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Iluminação e Cenografia Governador do Estado de Goiás Marconi Ferreira Perillo Júnior Secretário de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação Francisco Gonzaga Pontes Superintendente Executivo de Ciência E Tecnologia Mauro Netto Faiad Chefe De Gabinete de Gestão de Capacitação e Formação Tecnológica Soraia Paranhos Netto Coordenação Pedagógica do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego José Teodoro Coelho Equipe de Elaboração Organização José Teodoro Coelho Supervisão Pedagógica e EaD Denise Cristina de Oliveira Maria Dorcila Alencastro Santana Professores Conteudistas Prof. Allan Lourenço Da Silva Projeto Gráfico André Belém Parreira Designer José Francisco Machado Revisão da Língua Portuguesa Cícero Manzan Corsi Banco de Imagens http://freepik.com http://pt.freeimages.com https://pixabay.com 5 Lista de Ícones DICAS Este baú é a indicação de onde você pode achar informações importantes na construção e no aprofundamento do seu conhecimento. Aproveite, destaque, memorize e utilize essas dicas para facilitar os seus estudos e a sua vida. VAMOS REFLETIR Este quebra-cabeças indica o momento em que você pode e deve exercitar todo seu potencial. Neste espaço, você encontrará reflexões e desafios que tornarão ainda mais estimulante o seu processo de aprendizagem. VOCABULÁRIO O dicionário sempre nos ajuda a compreender melhor o significado das palavras, mas aqui resolvemos dar uma forcinha para você e trouxemos, para dentro da apostila, as definições mais importantes na construção do seu conhecimento. PESQUISE SAIBA MAIS Aqui você encontrará informações interessantes e curiosidades. Conhecimento nunca é demais, não é mesmo? VAMOS RELEMBRAR Esta folha do bloquinho autoadesivo marca aquilo que devemos lembrar e faz uma recapitulação dos assuntos mais importantes. FIQUE ATENTO A exclamação marca tudo aquilo a que você deve estar atento. São assuntos que causam dúvida, por isso exigem atenção redobrada. PESQUISE Aqui você encontrará links e outras sugestões para que você possa conhecer mais sobre o que está sendo estudado. Aproveite! Hiperlinks de texto MÍDIAS INTEGRADAS Aqui você encontra dicas para enriquecer os seus conhecimentos na área, por meio de vídeos, filmes, podcasts e outras referências externas. ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM Este é o momento de praticar seus conhecimentos. Responda as atividades e finalize seus estudos. HIPERLINKS As palavras grifadas em amarelo levam você a referências externas, como forma de aprofundar um tópico. CONTEÚDO INTERATIVO Este ícone indica funções interativas, como hiperlinks e páginas com hipertexto. 6 Sumário Lista de Ícones 5 Sumário 6 Apresentação 7 Noções de iluminação para espetáculos 8 Aspectos históricos, técnicos e práticos da iluminação 8 Unidade I - O sol: o grande holofote 9 Da descoberta do Fogo à iluminação elétrica As Estéticas Naturalista/Realista, Simbolista, Expressionista e Pós-Dramáticas Breve estudo sobre cinema e televisão O estudo da iluminação natural para o cinema Unidade II - A origem e a função do iluminador no teatro Planejamento, organização e execução de um processo de criação de iluminação cênica Um projeto de iluminação precisa conter O processo de criação de um mapa de luz deve conter a seguinte ordem: Processo de mapa de luz realizada pelo iluminador Allan Lourenço Espaços e equipamentos e suas influências no trabalho do iluminador O uso das cores no teatro Um breve estudo sobre a eletricidade básica para o teatro 11 16 21 22 22 24 25 26 26 28 32 33 Unidade III - Mercado de trabalho suas demandas específicas pelo profissional iluminador 33 Referências 37 7 Apresentação E mpreendedorismo, inovação, iniciativa, criatividade e habilidade para trabalhar em equipe são alguns dos requisitos imprescindíveis para o profissional que busca se sobressair no setor produtivo. Sendo assim, destaca-se o profissional que busca conhecimentos teóricos, desenvolve experiências práticas e assume comportamento ético para desempenhar bem suas funções. Nesse contexto, os Cursos Técnicos oferecidos pela Secretaria de Desenvolvimento de Goiás (SED), em parceria com o Governo Federal, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), visam a garantir o desenvolvimento dessas competências. Com o propósito de suprir demandas do mercado de trabalho em qualificação profissional, os cursos ministrados pelos Institutos Tecnológicos do Estado de Goiás, que compõem a REDE ITEGO, abrangem os seguintes eixos tecnológicos, nas modalidades EaD e presencial: Ambiente e Saúde, Desenvolvimento Educacional e Social, Gestão e Negócios, Informação e Comunicação, Infraestrutura, Produção Alimentícia, Produção Cultural e Design, Produção Industrial, Recursos Naturais, Segurança, Turismo, Hospitalidade e Lazer, incluindo as ações de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica (DIT), transferência de tecnologia e promoção do empreendedorismo. Espera-se que este material cumpra o papel para o qual foi concebido: o de servir como instrumento facilitador do seu processo de aprendizagem, apoiando e estimulando o raciocínio e o interesse pela aquisição de conhecimentos, ferramentas essenciais para desenvolver sua capacidade de aprender a aprender. Bom curso a todos! SED – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação 8 Generalidades - Teatro Noções de iluminação para espetáculos Aspectos históricos, técnicos e práticos da iluminação. D iante da cronologia da história da humanidade, o ser humano sempre, a partir da sua natural curiosidade e, às vezes, até “acidentalmente”, observou e aperfeiçoou, por assim dizer, os fenômenos naturais. Dentre eles, a luz e seus aspectos físicos e relativos à percepção de dia e noite. Nas suas experimentações, o ser humano, observando a luz solar e a fenomenologia atmosférica, percebeu que poderia reproduzi-la, obviamente de acordo com as relativizações que fazemos, considerando a capacidade humana. Da luz das fogueiras, passando pela iluminação a óleos de origem animal em lampiões até o desenvolvimento de combustíveis de origem fóssil e chegando à luz elétrica, o ser humano ramificou as aplicações dessa energia para os mais diversos fins. Transformou rotinas e cotidianos. Adaptou-as conforme seu aprendizado sobre a “fabricação” da luz. Iluminou artificialmente o interior dos seus espaços privados, as ruas e espaços comuns. As representações e encenações artísticas, por conseguinte, também puderam, portanto, ter para si a configuração de novas morfologias e ambientações cenográficas, ressaltando a atmosfera dramática da qual sustentariam, a partir de então, as nuances particulares dos espetáculos. Da luz de velas na ribalta aos equipamentos de tecnologia de ponta atuais, o ser humano conseguiu aprimorar um elemento que caminha ao lado e interage com o conjunto cenográfico: a iluminação cênica. É ela que cria a atmosfera dramática, sugere ambientações cenográficas realísticas ou de fantasia, transforma o espaço cenográfico e estimula os sentidos do espectador. Para tanto, devemos conhecer as origens da luz artificial, bem como compreender que a luz natural, por si, já oferece formas de criação de “territórios” dentro da caixa cênica, bem como construir espaços de representação em áreas que não estejam confinadas em edifícios. 1 9 Unidade I O sol: o grande holofote Esta unidade tem como objetivo possibilitar um conhecimento geral da história da iluminação cênica pela percepção do teatro ocidental/eurocentrista. Assim, o aluno poderá adquirir uma noção básica sobre como a “luz” tem um papel ímpar dentro do fazer artístico/teatral. Para tanto, o aluno aprenderá os principais materiais e fontes de luz que foram utilizados pelo fazer teatral desde a era grega até aos tempos atuais. E, principalmente, compreender como o estudo da “luz”, através da eletricidade, se tornou importante para a cena teatral moderna e contemporânea. Uma pequena noção da luz no cinema e na televisão também vai ser apresentada nessa unidade. O universo e a imensidão da terra se encontravam cobertas pela escuridão. Não se podia enxergar o que de tão belo estava sendo criado na imensidão da terra. Era preciso que uma fonte de luz fosse criada para revelar tamanha beleza. Faz-se assim no primeiro dia de criação o grande astro rei: o Sol 2 O Sol – o Astro Rei e a Vida na terra No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!” E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz Dia, e às trevas NOITE. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia (GÊNESIS, 2000, p. 49). A percepção de mundo se revelou ao nascer do Sol. Primeira fonte de “luz” presente aos olhos humanos. Fonte de “luz” que permite não apenas 4 3 perceber o mundo, seus vales e montanhas, rios e RÁ – deus do sol no Egito antigo Jesus Cristo mares, florestas e céus, mas também a preservação (Quinta dinastia) O Astro Rei do Cristianismo da vida e dos próprios seres humanos. Pela presença da luz solar, em sua forma de energia, foi possível a criação da vida natural na terra em suas variadas formas. A própria sobrevivência humana dependeu e depende ainda hoje da luz solar. Foi por meio da luz solar que o homem conseguiu sair para caminhar, caçar e plantar sem correr perigos, deixando de ser uma presa fácil no reino animal. Os seres humanos, pela sua visão limitada em relação a outros seres vivos, durante eras buscaram sua sobrevivência saindo para caçar, pescar ou plantar durante a luz do dia e se escondiam em cavernas para se proteger durante a noite. Sem a presença do Sol, os seres humanos estavam fadados a perecerem facilmente. A presença da luz solar foi e é tão fundamental para os seres humanos que ela sempre vem sendo celebrada em muitas tribos, reinos e religiões. Um dos grandes exemplos de povos que celebravam o Sol que podemos referenciar aqui foi o egípcio. O Egito no período de sua quinta dinastia teve como grande deus Rá, conhecido como o deus sol. O povo que também celebrou e celebra o Sol como divino é o cristianismo. A imagem de Jesus Cristo foi, também, durante muito tempo relacionada à imagem do astro rei, ou seja, o sol. Jesus Cristo é considerado aquele que veio para iluminar os caminhos obscuros e tortuosos Nesse sentido, compreender a importância do Sol para a vida cotidiana dos seres humanos e religiosa é também perceber a necessidade dele para os estudos da iluminação teatral. 