História da Construção - Os Materiais
Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro (coord.)
Evolução da Paisagem Urbana: Sociedade e Economia
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo (coord.)
tranSforMação MorfológiCa
doS teCidoS hiStóriCoS
Coord.
Maria do CarMo ribeiro
arnaldo SouSa Melo
Coord.
Maria do CarMo ribeiro
arnaldo SouSa Melo
Construir, Habitar: A Casa Medieval
Manuel Sílvio Alves Conde
evolução da
paiSageM urbana
evolução da paiSageM urbana
História da Construção - Os Construtores
Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro (coord.)
tranSforMação MorfológiCa doS teCidoS hiStóriCoS
outros títulos de interesse:
Maria do CarMo ribeiro
evolução da
paiSageM urbana
tranSforMação MorfológiCa
doS teCidoS hiStóriCoS
Coord.
Maria do CarMo ribeiro
arnaldo SouSa Melo
Professora Auxiliar do Departamento de História da
Universidade do Minho, Investigadora do CITCEM
e da Unidade de Arqueologia da Universidade do
Minho. Doutorada em Arqueologia, na especialidade
de Arqueologia da Paisagem e do Território, pela
Universidade do Minho. A sua investigação tem-se
centrado nas questões de urbanismo, morfologia
urbana, arqueologia da arquitectura
e história da construção.
arnaldo SouSa Melo
Professor Auxiliar do Departamento de História da
Universidade do Minho, Investigador do CITCEM.
Doutorado em História da Idade Média pela
Universidade do Minho e pela École des Hautes
Études en Sciences Sociales, Paris. O seu campo de
investigação incide sobre a sociedade, economia,
poderes e organização do espaço urbano medieval, em
particular a organização do trabalho e da produção,
incluindo a história da construção.
EVOLUÇÃO DA
PAISAGEM URBANA
TRANSFORMAÇÃO MORFOLÓGICA
DOS TECIDOS HISTÓRICOS
COORD.
MARIA DO CARMO RIBEIRO
ARNALDO SOUSA MELO
FICHA TÉCNICA
Título: Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Coordenação: Maria do Carmo Ribeiro, Arnaldo Sousa Melo
Figura da capa: Detalhe do Mappa das Ruas de Braga, Ricardo Rocha, 1750, Arquivo Distrital de Braga.
Edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»
IEM – Instituto de Estudos Medievais (FCSH – Universidade Nova de Lisboa)
Design gráico: Helena Lobo www.hldesign.pt
ISBN: 978-989-8612-05-2
Depósito Legal: 357874/13
Concepção gráica: Sersilito-Empresa Gráica, Lda. www.sersilito.pt
Braga, Abril 2013
O CITCEM é inanciado por Fundos Nacionais através da FCT-Fundação para a Ciência e a Tecnologia no
âmbito do projecto PEst-OE/HIS/UI4059/2011
SUMÁRIO
Apresentação
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
Em torno da Rua Verde. A evolução urbana de Braga na longa duração
Manuela Martins e Maria do Carmo Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11
O Processo Urbano de Évora. Séc. I a.C. – séc. XV
Gustavo Silva Val-Flores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
45
Tarraco. Morfología y trazado urbano.
Ricardo Mar y Joaquín Ruiz de Arbulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
63
La ciudad en las Partidas: ediicaciones y apostura urbana
Juan A. Bonachía Hernando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
91
Operaciones de implantación de prestigio en la ciudad medieval en los siglos
XV y XVI en Valladolid, Salamanca y Segovia. Análisis de sus signiicados y
cambios urbanos producidos
José Miguel Remolina Seivane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
119
Urbanismo medieval asturiano a ines de la Edad Media. Financiación y gestión del
espacio público, entre la tradición medieval y la modernidad (Oviedo, siglos XV-XVI).
María Álvarez Fernández . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
141
Para o estudo do mercado imobiliário do Porto: o Tombo do Hospital de Rocamador
de 1498
Luís Miguel Duarte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
167
O papel dos sistemas defensivos na formação dos tecidos urbanos (Séculos XIII-XVII)
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Transformações no sistema defensivo medieval de Barcelos
António Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
223
‘Grant fortuna del mar’: construcciones portuarias y espíritu emprendedor en las
villas portuarias de la España atlántica en la Edad Media
Jesús Ángel Solórzano Telechea, Fernando Martín Pérez e Amaro Cayón Cagigas . .
245
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo-medievo.
Helena Lopes Teixeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
273
Indícios e evidências de integração morfo-funcional na paisagem urbana de Braga
(Sécs. XVI-XVIII)
Miguel Sopas de Melo Bandeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
291
Ourense: permanencia e transformacións nunha cidade galega
Anselmo López Carreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
315
O PAPEl dOS SISTEMAS dEFENSIVOS
NA FORMAÇÃO dOS TECIdOS URbANOS
(SÉCUlOS XIII‑ XVII)
MARIA dO CARMO RIbEIRO1
ARNAldO SOUSA MElO2
Introdução
As muralhas têm sido consideradas, recorrentemente, como um dos elementos
que melhor deinem a cidade medieval. Este facto ica a dever-se, em larga medida,
à sua presença constante num elevado número de núcleos urbanos que surgem na
Idade Média. Dessa realidade dão testemunho as fontes escritas e as representações
iconográicas medievais mas, também, os vestígios sobreviventes que integram
ainda as cidades atuais.
A presença de cercas defensivas nas cidades, por vezes até aos nossos dias, constitui uma marca indiscutível da sua importância, não só como estrutura defensiva
mas, também, como elemento condicionador da própria forma urbana. A sua longa
persistência teve consequências importantes na estrutura e no desenvolvimento
dos aglomerados, sendo atualmente um dos elementos que melhor deine o limite
dos centros históricos das cidades.
Todavia, existem centros urbanos medievais abertos, assim como núcleos
amuralhados que não chegaram a receber o título de cidade ou vila, ainda que, nos
séculos em que se produziu a génese dos núcleos urbanos medievais (XI-XIII), o
povoamento tenha sido maioritariamente composto por aglomerações amuralhadas.
A muralha teve, à exceção de algumas cidades, uma função militar primária,
materializando as necessidades básicas de proteção em caso de ataque. No entanto,
Departamento de História; Unidade de Arqueologia; CITCEM – Universidade do Minho; mcribeiro@uaum.uminho.pt
2
Departamento de História; CITCEM – Universidade do Minho; amelo@ics.uminho.pt
1
183
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
as muralhas podiam representar também barreiras de carácter judicial e aduaneiro.
A muralha delimitava um espaço físico, político, social, cultural e ideológico, sendo,
simultaneamente, símbolo de identidade para os que nela residiam, em contraposição
aos forasteiros, e garante da pertença a uma comunidade. As funções desempenhadas
pelas muralhas encontravam-se complementadas pelas portas e torres que as integravam que, para além do papel militar, valorizam a imagem colectiva da cidade3.
Algumas cidades irão desenvolver-se na Idade Média parcial ou integralmente
sobrepostas ao espaço ocupado na época romana, conservando partes do plano
urbano anterior mas, também, em muito casos, o seu sistema defensivo. Outras
houve, surgidas na Idade Média, em que a muralha data desse período. De igual
modo, os núcleos urbanos medievais tendem a crescer nos espaços extramuros dos
núcleos originais, ou seja, nos arrabaldes, normalmente em função das portas das
muralhas, dos caminhos ou de pequenos aglomerados, que puderam chegar a ser
incorporados no recinto urbano, através do alargamento da área fortiicada. De facto,
em muitos casos, a construção de novos perímetros amuralhados acompanhou o
crescimento urbano, marcando a evolução morfológica dos núcleos4.
Apesar da origem das muralhas medievais se encontrar, em geral, fortemente
relacionada com a própria génese do fenómeno urbano medieval, aglomerados
houve que conheceram a construção de recintos amuralhados num momento já
avançado da sua urbanização, como foi o caso de Barcelos5.
Todavia, na Baixa Idade Média, e inícios da Idade Moderna, muitas cidades
possuíam espaços livres intramuros e, simultaneamente, amplas extensões construídas nos subúrbios, circunstância que possibilitou a ediicação continuada do
núcleo urbano.
Na realidade, algumas cidades constroem novas muralhas durante os século
XV, XVI e XVII, destinadas a proteger os arrabaldes, muito embora os espaços
integrados pelo alargamento das muralhas acabem por permanecer, por vezes,
pouco povoados durante muito tempo, podendo absorver na área intramuros o
crescimento da época moderna, em alguns casos até datas tão avançadas como os
séculos XVIII ou XIX.
De facto, as muralhas funcionaram, por vezes, como cinturas complexas, em
virtude da sua sucessiva reutilização, alteração e alargamento, condicionando a
formação e desenvolvimento do tecido urbano.
Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo analisar o fenómeno da
construção de muralhas em algumas cidades medievais portuguesas, procurando
3
4
5
184
De Seta, C. e Le Gof, J. (eds.) (1991).
Teixeira e Valla, 1999; Benito, 2000.
