Formação continuada e desenvolvimento profissional no projeto de desenvolvimento profissional em Minas Gerais
Literatura na educação básica:
propostas, concepções, práticas
Maria Amélia Dalvi (UFES)
mariaameliadalvi@gmail.com
RESUMO
Discutem-se relações entre literatura e escola, visando a subsidiar a
consideração crítica de concepções e práticas atinentes ao tema na
educação infantil, nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e
no ensino médio. Retoma-se parte da bibliografia brasileira correlata
ao tema, pondo em evidência seus pontos de maior convergência,
e propõe-se o reexame de pontos de opacidade. Apresentam-se
sugestões para o trabalho docente com a literatura na educação
básica.
Palavras-chave: Educação literária. Leitura literária. Práticas
docentes.
ABSTRACT
This article brings to light discussions on the relationship of
literature and school aiming to subside critical consideration towards
conceptions and practices regarding the theme in children education,
in the early and final years of primary education and secondary
education. The study reviews part of the Brazilian bibliography
correlated to the theme, focusing on its major converging points in
addition to the reexamination of the opaque parts. The text presents
suggestions to the teaching of literature in basic education.
Keywords: Literary education. Literary reading. Teaching practices.
Considerações iniciais
Antes de ousarmos qualquer tentativa de delineamento ou proposição
de concepções e práticas docentes relativas ao ensino de literatura e à
educação literária no ensino fundamental e médio, precisamos fazer pelo
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menos quatro considerações1 de caráter geral consoantes às relações entre
literatura e escola: a) quanto ao processo de escolarização do texto literário;
b) quanto à natureza intertextual da literatura e, portanto, de seu ensino;
c) quanto às concepções e práticas mitificadoras e homogeneizadoras do
fenômeno literário no âmbito escolar decorrentes de seleção inadequada
de obras, de não diversificação de abordagens e de insuficiente atrelamento
entre leitura literária e educação literária; e d) quanto à necessidade de
interpenetração entre a recente produção em teoria e crítica literária e a
literatura nas salas de aula.
A primeira das considerações necessárias é que, em sala de aula,
a literatura sofre – parece – um processo de escolarização: contudo, é
bastante diferente falarmos em texto didático e texto didatizado (BRANDÃO;
MICHELETTI, 2002) e em “pedagogização da literatura” e “literaturização
da pedagogia” (LARROSA, 2006). A literatura, ao ser adaptada, recortada,
resumida, retirada de seu contexto de produção ou traduzida para tornarse “adequada” ao nível de compreensão dos estudantes, consolida três
inverdades: 1) a de que é desinteressante, difícil ou inacessível (ou seja,
passa a ser imprescindível torná-la mais “palatável” se se quiser abordá-la
na educação básica); 2) a de que os estudantes – especialmente os de escola
pública e, ainda mais, os de meios não urbanos – são incapazes de acessar
os mesmos produtos culturais que circulam nas esferas altamente letradas,
geralmente privilegiadas do ponto de vista socioeconômico, necessitando,
pois, de “facilitação” ou “ajuda”; e, por fim, 3) a de que a literatura é um
“conteúdo” que deve ser ensinado e aprendido mesmo que o custo seja o
sacrifício do texto literário em sua fatura estética.
1
Nossas considerações levam em conta a produção bibliográfica mais recente atinente ao tema em
pauta (FONSECA, 2000; GONÇALVES FILHO, 2000; FREITAS; CASTRO, 2003; ZILBERMAN; BORDINI;
REMÉDIOS, 2005; COSSON, 2006, 2009; CUNHA, 2006; EVANGELISTA; BRANDÃO; MACHADO, 2006;
MARTINS, 2006; PERISSÉ, 2006; PINHEIRO, 2006; SARAIVA; MÜGGE, 2006; AGUIAR, 2007, 2009;
COSTA, 2007; CORRÊA; MARTINS, 2007; GRIJÓ, 2007; PAULINO, 2007; PEREIRA, 2007; ZILBERMAN;
SILVA, 2008; CADEMARTORI, 2009; MACHADO; MARTINS, 2009; MACIEL, 2009; MIRANDA, 2009;
SALIM-MIRANDA, 2009; SOARES, 2009; ZILBERMAN; ROSING, 2009 etc.), bem como clássicos sobre
o assunto, como é o caso de Lajolo (1982, 1999, 2001), Lajolo e Zilberman (2009a, 2009b), LeahyDios (2000) e Zilberman (1991a, 1991b, 2005) – ainda que possamos ser acusados, portanto, de
excessivo ecletismo: o que, considerando o objeto sobre o qual trabalhamos (o texto literário:
e a pluralidade e polissemia que lhe são constitutivas), não chegaria, de nosso ponto de vista, a
ser um demérito.