10 A arte teatral ocidental/europeia, como a conhecemos, tem seu início na Grécia antiga por volta mais ou menos de 550 a.C. O teatro grego, estabelecido aos pés das colinas, foi construído de forma a receber a luz solar. Sua estrutura foi pensada de maneira que o palco e a arena onde se encontravam o altar e coro apontassem para o nascer do sol e enquanto a plateia para pôr do sol. Assim, na época dos festivais teatrais realizados em Atenas, em louvor e honra ao deus Dionísio, tinham seus inícios ao nascer do sol e seus términos quando se punha o sol. Os teatros gregos 5 tinham em suas estruturas uma abertura total superior para que a luz cumprisse sua função primordial: a visibilidade. Ao criar uma estrutura que permitisse a entrada da luz solar, os gregos conseguiram que as peças teatrais apresentadas em seus festivais fossem visualizadas em sua plena visibilidade por seus espectadores. Essa forma de iluminar os palcos gregos pela luz solar permitiu também uma ênfase maior nas cenas apresentadas tanto na arena onde ficava o coro (orchestra), quanto na Skene (área de atuação dos principais atores). A luz solar, ao incidir no espaço teatral grego no seu nascer, vinda do Leste, terminando no Oeste ao se pôr, além de 6 aumentar a visibilidade dos atores e do coro, favorecia a visão dos espectadores de tal modo a não ofuscar ou prejudicar sua Teatro Grego de Epidauro https://pixabay.com/pt/epidauro-grécia-teatro-grades-de-1502998/ visão em relação ao espetáculo apresentado. Essa estrutura criada para as apresentações dos espetáculos gregos cumpria a função do seu próprio nome: teatro era o lugar onde as pessoas iam para ver. E para ver bem era preciso uma luz que fosse funcional, cujo o seu poder de visibilidade favorece tal ato de contemplar. Assim, a luz solar cumpriu e cumpre muito bem sua missão no teatro ao propiciar boas condições visuais. O teatro, assim como o ser humano, sempre precisou e utilizou da luz solar para iluminar seus atos teatrais. A relação da luz solar com o teatro ocidental, na sua função primeira de gerar visibilidade, se encontra presente nos atos teatrais romanos, medievais, elisabetanos, etc. As estruturas teatrais criadas tanto na era romana, medieval quanto elisabetana possibilitavam o uso da luz solar através de grandes aberturas em seus tetos ou, então, por grandes janelas inseridas em suas construções. A estrutura teatral romana, em seu apogeu, teve como modelo a estrutura teatral grega, permitindo por abertura em seu teto a entrada da luz solar. Embora se possa perceber que as construções teatrais romanas “descolam” dos rochedos, saindo dos pés das colinas, estas se estruturam e procuram manter os mesmos princípios em relação à entrada da luz solar. Os romanos procuraram copiar tanto a cultura quanto a arquitetura grega em suas ideias e princípios. Estas ideias e princípios favoreceram a questão da visibilidade também no fazer teatral romano. FIQUE ATENTO A palavra VISIBILIDADE é fundamental para quem procura estudar a arte de iluminar um espetáculo. 7 Teatro Romano de Sagunto, século I d.C. https://br.pinterest.com/pin/73746512623035274/ 11 O teatro na Idade Medieval, era que ficou conhecida como “Idade das Trevas”, proporcionou outros olhares sobre o ato iluminar. Já se pode perceber a utilização de velas e, principalmente, de grandes janelas em suas catedrais que proporcionava o uso da cor por meio dos vitrais coloridos. Estas janelas ficavam no alto das paredes, permitindo a entrada da luz solar que ao incidir nos vitrais coloridos projetavam essas cores e, às vezes, imagens de santos e anjos por toda a igreja. Rosáceas, vitrais e óculos, estes, elementos arquitetônicos das construções religiosas, eram os componentes que permitiam a entrada da luz natural e criavam a dramaticidade desses espaços. A instalação dessas janelas era pensada de forma a evidenciar e proporcionar, além da VISIBILIDADE, a representação de um poder divino. A luz passa a representar a presença divina de Deus e Jesus Cristo, sendo que a partir de então surge a imagem deles ligadas à luz e ao sol. Apresenta então uma nova possibilidade para uso da “luz”, a de representação. Nesse sentido, tanto a luz do sol quanto a luz das velas (a qual se estudará nessa unidade I mais adiante) perpassa a ideia de visibilidade e começa a se 8 http://archive.azcentral.com/persistent/icimages/news/Yuma%20church.jpg estruturar como representação de Deus. A fonte solar para o ato de iluminar foi muito usada na Idade Média, assim também como no renascimento e, consequentemente, no decorrer de outros séculos até os dias atuais. Durante muitos séculos, o teatro foi realizado à luz do sol, sem necessidade de iluminação artificial. O espetáculo começava de manhã, percorria o dia todo e despedia-se quando o sol ia embora. Era como se uma luz natural governasse a cena lá do alto, de uma grande distância. Quando chegava o final de tarde, essa luz se recolhia e o espetáculo cessava. Às vezes pálida, nevoenta, translúcida; outras vezes magnífica e absoluta. [...] Uma luz superior que projetava seus raios em todas as direções e refletia nas superfícies, volumes e cores. Novamente o palco e a plateia podiam se encontrar e comungar dos mesmos rituais aos deuses; rir de erros e vaidades comuns; elevar virtudes e julgar as ações humanas. A luz tinha voltado e a celebração tornara-se novamente possível (CAMARGO, 2012, p.1). A luz solar presente tanto na vida cotidiana do ser humano quanto na teatral foi e é um fator importante para compreensão do ato de iluminar tanto na sua função primordial de gerar visibilidade quanto a de representatividade. O nosso astro rei se faz presente diariamente em nossas vidas e em nossos trabalhos. Ele quem pode influenciar ou determinar a nossa percepção de mundo/universo e de nós mesmos. VAMOS REFLETIR Se não existisse a luz solar como seria a percepção de mundo para o próprio ser humano? Uma possível resposta poderia ser: “Normal, pois temos a presença da luz elétrica”. Contudo, se não existisse a luz elétrica, que é para os seres humanos uma fonte de iluminação, a vida seria a mesma para nós? Da descoberta do Fogo à iluminação elétrica Os seres humanos desde sua origem convivem com a dualidade da luz e da escuridão. Como pudemos ver o Sol se tornou e é até hoje a maior fonte de luz da qual o ser humano se beneficia para a realização da maioria das suas atividades, sejam elas de cunho comercial ou artísticas. 12 A luz solar iluminou desde as manifestações mais primitivas do teatro, como as pantomimas mágicas, as danças e as celebrações relacionadas à caça e às colheitas, até os mistérios de Elêusis, a representação do matrimônio sagrado na Mesopotâmia, as ta’zieh da Pérsia, os mistérios de Osíris no Egito, as danças rituais dionisíacas da Grécia, com procissões nas ruas, realizadas em louvor a Dionísio e à colheita da uva (CAMARGO, 2012, p. 2). Entretanto, os seres humanos durante uma parte do dia se encontravam na escuridão. A ausência do Sol limitava as atividades humanas. A saída do homem à noite sem a presença de uma fonte de iluminação era arriscada e perigosa. Os seres humanos poderiam se tornar uma presa fácil devido a suas limitações visuais. Portanto, foi preciso a criação de fontes de luz artificiais para iluminar os caminhos noturnos dos seres humanos. A primeira fonte de luz artificial desenvolvida pelo ser humano foi fogo. O fogo não apenas iluminava os caminhos humanos, mas também oferecia calor para enfrentar os invernos rigorosos e energia para cozimentos de alimentos. O fogo também se tornou, para os seres humanos, uma poderosa arma para enfrentar os perigos noturnos. Assim, Para o homem pré-histórico o domínio do fogo, provavelmente há cerca de 500 mil anos, representou uma grande conquista, comparável à da linguagem e da escrita. O fogo serviu-lhe para protegê-lo das feras, curar as feridas, melhorar a alimentação cozendo produtos outrora não comestíveis e, mormente, a iluminar suas noites. (BONALI, 2001, p. 11) Uma das primeiras ferramentas utilizadas para a produção do fogo foi a pedra lascada. Ao conseguir produzir o fogo pelo uso da pedra lascada, o ser humano ganhou independência e poder, pois não precisou esperar que os fenômenos naturais tais como raios acontecessem para buscar as faíscas que produziam fogo. A relação dos seres humanos com o fogo perpassa a sua função de visibilidade e aponta para uma interação mística. Natale Bonali (2001, p. 12) no livro “A História da iluminação artificial” faz a seguinte afirmação: 9 “Para o homem pré-histórico o fogo tornou-se como Período Paleolítico e o domínio do homem sobre o fogo um “ser”, uma espécie de entidade, algo místico e poderoso que gerou, em seu nome, cultos aparatosos e inúmeros rituais em todas as latitudes”. Compreender a importância do fogo como fonte de luz, calor e energia e como ele se tornou necessário para a sobrevivência humana é fundamental. Foi a parMÍDIAS INTEGRAGAS tir dessa fonte de energia que outros materiais usados Trailer - A Guerra do Fogo para ter um maior domínio e controle sobre ele foram https://www.youtube.com/watch?v=xsXWm1DLzwo criados. E o teatro se apropriou dessas novas fontes de luz para iluminar seus atos teatrais. Roberto Gill Camargo (2012, p. 3) em seu livro a função estética da luz “ afirma que : “Quando a cena se estendia até o anoitecer, utilizavam-se materiais combustíveis como meio artificial de se produzir luz. Tochas, archotes e fogueiras constituíam pretensos sucedâneos da luz solar, com a finalidade de alumiar a cena e torná-la visível para os espectadores”. 