Pereira, 2012.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
compreender o impacto diferenciado que os sistemas defensivos exerceram sobre
a formação dos tecidos históricos.
A concretização dos nossos objetivos encontra-se particularmente valorizada em
virtude da existência de um conjunto de produções cartográicas urbanas, surgidas,
de modo geral, a partir do século XVI. Trata-se de ilustrações iconográicas, das
quais a obra intitulada Civitates Orbis Terrarum constitui um exemplo bastante
signiicativo, onde se encontram representadas muitas cidades portuguesas mas,
também, cartograia de cariz militar, nomeadamente O Livro das Fortalezas, de
Duarte d’Armas. Merece, igualmente, particular destaque a cartograia urbana
produzida ao longo dos séculos XVI e XVII que retrata o urbanismo de muitas
cidades portuguesas. Deste modo, procedemos à análise cruzada dos dados contidos
nas fontes iconográicas e cartográicas com um conjunto de dados publicados,
resultantes de trabalhos de investigação elaborados com base nas fontes históricas e
arqueológicas. Na nossa abordagem, procurámos, igualmente, valorizar os vestígios
conservados e as marcas fossilizadas dos sistemas defensivos, que permitem ainda
documentar o seu impacto na formação da paisagem urbana.
Começaremos, deste modo, por analisar os aglomerados alto medievais que
reaproveitam as muralhas romanas e, seguidamente, aqueles que conheceram
uma fundação islâmica. Posteriormente, abordaremos os aglomerados de origem
medieval que conhecem cercas defensivas originais nos séculos XII-XIII e, ainda,
os núcleos ampliados através da construção de novas muralhas nos séculos XIV e
XV. Finalmente, centrar-nos-emos na análise das cidades planeadas fortiicadas nos
inais da Idade Média e dos núcleos de fronteira que conheceram novos sistemas
defensivos no século XVII.
1. aglomerados alto medIevaIs Que reaProveItam
as muralhas romanas/IslâmIcas
Na generalidade, os aglomerados urbanos alto medievais portugueses tiveram
origem nas antigas cidades romanas. Em alguns destes casos veriica-se que as
antigas estruturas defensivas romanas foram reaproveitadas na sua totalidade,
como parece ter acontecido no Porto, em Lisboa ou em Évora, ou parcialmente
como aconteceu em Braga.
Dentro deste modelo de aglomerado urbano alto medieval encontramos ainda
a distinção entre aqueles que se localizam a norte de Portugal e, portanto, conhecem uma continuidade ocupacional cristã, e os situados a sul, que após o período
romano e suevo-visigótico são transformados em núcleos urbanos islâmicos, muito
embora reutilizando o sistema defensivo romano.
185
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 1. Sistemas defensivos do Porto (adaptado de Marques et al. 1990: 25)
No caso da cidade do Porto, a área amuralhada de origem romana vai manter-se até ao século XIV, correspondendo apenas a um reduto no cimo de um morro,
muito embora a área urbana se estendesse até ao rio (Fig. 1).
Apesar de se tratar de um aglomerado que se desenvolveu sob um anterior núcleo
romano, na realidade, as marcas dessa ocupação no urbanismo medieval são muito
reduzidas. Todavia, a reutilização do sistema defensivo romano irá condicionar, necessariamente, a morfologia do pequeno burgo medieval. De facto, a cidade irá desenvolver-se
dentro da cerca romana, localizada na parte mais elevada do morro, adaptando-se ao
seu perímetro mas, também, à topograia acidentada do local, apresentando um sistema
viário enquadrado nas necessidades da cidade medieval, que se estabelece em função
do centro religioso. A partir do século XII, o início da construção da Sé irá condicionar
a coniguração da zona envolvente da Catedral, a partir de onde o sistema viário se
articula com as portas da primitiva cerca6. Reira-se, que, com alguma probabilidade,
as portas da muralha alto medieval seriam coincidentes com as romanas.
6
Oliveira, 1973: 179-260; Basto, 1962: 143; Sousa, 1994: 124-136; Real, 1984: 36-37; Real, 2001: 8-19;
Teixeira, 2010; Real; Ribeiro e Melo, 2012:159-167.
186
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Simultaneamente, a cidade desenvolve-se na zona ribeirinha, com ocupação
igualmente desde o período romano, associada ao local de travessia do rio da
antiga via romana e às infraestruturas portuárias. O espaço entre estes dois polos
conhece uma progressiva e paulatina urbanização a partir, pelo menos, do século
XIII, através da consolidação do sistema viário, bem como da implantação de
mosteiros mendicantes. Todavia, será somente durante o século XIV que a parte
ribeirinha do aglomerado conhece pela primeira vez uma cerca defensiva7.
Em Lisboa, a muralha romana, pelo contrário, ocuparia o morro mas, também,
toda a zona ribeirinha até próximo do Tejo. Nesta cidade, com intensa ocupação
islâmica desde o século VIII, o perímetro da muralha moura parece ter mantido
o da cerca romana, ainda que com adaptações e acrescentos. Destaca-se, em particular, a divisão entre almedina e alcáçova, que constituía o reduto fortiicado mais
restrito típico da cidade islâmica, com ligação direta ao exterior8 (Fig. 2).
Dentro da cerca romana, posteriormente moura, incluíam-se dois polos fundamentais, o alto, ou da alcáçova, e a zona ribeirinha. Entre estes, existia uma plataforma natural,
onde se teria localizado o fórum romano, posteriormente a mesquita e depois a Sé9.
A estrutura defensiva moura será reutilizada após a conquista cristã de 1147,
mantendo-se até ao século XIV, momento em que a nova cerca fernandina expande
os limites da cidade para nascente e poente10.
A longa persistência da primitiva cerca, associada à topograia acidentada da
colina e à forte concentração demográica, deixaram marcas morfológicas bastante
características no centro histórico da urbe lisboeta, que apresenta um denso e
sinuoso sistema viário, cujas marcas persistem ainda hoje.
Tal como Lisboa, Évora manteve o mesmo perímetro e traçado das muralhas
romanas, durante o prolongado período islâmico, assim como introduziu a divisão
interna entre almedina e alcáçova (Fig. 3). A partir da conquista cristã de 1165,
e até ao século XIV, a cidade continuará a utilizar o mesmo sistema defensivo. A
partir do século XIII veriica-se um crescimento extramuros, pautado pelo desenvolvimento de focos populacionais estruturados em torno de algumas praças,
mosteiros mendicantes e outras igrejas, bem como dos bairros da Mouraria e da
Judiaria. Neste processo de crescimento, as portas da antiga cerca, e os respetivos
largos que se conformam do lado exterior, vão constituir um importante vetor de
estruturação da expansão destes arrabaldes11 (Fig. 4).
7
Oliveira, 1973: 179-260; Basto, 1962: 143; Sousa, 1994: 124-136; Real, 1984: 36-37; Real, 2001: 8-19;
Teixeira, 2010; Real; Ribeiro e Melo, 2012:159-167.
8
França, 2009: 31-55; Silva, 2010: 42-51; 75-99.
9
França, 2009: 31-55; Silva, 2010: 42-51; 75-99.
10
França, 2009: 64-68; Silva, 2010: 75-99; 148-172.
11
Beirante, 1995: 9-17; 40-54; 112-119; Val-Flores no presente livro.
187
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 2. Sistemas defensivos de Lisboa, desde o período romano até ao século XIV (adaptado de
Marques et al. 1990: 58-59)
188
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 3. Évora – Perímetro amuralhado romano, islâmico e cristão até ao século XIV (adaptado de
Marques et al. 1990: 85)
Figura 4. Évora – Crescimento extramuros séculos XIII-XIV (adaptado de Marques et al. 1990: 85)
189
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
No século XIV a nova cerca gótica, muito mais vasta, irá englobar a totalidade da cerca velha, exceto no muro Nordeste da Alcáçova, incluindo os diferentes focos de povoamento desenvolvidos nos arrabaldes, bem como vastas
zonas rurais12 (Fig. 17).
No caso da cidade de Braga, a reutilização do sistema defensivo romano anterior
far-se-á apenas de forma parcial, assistindo-se, simultaneamente, à construção de
um novo segmento de muralha, que vem reduzir substancialmente a dimensão da
cidade13. De facto, o núcleo alto medieval vai estabelecer-se no quadrante nordeste da
cidade romana, reaproveitando parte da muralha construída entre inais do século
III e inícios do século IV, designadamente o setor norte, encontrando-se deinida
a sul por um novo perímetro defensivo. Muito embora não tenha sido possível
aferir, até ao momento, a data precisa da construção da cerca que delimitava a sul
o núcleo alto medieval de Braga, sabemos que ao longo dos séculos VIII-X a cidade
conhecerá um processo de reestruturação que reaproveita, até ao século XIII, a
referida parte norte da muralha romana14, organizando-se em torno da primitiva
basílica paleocristã, transformada em Sé Catedral, em inais do século XI15 (Fig. 5).