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A segunda consideração é que a carência de noções teóricas mesmo
que elementares por parte dos alunos e a escassez de práticas de leitura/
escuta literária desde a educação infantil vêm prejudicando o ensino-aprendizagem de literatura nos anos finais do ensino fundamental e em
todo o ensino médio – pois a recepção e apropriação de qualquer texto só
pode existir em um espaço intertextual (KRISTEVA, 1974). O aluno, sem
referência e formação prévia, depara-se de repente, no estudo de literatura – especialmente no ensino médio, quando o fantasma dos exames
admissionais ao ensino superior assoma à sua porta –, com gêneros com
que nunca antes teve contato em suas práticas sociais, não dispondo de
esquemas ou estruturas cognitivas que lhe permitam acionar/mobilizar suas
habilidades leitoras e reorganizar seus conhecimentos prévios em função
de uma nova demanda. Além disso, é incapaz, pela ausência de referência
e formação prévias, de estabelecer as conexões que dele se esperam como
leitor: não entende ironias, não percebe feições parodísticas, não identifica
citações indiretas ou retomadas, não está habilitado a estabelecer, pois,
análises homoautorais, heteroautorais, endoliterárias e mesmo exoliterárias (AGUIAR E SILVA, 1988, 2000).
A terceira consideração é que a seleção inadequada de obras e a não
diversificação de abordagens contribuem para uma compreensão mitificada
e homogênea (que entende a literatura de dentro de uma visão beletrista,
conservadora – do ponto de vista ético e estético –, elitista, moralizadora)
(ZILBERMAN, 2001). Os textos a serem lidos não são pensados em diálogo
com as práticas não-escolarizadas de leitura literária e nem em diálogo
com as outras práticas culturais em que os estudantes estão envolvidos na
cotidianidade. Além disso, atividades repetitivas e previsíveis consolidam
estereótipos difíceis de serem quebrados: por exemplo, o de que basta
ler resumos das obras e decorar as características dos períodos literários,
e o de que o autor ou o professor de literatura “viaja na maionese”, “é
desocupado”, “não tem mais o que fazer”, “vive inventando moda”,
portanto, basta “entrar na dele” e falar qualquer coisa “filosófica” sobre
o texto que está bom (OLIVEIRA, 2009, 2013). Outro tipo de equívoco
que contribui para as compreensões mitificadas e homogêneas citadas é
a realização de declamações, feiras literárias etc. nas quais a dimensão
subjetivista e emotiva é privilegiada e nas quais se dá a perpetuação
do culto biografesco/fetichista da figura do autor, como “genial”,
“iluminado”, “sobre-humano”.
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A quarta e última consideração necessária diz respeito à necessidade
de diálogo entre o que se produz no âmbito da teoria e da crítica literárias
e a escola, pois, se a teoria e a crítica tivessem maior penetração nas salas
de aula e nos cursos de formação de professores, a voz do aluno no ato
da recepção textual não seria recalcada pelos roteiros de interpretação,
pelas fichas de leitura e pelos exercícios inócuos propostos pelos livros
didáticos (MARTINS, 2006). Essa necessidade visa a ajudar o professor no
desafio de levar o aluno elaborar ou rever suas interpretações iniciais: sem
desprezar as primeiras leituras realizadas pelos estudantes, o professor
pode aliar a elas os saberes linguísticos, contextuais, historiográficos,
críticos e teóricos de que dispõe e que podem ser compartilhados para
a complexificação da recepção em sua dimensão de “jogo” (ISER, 1998).
Da mesma forma, é necessário superar o lastro iminentemente “biografesco” (e não biográfico – já que a dimensão pessoal e subjetiva são inarredáveis da experiência literária: todavia, não precisam ser dimensões
fetichizadas, que terminem por reificar os sujeitos e suas experiências),
estrutural ou formalista que ainda rege muitas das práticas de leitura
literária na escola e nos materiais didáticos que elege, pois há muito tais
correntes foram redimensionadas no âmbito dos estudos literários e dos
estudos mais interessantes em didática da literatura.
Assim, retomando propostas, concepções e sugestões de práticas já
apresentadas em versão preliminar em trabalhos anteriores (DALVI, 2011,
2012, 2013), expomos, abaixo, notas para a proposição de outras reflexões
sobre as temáticas aqui entrançadas.