13 10 A tocha e possibilidade de locomoção a noite pelo homem https://www.shutterstock.com/video/search/torch-fire/?ref_context=keyword 11 Um caminho de e para luz https://www.redbubble.com/people/sunnysanny/works/406394-candles-will-light-your-way Um dos primeiros materiais mais usados para o controle do fogo foram as tochas. Elas permitiam que o ser humano caminhasse por longas distâncias levando o fogo sobre um pedaço de madeira de forma que não apagasse. Um dos materiais mais usados tanto na iluminação cotidiana quanto na iluminação teatral foi a VELA. A utilização da VELA em espaços residenciais e teatrais permitiu um maior domínio e durabilidade do fogo. Os materiais para fazerem as VELAS eram ora de origem vegetal ora animal. Isso encarecia muito o custo de produção das VELAS, sendo assim, o seu custo de aquisição e de manutenção era muito alto. Por ter sido produzida em muitos casos de gordura animal, as VELAS, muitas vezes, eram roubadas para serem consumidas como alimentos. Vários tipos de vela foram empregados: a vela de cera, invenção dos fenícios (cerca de 300 anos a.C.) foi por muito tempo o único iluminante dos teatros. Luz instável, oscilante, impossível de ser controlada. Mais tarde, surgiram as velas de sebo, que exalavam o mau cheiro da gordura vegetal, produziam fumaça, causavam irritação aos olhos e queimavam irregularmente. Por outro lado, as mechas torcidas produziam carbono que precisava ser aspirado constantemente para garantir certa constância na luz. [...] A iluminação à base de velas não saía barato em razão da constante necessidade de manutenção (CAMARGO, 2012, p. 8). No teatro, o uso das VELAS era feito para iluminar não apenas o palco (lugar da encenação), mas também toda a área de circulação do público, desde do hall de entrada a plateia. Nas construções de cenas de um espetáculo muitas vezes os atores entravam com tochas ou velas para indicar a presença da noite. Era uma forma de criar a presença de uma atmosfera por meio da luz. Outra questão criada na era da fonte de luz foi a busca do estudo da cor por meio de líquidos colocados na frente de estruturas de que continha uma vela para iluminar. Além do aspecto dimensional, o teatro à luz de velas também fez suas incursões pela sensorialidade, ao empregar vidros contendo líquido colorido, com a intenção de mudar a cor da luz. Essas experiências em busca de efeitos cromáticos e atmosféricos antecipavam os filtros e gelatinas da iluminação atual (CAMARGO, 2012, p. 10). Esse experimento foi uma tentativa no século XVII de produzir a cor por meio da luz. Procurou-se colocar na frente de uma vela que se encontrava fixa numa estrutura refletora um vidro com um líquido colorido. A luz da vela direcionada para garrafa com líquido colorido por meio de um espelho refletor projetava a luz e a cor por todo o espaço. 12 Bozze: estudo da cor pela incidência da luz numa garrafa com líquido colorido 14 DICAS Experimente, com cuidado, pegar uma vela e colocá-la dentro de um copo de alumínio e em frente dela ponha uma garrafa transparente com líquido colorido. Obs: o líquido não pode ser inflamável. Utilize água e suco de saquinho para produção do líquido. Exponha os resultados na sala, se possível apresentando fotos ou uma pequena filmagem. (USE UMA LUVA DE PANO PARA REALIZAR O EXERCÍCIO) Outro mecanismo importante para a criação da luz de um espetáculo é o controle da incidência dela sobre o espaço. A partir do século XV, buscarse-á no teatro não apenas o estudo da presença da luz, mas também o controle da incidência dela no espaço teatral numa tentativa de direcionar o que deve ou não ser visto. A engenharia inventada para esse controle de luz era feita por duas latas abertas em ambos os lados superior e inferior. Esta estrutura era amarrada a uma corda que passava por uma roldana de rolagem e sustentação na qual o maquinista ou operador poderia controlar o seu manuseio. Há até aqui alguns elementos importantes para compreensão da luz do teatro contemporâneo: a luz solar, a fonte de luz e suas materialidades, o estudo da cor e sua incidência pelo espaço e, de suma importância, a busca 13 por um controle de entrada e saída da luz. Estrutura para controle de incidência da luz no espaço A evolução humana possibilitou descobertas de vários mecanismos de iluminação. Das fogueiras e tochas à luz elétrica, o ser humano produziu também candelabros, arandelas, castiçais, abajures, lampiões e velas, sendo que um mecanismo em especial criado por volta do século XVII chamou a atenção do fazer teatral: a luz a gás. O gás tinha diversas vantagens: a luz mais intensa (um candelabro a gás era equivalente a doze velas), regulagem de intensidade, maior estabilidade nos fachos, nitidez nas respostas e controle centralizado. Com a luz a gás, foi possível que se criassem novas disposições de fontes de luz e inclusive efeitos individualizados para isolar cenas e criar zonas de atenção (CAMARGO, 2012, p. 14). MÍDIAS INTEGRAGAS Videoaula sobre Iluminação Cênica https://www.youtube.com/watch?v=qt2JAtT3CAw&t=361s A produção de luz a gás foi uma grande aquisição para o meio teatral do século XVIII e XIX, pois ela proporcionava também, além de uma melhor claridade de luz através de suas chamas, um controle da luz por meio de um sistema de válvulas. Esse sistema de válvulas permitia que o operador pudesse ter um controle maior no seu apagar e acender do que no uso das velas e tochas. E, através desse sistema, áreas de atuação da luz eram controladas de modo a dar mais visibilidade ou delimitar zonas de atuação. A descoberta da dimensionalidade cênica e dos efeitos atmosféricos por meio da luz, a despeito da insipiência dos meios combustíveis, vinha demonstrar, desde cedo, a 15 tendência em fazer da luz não apenas um iluminante, para fins de visibilidade, mas um recurso capaz de interferir na cena e alterar seus modos de percepção (CAMARGO, 2012, p. 10). O alto consumo de VELAS e GÁS, o custo altíssimo de produção e manutenção delas fizeram o ser humano buscar novas fontes de produção de energia e de luz. Isto ocorreu não apenas na tentativa de cortar gastos, mas também devido às periculosidades que o fogo oferecia tanto no seu manejo com a vela quanto com o gás. O uso do fogo no teatro foi fundamental, porém os riscos eram evidentes. FIQUE ATENTO Atualmente há proibição de uso de fogo nos espaços teatrais fechados. Contudo, se houve um planejamento antecipado do uso fogo, contatando o Corpo de Bombeiros, você pode talvez conseguir uma permissão para tal uso. (NÃO BRINQUE COM FOGO!) Em meados do século XIX e início do XX, surge a iluminação por fonte de energia elétrica. A luz elétrica possibilitou para o teatro moderno uma mudança do conceito de iluminar a cena teatral europeia. A luz elétrica veio resolver definitivamente o problema da visibilidade, sobretudo nos teatros fechados, iniciando uma nova etapa marcada por interminável aprimoramento técnico. A forte intensidade elétrica, com jatos direcionados, passou a interferir na composição visual do espetáculo e no modo de percepção do público. Provocou mudanças principalmente no conceito de espaço e cenografia (CAMARGO, 2012, p. 19). Com um custo mais barato, um melhor manejo, sem muita periculosidade e com mais durabilidade a iluminação elétrica permitiu, e ainda hoje possibilita, não apenas uma intensificação da VISIBILIDADE, mas também, da REPRESENTATIVIDADE da luz. O uso da energia elétrica por meio da luz proporcionou no início do século XX uma REVOLUÇÃO na cena teatral moderna. A revolução potencial que a iluminação elétrica permite ao menos imaginar enriquece a teoria do espetáculo com um novo polo de reflexão e de experimentação, com uma temática da fluidez que se torna dialética através das oposições entre o material e o irreal, a estabilidade e a mobilidade, a opacidade e a irisação etc (ROUBINE, 1998, p. 23). A iluminação teatral no século XX perpassa a simples ideia de imitação (mimese/cópia da natureza). A luz na cena teatral moderna se desenvolverá de tal forma que de elemento secundário do fazer teatral, subjugada à cenografia, tornar-se-á fundamental para a construção da imagem cênica. A luz intervém no espetáculo; ela não é simplesmente decorativa, mas participa da produção de sentido do espetáculo. Suas funções dramatúrgicas ou semiológicas são infinitas: iluminar ou comentar uma ação, isolar um ator ou um elemento da cena, criar uma atmosfera, dar ritmo à representação, fazer com que a encenação seja lida, principalmente a evolução dos argumentos e dos sentimentos etc. Situada na articulação do espaço e do tempo, a luz é um dos principais enunciadores da encenação, pois comenta toda a representação e até mesmo a constitui, marcando o seu percur- 16 so. Material milagroso de inigualáveis fluidez e flexibilidade, a luz dá o tom de uma cena, modaliza a ação cênica, controla o ritmo do espetáculo, assegura a transição de diferentes momentos, coordena os outros ritmos cênicos colocando-os em relação ou isolando-os (PAVIS, 2008, p. 202). 14 Luz e cenografia de Josef Svoboda, Praga, 1991 A intervenção da luz no teatro moderno permite: l Iluminar e comentar uma ação; l Isolar áreas de atuação e atores; l Criar atmosferas; l Dar ritmo à encenação; l Gerar uma linguagem visual; l Intensificar sentimentos. Assim, a iluminação teatral se configura na cena teatral moderna como um elemento regente da encenação. Ela revela e dirige a linguagem visual de um espetáculo, mesmo em sua forma simples. Contudo, estudos foram desenvolvidos para compreender a complexidade do uso da iluminação elétrica na cena teatral moderna. A luz na encenação moderna é fonte de debate entre os encenadores, cenógrafos e iluminadores. Correntes estéticas como a naturalista, a simbolista, expressionista e pós-dramáticas estabeleceram uma nova percepção sobre o estudo da iluminação teatral. As Estéticas Naturalista/Realista, Simbolista, Expressionista e Pós-Dramáticas As estéticas teatrais desenvolvidas desde o início do século XX influenciaram a maneira de pensar a iluminação cênica. Cada corrente estética buscou estabelecer princípios para conduzir a criação da iluminação em suas encenações baseados em alguns princípios. A primeira dessas correntes estéticas é a naturalista/realista. O naturalismo e o realismo têm seus fundamentos artísticos nas ciências naturais e sociais. Os fatores naturais de espaço e tempo são relevantes para constituição das suas encenações. Assim, o estudo do ambiente, do clima, das estações do ano, do tempo cronológico e do espaço são importantes para a criação da iluminação. Ou seja, se uma peça se passa no Nordeste, num sertão árido, num amanhecer a luz tem que estabelecer elementos que possam representar esse dia na 17 encenação. Nesse sentido, o estudo da luz natural e sua incidência no mundo deve ser estudada pelo iluminador. Perceber a influência da luz no seu dia a dia é papel fundamental para aquele que pretende trabalhar com a iluminação teatral. Um outro fator importante é a dependência da 15 luz à cenografia. A cenografia naturalista deterDivulgação: Peça John & Joe, do grupo Trama http://programaviceverso.blogspot.com.br/2011/05/5-minutos-com-moises-nascimento.html mina a maneira de como vai se iluminar a cena. Nesse sentido, o iluminador deve ter um olhar atento para perceber as múltiplas interações entre o espaço e a luz. E, também, como cada espaço é iluminado e influenciado por certos fatores de tempo, ações climáticas e espaços construídos (cenografia). Numa montagem realista, a iluminação não possui autonomia. Seu poder de intervenção é