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FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES EM ENSINO DE CIÊNCIAS E
MATEMÁTICA: ENTRE POLÍTICAS E PRÁTICAS
RESUMO GERAL
Entre os vários aspectos que influenciam o processo de ensino e aprendizagem escolar, a
discussão sobre a formação inicial de professores é fundamental, uma vez que poderá
contribuir para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. É com esse objetivo que
apresentamos nosso trabalho de pesquisa, que procura discutir o processo de implantação de
um curso de Licenciatura em Matemática, o olhar dos estudantes de uma Licenciatura em
Ciências Biológicas sobre espaços não formais de educação e o que pensam estudantes de
uma Licenciatura em Pedagogia sobre o ensino e sua formação para ensinar Ciências
Naturais. Em relação aos três artigos que compõem este painel, o primeiro texto teve como
objetivo analisar o processo de implantação da Licenciatura em Matemática a distância no
IFPE, priorizando-se a política curricular expressa no Projeto Pedagógico do curso, a prática
profissional do estágio supervisionado obrigatório e sua relação com os demais dispositivos
curriculares que orientam essa prática docente. O segundo texto aponta que o ensino de
Biologia vem sendo marcado pelo excesso de aulas expositivas e muitas vezes essa prática
não tem permitido aos estudantes uma aprendizagem eficiente. Sendo assim, o objetivo deste
trabalho foi identificar as concepções sobre os Espaços Não formais de Educação de
estudantes de um curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. O terceiro texto discute a
formação inicial para o Ensino de Ciências no Ensino Fundamental I. O objetivo foi
investigar o que pensam os estudantes do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de
Alagoas sobre o Ensino de Ciências Naturais e sua formação para ensinar Ciências. Portanto,
conforme observado nota-se uma integração entre os estudos, e se torna essencial abordar
essas temáticas durante a formação inicial e assim contribuir para atuação na educação básica.
Palavras-chave: Formação Inicial de Professores. Estágio Curricular Supervisionado. Espaço
Não Formal. Política Curricular. Prática Curricular.
RELAÇÃO ENTRE A POLÍTICA E A PRÁTICA CURRICULAR DO ESTÁGIO
OBRIGATÓRIO NA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA NA EAD NO IFPE
Elton Casado Fireman
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
eltonfireman@yahoo.com.br
Ladstone Pereira da Silva
Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Pernambuco – IFPE
ladstone@gmail.com
Maria Danielle Araújo Mota
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
danymestrado@gmail.com
Rosa Maria Oliveira Teixeira de Vasconcelos
Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Pernambuco – IFPE
rosa_vasconcelos@uol.com.br
RESUMO
O presente trabalho oriundo de uma pesquisa de iniciação científica, teve como objetivo
analisar o processo de implantação da licenciatura em matemática a distância no IFPE,
priorizando-se a política curricular expressa no projeto pedagógico do curso, a prática
profissional do estágio supervisionado obrigatório e sua relação com os demais dispositivos
curriculares que orientam essa prática docente. Na pesquisa de natureza qualitativa realizou-se
análise de documentos relacionados a implantação da licenciatura em matemática a distância
do IFPE, assim como à prática do estágio. A análise dos documentos foi realizada à luz do
referencial teórico adotado sob duas perspectivas: a primeira referente a política curricular,
em que buscou-se analisar a coerência nos documentos reguladores do Estágio
Supervisionado Obrigatório do IFPE quando confrontados com a legislação vigente. Quanto a
segunda perspectiva buscou-se analisar a prática no estágio conforme detalhada no
regulamento de estágio EaD. Como resultado da análise foi possível identificar aproximações
entre os documentos e lacunas que nos permitiram presumir que o excesso de normas
expressas nos regulamentos parecem engessar a prática de estágio o que pode acabar por
impedir o desenvolvimento práticas inovadoras no desenvolvimento do estágio obrigatório,
bem como parece minimizar a importância do campo de estágio como um ambiente de
reflexão afastando uma efetiva intervenção do aluno-estagiário na comunidade escolar.
Palavras-chave: Estágio Curricular Supervisionado. Formação Inicial de Professores.
Política Curricular. Prática Curricular.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento da oferta dos cursos de graduação de formação inicial de professores,
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tem despertado na sociedade questões sobre a qualidade da formação docente, não apenas em
relação ao domínio dos conteúdos, mas também com relação ao desempenho docente, no uso
de novas tecnologias, manejo em sala, criatividade e consciência do seu papel na sociedade.
Para tanto é oportuno à periódica análise curricular, visando uma constante atualização
de forma que “as novas práticas educacionais” mantenham-se sintonizadas as exigências da
sociedade que vem sofrendo múltiplas transformações no decorrer do tempo.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa foi a análise do processo de implantação da
licenciatura em matemática a distância no IFPE, priorizando-se a política curricular expressa
no projeto pedagógico do curso, a prática profissional do estágio supervisionado obrigatório e
sua relação com os demais dispositivos curriculares que orientam essa prática docente.
No contexto da formação de professores o estágio supervisionado constitui-se
ferramenta essencial. Sendo o objetivo primordial deste trabalho a análise documental da
legislação nacional sobre o estágio supervisionado obrigatório, de modo a estabelecer relação
entre esta e os documentos reguladores desta prática no âmbito do IFPE, ancorado na
discussão dos pesquisadores e estudiosos em educação sobre o estágio.
2 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES E O ESTÁGIO
Historicamente nos cursos de formação inicial de professores, o estágio curricular
obrigatório se caracterizou como a parte prática do curso, apesar dos avanços na literatura do
campo da formação de professores e do seu estágio sinalizarem que o estágio não é prática e
sim teoria da prática, e seu desenvolvimento deveria se dar numa perspectiva de reflexão
teórica sobre a práxis docente, dialeticamente a partir da unidade teoria e prática.
Assim, o referencial teórico adotado busca expressar a concepção de estágio na
formação inicial de professores que descontrói essas concepções tradicionais mais ainda
bastante arraigadas nos currículo e nas práticas de estágio no Brasil.
Pimenta e Lima (2012), Gatti e Nunes (2009), Piconez (2012), Gozzi (2009) e
Januário(2008) foram os autores selecionados após a revisão da literatura sobre o tema para
subsidiar a discussão e análise dos dados. Os autores discutem as práticas de estágio sob uma
prespectiva inovadora, buscando descontruir os paradigmas vigentes sobre o tema.
3 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E AS ABORDAGENS DO ESTÁGIO
Uma breve revisão histórica do campo da formação permite observar que a mesma
sempre esteve dividida entre dois modelos dicotômicos que se associam a concepções de
homem, de sociedade também opostos. De um lado a defesa de uma formação para a
emancipação e o exercício da cidadania, para a transformação das
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relações sociais marcadas pela injustiça, desigualdades socioeconômicas e culturais, ancorada
em princípios defendidos pela Associação Nacional para Formação de Profissionais da
Educação - ANFOPE - desde a sua criação.
De outro lado uma perspectiva de formação assentada exclusivamente na dimensão
técnico-instrumental da formação, buscando tão somente o atendimento aos princípios da
racionalidade, da eficácia e da eficiência. Essa abordagem estaria ancorada no liberalismo,
que afirma a individualidade, a meritocracia e os resultados como valores basilares do seu
projeto social, desconsiderando os fatores contextuais e as desigualdades de toda natureza que
interferem na formação e no trabalho do professor.
Em relação ao estágio a crença em uma dessas duas abordagens da formação nos leva
a políticas curriculares e práticas de estágio distintas. Por um lado considera-se o estágio
apenas como o momento da prática; por outro considera-se o estágio como unidade teoria
prática, como teoria da práxis docente (PIMENTA e LIMA, 2012).
Ancorados nesses pressupostos a pesquisa buscou problematizar a política curricular
oficial expressa em leis, pareceres e resoluções e a política curricular institucional expressa
nos documentos orientadores do estágio no curso de licenciatura em matemática a distância
do IFPE. Para isso selecionou-se autores que lançam luz sobre a análise desses documentos,
apresentando outras perspectivas de desenvolvimento do estágio, assim como sobre as
fragilidades expressas nos textos dos documentos, permitindo refletir sobre novas
possibilidades de desenvolvimento tanto do currículo quanto das práticas.
A pesquisa de Gatti e Nunes (2009) permite reconhecer que sabemos muito pouco das
práticas de estágio. Piconez (2012) assinala que as práticas de estágio assentadas sobre
atividades programas a priori não permitem que o conhecimento da realidade nos estágios se
convertam em reflexões sobre uma prática inovadora, e também não possibilita a reconstrução
ou redefinição de teorias que deem suporte ao trabalho do professor. Januário (2008)
apresenta a possibilidade de aproximação do estudantes-estagiário com a realidade escolar, e
o estabelecimento da relação entre teoria e prática por meio de projetos de intervenção
didática em sala de aula, partindo da problematização da realidade e da reflexão sobre o
estágio a luz da teoria que permite ao estudante construir sua identidade profissional docente
sob outra perspectiva que não a da imitação de modelos bem sucedidos. Pimenta
e
Lima
(2012) afirmam que o estágio não é atividade prática, mas teórica instrumentalizadora da
práxis docente. É atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção
na realidade da sala de aula, que se configura como o objeto da práxis. As autoras assim como
Gozzi (2009), defendem a pesquisa como novo enfoque metodológico de desenvolvimento do
estágio visando aproximar a teoria da prática, a instituição de
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formação das escolas da educação básica e os alunos-estagiários do seu futuro campo de
trabalho. A práxis na perspectiva adotada pelos autores selecionados para esse estudo é
unidade teoria e prática.
