AS CONVERSAÇÕES DE PAZ SOBRE O CONFLITO SÍRIO
PRINCIPAIS AVANÇOS E DIFERENÇAS ENTRE AS REUNIÕES DE VIENA (2015) E GENEBRA III (2016)
Douglas de Quadros Rocha14
Isabela Souza Julio15
Patrícia Graeff Machry16
As conversações de paz de Viena e Genebra III foram as últimas
iniciativas multilaterais em busca de uma resolução para a Guerra Civil Síria,
e elas contaram com a participação de atores domésticos e regionais
importantes que não haviam participado juntos de negociações de paz
anteriores.
O papel de Bashar al-Assad durante e após o processo de transição
política na Síria é peça-chave para a resolução do conflito.
Os interesses conflitantes dos países e dos grupos locais envolvidos
nas negociações, bem como a não participação de grupos relevantes da
oposição, são os principais empecilhos para o avanço do processo de paz na
Síria.
Apresentação
desde o começo do ano, em Genebra,
mediadas pela Organização das Nações
Unidas (ONU). Porta-vozes do grupo de
oposição, autodenominado Alto Comitê
de Negociação (HNC, do inglês High
No dia 18 de abril de 2016, a
oposição ao governo sírio suspendeu, por
tempo indeterminado, sua participação
formal nas conversações de paz acerca
da situação na Síria, que vêm ocorrendo
14
Graduando do 5º semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul Contato: douglasqrocha@gmail.com
15
Graduanda do 5º semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul Contato: isabelasjulio@gmail.com
16
Graduanda do 7º semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul Contato: pgmachry@gmail.com
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
36
Saudita e as petromonarquias do Golfo,
apoiadas por Israel, Turquia e Estados
Unidos da América, do outro (Matthiesen
2015; Moraes Roberto 2015).
Negotiation Committee), justificaram que
a saída das conversações de paz se dava,
sobretudo, em virtude das violações, por
parte do governo sírio, ao cessar-fogo
estabelecido em 27 de fevereiro de
2016. O presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, bem como o presidente
da Rússia, Vladimir Putin, demonstraram
preocupação e afirmaram a importância
do respeito ao cessar-fogo e da
permanência das conversações de paz
de Genebra para uma resolução pacífica
do conflito sírio (Martin 2016; Stratfor
2016).
Em paralelo ao conflito, iniciaramse diversas conversações de paz que
visaram a solução da situação síria. O
último esforço visando a resolução do
conflito teve início em outubro de 2015,
em Viena, e culminou nas reuniões de
Genebra III. Essas últimas permitiram
que as conversações adentrassem em
uma nova fase, que tinha como principal
diferencial a inclusão simultânea da
oposição síria e do governo de Bashar alAssad nas negociações.
A partir de 2011, a região do
Oriente Médio presenciou a ocorrência
de uma série de manifestações que
ficaram conhecidas como Primavera
Árabe, e que marcaram uma mudança
significativa na geopolítica da região.
Manifestações
pró-democracia
irromperam em vários países clamando,
sobretudo,
por
melhorias
socioeconômicas.
Logo
tais
manifestações chegaram à Síria, onde o
regime de Bashar al-Assad respondeu
com violência, dando início ao conflito
sírio que se estende até os dias de hoje
(Rodgers et al. 2016). As manifestações
na Síria transformaram-se em uma
guerra civil que já vitimou mais de 250
mil pessoas, além de ter promovido a
maior crise de refugiados - cerca de 4
milhões de pessoas - desde a Segunda
Guerra Mundial (Hudson 2016; Amnesty
International 2015). Marcado pela
interferência de potências regionais e
extrarregionais, o conflito tomou
proporções mais amplas, opondo,
principalmente, duas potências regionais
e seus aliados: a República Islâmica do
Irã de um lado, e o Reino da Arábia
Mas, afinal, no que consistem
essas negociações de paz? Por que elas
foram consideradas tão inovadoras e
promissoras por parte da maioria dos
especialistas e, portanto, por que razão a
saída da oposição pode ter um
significado importante para o desenrolar
dos eventos na Síria, um país cuja
situação parece cada vez mais difícil de
solucionar?
Compreendendo a importância de
tais questionamentos, a presente análise
buscará i) identificar a importância do
conflito sírio na região através da análise
das últimas conversações de paz; ii)
explorar os diversos e, inclusive,
divergentes interesses existentes com
relação à resolução da Guerra Civil Síria
e como os atores envolvidos tem se
comportado para atingi-los por meio de
sua participação nas negociações; iii)
entender por que as conversações de paz
de 2016 foram significativamente
diferentes
dos
demais
esforços
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
37
França, Reino Unido e China - levou à
produção de um communiqué que
detalhava uma série de critérios
necessários à resolução do conflito
político sírio. Esse documento, porém,
falhava em identificar quem eram as
partes que deveriam ser incluídas em um
futuro governo de transição, uma vez que
não existe apenas um movimento de
oposição ao governo sírio, e sim, vários,
dotados de ideologias e motivações
distintas entre si (Groarke 2016; United
Nations 2012).
realizados para resolver o conflito, e iv)
analisar
quais
as
possíveis
consequências que viriam dessas
conversações e como a saída do grupo de
oposição pode afetá-las.