condicionado às circunstâncias dadas de tempo e espaço. É um elemento passivo no conjunto do espetáculo, atuando como uma parte da cenografia e confundindo-se com ela. Na iluminação da cena realista, o processo de criação, pelo menos em princípio, fica completamente restrito às circunstâncias de tempo e espaço dramático. Uma possível luz externa entra em cena porque há uma janela que o permite; um foco localizado em algum ponto do cenário se explica porque há um abajur, um pendente sobre a mesa etc. A luz deve ter um motivo lógico (CAMARGO, 2012, p. 90). A criação da luz no teatro naturalista é subjugada à cenografia. O iluminador precisa entender toda a FIQUE ATENTO estrutura cenográfica para poder desenvolver seu Na iluminação naturalista/ projeto de iluminação, construindo-o através de um realista, a luz deverá seguir diálogo diário com o cenógrafo, para poder enconem seu processo de criação trar as melhores soluções para iluminar a cena plaum MOTIVO LÓGICOS. nejada pela cenografia. Nesse sentido, assim como o cenógrafo, o iluminador necessita ter um olhar sutil em relação à sua vida cotidiana para realizar a criação de uma iluminação baseada em princípios naturalistas. Os fatores de tempo e espaço tanto para o cenógrafo quanto para iluminador são fundamentais em um trabalho nessa corrente estética. Na questão de tempo, a peça pode ser histórica, atual ou futurista, podendo acontecer em um verão, outono, inverno ou primavera e, ainda, num amanhecer, num entardecer, num anoitecer ou percorrendo no seu início, 16 meio e fim no desenrolar de um dia. O espaço preciEspaço antigo: vejam as janelas para entrada de luz solar sa ser muito estudado tanto pelo iluminador quane as velas em um lustre para iluminar a noite to pelo cenógrafo em uma montagem naturalista. O cenógrafo e iluminador com o estudo do espaço, precisam descobrir se certas cenas passam em um lugar aberto ou fechado: uma praça, um jardim, uma floresta, uma casa, um salão de festas, um quarto, uma sala etc. Eles precisam procurar compreender se esses espaços são atuais, são históricos ou futuristas, ou seja, o cenógrafo e iluminador com essas informações vão buscar a melhor maneira de construir a cenografia e a forma de iluminar. Assim, em uma casa do século XV não existia luz elétrica, então o iluminador precisa construir uma 18 iluminação que remeta à época. Eles precisam estudar sobre as fontes de luz que existiam naquela época. FIQUE ATENTO Geralmente em textos naturalistas há indicação de TEMPO e ESPAÇO. Os naturalistas e realistas baseavam os seus trabalhos em estudos de MIMESE e VEROSSIMILHANÇA. A ideia de MIMESE presente na filosofia grega, que sig17 nifica imitação da natureza, busca compreender a arte Dupli-House: Casa Futurista na Alemanha http://www.archdaily.com/11807/dupli-casa-j-mayer-h-architects teatral como uma cópia da vida real. E a VEROSSIMILHANÇA, ideia que surgiu entre o século XVII e XX, visa aproximar as criações artísticas ao máximo da realidade; o mais verdadeiro e fiel possível. Os simbolistas, corrente artística/estética do século XIX e XX, procuravam estruturar os seus princípios na ideia da arte pela arte, o teatro pelo teatro, criador da sua teatralidade. Para seus executores era inadmissível que o teatro continuasse a ser uma cópia da realidade, ou seja, um retrato fiel da vida. As ideias de MIMESES e VEROSSIMILHANÇA foram questionadas por eles, principalmente por que esses princípios estéticos não correspondiam mais aos novos questionamentos criados pela corrente simbolista. Os simbolistas, em busca de uma teatralidade, compreendiam o teatro como um lugar de debate de grandes ideias. Em seus trabalhos eram evidentes o entendimento do teatro como um lugar de construção e criação imagética/poética. Para muitos artistas teatrais da corrente estética simbolista, o palco foi um lugar de construção de uma obra de arte viva para compreensão do potencial simbólico artístico e humano. Os simbolistas, ao romper com as ideias naturalistas/realistas de MIMESES e VEROSSIMILHANÇA, modificaram a relação do espaço, tempo e da realidade em si. O espaço e tempo passa a ser olhado no campo da ideia e por suas subjetividades. A cenografia nesse sen18 tido muda e deixa de ser um elemento condicionante Projeto cenográfico e de iluminação de para as montagens teatrais. A iluminação foi vista pelos Edward Gordon Craig (Século XX) https://br.pinterest.com/pin/424534702355954865/ simbolistas como determinante na encenação. O ato de iluminar um espetáculo nos simbolistas perpassou a unidade de tempo e espaço e não é mais subjugada à cenografia. A luz nos simbolistas pode sugerir o próprio espaço imagético, real e interno. Os artistas teatrais simbolistas tiveram na luz um grande aporte para a construção de suas encenações. A iluminação simbolista é repleta de potencial simbólico e, além de representar, ela procura sugerir ideias subjetivas de personagens em seus espaços internos e externos. Para que tal ato acontecesse, acontecesse o fator da presença da SOMBRA e da ESCURIDÃO foram estudados também pela corrente simbolista. Com os simbolistas, portanto, os pintores invadem o palco. E com os pintores, a pintura! É óbvio, sem dúvida. Ainda assim, é preciso ver as respectivas implicações. As pessoas tomam consciência, por exemplo, de que aquilo que o espaço cênico nos fez ver é uma imagem. Imagem em três dimensões, organizada, animada... Descobre-se que essa imagem pode ser composta com a mesma arte que um quadro, ou seja, que a preocupação dominante não é mais a fidelidade ao real, mas a organização das for- 19 mas, a relação recíproca das cores, o jogo das áreas cheias e vazias, das sombras e das luzes etc (ROUBINE, 1998, p. 33). Os artistas teatrais simbolistas enveredaram por estudo aprofundado das suas teatralidades. A luz, a sombra e a cores foram estudos realizados dentro da proposta simbolista. E, a partir dessa corrente estética, o ato de iluminar ganhou autonomia no fazer teatral. O teatro com o simbolista foi transformado 19 pelo uso da luz e sombra num espaço da imaFilme “VALSAS DE VIENA”, diretor Hitchcock gem poética repleto de potencial simbólico. https://cineanalise.wordpress.com/tag/alfred-hitchcock/ As ideias simbolistas foram essenciais para a organização das ideias expressionistas. A corrente expressionista surgiu na AleSAIBA MAIS manha no início do século XX. Essa correnSaiba mais sobre Simbolismo em: te artística procurou empreender em suas https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/simbolismo/ pesquisas um olhar mais aprofundado nas relações humanas. As ideias expressionistas foram baseadas em princípios simbolistas e, SAIBA MAIS também nos trabalhos de Rembrandt Van Saiba mais sobre Expressionismo em: Rjin, além de combater as ideias impreshttps://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/expressionismo/ sionistas muito utilizadas pelo naturalismo/ realismo. O estudo da luz e da sombra se tornou mais aprofundado na corrente expressionista para reforçar a subjetividade humana. A luz é um poderoso recurso da encenação. Graças a ela é possível recortar os objetos no espaço, isolar os atores, diminuir e aumentar as áreas do palco, revelar a altura, o perfil, os contornos e a profundidade. É um recurso de que o diretor dispõe para ressaltar as coisas que ele julga essenciais em cena e eliminar as demais. A iluminação rege os elementos visuais do palco, determinando sua importância e revelando sua plasticidade. O cenário, os figurinos, os objetos de cena e principalmente os atores, com seus gestos e expressões, adquirem destaque e importância ao receberem luz. Ela revela os contornos, a matéria e o significado de tudo o que está no palco. Não apenas um iluminante passivo ou algo que se preste a imitar fontes e reflexos de luz, mas um meio de expressão capaz de atuar sobre o conjunto visual do espetáculo, relacionando cenas, objetos e seres no tempo e espaço (CAMARGO, 2012, p. 114). A iluminação na corrente expressionista se transformou em uma fonte de expressão importante para reforçar a dramaticidade da encenação teatral. Há um mergulho ainda maior nos estudos da luz e da sombra para reforçar a dramaticidade. Os fatores psicológicos, as cores, o inesperado foram e são elementos importantes junto com a luz e a sombra para reforçar a expressão das subjetividades humanas, criando certa dramaticidade. 20 “Ronda da Noite” (1642), Rembrandt Van Rjin https://cineanalise.wordpress.com/tag/alfred-hitchcock/ 20 DICAS Para compreender um pouco mais sobre a importância da luz e sombra sugerese uma pesquisa mais aprofundada na obra de Rembrandt Van Rjin (16061669), artista plástico da época barroca. E, também, assistir aos filmes do Expressionismo Alemão. SAIBA MAIS 10 filmes essenciais do expressionismo alemão http://cinetoscopio.com.br/2014/12/17/10-filmes-essenciais-do-expressionismo-alemao/ SAIBA MAIS Assista ao filme completo - O Gabinete do Dr. Caligari https://www.youtube.com/watch?v=fMuQpitplU8 Como se pode perceber, o teatro e a iluminação teatral alcançaram novas perspectivas no teatro moderno, que teve seu início no século XIX e ganhou amplitudes no XX. Compreende-se aqui que a iluminação cênica atingiu um status importante na cena teatral moderna com o surgimento da luz elétrica. Nesse sentido, houve como se pode ver até aqui, estudos estéticos que deram à luz no teatro autonomia e poder no processo de criação cênica. Encontramos nessa primeira unidade uma evolução do ato de iluminar tanto no teatro como na vida cotidiana, passando assim pela fonte natural (sol), as artificiais (fogo por meio tochas, candelabros, velos, gás e a luz elétrica). Portanto, compreender a importância do estudo da luz no teatro e na vida cotidiana do ser humano é fundamental para perceber a dimensão que ela ganha na contemporaneidade. A luz na contemporaneidade não se presta apenas à sua funcionalidade, mas a uma representatividade, expressividade, construindo um potencial simbólico de uma linguagem visual poética e imagética. Num tempo atual em que as ideias não precisam seguir a uma lógica formal de tempo/espaço e nem de início, meio e fim a luz tem um fator determinante dentro das construções cenográficas cotidianas e teatrais quanto nas suas temporalidades. Assim, No teatro pós-dramático, o que é colocado em jogo é a própria ideia de narrativa, assim como a unidade da ação dramática. Não existe mais o sentido de totalidade da obra cênica, em que o tempo dramático caminha para a resolução do conflito através de uma sucessão causal de