Em síntese aborda-se o objeto de estudo, o estágio supervisionado, a partir dos
pressupostos de que é preciso conhecer e detalhar nos documentos oficiais e institucionais as
práticas de estágio, como elas devem ocorrer a partir de um novo paradigma teórico que
permita superar os modelos tradicionais e a perspectiva de estágio como a parte prática da
formação de professores. Parte-se do princípio que a formação de professores deve estar
assentada sob outras bases teóricas que consideram a aproximação da realidade, o contexto, a
unidade teoria e prática, a pesquisa e as intervenções didáticas a partir da problematização da
realidade como possibilidades de renovar as políticas e as práticas curriculares de
desenvolvimento do estágio na formação inicial de professores para os anos finais da
educação básica.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa, desenvolveu-se por meio da revisão da literatura para constituição do
referencial teórico, seguida da análise documental, por meio de documentos que estivessem
relacionados a implantação da licenciatura em matemática a distância do IFPE, assim como à
prática profissional do estágio supervisionado obrigatório.
Esta pesquisa qualitativa, caracteriza-se de acordo com Oliveira (2013) como um
estudo detalhado de um determinado fato ou fenômeno, tendo por finalidade buscar
informações fidedignas para explicar em profundidade o contexto em que está situado o
objeto de pesquisa.
A pesquisa documental de acordo com Lüdke e André (2013) utiliza-se de documentos
para identificar informações e fatos a partir da questão de interesse para a investigação.
Quanto ao procedimento de organização e tratamento dos dados foi utilizada a análise
comparativa entre documentos consultados a partir de bases de dados do Ministério da
Educação - MEC e do Conselho Nacional de Educação - CNE e documentos internos ao
IFPE, que constituíram o corpus documental da pesquisa. Para análise dos dados, tomamos
como base o referencial teórico adotado.
O acesso ao corpus documental da pesquisa foi realizado por meio de consulta online
a página do CNE e página oficial do MEC, onde foram identificadas e selecionadas as
legislações pertinentes ao tema e à educação. Na página oficial do IFPE foram recolhidos os
documentos referentes a implantação da licenciatura em matemática a distância do IFPE,
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assim como à prática profissional do estágio supervisionado obrigatório.
Os documentos julgados relevantes selecionados para compor a análise foram: Lei nº
9.394/1996; Lei nº 11.788/2008; Resolução CNE/CP nº 1/2002; Resolução CNE/CP nº
2/2002; Resolução CNE/CP nº2/2015; Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em
Matemática a Distância (PPC); Documento Orientador de Estágio Curricular dos Cursos de
Educação Profissional Técnica de Nível Médio e do Ensino Superior do IFPE; e Regulamento
do Estágio Curricular Supervisionado dos Cursos de Licenciatura em EAD do IFPE.
Para construção do referencial teórico, as referências utilizadas foram levantadas in
loco através de pesquisa na biblioteca da Diretoria de Educação a Distância - DEaD/IFPE,
assim como por meio de pesquisa online através da internet utilizando as páginas da
“CAPES” e “Google Acadêmico” com as palavras chaves: “estágio”, “supervisionado”,
“prática”, “pesquisa” e “projeto” e “intervenção”. Os textos acadêmicos foram selecionados
pelo título e pela leitura do resumo e introdução buscando os mais relevantes.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise documental deteve-se na análise da Lei do Estágio, Diretriz para formação
inicial de professores da educação básica, no PPC do curso de licenciatura em matemática e
regulamentos de estágio do IFPE.
Destacamos inicialmente a Lei nº 11.788/2008,onde em seu Artigo 1º define Estágio
como “O ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que
visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino
regular em instituições de educação superior, [...]” (Brasil, 2008).
O Projeto pedagógico dos cursos é o instrumento que concentra as diretrizes na
condução da relação de ensino-aprendizagem no curso de Graduação, e este deve respeitar as
normas previstas em resolução pelo CNE. A resolução mais recente referente às licenciaturas
é a Resolução CNE/CP nº 2/2015 (BRASIL, 2015), onde houve mudanças significativas na
composição na carga horária dos currículos a serem seguidos, porém o Projeto Pedagógico do
Curso de Licenciatura em Matemática a Distância, bem como os Regulamentos de Estágio
Curricular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - IFPE
ainda permanecem baseados nas resoluções CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 2002a) e CNE/CP
nº 2/2002 (BRASIL, 2002b).
Ante o exposto cabe atentar para o que assinala Pimenta e Lima (2012, p.85)
indicando se tratar de uma legislação com equívocos e retrocessos que ao considerar as
competências como núcleo da formação, reduz a atividade docente a um desempenho técnico,
escamoteando a concepção tecnicista, que trata o professor como
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reprodutor de conhecimentos. A autora acrescenta que essa perspectiva se contrapõe à
valorização dos professores como produtores de saber. Neste sentido a Resolução CNE/CP nº
2/2015 (BRASIL, 2015) parece sinalizar avanços em relação a alguns desses “retrocessos”,
haja vista a mesma não trazer mais as competências como núcleo da formação.
Os regulamentos do IFPE ainda se baseiam quanto a previsão da carga horária
destinada ao estágio na Resolução CNE/CP nº 2/2002(BRASIL, 2002b) que sinaliza a
integralização mediante o cumprimento de no mínimo 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas
quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, 400
(quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do 5º período do curso.
Quanto a distribuição da carga-horária prevista na Resolução CNE/CP n° 2/2002
(BRASIL, 2002b), Pimenta e Lima (2012) destacam que ela é caracterizada com uma
proposta curricular fragmentada, mantendo a separação entre teoria e prática.
Quanto a crítica no que se refere a composição das cargas horárias, embora permaneça
sendo apresentada de forma fragmentada, o artigo 13 da CNE/CP nº 2/2015 (BRASIL, 2015,
p.12) sinaliza avanços recomendando que “Deverá ser garantida, ao longo do processo,
efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos
para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência”.
Gatti e Nunes (2009, p.109) analisaram os projetos político pedagógicos de um
conjunto de 31 (trinta e um) cursos de Matemática distribuídos pelas diversas regiões do país
onde identificaram que “Nos projetos e currículos não fica claro como ocorre a integralização
das horas obrigatórias de estágios nas diversas instituições. Algumas instituições não
distinguem as atividades destinadas à Prática de Ensino e ao Estágio. [...]”.
As mesmas autoras ainda acrescentam em suas conclusões que a prática de ensino e o
estágio são os pontos que merecem atenção no que se refere a fragilidade do curso.
No Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância (PPC) no
que se refere a Estágio Supervisionado, limita-se apenas a determinar a carga horária mínima
a 405 horas tendo início no 5º período, reproduzindo algumas determinações contida na
Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 2002a) e normatizando como deve ser a dinâmica do
estágio. De acordo com o regulamento inicialmente deve se formalizar um convênio entre o
IFPE e a rede pública. Em seguida o estudante deve procurar a Rede Pública de Ensino para
verificar a possibilidade de realizar o seu estágio nestas redes. Em caso de autorização do
estágio, celebra-se um termo de compromisso, em modelo padrão do IFPE, entre o estudante
a concedente do estágio e a instituição de ensino. É exigido também um plano de atividades
do estagiário que descreve as atividades que serão exercidas pelo estudante durante o período
de estágio, conforme regulamento de estágio dos cursos superiores
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a distância, que deve ser preenchido e assinado pelo supervisor de estágio. (IFPE, 2009).
Além do PPC temos a figura dos regulamentos de estágios no âmbito do IFPE. Em
2015 o IFPE apresentou o Documento Orientador de Estágio Curricular dos Cursos de
Educação Profissional Técnica de Nível Médio e do Ensino Superior do IFPE, em que
reproduzindo o texto da Lei do Estágio afirma que os estágios são atividades educativas
escolares, realizadas sob supervisão de acordo com os PPC e desenvolvidos no ambiente de
trabalho para preparação profissional do estudante-estagiário. (IFPE, 2015).
O Documento referido anteriormente no que se refere às licenciaturas se limita a
reproduzir o previsto na Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 20002a) porém acrescenta
que a carga horária máxima de estágio dos cursos não poderá ultrapassar às 420 horas.
O Regulamento do Estágio Curricular Supervisionado dos Cursos de Licenciatura em
EaD (IFPE, 2011) se apresenta de forma bem mais detalhada. O mesmo define o estágio como
a participação do licenciando em atividades que articulem ensino, pesquisa e extensão, tríade
que privilegia a formação integral do profissional consolidando, em situações concretas do
ambiente educacional, a articulação entre a teoria e prática. (IFPE, 2011).
O referido regulamento ainda prevê o início do estágio obrigatório no 5º período, em
escola da educação básica e apresenta como exigência o cumprimento de 75% da carga
horária referente a teoria pedagógica, bem como dos demais componentes previstos até o 4º
período respeitando uma carga horária efetiva de 405 horas, distribuídas entre encontros
presenciais de orientação, atividades desenvolvidas no ambiente virtual e atividades
presenciais de estágio, em que estabelece o limite mínimo de 20 (vinte) horas de Orientação
de Estágio e 30 (trinta) horas de Atividades de Estágio; e o limite máximo de 56(cinquenta e
seis) horas de Orientação de Estágio e 160 (cento e sessenta) horas de Atividades de Estágio.
(IFPE, 2011).