Deste modo, o espaço urbano ocupado pela cidade de Braga no período alto
medieval corresponde ao quadrante nordeste da cidade romana que conhecerá uma
continuidade ocupacional, herdando, naturalmente algumas das suas características
anteriores. Esta situação é particularmente evidente na regularidade do sistema
viário de um setor da cidade, atualmente conhecido como Bairro das Travessas16
(Fig. 6). Todavia, o núcleo alto medieval relete, igualmente, as transformações
morfológicas introduzidas no plano romano durante a Antiguidade Tardia (séculos
V-IX). Uma parte signiicativa destas alterações decorrem, precisamente, da construção da muralha baixo-imperial, sobretudo porque a cidade romana alto-imperial
não seria muralhada mas, também, das vicissitudes políticas e das novas lógicas de
ocupação do espaço urbano que se registam nos séculos seguintes17. Na realidade, a
partir do século VIII a área urbana romana, deinida pela muralha baixo-imperial,
irá ser paulatinamente abandonada, passando a população a concentrar-se preferencialmente no seu quadrante nordeste, originando um núcleo urbano com
características morfológicas distintas, que ganham particular expressão no período
alto medieval. A implantação de uma nova cerca que reduz substancialmente a área
12
13
14
15
16
17
190
Beirante, 1995: 9-17; 40-54; 112-119; ver Gustavo Val-Flores no presente livro.
Ribeiro 2008, I, 318-324; Fontes et al. 2010, 255-262.
Fontes et al. 1997-98: 137-164.
Ribeiro, 2008, I, p. 148-149; Fontes et al. 2010, 255-262.
Ver Manuela Martins e Maria do Carmo Ribeiro no presente livro.
Martins et al., 2012: 29-68.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 5. Braga – Sistemas defensivos desde a época romana até à Idade Média19
protegida, bem como a introdução de transformações progressivas irão caracterizar
a morfologia da cidade até aos inais do século XIII18.
Posteriormente, no século XIV, uma nova muralha irá alargar o perímetro urbano
para norte e nordeste, que reutiliza a anterior cerca que delimitava a sul19, mas
que inutiliza os segmentos ainda reutilizados da anterior cerca romana (Fig. 5). 20
A dualidade morfológica que as representações iconográicas, nomeadamente
o Mapa de Braunio, de 1594, apresentam para Braga, permite especular que as
características da cidade no período alto medieval reletem, por um lado, uma
regularidade do sistema viário e dos quarteirões, herdados do período anterior,
muito embora não coincidentes na sua totalidade com os romanos e, por outro,
um conjunto de ruas e quarteirões irregulares que decorrem da adaptação do
18
19
20
Fontes et al. 2010, 255-262; ver Manuela Martins e Maria do Carmo Ribeiro no presente livro.
Ribeiro, 2009/2010, p: 179-201.
Ribeiro, 2009/2010: 190.
191
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 6. Braga – Representação das principais construções medievais no Mapa de Braunio (1594)
tecido urbano ao sistema defensivo, acompanhado por um crescimento espontâneo da cidade21.
Do mesmo modo, a inluência da muralha romana em Braga, tratando-se de
uma imponente estrutura defensiva, fez-se sentir, designadamente, ao nível da
organização do espaço periférico da cidade. Quer o perímetro da muralha, quer
as portas e os caminhos que a ela ligavam deixaram marcas bastante evidentes na
paisagem urbana, que se fossilizaram ao longo da Idade Média e da época Moderna22.
2. núcleos urbanos de Fundação IslâmIca
Dentro do universo das cidades medievais portuguesas, registam-se exemplos
de cidades de fundação islâmica, sem antecedentes urbanos conhecidos, que incluíram um sistema defensivo desde a sua génese. Dentro destes, destaca-se a cidade
de Silves, que no período muçulmano apresentava uma estrutura de proteção
tradicional islâmica composta por dois perímetros amuralhados: a alcáçova, que
21
22
192
Ribeiro, 2009/2010, p: 179-201; ver Manuela Martins e Maria do Carmo Ribeiro no presente livro.
Ribeiro, 2009/2010, p: 179-201.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 7.
Silves – Sistema defensivo
islâmico e medieval
(adaptado de Marques et al.
1990: 91)
incluía uma ampla área, onde se localizava, o castelo e algumas áreas residenciais; a
almedina, rodeada pela segunda muralha; e, ainda, uma terceira cerca mais ampla,
cujo traçado exato é desconhecido, mas que incluía os arrabaldes e se estendia
até ao rio, tirando partido das suas vantagens defensivas, à semelhança de muitas
outras cidades islâmicas peninsulares23 (Fig. 7).
No período cristão, a cidade de Silves irá reutilizar as muralhas islâmicas da
alcáçova e da almedina, mantendo o modelo habitual da alcáçova com saída direta
para o exterior. A muralha da almedina apresentava uma forma poligonal, com
contornos muito irregulares nas partes mais acidentadas do terreno, de modo a
23
Botão, 1992: 24; 26-35 e ig. 2 dos Gráicos e Mapas.
193
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 8. Silves – Traçado dos sistemas defensivos na fotograia aérea (Sousa 1993: 340)
ajustar-se melhor à topograia. Reira-se que a terceira cerca islâmica, mais alargada,
não foi incluída no sistema defensivo cristão, acabando por desaparecer24.
Assim, contrariamente ao que se veriica em muitas cidades, como analisaremos
ao longo deste trabalho, a cidade de Silves conheceu uma redução muito signiicativa
da sua área amuralhada no período cristão, com o abandono dos espaços incluídos
na terceira cerca. Esta situação ter-se-á icado a dever a uma acentuada redução
demográica nos primeiros séculos de domínio cristão, em consequência de vários
fatores, nomeadamente surtos de malária que terão contribuído para a retração de
Silves. Reira-se que paralelamente à perda de importância desta cidade, se assiste
ao desenvolvimento de outras, em particular Faro e Lagos25.
Todavia, o longo período de ocupação islâmica da almedina conferiu a esta área
as marcas urbanísticas características da cidade islâmica, que se manterão no seu
essencial durante o período cristão, nomeadamente um sistema viário irregular.
De facto, a cidade desenvolveu-se dentro das suas muralhas durante toda a
Idade Média e nos séculos seguintes, circunstância que permitiu que algumas das
características do urbanismo islâmico e medieval se perpetuassem, inclusivamente,
até aos nossos dias. Silves constitui um exemplo de cidade islâmica onde os vestígios
materiais do sistema defensivo, ou as marcas da sua existência, se conservaram
até à atualidade (Fig. 8).
24
25
194
Botão, 1992: 24; 26-35 e ig. 2 dos Gráicos e Mapas.
Sousa, 1993: 340.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
3. aglomerados urbanos de génese medIeval Que
conhecem cercas deFensIvas nos séculos xII‑xIII
Os núcleos urbanos cristãos de fundação medieval constituem um outro tipo
de aglomerado, cujo sistema defensivo, na generalidade dos casos, tem origem nos
séculos XII e XIII.
Dentro desta tipologia, podemos identiicar duas situações distintas. A primeira,
quando a cerca defensiva surge associada a um castelo pré-existente, como é o caso
de Guimarães. A segunda, nos casos em que a muralha e o castelo são construídos
em simultâneo, como ocorreu na Guarda.
No caso de Guimarães, assiste-se a uma construção faseada do sistema defensivo.
Inicialmente, no século X, a condessa Mumadona Dias terá mandado ediicar no
monte latito um castelo, que irá ser reformulado ao longo dos séculos seguintes. Este
castelo e a zona envolvente darão origem à designada vila alta. Simultaneamente, no
sopé desse monte, em torno de um mosteiro, fundado de igual modo pela referida
condessa, foi-se desenvolvendo um pequeno aglomerado, denominado, mais tarde,
vila baixa. No século XIII, durante o reinado de Afonso III, deu-se início à construção
ou reforço de uma primeira muralha que limitava a parte alta da vila, contornando
apenas o cume da colina do castelo. Este espaço englobava áreas residenciais, num
modelo muito semelhante ao da alcáçova islâmica, como já referido26 (Fig. 9).
Figura 9. Guimarães – Perímetros amuralhados dos séculos X a XV (adaptado de VVAA 2009: 260)
26
Barroca, 1996: 17-28; Ferreira, 2010: 233-250 e 250-289; 362-368; 371-372; Barroca e Lourenço, 2013: 5-29.
195
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 10.
Guimarães – Sistema
defensivo na
fotograia aérea
Simultaneamente, ainda no reinado deste último monarca deu-se início à
construção de uma segunda cerca, que consistiu na ampliação da primeira zona
amuralhada, de forma a abranger a parte baixa da cidade. Esta terá sido inalizada
na primeira metade do século XIV, no tempo de D. Dinis, que a mandou reconstruir
e robustecer. Deste modo, as duas vilas icaram englobadas por uma só muralha,
adossada ao castelo no topo, mas mantendo uma muralha interna de separação.
