasil e do Exterior. Ficcionista e poeta, com mais de
vinte prêmios literários nos âmbitos da ficção, poesia e ensaio, é autor de dois livros de contos. Autor de vários títulos que
percorrem os âmbitos didático, ensaístico, ficcional, poético e dramatúrgico. Tratando de pinturas e pintores, desenvolve
o site Pinceladas sobre a pintura alheia: http://www.pinceladas-fms.com.br.
67
Francisco Topa
CITCEM / Universidade do Porto
“Galinha à cafreal”:
José Craveirinha meio século depois
Palavras-chave: língua, ideologia, racismo, José Craveirinha, Moçambique, imprensa.
A comunicação aborda uma polémica travada por José Craveirinha em jornais de
Moçambique, a partir de uma crónica que publicou em finais de 1962 contra o caráter
racista da expressão “galinha à cafreal”. Partindo desse caso, apresentarei uma reflexão
sobre essa vertente do português e sobre as mudanças que vêm acontecendo.
Nota curricular: Francisco Topa (n. Porto, 1966) é Professor Associado do Departamento de Estudos Românicos da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, lecionando nas áreas de Literatura e Cultura Brasileiras, Crítica Textual,
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Literaturas Orais e Marginais. Doutorou-se em Literatura, em 2000, na
mesma Faculdade, com uma tese sobre o poeta barroco Gregório de Matos. Obteve em 2016, também na FLUP, o título
de Agregado em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos, especialidade de Literatura e Cultura. A sua investigação
tem estado dirigida para a literatura portuguesa e brasileira dos séculos XVII e XVIII, para as literaturas africanas de
língua portuguesa e para algumas áreas da literatura oral e marginal. É autor de dezoito livros e de cerca de uma centena
de artigos e outras publicações nos domínios mencionados.
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Giselle Menezes Mendes Cintado
Universidade Pablo de Olavide - Sevilha, Espanha
Uma interação sociolinguística através da gramática comunicativa
com universitários em aulas de PLE – alguns casos de estudo no sul da Andaluzia.
Palavras-chave: Gramática comunicativa, Português como língua estrangeira, linguística,
Espanha, Portugal, fronteira.
Este trabalho tem como objetivo apresentar reflexões sobre enfoques pedagógicos
vinculados ao ensino da Gramática e da Sociolinguística em aulas de Português como
Língua Estrangeira (PLE) em centros de ensino de português para estrangeiros em Sevilha
e seus arredores, cujo corpo discente conta com alunos provenientes da região da
Andaluzia e de outras cidades espanholas, assim como universitários oriundos de diversos
países através do Programa Erasmus. Nosso referencial teórico inclui autores como Siguan
(2001), Tavares (2008) e Rey (2012), bem como Gonçalves et al. (2016), Osório, Meyer et al.
(2008) e, não menos importante, Matte Bon (1988). Todos esses autores tratam temas
como, por exemplo, o papel do ensino de português como língua estrangeira, a aplicação
das teorias linguísticas à teoria e à prática do ensino de línguas, a gramática comunicativa
nas aulas de segundas línguas, além de apresentarem perspectivas para o ensino de
Português como Língua Segunda (PLS) e PLE nos dias atuais.
Referências:
Gonçalves, L. (org.) (2016). Fundamentos do Ensino de Português como Língua Estrangeira. USA:
Boavista Press:
Matte Bon, F. (2010). De nuevo la gramática. In MarcoELE: Antología de los Encuentros
Internacionales del Español como Lengua Extranjera, n. 11, pp. 243-266.
Matte Bon, F. (2007). En busca de una gramática para comunicar. MarcoELE: Revista de
Didáctica del ELE. http://www.marcoele.com/num/5/02e3c0996c1120f05/En_busca_de_una_gramatica_para_comunicar.pdf.
Osório, P. & Meyer, R. M. (2008) (orgs.). Português Língua Segunda e Língua Estrangeira – da(s)
teoria (s) à(s) prática (s). Lisboa: Lidel.
Possenti, S. (2006) Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras.
Rey, R. A. (2012). La transferencia en el aprendizaje de portugués por hispanohablantes. Salamanca:
Luso-Española de Ediciones.
Siguan, M. (2001). Bilingüismo y Lenguas en Contacto. Alianza Editorial: Madrid.
Tavares, A. (2008). Ensino Aprendizagem do Português como Língua Estrangeira. Lisboa: Lidel
Nota curricular: Giselle Menezes Mendes Cintado é licenciada em Letras pela UNIFEOB de São João da Boa Vista São Paulo (Brasil), é professora de PLE (Português como Língua Estrangeira) em Sevilha desde 2008. Lecionou no CELP
Sevilha – Centro Oficial de Estudos de Língua Portuguesa - CAPLE pela Universidade de Lisboa de 2008 a 2017; foi
professora de português (PLE) na Universidade de Huelva durante os cursos 2010-2011, 2011-2012; tem Mestrado em
Ensino Bilíngue pela Universidade Pablo de Olavide (UPO, Sevilha). Atualmente é Doutoranda na Área de História e
Estudos Humanísticos: Europa, América, Arte e Línguas na UPO, com estudos vinculados à língua portuguesa e
espanhola no ramo do Bilinguismo, Políticas Linguísticas e PLE em zona de fronteira entre o sul da Espanha e o
Algarve. Desde 2013 participa como professora convidada de português no Mestrado Trilíngue em Línguas Aplicadas ao
Comércio Internacional na Universidade Paris-Est Créteil (antiga Universidade Paris XII) Campus Val-de-Marne,
França. Tem artigos publicados no Brasil, EUA, Espanha e Portugal.
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Helena Maria da Silva Santana
Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro
Maria do Rosário da Silva Santana
Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto do Instituto Politécnico da
Guarda
O sonho e a Arte reditos na magia de uma obra
– As Feiticeiras de António Chagas Rosa e Maria Teresa Horta
Palavras-chave: António Chagas Rosa, Maria Teresa Horta, As Feiticeiras, Sept Contes de
Musicatreize, música portuguesa, conto infantilAntónio Chagas Rosa possui uma vasta obra para voz e instrumentos. O seu
interesse por imaginários transmitidos pela palavra, fá-lo debruçar-se, em diferentes
momentos, por textos de autores portugueses, mas também estrangeiros. No ano de 2006,
e sob o impulso de Roland Hayrabedian, teve início a estreia de Sept Contes de Musicatreize –
sete contos musicais sobre libretos e composições originais. Oriundos de sete países
europeus, os contos foram concebidos tendo em conta os textos de sete escritores e a
música de sete compositores. Cada narração propõe uma viagem a um imaginário
específico. Foi pedido que o escritor se inspirasse no reservatório inesgotável dos contos e
lendas que formam a memória colectiva dos povos e dos países, com o objectivo de falar à
alma e ao coração de um público que se desejou de todas as idades. António Chagas Rosa
inaugurou o ciclo, estreando a 29 de Março de 2006, no Théatre Des Bernardines, em
Marselha, a sua versão musical do poema dramático original da poetisa Maria Teresa Horta
– As Feiticeiras. As Feiticeiras descobre-nos um imaginário fantasmagórico onde o figurativo
se cruza com a realidade, num confronto titânico de forças opostas e terríficas, e onde o
homem se acha místico e escravo de fazeres e dizeres estoicos e históricos, onde o medo se
sobrepõe à razão, e soçobra em mares de quimeras e utopias, mitos e razões. Trata-se de
um texto inebriante, que opõe magas a inquisidores, numa luta de vida e de morte,
terminando por um sacrifício ritual de fogo. A obra em 4 actos, para 10 cantores e
ensemble instrumental, tem a duração de 50 minutos. Mostrar de que forma a mestria do
compositor ilustra, caracteriza e define o imaginário de As Feiticeiras proposto por Maria
Teresa Horta é o objectivo desta nossa comunicação. Caracterizar técnica e estilisticamente
o compositor também.
Notas curriculares:
Helena Santana estudou Composição Musical na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto. Em 1998
obteve o grau de Docteur na Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV). Desde 2000, desempenha as funções de
Professor Auxiliar no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro. Pertence à unidade de
Investigação – Inet-MD -, realizando diversa investigação no domínio da música contemporânea.
Rosário Santana estudou Composição Musical na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto. Em 1998
obteve o grau de Docteur na Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV). Desde 1999, desempenha as funções de
Professora Coordenadora. Pertence à Unidade de Investigação Inet-MD, colaborando ainda com a Unidade de
Investigação e Desenvolvimento do Interior do Instituto Politécnico da Guarda, desenvolvendo intensa atividade nas
áreas das expressões artísticas e da música contemporânea, nomeadamente a portuguesa.
70
Hilarino Carlos Rodrigues da Luz
CHAM, FCSH-UNL/UAC
O mar na poesia de Ruy Duarte de Carvalho, Jorge Barbosa
e na obra Os Pescadores de Raul Brandão
Palavras-chave: Produção literária, o mar, insularidade, viagem, infinito.
O mar, local “misterioso”, é entendido cosmicamente como sendo uma fonte de
energia fecundadora, o que o faz assumir um papel distinto nas díspares cartografias que
ultrapassam as fronteiras reais dos mapas e abrem espaços abstratos arrolados à extensão
literária, fantástica e histórica.
O oceano configura-se, assim, como sendo uma vasta imagem aquática, onde
refletem linguagens indiretas da natureza. Os ruídos oceânicos e as cadências da maré
movem-se como agentes catalisadores das recordações submersas, deliberando os excertos
confiados no inconsciente coletivo, lendário e memorável (Secco, 2000). Essa vinculação à
memória coletiva faz com que adquire conotações subjetivas, como um itinerário de
regresso às origens e de polifonia temática em autores de diferentes países.
Para o efeito, pretendemos, com esta comunicação, abordar a temática do mar em
três autores de língua portuguesa Ruy Duarte de Carvalho, Jorge Barbosa e Raul Brandão.
Nota curricular: Hilarino Carlos Rodrigues da Luz, Investigador Integrado, e Bolseiro de Pós-Doutoramento do
CHAM, FCSH-Universidade NOVA de Lisboa, é Doutor em Estudos Portugueses, especialização em Literaturas e
Culturas de Língua Portuguesa, Mestre em Estudos Portugueses, especialização em Estudos Literários, e Licenciado em
Línguas e Literaturas Modernas – Variante de Estudos Portugueses.
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Inês Cardoso - Camões, I. P., York University, Canadá; CIDTFF
Maria João Dodman - York University, Canadá
Luciana Graça - Camões, I. P., University of Toronto, Canadá
Estudos lusófonos no ensino superior canadiano:
percursos e estratégias de duas universidades no Ontário
Palavras-chave: Estudos lusófonos, Ensino Superior, Português Língua de Herança,
Português Língua Estrangeira, ensino de Literaturas Lusófonas, opções pedagógicas.
Na nossa intervenção, pretendemos apresentar os dois únicos programas de
licenciatura em estudos lusófonos na província do Ontário, onde está concentrado o maior
número de pessoas que se identificam como “lusófonas” (Statistics Canada's 2011): Portuguese
and Luso-Brazilian Studies (York University) e Portuguese program (University of Toronto),
ambos em Toronto. O primeiro, criado em 2008; o segundo, em 1947.
Estes programas, apoiados parcialmente pelo Camões, I.P., têm tido uma
colaboração estreita, nomeadamente na dinamização cultural. Disponibilizam uma oferta
curricular ampla, no âmbito das literaturas e culturas lusófonas bem como disciplinas de
língua cujo objetivo é a aquisição e aperfeiçoamento de competências de comunicação oral
e escrita em Português.
Examinamos os repertórios sociolinguísticos e as motivações dos alunos para
ingressarem nas nossas disciplinas, através de diferentes técnicas de recolha (testes de
colocação online, textos dos alunos, depoimentos). Assim, pretendemos traçar a
caracterização do nosso público discente em termos da origem étnica com que se identifica,
para ver que indícios de relação com o Português e as culturas lusófonas manifesta e que
correlações se estabelecerão com a sua etnicidade.
Os resultados desta análise – atualizada continuamente – têm norteado as nossas
decisões em termos de opções pedagógicas e oferta (co)(extra)curricular, designadamente
contribuído para traçarmos a evolução dos nossos programas, gerindo desafios colocados
pela heterogeneidade de perfis de aprendizagem e de diferentes relações com a língua
portuguesa (LP) e culturas lusófonas. Nesta breve caracterização, apresentaremos as
estatísticas de ingresso nas nossas disciplinas desde 2008 e demonstraremos como os
nossos programas, apesar de historicamente diferenciados, convergem em linhas de força
conducentes à sua afirmação num ambiente universitário plural e competitivo, mormente:
oportunidades de educação experimental; interdisciplinaridade; relação com as
comunidades de LP; integração da tecnologia e de metodologias centradas no aluno; o
valor das humanidades atualmente – maior adesão ao texto literário através da promoção
de conexões identitárias.
Notas curriculares:
Inês Cardoso - Sessional Assistant Professor, docente do Camões, I. P. na York University. Licenciada em ensino de Português,
Latim e Grego pela UA, e doutorada em Didática, na mesma instituição, tem prosseguido investigação em Didática
do Português, bem como atuado na formação de professores. É membro do grupo “PROTEXTOS: ensino da
produção de textos” e integra o Centro de Investigação “Didática e Tecnologia na Formação de Formadores”.
Maria João Dodman - Associate Professor, Portuguese & Luso-Brazilian Studies, York University. Doutorada pela Universidade de
Toronto, é professora na York University desde 2008. A sua investigação e publicações incluem o Renascimento e o
Barroco ibérico, encontros coloniais, Açorianidade e escritores luso-canadianos. É membro de várias revistas
académicas e centros de investigação.
Luciana Graça - Leitora do Camões, I. P. na Universidade de Toronto. Licenciou-se em ensino de português, latim e grego
e em ensino de estudos portugueses (português e espanhol), na UA; e recebeu o seu Doutoramento em Didática,
também na mesma instituição. Os seus interesses investigativos inscrevem-se no campo da Didática do Português. É
membro do grupo “PROTEXTOS: ensino da produção de textos”.
72
Inês Conde
Susana Nunes
ESECS, Instituto Politécnico de Leiria; CELGA-ILTEC
Pelos mares do Oriente:
visões da língua portuguesa na imprensa macaense
Palavras-chave: China, Portugal, língua portuguesa, ensino-aprendizagem do Português,
relações sociais e económicas, representações verbais e visuais.
Tomando como ponto de partida a intensificação das relações sociais e económicas
entre a China e a Europa, designadamente com Portugal, pretendemos, com esta
comunicação, analisar a forma como a imprensa macaense tem colaborado em processos
de representação dessas mesmas relações, designadamente no que se refere ao contexto
lusófono, à língua portuguesa e ao ensino-aprendizagem do Português.
Segundo Fairclough (2006), o estudo da forma como, na economia política e
cultural contemporânea, os objetos políticos e económicos são socialmente construídos,
implica, simultaneamente, a análise da forma como, nos textos mediáticos, se constituem
identidades sociais particulares e se instanciam significados, valores, narrativas e atitudes
culturais. A linguagem participa nesta dinâmica, na medida em que, nos processos de
transformação económica e social, o discurso tem desempenhado um papel preponderante:
por um lado, essas alterações implicam, também, modificações na linguagem, incluindo
modos de significação linguística, mas também visual, digital, entre outros, como partes
integrantes da realidade social; por outro, as transformações são também elas discursivas
(Fairclough, 2003), sendo que tanto os objetos como os sujeitos são efeitos do discurso.
Partindo deste enquadramento, a pesquisa tem como objetivos não só identificar e
interpretar discursos sobre a língua portuguesa e sobre o ensino-aprendizagem do
Português em representações verbais e visuais de jornais macaenses de referência, em
edições de 2017, mas também aferir a forma como, nessas configurações, se negoceiam
significados que colaboram na naturalização de identidades e papéis sociais. O estudo
recupera os contributos teóricos e metodológicos da Análise Crítica do Discurso e da
Semiótica Social, exploradas como ferramentas facilitadoras de uma reflexão crítica que
problematiza as articulações interdiscursivas e imagéticas sobre a língua portuguesa e o
ensino-aprendizagem do Português como enriquecimento cultural, por um lado, e, por
outro, como um agente de investimento e crescimento em vários domínios, tendo em
conta os diferentes contextos sociais, políticos e económicos que enquadram as
representações.
Notas curriculares:
Inês Conde é doutoranda em Ciências da Comunicação, ramo da Análise Crítica do Discurso, na Universidade da Beira
Interior. Desde 2004, é docente no Instituto Politécnico de Leiria, nas áreas do Português língua materna e língua
estrangeira, da Semiótica e da Análise do Discurso. Nesta instituição, foi coordenadora, entre 20013 e 2017, da
licenciatura em Tradução e Interpretação Português/Chinês - Chinês/Português.
Susana Nunes é doutorada em Linguística Portuguesa pela Universidade de Coimbra. Recebeu, em 2006, o prémio de
investigação da Associação Portuguesa de Linguística. Desde 2003, é docente no Instituto Politécnico de Leiria, nas áreas
do Português língua materna e língua estrangeira. Nesta instituição, foi coordenadora, entre 2009 e 2013, da licenciatura
em Tradução e Interpretação Português/Chinês - Chinês/Português. Atualmente, é também professora auxiliar
convidada na Universidade de Coimbra, onde leciona Português Língua Estrangeira.
73
Inês Costa
Universidade de Aveiro
Granta África: uma leitura pós-colonial
Palavras-chave: Granta, estudos literários, pós-colonialismo, afropolitan, estereótipos,
Binyavanga Wainaina.
A relevância literária da revista Granta e o seu caráter de antologia justificam a
proposta deste trabalho, cujo objetivo é identificar a presença de temas e discursos póscoloniais na componente textual do volume número quatro da edição portuguesa,
intitulado “África”, assim como avaliar a possibilidade de este contribuir para a reprodução
dos estereótipos negativos e clichés associados ao continente e seus habitantes enunciados
por Binyavanga Wainaina no texto Como Escrever Acerca de África. A análise qualitativa,
necessariamente não exaustiva pela brevidade imposta por um trabalho de caráter
ensaístico, permitiu concluir que, apesar de existir diversidade nos temas abordados, esta
publicação retrata uma África subsariana, predominantemente costeira e cosmopolita, onde
Angola e Moçambique têm uma presença reforçada — o que identificamos como uma
marca colonial —, e que continua a dar voz aos mais favorecidos (mesmo que possam
situar-se entre os menos favorecidos) e a ignorar a opinião dos restantes. A inclusão do
texto de Wainaina permite, ainda assim, relembrar ou despertar o leitor ocidental para os
lugares-comuns amplamente difundidos no Ocidente e reforçar a ideia, defendida no
editorial da revista, de que África não é uma entidade homogénea, não podendo, portanto,
ser condensada num único volume de uma revista literária.
Nota curricular: Licenciou-se em Engenharia Civil pela FEUP (2006) e concluiu o mestrado em Estudos Editoriais na
Universidade de Aveiro (2017). É, atualmente, doutoranda em Estudos Literários, na mesma instituição, e investigadora
em formação no CLLC, onde também colabora ao abrigo de uma bolsa de Gestão de Ciência e Tecnologia. Dedica a sua
investigação à literatura infantojuvenil, em particular aos fenómenos de transfers culturais e mediação literária.
74
Irene Mendes
Universidade Politécnica, Moçambique
O léxico em textos jornalísticos:
da morfologia à semântica
Palavras-chave: Léxico, lexia simples, lexia complexa, textos jornalísticos, morfologia, e
semântica.
Esta comunicação pretende apresentar os resultados da análise lexicológica,
efectuada a partir da leitura de textos jornalísticos, mais especificamente de uma
reportagem, retirada do jornal Notícias. À medida que ia lendo uma reportagem sobre a
prostituição no centro de Moçambique, ia deliciando-me com o sentido conotativo e os
processos de formação de algumas unidades lexicais (palavras) empregues pelo jornalista.
Assim, os dois objectivos deste trabalho são: analisar os significados atribuídos a algumas
unidades lexicais inseridas num texto jornalístico e os processos de formação dessas
mesmas unidades lexicais.
Os textos jornalísticos, por natureza, apresentam uma dose de objectividade que os
remete à imparcialidade e à neutralidade, suas características essenciais, principalmente em
texto jornalístico informativo, por oposição aos textos interpretativos. No entanto, na
prática, os textos jornalísticos, tal como os textos literários, acompanham a evolução social,
política e económica de um país, razão pela qual, ao ler artigos de jornais moçambicanos,
deparámo-nos com vocábulos e expressões que pertencem a diferentes áreas de actividades
revestidos de uma riqueza lexical inquestionável, graças à conotação que se atribui a essas
unidades lexicais.