Os artigos 17 e 18 do mesmo documento apresentam de forma detalhada a distribuição
das atividades de estágio em que são destinadas 90% da carga horária do componente
curricular para conhecimento do contexto escolar e do cotidiano da sala de aula, que serão
cumpridas na educação básica, podendo ser desenvolvidas no Ensino Fundamental, no Ensino
Médio e 10% da carga horária para a elaboração do plano de estágio, planejamento de aulas,
relatórios parciais e relatório final. Quanto as atividades de estágio o documento assinala que
compreendem: a caracterização física, pedagógica e relacional da escola campo de estágio; a
identificação e a análise das diretrizes para atuação pedagógica e a dinâmica da sala de aula; a
análise de projetos, programas, metodologia, materiais didáticos e procedimentos de avaliação
da escola campo de estágio, na área de formação do estagiário; a participação em atividades
de
acompanhamento
de
estudantes
com
8
dificuldade
de
aprendizagem; a participação em reuniões de planejamento, conselhos de classe, reuniões de
pais e mestres, projetos interdisciplinares e outras atividades pedagógicas desenvolvidos pela
escola campo de estágio; a observação em sala de aula; a participação, em sala de aula, como
assistente do Professor Supervisor; e o planejamento e a execução de pequenas aulas, em
cooperação com o Professor Supervisor. (IFPE, 2011).
Gatti e Nunes (2009) já alertaram quanto a ausência de informações sobre a
integralização da carga horária obrigatória de estágio, além da falta de orientação específica
quanto a supervisão e validação nas diversas instituições objeto da pesquisa. De modo que no
âmbito do IFPE, tanto o PPC quanto o Documento Orientador de Estágio Curricular dos
Cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e do Ensino Superior do IFPE não
trouxeram novidades apenas se limitando a reproduzir as previsões das resoluções CNE/CP nº
1/2002 (BRASIL, 2002a) e CNE/CP nº 2/2002 (BRASIL, 2002b). Em contrapartida quando
tratamos do Regulamento do Estágio Curricular Supervisionado dos cursos de Licenciatura
em EAD do IFPE (IFPE, 2011), percebemos a preocupação em detalhar minuciosamente
como funcionaria o estágio. Diferente dos demais regulamentos o documento apresenta a
dinâmica do estágio dando ênfase a toda parte burocrática e documental, explicitando desde o
momento da escolha da escola campo de estágio até o momento da avaliação do estagiário.
O Regulamento do Estágio da EaD (IFPE, 2011) apresenta ainda os sujeitos
intervenientes no estágio prevendo suas competências e obrigações. O documento ainda traz
orientações detalhadas sobre o desenvolvimento do estágio, o que pode favorecer o
desenvolvimento dessa prática pelo fato de estabelecer que antes do início do Estágio
propriamente dito a descrição dos documentos necessários para sua formalização. O
documento prevê ainda ao final do estágio a entrega de um relatório final com o relato das
atividades desenvolvidas pelo estudante-estagiário, em que o desempenho do estudanteestagiário será avaliado pelo Professor Orientador da DEaD/IFPE que deverá manifestar-se
em relação à aprovação do estudante-estagiário (IFPE, 2011).
Ao observarmos o teor burocrático das normas referentes a estágio percebe-se uma
grande preocupação com os aspectos formais em detrimento dos aspectos práticos do estágio,
o que pode acabar por reduzir a prática do estágio a uma mera reprodução desses aspectos
legais. É necessário atentar para importância também dos aspectos práticos do estágio e sua
relação com a teoria, conforme preceitua a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB (BRASIL, 1996) mais especificamente em seu título VI, onde afirma que a formação de
professores para atender a especificidades das atividades e os objetivos das diferentes etapas e
modalidade da educação básica deverá ter como fundamento a relação entre teorias e práticas,
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por meio dos estágios supervisionados e da capacitação em serviço.
Piconez (2012, p.50) ao refletir sobre o papel do Estágio nos cursos de formação de
professores afirma que “[...] pensar o estágio desvinculado de um pensar [...] as outras
disciplinas que compõem os cursos [...] é admitir ou que o estágio seja o “salvador do curso”,
ou que ele seja tão pouco importante que pode ter tratamento diferenciado.”.
Seguindo o mesmo raciocínio, a Resolução CNE/CP nº 01/2002 (BRASIL, 2002a)
afirma em seu artigo 12 que a prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um
espaço isolado, que a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso, ratificado na
Resolução CNE/CP nº 2/2015 (BRASIL, 2015): “O estágio curricular supervisionado é
componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo uma atividade
específica intrinsecamente articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho
acadêmico”. (BRASIL, 2015, p.12).
O Regulamento de Estágio da EaD (IFPE, 2011) em sua definição de estágio afirma
que trata-se da participação do licenciando em atividades que articulem ensino, pesquisa e
extensão. Referente ao tema Pimenta e Lima (2012, p.46) dão ênfase na importância da
pesquisa durante o estágio ressaltando que “[...] a Pesquisa no Estágio como método de
formação dos estagiários, futuros professores, se traduz pela mobilização de investigações que
permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam. [...]”.
Fica evidente então no referido documento a preocupação com o respeito a tríade
ensino, pesquisa e extensão no desenvolvimento do estágio, o que demonstra uma disposição
conforme assinalam as autoras supracitadas de tornar a prática de estágio um momento de
reflexão e problematização do campo de estágio, a Escola.
Ainda referente à importância da introdução da pesquisa no estágio, Gozzi (2009)
assinala que essa prática permitiria que o estudante-estagiário se envolvesse na reflexão dos
acontecimentos que ocorrem na Escola. E que a ênfase na “[...] tríade: “observação,
participação e regência” não consegue responder às reais necessidades de formação do
professor. [...]”. (GOZZI, 2009, p.285). A autora defende a pesquisa em detrimento da tríade:
observação, participação e regência.
Quando se defende a pesquisa durante as atividades de estágio supervisionado, surge
também a reflexão sobre o estímulo a intervenção pedagógica pelos alunos-estagiários como
ferramenta durante o estágio. Referente a este tema Januário (2008) comenta a importância
dessa prática para que o estudante-estagiário desenvolva o estágio com vistas a atingir
objetivos determinados, que permitam uma aprendizagem com significado. Também Pimenta
e Lima (2012, p.220) destacam a importância de se trabalhar o estágio baseado em projetos de
intervenção,
que
permitem
desenvolver
“[...]
10
atitudes
e
habilidades para um melhor desempenho profissional [...].”. e, propiciando também o
desenvolvimento profissional dos docentes nas escolas, na perspectiva da formação contínua,
e criando um ambiente propício à transformação das práticas. As autoras afirmam que seria de
grande crescimento para o estagiário no momento em que estivesse no campo de estágio não
só em identificar um problema como elaborar e executar um projeto de intervenção e ainda
formalizá-los como um trabalho acadêmico.
Quanto as possibilidades de desenvolvimento do estágio apresentadas nesta seção o
Regulamento do Estágio da EaD (IFPE, 2011) parece minimizar a participação do estagiário
na escola quando apresenta como atividade de Estágio “O planejamento e a execução de
pequenas aulas, em cooperação com o Professor Supervisor.”. (IFPE, 2011)
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o objetivo inicial proposto, analisar o processo de implantação da
licenciatura em matemática a distância no IFPE, priorizando-se a política curricular expressa
no projeto pedagógico do curso, a prática profissional do estágio supervisionado obrigatório e
sua relação com os demais dispositivos curriculares que orientam essa prática docente. A
análise documental permitiu considerar duas perspectivas em relação a política e a práticas de
estágio: a primeira referente a natureza política, em que observou-se uma grande coerência
nos documentos reguladores do Estágio Supervisionado Obrigatório em relação a legislação
vigente, embora todos os regulamentos do IFPE tenham sido construídos baseados na
Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 2002a), atualmente desatualizada, os mesmos não se
contradizem em relação ao Estágio Supervisionado.
No âmbito do IFPE, tanto o PPC quanto o Documento Orientador de Estágio
Curricular dos Cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e do Ensino Superior
não trouxeram novidades, limitaram-se a respeitar as exigências das Resoluções CNE/CP nº
1/2002 (BRASIL, 2002a) e CNE/CP nº 2/2002 (BRASIL, 2002b).
No entanto, quando tratamos do Regulamento do Estágio Curricular Supervisionado
dos cursos de Licenciatura em EAD (IFPE, 2011), percebemos a preocupação em detalhar o
funcionamento do estágio, o que considerou-se como avanço em relação as discussões
correntes sobre o detalhamento das atividades de estágio.
Em uma segunda perspectiva de análise da prática no estágio no regulamento de
estágio EaD, ao estabelecer um padrão único que não permitiria aos professores criarem
novas possibilidades de desenvolvimento do estágio. Desta forma o que poderia ser uma
virtude poderá se tornar um retrocesso, devido a forma que foi redigido o documento,
podendo transformar o estágio em um sistema unilateral e
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autoritário em que os estagiários se limitam a recolher assinaturas e cumprir etapas préestabelecidas.
O referido documento parece seguir em sentido oposto da integração entre teoria e
prática, quando por excesso de formalização pode impedir o desenvolvimento de práticas
inovadoras durante o estágio. Vale destacar que todos os documentos pesquisados apresentam
a importância de uma integração entre teoria e prática, embora não especifiquem de que forma
isto deve ocorrer.
Considera-se desinteressante para a escola campo de estágio receber estudantes, sem
uma efetiva contribuição nas práticas e na formação do professor, assim como para o
estagiário que poderá sentir-se desmotivado com uma rotina pré-estabelecida.