acontecimentos. A polifonia entra em cena, e com ela a abundância e a simultaneidade de signos, em que a sensação vale mais do que o sentido, no qual imagens se espalham como constelações de significantes, deixando espaços vazios para que o espectador adentre na obra (FORJAZ, 2010, p. 153). O teatro contemporâneo, conhecido como pós-dramático, transita por diversos elementos da teatralidade, dentre elas a iluminação. A luz na corrente pós-dramática possibilita um encontro de vários espaços e tempos. Ela rege, guia e cria múltiplas percepções da cena. Em muitos casos a iluminação cênica pode na contemporaneidade configurar-se como a própria cenografia, construindo es- 21 “A DAMA DO MAR”, direção Bob Wilson 21 paços imagéticos e poéticos. Assim, como a encenação no pós-dramático não se estrutura mais nas unidades de tempo e espaço no seu sentido cronológico, a iluminação teatral também perpassa tais ideias MÍDIAS INTEGRAGAS No vídeo a seguir, você confere uma reportagem sobre o fime - A Dama Do Mar, de Bob Wilson, Programa Metrópolis exibido em: 31/05/2013 https://www.youtube.com/watch?v=fMuQpitplU8 Com essa explosão dos elementos, principalmente da articulação entre o espaço e tempo, a função da luz no teatro pós-dramático se transforma. Não se trata mais de uma função reveladora, com o super-objetivo de organizar as imagens em uma ordem lógica, segundo a regência e necessidade do texto para “contar uma história”, mas ao contrário, trata-se de coordenar significados que se relacionam por impulsos principalmente visuais. A luz conduz o olhar por uma série de signos sobrepostos, que acabam por formar um sistema significativo que se completa atrás da retina do público (FORJAZ, 2010, p. 153). O tempo e espaço são articulados pela luz na cena contemporânea. Estudar a luz se torna importante para perceber como ela pode influenciar e construir a cenografia moderna, principalmente na contemporaneidade que se encontra focada na visualidade. O estudo da luz é tão importante tanto para o dia a dia quanto para o teatro, artes visuais, cinema, televisão. Breve estudo sobre cinema e televisão O cinema e a televisão procuram empreender suas filmagens e programas em princípio estéticos naturalistas, simbólicos e expressionistas entre outras possibilidades. O cinema tem em princípios estéticos básicos o estudo do naturalismo. Geralmente as produções cinematográficas procuram estabelecer a criação da luz, apoiando ao máximo no uso da luz solar. Produções televisivas como novelas e minisséries também procuram os princípios naturalistas para construir a iluminação desses programas. Entretanto, tanto no cinema e na televisão haverá tendências para uso da luz em outros princípios estéticos, tais como o simbolismo, expressionismo e o pósdramático que pode unir diversas correntes estéticas em um mesmo trabalho. Um exemplo de outras formas de iluminação se encontra no cinema expressionista alemão. Uma produção brasileira que busca uma união de várias estéticas foi a minissérie “Hoje é dia de Maria”. Nesse sentido, o estudo da luz tanto natural quanto artificial na vida cotidiana é fundamental para aquele que pretende caminhar pela profissão de cenógrafo e iluminador. O responsável por pensar a luz na televisão e no cinema é o diretor de fotografia. SAIBA MAIS Assista ao Making Off da minissérie “Hoje é dia de Maria”, Rede Globo, Janeiro de 2005 https://www.youtube.com/watch?v=QcNBBZx2wgY SAIBA MAIS Saiba mais sobre o trabalho do diretor de fotografia, entrevista com André Horta: https://www.youtube.com/watch?v=IzVPkhqEeAw 22 O estudo da iluminação natural para o cinema O diretor de fotografia é responsável por pensar a iluminação para o cinema. Ele tem que conhecer tanto da iluminação natural quanto artificial. O profissional de fotografia precisa saber conhecer e dialogar com todas as áreas constituintes do cinema e da televisão. Contudo, voltando ao estudo principal que é a iluminação teatral, há diferenças entre o trabalho do iluminador de teatro e o diretor de fotografia. Nesse sentido, procure pesquisar e refletir sobre as principais diferenças de um diretor de fotografia para o profissional de iluminação. Na segunda unidade, abordaremos sobre o profissional de iluminação teatral. 22 MÍDIAS INTEGRAGAS Para treinar o ato de percepção por meio da visão e compreender como funciona o trabalho de diretor de fotografia procure assistir um filme com o áudio e a legenda desligadas Assita ao Trailer: Em Busca da Terra do Nunca https://www.youtube.com/watch?v=8cQgZfdH01g Unidade II A origem e a função do iluminador no teatro Esta unidade tem como objetivo expor sobre a função do iluminador e como esse planeja, organiza e executa seu trabalho de criação de iluminação cênica. Portanto, se faz necessário nessa unidade explanar sobre os espaços, as materialidades e ferramentas usadas por este profissional de iluminação, passando por um breve estudo das cores e da eletricidade básica. O planejamento e execução da luz no teatro moderno em seu princípio, no final do século XIX e início do XX, ficou nas mãos dos encenadores e diretores teatrais. Eles determinavam a maneira como a luz poderia ser traba23 lhada nos seus espetáculos. Encenadores naturalistas/ Rei Lear (2000), Concepção Cenográfica J. C. Serroni FONTE: http://espacocenografico.com.br/portfolio/espetaculo-o-rei-lear-2000/ realistas como Constantin Stanislavski (1863-1938), André Antoine (1858-1943), simbolistas como Edward Gordon Craig (1872-1966) e Adolphe Appia (1862-1928), expressionistas como Max Reinhardt (1873-1943) dentre tantos outros, procuram estabelecer os princípios da iluminação cênica e seu uso no teatro moderno. 23 Em um segundo momento no século XX, a iluminação teatral passou a ser planejada pelo cenógrafo. O cenógrafo, ao planejar a SAIBA MAIS criação de uma cenografia, também acabava criando a concepção de luz das encenações. Muitos cenógrafos modernos enveredaAssista ao Documentário: Gianni Ratto - A Essência da Cena ram e a ainda continuam trilhando esse caminho de conceber a https://www.youtube.com/watch? cenografia e a luz. Cenógrafos como o tcheco Josef Svoboda (1920v=rdj-aYSvEck&t=333s 2005), o italiano Gianni Ratto (1916-2005) e o brasileiro José Carlos Serroni (1950-) dentre outros procuram estabelecer um profundo conhecimento da iluminação em seus atos cenográficos. Há ainda hoje no teatro contemporâneo a presença tanto do encenador quanto cenógrafo, que são responsáveis pela criação da luz. O que se pode notar também é a tendência do iluminador a se tornar um cenógrafo e, às vezes, até diretor. Contudo, a necessidade de estabelecer a profissão de iluminador no decorrer 24 do século XX e, principalmente no início do XXI, fez e faz com que Show Business: o mercado da música https://pixabay.com/pt/concerto-desempenho-audiência-336695/ essa atividade e profissional sejam cada dia mais aceitos no mercado artístico teatral e no Show Business. A profissão de iluminador, conhecida em muitos países como “Lighting Designer”, vem ganhando importância cada vez maior no mercado teatral e do show business mundial e brasileiro. Encontra-se nestas vertentes artísticas a necessidade de especialistas da luz capazes de lidar com as novas materialidades, ferramentas e equipamentos e que ao mesmo tempo construam seus trabalhos dentro de certos conceitos e princípios estéticos. No Brasil, um dos primeiros profissionais de iluminação é o iluminador e diretor carioca Jorginho de Carvalho (1946). Entretanto, a profissão de iluminador ou “lighting designer”, vem sendo estabelecida no Brasil, de modo formal, desde o ano 80. A partir da década de 1980, o estudo da iluminação cênica passou a despertar mais interesse. Atores, bailarinos, diretores e coreógrafos começaram a investigar mais profundamente a luz, como algo diretamente vinculado aos seus processos de criação. Em pouco tempo, começaram a proliferar os cursos e oficinas com o objetivo de demonstrar os equipamentos, os diversos tipos de refletores e lâmpadas, as possibilidades de criação e os primeiros passos na construção de um design (CAMARGO, 2012, p. 23). A proliferação de cursos e oficinas no Brasil existe, mas a proporção deles para em relação ao tamanho do Brasil ainda é muito pouca. Em muitos casos, a maioria dos iluminadores é de profissionais que aprenderam na prática diária das montagens teatrais e outras o exercício de sua função. Para tanto, é preciso que investimentos sejam feitos para a formação de novos profissionais da área da iluminação, assim como o PRONATEC faz para formação técnica da cenografia. O profissional de iluminação precisa conhecer dos espaços, do uso das cores e ter uma noção mínima de eletricidade para que possa preservar tanto os equipamentos quanto a própria vida e de quem se encontra em volta de si no seu trabalho (artistas, produtores, técnicos e espectadores). Ele precisa saber planejar, 25 O Iluminador ou “Lighting Designer” executando um projeto de iluminação 26 Cia. Fama de Teatro, 2013 http://ciafamateatro.blogspot.com.br 24 organizar e executar um projeto de iluminação e, ao mesmo tempo, procurar estabelecer correspondências entre seu trabalho criativo e as outras áreas de uma produção artística. Nesse caso, a teatral, o profissional de iluminação precisa ter noções mínimas sobre cenografia, figurino, maquiagem, atuação, sonoplastia, direção para poder sincronizar seu trabalho na criação da imagem cênica. 