Ao ler a reportagem do jornal moçambicano Notícias, (jornal público e de grande
tiragem) sobre a prostituição em Nhamapaza, que fica no centro de Moçambique, fui
fazendo um levantamento de algumas unidades lexicais com sentido figurado. Agradou-me
ter constatado que o jornalista, ao escrevera sua reportagem, tal como os escritores,
também sentiu necessidade de recorrer a figuras de estilo e a novos processos de formação.
Estas unidades lexicais podem ser resultantes de produções linguísticas de uma
determinada população, neste caso, da realidade de Nhamapaza, ou resultantes de
produções mais generalizadas, utilizadas por uma maioria de moçambicanos.
Nota curricular: Doutorada em Linguística, área de especialização em Lexicologia na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com o tema da tese: Da Neologia ao Dicionário. O caso do Português de Moçambique.
Docente das disciplinas de Comunicação Oral e Escrita e Técnicas de Comunicação na Universidade Politécnica
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Isabel Falé
Universidade Aberta, Lisboa
Pelas ondas sonoras do português europeu:
variação entoacional na produção de frases imperativas
Palavras-chave: Entoação, variação prosódica, frases imperativas, produção, perceção
categorial, gama de variação.
Em Português Europeu (PE), as frases imperativas são morfológica e
sintaticamente marcadas. Estas características gramaticais são habitualmente apontadas
como suficientes para distinguir as imperativas de outros tipos de frase. No entanto, as
características entoacionais das imperativas parecem ser fortemente proeminentes e
parecem desempenhar um papel importante na perceção e no processamento do PE.
O presente trabalho apresenta investigação realizada em duas vertentes: a da
produção e a da perceção. Os dados de produção foram obtidos através de uma situação
experimental na qual participaram quatro informantes. Procedeu-se ao registo da leitura de
frases imperativas com e sem indução de contexto. Estes dados foram organizados num
teste de perceção (Teste de Perceção I), constituído por 195 sequências sonoras de
diferentes tipos de frase: declarativas, interrogativas, interrogativas qu-, imperativas
exclamativas. As frases classificadas como imperativas por 75% dos informantes foram
analisadas acústica e foneticamente com o software Praat, tendo em consideração variáveis
selecionadas. Os dados decorrentes deste processo foram estatisticamente trabalhados. Os
resultados revelaram que a diferença entoacional entre uma frase declarativa e uma frase
imperativa se relaciona quer com eventos locais, que determinam o contorno entoacional,
quer com eventos globais, que posicionam os níveis de frequência fundamental.
Para confirmar a existência de uma categoria entoacional imperativa, foi
desenvolvido um teste de perceção categorial (Teste de Perceção II). A partir de duas frases
naturais, foram criadas, por manipulação acústica (PSOLA), duas sequências sonoras multietapas, que progridem de um contorno declarativo a um contorno imperativo.
Estas sequências foram submetidas a teste, tendo sido solicitado a 20 informantes,
falantes nativos de PE, que desempenhassem duas tarefas: uma tarefa de identificação e
uma tarefa de discriminação. Recolheram-se dados comportamentais respeitantes à
categorização e aos respetivos tempos de reação. Os resultados mostraram que o protótipo
da categoria imperativa em PE está claramente relacionado com valores de frequência
fundamental elevados e com um contorno entoacional específico.
Nota curricular: Isabel Falé exerce as funções de Professora Auxiliar do Departamento de Humanidades da
Universidade Aberta, Diretora do Departamento de Humanidades, Investigadora Responsável do Laboratório de
Psicolinguística do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e Presidente da Associação Portuguesa de
Linguística. Obteve o grau de Doutora em Psicolinguística pela Universidade de Lisboa (2006), com uma tese sobre
produção e perceção de entoação em português europeu. Nos últimos anos, tem realizado investigação sobre a
importância da prosódia e da complexidade linguística na fluência de leitura, com recurso ao registo de movimentos
oculares. É coautora de várias comunicações e artigos na área da fonética e da psicolinguística, nomeadamente do livro
Fonética e Fonologia do Português, editado em 2016, pela Universidade Aberta.
76
Isabel Roboredo Seara
Universidade Aberta, Lisboa
O paradoxo do género ‘comentário digital’:
da exaltação à violência verbal
Palavras-chave: Comentário digital, análise do discurso, atos ilocutórios, ethos discursivo,
extimização.
Au delà du stéréotype, le commentaire est l’une des formes
technodiscursives les plus fréquentes et les plus riches d’internet, et il
constitue un objet majeure pour l’analyse du discours numérique.
(Paveau 2017: 36)
Partindo da evidência que o comentário é um dos mais importantes espaços de
relacionamento dos enunciados nas redes sociais (Paveau 2017: 41), ensaiaremos mostrar e
categorizar alguns comentários, relevando, a partir da análise do corpus recolhido em 201718 (na rede social facebook), as estratégias verbais predominantes. Procedendo a uma
análise pragmático-discursiva, recensear-se-ão as estratégias de convergência com o
enunciado-base, de divergência, de julgamento constante, de contestação, de polémica, de
agressividade, incluindo as que denunciam um discurso de violência verbal (Bellachhaab
2012), ao qual subjaz a necessidade de ‘extimização’ (Tisseron 2011) da imagem do
enunciador e da exacerbação dos sentimentos. Será o comentário digital a vitrine do ethos
discursivo dos enunciadores?
Nota curricular: Isabel Roboredo Seara é professora auxiliar do Departamento de Humanidades e coordenadora do
Mestrado em Estudos de Língua Portuguesa, na Universidade Aberta, Lisboa. É membro do Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa e do Grupo de Investigação Pragmática. Discurso. Cognição (PraDiC) do Centro de
Estudos Humanísticos da Universidade do Minho. Colabora em projetos de investigação no Laboratório de Educação a
Distância e e-learning (LeaD). É doutorada em Linguística Portuguesa e desenvolve trabalho de investigação no âmbito
dos estudos de pragmática, análise do discurso, retórica, epistolografia, privilegiando igualmente os estudos de
comunicação mediada por computador, nomeadamente os efeitos sociais e linguísticos das tecnologias digitais.
77
Isabel Sebastião
Centro de Linguística da Universidade do Porto
Manuais de português língua estrangeira:
um posicionamento ideológico?
Palavras-chave: Manuais, português língua estrangeira, ideologia, discurso, identidade
social e cultural.
Os manuais desempenham um papel muito importante no processo de ensino e
aprendizagem de uma língua estrangeira. O manual é um instrumento que (re)produz e
transmite o conhecimento da língua em estudo. Vários trabalhos têm revelado que manual
possui e transmite representações, conceções e interpretações particulares do
conhecimento transmitido (Castro et al., 1999; van Dijk, 2003; Atienza, 2007; Atienza &
van Dijk, 2010; Oteíza & Pinto,2011). Estas representações podem apresentar estereótipos
sob os quais se podem encontrar determinadas orientações ideológicas que permitem
perpetuar determinada maneira de ver a realidade
Neste sentido, este trabalho parte do pressuposto teórico de que o discurso do
manual constrói e projeta ideologia. Assim, o objetivo é o perceber a(s) relação(ões) entre o
discurso do manual e a língua e a cultura portuguesas, através da análise (crítica) de manuais
disponíveis para o ensino do português enquanto língua estrangeira. Os manuais de
português língua estrangeira possuem valor institucional, uma vez que transmitem uma
imagem sobre a língua e a cultura portuguesas. Considera-se que esta perspetiva de análise
constitui um contributo para o desenvolvimento da capacidade crítica e da competência
leitora quer de alunos quer de professores (Ezeiza, 2009). Tendo como corpus três manuais
de português língua estrangeira, numa metodologia de caráter qualitativo e servindo-se de
ferramentas da análise (crítica) do discurso, esta comunicação pretende apresentar e
descrever alguns dos recursos linguísticos e discursivos que contribuem para suportar uma
determinada orientação ideológica da língua e da cultura portuguesas.
No que refere a resultados, verifica-se que nos manuais de português língua
estrangeira está, à partida, subjacente o interesse particular dos seus autores em destacar
certos conhecimentos culturais e detrimento de outros, criando estereótipos, ou, ainda,
perceber que um manual pode estar mais empenhado em reforçar a identidade nacional e
outro mais preocupado em preparar os seus utilizadores para a atividade turística.
Referência bibliográficas
Atienza, E. (2007). Discurso e ideología en los libros de texto de ciencias sociales. Discurso & Sociedad, 1(4), pp. 543-574.
Atienza E, Van Dijk T. (2010). Identidad social e ideología en libros de texto españoles de ciencias sociales. Revista de
Educación. (353): pp. 67-106.
Castro, R. V., Rodrigues, A., SILVA, J. L. & Sousa, M. L. D (1999) (org). Manuais Escolares – estatuto, funções, história. Braga:
Instituto de Inovação e Psicologia/ Universidade do Minho.
Ezeiza, J. (2009). Analizar y comprender los materiales de enseñanza en perspectiva profesional: algunas claves para la
formación del professorado. marcoELE. / núm. 9, pp. 1-58.
Oteiza, T. & Pinto, D. (2011). En (re)construcción: discurso, identidade y nación en los manuales escolares de história y de ciencias sociales.
Santiago: Editoral Cuarto próprio.
Van Dijk, T. (2003). Ideología y discurso. Una introducción multidisciplinaria. Barcelona: Ariel.
Nota curricular: É investigadora de pós-doutoramento no Centro de Linguística da Universidade do Porto (CLUP), com
uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e investigadora do Centro de Linguística da Universidade Nova de
Lisboa (CLUNL). Tem desenvolvido trabalho de investigação na área da Análise do Discurso e do ensino do português
(língua materna e não materna) e publicado artigos científicos em Portugal e no estrangeiro.
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Isabelle Simões Marques
Universidade Aberta, CLUNL / CLLC
Navegando pelas línguas:
interculturalidade e plurilinguismo literário
Palavras-Chave: interculturalidade, plurilinguismo, literatura africana de língua portuguesa,
variantes da língua portuguesa, PLNM.
Veremos, na nossa comunicação, que a coexistência de várias línguas nos textos
literários não é um caso marginal de “expressionismo” literário e/ou um desvio de um
centro representado por uma única língua dominante e oficial. Nesta comunicação
insistiremos na importância do plurilinguismo no desenvolvimento e na produção do texto
literário ou do sistema literário de um autor ou de uma época, e focar-nos-emos nas
diferentes formas que podem assumir.
Num primeiro momento, consideraremos a estética do plurilinguismo, estudando
algumas das suas estratégias textuais, mapeando certas questões conceituais e analisando as
suas possibilidades nas escritas pós-coloniais e migratórias.
Num segundo momento, veremos que este tipo de literatura permite abrir
fronteiras e mostrar como as línguas estão enraizadas em diferentes territórios. Veremos
que este tipo de literatura facilita a aprendizagem do intercultural uma vez que existe uma
grande variedade de autores que podemos propor no âmbito da abordagem da experiência
da construção de pertença na aprendizagem de uma língua estrangeira.
Nota curricular: Leitora de francês na Universidade Aberta. É Investigadora Doutorada do Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa (CLUNL) e é Colaboradora do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade
de Aveiro (CLLC). É doutorada em Linguística - Análise do Discurso (em cotutela com a Université Paris 8). Tem
desenvolvido e publicado trabalhos de investigação no âmbito dos estudos da Análise (Crítica) do Discurso,
Sociolinguística, Didática das Línguas Estrangeiras, privilegiando igualmente os estudos sobre o plurilinguismo e as
migrações. Curriculum Degóis: http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=6616870602713571
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Jerónimo Simão
DEP, Universidade de Aveiro / Universidade Pedagógica, Maputo
Hildizina Norberto Dias
Universidade Pedagógica, Maputo
Luísa Álvares Pereira
DEP/CIDTFF, Universidade de Aveiro
Competências de leitura e escrita em alunos
do 1.º Ciclo do Ensino Básico em Moçambique1
Palavras-chave: Alfabetização inicial, linguagem oral, família, currículo, leitura e escrita.
A aquisição de competências de leitura e escrita por alunos das escolas do Ensino
Público, sobretudo nas classes de iniciação, tem sido objecto de estudo e discussões a
vários níveis. A fraca aquisição de competências de leitura e escrita não é deveras um
fenómeno que se manifesta apenas em crianças e jovens das escolas moçambicanas, mas
um problema itinerante. O estudo procura compreender a natureza das dificuldades de
aprendizagem da leitura e da escrita na alfabetização inicial, a sua relação com o modo
como as crianças adquirem e desenvolvem a linguagem oral no seio familiar. O objectivo
geral é analisar a conformidade entre a Literacia Emergente na Educação Infantil, o Programa
do Ensino Pré-escolar, os Programas de Ensino da Língua Portuguesa do 1.º Ciclo e os
Manuais de Leitura do Ensino Básico em Moçambique. O estudo contribuirá para uma
reflexão a vários níveis, sobretudo, na Planificação Curricular e numa Prática Pedagógica
que cruze a política de produção de manuais de ensino, os materiais didácticos para o
Ensino Primário, adequados aos conhecimentos prévios dos alunos, adquiridos antes e no
Ensino Pré-escolar. Visa também construir conhecimento que permita reflectir sobre a
necessidade urgente do resgate do Ensino Pré-primário, de modo a reduzir as actuais
assimetrias no Sistema Educativo, em que crianças frequentam o Ensino Pré-escolar e
outras não, mas todas regidas e avaliadas por um Currículo homogêneo e segundo o
mesmo critério: as competências pré-definidas a alcançar pelos alunos no final do 1º Ciclo
do 1.º Grau do Ensino Básico. Os dados do estudo permitirão definir princípios de ensino
da leitura e escrita que, tidos em conta, poderão atenuar as dificuldades de aprendizagem
nos níveis superiores. Apesar de não poderem ser generalizados, resultam de uma pesquisa
etnográfica realizada numa das Escolas Primárias suburbanas da cidade de Maputo. O
referencial teórico cruza as áreas da Sociolinguística, Didáctica e da Psicologia.
Notas curriculares:
Jerónimo Simão - Doutorando da Escola Doutoral da Universidade Pedagógica, em Estágio Pré-profissional no
Departamento de Educação e Psicologia na Universidade de Aveiro. Assistente Universitário: Mestre em EducaçãoEnsino de Português; Doutorando em Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino de Línguas; Ensino de Português
Língua Estrangeira (PLE); Consultoria e Revisão Linguística.
Hildizina Norberto Dias - Professora Catedrática, Supervisora da Tese de Doutoramento, Docente da Faculdade de
Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes, Curso de Português da Universidade Pedagógica – Maputo.
Luísa Álvares Pereira - Supervisora do Estágio Pré-profissional, Professora Auxiliar com Agregação no Departamento de
Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.
1Um
recorte da Tese de Doutoramento intitulada “Competências Literácitas e o Ensino-Aprendizagem da leitura e da
Escrita no 1.º Ciclo de Ensino Básico em Moçambique”, em progresso.
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João Nuno Corrêa-Cardoso
Universidade de Coimbra
Atitudes linguísticas de estudantes universitários timorenses
perante a norma do português europeu
Palavras-chave: Sociolinguística, contacto de línguas, atitudes linguísticas, construção
linguística da identidade, Timor-Lorosa'e.
Estudo de sociolinguística escolar em torno das atitudes linguísticas manifestadas
por um grupo de mestrandos timorenses que vivem e trabalham numa situação de contacto
linguístico permanente, em que a língua portuguesa possui o estatuto de língua minoritária.
Nota curricular:
Doutorado em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é Professor Auxiliar de
Linguística Portuguesa nessa Universidade onde leciona, desde 1987. A 26 de julho de 1999, foi-lhe atribuída a Medalha
de Mérito Lingüístico e Filológico Oskar Nobiling e o respetivo Diploma pela Sociedade Brasileira de Língua e Literatura.
Entre 2006 e 2009, foi Presidente do Conselho Pedagógico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Diretor
do Instituto de Língua e Literatura Portuguesas Dona Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Foi Diretor do Instituto
Confúcio da Universidade de Coimbra, entre 2016 e 2018. Tem publicado diversos trabalhos, sobretudo na área da
Sociolinguística, nas vertentes rural, urbana e escolar, e ainda nas áreas da Dialectologia e da Literatura. Investigador
integrado do Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (celga) da Universidade de Coimbra, desempenha
também as funções de investigador colaborador do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (cech) da mesma
Universidade.
81
Jorge Vicente Valentim
UFSCar / FAPESP, Brasil
“Corpo no outro corpo é o nome do amor”:
homoerotismo e resistência na narrativa portuguesa contemporânea
Palavras-chave: Homoerotismo, resistência, narrativa portuguesa contemporânea, ficção,
ensaio.
O presente trabalho tem como objetivo tecer algumas breves reflexões em torno da
narrativa portuguesa pós-1974, cuja temática esteja centrada nas relações homoeróticas,
vista sob diferentes modos de representação. Tomaremos como base para tais reflexões
alguns dos casos mais sintomáticos deste contexto, seja no campo da ficção, seja no do
ensaio. Sem pretender tecer um cenário exaustivo, procuraremos sublinhar o papel de
resistência destes textos e a importância dos seus autores nesta discussão, desde a sua
consecução, no calor dos primeiros anos pós-Revolução dos Cravos, até a sua efetiva
consolidação, em tempos de virada dos séculos XX-XXI. Pretendemos verificar os matizes
utilizados na representação de situações envolvendo personagens homossexuais e suas
contextualizações em diferentes momentos da vida portuguesa.
Nota curricular: Jorge Vicente Valentim é Mestre e Doutor em Letras (Literatura Portuguesa) pela Faculdade de Letras
da UFRJ, universidade onde também concluiu a Graduação em Música. Atualmente, é Professor Associado de Literaturas
de Língua Portuguesa (Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa) do Departamento de Letras e
Professor do Quadro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da UFSCar. Também é
Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/Araraquara. Foi VicePresidente da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa (ABRAPLIP), na gestão 2016-2017. Autor de
ensaios e obras sobre as literaturas de língua portuguesa, em 2017, foi finalista do Prêmio Jabuti (Brasil), com o livro
“Corpo no outro corpo”: homoerotismo na narrativa portuguesa contemporânea (EdUFSCar, 2016), resultado de sua Pesquisa de PósDoutorado Sênior (com Bolsa CAPES), na Universidade do Porto, sob a supervisão da Profa. Dra. Isabel Pires de Lima.
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José Teixeira
CEHUM, Universidade do Minho
Decálogo de clichês mais ou menos enganadores
sobre os mares da língua portuguesa
Palavras chave: Política linguística, português internacional, português pluricêntrico,
língua e escrita.
O falar sobre o estatuto atual ou sobre política(s) de língua portuguesa tem
implicado frequentemente o uso de determinados clichês que de tão repetidos acabam por
parecerem inquestionáveis, quando apenas correspondem a meias verdades, como os do
seguinte decálogo: 1: A Academia portuguesa escreve e fala em português; 2: “Da minha
língua vê-se o mar”; 3: “Minha pátria é a língua portuguesa”; 4: O português foi e é a língua
de Portugal; 5: O português é uma língua internacional; 6: O português é uma língua
pluricêntrica; 7: A palavra saudade não tem tradução; 8: O português é “A língua de
Camões”; 9: Alterar a ortografia é alterar a língua portuguesa; 10: O futuro da língua
portuguesa está no Brasil.
Uns mais do que outros, não é raro serem distorcidos ou mal compreendidos,
acabando por criar uma série de equívocos sobre o que é e o que deve ser uma política de
língua que saiba navegar com eficiência e realismo nos mares da língua portuguesa.
Nota curricular: José Teixeira é Professor Associado da Universidade do Minho. É Doutorado em Ciências da
Linguagem/Linguística com o trabalho A Configuração Linguística do Espaço no Português Europeu: modelos mentais de
frente/trás. Possui várias publicações em Portugal e estrangeiro que podem ser consultadas na Web através do
Repositorium da Universidade do Minho
(https://repositorium.sdum.uminho.pt/browse?type=author&authority=802&authority_lang=por).
É membro das comissões diretivas do Mestrado em Português Língua Não Materna e do Mestrado de Ciências da
Linguagem. As principais áreas de investigação são a relação entre o significado e a cognição, a Semântica do Português e
a linguagem da publicidade
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Josenilde Cidreira Vieira
Doutoranda em Ciências da Linguagem, FLUP
IFMA, Instituto Federal de Educação Tecnológica do Maranhão
Maria Alexandra de Araújo Guedes Pinto
FLUP, Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Discurso político em língua portuguesa na era digital:
Processos linguísticos de construção do ethos do governador do Maranhão,
Flávio Dino (BR), nos media sociais Facebook e Twitter
Palavras-chave: Língua portuguesa, géneros digitais, discurso político, Ethos, Facebook,
Twitter.