Assim, a análise realizada nos permitiu presumir a necessidade da revisão curricular
do estágio curricular no PPC e nos regulamentos de estágios institucionais, com a inclusão de
outras abordagens metodológicas das práticas de estágio que permitiriam o desenvolvimento
da tríade ensino, pesquisa e extensão, e o estreitamento da relação teoria e prática; o
detalhamento das formas de desenvolvimento de práticas de estágio em que conhecimentos
específicos e pedagógicos e teoria e prática possam estar em permanente diálogo e interação;
a atualização dos documentos para atender tanto as demandas de uma sociedade em mudança
constante, como as exigências da nova diretriz curricular para formação inicial de professores.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação
(LDB). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm Acesso em fevereiro de 2017.
______. Lei n. 11788, de 25 de setembro de 2008. Dispõe sobre o estágio de estudantes.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm
Acesso em fevereiro de 2017.
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13
O OLHAR DOS ESTUDANTES DA GRADUAÇÃO SOBRE ESPAÇOS NÃO
FORMAIS DE EDUCAÇÃO
Alexandre Rodrigues da Conceição
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
allexandrebcp@hotmail.com
Maria Danielle Araújo Mota
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
danymestrado@gmail.com
Raquel Crosara Maia Leite
Universidade Federal do Ceará – UFC
raquelcrosara@hotmail.com
Rosemeire da Silva Dantas Oliveira
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
rosemeire.dantas.oliveira@gmail.com
RESUMO
O ensino de Biologia vem sendo marcado pelo excesso de aulas expositivas e muitas vezes
essa prática não tem permitido aos estudantes uma aprendizagem eficiente. Isto exige do
professor momentos de reflexão sobre sua prática docente a fim de buscar alternativas para
um ensino interessante e motivador da aprendizagem. Nesse sentido, os espaços não formais
de educação ganham particular relevância, pois podem contribuir como mais uma estratégia
metodológica a ser utilizada pelo professor, permitindo um ensino que desperte a curiosidade
dos discentes e os conduza para a construção do conhecimento de uma forma diferente do
habitual. O objetivo deste trabalho foi identificar as concepções sobre os espaços não formais
de educação de estudantes de um curso de licenciatura em Ciências Biológicas. Para isso,
foram aplicados vinte questionários com estudantes, e como observado se torna essencial
abordar essa temática durante a formação inicial.
Palavras-chave: Espaço não formal. Ensino de Biologia. Formação. Ensino e aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
O ensino de Ciências pode dispor de uma série de ambientes em que a construção do
conhecimento pode ocorrer não somente na sala de aula. Para Marandino et al. (2009), os
Museus e Centros de Ciências por exemplo, estão cercados de conhecimentos biológicos que
podem se constituir como espaços que também são importantes para a contrução do
conhecimento.
Ao nos depararmos com a forma como as ciências naturais estão sendo ensinadas nas
escolas e com confirmações recentes nos campos de estágio, podemos perceber que esta
disciplina ainda é trabalhada quase que excluisavemente de forma expositiva, o que pode ser
um dos motivos de não conseguir despertar o interesse dos estudantes pelos conteúdos
14
trabalhados em sala de aula.
Desta forma, ensinar em ambientes que fujam do cotidiano escolar pode ser um
importante caminho a ser percorrido como uma forma de diversificar a metodologia utilizada
pelo professor. Para alguns pesquisadores como JACOBUCCI et al (2009); MARANDINO
(2009); ROCHA et al (2007); VALENTE et al (2005), no cenário atual em que a educação
está inserida, apontam que não podemos enxergar a sala de aula como único espaço capaz de
conduzir o processo de ensino e aprendizagem.
Nesse sentido, a utilização de espaços não formais de educação podem se configurar
como uma importante estratégia a ser utilizada pelos professsores, contribuindo
principalmente na contextualização dos conteúdos, assim como, o desenvolvimento de
habilidades, entre elas a observação, análise de dados, registro e coleta de informações.
Para que isso seja possivel, é necessário que o professor enxergue os espaços fora dos
muros da escola como locais capazes de propiciar momentos de aprendizagem prazerosas,
motivadoras e diferentes do habitual. Defende-se, portanto, que desde a formação inicial, os
futuros docentes já reflitam sobre a utilização destes espaços para a aprendizagem de
conteúdos de ciências. Portanto, buscou-se reunir informações que nos desse condições de
responder ao seguinte problema de pesquisa: como os espaços não formais de educação
podem contribuir para prática docente dos professores?
Essa indagação articula-se com a existência de uma disciplina de estágio
supervisionado na instituição investigada que trabalha com espaços não formais de
aprendizagem como campo de estágio. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar as
concepções de estudantes de diferentes períodos do curso de licenciatura em Ciências
Biológicas em uma universidade federal no nordeste brasileiro, sobre os espaços não formais
de educação. Para isso, foi realiziada uma pesquisa qualitativa, na qual foram aplicados
questionários, com questões subjetivas, a fim de conhecer suas opiniões a respeito desta
temática.
2 FORMAÇÃO INICIAL
A formação inicial dos professores é um momento que recebe muita atenção por parte
dos pesquisadores. Para Tardif (2002, p.288) “a formação inicial visa a habituar os alunos –
os futuros professores – à prática profissional dos professores de profissão e a fazer deles
práticos ‘reflexivos’”, portanto é na formação inicial que os futuros professores possuem
contato com a profissão na qual irá atuar e conhecem de perto suas exigências e os coloca
diariamente em constantes desafios.
15
Portanto, é necessário que desde a formação inicial, os futuros professores tenham
contato com outras estratégias de ensino, para que possam ter condições de utilizar outros
métodos e não somente a exposição dos conteúdos. Nesse sentido:
[...] perspectiva a construção de novas estratégias de forma a incorporar as mudanças
dos sistemas produtivos que exigem um novo perfil profissional capaz de localizar
os desafios mais urgentes de uma sociedade “multimídia e globalizada”, em que o
rápido desenvolvimento, científico e tecnológico, impõe uma dinâmica de
permanente reconstrução de conhecimento, saberes, valores e atitudes. (FREITAS;
VILLANI, 2002, p. 1)
Desta forma, para que os futuros docentes tenham condições de utilizar diferentes
maneiras de ensinar, se torna fundamental diante das exigências impostas pela educação, que
a formação inicial lhe dê condições de diversificar as metodologias que podem ser utilizadas
no processo de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, chamamos a atenção para as
instituições formadoras que possuem em sua matriz curricular os estágios em espaços não
formais de educação, pois desde cedo já mostram aos futuros docentes outros espaços que
podem favorecer a sua prática docente.
Mas se torna importante ressaltar que, para que haja uma real mudança no ensino, é
necessário o comprometimento com a profissão docente, como afirma Giroux (1997, p.157),
“A formação inicial envolve um conjunto de procedimentos, entre eles a necessidade que a
instituição formadora possui de formar pessoas que estejam comprometidas em se dedicar a
profissão escolhida”.
Porém, para que isso aconteça, segundo Zabalza (2004, p.27), é necessário “atribuir
muita importância à reflexão, à avaliação ou à aprendizagem como competências
profissionais substantivas e necessárias para o desenvolvimento profissional”. Por isso, se
torna fundamental que os futuros professores compreenderem a sua responsabilidade social,
que vão muito além da exposição de conteúdo, e assim entendam sua função na formação de
cidadãos que aprendem de diferentes maneiras.
2.1 ESPAÇOS NÃO FORMAIS: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE BIOLOGIA.
A forma com que os docentes têm conduzido o ensino de ciências ainda reflete a ideia
equivocada sobre a sua função. Para Guimarães (2004), a transmissão do cohecimento ainda
se configura como um dos principais papéis desempanhado pelo professor ao longo dos anos,
e na maioria da vezes, o que o professor transmite se torna, como afirmado por Krasilchik
(2009), distante do que é vivido pelos estudantes. O que diverge com a função do ensino de
Ciências, pois para Viveiro (2006, p.11):
O ensino das ciências deve favorecer a aprendizagem significativa de conteúdos
conceituais, procedimentais e atitudinais. Com isto,
16
o uso de diversas modalidades didáticas propiciam diferentes caminhos que
conduzem ao aprendizado, envolvendo estudantes com interesses variados.
Portanto, se torna importante que o professor busque refletir sobre a sua prática
docente e perceba a necessidade de inserir diferentes formas e estratégias de trabalhar sua
disciplina. Nesse sentido, os diferentes espaços educativos podem ajudá-los a conquistar bons
resultados na aprendizagem dos estudantes.
Assim, entender, definir e refletir sobre a utilização dos diferentes tipos de espaços em
que a construção do conhecimento também pode acontecer torna-se essencial: espaço formal,
não formal e informal de aprendizagem.
Para Gohn (2006, p. 28),
A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente
demarcados. Enquanto a educação não-formal é aquela que se aprende no mundo da
vida, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em
espaços e ações coletivos cotidianas. A informal como aquela que os indivíduos
aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube, amigos
etc., carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos
herdados.
Porém, se torna importante ressaltar que a existência de diferentes locais em que a
educação estar presente não significa negar a escola como um importante espaço, como bem
nos afirma Afonso (2001) mas, que essas possibilidades visam complementar-se no processo
de ensino e aprendizagem, com intuito de propiciar momentos em que a aprendizagem possa
se efetivar em ambientes diferentes do âmbito escolar.
Entre os diferentes espaços que podem contribuir com a pratica docente e
aprendizagem dos estudantes, estão os museus, jardins botânicos, zoológicos.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para construção deste trabalho foi realizado uma pesquisa qualitativa, que segundo
Marconi e Lakatos (2011, p. 269) apontam:
O método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos
estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. A metodologia
qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,
descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais
detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento
etc.