Trabalho com a literatura na educação infantil,
no ensino fundamental e no ensino médio
Na educação infantil, o trabalho com a oralidade e com as formas
populares não é visto como uma inserção no mundo da literatura. No
entanto, ele é imprescindível, pois é fundamental que as crianças
percebam, por exemplo, a questão da sonoridade nas quadrinhas e trovas
(distinção e aproximação entre fonemas da língua / repetições / similitudes
/ métrica / tonicidade das sílabas / alternância entre sílabas tônicas e
átonas etc.), o uso de figuras de linguagem e de construção, o esquema
estrutural das narrativas (tanto aquelas que são mais previsíveis, quanto
aquelas que subvertem ou reinventam esses esquemas), a identificação de
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papéis narrativos, a identificação de informações relevantes e irrelevantes
na chave de leitura pretendida, a instituição de protocolos que conduzem
à apropriação desejada por autores, ilustradores e editores etc.
É importante, também, nesse momento, que sejam lançadas as primeiras centelhas de constituição de um senso de pertencimento a uma
comunidade de leitores: que as crianças partilhem o prazer de tomar
contato com bons textos e bons livros e sintam que esse prazer contribui
para que se reconheçam e sejam reconhecidas como pertencentes àquela
comunidade; que os livros circulem e sejam compartilhados entre todos no
grupo, fomentando experiências comuns, embora singulares; que as crianças aprendam a experiência física da leitura de modo compartilhado, com
todos se ajudando e descobrindo as posições e disposições favorecedoras
das práticas leitoras; que as crianças possam conversar sobre o que foi lido,
possam expor suas opiniões e crenças, que possam checar, reformular e
ampliar suas hipóteses de leitura com outros leitores (inclusive, com leitores mais experientes, como os profissionais da escola: auxiliares, bibliotecários, professores); que possam se sentir responsáveis pela organização,
preservação e guarda dos materiais de leitura; que, para as crianças e os
mediadores de leitura, as experiências partilhadas fomentem a produção
de novos objetos culturais e novos textos etc.
No ensino fundamental, a criança deveria, por hipótese, passar a
acessar formas escritas da manifestação literária, desapegando-se da
exclusividade do papel da memorização pela musicalidade e pela repetição
estrutural rumo à leitura propriamente dita, num continuum da oralidade
em direção à escrita (recepção-produção). A criança deixa progressivamente
de depender daquilo que o adulto decide contar / ler / cantar para ela
para poder buscar aquilo que deseja ler (e até mesmo escrever), donde a
importância da biblioteca escolar (e, se possível, familiar) e do trabalho com
diversos gêneros escritos, inseridos em situações socialmente relevantes.
No entanto, em Letramento literário na escola: um estudo das práticas de leitura literária na formação da comunidade de leitores, tese de
doutorado de Marta Passos Pinheiro (2006), mediante uma pesquisa sobre
a formação do pré-adolescente como leitor de literatura em escolas públicas do Brasil e de Portugal, a autora entende que o leitor que a escola (e,
assim, a sociedade) pretende formar deve ler o que é permitido. Para ela,
tais valores são propugnados, principalmente, através do livro didático, que
costuma guiar as práticas de leitura realizadas na sala de aula. Na análise
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das práticas escolares de leitura de textos literários, a autora observa
que os alunos devem identificar-se passivamente com os personagens,
ficar emocionados com os textos poéticos, tornando-se indivíduos “mais
sensíveis” e, talvez, mais controláveis pela escola e pela sociedade e que
o objetivo estético mistura-se a um objetivo instrucional, e a literatura é
reduzida a um dispositivo que tem como objetivo orientar os indivíduos a
se comportarem de uma única maneira (PINHEIRO, 2006).
As leituras realizadas, pelos alunos, fora da sala de aula, de acordo com
a investigação etnográfica empreendida por Pinheiro (2006), apresentam
um alto grau de dependência em relação às práticas de leitura escolares.
As possibilidades de realização de leituras autônomas pelos alunos são
influenciadas pelas possibilidades de acesso a livros. Nas práticas de leitura observadas pela autora, destacam-se algumas estratégias e táticas
de escolarização da literatura desenvolvidas pelos professores, uma vez
que inclusive a biblioteca escolar constitui-se como espaço que propicia e
controla leituras.