A sociedade contemporânea comunica-se, cada vez mais, em rede e essencialmente
de forma escrita, por meios digitais. Nesse contexto, “a interação on-line tem o potencial
de acelerar enormemente a evolução dos gêneros textuais, tendo em vista a natureza do
meio tecnológico em que ela se insere e os modos como se desenvolve” (Marcuschi, 2010,
p. 20). O discurso político não escapou a essa nova dinâmica das comunicações e vem
adequando-se, por meio de estratégias linguísticas “cujo desafio consiste em influenciar as
opiniões, a fim de obter adesões, rejeições ou consensos [...]. Observe-se que o discurso
político dedica-se a construir imagens de atores e usar estratégias de persuasão e de
sedução, empregando diversos procedimentos retóricos” (Charaudeau, 2015, p. 40). Essas
imagens que buscam “causar impacto e suscitar adesão”, Amossy (2016, p.17) denomina
ethos. Este estudo tem como objetivo identificar alguns dos processos linguísticos de
construção do ethos no discurso político do governador do Maranhão (BR), Flávio Dino,
nas redes sociais Facebook e Twitter, como ferramenta de sedução e persuasão. O corpus é
constituído por 50 posts e 50 tweets publicados nas plataformas sociais acima identificadas,
no período de janeiro a junho de 2017, tendo sido analisado maioritariamente o conteúdo
linguístico dos mesmos.
Referências:
Amossy, R. (2005). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto.
Bakhtin, M. (1992). Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes.
Charaudeau, P. (2015). Discurso político. 2. ed. São Paulo: Contexto.
Marcuschi, L.A. (2010). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São
Paulo: Cortez.
Nota curricular: Josenilde Cidreira Vieira (1974), natural de São Luís, Maranhão (BR). Graduada em Letras, pela
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); especializada em Literatura Infanto-Juvenil, mestre em Desenvolvimento
Socioespacial e Regional (UEMA). Doutoranda em Ciências da Linguagem: Linguística, pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).
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Jossemar de Matos Theisen
Universidade do Minho
Cleide Inês Wittke
UFPel, Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Estudos dos letramentos: letramento digital
e leitura online na universidade
Palavras-chave: Universidade, letramento digital, leitura online, práticas de leitura e escrita,
novos letramentos.
O ingresso no ensino superior desafia os universitários a vivenciarem novas
situações de aprendizagem, o que origina diferentes posturas e identidades para administrar
práticas de leitura e de escrita propostas nesse meio. Nesse contexto inovador, o uso de
tecnologias digitais tende a contribuir na realização das práticas de leitura e escrita (dos
letramentos acadêmicos), uma vez que essas tecnologias também integram outras práticas
sociais na vida dos estudantes. Assim, a presente comunicação objetiva apresentar reflexões
teóricas de estudos sobre os novos letramentos, mais especificamente, acerca da prática do
letramento digital e da leitura online na universidade (Leffa, 2006; Xavier 2005; Fischer,
2011; Lea & Street, 2006; Monte Mór, 2012; Moita Lopes, 2012). As abordagens mais
recentes dos letramentos têm apontado para a heterogeneidade das práticas sociais da
linguagem, principalmente das práticas de leitura e de escrita, enfatizando o caráter
sociocultural e situado dessas práticas de letramentos (Cope, Kalantzis, 2000; Lankshear,
Knobel, 2003; Kress, 2003). Investigar sobre tais estudos torna-se instigante, uma vez que
as práticas de ensino devem se voltar para a realidade dos aprendizes de forma significativa
e eficiente, dando sentido àquilo que é ensinado, estimulando-os à aprendizagem. As
práticas de letramento (leitura e escrita), com o auxílio das tecnologias digitais, podem
contribuir para desenvolver uma aprendizagem prazerosa, ampliando as possibilidades de
uso das linguagens não-verbais. Como o letramento digital e a leitura online estão presentes
no nosso cotidiano, e, para se apropriar dessas práticas, o acadêmico precisa conhecê-las e
dominá-las nas mais diversas situações de uso, cabe, então, aos professores universitários
incluírem esses objetos de estudo no currículo dos cursos superiores, capacitando os
futuros profissionais com esses usos.
Notas curriculares:
Jossemar de Matos Theisen – Doutora em Letras pela Universidade Católica de Pelotas. Pesquisadora externa na
Universidade do Minho, Portugal. De 2009 a 2013 atuou como docente e tutora na UFPel. Trabalha nas áreas de práticas
e metodologias de leitura online, gêneros textuais, letramento digital e aprendizagem de línguas. Pesquisa sobre a inserção
de práticas das tecnologias digitais no contexto acadêmico e também no ensino de língua portuguesa para estrangeiros.
Cleide Inês Wittke - Professora Associada na UFPEL, atuando na Graduação e na Pós-graduação. Com Graduação em
Letras Português/Inglês e Português/Alemão pela UNISC. É Mestra e Doutora em Linguística Aplicada pela UFSM e
PUCRS, com Pós-doutorado em Didática das Línguas pela UNIGE. Desenvolve atividades de ensino e de pesquisa em
teorias do texto e do discurso. Publicou três livros, vários capítulos e artigos em diferentes periódicos.
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Julio Reis Jatobá
Universidade de Macau
Uma China de distância: a cultura dos PLP
em materiais didáticos para o Ensino de PLE na China
Palavras-chave: Construção da imagem dos PLP, Ensino de PLE na China, aprendente
chinês, material didático, comunicação intercultural.
Pelos mares do Oriente – mais especificamente, na China – a língua portuguesa
passa por um momento de expansão no seu ensino. Nos últimos 15 anos, o número de
instituições superiores na China que ofertam cursos de Língua Portuguesa passou de 3 para
mais de 30. Apesar de os primeiros contatos entre portugueses e chineses terem sido
iniciados na primeira metade do século XVI e, na altura, o interesse estratégico de Portugal
em controlar o comércio no Mar da China, é notável que ao contrário do que aconteceu
com línguas como o indonésio, o malaio e o japonês, é desconhecida a influência lexical da
língua portuguesa no mandarim. No caso cantonês falado em Macau, a influência da língua
portuguesa se dá quase que exclusivamente nos domínios da culinária luso-macaense e do
funcionalismo público; curiosamente, os falantes de cantonês na província de Guangdong
(Cantão) desconhecem as palavras cantonesas de origem portuguesa utilizadas em Macau.
Levando em conta o extenso histórico dos contatos e trocas entre portugueses e
chineses e, somando-se a isso, as ambições de expansão econômica e cultural da China nos
PLP, levantamos a seguinte pergunta: quais são as imagens das culturas dos PLP mais
comumente difundidas no ensino do Português Língua Estrangeira (PLE) na China e como
elas contribuem para a afirmação ou desconstrução de estereótipos sobre os PLP? Para
responder a esta questão, a presente comunicação discutirá a presença da cultura dos PLP
nos materiais didáticos de PLE utilizados na China Continental. Para isso, analisaremos os
conteúdos culturais nos materiais didáticos mais utilizados no ensino da língua portuguesa
sob a perspectiva do softpower e o paradoxo da comunicação intercultural (Gao, 1995).
Nota curricular: Senior Instructor of Translation Studies, Universidade de Macau. Graduado em Letras pela
Universidade de Brasília, mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Macau e doutorando em Linguística por
esta mesma instituição. Dedica-se desde 2006 à docência de PLE na China e tem como objetos de investigação e interesse
pessoal o ensino da Língua Portuguesa na China, Políticas Linguísticas para o PLE e Tradução chinês-português.
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Juvêncio Sidumo
Doutorando em estágio na UA / Pos-Graduação da Universidade Pedagógica de Maputo
Martins Mapera
Supervisor na Universidade Pedagógica de Maputo
Ana Margarida Ramos
Supervisora do Estágio na Universidade de Aveiro
Estratégias de Intervenção intercultural
no Ensino da Língua Portuguesa em Moçambique1
Palavras-chave: Moçambique,
interculturalidade.
diversidade
cultural,
Português,
língua-cultura,
A sociedade moçambicana caracteriza-se por uma grande diversidade cultural,
resultante da variedade étnica e linguística e a Língua portuguesa, apesar de minoritária,
sendo língua oficial e língua veicular de ensino, além de disciplina curricular de especial
relevância, visto que condiciona a transição de classe, tem um impacto determinante na
coesão e unidade do sistema educativo. A convivência entre o Português, na qualidade de
língua segunda, língua materna ou estrangeira e as línguas e culturas moçambicanas levanta
vários desafios educativos e culturais no processo de ensino-aprendizagem (E-A) do
Português Padrão Europeu (PE). A pedagogia contemporânea do ensino de línguas centrase na promoção da interculturalidade – adopção de aspectos ou informações da línguacultura-alvo para língua-cultura do aluno, como forma de valorizar e promover a
coexistência de línguas e culturas. Perante este cenário, a questão que se coloca é, como
identificar aspectos de natureza cultural no E-A do Português, tendo em conta que
Moçambique se guia pelo PE, o que implica ensinar língua-cultura portuguesa conciliandoa com a diversidade linguístico-cultural dos sujeitos aprendentes. Este estudo procura traçar
linhas teóricas e práticas que sustentam as definições metodológicas para uma intervenção
intercultural no E-A do Português em Moçambique. Para alcançar os objectivos definidos,
construímos um acervo teórico focalizado no ensino de línguas orientado para a
valorização de culturas, começando por discutir o conceito de cultura e o seu relevo no
contexto educativo. Reflectimos sobre a relação língua-cultura e a sua relevância para a área
da pedagogia de línguas, sustentando a nossa reflexão nos trabalhos de alguns
investigadores que desenvolveram estudos e/ou propostas de abordagem linguística
intercultural. Para finalizar, e a título exemplificativo, fazemos uma Abordagem
Comunicativa Intercultural de um conto popular do manual2 da 7ª classe. Espera-se que o
estudo represente uma contribuição para a didáctica do ensino de línguas na diversidade
intercultural moçambicana.
Notas curriculares:
Juvêncio Sidumo - Doutorando em estágio de Pós-Graduação na Universidade de Aveiro, Departamento de Línguas e
Culturas.
Martins José Chelene Mapera é professor e investigador da cultura moçambicana e cabo-verdiana. Doutorou-se em
Estudos Culturais, pela universidade de Aveiro
Ana Margarida Ramos é Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro
(Orientadora do Estágio).
O presente trabalho é um recorte da Tese de Doutoramento (em construção) em Ciências de Linguagem Aplicadas ao
Ensino de Línguas pela Universidade Pedagógica de Moçambique.
2 Este manual integra o corpus da tese de Doutoramento referida, constituindo a sua análise um exemplo do estudo mais
amplo que pretendemos realizar.
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Kathrin Sartingen
Universidade de Viena
Pelos mares do filme lusófono:
Navegando, Naufragando, Narrando
Palavras-chave: Filme lusófono, imaginário, mar, naufrágio, transculturalidade, identidade.
Ponto de partida da minha conferência é o mar no filme português, brasileiro e
luso-africano: o mar concreto e real e o mar sonhado, anelado, metafórico, alegórico. Nas
filmografias lusófonas – eis a minha tese – constrói-se todo um imaginário do mar (ou de
seus atributos), que se vê, muito frequentemente, relacionado ou com um lugar místico,
mágico e heroico, formando um imaginário realmente idealizado e anelado do mar; ou com
um lugar de destruição e naufrágio, formando um imaginário de declínio e decadência.
Muitos filmes brasileiros idealizam, sonham, mesmo deliram em torno do mar como ultima
ratio da sobrevivência, da salvação, de uma vida melhor. Semelhante glorificação pode se
ver em textos portugueses. Mais acentuado e precário vê-se este fenómeno em narrativas
africanas. O mar, em todos estes textos, se torna uma metáfora empregada tanto para
ameaça e desafio como também para descoberta e conquista ou para decadência, declínio e
naufrágio.
A figura do naufrágio desempenha, no contexto das minhas reflexões, um papel
central, marcando as diversas fases, passagens, iniciações, transgressões de um lado para
outro por parte dos respetivos personagens dentro da narrativa fílmica. O náufrago sempre
ocupa um lugar singular, pois se encontra numa zona intermediária entre sobreviver e
afogar, entre vida e sobrevida, ou morte. Portanto, o naufrágio constitui um lugar de
passagem, liminar, de estar no limite, de permanente busca de existência e identidade.
Na presente contribuição, recorro a filmes pós-coloniais lusófonos para mostrar
como esses textos representam diversas superações, passagens, limiares, perdas e buscas de
si e de outros, naufrágios e sobrevivências. Vejamos o que faz talvez a diferença
transcultural entre estas narrativas portuguesas, brasileiras e luso-africanas que todas
encenam o imaginário do mar.
Nota curricular: Kathrin Sartingen é professora titular de Literatura, Cultura e Mídia lusófona e hispano-americana no
Instituto de Estudos Românicos da Universidade de Viena, Áustria. Suas áreas de pesquisa são as relações literárias e
culturais transatlânticas (Ibéria/África/América Latina), as literaturas e mídias lusófonas e hispanoamericanas do século
XX e as diversas intermidialidades e intertextualidades (cinema, teatro, literatura), com enfoque especial em narrativas
pós-coloniais (discursos de identidades e alteridades, migração e movimento, viagens e espaços enquanto reais e/ou
metafóricos). Conta com várias publicações sobre literatura, cinema e processos de transculturalidade na Nova România e
na América Latina.
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Luciene Lages Silva
UFS, Universidade Federal de Sergipe, Brasil
Memória, ficção e história na configuração
das terras brasílicas por Luiz dos Santos Vilhena
Palavras-chave: Língua, história, memória, educação, Brasil, século XVIII.
Esta proposta faz parte de um projeto de pós-doutoramento em andamento na
Universidade de Coimbra. Trata-se da investigação da biografia de Luiz dos Santos Vilhena
e sua obra intitulada Notícias Soteropolitanas e Brasílicas. A realização desta pesquisa motiva-se
pelo resgate de textos que compõem o patrimônio cultural escrito brasileiro, bem como
pela possibilidade de estudar, a partir de fonte disponível, a língua, a literatura, a cultura, a
memória e a história do Brasil em fins do século XVIII. Luís dos Santos Vilhena (17441814) nasceu em Portugal e em 1787 foi nomeado professor de aulas régias, assumindo a
cadeira de língua grega em Salvador, sendo empossado em sete de maio do mesmo ano. O
cronista dos tempos coloniais apresenta um relato que enlaça ficção e testemunho, afirma,
na longa dedicatória que abre as cartas, que emprega às suas horas em formar um museu ou
as notícias brasílicas e da capitania da Bahia, tendo como principais motivações a satisfação
do espírito e a desafeição ao ócio. Tais afirmações fazem parte de uma avalanche de
memórias registradas no final do XVIII e início do XIX e estimuladas pelo governo
português desde 1770, que demonstram uma preocupação utilitarista e alinhada à nova
ética do Iluminismo, tal como expressa na Encyclopédie (1715-1772) organizada por Diderot
e D’Alembert. As vinte e quatro cartas foram dedicadas ao Príncipe Dom João (que viria a
ser coroado no Brasil com o nome de Dom João VI). Vilhena assina como “o criado mais
humilde e o mais fiel de todos os seus vassalos”, e apresenta notícias históricas sobre os
costumes, habitantes, comércio, economia, educação, geografia e outros dados preciosos
sobre as várias capitanias brasileiras da época. As cartas, segundo o próprio Vilhena, visam
oferecer uma ideia do Novo Mundo conquistado e, para que não paire dúvidas sobre a
legitimidade do seu relato, se utiliza de três estratégias: afirma que parte da compilação de
obras históricas já publicadas ou de manuscritos; seus registros sobre os costumes resultam
de situações que ele observou pessoalmente; e, por fim, ao assinar suas missivas sob o
pseudônimo Amador Veríssimo de Aleteya, alusão explícita à verdade grega, Alétheia,
reafirma sua posição de ofertar ao príncipe testemunhos verdadeiros. Como professor de
grego e latim, Vilhena demonstra extenso conhecimento do legado literário greco-romano,
sendo recorrente o uso de palavras de origem grega ou latina, a começar pelo título e os
remetentes das cartas: Filopono, amigo do trabalho; e Patrífilo, amigo da pátria. A obra
dialoga de modo contínuo com autores da tradição clássica, e personagens, deuses, heróis
são metáforas para a representação do Brasil no século XVIII. Luiz dos Santos Vilhena tem
saído da obscuridade, graças aos esforços de alguns historiadores como Carlos Rodrigues
Mota e Leopoldo Jobim, mas sua obra é ainda muito pouco estudada.
Nota curricular: Possui graduação em Letras, Língua e Literatura Portuguesa (1996) e Língua e Literatura Grega (1998),
Mestrado em Teoria da Literatura (2002) e Doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas
Gerais (2008). É professora Associada do curso de Letras da Universidade Federal de Sergipe e membro do Programa de
Pós-graduação em História na mesma Universidade. Desenvolve pesquisas com ênfase no teatro clássico, recepção dos
clássicos e edição de textos.
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Luís Barbeiro
Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria
Aprender Língua Portuguesa:
Do mar de possibilidades aos rochedos de incorreções
Palavras-chave: Português língua estrangeira, análise de erros, escrita, reescrita, paradigma,
escolha.
Aprender uma língua é aprender a navegar no mar de possibilidades a descobrir
nessa língua e também a contornar os rochedos de incorreções. Dois movimentos se
desencadeiam nessa aprendizagem do potencial paradigmático da língua: por um lado, o
movimento de alargamento dos paradigmas, como fator de desenvolvimento da
competência linguística, por outro lado, a necessidade de conjugar esse movimento com
um de sentido inverso, correspondente à contração do paradigma para as possibilidades
estabelecidas pela língua para os contextos em causa, linguísticos e situacionais. O primeiro
movimento, face à imensidão das possibilidades da língua, é projeto sempre renovado e
pode ser assumido na busca de construção e expressão de significados, por falantes para
quem a língua é materna ou para quem a língua é não materna. O segundo movimento
ganha especial relevo no caso dos aprendentes de uma língua não materna. Tendo como
enquadramento a noção de escolha paradigmática, radicada em Saussure, também relevante
em Malinowski e Firth, e, sobretudo, Halliday, analisa-se nesta comunicação a questão da
sua aprendizagem, tendo por base a sua instanciação num corpus de textos e respetivas
reescritas, produzidos por estudantes chineses que se encontram a aprender português. Em
foco, encontram-se as incorreções produzidas por esses estudantes no domínio do
discurso, face às incorreções gramaticais ou relativas à representação gráfica. Os resultados
revelam o peso significativo do domínio do discurso no conjunto das incorreções e as
dificuldades encontradas pelos sujeitos para ultrapassar essas dificuldades quando quer a
escrita quer mesmo a reescrita implicam novos significados e a descoberta da língua para os
exprimir. Propõe-se, a partir do corpus analisado, a criação de recursos didáticos que
evidenciem, para a realização dessa descoberta, as incorreções já encontradas por outros
aprendentes. Essa proposta corresponde, pois, a assinalar no mapa da aprendizagem, os
erros já cometidos, os percursos já realizados por outros.
Nota curricular: É doutorado em Educação (Metodologia do Ensino do Português) e agregado em Ciências da
Educação, especialidade de Literacias e Ensino do Português; Professor coordenador principal da Escola Superior de
Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria; Tem exercido as funções de coordenador de cursos de
PLE (Língua Portuguesa Aplicada e Língua e Cultura Portuguesas). Desenvolveu a sua investigação sobretudo na área da
didática da escrita, enquanto língua materna e língua não materna. Participou em vários projetos científico-pedagógicos,
com relevo para os projetos TeL4ELE (Teacher Learning for European Literacy Education/ Formação de Professores
para o Desenvolvimento da Literacia na Europa), Lectibe, ELiCa, Euro-Mania, Protextos, PNEP, Diversidade Linguística
na Escola Portuguesa, Escrita: Construção e Expressão do Conhecimento, CHorpusPT. Na área da didática da escrita,
publicou artigos em revistas nacionais e internacionais e diversos livros.
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Luis Gonçalves
Princeton University / AOTP – American Organization of Teachers of Portuguese
“Scaffolding” ou andaimes na construção de atividades cognitivas
para a aula de português como língua estrangeira
Palavras-chave: Scaffolding, atividades cognitivas, língua estrangeira.
