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Guerra do Contestado – Wikipédia, a enciclopédia livre
Guerra do Contestado
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população
cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado
entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e
madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa
Catarina.1
Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de
regularização da posse de terras e da insatisfação da população
hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era
pífia, o embate foi agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso
pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de
que se tratava de uma guerra santa.
A região fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu
o nome de Contestado devido ao fato de que os agricultores contestaram
a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à Southern Brazil
Lumber & Colonization Company. Como foi uma região de muitos
conflitos, ficou conhecida como Contestado, por ser uma região de
disputas de limites entre os dois estados brasileiros.
Guerra do Contestado
Gue rra civil
Data
22 de outubro de 1912 - Agosto de 1916
Local
Região do Contestado, entre Paraná e Santa
Catarina sul do Brasil
Resultado Acordo de limites entre os governos de Paraná e
Santa Catarina
Combatentes
Rebeldes
Brasil
Comandantes
José M aria de Santo
Agostinho
João Gualberto Gomes
de Sá Filho
M aria Rosa
Índice
1 Antecedentes
2 Preliminares: o poder dos monges
3 Os confrontos se iniciam
4 Primeiras mortes
5 M ais confrontos, ataques e contra-ataques
6 O controle começa a mudar de lado
7 M udança de estratégia
8 Estatísticas do confronto
9 Consequências imediatas
10 M ais dados importantes
11 Representações na cultura
11.1 Cinema
12 Ver também
13 Referências
14 Bibliografia
15 Ligações externas
Carlos Frederico de
M esquita
Adeodato
Tertuliano Potiguara
M arechal Hermes da
Fonseca
Forças
10.000 soldados do Exército
Encantado de São Sebastião
7.000 soldados do Exército
Brasileiro 1.000 soldados do
regimento de segurança do
Paraná PM PR e 1.000 civis
contratados
Baixas
5.000-8.000 entre mortos,
feridos e desaparecidos
800-1.000 entre mortos,
feridos ou desertores
Antecedentes
Antes dos acontecimentos que culminaram na guerra, houve:1
Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites
Decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal pró-Santa Catarina em 1904, 1909 e 1910
Revolta do ex-maragato Demétrio Ramos na zona do Timbó, em 1905 e 1906
Construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, de 1908 a 1910
Criação dos municípios de Canoinhas, Itaiópolis e Três Barras em Santa Catarina, e de Timbó no Paraná.
Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization Company em Calmon (1908) e em Três Barras (1912)
Construção do ramal de São Francisco, a partir de 1911
1911: Revolta do ex-maragato Aleixo Gonçalves de Lima em Canoinhas
1910-1912: Questão de terras da fazenda Irani e da Cia. Frigorífica e Pastoril
Batalha do Irani em 22 de outubro de 1912
1911: Escrituração de glebas de terras devolutas do Contestado para a EFSPRG
Disputas pela exploração dos ervais - concessões de estados e municípios
Vendas suspeitas de terras no Contestado, do Estado para especuladores – bendegós
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Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios
Espírito guerreiro do caboclo pardo (Revolução Farroupilha e Revolução Federalista)
Religiosidade: messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla
Ideologia nacionalista – civilismo na República – construção do exército
Preliminares: o poder dos monges
Para entender-se bem a guerra sertaneja , é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor da figura de três monges da região. O
primeiro monge que galgou fama foi João M aria, um homem de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a
1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o
messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria
posteriormente. João M aria morreu em 1870, em Sorocaba, estado de São Paulo.
O segundo monge adotou o codinome (alcunha) de João M aria,2 mas seu verdadeiro nome era Atanás M arcaf, provavelmente de origem síria.
Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica. Sobre sua situação
política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem"1 . Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na
região entre os rios Iguaçu e Uruguai. É de destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto de estes esperarem a sua volta
através da ressurreição, após seu desaparecimento em 1908.
As entrelinhas do que estava por vir estavam se amarrando entre si. A espera dos fiéis acabou em 1912, quando apareceu publicamente a
figura do terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José M aria de
Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado
desertor condenado por estupro, de nome M iguel Lucena de Boaventura.
Como ninguém conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não lhe foi difícil granjear em pouco tempo a
admiração e a confiança do povo3 . Um dos fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de ter ressuscitado uma jovem (provavelmente
apenas vítima de catalepsia patológica. Supostamente também recobrou a saúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de
uma doença incurável. Com este episódio, o monge ganha ainda mais fama e credibilidade ao rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro
que o coronel, agradecido, lhe queria oferecer.