Os anos finais do EF deveriam iniciar a leitura e talvez a escrita
de poemas com relativo teor de sofisticação linguística (relativizando
as formas fixas, normalmente privilegiadas até então, e apresentando
a poesia “de invenção”), de textos em prosa mais estruturados e com
adensamento de temas e abordagens (contos e novelas) e, enfim, de
textos dramáticos – além de atividades de retextualização (passagem de
um gênero a outro) e, quem sabe, de transcriação (tradução e recriação
entre línguas, linguagens e códigos diversos). No entanto, privilegiam-se textos jornalísticos, letras de música e poemas de forma previsíveis,
como consequência do trabalho mal feito na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental.
Do ponto de vista conteudístico, o trabalho literário tende a ser altamente controlado pelo moralismo (de todas as ordens) vigente nas escolas.
Ao contrário do que se pensa, a feitura de “teatro” (como má adaptação
de textos narrativos simples), jogral, sarau, livrinhos de poema etc. tende
a prestar um desserviço à causa literária, pela cristalização da noção beletrista e cosmética de literatura, que prioriza um contato estereotipado
com a “emoção”, em detrimento de um esforço reflexivo deliberado – e
libertário, que não tenha como fim, apenas, “aprender a lição” de antemão prevista. Outro problema frequente é a adoção acrítica do discurso
do “ler por prazer”, que privilegia uma função hedonista para a literatura;
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essa opção tem por consequência o entendimento de que é “errado” que
a literatura seja tratada (também) como conteúdo (inclusive político) que
necessita ser aprendido-ensinado e, portanto, avaliado (no sentido também
de problematizado). O estudante precisa, sim, ser incentivado a ter contato
com formas mais sofisticadas, que exigirão seu esforço in(ter)ventivo como
leitor, e precisa saber que há certos conteúdos e posicionamentos que a
instituição escolar e a sociedade esperam que ele aprenda.
No ensino médio, supostamente, o adolescente ou jovem deveria acessar obras nacionais e supranacionais de reconhecido valor ético-estético,
incluindo a literatura que corre à margem do cânone, renovando-o ou
subvertendo-o, alargando, assim, seu repertório e refinando seu grau de
compreensão e seu nível de exigência como leitor (e, quem sabe, como
produtor). No entanto, é, via de regra, incapaz sequer de perceber os
elementos próprios ao primeiro momento ou estágio da formação literária
(aqueles previstos para a educação infantil e os anos iniciais do ensino
fundamental) – daí sua dificuldade em identificar nos textos ou fragmentos
as características apontadas como próprias a tal ou qual período (p. ex., as
inversões sintáticas no Barroco, as feições renascentistas do texto árcade,
a métrica popular do romantismo etc.) e de perceber nuances de ironia ou
retomadas parodísticas de textos fundadores.
No caso específico do ensino médio, a nomenclatura técnica (as figuras
de linguagem, os gêneros, os tipos de verso / estrofe / tonicidade / rima
etc.) e a periodologia não podem ser o destino, mas o caminho para
uma compreensão menos ingênua do fenômeno literário. Por analogia à
psicanálise, falar sobre os textos – esquadrinhando-os na multiplicidade de
suas facetas – pode permitir / instigar a manifestação do conteúdo latente
e a aproximação de imagens e conteúdos aparentemente desarticulados.
Além da má formação pregressa, no ensino médio, a aprendizagem
engessada das “escolas” literárias, o pouco tempo dedicado à efetiva leitura
literária, a fragmentação da disciplina de Língua Portuguesa em GramáticaLiteratura-Produção de Texto, a pequena carga horária destinada às aulas
de Literatura, a pressão do vestibular e do Exame Nacional do Ensino Médio
e a consequente adoção de resumos canhestros, tudo isso vem coroar uma
história de fracasso, reiterando a ideia de que Literatura é algo para gente
genial (ou seja, que consegue entender aquilo que é incompreensível para
a maioria), ociosa (ou seja, que tem tempo de ficar discutindo “o sexo dos
anjos”) ou “viajante” (ou seja, que fica delirando/inventando/imaginando
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coisas onde não há nada para ser visto/percebido). Os textos literários são
apresentados em desarticulação com o mundo da vida, com a história, a
sociedade, a economia e a cultura.
Principalmente para alunos economicamente desfavorecidos, o acesso
ao circuito literário é tido como impensável, difícil, complicado – e até
indesejável: não são poucas as pessoas que pensam que os alunos mais
pobres não deveriam “perder tempo” com coisas “inúteis”, como se a arte
fosse dispensável e reservada a uns poucos que poderão usufruir do ócio,
reiterando uma visão conservadora e maniqueísta. No entanto, talvez fosse
o caso de apurar o olhar para a análise de formas literárias tradicionalmente
consideradas como “populares” ou de gosto popular, como a música que
toca nas rádios, a novela, o filme de Hollywood, o grafite, o cordel etc.,
buscando nessas manifestações seus pontos de contato com a literatura
cujo estudo tradicionalmente se espera nas instituições formais de educação, de modo que funcionassem como chave de acesso, que permitisse
uma comparação criativa e crítica.