Assim, a utilização da pesquisa qualitativa, converge com o objetivo do trabalho, pois
buscamos conhecer as concepções dos estudantes de diferentes períodos do curso de Ciências
Biológicas ofertado pela Universidade Federal de Alagoas, sobre os espaços não formais. Para
isso, foram aplicados vinte questionários, que correspondem ao número de estudantes do
17
curso que aceitaram participar da pesquisa. Os questionários eram compostos por dez
questões subjetivas.
Para Gil (1999, p. 128), o questionário:
Pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais
ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por
objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas,
situações vivenciadas etc.”
Desta forma, buscamos compreender a opinião dos estudantes sobre a respectiva
temática. Os estudantes serão identificados de A1 a A20.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao analisarmos a primeira questão que solicitava aos estudantes para descreverem
quais os possíveis campos de trabalho para um licenciado em ciências biológicas, de A1 a
A12, enxergam a sala de aula como único lugar de atuação do professor de biologia. O que se
contradiz com a literatura referente a está temática, ao afirmar que Gohn (2015, p.44)
A educação não formal poderá ocorrer tanto em espaços urbanos como rurais; tanto
em espaços institucionalizados (no interior de um conselho gestor, por exemplo),
como no interior de um movimento social, entre aqueles que lá estão participando e
reivindicando, e vão aprender algo sobre um dado tema – quem são os opositores, os
encaminhamentos necessários; como poderá ocorrer ainda em outros espaços
sociopolíticos, como nas ONGs, nos museus, etc.
Como observado, existem outros espaços que podem permitir a atuação do professor.
Portanto, é necessário que desde a formação inicial, os discentes compreendam os diferentes
ambientes em que suas aulas podem ocorrer. Vale ressaltar que, estes doze estudantes são do
primeiro e segundo período do curso de licenciatura em Ciências Biológicas. Sendo assim,
pode ser que não possuam conhecimento sobre os tipos de estágio ofertados pela
Universidade Federal de Alagoas, entre eles o estágio em espaço não formal de educação.
Já para os nove discentes do quinto ao nono período, todos trazem em suas respostas,
além das escolas, os museus como uma possibilidade de atuação. Queiroz at al. (2011, p.14)
afirmam que
Assim, a relação entre o museu e a escola só poderá chegar ao seu mais alto índice
de aprendizado, se esta for aliada a interação com o novo aliado ao prazer pelo
aprender. Em alguns casos, ocorre o fato de que algumas instituições transformam o
museu em uma “escola” no sentido formal da palavra, reproduzindo seus métodos
de ensino, bem como suas avaliações.
Portanto, podemos perceber que ao longo do curso de graduação, os estudantes vão
percebendo a existência de outros campos de atuação que podem favorecer a sua prática como
futuros professores, o que é essencial, pois permite aos estudantes
18
uma aprendizagem em diferentes ambientes que não somente a sala de aula. Assim, é
necessário abrir discussões durante a formação inicial sobre esses espaços.
Na segunda questão, ao serem indagados sobre quais profissionais deveriam estar
presentes em um ambiente não formal, com a exceção de um estudante, as respostas foram as
mesmas, trazendo o professor como o único profissional possibilitado para estar presente nos
espaços não formal. Destacamos a resposta de A20, por ter sido o único a trazer uma resposta
mais completa.
(A20): “os mais variados possíveis, cada pessoa pode contribuir com
uma rede de informações que se interligam”
Nesse contexto, a presença de outros profissionais que visem contribuir com a
aprendizagem dos estudantes se torna essencial, já que cada um possui uma prática educativa
diferente e que agrega valor ao processo de aprendizagem. Libâneo (2002, p. 33) diz que:
O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos
lugares e sob variadas modalidades [...] Ora, se há uma diversidade de práticas
educativas, há também uma diversidade de pedagogias: a pedagogia familiar, a
pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação, a pedagogia dos
movimentos sociais etc., e também, obviamente, a pedagogia escolar.
Desta forma, profissionais como o pedagogo podem estar presentes nos espaços não
formais de educação. Uma vez que, objetivo central da pedagogia é a educação.
Na questão três, os estudantes foram convidados a descreverem a diferença, se caso
existisse, entre espaço formal, não formal e informal. De A2 a A14 responderam de forma
curta que não sabem a diferença entre os espaços educativos, já de A15 a A20 merecem
destaque as respostas de A17 e A19, pois trazem respostas completas.
(A17): “Formal estabelece regras padrões; não formal são regrados
ou sem hierarquia; informal lugar onde se aprende de forma aberta e
de forma indireta”.
(A19): “Formal é a escola, não formal são os museus, informal são as
igrejas, etc.
Desta forma, se torna evidente que para os estudantes os espaços formais são as
escolas, enquanto os não formais são todos aqueles em que o processo de ensino e
aprendizagem ocorrem forma do ambiente escolar. Para Gohn (2006, p. 28)
A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdo previamente
demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu
19
processo de socialização – ocorrendo em espaços da família, bairro, rua, cidade,
clube, espaços de lazer e entretenimento; nas igrejas; e até na escola entre os grupos
de amigos.
Portanto, se torna fundamental que haja compreensão sobre as diferenças que
permeiam os diversos espaços educativos, e de acordo com a afirmação acima, podemos
perceber que todos permitem a aprendizagem, desde conhecimentos mais curriculares até
conhecimentos presentes no cotidiano;
Na quarta questão, os estudantes foram indagados a respeito de quais contribuições
dos conhecimentos sobre métodos didáticos para ser um mediador de exposições. Destacamos
as respostas de A9, A14 e A15 ao falarem que:
(A9): “Acredito que sejam maneiras de desenvolver melhor o
conhecimento dos alunos.
(A14): “Possuir esses conhecimentos permite que o profissional possa
encontrar alternativas diferentes de ensino, evitando a reprodução
tecnicista e tradicional de ensino.
(A15): “Pois dá a pessoa o raciocínio de melhorar a transmissão do
conhecimento.
Contudo, as repostas se complementam no sentido de utilizar diferentes maneiras de
abordar os conteúdos e a partir desse contexto percebemos a importância da didática para esse
processo, uma vez que para Libâneo (1994, p. 13-14) a didática é uma disciplina que “[...]
estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em
vista finalidades educacionais, que são sempre sociais, ela se fundamenta na Pedagogia; é,
assim, uma disciplina pedagógica”.
Portanto, a forma como o professor faz a sua aula pode refletir diretamente na
aprendizagem dos estudantes, por isso, se torna necessário que o docente busque outras
estratégias didáticas que permitam aos estudantes uma aprendizagem eficaz.
Para a quinta questão, de qual forma a didática utilizada pode afetar a experiência do
visitante, destacamos as respostas de A1, e A14, uma vez que os demais afirmam não saber ou
deixaram a questão em branco.
(A1): “O visitante pode não compreender o que a exposição quis
passar.
(A14): “Com um público grande é difícil que a mensagem chegue
20
para todos, mas sabendo o tipo de público e como lidar com o
número, é possível transmitir para a maioria.
Assim, de acordo com a estratégia didática utilizada nos diferentes espaços educativos,
estes podem afetar o interesse e aprendizagem dos visitantes, e para Krasilchick (2008, p. 11)
“A biologia pode ser uma das disciplinas mais relevantes e merecedoras de atenção dos
alunos, ou uma das disciplinas mais insignificativas e pouco atraentes, dependendo do que for
ensinado e de como isso for feito”. Desta forma, se torna interessante que tanto os
professores, expositores ou responsáveis pela mediação nestes espaços, busquem alternativas
que despertem o interesse e a curiosidade dos visitantes.
A sexta questão solicitava aos participantes, como licenciados, se conseguiam elencar
alguns ambientes de ensino fora da escola e quais. A3 e A4 responderam que não sabiam,
enquanto os demais convergiram em suas respostas ao darem destaque principalmente aos
museus. Nesse contexto, Marandino (2005, p. 1) considera:
[...] os museus de ciências espaços educacionais. Neles, as experiências vivenciadas
se projetam para além do deleite e da diversão. Programas e projetos educativos são
gerados, com base em modelos sociais e culturais. Seleções de parte da cultura
produzida são realizadas com o intuito de torná-la acessível ao visitante.
Os museus se constituem como um importante espaço educacional, ao passo que ao
longo deste trabalho pudemos perceber que existem outros espaços que também podem ser
utilizados pelos professores, cada um com finalidades diferentes.
Já na sétima questão, foi questionado aos estudantes se é possível existir ensino fora
da escola, e em qual modalidade seria encaixado, ensino formal, não formal ou informal e em
caso negativo justificasse sua resposta. O que nos chama atenção é que apenas A14 discorreu
em suas respostas, porém cita novamente os museus, mas, não identificou em qual
modalidade o ensino fora da escola pertence. Enquanto os demais responderam apenas sim,
porém não justificaram, por falta de preparo ou até mesmo por preguiça.
Na oitava questão foi solicitado aos estudantes sobre qual tema ele realizaria uma aula
e em que ambiente essa aula ocorreria. Todos enfatizaram os conteúdos de ecologia,
ressaltando o parque municipal na cidade de Maceió como uma possibilidade para o
desenvolvimento destas aulas, já que possuem conhecimento sobre este ambiente e, como
citado anteriormente por Queiroz et al (2011), eles trazem a importância desse espaço para
aprendizagem, aproximando o indivíduo da natureza.