Parte-se da premissa que as
conversações de Genebra III, cujas bases
acredita-se terem sido lançadas com as
negociações de Viena em 2015, vinham
sendo fundamentalmente distintas dos
esforços anteriores em razão de terem
envolvido, ao mesmo tempo, tanto países
com interesses divergentes, como Irã,
Arábia Saudita e Turquia, ou Estados
Unidos e Rússia, quanto o governo e a
oposição síria. Além disso, supõe-se
também que, apesar dessa característica
inovadora, a ausência dos curdos da Síria
nas negociações poderia fazer com que o
alcance delas fosse limitado. Por fim,
entende-se que o respeito a um cessarfogo seja fundamental por parte de todas
as partes envolvidas para que futuras
conversações sejam concluídas com
sucesso, e que a saída do grupo de
oposição em virtude da violação do
cessar-fogo pode vir a significar o fim, por
tempo indeterminado, dos esforços
empreendidos para a resolução pacífica
da guerra síria.
As Conversações de Paz Sobre a
Síria
Em 2014, a II Conferência de
Genebra, novamente realizada pela ONU,
buscou levar o governo de Bashar alAssad e alguns dos principais grupos de
oposição - organizados como Coalizão
Nacional Síria - juntos à mesa de
negociação, em uma clara tentativa de
buscar a paz no país por meio de uma
divisão de poder acordada entre todas as
partes envolvidas. Essas negociações,
entretanto, não tiveram tantos efeitos
práticos, uma vez que, internamente,
Assad ignorava esses esforços de
incorporação
da
oposição
e,
internacionalmente, países vizinhos e
outras potências internacionais pareciam
ter cada vez menos disposição para
negociar com o presidente sírio - sendo a
Rússia e o Irã as mais significativas
exceções (Groarke 2016).
O processo de negociações de paz
sobre a Síria já vem se desenrolando
desde 2011, quando começou a guerra
civil que, até hoje, assola o país. Em
2012, a I Conferência de Genebra,
liderada pelas Nações Unidas com apoio
dos membros permanentes do Conselho
de Segurança - Estados Unidos, Rússia,
Com a ascensão do Estado
Islâmico em 2014, a preocupação em
combatê-lo somou-se às preocupações
relacionadas à transição política na Síria,
e o debate sobre o conflito no país
tornou-se ainda mais intenso. No ano de
2015, após o início do envolvimento
direto da Rússia na Síria, com a
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
38
No dia 23 de outubro, o secretário
de Estado dos Estados Unidos, John
Kerry, e o ministro das relações
exteriores
russo,
Sergei
Lavrov,
encontraram-se em Viena, e definiram
que as próximas conversações de paz
sobre a Síria envolveriam todas as partes
envolvidas - uma definição significativa
quando se leva em conta que os últimos
esforços
de
acordos
haviam
representado os interesses dos Estados
Unidos, da Europa e de seus aliados
regionais, como Turquia e Arábia Saudita,
de ver Assad fora do poder como
precondição para atingir a paz. A
declaração de Kerry de que estaria
disposto a aceitar qualquer parceria que
servisse para derrotar o Estado Islâmico
sinalizava que, muito provavelmente,
Lavrov teria conquistado um dos maiores
objetivos russos: o consentimento
ocidental para finalmente dar ao Irã, um
dos maiores aliados do regime Assad, um
lugar na mesa de negociações
(Mohammed and Murphy 2016).
intervenção de setembro, os esforços em
busca da resolução do conflito parecem
ter atingido um patamar mais elevado,
contendo diferenças significativas com
relação aos anteriores. Assim, a presente
análise se concentrará nas negociações
de paz de Genebra iniciadas em fevereiro
de 2016, que ficaram conhecidas como
Genebra III, e nas negociações anteriores
a essas, ocorridas em Viena, no final de
2015, que teriam fornecido as bases
para as conversações de Genebra III.
As conversações de paz sobre a
Síria em Viena (2015)
Em 30 de setembro de 2015, a
Rússia realizou ataques aéreos na Síria,
alegando que todos seus alvos seriam
pertencentes ao Estado Islâmico. Alguns
países ocidentais, em especial os
Estados Unidos, questionaram essa
alegação, acusando a Rússia, tradicional
defensora do governo de Assad, de ter
também infligido ataques à oposição do
governo sírio. Independentemente das
controvérsias geradas com relação aos
alvos dos ataques russos, porém,
importa aqui frisar que essa iniciativa
russa alterou significativamente o
balanço de poder no conflito sírio. Tal
intervenção se deu em uma conjuntura
na qual as forças de Bashar al-Assad
perdiam progressivamente o controle
sobre territórios na Síria. Com um maior
envolvimento da Rússia, uma potência
com grandes capacidades políticas e
militares, ficava claro que não apenas
Moscou teria um protagonismo nas
possíveis resoluções acerca da situação
síria, como também entraria nessas
negociações em defesa de Assad.
Essas suposições confirmaram-se
no dia 30 de outubro, quando ocorreu a
primeira rodada das reuniões sediadas
em Viena. Os principais participantes
foram Estados Unidos, Rússia, Arábia
Saudita, Irã e Turquia, países com visões
fundamentalmente diferentes acerca do
futuro de Assad e do tratamento
necessário aos diferentes grupos de
oposição na Síria, em especial os curdos.