O input é um dos elementos mais importantes no processo de aquisição de segunda
língua. Determina o grau de processamento cognitivo significativo por parte do aprendente
de português como língua estrangeira (PLE). Como Gass (1997) aponta, o aprendizado de
segunda língua simplesmente não pode ter lugar sem um input de algum tipo, ao que
acrescento que, o maior ou menor sucesso deste está diretamente relacionado com a
qualidade desse input e a capacidade de gerar um engajamento significativo. Então, com
base nesta afirmação, discuto quatro questões específicas ao ensino de português como
língua estrangeira:
(1) como o input é processado e como ele é incorporado na interlíngua do aluno (Carroll,
1999, 2000 e o que isso significa para a prática do instrutor de PLE; Chaudron, 1985; Gass,
1997; Krashen, 1982; Sharwood Smith, 1986, 1993; VanPatten, 1996, 2002);
(2) a quantidade de input necessária para permitir a aquisição (Ellis, 2002; Krashen, 1982;
Branco, 1989) e o que nos é disponibilizado nos métodos de PLE;
(3) os vários atributos do input e como facilitam ou dificultam a aquisição (por exemplo,
frequência, saliência e transparência) e a presença ou ausência desses atributos nos métodos
disponíveis; e finalmente
(4) as abordagens de ensino que aumentam o input e promovem a aquisição (por exemplo,
vários tipos de melhoria de input, as reformulações, e instruções de processamento) e como
as implementar na aula de PLE.
Vários estudos sobre estes quatro domínios do processamento do input produziram
informações úteis, fundamentais na conceção e produção de cursos, aulas e material
didático eficaz. Ao abordar as questões relacionadas com a aplicação destes quatro
domínios ao ensino de PLE, exploro também o que podemos encontrar como input em
alguns métodos de português disponíveis, e apresento algumas formas de eficazmente
melhorar a qualidade do que nos é disponibilizado enquanto instrutores de PLE.
Nota curricular: Tem doutoramento em Línguas Românicas – Português e Mestrado em Literatura Luso-Brasileira pela
Universidade da Carolina do Norte, Licenciatura em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa, e
ensina PLE na Princeton University. É presidente da AOTP - American Organization of Teachers of Portuguese, diretor
executivo do evento anual EMEP - Encontro Mundial sobre o Ensino de Português, e vice-presidente do NCOLCTL –
National Council for Less Commonly Taught Languages.
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Lurdes de Castro Moutinho
CLLC, Universidade de Aveiro
Rosa Lídia Coimbra
CLLC, Universidade de Aveiro
Sociolinguística urbana.
Um estudo de caso na cidade do Porto
Palavras-chave: sociolinguística, desvios linguísticos, variáveis sociogeográficas, estudo
de corpora, nome de lojas, cidade do Porto.
Na escolha do nome de uma loja há uma grande liberdade lexical que permite que
estes nomes nem sempre se mantenham dentro dos limites do uso da norma linguística.
Esta variação, através de uma observação empírica por nós efetuada, parece não se
produzir de forma aleatória, mas em função do público-alvo. Com base nesta constatação,
apresentamos um estudo sobre a utilização de diversos tipos de desvio linguístico nos
nomes de lojas da cidade do Porto e o modo como eles se estruturam em função de
variáveis sociolinguísticas. Para além do tipo de desvio utilizado, estudou-se também a sua
distribuição em função das variáveis “sexo” e “zonas geográficas”. O estudo parte de uma
nossa pesquisa anterior, baseada numa recolha de seis dezenas de nomes, aos quais agora se
junta um corpus recolhido nos mesmos locais da cidade a duas décadas de distância. Com o
objetivo de contrastar este novo corpus com o anteriormente estudado, mantivemos os
mesmos critérios de seleção e agrupamento: tipo de loja, de acordo com o respetivo ramo
de atividade, abarcando o público-alvo de acordo com a variável sexo; zona geográfica,
incluindo três pontos diversificados da cidade, abrangendo públicos, também eles
diferenciados. Os tipos de desvios linguísticos apurados na primeira pesquisa permitiramnos organizar o corpus em cinco grupos, de acordo com as suas caraterísticas linguísticas:
termos estrangeiros; apóstrofes; fórmulas abreviadas; violações ortográficas de palavras
portuguesas; neologismos. Com a presente pesquisa, manteremos como base de estudo
esses mesmos grupos e procuraremos aferir se essa distribuição se mantém na paisagem
linguística atual da cidade. É, portanto, nossa intenção explicitar os mecanismos retóricoortográficos utilizados nestes tipos de desvio, não só em função do público-alvo, mas
também de acordo com variáveis sociogeográficas e até socioculturais da cidade.
Notas curriculares:
Lurdes de Castro Moutinho é doutorada em Ciências da Linguagem/Fonética pela Universidade de Estrasburgo (França),
em 1988, com equivalência ao Doutoramento Português em Linguística Portuguesa, Univ. de Aveiro, 1991. É
investigadora integrada do CLLC, e coordena uma das linhas de investigação do grupo Ciências da Linguagem. Tem
desenvolvido pesquisa no âmbito da Sociolinguística e da Fonética/Fonologia. Desde 1999, a sua pesquisa centra-se no
âmbito da Fonética Experimental, com maior incidência no estudo da variação prosódica. Tem feito parte de projetos
interdisciplinares nacionais e internacionais, atuando em alguns deles como investigadora principal.
Rosa Lídia Coimbra concluiu o doutoramento em Linguística Portuguesa, pela UA, em 1999, onde também fez a sua
licenciatura, em Inglês e Português e concluiu as suas PAPC7C, na área da linguística textual. É docente desta instituição
desde 1986, encontrando-se, atualmente, na categoria de Professora Auxiliar. Tem orientado trabalhos e lecionado
sobretudo nas áreas da linguística textual e da análise do discurso. Os seus trabalhos de investigação também se
enquadram nessas áreas, com especial enfoque na linguística cognitiva e na variação linguística, incluindo a fonética
experimental em geoprosódia.
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Maísa Medeiros Pacheco de Andrade
Universidade de Coimbra
A guerra, o trauma e o testemunho em
A Costa dos murmúrios, de Lídia Jorge
Palavras-chave: Guerra, trauma, testemunho, memória, realidade do choque, Lídia Jorge.
O romance A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge, alude à época da ocupação
colonial portuguesa em África. A narrativa se desenrola, principalmente, em torno das
memórias que a personagem Eva Lopo conserva acerca da realidade moçambicana em
guerra, trazendo não só as impressões que mantém sobre o conflito bélico, mas também
sobre a realidade cotidiana e a vida das personagens envolvidas na trama. A temática da
guerra encontra-se nas entranhas de seus personagens e de seus cenários, estando suas
práticas sociais, culturais e familiares por ela invadidas. Em muitos trechos do livro nos
deparamos com cenas que descrevem explicitamente momentos de violência e outras que
trazem este tipo de situação de maneira velada. Os personagens do romance encontram-se
em permanente estado de choque, uma vez estarem sempre vulneráveis ao encontro com
situações de horror e de massacre. É diante disso que o presente estudo se propõe a tecer
reflexões acerca da realidade moçambicana traumatizada pelos abalos da guerra e do papel
do testemunho na revisitação e reinvenção do passado.
Nota curricular: Doutoranda em Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra, onde está a desenvolver
estudo acerca da poesia portuguesa contemporânea. Possui mestrado em Estudos da Linguagem e licenciatura em Letras Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Também é mestre e bacharel em Direito
pela UFRN.
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Manuella Bezerra de Melo
Maria do Carmo Pinheiro Silva Cardoso Mendes
Universidade do Minho
Breviário do Brasil de Agustina-Bessa-Luís:
um contributo para a manutenção do olhar colonizador
e eurocêntrico no espaço lusófono
Palavras-chave: Eurocêntrico, Agustina, colonizador, lusofonia, Brasil, Portugal.
Em 1991, como parte de uma coleção intitulada “Diário de Viagem” – Edições
Asa, Porto –, a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís publicou Breviário do Brasil. A
obra, traduzida também para o inglês tendo em vista um público mais amplo que apenas
o de língua portuguesa, foi o resultado de uma viagem da autora entre março e abril de
1989 com um grupo de intelectuais a convite do Centro Nacional de Cultura para compor
o projeto intitulado “Os portugueses ao encontro de sua história”.
A viagem, iniciada no Rio de Janeiro, seguiu por Recife e Olinda, São Luís e
Alcântara, Belém, Manaus, Brasília, Salvador, Ilheus, Porto Seguro, Belo Horizonte, Ouro
Preto, Congonhas do Campo e Mariana, Petrópolis, finalizando no mesmo lugar onde
começou. Não foi a primeira visita de Agustina ao país. Não somente já havia estado em
outras ocasiões nalgumas destas mesmas cidades citadas, como também tem no Brasil um
imaginário vivo recorrente na sua vida e obra, parte disso fruto da estreita relação de seu
pai, que viveu no Brasil (Rio de Janeiro) por mais de 20 anos e enriqueceu lidando com
jogo; mas foi dela – a viagem – que nasceu uma obra de relevante contributo para difusão
de uma perspectiva eurocêntrica e conservadora, mantendo um olhar internamente
consolidado, porém falacioso e passível de contestação de um Brasil que viveria sob uma
suposta democracia racial à luz do sociólogo Gilberto Freyre – operador da propagação
dessa noção ou mito na sua conhecida obra Casa Grande e Senzala (1933) -; sobretudo nos
países que têm a língua portuguesa como bem comum.
Nota curricular: Manuella Bezerra de Melo é jornalista e pós-graduada em literatura brasileira e interculturalidade pela
Universidade Católica de Pernambuco. Mestranda em Teoria da Literatura e Literaturas Lusófonas na Universidade do
Minho, pesquisa diálogos entre literatura e sociedade. É autora de Desanônima (Autografia, 2017), Existem Sonhos da Rua
Amarela (Multifoco, 2018).
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Marana de Almeida Moreira Ribeiro
Universidade Federal da Bahia, Brasil
Marcela Moura Torres Paim
Universidade Federal da Bahia, Brasil
Como se dá a distribuição diatópica da palatalização
de /t, d/ antes de /i/ no interior da Bahia?
Palavras-chave: Variação, palatalização, dialetologia, análise quantitativa, Bahia, Atlas
Linguístico do Brasil.
Este trabalho investiga a distribuição diatópica da palatalização das consoantes
oclusivas dentoalveolares /t/ e /d/ diante da vogal alta /i/, em vocábulos como tio, mentira
e nos casos em que essa vogal resulta da neutralização do /E/ em posição átona, como em
tarde, noite, em vinte e uma localidades do interior da Bahia. Do ponto de vista
metodológico, os dados utilizados foram extraídos dos questionários fonético-fonológico
(QFF) e semântico-lexical (QSL) do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) (Comitê
Nacional, 2001) aplicados no interior baiano. Para tanto, consideram-se oitenta e quatro
informantes, sendo quatro para cada localidade pesquisada, pertencentes a duas faixas
etárias (uma de 18 a 30 anos e outra de 50 a 65 anos). Observa-se a distribuição do
fenômeno em estudo a partir de sete mesorregiões geográficas que compreendem o estado
da Bahia: Metropolitana, Vale São Franciscano da Bahia, Nordeste Baiano, Centro Norte
Baiano, Extremo Oeste Baiano, Centro Sul Baiano e Sul Baiano. Os objetivos desta
investigação são: (i) verificar a distribuição diatópica das variantes registradas, (ii) discutir a
distribuição diatópica das variantes segundo as características geográficas e socio-históricas
de cada mesorregião baiana, (iii) apresentar presença/ausência das variantes nas localidades
a que se inserem e (iv) oferecer dados para os próximos volumes do Atlas Linguístico do
Brasil. Os dados são tratados por meio da análise quantitativa (Labov, 1972), da codificação
e da submissão ao programa Goldvarb X.
Notas curriculares:
Marana de Almeida Moreira Ribeiro - Estudante do Mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Língua e
Cultura da Universidade Federal da Bahia.
Marcela Moura Torres Paim - Professora Associada 1 de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia.
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Marcela Moura Torres Paim
Universidade Federal da Bahia, Brasil
A variação lexical do português
revelada no Atlas Linguístico do Brasil
Palavras-chave: Atlas linguístico, dialetologia, Português, Brasil, variação, léxico.
O estudo do léxico permite a observação da leitura que uma comunidade realiza de
seu contexto e da preservação de parte da sua memória socio-histórica e linguísticocultural, além de possibilitar a documentação da variação lexical e geolinguística do
português falado no Brasil. Realizar este estudo também vem a contribuir para o objetivo
mais amplo do Projeto Atlas Linguístico do Brasil no que diz respeito à realização da
descrição da realidade linguística do Brasil, no que se refere à língua portuguesa, enfocando
a identificação das variações diatópicas no âmbito geolinguístico. Ao se publicar, em 2014,
o volume de cartas linguísticas do Atlas Linguístico do Brasil, (cf. Cardoso et al, 2014 b),
algumas considerações iniciais já podem ser feitas sobre áreas dialetais brasileiras. Nesse
sentido, apresentam-se, neste trabalho, resultados que mostram a diversidade de usos
vinculada a áreas específicas, mas também relacionada a fatores sociais. Serão evidenciadas
quatro cartas semântico-lexicais, da área semântica Vestuário e Acessórios do Questionário
Semântico-Lexical, que focalizam os dados numa perspectiva diatópica, diageracional,
diastrática e diassexual. A análise da variação lexical nas capitais brasileiras revela que o
português do Brasil apresenta uma realidade diversificada. Nesse sentido, o Atlas
Linguístico do Brasil tem papel importante para o conhecimento, a divulgação e a reflexão
da língua portuguesa, dando o salto da teoria à prática para que estudiosos da língua
encontrem formas de aprofundar a pesquisa da língua portuguesa, tendo em vista a
variação. Assim, a presente pesquisa contribui para a compreensão de que a língua deve ser
sempre um instrumento de socialização, de histórias, de fontes de conhecimento e jamais
uma forma de discriminação.
Nota curricular: Professora Associada 1 de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia. Doutorado em
Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA (2007); mestre em Linguística pelo
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA (2004); graduada em Letras Português/Espanhol Universidade Federal de Pernambuco (2002).
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Marcela Moura Torres Paim
Universidade Federal da Bahia, Brasil
Josane Moreira de Oliveira
Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil
Fraseologia e variação:
recortes do português brasileiro
Palavras-chave: Fraseologia, dialetologia, Português, Brasil, variação, léxico.
Este trabalho objetiva, a partir do material coletado pela pesquisa do Projeto Atlas
Linguístico do Brasil, referente ao campo lexical ciclos da vida, apresentar um estudo sobre
a presença de fraseologismos nas entrevistas dos informantes oriundos das capitais
brasileiras. O termo fraseologismo está sendo aqui concebido conforme Mejri (1997), que o
considera como o fenômeno que se exprime através de associações sintagmáticas
recorrentes. Parte-se do princípio de que as unidades fraseológicas são combinações de
unidades léxicas, relativamente estáveis, com certo grau de idiomaticidade, formadas por
duas ou mais palavras e que integram a competência discursiva dos falantes, em língua
materna, segunda ou estrangeira. São utilizadas convencionalmente em contextos precisos,
com objetivos específicos, como, por exemplo, em estar de bode, estar de boi, estar naqueles dias
(variantes para ‘menstruação’); amarrar o facão, amarrar o pacote, estar na fase de “aí, meu Deus do
céu” (variantes para ‘menopausa’); fim de rama, ponta de rama, raspa de tacho (variantes para
‘filho mais moço’); dentre outras. Nesse sentido, no que diz respeito aos fraseologismos
analisados, podem-se fazer algumas considerações preliminares: as criações lexicais
analisadas contemplam a polilexicalidade; as unidades fraseológicas refletem a estabilidade
de relação tão estreita entre os elementos que os leva a perderem o significado primário
para adquirirem um novo sentido. Assim, as designações enfocadas possibilitam a
visualização da diversidade lexical e geolinguística do português falado no Brasil no campo
da fraseologia.
Notas curriculares:
Marcela Moura Torres Paim - Professora Associada 1 de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia.
Doutorado em Linguística pela Universidade Federal da Bahia (2007); Mestrado em Linguística pela Universidade Federal
da Bahia (2004); Graduação em Letras Português/Espanhol pela Universidade Federal de Pernambuco (2002). Atua nas
áreas de Dialetologia e Sociolinguística.
Josane Moreira de Oliveira - Professora Adjunta de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Estadual de Feira de
Santana. Doutorado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006); Mestrado em Letras pela Universidade
Federal da Bahia (1999); Graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (1990). Atua nas áreas de
Dialetologia, Sociolinguística e Funcionalismo.
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Marcelo Ferraz de Paula
UFG, Universidade do Porto
Da guerra ao exílio, do exílio à memória:
história e testemunho em Manuel Alegre
Palavras-chave: Manuel Alegre, testemunho, memória, trauma, guerra, exílio.
Nesta comunicação propomos uma leitura crítica da poesia do escritor português
Manuel Alegre, com ênfase nas marcas testemunhais de sua poética. Focalizamos, para
tanto, dois núcleos centrais de sua produção: as referências à guerra colonial, na qual o
poeta atuou como combatente, no início da década de 1960, e ao seu exílio político, entre
1964 e 1974. Tais tópicos desdobram-se em diversas imagens – de dor, angústia e
mutilação existencial, mas também de esperança e resistência – e se relacionam com o
desvelamento da história portuguesa que sua obra empreende, descortinando a narrativa
oficial imposta pela ideologia colonialista. Os traumas resultantes da guerra e do exílio
comparecem como tema, matéria e contingência em vários de seus poemas, atestando a
porosidade de sua poesia aos dilemas históricos, bem como enfrentando, com estratégias
diversas, as dificuldades de expressão do horror dos combates, da perda de amigos e da
sensação de errância e desamparo própria da condição de exilado. Assim, colocamos em
discussão poemas de diferentes momentos da longa trajetória do poeta, com o intuito de
analisar permanências e ressonâncias em seu modo de articular poeticamente vida, criação
artística e história. Os comentários críticos sondam também os ecos de sua poesia na
constituição das memórias públicas dos anos de ditadura salazarista em Portugal,
corroborando o sentido de luta subjacente aos seus escritos (Ribeiro & Vecchi, 2011). Em
diálogo com algumas discussões teóricas sobre literatura e catástrofe (Seligmann-Silva,
2003), objetivamos demonstrar como a tensão entre história e memória (Lugarinho, 2005),
aliada ao compromisso ético de testemunhar, se revela na singularidade da poesia política
de Manuel Alegre e na configuração dual de sua subjetividade lírica.
Nota curricular: Marcelo Ferraz de Paula é doutor pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal
de Goiás, onde atua na graduação e pós-graduação. Atualmente realiza estágio pós-doutoral na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, com pesquisa sobre os vínculos entre poesia e testemunho. É autor do livro Poesia e diálogos numa
ilha chamada Brasil (2018), pela EdUnila, e organizador da coletânea Ética, estética e política do testemunho (2017), pela
Nankin.
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Maria do Carmo Mendes
Universidade do Minho
“O oceano parece um grande lago”:
o mar e a diáspora cabo-verdiana
Palavras-chave: Literatura cabo-verdiana, oceano Atlântico, emigração.
A emigração cabo-verdiana é, historicamente, uma exigência que procura
ultrapassar contingências da insularidade. Os surtos migratórios – em especial para a
América do Norte – começaram no início do século XVII e conduziram a uma diáspora
que a literatura cabo-verdiana aprofundou.
Os propósitos principais desta comunicação são, assim: 1) Identificar o papel da
emigração no movimento fundador da literatura cabo-verdiana, Claridade, e em
composições poéticas de alguns dos seus mais relevantes escritores; 2) Explicitar a
importância do oceano Atlântico na configuração identitária do arquipélago cabo-verdiano,
tomando como referência principal a poesia de Jorge Barbosa e a sua leitura do Atlântico
como “um grande lago”; 3) Analisar a representação do oceano Atlântico em Chiquinho, de
Baltasar Lopes (o primeiro romance cabo-verdiano); 4) Reconhecer de que modo os
movimentos migratórios cabo-verdianos contribuíram para a construção de uma identidade
multicultural moldada pelo contacto com outros povos e outras culturas.