O professor de língua e literatura no ensino fundamental e médio, visando a superar os problemas apontados, pode e deve valorizar/explorar
o texto literário em sua pluralidade (linguística, histórica, social, política
etc.) e em suas distintas dimensões (intertextual, transversal, transdisciplinar e intersemiótica) (MARTINS, 2006) – isso porque, para Kleiman e
Moraes (1999), a leitura (e falamos especificamente da literária), dada sua
inserção em práticas sócio-históricas e culturais, pode ser uma atividade
de integração contra a fragmentação de saberes (o que nos permite pensar em projetos interdisciplinares que tomem o texto literário como eixo
organizador) (BARTHES, 1985).
Assim, valorizar o texto literário em sua pluralidade e em suas distintas
dimensões pode contribuir para a integração de saberes na medida em que:
a) a escola incentive a leitura de obras clássicas em diálogo com produções
contemporâneas, numa abordagem que seja simultaneamente diacrônica
e sincrônica; b) o aluno possa compreender a literatura como fenômeno
cultural, histórico, ideológico, político, simbólico e social, capaz de dar a
ver as contradições e conflitos da realidade; c) o ensino não menospreze o
caráter dialético das obras literárias, como produtos de cultura cuja função
é, paradoxalmente, abalar ou subverter os consensos instituídos no âmbito
da própria cultura; e d) o texto literário seja abordado em diálogo com
outros produtos ou artefatos culturais.
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Repensar e reinventar as relações
entre literatura e escola
De acordo com Martins (2006), a relação entre literatura e escola
apresenta-se marcada por concepções estigmatizadas, que precisam ser
superadas para a valorização do texto literário em sua pluralidade e em
suas distintas dimensões, visando à integração de saberes. A primeira das
concepções estigmatizadas é que literatura é muito difícil. A segunda, que
é preciso ler obras literárias para escrever bem. E a terceira, que a linguagem literária é marcada pela especificidade em relação aos demais usos
linguísticos (ressuscitando-se o conceito de “literariedade”, propugnado
pelo Formalismo Russo). Para a autora, tais mitos disseminam perspectivas ideológicas preconceituosas subjacentes à prática docente. Com sua
perpetuação, a escola contribuiria para a formação de leitores acríticos,
com visão reduzida e distorcida do fenômeno literário, cuja consequência
mais imediata é a manutenção do status daqueles que encontram na leitura literária e nas habilidades que lhe são inerentes uma forma de poder.
Desta feita, Martins (2006) propõe sugestões metodológicas que podem ser úteis às práticas docentes, tais como, por exemplo: desmitificar a
concepção escolarizada da literatura como fenômeno decorativo ou como
“a arte de bem escrever”, cujos modelos devem ser imitados; incentivar
o trabalho de resgate de autores e obras que não foram enquadrados no
cânone literário, mas cuja produção foi representativa de uma época;
reavaliar os enfoques teóricos que orientam o trabalho com literatura em
sala de aula; evitar centrar o trabalho com literatura em fragmentos ou
em textos descontextualizados de sua situação de produção; considerar a
diversidade de leituras produzidas pelos alunos em contextos não-escolares;
diversificar o trabalho com textos do ponto de vista didático-pedagógico;
incentivar diferentes apresentações dos resultados de leitura dos alunos
mediante recursos como as dramatizações, os júris simulados, a confecção
de murais ou painéis, a transcriação intersemiótica do texto literário por
meio de outras linguagens ou suportes, a produção de resenhas, paródias,
resumos etc. (com o cuidado de não cair em práticas estagnatórias, como sinalizamos acima); desenvolver as análises comparativas; dissociar a leitura
do texto literário de análises gramaticais, estilísticas etc.; promover fóruns
de debates, entrevistas com autores etc., visando a dar/evidenciar corpo e
voz aos produtores e leitores de literatura; desvincular o ato de leitura de
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práticas exclusivamente ou prioritariamente escolares; considerar a diversidade de textos pertencentes a gêneros e épocas diferentes; comparar a
leitura literária no espaço cibernético à leitura do texto impresso (e outros
suportes e materialidades); valorizar as histórias de leitura dos alunos.