Foi a primeira vez que Irã e Arábia
Saudita participaram de uma mesma
rodada de negociações. Apesar dessa
mudança significativa, é importante
salientar que nenhum representante sírio
foi convidado a participar. Além desses
cinco países, também estiveram
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
39
internacional renovado, apesar de seu
apoio ao regime de Assad (Waterfield,
Dominiczak and Blair 2016; Chatham
House 2016). Ficava claro que, partir
daquele momento, a resolução da guerra
civil síria não poderia mais ser decidida
unilateralmente pelos países ocidentais
– como fora feito na desastrosa
intervenção da Líbia -, mas somente por
meio de um diálogo entre todas as partes
envolvidas, inclusive a Rússia e o Irã,
principais apoiadores de Bashar al-Assad
(Mohammed and Murphy 2015; Lynch
and Hudson 2015).
presentes
França,
Reino
Unido,
Alemanha, Itália, China, Egito, Omã,
Qatar, Jordânia, Líbano, Iraque, Emirados
Árabes Unidos, e representantes da
União Europeia e da Organização das
Nações Unidas. O secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a palavra
de ordem em Viena deveria ser
“flexibilidade”, uma vez que os vários
países participantes apoiavam, cada um,
grupos distintos dentro da Síria (Jung
2015).
Ao fim das reuniões realizadas no
dia 30, os países chegaram ao acordo de
que a resolução do conflito sírio deveria
ser diplomática, respeitando o povo e a
integridade da Síria, e que o Estado
Islâmico devia ser combatido. A ONU foi
convidada a mediar conversas entre o
governo e a oposição síria como forma de
garantir o êxito de um plano de transição
política, mas não houve definição sobre
quais grupos da oposição seriam
convidados. Assim, ficou estabelecido
que os países participantes reunir-se-iam
novamente dentro de duas semanas
para resolver pontos conflitantes e
construir um acordo conjunto (European
Union 2015; The Economist 2015).
Essa inclusão do Irã também
merece destaque especial, uma vez que
pôs fim ao isolamento diplomático do
país na região e demonstrou sua
ascensão como polo importante de poder
para as relações no Oriente Médio.
Apesar da oposição que normalmente
sofre esse país por parte da Arábia
Saudita, da Turquia e das monarquias do
Golfo, a aceitação da participação
iraniana em Viena foi um resultado quase
imediato do aumento da presença militar
russa, que possibilitou a exigência do
comparecimento
do
Teerã
nas
negociações. Contudo, é necessário
frisar que essa inclusão também pode ter
sido fortemente influenciada pela
aproximação entre Estados Unidos e Irã
após as negociações nucleares de junho
de 2015, sinalizando uma disposição por
parte de Washington de arrefecer as
históricas tensões com o país e trazê-lo
aos diálogos sobre a Síria. Tal movimento
trouxe críticas e dúvidas por parte da
Arábia Saudita e de Israel, os principais
aliados estadunidenses na região. A
Arábia Saudita é a tradicional rival do Irã
Deve-se chamar atenção ao fato
de que a Rússia, ao assumir a liderança
nas
negociações
como
principal
intermediário entre as potências
ocidentais e o governo sírio, rompeu com
seu isolamento diplomático, imposto
pela comunidade internacional desde a
incorporação da Crimeia e a posterior
suspensão do G8. Com a intervenção de
setembro na Síria e a consequente
demonstração de suas forças militares,
Moscou
adquiriu
um
respeito
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
40
quais seriam os grupos de oposição
aceitos na negociação, delegando a
tarefa de organizá-los em algum grupo
coeso ao enviado da ONU à Síria, Staffan
de Mistura.
na região, em virtude, sobretudo, das
disputas por áreas de influência sobre os
demais países islâmicos dentro da lógica
de polarização entre xiitas e sunitas (Nasr
2016). A Turquia posicionou-se em
consonância com a Arábia Saudita com
relação a essa aproximação com o Irã,
por temer ver seus interesses na região
ameaçados (Tastekin 2016).
Apesar
disso,
os
países
enfatizaram serem receptivos a um grupo
que contivesse o espectro mais amplo
possível de grupos de oposição, que
deviam ser escolhidos pelos próprios
sírios e que definiriam quem seriam seus
representantes e seus objetivos nas
futuras negociações. Ambas as partes do
conflito, oposição e governo, deveriam
chegar em algum acordo para elaborar
uma nova constituição, uma vez que o
ISSG considerou que o elemento político
era fundamental à resolução da crise
síria (United Nations 2015; Norman
2015; United States Department of State
2016).
No dia 14 de novembro, a
segunda rodada das negociações de
Viena ocorreu, contando com a
participação de dos mesmos países e
organizações presentes no dia 30 de
outubro, com a adição da representação
da Liga Árabe. O grupo ficou conhecido
como Grupo Internacional de Apoio à
Síria (ISSG, do inglês International Syria
Support Group). Nessa ocasião, os países
dialogaram sobre a urgência de dar fim à
destruição física da Síria e ao sofrimento
do povo sírio, e concordaram que o
estabelecimento de um cessar-fogo na
região deveria ser a prioridade imediata não incluindo, porém, neste cessar-fogo,
os ataques contra o Estado Islâmico ou à
frente
al-Nusra.