Já na questão nove indagamos sobre como a escolha do ambiente influencia no
processo de ensino e aprendizagem. Destacamos a reposta de A17, sendo o único a responder
21
o que a questão solicitava, ao demais afirmaram não conseguir opinar.
(A17): “No ensino de Ciências os alunos precisam viver ciência para
aprender ciência, sem essa relação o conhecimento científico é só um
amontoado de palavras”.
Portanto, inserir os estudantes como sujeitos centrais na construção do conhecimento é
essencial para sua aprendizagem, principalmente por dar condições aos discentes de agirem
sobre seu objeto de estudo. Nesse contexto, algumas questões podem ser levadas em conta, de
acordo com Libâneo (2002, p.26)
A razão pedagógica, a razão didática, está associada à aprendizagem do pensar, isto
é, a ajudar os alunos se constituírem como sujeitos pensantes, capazes de pensar e
lidar com conceitos, para argumentar, resolver problemas, para se defrontarem com
dilemas e problemas da vida prática. Democracia na escola hoje, justiça social na
educação, chama-se qualidade cognitiva e operativa do ensino.
Assim, a forma como o professor conduz suas aulas reflete na construção do
conhecimento dos estudantes. Por isso, disponibilizar diferentes formas de aprender pode ser
um importante caminho a ser percorrido para uma aprendizagem eficaz, independente do
espaço.
A última questão foi destinada principalmente para os estudantes que já concluíram o
estágio supervisionado em espaço não formal presente na matriz curricular do curso de
Ciências Biológicas, ofertado pela Universidade Federal de Alagoas. A questão solicitava
para relatarem suas experiências e a contribuição deste estágio para sua formação. Apenas
cinco dos participantes já haviam concluído, destes apenas dois responderam qual o local e
relataram sua experiência.
(A14): “O estágio aconteceu na AMA, associação de amigos do
autista, em que trabalhamos horta com as crianças especiais, o que
contribuiu com experiência com esse tipo de público, coisa que o
curso não prepara.
(A17): “Estagiei no AMA (Associação de Amigos Autistas), e foi uma
experiência bastante enriquecedora enquanto profissional e enquanto
pessoa.
Portanto, a experiência em outros espaços educativos pode permitir aos futuros
docentes a construção do conhecimento em ambientes diferentes
22
do espaço escolar, ampliar suas concepções sobre aprendizagem e nem por isso perder sua
eficácia. Para Gohn, (2011, p.333)
Há aprendizagens e produção de saberes em outros espaços, aqui denominados de
educação não-formal. Portanto, trabalha-se com uma concepção ampla de educação.
Um dos exemplos de outros espaços educativos é a participação social em
movimentos e ações coletivas, o que gera aprendizagens e saberes.
Assim, os espaços não formais contribuem para um importante momento da educação,
pois exige dos docentes a utilização de diferentes alternativas em sua prática docente,
contribuindo para a construção de saberes em vários ambientes. O que dá condições os futuros
docentes enxergarem possibilidades além dos muros da escola.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização dos espaços não formais de educação permite aos professores maiores
possibilidades de atuação e de enriquecimento da sua prática docente, uma vez que possibilita
aos estudantes estarem em contato com ambientes diferentes dos quais estão acostumados, o
que se torna essencial para despertar o interesse para o conteúdo trabalhado.
Desta forma, entendemos ser importante que o professor esteja em constantes
momentos de reflexão sobre sua prática e que essas reflexões sejam iniciadas desde cedo na
formação inicial para sejam despertados para os diferentes ambientes em que a educação pode
estar presente. Mesmo com a resistência dos estudantes em responderem ao questionário de
acordo com o que foi solicitado, alguns estudantes possuíam conhecimento prévio sobre os
espaços não formais.
Assim, espera-se que através desse trabalho, os professores apostem em diferentes
alternativas para o ensino de Biologia e que percebam as múltiplas possibilidades que o
propicia para uma boa prática docente e consequentemente para uma melhor aprendizagem.
Desta forma, ressaltamos a importância desta discussão durante a formação inicial
para que despertem nos futuros professores, a capacidade de enxergar além da sala de aula, e
assim ter condições de utilizar as diferentes possibilidades para o ensino de Biologia.
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ZABALZA, Miguel A. (2004). Diários de Aula. Um instrumento de pesquisa e
desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed Editora
25
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS NATURAIS PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL I: O QUE PENSAM ESTUDANTES DO CURSO DE
PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
Elton Casado Fireman
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
eltonfireman@yahoo.com.br
Rosa Maria Oliveira Teixeira de Vasconcelos
Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Pernambuco – IFPE
rosa_vasconcelos@uol.com.br
Rosemeire da Silva Dantas Oliveira
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
rosemeire.dantas.oliveira@gmail.com
Tatiane Hilário de Lira
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
tatianehilario@live.com
RESUMO
O presente estudo insere-se no campo da pesquisa em ensino de ciências, particularmente na
problemática da formação inicial para o ensino de ciências no ensino fundamental I. O
objetivo foi investigar o que pensam os alunos do curso de pedagogia da Universidade
Federal de Alagoas sobre o ensino de ciências naturais e sua formação para ensinar ciências.
Na parte empírica do artigo, numa abordagem qualitativa, aplicamos um questionário com 41
alunos do curso de pedagogia da UFAL que cursaram a disciplina Saberes e Metodologias do
Ensino de Ciências II no primeiro semestre do ano letivo de 2017. O questionário apresentou
questões abertas referentes à caracterização dos sujeitos, ensino de ciências e formação
inicial. Os resultados indicam para uma série de questões que devem ser levantadas sobre a
formação inicial dos professores que irão atuar nos anos iniciais. Que vão desde o porquê e
como ensinar ciências a que conteúdos devem ser enfatizados numa formação inicial. O
estudo finaliza discutindo que os discentes pesquisados se dizem qualificados para o trabalho
e apontam como necessário uma disciplina teórico-conceitual e uma maior relação entre o
estágio supervisionado e o ensino de ciências.
Palavras-chave: Formação Inicial; Anos Iniciais; Ciências Naturais.
1 INTRODUÇÃO
A disciplina de ciências está presente no currículo dos anos iniciais do ensino
fundamental. E conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia
(DCNP), resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno CNE/CP Nº 1/2006
(BRASIL, 2006), o curso destina-se a formação de professores para exercer a docência nas
26
seguintes disciplinas dos anos inicias do ensino fundamental: língua portuguesa, matemática,
ciências, história, geografia, artes e educação física.
De acordo com Carvalho et al. (2013), os primeiros anos do ensino fundamental é o
primeiro contato formal dos alunos com o ensino de ciências, ou seja, sua inserção na cultura
científica.
E por que ensinar ciências nos anos iniciais? Conforme aponta Lorenzetti e Delizoicov
(2001) para tornar o indivíduo alfabetizado cientificamente nos contextos que envolvem a
ciência e a tecnologia, superando assim a mera reprodução de conceitos científicos,
destituídos de significados, de sentidos e de aplicabilidade.
E como ensinar ciências nos anos iniciais? Nos estudos de Carvalho et al. (2009),
Carvalho e Gil-Pérez (2011) e Carvalho et al. (2013) algumas questões são relevantes sobre
como ensinar ciências, são elas: ensinar os alunos a gostarem de ciências; apresentar um
ambiente intelectualmente ativo que os envolva; propor aos alunos situações problemáticas
interessantes; desenvolver, nas aulas, variados tipos de ações, tais como: manipulação,
observação, reflexão, discussão e escrita; trabalhar com a interdisciplinaridade; considerar os
conhecimentos prévios dos alunos; ultrapassagem da ação contemplativa para a reflexão e
busca de explicações; apresentar um número de atividades coerentes e inter-relacionadas; e, o
professor em um trabalho de constante aprimoramento na tomada de decisão e em suas ações.
A realização deste estudo surge da necessidade de pesquisas nesse campo, já que ficou
constatada em nossos estudos, a pouca ênfase dada à formação inicial em pesquisas referentes
ao ensino de ciências, o que foi verificado a partir da evidência de poucos trabalhos que
abordam a temática.
O presente estudo tem como problema de pesquisa a formação inicial de pedagogos
para ensinar ciências e como objetivo, investigar o que falam discentes do curso de pedagogia
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) sobre o ensino de ciências e a sua formação,
especificamente em ciências, para ensinar nos anos iniciais.
Nesse sentido, o presente artigo segue com uma breve discussão sobre a formação de
professores. Na sequência, os dados de uma pesquisa realizada com estudantes do curso de
pedagogia da UFAL e a análise da visão desses estudantes sobre a temática. Por fim, nossas
considerações.
2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS
Quando discutimos questões relacionadas à educação vimos que é fundamental uma
formação de professores adequada, pois, segundo Gatti e Nunes (2009, p. 10) “A formação de
professores é apontada como um dos principais fatores
27
intervenientes nos resultados preocupantes obtidos nas avaliações sobre a qualidade do ensino
básico no Brasil”.
Nesta pesquisa coordenada por Gatti e Nunes (2009) sobre o estudo dos currículos nas
licenciaturas, constatou-se vasto número de disciplinas e não se observou articulações
curriculares entre elas.
Na pesquisa, na análise realizada referente ao curso de pedagogia, sobre o conteúdo
das ementas, verificou-se, que as disciplinas que compõem a segunda categoria –
“conhecimentos relativos à formação profissional específica” também tem em seus conteúdos
uma predominância de aspectos teóricos, o que sugerem as ementas é que esta é feita de
forma ainda muito insuficiente. Apontou ainda que 7,5% das disciplinas são destinadas aos
conteúdos a serem ensinados nos anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, “o quê”
ensinar. E relativo aos estágios supervisionados, nesse estudo não obteve evidências como de
fato ele vem sendo realizado e a relação entre a teoria e a prática.