No século XIV, no reinado de D. João I, foi ordenado o reforço das muralhas do
burgo vimaranense, bem como a destruição da parte da cerca que separava os dois
núcleos urbanos – a parte alta da parte baixa –, relexo da uniicação jurisdicional
das duas partes (em 1369 e depois em 1389)27.
A formação e desenvolvimento deste tipo de sistema defensivo foram condicionados pela constituição de dois núcleos de povoamento simultâneos, localizados
em espaços topograicamente opostos, que posteriormente são uniicados sob uma
27
196
Ferreira, 2010: 233-250 e 250-289; 362-368; 371-372.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 11.
Torres Vedras – Perímetro
amuralhado medieval,
século XV (adaptado
de Marques et al. 1990: 79)
mesma muralha. Assim, na parte alta, rodeada por uma muralha que encosta ao castelo, veriica-se uma organização viária composta por um conjunto de ruas irregular,
que se adapta à topograia, denotando uma baixa densidade ocupacional. Por outro
lado, na parte baixa, o aglomerado organiza-se em torno do mosteiro, desenvolvendo-se numa plataforma menos acidentada, revelando um sistema viário mais denso e
complexo, articulado com as praças e as portas da muralha, que neste sector são em
maior número do que na cerca da parte alta. A parte baixa indicia, assim, uma maior
densidade ocupacional. A articulação entre estes dois focos de povoamento era realizada sobretudo através de dois grandes eixos, as ruas de Santa Maria e do Gado, que
acompanham o forte declive da vila.
As características urbanas apresentadas para Guimarães, no período medieval,
irão perpetuar-se durante a Idade Moderna e, em certa medida, até aos nossos
dias, sobretudo na parte baixa, graças à conservação e/ou fossilização do sistema
defensivo medieval.
197
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Um outro exemplo de aglomerado urbano que tem origem num castelo que o
antecede regista-se na cidade de Torres Vedras (Fig. 11). Apesar de, numa observação
rápida, este caso apresentar semelhanças com Guimarães, na realidade trata-se de
aglomerados com processos de desenvolvimento urbano bastante díspares, onde o
sistema defensivo inluenciou de forma diferenciada a morfologia da cidade. No caso
de Torres Vedras, o castelo é construído no século XII na parte alta, na alcáçova,
onde também se localizava a colegiada e o paço dos alcaides, registando-se aí um
forte dinamismo urbano, até inícios do século XIV. Por outro lado, a parte baixa,
sem muralha até ao século XV, ganha protagonismo sobretudo a partir dos inais
do século XIV, momento em que a alcáçova surge como uma zona pouco povoada.
Na parte baixa localizavam-se, então, os principais edifícios urbanos, tais como os
novos paços do alcaide e mosteiros. A este propósito reira-se que até o alcaide
abandonara o castelo e a alcáçova, como local de residência28.
Todavia, será apenas no século XV que uma nova muralha irá englobar a parte
baixa, ligando-a à alcáçova, que se manterá numa extremidade. Na realidade, não
se conhece o perímetro exato desta nova muralha, nem se sabe se chegou a ser
concluída na sua totalidade. A ausência de fontes escritas e de registo arqueológico
que a documentem, bem como o facto de não se ter preservado durante muitos
séculos, impossibilita a reconstituição do seu perímetro exato, bem como determinar
ao certo quais as suas implicações no tecido urbano. De facto, ao que tudo indica,
a muralha do século XV terá englobado mais área do que a que se encontrava
urbanizada, registando no seu interior espaços por ocupar. Acrescente-se que a
retração demográica e económica que terá afetado Torres Vedras posteriormente
a este século, poderá justiicar o abandono e ruína da cerca ao longo dos tempos
e, simultaneamente, a parca inluência que parece ter tido na formação e desenvolvimento do tecido urbano torriense29.
Muito embora a génese do sistema defensivo de Guimarães e Torres Vedras
seja semelhante, apresentando um castelo inserido numa zona amuralhada restrita,
tipo alcáçova, o facto da muralha urbana ter sido construída em momentos muito
diferentes, produziu efeitos distintos na morfologia dos respectivos núcleos urbanos.
A densidade viária e construtiva, bem como a irregularidade das artérias da vila
baixa vimaranense, limitada pela muralha desde o século XIII, é muito superior à
da vila baixa de Torres Vedras, cujo desenvolvimento urbano não esteve limitado
nem condicionado por uma cerca defensiva, sendo a muralha apenas construída
no século XV, altura em que já se encontrava em avançado estado de urbanização30.
28
29
30
198
Rodrigues, 1995: 111-126; Rodrigues, 1996: 25-33.
Rodrigues, 1995: 111-126; Rodrigues, 1996: 25-33.
Rodrigues, 1995: 111-126; Rodrigues, 1996: 25-33.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 12.
Guarda- Perímetro da
muralha medieval (adaptado
de Marques et al. 1990: 35)
Por outro lado, dentro do tipo de núcleos urbanos cristãos de fundação medieval, a Guarda (Fig. 12) corresponde ao modelo caraterizado pela construção em
simultâneo da muralha e do castelo. Neste caso, ao que tudo indica, o castelo e
a cerca da vila terão começado a ser construídos na mesma data, nos inícios do
século XIII. A cidade, tornada então sede de bispado, por transferência da antiga
diocese de Egitânia, manteve, simultaneamente, a sua importância estratégica
político-militar, devido à proximidade com a fronteira de Leão. Esta dupla circunstância explica muitas das suas características urbanas, bem como a sua crescente
importância no Reino31.
Todavia, a muralha do século XIII foi a única cerca conhecida para a Guarda,
que não conheceu ampliações futuras. Reira-se, aliás, que no século XIV, o rei
31
Gomes, 1987: 25-58.
199
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 13. Bragança – Sistema de defensivo e expansão urbana medieval (adaptado de Rebelo 2008: 4, 6 e 12)
D. Fernando, no âmbito das guerras com Castela, ordenou que se destruíssem os
arrabaldes demasiado próximos da muralha, que comprometiam a sua eicácia,
contrariamente a outras cidades, onde mandou fazer ou ampliar muralhas32.
A cidade da Guarda desenvolve-se numa colina, encontrando-se o castelo na
área mais elevada e a zona urbanizada na encosta e no sopé do monte. À seme32
200
Gomes, 1987: 40-41.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
lhança de Guimarães, o perímetro da muralha adapta-se à topograia acidentada
do terreno, conhecendo um maior número de portas na zona mais baixa. De igual
modo, o espaço intra muros apresenta maior densidade construtiva e viária na zona
menos acidentada, com características morfológicas que resultam da adaptação ao
terreno, bem como às muralhas e portas.
O plano atual da cidade da Guarda relete, igualmente, muitas das características herdadas do período medieval, bem como aquelas que derivam do facto da
cidade se ter mantido condicionada pela cerca defensiva durante muitos séculos.
Outro exemplo que se destaca no contexto das cidades medievais portuguesas
é o de Bragança (Fig. 13). Neste caso, tratando-se igualmente dum ponto estratégico pela proximidade com a fronteira de Leão e inserindo-se numa região pouco
povoada, a construção do sistema defensivo no século XII terá contemplado a
ediicação dum castelo e de uma muralha que englobava uma área adjacente. Ao
longo dos séculos XII e XIII o núcleo urbano encontrar-se-ia coninado à parte
intramuros, desenvolvendo-se em torno de um eixo central que unia as duas portas
principais e que dividia a vila em dois núcleos. Um, referente à zona do castelo,
menos urbanizado, e o outro, à área residencial e de edifícios públicos, como a
Domus municipalis e a igreja matriz, com elevada densidade ocupacional. Esta
última área, encontrava-se organizada num esquema tipo espinha de peixe, onde
da rua principal derivavam arruamentos secundários, mais ou menos paralelos
entre si e oblíquos à primeira, seguindo as curvas de nível33.
Ao contrário de outras cidades, a muralha de Bragança terá sido utilizada para
apoio de algumas construções, que desta forma a ela se adossavam. Esta situação,
com impacto ao nível da funcionalidade defensiva da estrutura, terá levado a que
em casos de guerra os seus proprietários tivessem sido obrigados a demolir as
construções. Todavia, a partir dos séculos XIV e XV, os constrangimentos espaciais
impostos pela muralha, terão determinado o crescimento urbano realizado para fora
do perímetro da cerca, dando origem à formação de um importante arrabalde, que
se desenvolveu de acordo com as condições topográicas e naturais. Este arrabalde
apresentava características morfológicas distintas do espaço intramuros, pois, ao
contrário deste, os arruamentos eram mais largos, não seguindo as curvas de nível,
orientando-se antes para a porta principal da muralha34. Reira-se que este arrabalde
nunca foi muralhado, não sofrendo portanto constrangimentos decorrentes da
existência duma cerca, contrariamente à parte intramuros, cujo desenvolvimento
urbano terá sido condicionado pelo sistema defensivo, circunstância que se veriica
33
34
Rebelo, 2008: 5-18.
Rebelo, 2008: 5-18.