27 Para o iluminador, o diálogo com essas áreas de proPeça “Senhora dos Afogados”, texto de Nelson Rodrigues, dução artística da teatralidade moderna e contempoEncenação do Grupo Máskara (2012, Goiânia/Goiás) rânea é fundamental, pois a criação da luz deve saber direção de Robson Corrêa de Camargo, concepção de iluminação: Allan Lourenço. revelar e preservar cada elemento teatral. Como já foi estudado na unidade I: a questão da luz natural e artificial, do espaço e do tempo e as correntes estéticas naturalista/realista, simbolista, expressionista e pós-dramática, apresentam um olhar mais aguçado sobre a vida cotidiana. O iluminador, além de obter esses conhecimentos, precisa também se capacitar tecnicamente para poder lidar com os mecanismos, equipamentos, ferramentas e materialidades do teatro atual. Estes conhecimentos tanto estéticos quanto técnicos são importantes para o planejamento, organização e execução de um processo criativo de iluminação cênica. SAIBA MAIS Documentário - TEATRO E CIRCUNSTÂNCIA: A DESCONSTRUÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qjWFKS148gs SAIBA MAIS Documentário - TEATRO E CIRCUNSTÂNCIA: A DESCONSTRUÇÃO DO ESPAÇO CÊNICO - PROFISSÃO CENÓGRAFO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fwmk3ITApmg&t=179s Planejamento, organização e execução de um processo de criação de iluminação cênica Estruturar um projeto de iluminação cênica é tão complexo quanto uma operação cirúrgica. Essa comparação faz-se necessária para compreender que o planejamento, a organização e execução de um processo de criação de luz deve ser pensado como um médico cirurgião pensa para executar uma cirurgia. O trabalho do iluminador é minucioso e detalhista, pois ele precisa apresentar um planejamento que seja executável tanto em um tempo hábil, em um determinado prazo e dentro de valores orçamentários, nas questões que envolvem suas materialidades, espacialidades, ferramentas e equipamentos. O iluminador precisa colocar em seu projeto de iluminação os equipamentos de luz que serão utilizados SAIBA MAIS na montagem, a quantidade de varas de luz e linhas (tomadas) que vai utilizar por cada vara de luz, a quantidaSaiba mais sobre o DIMMER EVOLUTION em: https://http://www.hpl.com.br/fabricantes/hpl/dimmers de de rack de luz e suas voltagens por canal de dimmer /dimmer-evolution etc. Este planejamento também precisa conter o espaço e o tipo de palco onde será realizado o evento. É necessário estabelecer se o projeto é sobre teatro, dança, música, dentre outros, pois cada um conterá determinadas estruturas. No planejamento, é importante estabelecer valores: criação, diárias de ensaios e montagem(ns), além da execução do roteiro de luz. Em alguns casos, sempre é bom especificar as necessidades dos auxiliares técnicos para ajudar na montagem do projeto. O tempo de montagem, programação da mesa e desmontagem precisam ser especificados também no planejamento. 25 Um projeto de iluminação precisa conter l l l l l l l l l Local da montagem;. Dias e horários de ensaios; Tempo de montagem e desmontagem; Materiais, ferramentas, equipamentos de luz; Um mapa de iluminação contendo varas, linhas e equipamentos; Roteiro de gravação da luz; Cronograma de execução da luz; Valores de criação, ensaios, montagem,desmontagem e execução da luz; Equipe técnica para ajudar na montagem e desmontagem. Organizar o projeto de iluminação é fundamental para o bom andamento do trabalho do iluminador. Nesse sentido, dois tópicos importantes para esse profissional são: a criação de um mapa e de um roteiro de luz. Para tanto, faz-se necessário para criação do mapa e do roteiro de luz que o iluminador procure conhecer a peça para a qual ele desenvolverá o projeto de iluminação. Para isso ele precisa acompanhar os ensaios, ler a peça, dialogar com o diretor, o figurinista, o sonoplasta, o cenógrafo, os atores e produtores. Esse diálogo se torna importante, pois é através dele que o iluminador compreenderá as propostas do diretor e dos outros membros da equipe de criação e, também, o quantitativo de verba será destinado para a criação da luz. Outro fator importante para construir o mapa e o roteiro de luz é que iluminador conheça o espaço e a lista de equipamentos que o teatro oferece. O iluminador na montagem de um projeto pode pedir a planta do palco, que contém todas as informações necessárias sobre varas de luz, linhas e disposições delas na caixa cênica. Quanto mais informações sobre o espaço por meio de plantas do palco, mais o iluminador deverá pensar em desenvolver um projeto de qualidade. Estas informações auxiliam na produção do mapa e do roteiro de luz, permiPlanta do Palco do Teatro João Caetano - São Paulo tindo um melhor aproveitamento do tempo de montagem e do uso do espaço e principalmente ajudar a produção a conter gastos, evitando locação de equipamentos ou indicando empresas que possam locá-los a um custo menor. FIQUE ATENTO Pedir o rider de técnico de luz e a planta do palco com as disposições de varas e linhas de iluminação ajuda a EVITAR DESGASTES na montagem de uma produção. Procure entrar em contato com um teatro da sua região e solicite o rider técnico e a planta do palco com todas as informações para você montar um projeto de iluminação. O iluminador com boas informações e atento às necessidades do espetáculo pode antecipar os problemas para gerar melhores soluções, pois o “proprietário” do evento (contratante) precisa ficar tranquilo para desenvolver as suas outras atividades. O iluminador com as informações em mãos, concomitantemente aos ensaios, poderá criar tanto o mapa quanto o roteiro de luz. Organizar a criação de luz em um mapa e em um roteiro é a tarefa principal de um iluminador. 26 Através deles, o iluminador saberá guiar o seu trabaFIQUE ATENTO lho sem perda de tempo e evitará a geração de estresse entre os integrantes da equipe de montagem. Um ilumiO iluminador precisa nador que chega a um local para montar seu evento sem manter sempre um bom relacionamento tanto um mapa de luz e um roteiro pode criar situações indecom equipe contratante sejáveis, atrapalhando o bom andamento da montagem. quanto com a equipe técnica do espaço O iluminador, ao colher todas as informações imporou contratada. Procure tratar sempre bem tantes desde ensaios a rider técnicos, criará o mapa e o todos os profissionais da área, pois eles são roteiros de luz. O mapa de luz é fundamental no trabalho essenciais para BOM ANDAMENTO do evento. do iluminador para orientá-lo no dia da montagem do espetáculo e, principalmente para criar seu roteiro de luz. DICAS Com o mapa pronto, o iluminador, ao adentrar ao espaço Procure um profissional da onde se realizará o espetáculo ou evento, poderá otimiárea de iluminação e faça uma zar o tempo de montagem e também orientar os outros entrevista tendo como pontos integrantes da equipe técnica. importantes: sua formação, Assim, um mapa de iluminação deve conter o espaço seu método de trabalho e seu processo de do evento (italiano, arena, semi-arena, aberto, auditório criação de luz. Investigue também sobre o seu conhecimento sobre as outras áreas do fazer ou adaptado), quantidade de varas de luz e posicionateatral tais como a cenografia e como estas mentos delas, linhas ou tomadas de energia, equipameninfluenciam em seus trabalhos criativos. tos devidamente distribuídos em suas posições e angulações, números dos canais de rack a serem ligados, se o refletor é ligado em paralelo ou individual e se possível o filtro de cor (gelatina) que estará em cada refletor. Em cada mapa de luz, haverá um pequeno espaço, especificando na sua legenda cada refletor utilizado. O processo de criação de um mapa de luz deve conter a seguinte ordem: l l l l l l l O espaço onde será realizada a encenação; As varas de luz em suas posições e a distribuição das linhas de energia; O posicionamento dos refletores em suas devidas angulações e em suas referidas varas de luz e linhas; A ligação do refletor (se é individual ou paralela); A identificação das cores em cada refletor; O número do rack que vai ser ligado (primeiro, segundo, terceiro... canal de dimmer); A criação de uma legenda para identificar os elementos e refletores do mapa de luz. Processo de mapa de luz realizada pelo iluminador Allan Lourenço, Goiânia/Goiás: 27 Este projeto de estruturação de um mapa de luz foi realizado no programa “PAINT da Microsoft”. Entretanto, SAIBA MAIS um mapa de luz pode ser criado manualmente ou em softwares de última geração. Um programa que pode auxiSaiba mais sobre o software LABLUX em: http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/lablux/principal.htm liar quem está começando no mundo da iluminação é o “LABLUX” , do Instituto de Artes da UNICAMP. Nele, você Saiba mais sobre o ROTEIRO DE ILUMINAÇÃO em: poderá fazer treinamentos constantes de criação de mahttp://www.iar.unicamp.br/lab/luz/roteiro.htm pas de iluminação e ser apoiado vídeos tutoriais além, é claro, de encontrar outras dicas importantes para o trabalho do iluminador. Terminada a etapa da criação do mapa de iluminação, o profissional deve se concentrar na organização do roteiro de luz. O roteiro de luz é fundamental para guiar o trabalho do iluminador tanto na programação dos efeitos de cena na mesa de luz quanto na execução (operação) do evento. Um roteiro de luz SIMPLES deve conter as cenas, as “deixas” de entradas e saídas e os efeitos utilizados em cada cena. CENAS Em cenas, deve conter em cada mudança de efeitos de cena um número no sentido cardinal, ou seja, se configura como cena 1, 2, 3, e por diante. DEIXAS DE ENTRADA E SAÍDA As deixas de entrada e saída podem ser desde a fala de um ator, um gesto, um movimento, um efeito da trilha sonora e etc. (O iluminador deve estar ciente dessas deixas e ligado ao espetáculo, pois a perda dela pode prejudicar o bom andamento da peça.) EFEITOS DA CENA Os efeitos de cena são as combinações ou não dos refletores colocados no mapa de luz. Um efeito pode conter vários equipamentos ou um único, sendo também que a ausência deles também é configurada como efeito, neste caso conhecido como BLACKOUT o famoso B.O. A definição do roteiro de luz é importantíssima para iluminador. Esta definição vai ajudá-lo na execução do projeto no dia da montagem e durante a encenação. Nesse caso, o mapa e o roteiro de luz são fundamentais no dia da execução do evento, pois ajudarão o iluminador a orientar todo trabalho de montagem, programação e operação dele e da sua equipe. No dia da montagem, o iluminador precisa começar seu trabalho pela montagem do mapa, posicionando os equipamentos em suas devidas varas e ligando-os em suas respectivas linhas de energia (TOMADAS). Logo após, o iluminador deve fazer uma pré-programação desses equipamentos a mesa de luz, organizando-os em seus conjuntos ou individualidades de acordo com a sua sequência. Assim, o iluminador, com a sua equipe, inicia o processo de afinação da luz direcionando cada refletor para o seu referido lugar de atuação. Após o término do direcionamento (afinação) da luz, o iluminador precisará estabelecer um prazo para a organização dos efeitos do roteiro de iluminação na mesa de operação. 