Os
países
comprometeram-se
a
apoiar
um
processo de transição política nos
moldes do Communiqué de Geneva de
2012, buscando uma governança
inclusiva, não-sectária e liderada pelos
próprios sírios (United Nations 2015).
Decidiu-se, ainda nessa reunião,
que eleições buscando a elaboração de
uma nova constituição seriam realizadas
dentro de 18 meses na Síria, e que 01 de
janeiro de 2016 seria a data limite para
que se iniciassem conversações de paz
entre o governo sírio e os grupos de
oposição. O ISSG não definiu de antemão
As conversações de paz de
Genebra III (2016)
No dia 01 de fevereiro de 2016,
um mês após o previsto, tiveram início as
negociações de paz sediadas em
Genebra, conhecidas como Genebra III.
Organizadas pelo ISSG e mediadas pelas
Nações Unidas, tais reuniões tinham
como fim primordial estabelecer um
cessar-fogo, seguido de um governo de
transição e de eleições na Síria, além da
derrota do Estado Islâmico.
A primeira reunião foi composta
pelos mesmos participantes de Viena,
mas com a marcante diferença da
inclusão de representantes do governo
sírio e do Alto Comitê de Negociações
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
41
(HNC), uma coalizão composta por 3417
grupos de oposição ao regime Assad - um
terço desses representando facções
armadas -, liderada pela Arábia Saudita e
chefiada por Mohammed Alloush, do
grupo salafista Jaysh al-Islam18. A
demora para a ocorrência dessa reunião
– que estava marcada para o dia 01 de
janeiro – se deu, fundamentalmente,
pela indecisão sobre quem seria a
oposição síria reconhecida (Lund 2016).
Além disso, o próprio HNC mostrava-se
ainda um pouco reticente em negociar
com o regime de Damasco caso este não
cesasse os ataques aéreos contra a
oposição, mas acabou cedendo à
pressão internacional para estar
presente.
ataques aéreos em suas posições.
Apesar da ausência de um consenso
sobre isso, ambos os lados do conflito
excluíram representantes dos curdos, da
milícia jihadista Jabhat al-Nusra, a qual
possui laços com a al-Qaeda, e do Estado
Islâmico (Zraick 2016). Os 34 membros
do HNC selecionaram uma delegação de
17 representantes para negociar com
uma delegação do governo sírio, essa
liderada pelo Representante Permanente
da Síria na ONU, Bashar al-Jaafari, nas
conversas iniciadas em 2016 (Pike
2016; Lund 2016).
A inclusão de representantes do
governo de Bashar al-Assad nas
conversações reflete as mudanças
ocorridas em território sírio entre as
forças do governo e demais grupos:
desde os ataques aéreos russos em
apoio à Assad, o governo tem recuperado
regiões importantes do país, como a
cidade de Alepo, maior cidade do país
antes da guerra. Desde então, o governo
prometeu reconquistar o controle sobre
todo o país, o que demonstra a sua
posição relativamente fortalecida e
sólida. Isso deixou claro que Assad não
seria destituído através da força e que a
A definição sobre quais grupos
são moderados ou radicais é um fator de
conflito entre as partes envolvidas: de um
lado, Estados Unidos, Arábia Saudita,
Turquia e demais países europeus
consideram os grupos do HNC
representativos da oposição ao governo
sírio, enquanto a Rússia, o Irã e o governo
Assad classificam alguns destes como
radicais ou terroristas, realizando
A ONU nunca cogitou aceitar no HNC os grupos de oposição que são amplamente considerados terroristas,
como o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra. Alguns grupos considerados terroristas pela Rússia e pelo Irã,
porém, foram incluídos no Comitê- a exemplo do Ahrah al-Sham, do Jaysh al-Islam -, apesar das demandas
russas de que apenas grupos que não recorressem à violência contra o frágil Estado sírio deveriam poder
participar. Ainda, grupos importantes no combate ao Estado islâmico, como os curdos, também não foram
incluídos na coalizão da oposição. Infelizmente, ainda é muito difícil encontrar fontes confiáveis e
detalhadas que contenham informações sobre quais são, de fato, os 34 grupos que compõe o HNC. Aqueles
que se tem confirmação sobre a participação são Jaysh al Mujahideen, Jaysh al Islam, Al Jaysh al Awl, Jabhat
al Asala wal Tanmiya - todos esses sabidamente atuando como oposição armada -, Ahrar al-Sham, Jabal
Turkman Battalion, Suqour al-Jabab Brigade, Council of Direction of Syrian Tribes, Popular Front for Change
and Liberation, Movement Kamh, Movement for a Pluralist Society, Cairo Group, Movement for a Peaceful
Policy Change, Syrian Democratic Council, e Salim Herbek e Namroud Suleiman como participantes
independentes (Pike 2016; Cafarella and Casagrande 2016) .
17
18
O Jaysh al-Islam é um dos principais grupos de oposição jihadista salafista na Síria. Possui apoiadores
em sete províncias diferentes na porção ocidental do país, mas detém sua maior força na capital, Damasco
(Cafarella and Casagrande 2016).