No entanto, tais sugestões de prática só merecerão real importância se
as concepções docentes forem reavaliadas – o que supõe a problematização
e a transformação das condições de trabalho nas instituições formais de
educação, com tempo para estudo, pesquisa e formação, e com condições
de vida, para os professores, que suponham a possibilidade de disporem
de tempo para a leitura e a experiência literária. Não se pode pensar em
transformar concepções e práticas de educação literária sem transformar
não apenas o espaço das escolas, mas também o tempo das escolas: e não
apenas os espaços de formação (inicial e continuada) de professores, como
também o tempo dessa formação (LEAHY-DIOS, 2000).
Questões não tão novas para problemas muito antigos
Precisamos passar de uma “educação pela literatura” (em que o texto
literário é mero pretexto) para uma “educação para a literatura” (LAJOLO,
1993, 2001), na qual a história escolar da literatura seja secundária em
relação ao texto literário e sua multiplicidade dentro das esferas cultural,
histórica, ideológica, política, simbólica e social. Nesse sentido, devem ser
levados em conta alguns critérios para a seleção de obras e textos para
leitura literária na escola.
No que diz respeito a quaisquer textos, é importante considerar se o
vocabulário e a sintaxe são acessíveis ao público-leitor; qual é a predominância tipológica e genológica; se há cacoetes formalizantes (que devem
ser evitados, ou abordados de modo crítico); como se relacionam texto,
ilustração e os elementos paratextuais/protocolares; se a linguagem tende
à apreensão mais direta da realidade ou busca um agenciamento metafórico do mundo; quais são os modos pelos quais o texto ou a obra se insere
na história da literatura brasileira e que contribuições traz; se o texto é
moralizador, preconceituoso, defensor da doxa – e esse tópico é deveras
significativo, posto que a literatura escolarizada, ainda hoje, encontra-se
recheada de textos “educativos”, mais chegados a um manual de boas
maneiras do que ao exercício pleno do literário. Importa, muito, o “horizonte de expectativas” do leitor para discernir as camadas ideológicas que
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Literatura na educação básica: propostas, concepções, práticas
todo texto-discurso carrega. É importante pensar, também, quanto à faixa
etária, se o texto está adequado ao seu propósito.
No que diz respeito, particularmente, aos textos narrativos e
dramáticos, precisamos nos perguntar, por exemplo, se a história é contada
em ordem linear, de modo fragmentário, em flashback ou flashforward.
Sabe-se que, de acordo com a faixa etária a que se dirige o texto, a
linearidade é fundamental. Por outro lado, um “leitor ruminante” fica
entediado com uma história que não lhe exija intelectualmente – mas o
leitor tem que estar preparado para ser exigido. Precisamos, também,
levar em conta se os personagens são caracterizados como tipos marcados
(previsíveis) ou são multifacetados (imprevisíveis) – sabemos que, em
princípio, personagens da segunda espécie revelam-se mais ricos, por
apresentarem um grau elevado de polissemia e indecidibilidade. E ainda:
o espaço é natural ou social? Funcional ou simplesmente decorativo?
Localizado numa determinada região ou não indicado? Pode gerar
constrangimentos? E, se sim, há possibilidade de uma abordagem/
mediação interessante, instigante, respeitosa? Pode favorecer o auto
e mútuo reconhecimento? Pode fomentar a compreensão crítica do
espaço do leitor e de seus semelhantes? Pode estimular a (in)tolerância
com o estranho, o estrangeiro, o diferente? A condução narrativa é em
1ª pessoa, 3ª pessoa ou misto? Quais as implicações que surgem quando
o ponto de vista é do personagem criança ou adolescente ou jovem ou
maduro ou idoso? E quando é do personagem do gênero feminino ou
masculino ou indefinido? Sempre que possível, o professor deve tentar
alargar o conhecimento de mundo de seus alunos, por meio das relações
intersemióticas e transdisciplinares, que permitam que eles vivenciem e
experimentem outras formas de ser e estar no mundo, outras formas de
existir.
Com relação aos exercícios, atividades ou provas atinentes ao ensinoaprendizagem de literatura, precisamos nos lembrar sempre de que
exercício, atividade ou prova é uma oportunidade de aprendizado: para
o estudante e para o professor. Deve, pois, sempre trazer informações
novas (do professor para o estudante e do estudante para o professor – e
às vezes do estudante para o estudante), que se relacionem a informações
já “dominadas”, e deve possibilitar novas articulações, novos progressos.
De igual modo, exercício, atividade ou prova são gêneros discursivos e
estão, portanto, ancorados socio-histórico-culturalmente: ou seja, uma vez
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identificada qual é a pretensão, como gênero, do(a) exercício, atividade ou
prova em questão (o quê?), vêm outras quatro perguntas: por quê?, como?,
quando?, para quê?.