201
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
até à atualidade. A muralha de Bragança constituiu um raro exemplo de sistema
defensivo medieval conservado praticamente intacto até aos nossos dias.
4. núcleos urbanos amPlIados através de novas
cercas (séculos xIv e xv)
O aluxo demográico registado ao longo dos séculos XIII e XIV para as cidades,
bem como diversas questões de natureza político-militar irão ditar o alargamento
e/ou o reforço de algumas muralhas urbanas. De modo geral, registam-se dois tipos
de situações. Uma, em que as novas cercas reaproveitam parte das anteriores, como
é o caso das cidades de Braga, Lisboa e Évora. Outra situação é aquela em que se
constroem cercas de perímetro totalmente novo, que incluem no seu interior a
totalidade da cerca antiga, como é o caso do Porto.
No caso da cidade Braga, tal como já referido, o núcleo alto medieval reaproveitou
o traçado norte da muralha romana do Baixo-império. Posteriormente, a partir do
século XIII, vamos assistir ao alargamento progressivo da muralha para norte e nordeste, no sentido do castelo, começado a construir nos inícios do século XIV35 (Fig. 5).
Esta nova cerca, concluída em inais do século XIV, estende-se até ao castelo,
passando a incluir o paço arquiepiscopal e uma extensa área por urbanizar, onde
se localizavam maioritariamente propriedades rurais do arcebispo. A Sé Catedral,
até então acantonada junto da muralha romana, passa assim a constituir o lugar
central da nova área amuralhada. Esta muralha terá sido concluída nos inais do
século XIV, por D. Fernando que, simultaneamente, terá mandado reforçar com
torreões todo o perímetro defensivo. Curiosamente, a nova área amuralhada irá
permanecer ao longo de toda a Idade Média com um carácter bastante rural, que só
com o arcebispo D. Diogo de Sousa, nos inícios do século XVI, começará a perder.
Contrariamente, a zona de maior densidade construtiva e demográica corresponde
à área do núcleo alto medieval, com ocupação desde o período romano. Reira-se,
ainda, que as portas da cerca fernandina irão coincidir, na generalidade, com as
antigas vias romanas, posteriormente transformadas em caminhos alto medievais36.
Curiosamente, no caso de Braga, o início da construção de ediicações adossadas
à muralha medieval veriica-se no século XVI, como se observa na representação
iconográica de Braunio (Fig. 6) e se atesta em registos arqueológicos e documentais. Deste modo, assiste-se, paulatinamente, à incorporação da cerca medieval
no tecido urbano, passando esta a integrar os quarteirões modernos, bem como a
35
36
202
Marques, 1986:5-34.
Ribeiro, 2008, I, p. 315-510; Ribeiro, 2009/2010, p: 179-201.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
conformar um conjunto de vias periféricas, que circundam e fossilizam o traçado
da muralha medieval, com expressão até à atualidade37 (Fig. 14).
A cidade de Lisboa, tal como referido, reaproveita a cerca romana e moura,
muito embora a partir do século XII, e sobretudo do XIII, conheça um crescimento
extramuros, em diversos polos, sem paralelo com nenhuma outra cidade portuguesa.
A urbe foi-se desenvolvendo na zona ribeirinha, a ocidente da muralha moura,
sobretudo com Afonso III e D. Dinis, que aí renovou e fez construir casas, tercenas, armazéns, e onde se localizavam diversas artérias, entre as quais se destaca
a Rua Nova, a Rua dos Ferreiros, ou o Largo dos Açougues, entre outros. D. Dinis
iniciou mesmo a construção de uma nova muralha nessa zona, em 1294/95, mas
que nunca foi concluída38 (Fig. 15).
Ainda a ocidente da muralha moura, assiste-se ao desenvolvimento de outros
importantes polos de urbanização, em larga medida realizados em torno de igrejas e conventos, depois paróquias, em particular os mendicantes de S. Francisco
e de S. Domingos, desde o século XIII. Em torno dos primeiros se desenvolverá o
núcleo de Vila Nova de Santa Catarina, com esboços de arruamentos ortogonais.
Os dominicanos instalaram-se junto ao Rossio, praça que vai adquirindo funções centrais na cidade, desde este período. Toda a zona do Rossio até à Ribeira,
desde os séculos XIII e XIV, torna-se cada vez mais central, aí se desenvolvendo
várias artérias, construções e atividades diversas, nomeadamente económicas e
sociais39.
Por sua vez, a oriente da cerca moura, também se assiste a um desenvolvimento
semelhante, ainda que em menor escala, com destaque para a zona ribeirinha, o
bairro da Alfama, arrabalde de origem islâmica, e as novas zonas da Graça e de
S. Vicente de Fora40.
O desenvolvimento destes diferentes polos manterá uma relação com o núcleo
existente dentro da cerca primitiva, onde as portas e os caminhos que dela derivavam tiveram um papel estruturante e regulador da urbanização dos arrabaldes.
No entanto, o crescimento urbano ocorrido nas zonas mais afastadas do primitivo
sistema defensivo pode realizar-se sem os constrangimentos impostos por uma
muralha. Aí se regista um sistema viário com ruas mais amplas que converge
maioritariamente para os lugares centrais em particular, eixos de circulação no
sentido N/S, em direção à zona ribeirinha, e paralelos ao rio, nesta zona. As con-
37
38
39
40
Ribeiro, 2008, I, p. 507.
França, 2009: 64-68; 78-84; Silva, 2010: 148-179, esp. 173-179.
França, 2009: 69; 72-73; 80-84;
França, 2009: 65; 87; Silva, 2010: 179-201.
203
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 14.
Braga
– Sistemas defensivos
na fotograia aérea
Figura 15. Lisboa – Muralha fernandina do século XIV (adaptado de Marques et al. 1990: 58-59)
204
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
dições naturais, designadamente o relevo e o rio, continuam a desempenhar um
papel determinante na formação do tecido urbano (Fig. 15).
A construção da muralha fernandina, concluída em 2 anos apenas, entre 1373
e 1375, irá englobar todos os referidos polos de desenvolvimento, juntamente com
áreas pouco urbanizadas. Assim, no seu seio encontram-se a zona ocupada pela
cerca moura, bem como as referidas áreas de desenvolvimento, a oeste e a este.
O processo de urbanização das grandes áreas intramuros até então pouco urbanizadas será reforçado ao longo do século XV. Na zona ocidental da cidade regista-se
um importante incremento construtivo, em particular, em torno dos conventos de
S. Francisco e de S. Domingos, bem como da Trindade e do Carmo mas, também,
das judiarias grande e pequena. Por sua vez, a nascente, assiste-se a um reforço da
urbanização das zonas dos conventos da Graça e de S. Vicente de Fora41. Este processo
continua e reforça as tendências anteriores à construção da muralha.
A expansão urbana na zona ribeirinha para poente será continuada e muito
reforçada com D. Manuel, que mandará destruir a muralha fernandina nesta área,
de modo a permitir a reorganização e expansão urbana dessa zona, na qual se destaca a construção do novo paço régio, dos armazéns e da alfândega, no Terreiro do
Paço. Este processo de urbanização culminará com a construção do Mosteiro dos
Jerónimos, em Belém, numa zona para poente, já bastante afastada das muralhas42.
De facto, a muralha fernandina de Lisboa constitui um exemplo bastante evidente das limitações que as muralhas impunham, em alguns casos, ao desenvolvimento urbano. Deste modo se poderá explicar que toda a muralha fernandina
que acompanha a linha do rio tenha sido destruída precocemente, permitindo a
dinamização desta zona, com o apoio régio, através do desenvolvimento de infraestruturas de apoio às atividades industriais, navais e comerciais mas, também, às
que se relacionam com o poder régio.
Reira-se, por exemplo, que, em inais do século XV, D. Manuel autoriza a construção de casas ou boticas, na Ribeira, junto da face externa da muralha, mas apenas
de um só piso, e de modo a deixar as ameias à vista. Posteriormente autorizou a
construção em altura até dois pisos, sendo a própria muralha, em muitos locais
aberta e destruída, ou transformada em arcos de pedra, de passagem43.
O crescimento da cidade de Lisboa para fora da cerca fernandina fez-se, naturalmente, através da criação de novos arrabaldes que, de forma geral, mantêm as
mesmas características dos anteriores, onde as portas da muralha e os caminhos
que delas derivam, bem como as condições topográicas assumem uma função
41
42
43
França, 2009: 97-108 e 121-127; Carita, 1999: 19-40 e 53-108.
França, 2009: 129-144 e ss. e p. 157-160.
França, 2009: 130-131 e 135.
205
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 16.
Lisboa
– Sistema defensivo medieval
na fotograia aérea
(Sousa 1993: 328)
importante na morfologia da urbe. Alguns destes arrabaldes constituem bairros
que apresentam um plano urbano com forte regularidade, como por exemplo Vila
Nova de Andrade, atual Bairro Alto44.