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
42
participação do governo, em qualquer
negociação, se tornara indispensável a
partir da nova conjuntura – mesmo que
grande
parte
dos
negociadores
permaneça se opondo veementemente à
continuidade de Assad no cargo de
presidente (Irish and Strobel 2016;
Dearden 2016).
estabelecida uma Força Tarefa para o
Cessar-Fogo presidida pelo ISSG, EUA e
Rússia (United States Department of
State 2016). Após as primeiras 24 horas
do estabelecimento do cessar-fogo,
porém, as forças russas e sírias
continuaram seus ataques contra uma
série de grupos opositores na parte
noroeste do país. Mesmo apesar disso,
houve queda notável da violência no
país, permitindo que o representante das
Nações Unidas avançasse com seus
esforços para a resolução de conflito
(Syrian Institute 2016).
Os representantes do HNC
focaram nas questões humanitárias e na
libertação de prisioneiros políticos,
enquanto o posicionamento declarado do
governo sírio seria de defesa da
independência e soberania territorial
síria, além da unidade do seu povo. O
mês de fevereiro foi, contudo, um período
de estagnação nas negociações,
principalmente em virtude dos avanços
militares do governo sírio e das forças
russas contra rebeldes em Alepo. Assim,
apenas foi discutida a necessidade de se
estabelecer um cessar-fogo. No dia 22,
em Munique, os Ministros de Relações
Exteriores da Rússia e dos EUA se
reuniram na 52ª Conferência Anual de
Segurança de Munique e anunciaram
juntamente com o ISSG a adoção dos
Termos para o Fim das Hostilidades19 na
Síria. O cessar de hostilidades deveria ter
início no dia 27 de fevereiro e ser
acompanhado de conversações políticas
entre as partes envolvidas. Para isso, foi
Uma nova etapa das negociações
iniciou-se no dia 14 de março, durando
até o dia 24 desse mês. Segundo o
enviado da ONU, as conversações,
naquele momento, tinham atingido um
novo nível de urgência em decorrência do
anúncio da retirada das forças russas do
território sírio20 (Arvinth 2016). Ainda
nesse contexto, Mistura redigiu uma
declaração de princípios que iam desde o
repúdio
ao
terrorismo
até
o
estabelecimento de uma transição
política pacífica na Síria, os quais
deveriam guiar as conversações a partir
daquele
momento.
Contudo,
a
declaração não especificava como se
daria essa transição nem qual seria o
19 Esses termos incluíam, entre outras coisas: a implementação da Resolução 2254 de
da Segurança
da ONU - retomada pela Resolução 2268, de 26 de fevereiro de 2016 -, a interrupção de ataques de
quaisquer formas às forças de governo sírio ou a qualquer grupo associado a elas, e ajuda humanitária
imediata (United States of America 2016).
Conselho
20
O anúncio pelo presidente russo Vladimir Putin, em 14 de março de 2016, sobre a retirada parcial das
forças militares russas da Síria, surpreendeu os países e grupos envolvidos no conflito. Apesar dessa
retirada parcial, bombardeamentos aéreos continuaram, principalmente contra posições de grupos da
oposição. Assim, a Rússia atingiu seu objetivo de fortalecer as forças do governo e estabelecer sua presença
militar no país sempre que necessário. Analistas acreditam que o anúncio de Vladimir Putin buscou
pressionar o presidente Bashar al-Assad a oferecer maiores compromissos para um acordo de paz, em
Genebra III (Salih 2016).
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
43
papel da Assad nesse processo (Wintour
2016).
retrocesso nas conversações (Hudson
2016).
No dia 13 de abril, as reuniões
entraram em uma terceira etapa, em que
se esperava que fossem finalmente
definidas as condições necessárias para
a transição política na síria (Wintour
2016). No mesmo dia, ocorreram
eleições parlamentares nas áreas da
Síria que o governo Assad ainda
controlava,
e
muitas
pessoas
compareceram em apoio a ele. Tais
eleições foram consideradas ilegítimas
pela oposição, tendo em vista a
instabilidade do país e a necessidade do
governo em forjar um apoio da população
síria. Em contrapartida, a Rússia
declarou que elas foram absolutamente
necessárias, em virtude da necessidade
de se evitar um vácuo de poder no país
que poderia favorecer grupos armados
(Davison and Bassam 2016).
Nas semanas mais recentes,
ambos os lados têm se acusado
mutuamente de violar o cessar-fogo
estabelecido no final de fevereiro. Para
tentar atrair novamente os dois lados
para a mesa de conversas, o enviado
especial da ONU recorreu aos EUA e a
Rússia (Hudson 2016).
Apesar de todos esses esforços no
tocante à inclusão do governo sírio e da
oposição, é importante, porém, prestar
atenção ao fato de que o Partido da União
Democrática (PYD), que representa os
territórios curdos no norte da Síria, foi
excluído de qualquer participação nas
negociações. A participação dos curdos
na Guerra Civil Síria é complexa e envolve
interferências e interesses das potências
envolvidas. As forças curdas são,
atualmente, o principal agente em
território sírio em combate contra as
posições do Estado Islâmico, fato que
tem incentivado a ajuda militar e
financeira por parte dos Estados Unidos.