Temos que, no âmbito da literatura, ter em mente que a predominância
de questões totalmente abertas ou subjetivas são indesejáveis (p. ex., “O
que você achou do final da história?”). Há um conteúdo formal que precisa
ser dominado / apreendido e esse conteúdo tem que estar claro para o
professor e para o estudante – e isso não tem nada a ver com ser autoritário
ou limitador em relação à criatividade dos estudantes ou à natureza do
texto literário. No trabalho com crianças, é importante, sim, fazer perguntas cuja resposta esteja na “superfície” textual; mas, à medida que o
estudante avança na escolarização, essas perguntas vão progressivamente
desaparecendo dos exercícios e provas, dando lugar a questões que exijam
um papel ativo do leitor. Não faz sentido, por exemplo, uma questão no
ensino médio que peça que o estudante identifique o autor, o período, a
métrica do poema ou coisa que o valha – a menos que articulada tal informação a outras que maximizem a potência textual.
É preciso lembrar, também, que os textos literários não podem ser
meros pretextos para aprendizagem gramatical ou metalinguística, porque
não se esgotam na superfície textual. Por outro lado, não se pode desprezar
a dimensão formal da língua em prol do “conteúdo”, supondo que forma
e conteúdo possam ser pensados desarticuladamente. A espessura sóciohistórico-cultural não apenas atravessa como constitui a matéria estética
de qualquer texto literário. É necessário, sempre que possível, “atualizar”
o texto literário, entendendo que não há compreensão original ou sentido
único a ser atingido. Todo texto pede para ser reinventado, levando-se
em conta sucessivos e imbricados regimes de historicidade, pelos quais as
sociedades e culturas se pensam e se reconhecem.
Especialmente em provas e atividades avaliativas, sugere-se que
haja uma mescla de textos de baixa, média e alta complexidade formal/
estilística/temática e também de questões diretas e objetivas a questões
que exijam respostas de maior complexidade, com desenvolvimento mais
alentado (na tentativa de recuperar tanto o sentido de lentidão, quanto
de largueza, amplitude). Isso porque não seria bom desconsiderar que toda
turma é heterogênea, e que os pressupostos para qualquer questão têm
que ser muito bem avaliados, pois o que é banal para um professor pode
não ser para um aluno (e vice-versa). As questões subjetivas ou discursivas
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Literatura na educação básica: propostas, concepções, práticas
devem ser contextualizadas num horizonte de expectativa e devem possuir
uma chave de resposta clara, mas suficientemente ampla para contemplar
distintas perspectivas em relação ao fato literário.
Por fim, a última etapa da sistematização das concepções e práticas docentes vigentes diz respeito à seleção de material de apoio, como é o caso
dos livros didáticos. Muitas vezes, em meio a diversas opções, o professor
não sabe o que escolher. É nesse sentido que propomos as reflexões a seguir.
E o livro didático de literatura, onde fica?
Nossa primeira hipótese com relação aos livros didáticos é que
apresentem retoricamente uma desmistificação, mas, ao mesmo
tempo, e com ainda mais incisividade, uma decantação do literário e do
poético, como ligados à intuição, à individualidade e à subjetividade, em
desarticulação com o campo da vida: portanto, do mundo social, histórico,
cultural. Contribuiria para isso, dentre outras coisas, a apresentação
didático-conceitual da noção de autor, desentranhada de uma reflexão
ampla a partir das próprias obras literárias em suas correlações sóciohistórico-culturais; e a leitura imanentista da literatura – o que atinge
não só a educação estético-literária dos estudantes (e dos professores),
como também a formação crítico-ideológico-política dos mesmos. A arte,
assim, despedir-se-ia de sua possibilidade mais instigante – e a seleção de
textos veiculada pelo livro didático de ensino médio não passaria de uma
colcha de retalhos mal cerzida, pálida cópia do discurso potente que se
insubordina contra a categorização e o enquadramento. Essa apresentação,
necessariamente interessada, conduziria a um enquadramento ou
reducionismo dos autores e de suas obras e esvaziaria a produção de textos
e de leituras de sua dimensão de atividade: na plenitude de sua correlação
temporal, humana.