A partir daí, José M aria passa a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados.
M etódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em seus cadernos as
propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos
capatazes o que chamou de farmácia do povo, onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas
tardias da noite, a quem quer que o visitasse.
Os confrontos se iniciam
Após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São PauloRio Grande, a companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo
15 km de cada lado da ferrovia,4 iniciou a desapropriação de 6.696 km² de terras
(equivalentes a 276.694 alqueires)4 ocupadas já há muito tempo por posseiros que
viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmar o
contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como devoluta, ou seja,
como se ninguém ocupasse aquelas terras.5 "A área total assim obtida deveria ser
escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de uma
zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado"..6 Isso, e até mesmo a
própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a
chamada Lei de Terras de 1850.6 Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os
direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso
Camargo, então vice-presidente do estado.7
Esses camponeses que viram o direito às terras que ocupavam ser usurpado,7 e os
Araucária, uma das riquezas exploradas nas margens
trabalhadores que foram demitidos pela companhia (1910), decidiram então ouvir a
da ferrovia do Contestado, ainda existente na
voz do monge José M aria, sob o comando do qual organizaram uma comunidade.
Floresta Nacional de Caçador.
Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras - que foram
declaradas "terras devolutas" pelo governo brasileiro no contrato firmado com a
ferrovia5 - cada vez mais passou-se a contestar a legalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da
concessão, estavam perdendo terras para o grupo de Farquhar, bem como para os coronéis manda-chuvas da região.3
A união destas pessoas em torno de um ideal, levou à organização do grupo armado, com funções distribuídas entre si. O messianismo
adquiria corpo. A vida era comunitária, com locais de culto e procissões, denominados redutos. Tudo pertencia a todos. O comércio
convencional foi abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo as pregações do líder, o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraíso
estava próximo. Ninguém deveria ter medo de morrer porque ressuscitaria após o combate final. É de destacar a importância atribuída às
mulheres nesta sociedade. A virgindade era particularmente valorizada.1
O "santo monge" José M aria rebelou-se, então, contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de governo independente à
comunidade que comandava. Para ele, a república era a "lei do diabo". Nomeou "imperador do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a
comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa
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alusão à cavalaria de Carlos M agno na Idade M édia.
Os camponeses uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo. Cada povoado seria como uma "monarquia celeste",
com ordem própria, à semelhança do que Antônio Conselheiro fizera em Canudos.
Convidado a participar da festa do Senhor do Bom Jesus, na localidade de Taquaruçu (município de Curitibanos), o monge foi acompanhado
de cerca de 300 fiéis, e lá permaneceu por várias semanas, atendendo aos doentes e prescrevendo remédios.
Desconfiado com o que acontecia, e com medo de perder o mando da situação local em
Curitibanos, o coronel Francisco de Albuquerque, rival do coronel Almeida, enviou um
telegrama para a capital do estado pedindo auxílio contra "rebeldes que proclamaram a
monarquia em Taquaruçu"'.
Primeiras mortes
O governo
brasileiro, então
comandado pelo
marechal Hermes
da Fonseca,
responsável pela
Bandeira da "Monarquia Celestial". Branca com
"Política das
uma cruz verde, evoca os estandartes das antigas
Salvações",
ordens monástico militares como as dos
caracterizada por
templários.
intervenções
político-militares
que em diversos Estados do país pretendiam eliminar seus adversários
políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiu
reprimi-lo, enviando tropas para "acalmar" os ânimos.
Antevendo o que estava por vir, José M aria parte imediatamente para a
localidade de Irani com todo o seu carente séquito. A localidade nesta
época pertencia a Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná, e
que tinha com Santa Catarina questões jurídicas não resolvidas por
conta de divisas territoriais, e acabou vendo nessa grande movimentação
uma estratégia de ocupação daquelas terras.
Placa no Museu do Contestado, em Caçador.
A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa de suas terras, várias tropas do Regimento de Segurança do Paraná são enviadas
para o local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina. Estamos em outubro de 1912.3
M as as coisas ocorrem bem diferente do planejado. Tem início um confronto sangrento entre tropas do governo e fiéis do Contestado no
lugar chamado "Banhado Grande". Ao término da luta, estão sem vida dezenas de pessoas, de ambos os lados. M orreram no confronto o
coronel João Gualberto, que comandava as tropas, e também o monge José M aria, mas os partidários do contestado tinham conseguido a sua
primeira vitória.