Nota curricular: Maria do Carmo Cardoso Mendes é professora e investigadora do Instituto de Letras e Ciências
Humanas da Universidade do Minho. É vice-presidente e presidente do Conselho Pedagógico do Instituto de Letras e
Ciências Humanas da Universidade do Minho. Especialista em Literatura Comparada e em Literatura Portuguesa
Moderna e Contemporânea, tem publicado ensaios sobre: escritores de língua portuguesa (Luís de Camões, Padre
António Vieira, Camilo Castelo Branco, Guilherme de Azevedo, Eça de Queirós, Camilo Pessanha, Aquilino Ribeiro,
Almada Negreiros, Miguel Torga, Agustina Bessa-Luís, Teolinda Gersão, Almeida Faria, Orlanda Amarílis, Rui Knopfli,
Arménio Vieira e Germano Almeida); mito de Don Juan; Ecocrítica; Literatura Fantástica e Policial; influências clássicas
na Literatura Portuguesa Contemporânea; Diálogos entre a Literatura Portuguesa e as Literaturas Hispano-Americanas.
As suas publicações mais recentes são os livros Don Juan(ismo): o mito (2014), Artes e Ciências em Diálogo (2015 – em
colaboração com Isabel Ponce de Leão e Sérgio Lira), Idades da Escrita: estudos sobre a obra de Agustina Bessa-Luís (2016) e
Humores e Humor na Obra de Agustina Bessa-Luís (2017 – em colaboração com Isabel Ponce de Leão).
99
Maria Erotildes Moreira e Silva
PPGL, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Interfaces entre ações oficiais e concepções de professores
de PLE acerca da internacionalização do português
Palavras-chave: Política linguística, gestão da língua, ensino de português, língua estrangeira, ações oficiais, professores.
As ações oficiais implementadas por Portugal e pelo Brasil para fomentar a
internacionalização do português foram analisadas, nesse artigo, à luz de crenças e
concepções de professores de Português – lpingua estrangeiro que atuam em diferentes
países. Nosso objetivo é perscrutar em que medida essas políticas linguísticas atendem às
necessidades de professores de PLE que atuam na difusão dessa língua. A análise tem o
aporte teórico proposto por Spolsky (2004) e por Shahamy (2006), acerca das esferas
constitutivas de uma Política Linguística, em que as crenças e as práticas em torno de uma
língua, ao lado da gestão, constituem fatores a serem considerados no planejamento dessas
ações. Com base nesses autores, partimos da hipótese de que há um hiato entre a política
explícita dos Estados lusitano e brasileiro para a promoção internacional do português e a
política implícita que permeia o processo de internacionalização do idioma e para
referendar nossa proposição, entrevistamos três gestores e setenta professores que atuam
no ensino de PLE, em instituições públicas e privadas. Concluímos que as ações oficiais
analisadas são um alicerce concreto na internacionalização da língua portuguesa, mas lhes
falta coesão, ao serem praticadas pelos dois países analisados, visto que ambos insistem em
traçar um “Tratado de Tordesilhas” nas ações voltadas à promoção do nosso idioma.
Gestores e professores entrevistados foram unânimes em afirmar a necessidade de uma
política linguística em que as ações oficiais para a internacionalização do idioma e o ensino
de português, na modalidade estrangeira, se coadunem, enquanto instrumentos essenciais à
ampliação dos limites da língua portuguesa, no cenário internacional, através de ações
compartilhadas entre os países em que o português é língua oficial.
Nota curricular: Maria Erotildes Moreira e Silva, doutorada, é professora de Língua Portuguesa desde 1987 e bolsista
CAPES-PNPD, Desenvolve pesquisas no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará
acerca das Políticas Linguísticas para a internacionalização do português e atua como membro do PLIP - UFC (Programa
de Políticas Linguísticas para a Internacionalização da Língua Portuguesa),desde 2010..
100
Maria Helena Ançã
Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Aveiro
Investigação em Português Língua Não Materna
– o caso do Laboratório de Investigação em Educação em Português
Palavras-chave: Laboratório de Investigação em Educação em Português, Português
Língua Não Materna, Língua de Acolhimento, diversidade linguística e cultural, projetos
académicos, sociodidática.
O Laboratório de Investigação em Educação em Português/LEIP, estrutura do
Centro de Investigação em Didática e Formação de Formadores/ CIDTFF, foi criado em
2004, com duas linhas: grosso modo, uma de Português Língua Materna (linha 1) e outra de
Português Língua Não Materna/PLNM (linha 2). É óbvio que as linhas foram evoluindo e
integrando outras componentes associadas a estas duas matrizes. No caso da linha 2,
porque o interesse pelas variedades do Português desde logo se fez sentir, houve
necessidade de a precisar: PLNM e variação.
Neste quadro, têm sido desenvolvidos vários projetos académicos, de Mestrado, de
Doutoramento e de Pós-Doutoramento, para além de projetos científicos com (e sem)
financiamento. No entanto, neste espaço apenas nos focaremos nos projetos académicos,
fazendo uma ligação entre as temáticas tratadas e as mudanças na sociedade, quer em
termos de população escolar estrangeira e respetiva diversidade linguística e cultural, quer
em termos de necessidades da própria sociedade recetora, no que diz respeito à
aprendizagem do português, como língua de acolhimento (Ançã, 2003). Neste âmbito, o
quadro teórico deste texto não pode esquecer a sociodidática e a relação que esta pressupõe
entre as línguas e os contextos sociopolíticos que as enquadram (Clerc & Rispail, 2009;
Rispail & Blanchet, 2011).
Nota curricular:
Professora Associada com Agregação, Departamento de Educação e Psicologia (Universidade de Aveiro); Licenciada em
Linguística/Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa; Diplôme d'Etudes Approfondies: Linguistique et Didactique
des Langues Vivantes, pela Université Grenoble III (França); Doutoramento e Agregação na área da Educação, pela
Universidade de Aveiro; Coordenadora do Laboratório de Investigação em Educação em Português/LEIP; responsável
da linha PLNM e variação; Diretora do Mestrado em Ensino de Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Secundário e
de Língua Estrangeira no Ensino Básico e Secundário, área de especialidade de Alemão, de Francês e de Espanhol.
101
Maria João Macário
LEIP/CIDTFF/Universidade de Aveiro
Cristina Manuela Sá
LEIP/CIDTFF/Universidade de Aveiro
Cristina Vieira da Silva
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
Relações entre o Português europeu e as suas variedades internacionais:
um estudo com futuros profissionais da Educação
Palavras-chave: Língua Portuguesa, língua materna, língua oficial, lusofonia, variações, ensino e
aprendizagem.
Tendo como base preocupações associadas ao desenvolvimento de competências para o
século XXI, nomeadamente em comunicação oral e escrita em língua portuguesa (LP), uma equipa
de um laboratório de investigação tem vindo a desenvolver estudos exploratórios centrados nas
representações de futuros profissionais da Educação sobre o lugar ocupado pelo Português no
mundo.
A finalidade destes estudos tem sido traçar um perfil dos estudantes (em formação inicial e
pós-graduada) e, a partir desse conhecimento, encontrar estratégias que possam contribuir para a
aquisição de determinados conhecimentos e o desenvolvimento de certas competências passíveis de
assegurar uma mais sólida representação sobre a projeção da sua língua materna e de os ajudar a
ultrapassar as lacunas detetadas. Entre os saberes a adquirir, destacam-se conhecimentos sobre a
variação inerente a qualquer sistema linguístico (intraindividual ou interindividual) e o que distingue
linguisticamente variedades entre si. Pretende-se que estes futuros profissionais da Educação
possam não só reconhecê-las, descrevê-las e analisá-las, como ainda serem sensíveis ao papel que
estas desempenham na comunicação e saibam agir em conformidade.
O presente artigo diz respeito a um estudo exploratório, tendo por informantes 85 futuros
profissionais da Educação, a frequentar, à data da recolha dos dados, o 2º semestre do 1.º ano de
uma licenciatura em Educação Básica. Adotou-se uma metodologia de índole qualitativa associada
ao estudo de caso, recorrendo-se ao inquérito por questionário para recolha de dados, que foram
objeto de análise de conteúdo.
Os resultados revelaram representações sobre a LP demasiado presas à origem geográfica
da língua e lacunas quanto à sua variação pouco compatíveis com a inserção na sociedade
multicultural e plurilingue do séc. XXI. Tais representações equivocadas e lacunas são
problemáticas não apenas pelo que revelam em termos de desvalorização da LP, mas também
porque põem em causa a afirmação da identidade linguística e cultural destes falantes.
Notas curriculares
Maria João Macário é doutorada em Didática e Desenvolvimento Curricular pela Universidade de Aveiro e, atualmente,
colabora com o LEIP, sediado no DEP, da UA.
Cristina Manuela Sá é doutorada em Didática pela Universidade de Aveiro e cocoordenadora do Laboratório de
Investigação em Educação em Português (LEIP), do Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de
Formadores da Universidade de Aveiro. Interessa-se particularmente pela transversalidade da língua portuguesa e a sua
operacionalização, temática que aborda não só no âmbito da investigação, como também na docência.
Cristina Vieira da Silva, doutorada em Linguística pela FCSH da UNL, é professora coordenadora na ESE de Paula
Frassinetti, onde dirige o mestrado em Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Português e História e Geografia de
Portugal no 2.º Ciclo do Ensino Básico. Membro integrado no Centro de Estudos da Criança da Univ. do Minho, os seus
interesses de investigação situam-se nas áreas da didática do português e do desenvolvimento da linguagem.
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Maria João Marçalo
Universidade de Évora
Cecília Santanchè
Università degli Studi di Chieti, Pescara
A criação do contexto para o ensino do PLNM
Palavras-chave: Contexto, ensino, aquisição, linguagem, comunicação.
O estudante de português em um país lusófono (PL2) encontra-se em um contato
direto com a língua e, em situações em que não há falantes de sua língua materna ou de
uma língua veicular, procura estratégias para se expressar: gestos, movimentos corporais,
referência às línguas que conhece... É muito comum que um falante de italiano ou de
espanhol se comunique em “portunhol”, ou “portuliano”. Além disso há outras linguagens
fundamentais para a comunicação: linguagem corporal, a linguagem dos gestos, a distância
entre os falantes, o modo de se vestir.... Aspectos culturais importantes para o
ensino/aquisição de uma nova língua em sua pluralidade.
No do ensino do português como língua estrangeira (PLE) é muito difícil que o
estudante se encontre em situações como as anteriores, portanto o professor deve lançar
mão de vídeos, imagens, revistas, filmes para poder enriquecer o contexto de sala de aula e
não limitar o ensino da língua à apresentação de uma estrutura gramatical sem contexto.
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa conjunta sobre o ensino do português como
língua não materna na Universidade de Évora: como L2, e Università di Chieti – Pescara
(Itália), como LE, e pretende-se fazer propostas de criação de contextos em sala de aula
que permitam não apenas uma melhor compreensão da língua portuguesa mas também
uma produção rica e diversificada.
Tal estudo insere-se no âmbito da linguística aplicada e tem como referência tanto
estudos linguísticos do português: Castilho, A. (2010), Marçalo, M. J. (2009), como de
estudos sobre a didática das línguas italiana e portuguesa: Mendes, E. (1994), Diadori
(2000), Osório, P. e Mayer, R.M. (2008).
Notas curriculares:
Maria João Marçalo - Concluiu a Agregação - em 2012. É Professor Auxiliar com Agregação na Universidade de Évora. É
diretora da Comissão Executiva e de Acompanhamento do Doutoramento em Linguística. Possui 3 capítulos de livros e 4
livros publicados. Possui 7 itens de produção técnica. Actua nas áreas de Humanidades com ênfase em Línguas e
Literaturas e Humanidades com ênfase em Outras Humanidades.
Cecília Santanchè - Desde 2003 é Leitora de Português na Universidade de Chieti –Pescara – Itália. Graduação na
Universidade Federal da Bahia (Brasil), pós-graduação em didática de língua italiana pela Universidade Ca’Foscari de
Veneza, Mestrado na Universidade “la Sapienza” de Roma; doutorado em linguística na Universidade de Évora (em
curso), com a orientação da prof. Maria João Marçalo e do prof. Pedro Balaus Custódio.
103
Maria José Carneiro Dias
ILCML - FLUP
Maria Velho da Costa
– um mistério glososo
Palavras-chave: Voz, escuta, atravessamento, fronteira, oscilação, crioulo galáctico.
“A boa escrita nunca é coisa do umbigo de cada um”, escreveu Maria Velho da
Costa em 1972, numa crónica a propósito do inquérito “Literatura em Portugal. O que é?
Para que serve?”. Nesta frase se adivinha já um gosto que caracterizará a sua produção
literária e a fará território de cruzamentos linguísticos, literários, interculturais e
interartísticos múltiplos.
Laboriosa na arte de tecer o estandarte da língua, que sempre desejou ativa e tenaz,
a autora sabe-se parte de uma confraria de artesãos da palavra que, tendo-lhe formado o
gosto, fizeram dela um “cedro habitadíssimo” e dos seus textos uma paleta de referências
que se cruzam, integram e fecundam o discurso.
É assim que ler Maria Velho da Costa é surpreender-se a cada instante com vozes
outras que com a sua dialogam e se entrelaçam, num fenómeno que a própria designa de
mistério glososo e que abre na superfície do texto novas territorialidades semânticas. Esta
poética de atravessamento textual faz da ficção de MVC uma zona franca onde as noções
de texto, contexto, intertexto, metatexto e transtexto se imbricam, num estimulante ludus
verboso que homenageia as afinidades eletivas da autora, ao mesmo tempo que exercita as
potencialidades da língua e da escrita literária e as faz dizer de outro modo ou dizer em outros
sons, num exercício de variância e de dissonância que dissolve fronteiras e atualiza em
permanência o conceito de pluralidade.
Nota curricular: Maria José Carneiro Dias é doutorada em Literaturas e Culturas Românicas – especialidade de
Literatura Portuguesa -, professora do ensino secundário e membro integrado do Instituto de Literatura Comparada
Margarida Losa, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Com interesses nas áreas dos estudos literários,
culturais e interartes, tem vindo a colaborar na enciclopédia digital Ulyssei@s e no projeto Inter-Transculturalidades do
ILCML.
104
Maria José Coracini
Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Linguagem-trauma e resistência:
o caso de moradoras de rua no século XXI
Palavras-chave: Perspectiva discursivo-desconstrutiva, sujeito, linguagem-trauma, gênero,
psicanálise, historicidade.
Parte de uma pesquisa mais ampla, apoiada pelo CNPq, sobre a identidade de
mulheres que ainda moram ou moraram nas ruas, em pleno século XXI, esta comunicação
objetiva trazer resultados parciais da análise de narrativas de mulheres à deriva em ruas de
Campinas (SP, Brasil), focando questões como língua-cultura, a relação entre linguagem e
trauma, gênero, dentre outras. Consideramos trauma como um evento inesperado e
reprimido que, entretanto, pode, a posteriori, ser simbolizado. Isso não ocorre sem
sofrimento, razão pela qual evita-se falar a respeito. Os traumas narrados resultam de
aspectos socioculturais e/ou da atitude de mães, que deixaram as filhas nas ruas e/ou as
discriminaram por serem pretas (pai preto), por exemplo, o que não raro as levou, na (pré)adolescência, ao estupro e, daí, à prostituição ou, ainda, resultam da rejeição paterna. O
sofrimento da memória desse(s) trauma(s) provoca(m) resistência à verbalização,
silenciando-as por vergonha, comportamento resultante, possivelmente, da discriminação
social que as exclui. Sua auto-imagem se viu destruída para sempre: preconceito, tratamento
desigual pela sociedade e por familiares (pai e mãe). As auto-narrativas apontam para
marcas de trauma(s) na constituição subjetiva das participantes. Dentre outros enunciados,
são analisados aqueles que se repetem como expressão de resistência, peculiares ao
silenciamento decorrente da situação traumática vivenciada pelas participantes: “Ta bom
pra você?”, “Não quero me lembrar”, “Chega!”, “Não quero falar”, apesar de a narrativa
prosseguir momentos depois. A perspectiva teórico-filosófica de apoio baseia-se nos
aportes de Michel Foucault (sobre discurso e poder), de Jacques Derrida (quanto à
problematização das dicotomias que servem de base à epistemologia ocidental) e da
psicanálise freudo-lacaniana (particularmente, no que diz respeito a sujeito e verdade).
Embora ciente das diferenças entre as três linhas de pensamento, reúnem-se as noções que
interessam para a pesquisa em torno do que os une, sem fazer tabula rasa das diferenças.
Nota curricular: É professora titular e livre-docente pela Unicamp, Departamento de Linguística Aplicada do Instituto
de Estudos da Linguagem (IEL). Fez pós-doutorado nas Universidades: McGill (Québec, Canadá), Sorbonne-Paris III e
de Lisboa. É especializada em Análise de Discurso Científico, Político, Pedagógico, discurso de/ sobre a pobreza, e
tradução. É coordenadora de três grupos de pesquisa (cf. CNPq).
105
Marisa Mendonça
Diretora Executiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa
Fernanda Cavacas
Ensaísta
Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.
Atualização e divulgação através de uma plataforma digital
Palavras-chave: Língua Portuguesa, autores africanos, dicionário, conhecimento, literatura,
antologias.
O Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, da autoria do Dr. Aldónio
Gomes e minha, foi editado pela Caminho em 1997, perante a exigência de atenuar os seguintes
problemas: o desconhecimento, frequente em Portugal, relativamente a poetas e prosadores de
literaturas africanas de língua portuguesa; o desconhecimento, em cada um dos Cinco, das
personalidades literárias dos outros países de língua oficial portuguesa; e um débil conhecimento,
em cada país, dos autores desse mesmo país e das respetivas obras.
Para além de explicitar alguns dados orientadores que resultaram das opções que
assumimos ao decidir QUE AUTORES SÃO ABRANGIDOS PELO DICIONÁRIO,
apresentamos o formato base do esquema de apresentação de cada autor e a constituição de outros
blocos dedicados a uma listagem de ANTOLOGIAS/OBRAS COLETIVAS, ÍNDICES e
BIBLIOGRAFIA GERAL.
A obra conheceu duas edições em papel e, apesar da imediata desatualização, continua a
proporcionar dados e referências sobre escritores africanos de língua portuguesa a muitos leitores
comuns, professores, escritores, críticos, num objetivo fundamental de estimular o interesse pelo
Outro. Atualizá-la é uma tarefa urgente, mas, atualmente com o desenvolvimento das plataformas
digitais, seria – na minha perspetiva – um erro não o fazer de forma consistente e alargada.
Daí, o projeto do IILP que, com base no Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa e em todos os dados que dele constam, promoverá a constituição de núcleos
operacionais em cada país que levantarão dados sobre novos escritores, novas edições e/ou novos
factos a incluir – numa perspetiva de atualização permanente em plataforma digital.
Notas curriculares:
Marisa Mendonça, nascida em Moçambique, é Doutora em Educação/ Currículo pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP), Brasil. Foi Diretora da Faculdade de Línguas da Universidade Pedagógica, Moçambique (20032009). Atuou como Coordenadora Geral do Programa de Formação Contínua de Professores de Português - modalidade
semi-presencial (Programa Universidade Pedagógica-Instituto Camões), 2005-2013. Entre 2009 a 2012, assumiu como
Diretora da Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica, Moçambique.
Diretora da Escola Superior de Contabilidade e Gestão da Universidade Pedagógica, Moçambique (2012-2014). Sua
experiência na área de lecionação ao nível de graduação e pós-graduação concentra-se na Didática do Português,
Supervisão Pedagógica em Ensino de Línguas; Análise e Produção de Materias Didáticos para o Ensino de Língua,
Produção de Recursos Didáticos para o Ensino de Português/ Língua Estrangeira, Produção de Português Oral,
Produção de Português Escrito. Já na área de investigação seus estudos focam as Metodologias de Ensino de Português,
Língua Não Materna; Desenvolvimento Curricular em Línguas em contextos de diversidade linguística; Interculturalidade.
Fernanda Cavacas é Doutora em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa, professora e formadora de
professores de Língua Portuguesa e de Literaturas de Língua Portuguesa, orientadora de teses de mestrado e de
doutoramento, participante em inúmeros seminários, conferências, mesas redondas e debates em Moçambique e nos
outros países africanos de língua oficial portuguesa, em Portugal e no Brasil, vem trabalhando há umas dezenas de anos –
quer no sistema formal, quer no ensino televisivo. Autora ou organizadora de várias obras nas áreas de Linguística,
Literatura e Ensino da Língua Portuguesa, é uma referência para a crítica da literatura moçambicana, nomeadamente
sobre a escrita de Mia Couto. Consultora da Fundação Calouste Gulbenkian, integrando o Projeto de Expansão e
Melhoria Qualitativa do Ensino da Língua Portuguesa (EMELP) desde 1986 e com trabalho realizado para os cinco
países. Coautora (com Aldónio Gomes) do Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, participando
atualmente no projeto do IILP de atualização e divulgação do dicionário através de uma plataforma digital.