Entretanto, devido aos laços existentes
entre o Partido e as organizações
rebeldes curdas no sudeste da Turquia
(PKK, do inglês Kurdistan Workers Party),
o governo turco se posicionou
veementemente contrário a qualquer
participação de representantes curdos
nas conversações, ameaçando deixá-las
caso isto ocorresse (Perry and
Mohammed 2016; DeYoung and Morello
2016). Dada esta relação entre os curdos
sírios e turcos, o governo de Ancara
impôs ofensivas nos territórios ao norte
da Síria, próximos à fronteira com a
Turquia, região controlada pelos curdos
No dia 18 de abril, o HNC
suspendeu
formalmente
sua
participação nas negociações de
Genebra III. O grupo citou uma série de
motivos, sendo o principal deles a recusa
de governo sírio em permitir ajuda
humanitária no seu território. Segundo o
HNC, as negociações não poderiam
continuar enquanto o regime Assad e
seus apoiadores, principalmente as
forças
russas,
continuassem
bombardeando civis, atacando rebeldes
e se recusando a aceitar a formação de
um novo governo em Damasco. Apesar
de reconhecerem que a saída do HNC
teve motivos legítimos, tanto a ONU
quanto os EUA posicionaram-se contra
essa decisão, pois essa representaria um
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
44
(Reuters 2016). Assim, mesmo que em
Genebra III fosse elaborado algum
acordo entre governo e oposição, a
ausência dos curdos nesta resolução
poderia colocar à prova suas reais
chances de efetividade, uma vez que o
PYD goza de grande apoio popular e tem
conquistado mais posições no norte da
Síria.
Imagem 1 - Áreas controladas pelos grupos na Síria (Janeiro 2016)
Fonte: Robbins 2016
interesses específicos - e praticamente
opostos - na maneira como se concluirá a
guerra síria, e, portanto, financiam e
apoiam grupos distintos dentro da Síria,
garantindo que o equilíbrio de poder na
região se configure de maneira favorável
aos seus interesses. A União Europeia, os
Estados Unidos e a Rússia também
atuam,
direta
ou
indiretamente,
relacionando-se com o governo ou com
grupos de oposição, e realizando
intervenções militares diretas, tanto para
combater o Estado Islâmico quanto, no
caso da Rússia, para apoiar o regime de
Considerações Finais
A
análise
das
últimas
conversações de paz sobre a Síria atesta
a importância e o alcance do conflito
sírio. Esse conflito tem envolvido, de
alguma maneira, todos os países
vizinhos: exemplos são o Iraque, em
virtude da atuação do Estado Islâmico; a
Jordânia e o Líbano, em razão do fluxo de
refugiados; a Turquia, em razão dos
refugiados e também da questão curda.
O Irã e a Arábia Saudita, por sua vez, têm
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
45
parte do governo e dos grupos rebeldes
em torno das áreas em disputa
atualmente. Mesmo que as negociações
continuem sem o HNC – no modelo da
mais recente reunião de Genebra,
ocorrida em 17 de maio de 2016, que
não contou com a participação da
oposição síria e nem do governo sírio -, é
muito difícil que o grupo venha a acatar
as decisões tomadas unilateralmente
pelo ISSG, e que, portanto, se retardem
as tentativas de transição política.
Assad. Reconhecendo-se essa diversa
gama de interesses, a existência das
conversações pode ser interpretada
como um momento em que, finalmente,
houve consenso sobre pelo menos um
ponto com relação à Síria: todas as
partes envolvidas deveriam participar
das discussões em virtude das muitas
ambições em jogo.
Apesar desse ponto positivo, é
possível afirmar que a ausência dos
curdos sírios nas negociações poderia se
mostrar muito problemática para que se
alcançasse uma paz verdadeiramente
duradoura no país, em virtude do apoio
local e estrangeiro que detêm. Ignorar
esse fator permitiria que os braços
armados rebeldes continuassem agindo,
já que não estariam incluídos em acordos
de cessar-fogo e, consequentemente, de
transição política. A política adotada por
Washington, baseada em apoio indireto e
evitando um maior envolvimento em
terra, tem demonstrado incoerência uma
vez que fornece apoio direto aos curdos
ao mesmo tempo em que concorda com
sua ausência nas negociações – dada,
em grande medida, por oposição da
Turquia.
Algumas
lições,
entretanto,
podem figurar como heranças positivas
das conversações de Genebra III,
especialmente no âmbito regional e
internacional, e a observação dos
próximos eventos na região poderá
confirmar ou refutar isso. Primeiramente,
a liderança por parte dos Estados Unidos
e da Rússia de maneira conjunta e
equilibrada, que foi algo realmente novo
no período pós-Guerra Fria, até então
marcado pela predominância dos EUA.
Tal situação vem se alterando desde a
crise na Ucrânia, apontando para a
possibilidade de uma nova tendência
diplomática de maior diálogo entre as
grandes
potências,
sem
a
preponderância de um único país, e
utilizando a ONU como palco para tais
negociações.
A saída do Alto Comitê de
Negociações das conversações de
Genebra pode fazer com que esse
histórico esforço multilateral em busca
da resolução do conflito sírio seja
interrompido por tempo indeterminado.