A cidade de Lisboa é hoje o resultado das sucessivas transformações urbanas
iniciadas na colina do castelo, continuadas nas colinas e nas zonas ribeirinhas
envolventes, bem como dos atribulados processos de renovação urbana por que
passou, denotando, no entanto, em parte as marcas fossilizadas dos diferentes
sistemas defensivos que conheceu. A este propósito reira-se a grande alteração
operada, no século XVIII, na sequência do terramoto de 1755, na zona conhecida
como baixa pombalina, que introduziu uma trama regular neste sector da cidade,
alterando a totalidade da morfologia anterior (Fig. 16).
No caso da cidade de Évora, tal como já referido, veriica-se a construção duma
nova muralha nos séculos XIV e XV, que inclui a quase totalidade da primitiva
cerca, e passa a incorporar todos os arrabaldes surgidos entretanto fora dela45.
De facto, a muralha gótica, concluída com D. João I, alarga muito o perímetro
da antiga, aproveitando apenas uma pequena parte, a norte da antiga alcáçova e
castelo, mantendo a respetiva saída direta para o exterior (Fig. 17).
Em Évora veriica-se que grande parte das portas da cerca velha se reproduz
na nova muralha, mantendo, por vezes, as mesmas designações, como por exem44
45
206
Carita, 1999: 53-108.
Beirante, 1995: 46-59; 112-119; ver Gustavo Val-Flores no presente livro.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 17. Évora – Muralha fernandina do século XIV (adaptado de Marques et al. 1990: 85)
Figura 18.
Évora – Muralhas medievais
na fotograia aérea
(Sousa 1993: 329)
207
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
plo a Porta de Alconchel. Paralelamente, as principais artérias do novo espaço
muralhado são deinidas pela articulação entre as portas da cerca velha e as da
nova muralha. Este esquema conferiu a Évora medieval um plano perfeitamente
radioconcêntrico, onde o centro é deinido pelo traçado da primitiva cerca, a partir
do qual se estabelece um conjunto de artérias radiais, que desembocam nas portas
da muralha nova. Igualmente, também as praças existentes junto ao lado exterior
da cerca velha se vão conservar, ocupando o mesmo espaço no plano urbano, em
particular a grande praça de Évora, então designada Praça da Porta de Alconchel
(da cerca velha), atual Praça do Geraldo, cuja centralidade se vê reforçada pelo
lugar que passa a ocupar na nova coniguração urbana. Com a conclusão da nova
cerca todos os arrabaldes passaram a icar englobados na nova muralha, pelo que
esta cidade deixou de ter arrabaldes durante muito tempo46 (Fig. 18).
O forte crescimento demográico e urbano de Évora terá ditado igualmente a
destruição parcial da antiga cerca, atestando-se documentalmente a reutilização
dos seus materiais em outras construções. Em virtude da forte atração que a cidade
exerceu sobre a família real e a alta nobreza, o surto construtivo nos séculos XIV
a XVI, incluiu paços régios e senhoriais, conventos, igrejas, colégios, bem como
outros edifícios de prestígio47. A fossilização da muralha é, ainda hoje, bastante
percetível na paisagem urbana (Fig. 18).
Dentro do modelo dos aglomerados ampliados através de novas cercas nos séculos XIV e XV, podemos identiicar uma situação distinta, ainda que pouco comum.
Referimo-nos aos casos em que as cercas novas incluem no seu interior a totalidade
do anterior sistema defensivo, como acontece no Porto (Fig. 1), constituindo este o
único caso que encontramos deste tipo. Nesta cidade a cerca nova do século XIV irá
englobar a muralha anterior, ocupando uma área muito maior, mas não reutilizando
qualquer tramo da cerca velha, mesmo em zonas em que passa muito próximo desta.
A explicação para esta situação poderá encontrar-se em motivos de ordem jurisdicional ou senhorial – dado o antigo litígio entre o Bispo, senhor da cerca velha, e o
rei, senhor da cerca nova – ou em questões de ordem topográica e militar.
Deste modo, a muralha antiga deixa de ter qualquer acesso direto ao exterior,
ao contrário dos casos anteriormente referidos. Tal como já mencionado, a nova
cerca passa a englobar as zonas urbanizadas extramuros, incluindo antigas áreas
de ocupação romana, situadas preferencialmente na zona ribeirinha mas, também,
importantes áreas não construídas. Na realidade, o espaço cercado pela muralha
46
47
208
Beirante, 1995: 46-59; 112-119; ver Gustavo Val-Flores no presente livro.
Beirante, 1995: 46-59; 112-119; ver Gustavo Val-Flores no presente livro.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 19.
Porto
– Sistemas defensivos
na fotograia aérea
fernandina inclui três importantes morros, juntamente com zonas baixas e, em
particular, ribeirinhas48 (Fig. 1).
Reira-se, que uma parte signiicativa do sistema viário já se encontrava estruturado, veriicando-se que, em alguns casos, as portas da nova muralha respeitam,
precisamente, as preexistências viárias mais importantes. No processo de urbanização iniciado nos inais do século XIV, que se desenvolverá durante os séculos
seguintes, destaca-se o morro do Olival, com arruamentos ortogonais na Judiaria
Nova mas, também, a abertura da Rua Nova, na proximidade da zona ribeirinha,
ambas impulsionadas por D. João I49.
Destaque-se, no entanto, que a nova cerca irá deixar de fora alguns arrabaldes
com um nível de urbanização signiicativo, tais como Miragaia e Santo Ildefonso,
mantendo no entanto no seu interior espaços por urbanizar. Em algumas dessas
áreas extramuros pode detetar-se uma certa especialização económica, como é
o caso, em particular, de Miragaia e do Olival50 em termos de construção naval e
cordoaria.
O desenvolvimento da cidade do Porto nos séculos posteriores será feito simultaneamente com a progressiva urbanização de espaços intramuros, bem como
Oliveira, 1973: 179-260; Sousa, 1994: 124-136; Real, 1984: 36-37; Teixeira, 2010; Real: 1987; Ribeiro
e Melo, 2012:159-167.
49
Oliveira, 1973: 179-260; Sousa, 1994: 124-136; Real, 1984: 36-37; Real: 1987; Teixeira, 2012; Ribeiro
e Melo, 2012:159-167.
50
Oliveira, 1973: 179-260; Sousa, 1994: 124-136; Melo, 2009, I: 217-250; Ribeiro e Melo, 2012:159-167.
48
209
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
das zonas extramuros, articulados com as portas da muralha e os caminhos que
a partir delas se desenvolvem.
A partir aproximadamente do século XVIII o sistema defensivo do Porto, à
semelhança do que acontece noutras cidades, foi sendo assimilado pela construção,
integrando atualmente o interior de quarteirões, mas também os edifícios que
se construíram tendo como suporte a muralha. Reira-se, no entanto, que alguns
tramos dos sistemas defensivos são ainda visíveis. Na realidade, a fossilização
das suas muralhas no tecido urbano atual, permite ainda identiicar as principais
caraterísticas morfológicas dos sistemas defensivos da cidade do Porto (Fig. 19).
5. aglomerados urbanos Planeados FortIFIcados
(séculos xIII‑xIv)
No âmbito dos núcleos urbanos medievais portugueses fortiicados insere-se
um conjunto de cidades cuja fundação esteve ligada aos processos de reconquista
e de repovoamento do território tomado aos mouros. Trata-se de núcleos urbanos
construídos que apresentam um plano de urbanização prévio localizados principalmente em zonas de fronteira, ou em áreas despovoadas, que necessitavam de
ser consolidadas e colonizadas. Neste processo destacam-se os reis D. Afonso III
e D. Dinis, que fundaram vários desses povoados, em alguns casos reordenando
núcleos de povoamento já existentes. A título de exemplo podemos referir Viana
do Castelo, Monção, Caminha, Miranda do Douro, no norte do Reino ou Redondo,
Monsaraz, Vila Viçosa ou Nisa51, no Alentejo.
A localização destas cidades fazia-se, na generalidade, em função do seu papel
defensivo, ocupando sítios elevados, portanto, mais facilmente defensáveis. No
entanto, apesar da topograia acidentada do local, apresentavam uma malha urbana
regular composta por um sistema viário hierárquico, composto por ruas principais e
secundárias, que se cruzavam perpendicularmente, formando quarteirões regulares.
Todavia, nestes casos, a muralha não possuía um traçado regular, mas antes um
perímetro irregular, tirando vantagens das características topográicas do local, de
acordo com as funções de defesa e do percurso mais fácil de construir52. De igual
modo, tratavam-se, normalmente, de perímetros mais amplos que o próprio núcleo
urbano, deixando terrenos vazios, por vezes, bastante extensos, entre o perímetro da
muralha e os quarteirões, com o objectivo de prever uma futura expansão urbana.
Constituem exemplos desta situação a cidade de Viana do Castelo (Fig. 20), com
uma muralha oblonga, que envolvia um conjunto de quarteirões regulares.
51
52
210
Teixeira e Valla, 1999: 25-46.