106
Martin Neumann
Universität Hamburg
O papel das “pequenas” literaturas lusófonas de África
(Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe)
no universo das literaturas de língua portuguesa
Palavras-chave: Pequenas Literaturas Lusófonas Africanas, centro e periferia,
‘Weltliteratur’, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde.
Uma observação a propósito: na célebre série alemã da Metzler Literaturgeschichte, há
uma História da literatura francesa, uma italiana, uma alemã, uma inglesa, uma espanhola, uma
latino-americana e mais algumas. No entanto, é inútil procurar uma História da literatura
portuguesa ou brasileira, e isso não obstante o leitor culto na Alemanha conhecer pelo menos
os grandes génios da literatura portuguesa, tais como Camões, Fernando Pessoa ou, depois
da atribuição do Prémio Nobel em 1998, José Saramago e mais alguns. Aliás, esta
constatação vale também para os grandes escritores de literatura brasileira como Machado
de Assis, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, para citar ao acaso alguns nomes – todos
traduzidos para alemão. No que diz respeito às literaturas lusófonas de África, pelo menos
alguns nomes inscreveram-se entretanto na memória coletiva e, sobretudo, nas consciências
dos leitores: Pepetela, José Eduardo Agualusa, Mia Couto, Paulina Chiziane, talvez
Germano Almeida, provavelmente por eles serem publicados por editoras conhecidas,
apoiados por poderosas estratégias de marketing e, por isso, rapidamente traduzidos em
várias línguas europeias.
Todavia, só um público quase exclusivamente académico sabe que há ainda outros
países lusófonos em África que possuem uma rica produção literária (aliás colonial,
anticolonial e pós-colonial). Infelizmente, estas obras raramente foram traduzidas e se o
foram (como, por exemplo, o livro mais interessante do guineense Abdulai Sila, A Última
Tragédia, que foi traduzido para francês em 1995), quase ninguém notou e assim o livro
continua quase desconhecido.
A minha contribuição visa pôr em causa ou re-avaliar o papel da produção literária
dos pequenos países lusófonos em África no grande conjunto das literaturas de língua
portuguesa e, ao mesmo tempo, esclarecer um pouco o valor desta produção literária no
quadro de relações entre centro e periferia de uma eventual ‘Weltliteratur’.
Nota curricular: Martin Neumann é professor de literatura francesa, italiana e portuguesa na Universidade de
Hamburgo. As suas principais áreas de especialização são o Século das Luzes (França, Itália, Portugal), literatura e média,
romancistas sicilianos do século XX, narradores portugueses no contexto europeu, assim como discursos de identidade
pós-colonais, na África lusófona e francófona.
107
Martins José Chelene Mapera
Universidade Zambeze
Rir junto é um abraço pelos mares da Língua Portuguesa
Palavras-chave: Ngungunyane, crítica literária, moral, humanismo.
O romance O bebedor de horizontes, de Mia Couto, é o último livro da trilogia
intitulada As Areias do Imperador. O seu discurso exemplifica o modo como episódios
dramáticos funcionam como argonautas de criação literária. Partindo de situações
aparentemente cómicas, obriga-nos a refletir sobre várias questões relacionadas com a
realidade que caracterizam os sistemas políticos, antropológicos e sociais no mundo.
Nota curricular: Martins José Chelene Mapera é professor e investigador da cultura moçambicana e cabo-verdiana.
Doutorou-se em Estudos Culturais, pela universidade de Aveiro. Publicou vários artigos de intervenção literária, social e
cultural, dos quais se destaca “O silêncio do medo em O sonho de Alima, de Lília Momplé e “Os desertores de memórias
no romance Jesusalém”, de Mia Couto, ambos pela revista Forma Breve. Colabora em diversas antologias poéticas. Em 2015,
publicou, em Lisboa, o seu primeiro livro ensaístico, intitulado Realismo e Lirismo em Terra Sonâmbula, de Mia Couto, e
Chuva Braba, de Manuel Lopes. Em 2017, publicou, em Moçambique, Poema aberto e a tela da diversidade. É comunicador em
conferências nacionais e internacionais.
108
Matilde Gonçalves
Rute Rosa
CLUNL / FCT
O suporte digital na leitura e compreensão textual
Palavras-chave: suporte digital, capacidades de leitura e interpretação, plano de texto,
linguística do texto e do discurso, transposição didática.
O seguinte trabalho resulta da investigação realizada no âmbito de um projeto de
pós-doutoramento financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e do projeto de
investigação Promoção da Literacia Científica, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian,
no âmbito do Programa de Investigação nos domínios da Língua e Cultura portuguesas
(2016-2017).
Partindo dos pressupostos de que:
1) a abordagem do estudo da língua pode ser feita a partir da observação de textos
empíricos associados a atividades sociais;
2) a aprendizagem da língua em contexto formal passa pela observação desses mesmos
textos e pela reflexão sobre a sua dimensão textual e contextual;
procuramos evidenciar as potencialidades e os desafios do suporte digital no
desenvolvimento de capacidades de leitura de géneros textuais diversos.
Segundo Maingueneau (2002), o suporte não deve ser encarado como um mero
meio de transmissão e circulação dos textos, uma vez que a sua alteração interfere na
organização textual e na compreensão dos conteúdos. Marcuschi (2008) também sublinha
que o suporte não é neutro, acrescentando que está por discutir e analisar a natureza e o
alcance dessa interferência.
Neste sentido, o objetivo da nossa comunicação é contribuir para esta discussão, a
partir do estudo de um corpus de textos de divulgação científica pertencentes ao projeto
Promoção da Literacia Científica (disponível em http://www.literaciacientifica.pt/). Para tal,
privilegiando uma abordagem metodológica qualitativa/comparativa e retóricohermenêutica (Rastier, 2001), apresentamos uma análise que contempla o plano de texto, ou
seja, a organização textual e a organização temática (Bronckart, 1997, 2004, 2008; Rosa,
2017; Rosa et al., 2017).
Através da observação das semelhanças e diferenças nos textos em função do
suporte (impresso e digital) (Gonçalves, 2011, 2014), evidenciamos as implicações que estas
têm na leitura/compreensão, bem como na construção de conhecimentos sobre o texto,
contribuindo, assim, para o que é preconizado quer no PMCPES, quer no Perfil do Aluno.
Notas curriculares:
Matilde Gonçalves é investigadora no Centro de Linguística da Universidade NOVA de Lisboa. Doutorada em
Linguística (especialidade em Teoria do Texto) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e em Estudos Portugueses
pela Universidade de Paris 8. Trabalha na área da linguística do texto e do discurso. Coordenou um projeto de
investigação financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian – Promoção da Literacia Científica – no qual se visa
desenvolver estratégias de intervenção didática para promover a literacia científica de alunos dos ensinos básico e
secundário.
Rute Rosa é bolseira de doutoramento, no âmbito do Programa FCT Linguistics – Knowledge, Representation and Use
(PD/BD/113974/2015). A sua investigação situa-se no quadro teórico do Interacionismo Sociodiscursivo, estando,
atualmente, a desenvolver um instrumento linguístico para a descrição e distinção dos géneros de texto – o padrão
discursivo.
109
Matteo Migliorelli
Dipartimento di Filologia, Letteratura e Linguistica, Universidade de Pisa
A aprendizagem do português por estudantes italófonos:
o papel do transfer linguístico
Palavras-chave: Italiano língua materna, português língua estrangeira, transfer, didática,
análise de erros, interlíngua.
Esta comunicação tem como objetivo de destacar o papel do processo de transfer
linguístico, a partir de situações concretas de contacto linguístico entre a LM (língua
materna) e a LE (língua estrangeira), durante as fases de ensino, aprendizagem e produção
de enunciados por parte dos discentes.
Como vários estudos demostram, o conhecimento linguístico está sujeito à
influência de múltiplos fatores, que incidem em medida diferente no seu desenvolvimento,
tornando a sua análise efetivamente complexa: ao longo do meu estudo, investigarei sobre
o processo do conhecimento linguístico, evidenciando, na sua construção, a presença do
transfer, positivo e negativo, que é a origem de consideráveis problemas e dificuldades do
estudante de LE.
De facto, a prática do aprendente de transferir para a nova língua os hábitos
linguísticos previamente adquiridos tem levado os linguistas a formular o conceito de
transfer: ele será positivo nos casos em que as estruturas das duas línguas coincidem e
negativo se, pelo contrário, estamos frente a dois sistemas divergentes.
Embora exista uma bibliografia extensa à volta do assunto, cabe sublinhar que os
trabalhos empreendidos neste âmbito, nomeadamente pelo que concerne à relação entre o
português e o italiano são escassos. Este trabalho visa, portanto, definir o transfer e as suas
características durante o processo de aprendizagem do PLE por estudantes universitários
italófonos, baseando-se numa análise contrastiva entre as línguas românicas do sul levada a
cabo por meio de um corpus de erros e pela hipótese da existência e influência da interlíngua
em cada aprendiz. Através de um estudo pormenorizado dos erros cometidos pelos
estudantes e recolhidos em dito corpus, classificarei, com a ajuda de gráficos, as línguas
responsáveis do transfer e evidenciarei as áreas linguísticas mais afetadas por este fenómeno,
por cada língua em estudo.
Nota curricular: Matteo Migliorelli é licenciado em Línguas e Literaturas Estrangeiras na Universidade de Pisa e tem um
mestrado em Português como Língua Segunda e Estrangeira que conseguiu na Faculdade de Letras da Universidade Nova
de Lisboa. Atualmente é doutorando em Filologia, Literatura e Linguística na Universidade de Pisa, onde investiga, numa
perspetiva, seja sincrónica seja diacrónica, em vários âmbitos da língua portuguesa relacionados, principalmente, à didática
do PLE e à história do ensino das línguas.
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Olga Maria Castrillon-Mendes
UNEMAT, Cáceres, Brasil
Aspectos do romance contemporâneo em Mato Grosso
Palavras-chave: Ficção contemporânea, literatura brasileira, alegoria, Eduardo Mahon.
Esta comunicação tratará da narrativa contemporânea em Mato Grosso a partir de
uma visada sobre os romances de Eduardo Mahon: O cambista (2014), O fantástico encontro de
Paul Zimmermann (2016), O homem binário e outras memórias da Senhora Bertha Kowalski (2017) e
Alegria (2018). Nesse panorama serão observados os aspectos narrativos que atuam na
fragmentação do discurso e das personagens. Conseguirão, leitor e narrador, desembaraçar
os laços que os prendem ao extemporâneo? Entre os mecanismos ficcionais e a construção
dos conflitos interiores, os romances possibilitam não só adentrar temáticas comuns afeitas
ao humano, mas descobrir um narrador ensimesmado que se vê às voltas com situações
estranhas e enclausuradoras que apontam para finais surpreendentes. Preso às tecnologias e
ao mundo dos negócios, o homem enreda-se em suas próprias neuroses, distanciando-se de
si e dos outros, o que coloca os narradores nos limites do (des)humano. Nessa relação, o
topos do duplo é o movimento do jogo entre as realidades ficcionais. A do interior, que
focaliza a fragmentação do homem, e a exterior, com as sugestões e influências do meio,
incorporadas à estrutura da obra, como fala Antonio Candido (2005) ao perceber a relação
entre literatura e sociedade. Para apreender esse processo que caracteriza a narrativa
mahoniana, a ambiguidade e a ironia se instauram na constituição dos textos. Nossa
hipótese é que a experimentação com a linguagem elabora a feição inovadora dos romances
na discussão das condições humanas a partir da alegoria e do insólito. A análise privilegiará,
também, os elementos estilísticos dos textos, buscando compreender de que maneira o
romance considerado “de margem” tem sido pensado no conjunto da prosa
contemporânea brasileira.
Nota curricular: Mestrado em Linguística (Unicamp, 2000), Doutorado em Teoria e História Literária (Unicamp, 2007) e
Pós-Doutorado em Literaturas Comparadas de Língua Portuguesa (FFLCH/USP, 2013). Atualmente é Professora
Adjunta do Departamento de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso/Campus de Cáceres; do Mestrado
Profissional em Linguagem/PROFLETRAS e Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Literários/UNEMAT. Tem experiência na área de Letras, atuando nos temas afetos à literatura brasileira; Teoria e
História Literárias; Estudos de Literatura Brasileira produzida em Mato Grosso e Literatura e ensino. É Sócia Efetiva do
Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres e da Academia Mato-Grossense de Letras; Líder do Grupo de Pesquisa
“Questões históricas e compreensão da literatura brasileira” (CNPq/2002). Integra os Grupos: RG Dicke de Estudos em
Cultura e Literatura de Mato Grosso, da UFMT. É autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá:
EdUFMT, 2013) e “Discurso de constituição da fronteira” (www.unemat.br/publicações/e-book, 2017), além de artigos
em periódicos e coletâneas nacionais e internacionais.
111
Rejane Queiroz
Saint Louis University, Madri Campus, Espanha
O ensino da literatura nas aulas de PLE
Palavras-chave: Ensino de PLE, oficinas de literatura, crônica literária, literatura e
sociedade, material didático, literatura e cultura.
A proposta deste trabalho é refletir sobre o valor do ensino da literatura para os
alunos de PLE, com o intuito de potenciar a divulgação da língua portuguesa pelos sete
mares. É a linguagem literária complexa e ambígua a tal ponto de prescindirmos dela nas
aulas de PLE? Para alguns, sim, porém opinamos que não, pois, como afirma o professor
Carlos Reis, tanto o texto literário quanto a linguagem verbal possuem características
comuns como a ambiguidade, e não deixamos de usá-la no nosso cotidiano. “Um
vocábulo pode ter vários sentidos distintos; vários sentidos relacionados entre si;
vários sentidos que dependem uns dos outros para completar os seus sentidos; ou vários
sentidos que se agregam de modo que o vocábulo signifique uma relação ou um processo”
(Reis, 2003, p. 126-127).
Então, como apresentar e trabalhar o texto literário na sala de aula? Como as
oficinas de literatura podem ser planejadas? Desejamos apresentar um projeto criado e
posto em prática em Madri, a criação de oficinas de literatura para alunos de PLE e o papel
protagonista da crônica literária. Por que foi escolhida a crônica? Que particularidades e
características do gênero são relevantes para justificar a sua eleição para iniciar esse projeto?
Como estas têm sido trabalhadas nas oficinas e com quais resultados? Que projetos há para
o futuro?
A partir dos preceitos de Antonio Candido, defendemos o imenso valor da crônica
literária enquanto veículo comunicador de longo alcance. “A crônica operou milagres de
simplificação e naturalidade” - afirma o professor (Candido, 1984, prefácio). Assim,
destacaremos alguns bons exemplos escolhidos para o corpus do material criado para a
implementação da oficina de literatura, e como a partir desse gênero de aparente
simplicidade elaboramos uma proposta de notável riqueza literária e cultural.
Bibliografia provisória:
Santos, Joaquim Ferreira dos (org. e int.). As cem melhores crônicas brasileiras, Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
Candido, Antonio. “A vida ao Rés do Chão” – prefacio. In: Andrade, Carlos Drummond el al. Para gostar de ler. São Paulo:
Ática, 1984.
Queiroz, Rejane. Sob o prisma do cronista: Brasil – retrato de uma sociedade, Madri: Casa do Brasil, 20171.
Reis, Carlos. O Conhecimento da Literatura: introdução aos estudos literários. Coimbra: Almedina, 2003.
Venturi, Maria Alice. Considerações sobre a abordagem comunicativa no ensino de Língua. Revista Eletrônica de Linguística, Ano 1, nº
1, 2007.
Nota curricular: Rejane Queiroz é professora na Saint Louis Universtiy (desde 2003) e Casa do Brasil (desde 2001). Formada
em Letras, estudou na Universidade Federal Fluminense e Universidad Autónoma de Madrid. Possui especialização em
Literaturas Hispânicas, em Estudos Portugueses Multidisciplinares (Universidade Aberta de Lisboa) e doutoranda em
Estudos Portugueses e Brasileiros, na Universidad de Salamanca.
Material elaborado por Rejane Queiroz, autora deste artigo, para a implantação das oficinas de literatura na Casa do
Brasil – Madri, no ano de 2017.
1
112
Renata Junqueira de Souza - UNESP, Brasil
Daniela Maria Segabinazi - UFPB, Brasil
Jhennefer Alves Macêdo - UFPB, Brasil
Ensino de literatura e letramento literário:
as estratégias metacognitivas de leitura e a formação de leitores
Palavras-chave: Ensino de literatura, letramento literário, estratégias de leitura, Ensino
Fundamental.
Nos últimos anos, pesquisas desenvolvidas em escolas de rede pública, nos revelam
dados preocupantes no tocante ao espaço do ensino de literatura juvenil nas aulas de
Língua Portuguesa. Inquietos com esse cenário de apagamento do texto literário e
reconhecendo a importância que o ensino de literatura exerce na formação de leitores, o
projeto prolicen 2016 intitulado, Letramento literário no ensino fundamental: onde e como acontece?,
se propôs a desenvolver uma pesquisa através de entrevistas com professores de Língua
Portuguesa dos anos finais do ensino fundamental da rede pública de ensino dos
municípios de Bayeux, João Pessoa e Pilar – PB. Nossas pesquisas iniciais objetivaram
encontrar respostas que nos esclarecessem sobre as possíveis causas que contribuíram para
o distanciamento entre o texto literário e a sala de aula. Através das investigações
desenvolvidas, constatamos algumas problemáticas que estão arraigadas à invisibilidade
pela qual transita o ensino de literatura: um dos resultados mais alarmantes, diz respeito à
falta de clareza e a incompreensão que os professores entrevistados possuem quanto à
função e a utilidade do ensino de literatura. Dessa forma, diante dessa preocupante
realidade, reconhecemos a necessidade de reflexão e revisão de algumas práticas
metodológicas que estão sendo aplicadas. Sobretudo, ressaltamos que o ensino de literatura
só se tornará efetivo, quando novas propostas de leitura em sala de aula forem construídas.
Sendo assim, a partir da coleta desses dados, o presente trabalho buscará contribuir para a
formação de leitores literários juvenis, e para isso, nos propomos a apresentar estratégias de
leitura que cooperem para o resgate do ensino de literatura, provendo assim o letramento
literário nas escolas. Para dar suporte as nossas discussões e propostas, recorreremos às
teorias tratadas por Kleiman (1993); Solé (1998); Girotto e Souza (2010) Soares (1999) e
Cosson (2006). Resultados iniciais obtidos em aulas de Metodologia de Língua Portuguesa
do curso de Pedagogia mostram a importância da contextualização da leitura e as
possibilidades de compreensão do texto literário.
Notas curriculares:
Renata Junqueira de Souza - Livre docente em Conteúdos e Metodologia de Língua Portuguesa. Pós-doutorado no
departamento de Literatura e Ensino da Ohio State University. Docente da graduação e pós-graduação da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da UNESP (Presidente Prudente). Coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e
Literatura Infantil e Juvenil (CELLIJ).
Daniela Maria Segabinazi - Possui graduação em Letras - Língua Portuguesa (Licenciatura Plena) pela Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), graduação em Direito pela mesma instituição.
Mestrado em Letras - Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e
doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atualmente integra o quadro de professores da
mesma instituição.
Jhennefer Alves Macêdo: Possui graduação em Letras (Habilitação em Língua Portuguesa) pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). Atualmente aluna de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da mesma
instituição, vinculado à área de Literatura, Cultura e Tradução, seguindo a linha de Estudos Literários da Idade Média
ao Século XIX.
113
Rosana Baptista dos Santos
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, MG, Brasil
O Fantástico em Mário de Carvalho e Murilo Rubião
Palavras-chave: Mário de Carvalho, Murilo Rubião, fantástico, intertextualidade, narrativa.
Esta proposta vincula-se a uma pesquisa de pós-doutorado em andamento na
Universidade Federal de Minas Gerais e centra-se na análise do elemento fantástico nas
obras do escritor português Mário de Carvalho (1944- Lisboa) e do ficcionista mineiro
Murilo Rubião (1916-1991, Carmo de Minas, Minas Gerais). A partir do conceito de
intertextualidade, discute-se o conceito de literatura fantástica, bem como as estratégias
utilizadas por Mário de Carvalho e Murilo Rubião na composição do texto literário
fantástico e, consequentemente, na representação dos problemas da sociedade e do homem
contemporâneo. Apesar de Mário de Carvalho e Murilo Rubião não terem se encontrado,
há uma relação inequívoca entre as obras dos autores: a utilização do elemento fantástico,
insólito ou estranho na composição da chamada ficção fantástica, inaugurada com o estilo
do escritor tcheco de língua alemã Franz Kafka (1883-1924). É na obra de Tzvetan
Todorov, Introdução à literatura fantástica, que se encontra uma primeira abordagem sobre a
Literatura Fantástica, expressão que, para o autor, diz respeito a um gênero literário
específico, caracterizado por um acontecimento insólito e por uma forma específica de
leitura. A análise geral dessa questão pode demonstrar que, por meio da fantasia (e do
fantástico), da relativização da verdade e da “moralidade” própria da literatura, é possível
obter um panorama da própria crise civilizacional a que estamos submetidos. A
metodologia empregada para o desenvolvimento do estudo é a comparativista.