28 Geralmente, a programação de um roteiro em uma mesa de luz é demorada e delicada, pois se alguma programação for feita errada todo o espetáculo pode ser prejudicado. FIQUE ATENTO O iluminador precisa conhecer muito bem a mesa de luz ao qual vai utilizar para que não ocorra processos de travamento da mesa na hora da programação e operação. Espaços e equipamentos e suas influências no trabalho do iluminador A arte de iluminar um espetáculo não está apenas no conhecimento de mapas e de roteiro, mas também em um olhar atento aos múltiplos espaços, suas materialidades e equipamentos. O iluminador precisa desenvolver sua capacidade de perceber todos estes elementos durante um processo de montagem e como cada um pode influenciar seu trabalho criativo. O iluminador precisa estudar sobre os espaços teatrais convencionais e não convencionais e conhecer a particularidade e especificidade de cada um para desenvolver a melhor forma de iluminá-los. O ato de iluminação de um palco italiano é diferente do ato de iluminar um palco arena, semi-arena, um espaço ao ar livre e um espaço não convencional. O palco italiano é o espaço mais completo e confortável para a 28 A Frontalidade do Palco Italiano execução de um projeto de iluminação. Ele possui todo uma estrutura capaz de suportar a maiorias das encenações seja de dança, teatro, música a eventos afins. Nele, podemos encontrar todo um sistema de iluminação, de maquinaria para cenografia e luz, panarias etc. O espaço à italiana é muito utilizado na maioria das produções teatrais devido aos seus instrumentos e conforto e, também, pela possiblidade de controle da luz externa e outras intempéries que possam atrapalhar a luz da encenação e o espetáculo como um todo. Em relação aos espaços de arena e semi-arena, que rompem com 29 Teatro de Arena a frontalidade italiana e o distanciamento da plateia, colocando o público à sua volta em 360º ou 270º, orienta o iluminador a um repensar da sua forma de iluminar. No formato arena em 360º, todos os lados são frontais, não há mais apenas a frontalidade como no espaço à italiana. Dessa forma, o iluminador precisa, assim como cenógrafo, criar um projeto que contemple essas múltiplas formas de percepção do espetáculo. No teatro semi-arena, um dos lados dos 360º é retirado para proteger o ator e possibilitar entradas e saídas de materiais de cena. Portanto, o iluminador precisa se preocupar em criar uma iluminação que contemple apenas os 3 lados (frontal, lateral direito e esquerdo), podendo criar contraluz para ajudar na climatização do espetáculo. É importante notar que tanto no teatro arena quanto semi-arena não há presença de uma caixa preta ilusionista, com um urdimento para esconder os equipamentos de luz e permitir as entradas e saídas de cenários. Outra informação que o iluminador deve ter é a de que nem todos os teatros arenas e semi-arenas são encontrados em lugares fechados e com um mínimo de estrutura para som, luz e cenografia. Um outro olhar importante na contemporaneidade deve ser feito pelo iluminador sobre a questão dos espaços urbanos e alternativos como palco. Na contemporaneidade, muitos grupos e companhias voltam seus trabalhos para espaços não convencionais. No Brasil, atualmente, há o grupo de teatro VERTIGEM da cidade de 29 São Paulo que volta suas pesquisas espaciais e de iluminação para espaços não convencionais. O grupo de teatro VERTIGEM busca estabelecer seu processo de criação junto ao cotidiano de São Paulo, aproveitando para propor uma nova percepção por meio das suas encenações para a terra da garoa. No espetáculo BR3, o iluminador encontra o desafio de criar o projeto de iluminação tendo fatores de adversidades tais como o próprio rio Tietê e as luzes da cidade e dos faróis de automotores. 30 Estudar e compreender o espaço de encenação proposto pelo Espetáculo BR-3 ,Grupo de Teatro VERTIGEM diretor é fundamental para o cenógrafo e para o iluminador. O de São Paulo às margens do Rio Tietê espaço é um fator importante na configuração de um espetáculo, sendo essencial para o iluminador procurar as melhores maneiras de iluminá-lo. SAIBA MAIS Nesse sentido, o iluminador precisa estar ciente dos Saiba mais sobre o GRUPO DE TATRO VERTIGEM equipamentos que serão usados em cada projeto de iluminação. https://www.teatrodavertigem.com.br/ Cada projeto exigirá do iluminador um determinado tipo de equipamento de luz. Dentro desses equipamentos de produção luminosa e de controle que se encontram mais em uso para o teatro e shows musicais: os refletores analógicos e digitais. Entre os mais usados estão o Plano Convexo – PC; Fresnel; PAR 64 (Parabolic Aluminized Reflector); elipsoidal em seus vários graus; Setlight; Source Four PAR; Canhão seguidor; PAR LED; Moving Light, entre outros. REFLETOR PAR 64 - Foco 5 O refletor PAR pode ser usado para efeitos de contraluz, lateral, diagonal, corredores de luz, Geral de frente e de palco. O refletor PAR 64 pode ser encontrado em foco 1, 2, 3, 5 e sua voltagem em 110 e 220 volts. REFLETOR FRESNEL O refletor Fresnel utiliza lâmpada halógena, com potência variando entre 500, 1000, 2000, 2500, 4000, 5000 e até 20.000 watts. Encontra-se em voltagem 110 e 220 volts. No teatro geralmente ele é usado para fazer gerais, laterais e contraluz uniformes. 30 PLANO CONVEXO – PC Tem esse nome por possuir uma lente convexa na parte frontal do refletor. O P.C, como é amigavelmente conhecido, permite focos com feixes mais concentrados que o Fresnel, em virtude da lente. Os modelos mais recentes vêm com tela de proteção para lente, e o mesmo “bandoor” utilizado no Fresnel. Ele possibilita, também, o ajuste de foco. Utiliza lâmpada halógena com potência variando entre 500, 1000, 2000, 2500, 4000, 5000 e até 20.000 watts. Encontra-se na voltagem 220 V. Elipsoidal Os Elipsoidais são dotados de duas lentes reguláveis, capazes de aumentar ou diminuir o tamanho do feixe luminoso, bem como modificar as características do mesmo, tornando-o mais definido ou mais difuso. Possuem ajuste de foco tipo “zoom”, diafragma circular ajustáveis (íris), recurso de recorte (facas) que possibilita recortes quadrados, triangulares e retangulares, além de permitir inserção de gobos para efeitos figurativos bem definidos. Utiliza lâmpada halógena com potência variando entre 300, 350, 500, 1000, 2000, 2500, 4000, 5000 watts. Encontra-se na voltagem 110 e 220 V SET LIGHT Este tipo de refletor tornou-se popular nos EUA e na Europa com o aumento das produções de TV que recorriam a pequenos fundos cenográficos (SETS) para entrevistas, novelas, noticiosos e shows musicais. A palavra SET passou também para o português, significando um cenário não muito grande, implantado no estúdio para posterior remoção. Um pequeno refletor, conhecido em arquitetura como “WALL WASHER”, era então utilizado na iluminação das paredes e fundos destes sets. Ele tinha esta única e exclusiva função, por isso seu nome SET-LIGHT. Encontra-se em três tamanhos diferentes: pequeno, médio e grande na voltagem 220. 31 MOVING LIGHT O Moving Light é um aparelho moderno que permite através de um sistema inteligente computadorizado o seu movimento em “PAN e TITLE”. Ele também contém um conjunto de cores, de gobos (desenhos), de zoom etc. SAIBA MAIS Saiba mais sobre o Refletor MOVING LIGHT em: https://www.youtube.com/watch?v=yim2WaBm2Ko PAR LED A PAR LED é um refletor criado recentemente pela indústria da iluminação. Por conter seu sistema na combinação de cores para produção da luz. A PAR LED permite a criação de várias cores através da utilização do vermelho, verde e azul. A combinação dessas três cores produz o branco, porém há refletores PAR LED que já estão vindo no sistema RGBW, RGBA e RGBWA. Estas siglas indicam as cores em inglês (Red, Green, Blue, White e Ambar). SAIBA MAIS Saiba mais sobre o Refletor PAR LED em: https://www.youtube.com/watch?v=7Izur-T7IoU MESA DE CONTROLE ION DA ETC A mesa de controle de luz facilita a operação do roteiro de luz. Ela age como um computador que consegue acessar todos os tipos de refletores tantos os que são utilizados por meio de rack de dimmer quanto pelo sistema DMX 512. A mesa de controle de luz digital possibilita uma melhor atuação diante da operação da luz na hora do espetáculo, facilitando através de uma organização segura as entradas e saídas de luz. Com todos esses recursos, a luz pôde destacar o gesto minúsculo do ator, os detalhes de expressão; as distâncias cênicas tornaram-se visíveis; os objetos e cenários adquiriram contorno, definição e plasticidade. [...] A combinação de ângulos, direções, graus de aberturas e de intensidade da luz permitiram pontuar e localizar os signos no espaço, direcionando o olhar do espectador para os focos de maior interesse (CAMARGO, 2012, p. 20). 32 O conhecimento de todos esses equipamentos é essencial para o iluminador realizar um projeto de luz de qualidade. A luz no teatro contemporâneo guia o olhar do espectador pela cena, aumentando e diminuindo as áreas de atuação, reforçando a dramatização e, principalmente criando uma linguagem visual. SAIBA MAIS Conheça a MESA DE CONTROLE DE LUZ ION DA ETC em: https://www.youtube.com/watch?v=7Izur-T7IoU 31 O uso das cores no teatro O estudo das cores no teatro foi e ainda hoje é fonte de muitas pesquisas. As cores se encontram tanto na cenografia, no figurino, na maquiagem quanto na iluminação. O iluminador precisa ter a maior cautela ao utilizar uma cor na encenação, pois o mau uso dela pode distorcer tanto uma imagem, como a cenografia, o figurino e o próprio ator. Entretanto, se o iluminador conseguir utilizar a cor de maneira correta, pode realizar efeitos climáticos, atmosféricos, sugestivos e expressivos maravilhosos. A cor/luz no teatro pode representar sentimentos e emoções, temporalidades, espacialidades, etc. Contudo, o iluminador precisa escolher a cor certa para criar tais referências. Para os equipamentos tradicionais do teatro há no mercado de iluminação filtros de cor, 32 também conhecidos como “gelatinas”, que se colocam O dia em que explodiu Mabata Bata, direçao de Jonatas Tavares. iluminação: Allan Lourenço, atuação: Lua na frente dos refletores de luz. Há empresas especializadas na confecção destes Barreto. cenografia: Luis Guilherme. (ITEGO em artes Basileu França – curso superior em produção cênica) filtros de cor. É através dos filtros de cores que a cor é produzida pela luz no teatro contemporâneo. O iluminador precisa escolher muito bem um filtro de cor e, também saber utilizá-lo para conservar sua SAIBA MAIS qualidade o maior tempo possível. Saiba mais sobre Formação de Cores em: A unidade da cor de um espetáculo teatral ou musical https://www.youtube.com/watch?v=45F5va6Sh08 é fundamental no processo de criação de iluminação. Saiba mais sobre Filtros de Cor Rocolux em: Portanto, é preciso que o iluminador utilize sempre http://roscobrasil.com.br/roscolux filtros de cor novos para evitar a perda de qualidade de cor na encenação. Os equipamentos modernos como os moving light e os refletores de LED são elaborados de forma que não precisam usar filtros de cor. No entanto, o aparelho de luz moving light funciona com as cores individuais, enquanto que os aparelhos em LED se estruturam nas combinações das cores “RED, GREEN e BLUE”. Assim, o iluminador precisa conhecer muito bem seus equipamentos e ferramentas para poder elaborar seu projeto com melhor qualidade possível, fazendose necessária a compreensão do uso da cor no teatro. 