Se isso de fato acontecer, as
consequências serão muito negativas
para a região e, especialmente, para a
população síria, uma vez que o fim oficial
do cessar-fogo provavelmente significará
uma escalada no uso da violência por
Em segundo lugar, e, por fim, é
importante destacar também o papel
desempenhado
pelo
Irã
nas
conversações a partir das reuniões de
Viena. A inclusão deste país nas
negociações pode ser interpretada como
um sucesso diplomático e estratégico
não somente russo e iraniano, mas
também estadunidense, ao conseguir um
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
46
maior envolvimento do Irã no combate as
forças do Estado Islâmico. Tal rearranjo se
distingue das conversações anteriores a
Viena, as quais foram tratadas ativamente
entre os principais aliados estadunidenses
na região, Turquia e a Arábia Saudita,
percebidos como os tradicionais rivais do
regime iraniano no Oriente Médio. A
presença iraniana em apoio ao governo de
Assad representou o reconhecimento, por
parte dos demais participantes, de que
uma solução pacífica para a Síria só
poderia ter lugar com um papel mais ativo
sendo desempenhado pelo Irã, que
poderia, assim, trazer o governo de Assad
à mesa de negociação. O Irã, por sua vez,
logrou, ao menos por enquanto, a
manutenção de sua influência sobre a
Síria, impossibilitando uma decisão
unilateral por parte do bloco liderado pelos
EUA. Todos esses elementos, somados ao
fim das sanções econômicas ao Irã,
podem estar abrindo as portas para uma
nova distribuição na balança de poder do
Oriente Médio, com uma maior
responsabilidade delegada ao Irã na
manutenção da estabilidade na região,
além de novas relações entre as potências
regionais, e destas com as grandes
potências extrarregionais, Estados Unidos
e Rússia.
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
47
References
Aljazeera. 2016. "Syria: Fate Of Assad Impedes Success Of Geneva III". Aljazeera Centre For Studies.
http://studies.aljazeera.net/en/positionpapers/2016/04/syria-fate-assad-impedes-success-geneva-iii160428104128240.html.
Amnesty International. 2015. "Syria's Refugee Crisis In Numbers". Amnesty
https://www.amnesty.org/en/latest/news/2015/09/syrias-refugee-crisis-in-numbers/.
International.
Arvinth, Karthick. 2016. "Syria Conflict: Geneva Peace Talks 'Going Slowly'".International Business Times UK.
http://www.ibtimes.co.uk/syria-conflict-geneva-peace-talks-going-slowly-1550665.
BBC. 2016. "Syria Conflict: Key Opposition Group
http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35435065.
To
Join
Geneva
Talks".
BBC
News.
Cafarella, Jennifer and Genevieve Casagrande. 2016. Syrian Armed Opposition Powerbrokers. Middle East
Security Report. Washington: Institute for the Study of War.
Chatham House. 2016. "Russia’S Withdrawal From Syria: Five Things You Should Know".Chatham House.
https://syria.chathamhouse.org/research/russias-withdrawal-from-syria-five-things-you-should-know.
Davison, John and Laila Bassam. 2016. "Assad Holds Parliamentary Election As Syrian Peace Talks Resume".
Reuters. http://www.reuters.com/article/us-mideast-crisis-syria-idUSKCN0XA2C5.
Dearden, Lizzie. 2016. "Assad Still Wants To Take The Whole Of Syria Back By Force". The Independent.
http://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/bashar-al-assad-vows-to-retake-whole-of-syria-byforce-despite-ceasefire-attempts-a6870141.html.
DeYoung, Karen and Carol Morello. 2016. "Turkey’S Difficulties With Syrian Kurds Complicate Strategy
Against Islamic State". Washington Post. https://www.washingtonpost.com/world/national-security/syriankurds-are-snag-in-us-turkey-strategy-against-isis/2016/01/23/20eba1bc-c1e2-11e5-94437074c3645405_story.html.
European Union. 2016. "Joint Statement: Final Declaration On The Results Of The Syria Talks In Vienna As
Agreed By Participants". European External Action Service. http://eeas.europa.eu/statementseeas/2015/151030_06.htm.
Groarke, Emer. 2016. "“Mission Impossible”: exploring the viability of power-sharing as a conflict-resolution
tool in Syria". International Journal Of Conflict Management 27 (1): 2-24. doi:10.1108/ijcma-12-2014-0090.
Hudson, John. 2016. "Syrian Opposition Suspends Peace Talks Amid Anti-Assad Offensive".Foreign Policy.
http://foreignpolicy.com/2016/04/18/syrian-opposition-suspends-peace-talks-amid-anti-assadoffensive/?utm_content=buffera93dd&wp_login_redirect=0.
Irish, John and Warren Strobel. 2016. "Russia Keeps Bombing Despite Syria Truce; Assad Vows To Fight On".
Reuters. http://www.reuters.com/article/mideast-crisis-syria-agreement-idUSKCN0VK2NX.
Jung, Elaine. 2015. "Syria Conflict: Vienna Talks To Be Held". BBC. http://www.bbc.com/news/world-middleeast-34674003.
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
48
Lund, Aron. 2016. "The Road To Geneva: The Who, When, And How Of Syria’S Peace Talks".Carnegie
Endowment For International Peace. http://carnegieendowment.org/syriaincrisis/?fa=62631.
Lynch, Colum and John Hudson. 2015. "The Pivot To Tehran". Foreign Policy.
http://foreignpolicy.com/2015/10/29/iran-obama-kerry-vienna-talks-syria-russia-the-pivot-to-tehran/.
Martin, Nik. 2016. "Syrian Opposition Suspends Participation In Geneva Peace Talks". Deutsche Welle.
http://www.dw.com/en/syrian-opposition-suspends-participation-in-geneva-peace-talks/a-19197274.