Nota curricular: Possui graduação em Letras (1998), Mestrado em Teoria da Literatura (2002) e Doutorado em
Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (2009). É professora adjunta de Teoria da Literatura e
Literatura Portuguesa na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri. É Membro do corpo docente do
Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e do Mucuri.
114
Sara Augusto
Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, Instituto Politécnico de Macau
Poesia de viagem a Oriente
Palavras-chave: Poesia, poesia de viagem, literatura em língua portuguesa, Macau, Oriente,
viagem interior.
O acto de viajar originou ao longo do tempo obras fundamentais da literatura,
dando origem ao género de literatura de viagens, de carácter amplo e variado, do simples
apontamento a longas narrativas consagradas na tradição literária ocidental. Para além do
itinerário, determinado pela deslocação no espaço, breve ou longa, a viagem implica, na sua
atitude mais considerada, uma aproximação do indivíduo viajante da realidade e da
paisagem, mas também pode dar origem à reflexão, complementando assim a viagem física
com a viagem interior, feita de novas experiências, sentidos e aprendizagem.
A consideração de uma poesia de viagens vai partir, neste trabalho, do trabalho
poético de dois autores, Carlos Morais José e Carlos André, concretizada em duas obras,
respectivamente Anastasis (2013) e …o sol, logo em nascendo, vê primeiro (2018). A diferente
experiência pessoal dos poetas, tanto no que diz respeito à sua formação e campo do saber,
como na transtextualidade e como na leitura e no exercício poético, torna-se visível na
escrita das suas deambulações a caminho do Oriente e pelo Oriente. Aos itinerários, que
percorrem do Médio ao Extremo Oriente, acrescenta-se a mais-valia da subjectividade
lírica, que reflecte uma percepção do espaço, da História e da cultura, tornados únicos e
sensíveis em cada um dos livros. Em cada poema converge uma multiplicidade de sentidos,
um encontro de culturas distintas, a visão subjectiva, a surpresa do inesperado, a leitura do
insólito, o deslumbramento com a paisagem física e humana. A viagem pelo espaço
transforma-se numa viagem de maior amplitude, provando a verdade das conhecidas
palavras de Séneca, que “o ir pelo mundo não é a mesma coisa para todos”.
Nota curricular: Professora adjunta no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de
Macau desde 2016. Doutoramento (2005) em Literatura Portuguesa (2009). Foi docente e investigadora desde 1991 na
Universidade Católica Portuguesa e desde 2009 na Universidade de Coimbra. No âmbito da sua formação e investigação
(Literaturas de Expressão Portuguesa e Literatura Portuguesa) apresentou trabalhos, publicou em revistas, colaborou em
livros, em Portugal e no estrangeiro. Publicou e organizou cinco livros científicos. Último título publicado: Português com
textos (IPM, 2017).
115
Sara Grünhagen
Université Sorbonne Nouvelle / Universidade de Coimbra
Falar a língua dos homens e dos anjos:
intertextualidade e metalepse em O Evangelho segundo Jesus Cristo
Palavras-chave: José Saramago, Evangelho, intertextualidade, metalepse, narratologia,
Literatura Portuguesa.
O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, apresenta, desde o título e as
epígrafes, uma questão narratológica que subjaz sua concepção e que inicialmente
repercutiu, ainda que por vias menos literárias, na própria recepção do livro: a forma da
composição e da transmissão narrativa de acontecimentos considerados do âmbito da
religião. A conhecida polêmica em torno do livro estaria então relacionada a certa
transgressão da língua que caberia aos homens e, por extensão, aos seus romances,
transgressão esta que vai além da esfera religiosa, estendendo-se ao campo narrativo, na
mistura de gêneros, vozes e intertextos operada por um narrador que, no ato mesmo de
recontextualizar a escritura sagrada, também se deixa ver, interpelando personagens e
leitores, Deus e a história. Partindo, portanto, dos estudos narrativos, em particular da
proposta conceitual de Gérard Genette em Palimpsestes (1982) e Métalepse (2004), propomos
neste trabalho uma análise da construção intertextual do Evangelho de Saramago associada
ao conceito de metalepse, de maneira a ressaltar o modo como os diálogos, as permutações
e as intervenções do narrador, próprios do estilo de Saramago, potencializam a afirmação
ideológico-crítica que o romance propõe, num entrecruzamento elaborado entre plano
narrativo e plano discursivo. Nessa reflexão, trata-se, enfim, de sublinhar o trabalho de
linguagem de uma obra literária que, buscando seu material romanesco em outros mares,
vai não apenas revisitar narrativas fundadoras, mas também vai, de certa forma,
aportuguesá-las, reescrevendo-as com anacronismos marcados e intertextos diversos e
trazendo à cena Josés e Marias que, vivendo em outro tempo e lugar, falam, pensam e
sofrem em português.
Nota curricular: Doutoranda em Literatura Portuguesa pela Université Sorbonne Nouvelle em cotutela com a
Universidade de Coimbra, sob a direção de Olinda Kleiman e Carlos Reis.
116
Sérgio de Carvalho Rodrigues
Universidade de Évora
A Identidade Cultural na Poesia de Agostinho Neto:
"O Içar da Bandeira" e "A voz Igual"
Palavras-chave: Literatura Angolana, Agostinho Neto, identidade cultural, poesia, cultura
angolana, transculturação.
Este trabalho teve em vista encontrar as marcas da identidade cultural angolana na
poesia de Agostinho Neto, buscando evidências nos poemas “O Içar da Bandeira” e “A
Voz Igual”. Depois várias leituras e de muito analisar os poemas referidos, a pesquisa
documental permitiu-nos uma breve recolha bibliográfica especializada para o uso
adequado dos recursos hermenêuticos à nossa disposição, sem dispensar a linha
estruturalista e a dedução ao longo do trabalho. Deste modo, as referências a aspetos
biobibliográficos e estéticos da sua poesia, assim como ao movimento no qual se enquadra
a sua obra, levaram-nos a questões ligadas à negritude e à forma do poeta olhar para
elementos que fazem parte da construção da identidade nacional angolana. Dizemos
construção, pois a identidade de qualquer nação transforma-se e adequa-se ao longo do
tempo para preservar a sua essência, ou seja, está em permanente construção. Foi nosso
objetivo encontrar as marcas da identidade cultural nestes poemas, que fazem parte da obra
Sagrada Esperança (1974), pelo facto da poesia netiana apresentar elementos fundamentais
do espaço cultural angolano que, se não permitem uma inversão do olhar, como propõe
Luís Kandjimbo no Ensaio para Inversão do Olhar – da Literatura Angolana à Literatura
Portuguesa (2011), levam a compreender que o ponto de partida para a cultura angolana não
é a cultura portuguesa, o que também não quer dizer que se negue o seu contributo. Assim
sendo, um aspeto diversas vezes debatido, que é a angolanidade literária, só será aqui
abordado dentro na necessidade de enquadramento de determinadas questões referentes à
identidade cultural angolana nos dois poemas selecionados para o nosso estudo.
Nota curricular: Doutorando em Literatura pela Universidade de Évora desde 2016. Mestre em Estudos Didáticos,
Culturais, Linguísticos e Literários pela Universidade da Beira Interior (2017). Licenciado em Língua Portuguesa e
Comunicação pela Universidade Metodista de Angola (2012). É professor do I ciclo do ensino secundário colocado no
Instituto Nacional de Formação de Quadros da Educação desde 2014. Foi colaborador do Jornal Cultura.
117
Sílvia Ribeiro
ESTGA, UA / CLLC, Universidade de Aveiro
Se decausativo em PB e PE
– entre a perda e a manutenção
Palavras-chave: Decausativização, alternância causativa, clítico SE, mudança de estado,
intransitividade.
Neste trabalho estuda-se o uso de SE decausativo em Português, procurando-se
compreender de que modo as variantes brasileira e europeia divergem a este nível.
Caracterizando-se por denotarem mudanças de estado (O gelado derreteu(-se) com o calor; o barco
afundou(-se) durante a tempestade) e por ocorrerem como variante intransitiva de verbos de
alternância causativa (O gelado derreteu-se com o calor vs O calor derreteu o gelado), as estruturas
decausativas revelam alguma flutuação, tanto entre ambas as variantes quanto no seio de
cada uma delas, no que respeita à perda e manutenção do clítico SE.
Assim, com este trabalho pretende-se, por um lado, descrever as estruturas de SE
decausativo com ocorrência no Português, caracterizando os verbos nelas presentes e as
alterações na organização e na materialização da respetiva estrutura temático-argumental, e,
por outro lado, visa-se compreender as tendências no que respeita ao uso/omissão do
clítico SE. Efetivamente, a análise dos dados (CETEM CHAVE e sítios web dos Jornais
Público e Folha de São Paulo) permite perceber que existem discrepâncias assinaláveis a este
nível, não apenas entre as duas variantes, mas também em produções oriundas de uma
mesma variante. Importa perceber, por isso, as razões que presidem às escolhas dos
falantes neste domínio (presença ou ausência de SE), relacionando-as com eventuais
divergências no que respeita aos tipos de verbos em uso e/ou às características sintáticosemânticas dos respetivos SN sujeito.
Este estudo ancora-se em trabalhos basilares no que respeita à alternância causativa
(Kemmer, 1993; Levin & Rappaport, 1995; Givon, 2001; Shäffer, 2008) e em estudos
recentes aplicados à língua portuguesa (Duarte, 2003; Osório & Martins, 2007; Ribeiro,
2011; Duarte, 2013; Carvalho, 2016).
Nota curricular: Sílvia Ribeiro é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda
da Universidade de Aveiro, estabelecimento em que leciona desde 2004, membro do CLLC-UA e
colaboradora do CELGA-ILTEC. Doutorada pela Universidade de Coimbra (2011), com a tese “Estruturas
com Se anafórico, impessoal e decausativo em português”, tem desenvolvido trabalho na área da interface
sintaxe-semântica, nomeadamente ao nível do estudo das estruturas com clítico se. Tem também trabalho na
área da morfologia e do léxico, com especial enfoque para o estudo da composição em português.
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Simião Alberto Muhate
Universidade Pedagógica, Maputo, Moçambique
Abordagem mitocrítica dos répteis prenunciadores da morte
no grupo etnolinguístico dos Varhonga
Palavras-chave: Hermenêutica simbólica africana, mito, mitocrítica, morte e répteis.
A nossa pesquisa, designada “Abordagem Mitocrítica dos Répteis Prenunciadores
da Morte no Grupo Etnolinguístico dos Varhonga” toma como referência os trabalhos de
Durand, na sua linha anglo-americana, a partir de uma análise baseada no método
mitocrítico dos prenunciadores da morte recolhidos em Maputo pelo docente e estudantes
do “minor” em língua Xirhonga na Universidade Pedagógica no primeiro semestre de
2017.
A nossa pesquisa constitui uma crítica literária do mito, elegendo, para o efeito, o
mitologema da morte, assumindo que o conhecimento dos mitos visa a formação do
homem integral, junto à instrução. Daí que a instrução deve estar circunscrita na educação,
e esta congrega também a arte, em geral, e a literatura, em particular.
Neste campo, exploramos a literatura oral, estrita, no caso, o mitologema da morte,
porque, em nosso entender, não é possível separar o mito da literatura, uma vez que são
complementares na cultura e, por isso, na língua. Assim, todos os mitologemas agregados
em um mito são importantes como reguladores da sociedade à qual pertencem.
Definimos como objectivo: desenvolver a análise mitocrítica do mito como factor
indispensável para a Educação e a formação integral do homem.
Como hipótese assinalamos que o estudo da língua e a disseminação dos valores
socioculturais com professores capazes de uma abordagem interdisciplinar visando a
formação do homem integral.
Apresentamos a necessidade da validação da hermenêutica africana para o acesso
desinibido às realidades socioculturais dos grupos etnolinguísticos, o que propicia a
apropriação de aspectos da tradição africana e das memórias colectivas, como é o caso do
mito aqui representado pelo mitologema da morte.
Nota curricular: Residente em Maputo, Chinonanquila, docente na UP-sede. Mestrado em Educação/ Ensino de
Português pela UP. Doutorando.
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119
Sónia Coelho
Centro de Estudos em Letras, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Susana Fontes
Centro de Estudos em Letras, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Do silêncio à palavra:
a mulher e a língua na tradição portuguesa
Palavras-chave: Historiografia linguística, gramaticógrafas portuguesas, tradutoras,
educação feminina, séculos XVI a XX.
Ao longo dos séculos, a história da mulher ficou marcada pelo silêncio, pela
exclusão e pela marginalidade, fruto do papel subalterno que a sociedade lhe consignou.
Apesar destes constrangimentos, houve mulheres que se destacaram no panorama cultural
português pela sua excecionalidade, notabilizando-se num mundo tradicionalmente
masculino. Na presente comunicação, pretende-se dar destaque precisamente a essas
mulheres, analisando o seu contributo na produção de textos metalinguísticos em Portugal
e destacando o seu papel como tradutoras, educadoras e autoras de gramáticas. Tendo por
base um conjunto diversificado de textos, que vão desde o século XVI até aos inícios do
século XX, temos como objetivo mostrar como a mulher teve um papel importante no
âmbito dos estudos da língua portuguesa.
Nota curricular: Sónia Coelho é professora auxiliar em Linguística Portuguesa no Departamento de Letras, Artes e
Comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e membro integrado do Centro de Estudos em Letras,
financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Doutorada em Historiografia Linguística, mestre em Ensino da
Língua e Literatura Portuguesas e licenciada em Português, Latim e Grego. As suas principais áreas de interesse são:
historiografia linguística, história da língua, o papel das mulheres na gramaticografia portuguesa, o ensino da língua
portuguesa e áreas críticas da língua portuguesa.
120
Tania Celestino Macêdo
USP, Universidade de São Paulo, Brasil
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
e Império Colonial: o silêncio azul
Palavras-chave: Literatura angolana, literaturas africanas de língua portuguesa, literatura e
Império Colonial Português, Literatura e Censura, Literatura e História, Literatura como
instituição.
A comunicação, estabelecida no campo de intersecção entre Literatura e História,
procura iluminar a relação entre Literatura e Império Colonial Português a partir do estudo
sobre a censura aos livros ocorrida nas colônias portuguesas no continente africano no
período compreendido entre 1933 e 1975 procurando verificar quais os livros publicados e
apreendidos especialmente em Angola (ou seja, os títulos publicados em Portugal que,
mesmo censurados ali chegaram e os livros publicados que não puderam circular em razão
do veto da Censura ou foram amputados por cortes). O título escolhido, que remete ao
lápis azul usado pelos censores quando efetuavam cortes nos textos submetidos a eles, tem
como balizas os anos de 1933, quando se institui em Portugal a censura aos livros, com a
criação do Secretariado da Propaganda Nacional – SPN, e 1975, o ano das independências
nacionais dos territórios africanos.
O objetivo principal visa a apresentar os resultados de uma pesquisa em curso, que
pretende estabelecer uma listagem a mais completa possível de todos os livros publicados
em Angola que foram objeto da censura salazarista. Além desse aspecto, e em decorrência
do exame do material pesquisado, procurar-se-á refletir sobre os livros que provavelmente
foram lidos pelos seus intelectuais (apesar dos cerceamentos da censura, já que os livreiros
se antecipavam a ela e, “por baixo dos balcões”, vendiam as publicações antes que elas
fossem recolhidas), além de, a partir do material coletado, poder mapear a rede de livrarias
e/ou locais em que se vendiam livros nas localidades africanas.
Nota curricular: Tania Celestino de Macêdo é Professora Titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da
Universidade de São Paulo, onde ministra aulas nos cursos de Graduação e Pós-graduação. Exerceu vários cargos
administrativos, entre os quais o de Diretora do Centro de Estudos Africanos da USP. Tem livros e artigos publicados na
Alemanha, em Angola, no Brasil, na Itália, em Moçambique e Portugal.
121
Tania Martuscelli
University of Colorado Boulder, EUA
Brasil e Portugal na Literatura:
hibridismo e hospitalidade
Palavras-chave: Hibridismo cultural, hospitalidade, era Lula da Silva, literatura
contemporânea, globalização.
Se a globalização permitiu que as fronteiras se aproximassem e se o neocapitalismo
tem permitido que a geografia se comprima, permitindo que as viagens intercontinentais
sejam acessíveis para (quase) todos, não quer dizer que sejam os nossos tempos um mar de
rosas. Se autores e intelectuais têm podido ir e vir de seus continentes, não significa que a
crise financeira não seja agente, ela também, para além da globalização e do neocapitalismo,
de tais viagens. Em tempos de inédito franco crescimento na era Lula da Silva, o Brasil
recebeu uma nova vaga de imigrantes portugueses. Com a crise em Portugal na mesma
época, jovens artistas e profissionais liberais atravessaram o Atlântico em busca de um
ambiente mais otimista e, evidentemente, de trabalho. Tal vaga, tais viagens, tal
globalização, inaugurou a tendência entre nossos contemporâneos de escrever sobre outra
gente, outras culturas, com personagens de diferentes nações dividindo o mesmo espaço –
o livro. Assim como a era Lula permitiu que aparecesse em Portugal uma literatura repleta
de brasileiros – nativos ou de torna-viagem, para recuperar tendências de outros tempos
ficcionais – também no Brasil surgiram estórias da relação entre portugueses, brasileiros e
africanos no lado Europeu. Hugo Gonçalves, Inês Pedrosa, Alexandra Lucas Coelho, Luiz
Ruffato e outros apresentam-nos textos repletos de hibridismo cultural e da complexa
questão filosófica da hospitalidade, como Derrida nos ensina. Ainda que não tratem
explicitamente desses temas, é inevitável, em tempos de nova ordem geopolítica e
econômica, descobrir novos comportamentos e ideias em reflexões que, mesmo que
criativas, não deixam de ser um espelho da realidade.
Nota curricular: Tania Martuscelli é Professora Associada de Literatura Luso-Brasileira na University of Colorado em
Boulder. Tem publicados três livros, Mário-Henrique Leiria Inédito (Lisboa, Colibri, 2013), (Des)Conexões entre Portugal e o
Brasil – Séculos XIX e XX (Lisboa, Colibri, 2016) e Obras Completas de Mário-Henrique Leiria, volume I (Lisboa, E-Primatur,
2017). Também é autora de diversos ensaios publicados em revistas especializadas em literatura e arte no Brasil, Estados
Unidos, Inglaterra e Portugal. É membro do conselho diretivo do projeto de estudos transatlânticos Portugueses de Papel.
Além de trabalhar com o surrealismo português desde a década de 1990, vem a desenvolver um projeto nas áreas de
hibridismo e hospitalidade na literatura contemporânea dos países de língua portuguesa.
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Tomásia Alícia Mataruca Nhazilo
Faculdade de Ciências da Linguagem Comunicação e Artes, Universidade Pedagógica,
Moçambique
Representações sociolinguísticas do
Português na sua aprendizagem como L2
Palavras-chave: Representações, língua portuguesa, atitudes e imaginário linguístico.
O processo de aprendizagem da língua portuguesa (LP) no contexto moçambicano
passa pelo entendimento da relação que esta estabelece com as outras línguas com as quais
ela co-habita: as línguas bantu. Esta coexistência tem efeitos directos e, por vezes, adversos
no desempenho dos alunos e dos professores, quer na disciplina de LP quer nas demais
disciplinas, visto que os conteúdos disciplinares e programáticos são leccionados na LP.
Neste contexto, propomo-nos fazer uma comunicação na qual apresentamos os resultados
de uma pesquisa qualitativa realizada em escolas periurbanas e urbanas da Província de
Maputo, com o objectivo de analisar as representações sobre a LP e suas implicações ao
longo do seu processo de aprendizagem. A persecução deste objectivo passou pela análise
das atitudes dos alunos, professores e encarregados de educação no quadro dos seus
imaginários linguísticos e sociais, em estreita relação com o contexto sociocultural,
linguístico e pedagógico de produção destas representações.