Desconsiderando as demais licenciaturas apresentadas no estudo coordenado por Gatti
e Nunes (2009), discutindo especificamente a licenciatura em pedagogia, apontam-se as
seguintes conclusões: o currículo proposto pelos cursos de formação de professores tem uma
característica fragmentária; grande variedade de nomenclatura de disciplinas; o quê e o como
ensinar apresentados de forma incipiente; relação teoria e prática comprometida; fragilidade
nas ementas associadas ao ensino de ciências, história e geografia; e, a escola aparece como
elemento ausente.
Portanto, conforme aponta Carvalho e Gil-Pérez (2011), não basta estruturar cuidadosa
e fundamentadamente um currículo se o professor não receber um preparo adequado para
aplicá-lo. Trata-se de orientar a tarefa docente como um trabalho coletivo de inovação,
pesquisa e formação permanente. Sendo uma formação permanente diferente de uma
formação reduzida à adaptação as mudanças curriculares ou reciclagem em algum aspecto
específico.
Colaborando com os dados apontados na pesquisa de Gatti e Nunes (2009) em um
estudo realizado por Galian, Arroio e Sasseron (2013, p.103), sobre os currículos do curso de
pedagogia:
O mais agravante é que majoritariamente os currículos dos cursos de Pedagogia e
Normal Superior, que são os cursos, de nível superior, responsáveis pela formação
de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental e Educação Infantil, não
abordam conteúdos específicos, mas apenas metodologias de ensino.
Esses dados são relevantes para se compreender quais aspectos estão sendo
priorizados nos cursos de formação inicial de professores. Consideramos necessário discutir a
28
formação inicial para que ocorra uma formação adequada para ensinar nos anos iniciais.
Neste sentido Nóvoa (2009) destaca que o tema formação docente está no cerne das
discussões atuais na área da educação.
Nóvoa (2009) aponta uma proposta para a formação de professores para inspirar uma
renovação dos programas e das práticas. E diz que o trabalho do professor consiste na
construção de práticas docentes que conduzam os alunos a aprendizagem. Para isso, necessita
da apropriação de um corpo teórico consistente sobre o que se ensina e sobre os saberes que
envolvem os processos de ensino e aprendizagem.
O que foi observado por Nóvoa (2009) é que nas práticas de formação docente não
foram sistematizadas reflexões que permitissem transformar a prática em conhecimento.
Defende, assim, que a formação de professores deve ocorrer no espaço concreto de cada
escola, em torno de problemas reais, pois só assim se desenvolverá a verdadeira formação.
Nóvoa (2009) também considera que a formação de professores deve dedicar atenção
as dimensões pessoais da profissão docente. O que ele chama de construção de uma teoria da
pessoalidade no interior de uma teoria da profissionalidade. No sentido de uma melhor
compreensão do ensino como profissão do humano e do relacional. Visto as novas demandas
da escola e a proximidade diária dos professores com os alunos.
Outra questão apontada neste estudo expõe que “A formação de professores deve
valorizar o trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão, reforçando a importância
dos projetos educativos de escola” (NÓVOA, 2009, p.40).
E por fim, diz que “A formação de professores deve estar marcada por um princípio de
responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a participação profissional no
espaço público da educação” (NÓVOA, 2009, p.42).
Em relação à formação de professores para ensinar de ciências nos anos iniciais além
das questões apontadas e de acordo com Carvalho e Gil-Pérez (2011) deve-se levar em
consideração que: ensinar não é tarefa simples; é necessária uma formação permanente; a
didática das ciências como núcleo articulador entre conhecimentos específicos e pedagógicos;
preparação para a pesquisa; trabalho coletivo; e, propostas inovadoras.
É necessário analisar a formação inicial de professores como um processo importante
para as questões educacionais atuais.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nosso estudo acerca do que falam os discentes do curso de pedagogia da UFAL a
respeito do ensino de ciências e a sua formação para ensinar ciências nos anos iniciais, nos
levou a realizar a aplicação de um questionário, no primeiro
29
semestre do ano letivo de 2017, com questões abertas referentes à caracterização dos sujeitos,
ensino de ciências e formação inicial em ciências.
O curso presencial de pedagogia da UFAL, no currículo atual, apresenta duas
disciplinas obrigatórias em ciências: “Saberes e Metodologias do Ensino de Ciências I”
(SMEC 1) e “Saberes e Metodologias do Ensino de Ciências II” (SMEC 2), ambas com carga
horária de 60h.
Para realização desta pesquisa, aplicamos o questionário no último dia das aulas da
disciplina “Saberes e Metodologias do Ensino de Ciências II” no turno vespertino e noturno.
A aplicação do questionário deu-se ao início da aula.
Para isso, aplicamos o questionário composto por questões para caracterização dos
sujeitos e questões referentes ao ensino de ciências e a formação inicial em ciências que serão
detalhados no tópico seguinte.
Procuramos analisar este grupo de alunos, pois os mesmos cursaram as duas
disciplinas do currículo do curso de pedagogia referentes ao ensino de ciências.
Para análise dos dados, nesta pesquisa de cunho qualitativo, analisamos os 41
questionários devolvidos, sendo que as duas turmas eram compostas de 47 discentes. E não
fizemos distinção do turno em que cursaram a disciplina.
Por fim, buscamos adequar às falas dos alunos em categorias e procuramos cruzar um
conjunto de ideias comuns encontradas nas respostas dos estudantes participantes, de forma
que chegamos aos resultados que apresentaremos a seguir.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por se tratar de questões abertas, as respostas dadas pelos alunos podem ser alocadas
em mais de uma categoria, portanto, em algumas situações nas tabelas, ocorre um maior
número de citações do que questionários devolvidos.
O gráfico 1 é referente à faixa etária dos 41 discentes que responderam o questionário,
e é apresentado da seguinte forma:
Gráfico 1 – Faixa etária dos participantes
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Com relação à faixa etária dos alunos entrevistados, com exceção de um que não
respondeu, as idades aparecem compreendidas entre 20 e 47 anos e nota-se a maior parte do
30
grupo na faixa etária de 20 a 29 anos. O gráfico 2 apresenta o número de alunos entrevistados
quanto ao sexo:
Gráfico 2 – Distribuição por sexo
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
De acordo com os dados, evidenciamos que a pesquisa foi realizada com uma grande
quantidade de mulheres. Outra questão presente no questionário diz respeito ao ano de
ingresso no curso de pedagogia.
Gráfico 3 – Ano de ingresso
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Dos 41 entrevistados a maioria ingressou no curso de pedagogia da UFAL no ano de
2013. Quanto ao turno eram alunos dos seguintes:
Gráfico 4 – Turno de ingresso
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Ressaltamos que a pesquisa foi aplicada apenas nos turnos vespertino e noturno
porque neste semestre um dos autores desse estudo realizava também um estágio docência
nessas turmas. Em relação ao período que cursam atualmente:
Gráfico 5 – Período que cursam
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Referente ao período que cursam a maioria encontra-se no 8º período, ou seja,
nivelados de acordo com o ano de ingresso. Quanto à experiência como docente:
Gráfico 6 – Experiência docente
31
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Dos alunos participantes deste estudo, apenas pouco mais da metade possuem
experiência docente. Em relação ao tempo de experiência docente:
Gráfico 7 – Tempo de experiência docente
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
O tempo de experiência presente neste grupo de alunos entrevistados apresenta-se
entre 2 meses e vai até 10 anos de experiência, sendo estes professores atuantes em diversos
contextos educacionais, foram eles: educação infantil, ensino fundamental I e II, educação de
jovens e adultos, educação especial e monitoria. No gráfico 8 foi perguntado se trabalham
atualmente como docentes:
Gráfico 8 – Trabalho atual como docente
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Percebemos que a maioria não trabalha atualmente como docente. Dos oito que atuam
estes se encontram distribuídos na rede pública e privada e no interior do estado de Alagoas e
na capital Maceió.
Procuramos aqui discutir algumas das questões para caracterização dos sujeitos da
pesquisa. Ressaltamos que a maioria dos alunos são do turno vespertino e noturno, horários
em que o questionário foi aplicado. A realidade apresentada aqui pauta-se apenas em 41
alunos do curso de pedagogia da UFAL que responderam a pesquisa.
Consideramos, enfim, que os alunos entrevistados são jovens, em sua maioria do sexo
feminino, com ingresso em 2013, atualmente cursando o 8° período e neste momento poucos
trabalham como docentes.
A seguir, faremos uma análise das demais questões abertas.
Depois de fazermos uma caracterização dos sujeitos da pesquisa, abordaremos as
questões relacionadas ao ensino de ciências e a formação inicial. A finalidade é apresentar os
32
dados coletados, assim como procurar destacar alguns pontos relevantes.
Deste modo, abordaremos as questões por categorias. Os dados que se seguem foram
categorizados a partir das respostas dos alunos. Para isso, cruzamos as opiniões convergentes.
É importante ressaltar que nas tabelas a seguir o total de respostas, em algumas
questões, ultrapassa os 41 alunos, pois como foram questões abertas alguns deram mais de
uma resposta.