Matthiesen, Toby. 2015. "Sectarianism After The Saudi Mosque Bombings".Washington Post.
https://www.washingtonpost.com/blogs/monkey-cage/wp/2015/05/29/sectarianism-after-the-saudimosque-bombings/?postshare=4301451733249434&tid=ss_tw.
Mohammed, Arshad and Francois Murphy. 2015. "Kerry Sees New Syria Talks Next Week, Does Not Rule
Out
Iran
Role".
Reuters.
http://www.reuters.com/article/us-mideast-crisis-talksidUSKCN0SH1LN20151023.
Moraes Roberto, Willian. 2015. "A Política Externa Do Irã E O Impacto Do Conflito Na Síria: Alterações
Geopolíticas Regionais E A Estratégia Iraniana". Graduado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Nasr, Vali. 2016. "The War For Islam". Foreign Policy. http://foreignpolicy.com/2016/01/22/the-war-forislam-sunni-shiite-iraq-syria/.
Norman, Laurence. 2015. "World Powers Push Timetable For Syria
http://www.wsj.com/articles/diplomats-gather-in-vienna-for-syria-talks-1447490764.
Solution".
WSJ.
Perry, Tom and Arshad Mohammed. 2016. "U.S. Envoy Visits Kurdish-Held Northern Syria".Reuters.
http://www.reuters.com/article/us-mideast-crisis-syria-visit-idUSKCN0VA2TR.
Pike,
John.
2016.
"High
Negotiations
Committee
http://www.globalsecurity.org/military/world/para/hnc.htm.
(HNC)".
Global
Security.
Reuters. 2016. "Turkish PM Confirms Shelling Of Kurdish Forces In Syria". The Guardian.
http://www.theguardian.com/world/2016/feb/13/turkey-shells-kurdish-forces-in-syria-in-retaliation-forattack-on-border-posts.
Robbins, James. 2016. "Syria Conflict: What Hope
http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35428456.
For
Geneva
Peace
Talks?".
BBC.
Rodgers, Lucy, David Gritten, James Offer, and Patrick Asare. 2016. "Syria: The Story Of The Conflict". BBC.
http://www.bbc.com/news/world-middle-east-26116868.
Salih, Mohammed. 2016. "What Russia's Withdrawal Means For Syria Conflict". Al-Monitor. http://www.almonitor.com/pulse/originals/2016/03/putin-russia-withdrawal-syria-assad-turkey.html#.
Stratfor. 2016. Peace Talks Unravel As Opposition Body Walks Out. Sitrep Syria. Stratfor.
Tastekin, Fehim. 2016. "Are Turkey, Saudi Arabia Working Together Against Iran?". Al-Monitor. http://www.almonitor.com/pulse/ja/originals/2015/03/turkey-saudi-plan-anti-iran-sunni-bloc.html#.
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
49
The Economist. 2015. "After Paris, Syria's Peace Process Limps On". The Economist.
http://www.economist.com/news/middle-east-and-africa/21678712-part-puzzle-after-paris-syrias-peaceprocess-limps.
The Huffington Post. 2016. "Backed By Russian Jets, Syrian Army Closes In On Aleppo". The Huffington Post.
http://www.huffingtonpost.com/entry/backed-by-russian-jets-syrian-army-closes-in-onaleppo_us_56b37778e4b08069c7a63e09.
United
Nations.
2012.
Action
Group
For
Syria
Final
http://www.un.org/News/dh/infocus/Syria/FinalCommuniqueActionGroupforSyria.pdf.
Communiqué.
United Nations. 2015. "14 November 2015, Statement Of The International Syria Support Group Vienna”.
United
Nations
Department
Of
Political
Affairs.
http://www.un.org/undpa/en/Speechesstatements/14112015/syria.
United States Department of State. 2016. “Joint Statement of the United States and the Russian Federation,
as Co-Chairs of the ISSG, on Cessation of Hostilites in Syria”. U.S. Department of State.
http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2016/02/253115.htm.
United States Department of State. 2016. Statement of
Group.http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2016/02/252428.htm.
the
International
Syria
Support
Waterfield, Bruno, Peter Dominiczak, and David Blair. 2014. "G8 Suspends Russia For Annexation Of
Crimea". The Telegraph. http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/russia/10720297/G8suspends-Russia-for-annexation-of-Crimea.html.
Wilkin, Sam and Bozorgmehr Sharafedin. 2015. "Iran Accepts Invitation To Syria Peace Talks In Vienna". The
Huffington
Post.
http://www.huffingtonpost.com/entry/iran-syria-peace-talksvienna_us_5630c528e4b0631799102342.
Wintour, Patrick. 2016. "Syria Peace Talks: UN Envoy To Issue Statement Of Principles". The Guardian.
http://www.theguardian.com/world/2016/mar/24/syria-peace-staffan-de-mistura-talks-un-envoystatement-principles.
Zraick, Karen. 2016. "Syria Talks Are Complicated By Competing Opposition Groups". New York Times.
http://www.nytimes.com/2016/01/30/world/middleeast/syria-talks-geneva-opposition.html?_r=2.
Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.1 n.1 | p. 1-95 | jul/2016 | ISSN: 2525-5266
50