A análise dos dados, feita à luz da teoria das representações de Moscovici (1961),
Jodelet (2002) e Farr (2003), revelou que, no geral, os alunos têm atitudes positivas em
relação à LP e, por via disso, a sua aprendizagem é caracterizada como sendo boa. Todavia,
destacaram-se alguns pontos de discordância em relação ao valor social atribuído às línguas
que co-habitam com o Português, pois, para os alunos, a avaliação dos processos ligados à
aprendizagem do Português deve passar pela desconstrução de alguns preconceitos
institucionalizados em relação às línguas maternas dos estudantes. Se, por um lado, os
sentidos e significados atribuídos à aprendizagem da LP no contexto moçambicano
materializam o processo de ancoragem destas representações pela manutenção do seu valor
e estatuto social positivo, por outro lado, elas também materializam o processo de
objectivação pela recriação de um novo imaginário sociolinguístico, caracterizado pela
valorização das outras línguas no ambiente escolar.
Nota curricular: Docente de Linguística e Diretora do Curso de Português na Faculdade de Ciências da Linguagem,
Comunicação e Artes na Universidade Pedagógica; Mestre em Educação/ Português L2; com interesse em estudos na
área da Sociolinguística aplicada à Educação e Representações sociais da LP no contexto de L2.
123
Vanderléia da Silva Oliveira
UENP, Universidade Estadual do Norte do Paraná, Brasil
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
O lugar da educação literária no ensino
de língua portuguesa: práticas de leitura
Palavras-chave: Educação literária, Língua Portuguesa, formação de professores, políticas
públicas para leitura, PIBID/CAPES, PNBE.
No âmbito dos estudos contemporâneos sobre Educação Literária interessa-nos a
reflexão sobre a formação inicial e continuada do docente, em especial no que se refere às
políticas públicas voltadas ao fomento da leitura e de formação de professores,
nomeadamente o Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE e o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Apresentamos e analisamos os
resultados decorrentes das atividades do subprojeto Letramentos na escola: práticas de leitura e
produção textual, eixo Letramento Literário, que objetivou implementar práticas pedagógicas
a fim de possibilitar aos docentes a adoção de certas estratégias de leitura. Com forte
caráter de intervenção, o subprojeto realizou-se considerando as seguintes etapas: estudos
de fundamentação teórico-metodológica sobre literatura e ensino, levantamento
diagnóstico de dados do contexto educacional, análise do acervo PNBE, elaboração de
estratégias de intervenção pautadas na proposta de letramento literário (Cosson, 2006),
execução das estratégias pelos alunos da graduação, sob orientação dos supervisores e
coordenador, bem como organização de material didático e produção de artigos
acadêmicos para divulgação em eventos e publicação em revistas na área de Letras. Os
resultados, para além da instrumentalização da leitura literária em sala de aula, se
concretizaram no fato de que, de 2012 a 2017, foram “tiradas da caixa” e/ou
“desencaixotadas”, para usar a terminologia de Paiva (2012), 11 obras literárias, 5 escolas
públicas do estado do Paraná foram assistidas, 6 professoras em serviço retornaram à
Universidade em formação continuada e cerca de 30 bolsistas de iniciação à docência
vivenciaram práticas efetivas para a formação de leitores.
Nota curricular: Professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, campus de Cornélio
Procópio, PR, Brasil. Doutora em Letras, pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e mestre pela Universidade
Estadual Paulista - UNESP. Líder do Grupo de Pesquisa Crítica e Recepção Literária (CRELIT). Atua no campo da
Educação Literária e formação de professor e de narrativa brasileira contemporânea. Realiza estágio pós-doutoral na
FLUC na área de Educação Literária, sob a supervisão do Professor Doutor Jose Augusto Cardoso Bernardes, no período
de 03/2017 a fevereiro/2018.
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Vanessa Gomes Teixeira
Rogélio Ponce de León Romeo (orientador)
Universidade do Porto
Reflexões sobre a educação de surdos
no Brasil no século XX
Palavras-chave: Educação de surdos, surdez, Língua Portuguesa, ensino de português,
historiografia linguística, Brasil.
A educação de surdos no Brasil foi marcada ao longo dos anos pela implementação
de inúmeros métodos voltados para o ensino do Português para essa comunidade.
Influenciados pelo contexto histórico e o pensamento intelectual da época, esses métodos
evidenciam diferentes concepções a respeito do sujeito surdo, da surdez, das línguas de
sinais e dos seus papéis no processo de ensino aprendizagem do surdo.
Entretanto, assim, como alerta Rocha (2009), é fundamental que tenhamos cuidado
quando entramos em contato com esse passado, já que a análise deve buscar compreender
a relevância das primeiras pesquisas na área, e não fazer julgamentos ou definir o que
deveria ter sido feito na época tendo como base estudos atuais.
Dialogando com esse objetivo, o presente trabalho, a partir do arcabouço teórico
da Historiografia Linguística, busca analisar o ensino de Português para surdos no Brasil.
Para realizar tal tarefa, a pesquisa bibliografia e documental em questão é estruturada da
seguinte forma: inicialmente, apresento a revisão de literatura sobre a historiografia da
educação de surdos no contexto global e no brasileiro; depois faço o levantamento de
materiais voltados para o ensino de Português para surdos e outros documentos
relacionados com a institucionalização do ensino de Português para a comunidade surda no
Brasil no século XX; e por fim, analiso os materiais em questão levando em conta o clima
de opinião da época.
Nota curricular: Estudante de doutoramento em Ciências da Linguagem (área de especialização: Didática de Línguas) da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP – Portugal).
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Vanessa Yida
UEL, Universidade Estadual de Londrina /CAPES, Brasil
Vanderci de Andrade Aguilera
UEL, Universidade Estadual de Londrina /CNPq, Brasil
O pão nosso de cada dia: variantes para
pão francês no corpus do projeto ALIB
Palavras-chave: Geolinguística pluridimensional, projeto ALiB, pão francês, alimentação e
cozinha, Português Brasileiro, isoléxicas.
Este trabalho busca descrever e cartografar as variantes para a questão 186 (pão
francês) do Questionário Semântico-Lexical (COMITÊ NACIONAL DO ALiB, 2001), no
que tange ao português brasileiro. Foram levantadas as respostas junto a 1000 informantes
com ensino fundamental de escolaridade e residentes em localidades situadas no interior e
capitais brasileiras, segundo o corpus que integra o Projeto Atlas Linguístico do Brasil
(ALiB). A partir da elaboração de cartas de produtividade por regiões do Brasil e cartas
diatópicas gerais, registramos a distribuição areal das formas mais produtivas.
Posteriormente ao levantamento e cartografação dos dados, seguindo os princípios da
Geolinguística pluridimensional (Thun, 1998), verificamos a inserção das variantes em
dicionários, tais como Ferreira (2010), Houaiss; Vilar (2009), Bluteau (1728), Silva (1813),
Beaurepaire-Rohan (1889), entre outros. Os dados indicam que o “pão nosso de cada dia”
marca presença à mesa brasílica, revelando tratar-se de uma questão polimórfica, dada a
profusão de variantes para denominar o referente. Soma-se a esse fato, a ausência de
abstenções à pergunta. A distribuição geográfica das formas linguísticas integradas em áreas
de isoléxicas demonstrou a formação socio-histórica diversa de cada recanto do país, que
singulariza os modos de expressão regionais.
Nota curricular: Vanessa Yida é Doutoranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Bolsista CAPES. Pesquisadora do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), participa dos projetos: Tesouro do Léxico
Patrimonial do Galego e Português: Brasil; VALEN: Variação linguística na escola: normas; PRODOCENTE: Proposta
de atualização docente para o ensino de língua portuguesa e VALEXTRA: Variação lexical: teorias, recursos e aplicações.
Contato: vanessayida@yahoo.com.br.
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Wenjun Gu
SISU, Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, China
& Universidade Nova de Lisboa
Ana Madeira
Universidade Nova de Lisboa
Pronomes clíticos na aprendizagem da língua portuguesa como LE
– um estudo empírico sobre a sua produção por falantes de chinês
Palavras-chave: Pronomes clíticos, aprendizagem, aprendentes chineses, português
europeu.
É sabido que os pronomes clíticos constituem um fenómeno problemático na
aquisição do português europeu (PE). Dada a escassez de trabalhos sobre a aprendizagem
da língua por falantes nativos de chinês, o presente trabalho destina-se a apresentar um
estudo empírico sobre a produção dos pronomes clíticos por falantes nativos de chinês que
aprendem o português europeu como língua estrangeira.
Baseando-se em estudos anteriores sobre a aquisição de língua materna e de língua
estrangeira (Costa & Lobo 2009, 2013; Costa, Fiéis, & Lobo 2015; Madeira & Xavier 2009;
Fiéis & Madeira 2015, entre outros), recorre-se neste trabalho a uma tarefa de produção
induzida com imagens, através da qual se investigam os fenómenos de colocação e de
omissão dos pronomes clíticos, reflexos e não-reflexos, na interlíngua dos aprendentes em
estudo.
Serão descritos e discutidos, na apresentação, os resultados do teste.
Notas curriculares:
Wenjun Gu, licenciada em Língua e Cultura Portuguesas e mestre em Língua e Literatura Europeias pela Universidade de
Estudos Internacionais de Shanghai (SISU); doutoranda em Linguística pela Universidade Nova de Lisboa. Desde 2012,
trabalha como docente de português para falantes nativos de chinês na SISU.
Ana Madeira é Professora Auxiliar no Dep. de Linguística da Fac. de Ciências Sociais e Humanas e investigadora do
Centro de Linguística da Univ. Nova de Lisboa. Desenvolve investigação em aquisição bilingue e de segunda língua, e em
sintaxe, com foco no português. Tem participado também em projetos no domínio do multilinguismo e políticas
linguísticas, e de criação de materiais para o ensino e avaliação.
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Xavier Frias Conde
UNED, Espanha
Galego e Lusofonia:
uma questão de padrões e de normas
Palavras-chave: Galego, Lusofonia, padrão, norma, ortofonia, portugalego.
Quando se fala em galego internacional, está a ser reconhecido que o galego faz
parte da Lusofonia. Existe um padrão linguístico para o galego que utiliza a grafia
portuguesa, adaptado à sua própria pronunciação. Contudo, esse padrão não está
completamente estabelecido e, aliás, para ser efetivo deveria responder a um critério de
flexibilização. Para isso, é preciso estabelecer se falamos de uma norma galega dentro do
padrão português ou de uma subnorma. Aliás, a padronização do galego tem de responder
às necessidades reais dos seus falantes, pelo qual a Norma Internacional do Galego
permitirá oscilar entre uma escrita mais próxima do galego falado ou do português padrão.
Para além da questão ortográfica, que inclui aspetos morfossintáticos, convém aproximarse da ortofonia do galego na Norma Internacional.
Nota curricular:
Professor na UNED, Madrid na área de galego-português. Estudos em sintaxe, linguística histórica e padronização.
Professor visitante na Universidade Carolina de Praga, UCE, UTPL e PUCE do Equador e Instituto Caro y Cuervo da
Colômbia. Uma das suas linhas de investigação é a relação entre o galego e a Lusofonia.
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resumos
pósteres
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Ana Alexandra Costa Rodrigues Silva
Ana Paula Oliveira Loureiro
Isabel Maria de Almeida Santos
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Construção da concordância nominal em
produções orais de aprendentes de PL2
Palavras-chave: Aquisição e aprendizagem PLNM, concordância nominal, género,
número, corpus, oralidade.
O presente trabalho tem como principal objetivo analisar o desempenho, em
produções orais, de aprendentes adultos de PLNM dos níveis de proficiência A1/A2, no
domínio da concordância nominal em número e género em estruturas com núcleo nominal
ou pronominal (cf. descrições destas estruturas em Raposo et al. 2013). A escolha deste
aspeto da gramática da língua alvo resulta da sua centralidade na construção dos
enunciados e do facto de o seu domínio, por parte dos aprendentes, envolver questões não
só sintáticas, mas também formais (cf. descrição dos aspetos relevantes em Villalva 2003 e
2008). A observação destes comportamentos em contexto de produção oral permite-nos,
por outro lado, e tendo em conta as características deste tipo de registo, obter também
informações mais completas sobre a consistência dos conhecimentos adquiridos e sobre o
próprio processo de construção desses conhecimentos.
Os dados analisados fazem parte do acervo “Corpus Oral de Português L2”
(CELGA-ILTEC, FLUC).
Em primeiro lugar, averigua-se a expressão dos desvios em relação ao número total
de dados convergentes obtidos; identificam-se, depois, as classes de palavras mais afetadas
por estes comportamentos divergentes, bem como os contextos sintáticos em que
ocorrem; observa-se finalmente, a relação entre a ocorrência de desvios e o fenómeno da
hesitação, típico do registo oral.
Relativamente aos desvios, os resultados obtidos permitem-nos concluir
globalmente o seguinte: i) os mecanismos de concordância nominal em GEN e NUM
constituem uma área crítica no processo de aquisição e aprendizagem de PLNM; (ii) o
maior número de ocorrências de desvios regista-se na categoria de GEN; (iii) os elementos
que precedem o nome são os mais afetados pelos desvios na construção de mecanismos de
concordância. 3
Referências:
Raposo, E. P. et al. (orgs) (2013). Gramática do Português. Lisboa: FCG.
Villalva, A. (2003). Estrutura morfológica básica. In M.H.M. Mateus et al (orgs). Gramática
da Língua Portuguesa, 5ª edição revista e aumentada. Lisboa: Caminho, 926-931.
Villalva, A. (2008). Morfologia do português. Lisboa: Universidade Aberta.
Nota curricular da primeira autora: Mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda, grau obtido pela
FLUC em 19/02/2018. Professora de Português L2, apoio tutorial a aluno chinês (março de 2017- junho 2016/
novembro de 2017 – Presente). Colaboração na recolha de dados para o "Corpus Oral de Português L2", do Centro de
Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA-ILTEC, FLUC). Colaboração no projeto E-LENGUA (maio de 2016).
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Ana Isabel Paulos Rodrigues
Ana Paula de Oliveira Loureiro
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Colocação de Clíticos em Português LE por aprendentes
de LM Espanhola – Casos de Subida de Clítico
Palavras-Chave: Colocação dos pronomes pessoais átonos, Português LE, Aprendentes
com LM Espanhola, Ênclise, Próclise, Subida de Clítico.
Em Português e em Espanhol, as regras para a colocação dos pronomes pessoais átonos são
diferentes. Essas diferenças podem gerar dificuldades na aquisição de Português LE (PLE)
em aprendentes com LM Espanhola (LME).
Partindo dos estudos de Madeira et. al. (2006), Madeira & Xavier (2009), Barbosa &
Flores (2011), Madeira et al (2013), Martins & Carrilho (2016), entre outros, a presente
investigação procurou observar o comportamento de um grupo de aprendentes de PLE
com LME perante contextos linguísticos envolvendo a aplicação de regras de colocação do
clítico: (i) verbo simples (ênclise e próclise), (ii) perífrase simples e complexa (na afirmativa e
na negativa) com subida de clítico (SC) opcional (perífrase modal), (iii) perífrase com SC
obrigatória (com gerúndio e particípio). Os dados para análise resultam da aplicação de dois
testes a um grupo de alunos, de diferentes níveis de proficiência, da Escuela Oficial de Idiomas
de León.
Os resultados obtidos permitem concluir que os aprendentes:
(i) globalmente acertam mais do que erram e que o número de acertos aumenta em função
dos níveis de proficiência;
(ii) dominam a colocação dos clíticos em contexto de ênclise com verbo simples;
(iii) revelam dificuldades em contexto de verbo simples com próclise obrigatória (nos níveis
iniciais, generalizando a ênclise);
(iv) nas perífrases modais revelam preferência por posições sem SC (ênclise ao verbo
principal), ocorrendo a SC sobretudo em contexto de negação (as duas posições são
possíveis na LM dos aprendentes);
(v) em contexto de SC obrigatória evidenciam transferência negativa em “Ir + gerúndio” e
transferência positiva em “Não ter + pp”.
Estes resultados evidenciam a presença de fatores diferenciados na construção das
estratégias dos aprendentes, ora relacionadas com fenómenos de transferência (positiva e
negativa), ora com fenómenos de outra ordem, como a generalização ou a própria natureza
das estruturas alvo.
Notas curriculares:
Ana Isabel Paulos Rodrigues: 2018 - Mestre em PLELS (FLUC); 2015 - Licenciada em LM (Português/ Espanhol)
(FLUC); 2017/2018 - Auxiliar de PLE nos Institutos Escolares y Secundarios de Lepe; 2017 - Professora dos cursos livres
de PLE na Università degli Studi di Pavia (Erasmus +); Maio de 2016 - Tutora de PLE no projeto europeu E-LENGUA
– FLUC/CELGA-ILTEC; 2014/ 2015 - Auxiliar de PLE nos Institutos Escolares y Secundarios de Isla Cristina.
Ana Paula de Oliveira Loureiro: Doutorada em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, é docente de Língua e Linguística Portuguesas na mesma Faculdade. É membro do CELGA-ILTEC.
Desenvolve investigação nas áreas da semântica e sintaxe do português. É subdiretora do Centro de Línguas da
Universidade de Coimbra e subdiretora do curso de licenciatura em Português
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Carlos Morais
Rosa Lídia Coimbra
Ran Mai
Wang Suoying
DLC/CLLC, Universidade de Aveiro
Chineses aprendem português e portugueses aprendem chinês:
expectativas e estereótipos
Palavras-chave: Português, Chinês, estereótipos, representações, língua estrangeira.
Estando o português e o chinês entre as línguas mais faladas no mundo e tendo em
consideração o estreitamento de relações luso-chinesas nos domínios económico, cultural,
social e diplomático, é inquestionável que o domínio destas duas línguas internacionais
constitua uma mais valia para os mais diversos tipos de profissões e de negócios que
envolvam os dois países, bem como a CPLP.
Na Universidade de Aveiro, sobretudo no Departamento de Línguas e Culturas,
muitos são os alunos portugueses que, desde 1998, estudaram chinês e igualmente são
muitos os alunos chineses que, desde 2011, estudam português. Uns e outros apresentam
expectativas ligadas às pontes culturais e empresariais entre as duas comunidades de
falantes: diplomacia, negócios, economia, tecnologia, turismo, ensino, tradução e
interpretação, intercâmbio cultural, etc. Neste poster, damos conta dos principais
resultados de um inquérito, administrado a alunos portugueses a aprender chinês e a alunos
chineses a aprender português, sobre as expectativas criadas nos seus percursos
académicos, dificuldades na aprendizagem da língua estrangeira, estereótipos e
representações relativamente aos falantes nativos e à cultura dessa língua.
Notas curriculares:
Carlos Manuel Ferreira Morais é doutor em Literatura pela Universidade de Aveiro, na especialidade de Literatura Grega,
com a tese "O Trímetro Sofocliano: variações sobre um esquema", publicada em 2010 (Lisboa, FCT/FCG). É Professor
do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, tendo desenvolvido a sua principal investigação em
literatura grega e na receção do teatro clássico. Neste domínio, publicou: Máscaras Portuguesas de Antígona (Aveiro,
2001) e Antígona. A eterna sedução da filha de Édipo, com Andrés Pociña, Aurora López e Maria de Fátima Silva
(Coimbra 2015), bem como vários estudos, em livros e revistas internacionais, sobre o mito de Antígona nas literaturas
portuguesa, espanhola e argentina.
Rosa Lídia Coimbra concluiu o doutoramento em Linguística Portuguesa, pela UA, em 1999, onde também fez a sua
licenciatura, em Inglês e Português e concluiu as suas PAPC7C, na área da linguística textual. É docente desta instituição
desde 1986, encontrando-se, atualmente, na categoria de Professora Auxiliar. Tem orientado trabalhos e lecionado
sobretudo nas áreas da linguística textual e da análise do discurso. Os seus trabalhos de investigação também se
enquadram nessas áreas, com especial enfoque na linguística cognitiva e na variação linguística.
Ran Mai doutorou-se em 2012 em Linguística pela Universidade de Aveiro e é docente da língua e cultura chinesas da
mesma universidade desde 2003.
Wang Suoying é natural de Shanghai e Doutora em Linguística (área de especialização: Lexicologia, Lexicografia e
Terminologia) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É atualmente leitora de
Chinês na Universidade de Aveiro, responsável pelo Curso de Língua e Cultura Chinesa tanto na Delegação Económica e
Comercial de Macau como no Centro Científico e Cultural de Macau e coordenadora da cadeira de Língua e Cultura
Chinesa na Escola Superior de Medicina Chinesa Dr. Pedro Choy (polo da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa
de Chengdu, da China). Tem-se dedicado à tradução e investigação sobre as Línguas, Literaturas e Culturas da China e de
Portugal.
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