Alves,1996, 198-215.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 20. Viana do Castelo – Sistema defensivo medieval, século XV (adaptado de Teixeira e Valla 1999: 39)
O burgo inicial de Viana do Castelo terá sido rodeado por uma primeira cerca
do século XIII, cujo perímetro se desconhece. A segunda muralha será completada
no inal do século XIV, no tempo de D. Fernando, vindo a envolver uma área mais
alargada. Estas muralhas tinham uma forma oval, como era habitual em muitas
cidades portuguesas, que envolviam nos inais do século XIV uma área não completamente urbanizada. Sobre estes terrenos irão ser construídos a partir do século
XV alguns edifícios importantes da cidade, como a nova igreja matriz, a nascente,
e o hospital, a poente53.
Tal como na generalidade dos núcleos urbanos planeados e fortiicados, a torre
de menagem, que durante muitos anos serviu de casa do concelho, era o edifício
dominante do espaço urbano vianense. Situava-se no ponto mais alto do aglomerado, ocupando o quadrante norte da cidade, adjacente à muralha. Das portas das
muralhas saíam normalmente ruas que ligavam pontos importantes entre si, por
vezes, em extremos opostos da cidade. Esta situação era comum nas cidades novas
53
Moreira, 1992, 31-44; Teixeira e Valla, 1999: 34-37.
211
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 21. Nisa – Sistema defensivo medieval (adaptado de Teixeira e Valla 1999: 44-45)
212
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
de malha urbana de traçado regular, como era o caso do núcleo de Viana do Castelo,
onde existiam quatro portas situadas no eniamento dos dois eixos principais54.
Paulatinamente a construção de novas ediicações particulares intramuros
vai ocupar os espaços livres, desenvolvendo-se quarteirões com uma geometria e
loteamento distintos dos iniciais. A morfologia destes novos quarteirões foi determinada pela área dos terrenos e pelo perímetro não ortogonal das muralhas55.
Um outro exemplo de cidade planeada fundada no século XIII é o de Nisa. No
entanto, neste caso, estamos perante um núcleo construído numa planície e que
apresenta, por isso, uma muralha de perímetro quadrangular, mas bastante ampla,
deixando igualmente terrenos para se construir no seu interior56.
A cidade de Nisa foi fundada por D. Dinis, junto ao Castelo de Ferron da Ordem
dos Templários, tendo as suas muralhas sido construídas em 1290-1296. O núcleo
inicial terá sido ediicado ainda na década de 1280. A muralha, articulada com o
castelo, delimitava um perímetro quadrangular, dentro do qual se implantou um
conjunto de quarteirões regulares, ainda hoje bem marcados na paisagem urbana.
A notória regularidade do plano urbano de Nisa, bem como do seu sistema defensivo,
poderão estar relacionados com o facto de ter sido promovida pelos Templários,
à semelhança do que ocorreu na cidade de Tomar57.
O núcleo medieval de Nisa corresponde a várias fases de desenvolvimento.
O inicial, formado na década de 1280, terá sido constituído apenas por 3 quarteirões. Duas ruas principais convergiam na porta de vila: a Rua Direita, a mais
importante, e a Rua de Santa Maria58. (Fig. 21)
Na última década do século XIII foram construídos quatro novos quarteirões
a leste, que apresentam uma forma retangular mais regular, estruturados por
quatro novas ruas, assim como três novos postigos na muralha, que permitiam
o acesso a essas artérias. Numa fase de desenvolvimento posterior são ocupados
grande parte dos terrenos que existiam livres intramuros, situação que se encontra
documentada nos inícios do século XVI, época em que se veriica, igualmente, um
crescimento extramuros59.
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58
59
Teixeira e Valla, 1999: 31-34.
Teixeira e Valla, 1999: 31-34.
Teixeira e Valla, 1999: 34-37.
Sílvio, 1988.
Teixeira e Valla, 1999: 34-37.
Teixeira e Valla, 1999: 34-37.
213
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
6. os sIstemas de FortIFIcação urbana nos
aglomerados de FronteIra do século xvII
Após o período da Restauração da independência portuguesa (1640), assiste-se à necessidade de construir novas obras de fortiicação, de modo a revigorar
o sistema de defesa do país, nomeadamente em algumas cidades de fronteira,
litoral e terrestre. Estes novos sistemas defensivos encontram-se associados ao
desenvolvimento da arquitetura militar abaluartada, denominada de Fortiicação
Moderna. Estas intervenções, regulamentadas pelo poder real através da nomeação de técnicos especializados em arquitetura militar, terão várias e diferenciadas
implicações na malha urbana60.
Na realidade, as muralhas seiscentistas irão introduzir novos limites físicos à
área urbana, podendo determinar o desaparecimento dos antigos arrabaldes, bem
como alterando a relação do núcleo urbano com os espaços periféricos, estruturando
outros locais de passagem e de ligação com o espaço rural.
O sistema de defesa do país baseou-se, então, não na fortiicação das principais
cidades, mas na reformulação das muralhas dos centros urbanos que se localizavam na região fronteiriça com o país vizinho e, em geral, na região do Alentejo,
que conhecem novas cinturas de muralhas, as quais levaram décadas a serem
concluídas61. Paralelamente foi implementado um sistema de fortes e fortalezas ao
longo da costa marítima. A generalidade das fortalezas modernas ediicadas em
Portugal, a partir do século XVII, foram construídas sob inluência do conceito de
Praça-Forte, como aconteceu, por exemplo, em Valença (Figura 22)62.
63
Todavia, as intervenções realizadas nas cidades portuguesas ao nível do sistema defensivo foram variadas, podendo ser categorizadas em três grandes tipos64.
O primeiro corresponde à reutilização das muralhas medievais, que conhecem uma reformulação de acordo com os princípios da arquitetura militar deste
período. Incluem-se neste tipo as cidades de Miranda do Douro, Monsaraz e
Melgaço, entre outras. Nestes casos, a cintura medieval mantem-se, registando-se pequenos acrescentos defensivos, nomeadamente a construção de pequenos
baluartes. Este tipo de intervenção permitiu o reforço da importância estratégica
destas cidades no sistema defensivo do reino, coninando, no entanto, a área
urbana aos limites medievais existentes. Esta circunstância acabou por limitar
60
61
62
63
64
214
Valla, 2007.
Valla, 2007.
Teixeira e Valla, 1999: 149-214.
Teixeira e Valla, 1999: 205.
Teixeira e Valla, 1999: 150.
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 22.
Planta da Praça de Valença
(século XVIII)59
o seu desenvolvimento urbano, acabando por reduzir os núcleos unicamente à
função de defesa65 (Fig. 23).
O segundo tipo de intervenção caracteriza-se pela construção duma nova cintura
de muralha que alarga o perímetro urbano, passando a incluir arrabaldes e zonas
rurais, como ocorreu em Monção, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Castelo de Vide,
Chaves, Estremoz, entre outros. Neste caso, a intervenção setecentista, para além
de reforçar o papel defensivo do aglomerado, potenciou o seu desenvolvimento
urbano com a criação de novas infraestruturas66 (Fig. 24).
O terceiro tipo de ação corresponde à construção de novas muralhas que
passam a incluir as áreas urbanas que se tinham desenvolvido fora da cerca
medieval, durante os século XVI e XVII. Incluem-se neste tipo cidades como
Vila Viçosa, Moura, Campo Maior e Olivença, entre outras. Nalguns casos estas
novas cinturas de muralhas acabaram mesmo por travar o crescimento urbano
posterior dos aglomerados, como ocorreu em Campo Maior. De modo geral, este
tipo de intervenção permitiu consolidar o tecido urbano existente, originando a
sua reordenação, em função da deinição de hierarquias e reforçando a funcionalidade dos espaços públicos67 (Fig. 25).
Todavia, na generalidade das cidades portuguesas que conhecem fortiicação
no século XVII, o seu crescimento realizou-se sobretudo dentro do novo perímetro
defensivo, até ao século XX. Atualmente, uma parte signiicativa dessas fortiicações
subsiste ainda na paisagem urbana.
65
66
67
Teixeira e Valla, 1999: 150-151.
Teixeira e Valla, 1999: 150-151.
Teixeira e Valla, 1999: 150-151.
215
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
Figura 23.
Sistema defensivo de
Miranda do Douro nos inais
do século XVII (adaptado
Teixeira e Valla 1999: 182)
Figura 24.