Iniciamos perguntando aos alunos de pedagogia sobre por que ensinar ciências nos
anos iniciais. Os dados encontram-se na tabela 1, são eles:
Tabela 1 – Por que ensinar ciências
Responderam
Para compreender do mundo
Entender como acontecem os fenômenos naturais
Despertar a curiosidade para assuntos do dia a dia
Ciências presente em tudo
Importante para o desenvolvimento na sociedade
Obrigatório no currículo
Conhecimento sobre a vida na terra, Compreender a existência das coisas, Para
compreender as ciências naturais e humanas, Interação com o meio em que
vivem, Ensina para a vida, Desenvolvimento de investigação, Pesquisa e senso
crítico, Importante para o ensino e aprendizagem das crianças, É o espaço de
aprendizado dos conteúdos básicos sobre ser humano, É um momento de
descobertas, Para despertar o cientista em cada criança
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Número de sujeitos
11
9
8
5
4
3
1
De acordo com as respostas, todos os discentes consideram importante ensinar
ciências nos anos iniciais. Pelas informações dadas, nota-se que a maior parte dos
participantes deste estudo atribui a razão de ensinar ciências à compreensão do mundo.
Conforme argumenta o aluno Q18:
Despertar na criança desde cedo a importância de compreender os vários fenômenos que nos cercam,
contribuindo para desmistificar fenômenos naturais de “mágica”. Serve também para incitar a criança a ser
investigativa, bem como a aprender como evitar vários possíveis acidentes, incluindo os domésticos.
Concordamos com Lorenzetti e Delizoicov (2001) quando, em um estudo, os autores
apontam que o ensino de ciências deve ocorrer desde o início do processo de escolarização,
antes mesmo da criança ler e escrever para assim contribuir no processo de alfabetização
científica.
Numa outra questão perguntamos aos discentes como ensinar ciências nos anos
iniciais do ensino fundamental. Foram dadas as seguintes respostas:
Tabela 2 – Como ensinar ciências
Responderam
Através do ensino por investigação
De maneira prática e/ou experiências
De maneira lúdica
Despertando a curiosidade dos alunos
Trabalhando com os conhecimentos que as crianças já sabem, Autonomia dos
alunos, Alunos pesquisadores, Por meio de questões, Alternando aula prática e
teórica, A partir do cotidiano das crianças
33
Número de sujeitos
22
12
6
4
2
Aluno participativo, Visitas técnicas, Criança participando do processo de produção
do conhecimento
Não respondeu
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
1
2
Pelas informações acima, nota-se uma predominância de ensinar ciências através do
ensino por investigação e/ou de maneira prática e através de experiências. Aqui percebemos
nos discentes entrevistados uma preocupação de um ensino de ciências menos teórico e mais
prático em sala de aula.
O ensino de ciências por investigação não é o foco deste estudo e aqui não nos
deteremos em discutir essa questão. No entanto, o ensino de ciências por investigação de
acordo com Carvalho et al (2013) propicia aos discentes um ambiente intelectualmente ativo,
desenvolve vários tipos de ação, proporciona autonomia e cooperação entre os alunos, dentre
outros.
As demais questões que seguem, enfatizam a formação inicial para ensinar ciências.
Quando perguntados que conteúdos de ciências deveriam ser abordados em sua formação
inicial no curso de pedagogia, foram dadas as seguintes respostas:
Tabela 3 – Conteúdos de ciências abordados na formação inicial
Responderam
Astronomia
Magnetismo
O corpo humano, Eletricidade
Natureza
Todos os conteúdos do currículo
Refração, Saúde, Reações químicas, Fenômenos ópticos
Densidade, Reações físicas, Eletromagnetismo, Atmosfera, Física, Química, Reino
animal e vegetal, Recursos Naturais, Conteúdos relacionados ao cotidiano das
crianças, Alimentos, Efeitos da poluição, Seres vivos, Ecossistema, Conteúdos do
livro didático e outros recursos, Fenômenos naturais, Conteúdos de acordo com o
ano escolar, Raios, Arco-íris, O que é ciência, Vida, Sociedade, Uma revisão, Como
trabalhar ciências de forma significativa
Não respondeu
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Número de sujeitos
14
8
7
6
4
2
1
5
Os dados mostram um vasto número de conteúdos que os discentes consideram que
deveriam ser abordados na formação inicial. Sabemos que uma formação inicial não dá conta
de todas as necessidades formativas, mas essa questão deve ser discutida, pois conforme
aponta Galian, Arroio e Sasseron (2013, p. 106):
Nesse sentido, estudos sobre os currículos dos cursos de formação inicial de
professores que abordem o tema dos conteúdos de Ciências Naturais se tornam
essenciais, pois essa discussão tem sido negligenciada nos cursos de formação
atualmente e, [...] há necessidade de revisão e aprofundamento dos temas científicos
que os futuros professores deverão abordar com seus alunos.
Na questão seguinte, o questionário solicitou que os futuros professores respondessem
sobre se eles se consideram aptos a ensinar ciências. As respostas dos estudantes se
34
apresentam conforme consta na tabela 4:
Tabela 4 – Habilitado para ensinar ciências
Responderam
Sim
Não
Não respondeu
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Número de sujeitos
32
7
2
Pode-se observar que a maioria se considerou apto a ensinar ciências, conforme aponta
Q29: Sim, porém o aprofundamento em conhecer (estudar) para ensinar é indispensável.
Dos que responderam não se considerarem aptos, Q32 afirma: Não, acredito que o curso
ensina mais a base teórica, ficando a parte prática para ser encarada na hora que iniciarmos o trabalho fora da
universidade.
Sobre a necessidade de uma disciplina optativa de fundamentação teórico-conceitual
para ensino de ciências naturais, os alunos participantes deram as seguintes respostas:
Tabela 5 – Disciplina teórico-conceitual
Responderam
Sim
Não
Não respondeu
Não entendeu a pergunta
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Número de sujeitos
29
2
8
2
De acordo com as respostas, a maioria considera importante, conforme aponta Q13:
Sim, pois muitas vezes chegamos na universidade com uma deficiência na aprendizagem de ciências, uma
disciplina de fundamentação teórica resolveria o problema.
Dos que responderam que não acham necessário Q11 deu a seguinte resposta: Não,
acredito que os saberes específicos de cada disciplina deveria ter uma carga horária maior. Porém, quero
deixar claro que as disciplinas de fundamentos também são importantes.
Ressaltamos que em um estudo Galian, Arroio e Sasseron (2013) informam que no
segundo semestre de 2012, uma universidade de São Paulo ofertou, pela primeira vez, uma
disciplina “Elementos teórico-conceituais para o ensino de Ciências Naturais para os anos
iniciais do ensino fundamental”. A disciplina foi ofertada por três professores, um da física,
um da química e um da biologia. O estudo conclui que a busca pela disciplina ocorreu, pois
“[...] tal processo formativo apóia-se no domínio dos conteúdos além dos aspectos
metodológicos” (Galian, Arroio e Sasseron , 2013, p. 103).
Por fim, perguntamos aos estudantes sobre se consideram necessário estágio
supervisionado para ensino de ciências, a tabela 6 apresenta os seguintes dados:
Tabela 6 – Estágio em ciências
Responderam
Sim
Não
Não respondeu
Fonte: Elaborado para fins desse estudo
Número de sujeitos
26
9
6
Conforme tabela acima, a maioria dos alunos participantes considera necessário um
estágio supervisionado para ensinar ciências nos anos iniciais. Nesta questão alguns
relacionaram com os outros saberes específicos das demais
35
disciplinas que compõem o currículo dos anos iniciais e que são os saberes ofertados no curso
de pedagogia da UFAL.
Aponta também a dificuldade de realização desse estágio, específico em ciências,
diante do currículo do curso de pedagogia virtude os diversos campos de atuação do
pedagogo. E que gostariam da disciplina de estágio supervisionado mais próxima do ensino
de ciências e o estágio como oportunidade de vivenciar a real necessidade da escola. Um
discente sugeriu a aplicação de sequências didáticas, porém acontecendo a discussão e
aplicação dentro da disciplina de SMEC 2.
Aqui buscamos analisar os dados encontrados na pesquisa e a seguir faremos algumas
considerações.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste estudo, buscamos analisar as falas dos estudantes de pedagogia da
UFAL sobre algumas questões a respeito da formação inicial e do ensino ciências nos anos
iniciais. Aqui, destacaremos algumas considerações acerca dessa problemática.
Podemos dizer que os alunos participantes da pesquisa têm pouca experiência
profissional como docentes, e dos que atuaram foram diversos os contextos de atuação. Dos
41 que responderam este estudo, apenas 8 estavam atuando como docentes no momento da
pesquisa.
Todos os participantes consideram importante ensinar ciências. E sobre como ensinar
ciências a maioria apontou o ensino de ciências por investigação como uma abordagem
adequada. Ressaltamos que o professor da disciplina SMEC 2 trabalhou durante o semestre
com esta abordagem o que leva a entender que os alunos da disciplina acharam relevante.
Constatamos que os discentes em formação inicial, participantes da pesquisa, quando
perguntados sobre os conteúdos de ciências apontaram inúmeros conteúdos como conteúdos
de astronomia, magnetismo e eletricidade que foram também os conteúdos abordados na
disciplina SMEC 2.
No que se refere à habilitação para ensinar ciências, a maioria se considera apto. No
que diz respeito à necessidade de uma disciplina teórico-conceitual e estágio supervisionado
de ensino de ciências nos anos iniciais, os entrevistados demonstram interessados e
favoráveis.
A partir do que discutimos no decorrer desse trabalho e sabendo do vasto campo
profissional de atuação do pedagogo, consideramos que este estudo visa levantar questões
referentes à formação inicial do pedagogo já que ele poderá atuar na disciplina de ciências nos
anos iniciais.
36
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37