Não desprezamos, com isso, as coerções às quais a confecção de qualquer obra didática está submetida, pois entendemos que há necessidade de
uma apresentação fragmentária e parcial de todo o conteúdo eleito (seja
pelo procedimento editorial, seja pela legislação educacional), especialmente o literário – seria inviável, por exemplo, a reprodução integral dos
textos literários que se espera que os estudantes leiam ao longo dos anos,
no curso da educação básica. No entanto, o fato de os livros didáticos de
língua portuguesa e literatura raramente divergirem entre si, repetindo ad
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nauseam fragmentos textuais coagidos por leituras as mais estereotipadas,
na proposição inócua de exercícios que desprezam o caráter corrosivo da
literatura, parece desconsiderar o ensinamento mais elementar de Bakhtin
e seu Círculo, bem como seu desdobramento pela Estética da Recepção: a
saber, a recepção de um texto nunca poderá ser entendida como um ato
passivo e só se completa com o ato de leitura.
Como já afirmamos em outros espaços-tempos, não queremos pressupor
a demonização do livro didático, pois entendemos que, como apontou Circe
Bittencourt (2008), o manual escolar pode ser um espaço de rasura: não
se pode prever ou controlar a apropriação que dele se faz. Nesse sentido,
ainda que com as lacunas todas já fartamente apontadas pela produção
acadêmica na área, o livro didático – e, especialmente, no nosso caso, o de
língua portuguesa e literatura – pode ser apropriado ativamente, estimulando a autonomia do leitor e a consciência crítica de que toda leitura é uma
negociação entre sua subjetividade e as coletividades em que toma parte.
No entanto, o leitor do livro didático, como leitor em formação, vê-se,
em geral, constrangido pelo discurso autoritário do especialista na área – o
autor do livro didático, que seleciona, recorta e interpreta o “paideuma”
literário nacional –, legitimado, por sua vez, seja pelo selo editorial, seja
pela escolha do professor em adotar tal ou qual manual. Se sua compreensão ou percepção da obra literária em questão diverge, só pode ser ele,
leitor em formação, quem está inadequadamente posto, quem não detém
ou dispõe de todas as informações que deveria deter ou de que deveria
dispor. Toda a estrutura material ou paratextual do livro (em geral, não
consumível), bem como o movimento de filtragem de conteúdo (que restringe a proliferação de sentidos, selecionando a interpretação cristalizada
pertinente) subsumem a dialética entre forma e abertura e entre obra e
intérprete, como entendida por Umberto Eco (1968).
Assim, ao considerar a viabilidade ou não da adoção de certa obra
didática/paradidática, o professor poderia levar em consideração se: a)
é possível identificar a(s) concepção(ões) de sujeito/linguagem-língua/
texto que rege(m) a obra?; b) as concepções da obra são condizentes com
as escolhas do professor e da instituição?; c) o material é acessível?; d) o
material é, simultaneamente, coeso e heterogêneo?; e) o material e sua
apresentação privilegiam a formação de um leitor (professor e estudante)
ativo e sócio-histórico-culturalmente responsivo/responsável?; f) o material
tem qualidade editorial (papel, impressão, ilustrações, suporte à pesquisa
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Literatura na educação básica: propostas, concepções, práticas
autônoma, suporte ao professor etc.)?; g) o material contempla o conteúdo
proposto para a série/ciclo?; h) o material poderá ser utilizado por alguns
anos seguidos sem cair na desatualização?; i) os textos propostos são fragmentos coerentes e/ou textos integrais?; j) os exercícios propostos são diversificados, contextualizados, transdisciplinares e apresentam graus distintos
de dificuldade?; k) o material integra as distintas dimensões dos textos?
Considerações finais
Havendo, ao longo do texto, retomado e reelaborado reflexões apresentadas em Dalvi (2011, 2012, 2013), esperamos ter contribuído para a
sistematização de concepções e práticas docentes consoantes à educação
literária na educação infantil e, particularmente, no ensino fundamental
e médio, e, mais do que isso, esperamos haver conseguido propor novos
parâmetros que se dão a ver na construção de novos pilares teóricos, de
critérios para a seleção de textos e obras, de orientações gerais para a
prática de exercícios, atividades e avaliações e, por fim, de seleção de
livros didáticos.
Uma última coisa que pensamos ser importante reforçar tange à necessidade de que o professor de língua e literatura eleja como opção de
trabalho uma postura pedagógica responsável, que privilegie o diálogo
intercultural e supere preconceitos e estereótipos – e aí se inclui, por exemplo, um ensino de literatura que prime pela diversidade e pela inclusão de
todos os grupos étnicos e sociais em seu bojo (AMÂNCIO; GOMES; JORGE,
2008). As propostas que apresentamos tentam dar conta de paramentar o
professor da educação básica a respeito, no que concerne a concepções
e práticas.
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