33 Um breve estudo sobre a eletricidade básica para o teatro A iluminação teatral moderna e contemporânea lida com a questão da eletricidade. Todos os equipamentos modernos e contemporâneos de iluminação têm seus funcionamentos por meio da energia elétrica. Portanto, o profissional de iluminação precisa saber o mínimo de eletricidade básica para lidar com a energia. O iluminador precisa saber sobre amperagem, voltagens, potência de cada aparelho, entender as diferenças entre um sistema monofásico, bifásico e trifásico. Saber a diferença entre fase, neutro e terra para distribuição da energia no sistema de iluminação. Conhecer um sistema de distribuição de energia é fundamental para que não ocorra queda de fase, queima de equipamento e perda de vidas. Dessa maneira, é sempre bom ter um profissional eletricista qualificado no local de trabalho para evitar ao máximo os riscos ou o próprio iluminador fazer um curso técnico de eletricidade. A utilização errada da eletricidade é tão perigosa quanto o uso, indevido, do fogo no teatro. O profissional de iluminação, o iluminador/lighting designer, necessita FIQUE ATENTO desenvolver seus processos e capacidades O uso indevido e errado da técnicas, intelectuais e criativas a todo eletricidade pode causar sérios danos. instante para conseguir realizar o projeto Por isso, tenha sempre um profissional de luz de um espetáculo. Esta unidade qualificado nas montagens realizadas. mostrou a origem do iluminador e sua função na cena artística/teatral, a importância de um planejamento, de uma organização do projeto em mapa e rider de luz, o processo de execução de um projeto de iluminação. Foi mostrado também como o iluminador precisa conhecer os múltiplos espaços existentes e seus equipamentos e como estes podem influenciar no seu processo criativo. Por fim, abordou-se sobre um breve estudo da cor/luz e de eletricidade básica. Unidade III Mercado de trabalho suas demandas específicas pelo profissional iluminador O mercado de trabalho do iluminador e para o profissional de iluminação é novo e se encontra em formação. Existe um caminho ainda a se percorrer para se estruturar formalmente como uma área sólida e importante fonte geradora de emprego reconhecida pelos órgãos trabalhistas. Entretanto, no Brasil estão se formando grandes empresas que geram milhares de empregos diretos e indiretos. Empresas que desenvolvem tanto trabalhos de iluminação nacionais 33 quanto internacionais, eventos de grandes magnitudes Divulgação: Cirque du Soleil: espetáculo sobre a natureza como o do “Cirque du Soleil” que contratam empresas e profissionais brasileiros para trabalhar em seus espetáculos. Esta demanda de empresas especializadas no trabalho de iluminação vem crescendo em todo território nacional, gerando vagas e oportunidades de empregos para quem se considera ou queira vir a ser um 34 profissional desta área. Empresas de luz, de eventos sociais, casa de shows, espaços teatrais, grupos de teatro e dança, companhias teatrais, grupos musicais estão surgindo em todos os estados da confederação brasileira e precisam de profissionais qualificados que possam trabalhar com a arte de iluminar. No estado de Goiás, o mercado de trabalho vem se fortalecendo cada vez mais tanto pelos investimentos governamentais quanto pela crescente demanda de eventos privados. A crescente produção artística através de festivais de teatro, de música, de filmes e os grandes eventos sociais realizados de forma particular ou governamental procuram contratar empresas e profissionais de iluminação qualificados para suas produções. 34 Teatro Basileu França, Setor Leste Universitário - Goiânia/Goiás https://www.dancabasileufranca.org/teatro-escola 35 Produção de um Show https://pixabay.com/pt/concerto-cantor-est%C3%A1gio Outro exemplo está sendo a abertura vários teatros na cidade de Goiânia, desde ano de 2010, além dos já existentes, que contratam e disponibilizam sempre novas vagas para profissionais de iluminação. Empresas de iluminação da cidade de Goiânia sempre abrem novas vagas de empregos para iluminadores. E, também existe a possibilidade de criações de novas empresas e formação de cursos para Goiânia e diversas cidades do estado de Goiás. Estes fatores podem gerar oportunidades de emprego e de renda para aqueles que querem enveredar por esta área. Há um crescente no número de empresas de iluminação no estado de Goiás. Estas empresas procuram pegar diversos de tipos de eventos sejam eles teatrais, shows, dança ou eventos sociais. No entanto, muitas dessas empresas acabam se especializando em um ou dois tipos de eventos. E os profissionais de iluminação precisam ficar atentos para que saibam em que tipo de evento eles queiram se especializar, sabendo, principalmente que cada tipo de produção artística ou social tem suas demandas e especificidades. A produção de iluminação teatral é um pouco diferente do show, que se difere de um evento social e assim por diante. E estas diferenças especificam os profissionais de iluminação, pois cada área de produção tem as suas necessidades básicas. Estas especificidades fazem com que aqueles que queiram investir e trabalhar nessas diversas áreas de produção e evento se qualifiquem cada vez mais. 36 Divulgação: Ópera Thais. Teatro Municipal de São Paulo 35 O mercado de trabalho de iluminação é exigente em relação à contratação de pessoal, pois seus profissionais SAIBA MAIS precisam ter conhecimento sobre equipamentos e Saiba mais sobre PRODUÇÃO DE SHOWS em: eletricidade básica, evitando desgastes dos mesmos e se https://www.youtube.com/watch?v=CxjRMH-a8QU protegendo de perigos. No teatro, como nas outras áreas Saiba mais sobre ILUMINAÇÃO CÊNICA em: do fazer artístico, a profissão do iluminador se divide em https://www.youtube.com/watch?v=Q0T5dy8I_MQ algumas funções básicas, sendo que para se tornar um Saiba mais sobre ILUMINAÇÃO PARA SHOWS em: profissional criativo da área de iluminação, muitas vezes, https://www.youtube.com/watch?v=NkgmhxEktyo é necessário conhecer estas diversas funções. Saiba mais sobre a ÓPERA THAIS em: A ética profissional do iluminador é fundamental https://www.youtube.com/watch?v=zxPRVS9A7mM em seu trabalho e em sua carreira. Muitas vezes, o profissional vai encontrar-se com situações pessoais de cansaço e stress, com um contratante que não se interessa pelas minúcias do trabalho do profissional iluminador, ou com alguém que queira fazer um evento, mas não tem o mínimo de conhecimento do que se está fazendo. O profissional precisa ser ético para conduzir da melhor maneira possível os diálogos e conflitos. Em nenhum momento, ele pode se desestruturar ou perder a calma perante o evento e as pessoas que o contrataram, principalmente quando o evento é desgastante e exige muito tanto do seu potencial físico quanto intelectual/emocional. O profissional de iluminação precisa, assim, agir como ética, dedicação e coragem. A organização de um evento pode ser muito cansativa. Nesse sentido, o profissional de iluminação precisa estar preparado para as adversidades que possam surgir no decorrer da produção. O profissional de iluminação responsável pela execução da luz do evento tem a obrigação de conduzir todo o trabalho e a equipe auxiliar em paz e harmonia. Ele deve cuidar de toda parte humana e técnica de tal forma que no evento não ocorra nenhum prejuízo para ambas as partes. Geralmente, o profissional de iluminação é o primeiro a chegar e o último a sair do evento. Em alguns casos, o profissional passa muito tempo sem ir a sua casa, passando a ficar no local do evento dias e noites inteiras, lindando assim com adversidades humanas, de tempo ou de espaço. 37 38 A luz no teatro tem a função de criar a IMAGEM CÊNICA Divulgação: Peça “Uma noite na Broadway”, Direção: Neto Mahnic. Concepção de Iluminação: Allan Lourenço. Fotografia: Paulo Jr. Contudo, o trabalho de iluminação oferece processos interessantes de diálogos para o profissional da área, possibilitando em muitos casos viagens para vários lugares do Brasil e do mundo, além de fazer novas parcerias e amizades. Para tanto, o iluminador precisa sempre estabelecer e criar constantemente sua network (rede de contatos), mostrar-se presente nas produções e também procurar se capacitar tanto tecnicamente quando intelectualmente. Por fim, o iluminador necessita estar atento às novas tecnologias e ao mercado de trabalho para poder oferecer um projeto de qualidade para seus contratantes. 36 39 Na foto, o Iluminador Goiano: Roosevelt Saavedra DICAS Procure fazer estabelecer contatos com iluminadores da sua cidade. Nesse sentido, procure averiguar se nela existem profissionais, empresas profissionalizantes e, por fim, realize uma pequena pesquisa de como é o mercado de trabalho na área de iluminação de sua cidade. Quem sabe você possa ser um profissional dessa área ou um empreendedor. 37 Referências BIBLIOGRAFIA BÁSICA BONALI, Natale. A História da Iluminação Artificial: das origens até o século XX. São Paulo - SP; AD, 2001. CAMARGO, R. G. Função Estética da Luz. 1ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012. TORMANN, J. Caderno de iluminação arte e ciência. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Música & Tecnologia, 2007. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR FORJAZ, C. À luz da linguagem: a iluminação cênica – de instrumento da visibilidade à “Scriptura do visível”. Tese de Mestrado, ECA/USP. São Paulo. 2009. GÉNIO, V. Luz & iluminação cênica. São Paulo: ATSP, 2008. MOREIRA, V. Iluminação Elétrica. Ed. Blucher. 1999. PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Tradução para a língua portuguesa sob a direção de J. Guinsburg C Maria Lúcia Pereira. 3. ed - São Paulo: Perspectiva. 2008. PEDROSA, Israel. Da Cor à Cor inexistente. 10ª ed. Rio de janeiro: SENAC Nacional, 2010. ROUBINE, Jean-Jacques. A linguagem da encenação teatral - 2ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1998 SARAIVA, Hamilton. Eletricidade básica para o teatro. Brasília: SNT, 1977. SILVA, Mauri Luiz da. Luz, Lâmpadas e Iluminação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2004.