Sistema defensivo de Chaves
nos inais do século XVII
(adaptado de Teixeira e Valla
1999: 165)
216
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
Figura 25. Plano urbano de Campo Maior nos inais do século XVIII (adaptado de Teixeira e Valla 1999: 210)
7. tendêncIas evolutIvas dos sIstemas deFensIvos e
do seu ImPacto na Formação dos tecIdos urbanos
Através da análise efetuada podemos concluir que a deinição espacial da
muralha, ou dos diferentes recintos amuralhados, constituiu um elemento de singular importância no estudo da morfologia urbana devendo a sua análise recair,
necessariamente, na sua génese e evolução. Neste processo, torna-se fundamental
avaliar determinados aspetos que se prendem com a constituição do sistema
defensivo, entre os quais se destacam várias situações. A primeira, consiste em
avaliar se os aglomerados medievais reaproveitam os sistemas defensivos anteriores,
nomeadamente romanos, de forma parcial, como aconteceu em Braga, ou na sua
totalidade, como foi o caso de Chaves, Porto, Lisboa e Évora, ainda que nestes dois
últimos casos a muralha tenha sido sucessivamente romana e islâmica, antes de
ser reutilizada na cidade cristã. De igual modo, as estruturas defensivas de génese
islâmica, como Silves, podem ter sido reaproveitadas durante o período cristão. As
diferentes conceções de sistema defensivo inicial, romanas ou islâmicas, tiveram
217
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
impactos diferenciados na morfologia cristã do espaço urbano, que necessariamente
se adaptou às diferentes conigurações que herdou.
A segunda, relaciona-se com o estudo dos aglomerados de génese medieval
que conheceram estruturas defensivas construídas nos séculos XII-XIII, associadas a um castelo. Dentro deste tipo, identiicam-se duas situações distintas. Uma
corresponde aos casos em que a partir dum núcleo acastelado inicial, se constrói
posteriormente uma cerca defensiva que engloba a área urbana desenvolvida numa
zona baixa do aglomerado, como é o caso de Guimarães e de Torres Vedras. A
outra, em que o castelo e a muralha urbana são construídos em simultâneo, como
aconteceu na Guarda e em Bragança.
Dentro dos núcleos de génese medieval encontramos ainda outra situação
distinta. Referimo-nos às cidades planeadas fortiicadas do século XIII-XIV, que
apresentam uma morfologia regular, implantadas preferencialmente na linha litoral
e no Alentejo, em particular próximo da fronteira terrestre. Neste caso, o sistema
defensivo apresenta características distintas, nomeadamente, forma oblonga,
quando se adapta às curvas de nível, como é o caso de Viana do Castelo, ou traçado
geométrico em articulação com os quarteirões regulares que se deinem no seu
interior, como em Nisa.
A terceira situação consiste em analisar as ampliações urbanas resultantes da
construção de novas cercas, situação que ocorre em particular nos séculos XIV e
XV, com o objetivo de incluir no espaço fortiicado os arrabaldes que se haviam
desenvolvido. Também nestes casos importa distinguir os sistemas defensivos que
reaproveitam uma parte dos anteriores, como foi o caso de Braga, Évora e Lisboa,
daqueles em que a muralha é totalmente nova, incluindo no seu interior a totalidade da antiga cerca, como aconteceu no Porto.
Dentro das cidades que conhecem ampliações do sistema defensivo, podemos
ainda referir, muito embora num contexto cronológico e militar completamente
distinto, as cidades que conhecem uma ampliação do sistema defensivo no século
XVII. Referimo-nos às cidades da fronteira terrestre e do Alentejo em geral, cuja
génese do sistema defensivo é bastante heterogénea, como por exemplo em Chaves,
Monção e Campo Maior.
Indiscutivelmente, que as características morfológicas e construtivas dos sistemas defensivos, bem como a sua função militar, tiveram um papel relevante na
organização e no crescimento das cidades, circunscrevendo áreas urbanizadas, e
permitindo demarcar o centro urbano da periferia. De igual modo, também os
arrabaldes podem ser condicionados pela relação que se estabelece entre as portas
e os caminhos extramuros que condicionam o crescimento periférico.
Paralelamente à génese e evolução dos sistemas defensivos, também a perda da
função militar das muralhas, em diferentes épocas, teve consequências profundas ao
218
O PAPEL DOS SISTEMAS DEFENSIVOS NA FORMAçãO DOS TECIDOS URBANOS
(SÉCULOS XIII‑ XVIII)
nível da morfologia das cidades, seja através da sua destruição, seja através da sua
reutilização, designadamente como suporte para a construção de outros edifícios,
ou como matéria-prima para outras obras.
De facto, o desenvolvimento das técnicas de guerra, sobretudo a partir do
século XVI, particularmente o uso da artilharia, permitiu a construção de casas
adossadas à muralha, que vieram ocupar parte do caminho de ronda que existia
ao longo do perímetro interior e exterior dos muros da cidade, dando origem às
fachadas de ruas que vão ganhando forma ao longo da Idade Moderna, como
aconteceu nomeadamente em Lisboa, Braga e Porto. Em alguns casos, como nestas
cidades, vamos assistir ao aparecimento de Portas Novas, para desafogar os centros
amuralhados, adquirindo por vezes o estatuto de entradas nobres, ou de prestígio.
As muralhas constituem, assim, um elemento fundamental para o estudo e
compreensão da morfologia das cidades históricas. A partir de alguns exemplos
pudemos identiicar diferentes contextos de impacto dos sistemas defensivos nos
núcleos urbanos, tendo em conta a conjuntura histórica em que surgem, bem como
a génese e a evolução do aglomerado, nomeadamente:
1. Aglomerados alto medievais que reaproveitam as muralhas romanas/islâmicas;
2. Núcleos de fundação islâmica;
3. Aglomerados de génese medieval que conhecem cercas defensivas nos séculos
XII-XIII;
4. Núcleos ampliados através de novas cercas dos séculos XIV e XV;
5. Aglomerados planeados fortiicados dos séculos XIII-XIV;
6. Sistemas de fortiicação urbana nos aglomerados de fronteira do século XVII.
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221
Evolução da paisagEm urbana: transformação morfológica dos tEcidos históricos
RESUMO:
As muralhas tiveram um papel determinante na formação e desenvolvimento dos aglomerados urbanos. Todavia, a sua inluência teve consequências diferenciadas consoante o
período histórico em que foram construídas, o local geográico, as circunstâncias político-militares ou o momento da história urbana do aglomerado em que foram ediicadas.
Pretende-se, neste trabalho, analisar o papel dos sistemas defensivos na formação dos
tecidos urbanos portugueses, num período compreendido entre os séculos XIII e XVIII.
Para tal, iremos avaliar o impacto da construção dos sistemas defensivos na evolução e
transformação dos tecidos urbanos de alguns aglomerados nacionais, tendo em conta
alguns aspetos, designadamente o contexto histórico; o local ocupado pelo centro urbano
e a morfologia das muralhas; bem como o papel das portas dos sistemas defensivos na
formação da rede viária intramuros, mas também na constituição de largos e praças e na
deinição do conjunto de caminhos que ligam a cidade ao exterior. Por im, abordaremos
ainda o crescimento dos núcleos urbanos e o alargamento e construção de novas cercas
que englobam e acompanham esse desenvolvimento.
Para a concretização dos nossos objetivos baseamo-nos num conjunto variado de informação,
nomeadamente os dados publicados resultantes de trabalhos de investigação realizados
com base nas fontes históricas e arqueológicas mas, também, em diferentes produções
cartográicas urbanas, surgidas, de modo geral, a partir do século XVI. Foram igualmente
valorizados os vestígios conservados e as marcas fossilizadas dos sistemas defensivos, que
atualmente ainda são percetíveis no plano das cidades atuais.
Palavras-Chave: muralhas urbanas; cidades portuguesas; séculos XIII- XVIII; tecido
urbano; fortiicações modernas; sistemas defensivos romanos, islâmicos e medievais
RÉSUMÉ:
Les murs ont joué un rôle très important dans la formation et développement des centres urbains. Cependant, leur inluence a eu des conséquences variées, en fonction de la
période historique dans laquelle ils ont été construits, les conditions géographiques, les
circonstances politiques et militaires ou le moment de l’histoire urbaine dans lequel ils
ont été construits.
Le but de ce travail est d’analyser le rôle des systèmes défensifs dans la formation des
tissus urbains des villes portugaises, dans la période comprise entre le XIIIe siècle et
XVIIIe siècles. Ainsi, on va évaluer l’impact de la construction des systèmes défensifs dans
l’évolution et la transformation des tissus urbains de certains noyaux urbains portugais,
en tenant compte de certains aspects, notamment le contexte historique; le lieu occupé
par le centre-ville et la morphologie des murs ; mais aussi le rôle des portes des systèmes
défensifs dans la formation du réseau routier intra-muros, mais aussi dans la constitution
de places et dans la déinition de l’ensemble des chemins qui relient la ville à l’extérieur.
Finalement, on analyse les phénomènes de croissance des villes et l’élargissement et construction des nouveaux enceints urbains, qui entourent et accompagnent cette évolution.
On a développé notre analyse à partir de l’étude d’un ensemble diversiié d’information,
notamment les données publiées issues des sources archéologiques et historiques, mais
aussi la diverse cartographie urbaine produit, en générale, à partir du XVIe siècle. Les
vestiges préservés, bien comme les empreintes fossilisés des systèmes défensifs, qui sont
aujourd’hui encore perceptibles dans le plan urbain des villes actuelles.
Mots-clés: murs des villes; villes portugaises; XIIIe-XVIIIe siècles; tissu urbain; fortiications modernes; systèmes défensifs romains, islamiques et médiévaux
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