José M aria foi enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitar a sua ressurreição, já que os caboclos acreditavam que este
ressuscitaria acompanhado de um "exército encantado", vulgarmente chamado de "Exército de São Sebastião", que os ajudaria a fortalecer a
"monarquia celeste" e a derrubar a república, que cada vez mais acreditava-se ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos
coronéis.
Mais confrontos, ataques e contra-ataques
Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado a Taquaruçu um efetivo de 700
soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito na empreitada, incendeiam completamente o acampamento
dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que os caboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil
acesso e onde já viviam cerca de 20.000 pessoas.
Os fiéis que mudaram para Caraguatá, interior do atual município de Lebon Régis, eram chefiadas por M aria Rosa, uma jovem com quinze
anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco com arreios
forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Após a morte de José M aria, M aria Rosa afirmava receber,
espiritualmente, ordens do mesmo, o que a fez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, então cerca de 6.000 homens.
De março a maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de março de 1914, embaladas pela vitória de
Taquaruçu, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí o desastre é total. Fogem em pânico
perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o
reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também atinge em cheio ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
Como cada vez mais pessoas engajavam-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para o arrebanhamento de
animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos de Bom Sossego e São
Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2.000 pessoas.
Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os fanáticos passaram ao contra-ataque. Em 2 de 3/7
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Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os fanáticos passaram ao contra-ataque. Em 2 de
setembro, lançaram um documento que intitulou-se "M anifesto M onarquista", deflagrando-se, a partir de então, o que chamavam de a guerra
santa, caracterizada por saques e invasões de propriedades de coronéis e por um discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo
da República.
Invadiam as fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as necessidades do reduto. Além disso, amparados
nas vitórias que tiveram, atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde os alvos eram invariavelmente os cartórios, locais
onde se encontravam os registros das terras que antes a eles pertenciam. Não bastasse isso, num outro ataque na localidade de Calmon,
destruíram completamente a segunda serraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora para explorar a madeira da faixa de terra de 30
quilômetros (15 quilômetros de cada lado) às margens da ferrovia.
O controle começa a mudar de lado
Com a ordem social cada vez mais caótica na região, o governo central designou o general
Carlos Frederico de M esquita, veterano de Canudos, para comandar uma ação contra os
rebeldes. Inicialmente tentou, sem êxito, um acordo para dispensar os revoltosos; a seguir
atacou duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. O reduto de Caraguatá, que
antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas por revoltosos, tem agora de ser
abandonada às pressas pelos mesmos revoltosos devido a uma grande epidemia de tifo.
Considerando, equivocadamente, dispersos os revoltosos, o general M esquita dá a luta por
encerrada.3
Placa no local onde, em janeiro de 1914,
o Exército Brasileiro construiu o Campo
da Aviação de Rio Caçador.
M as a calmaria terminaria logo. Os revoltosos rapidamente se reagrupam e se organizam na
localidade de Santa M aria, interior norte do município de Lebon Régis, intensificando os
ataques: tomam e incendeiam a estação de Calmon; dizimam a vila de São João (M atos
Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória, cuja população abandona a
cidade em desespero.
Os boatos chegam até Ponta Grossa e dizem que os revoltosos e seu exército pretendem
marchar até o Rio de Janeiro para depor o presidente. Os rebeldes já dominam, nesta altura
dos acontecimentos, cerca de 250 km² da região do Contestado.
O governo federal jogou uma outra, e ainda mais dura, cartada: nomeou o general Fernando Setembrino de Carvalho para o comando das
operações contra os contestadores. Este chegou a Curitiba em setembro de 1914, chefiando cerca de 7000 homens, com ordens de sufocar a
rebelião e pacificar a região a qualquer custo. Sua primeira providência foi restabelecer as ligações ferroviárias e guarnecê-las para evitar
novos ataques.
Nas proximidades da ferrovia, o exército construiu o Campo da Aviação de Rio Caçador, onde hoje existe o município homônimo. Como
apoio de operações de guerra, pela primeira vez na história do Brasil foram usados dois aviões para fins de reconhecimento. Em um acidente
durante as operações, morreu o capitão Ricardo Kirk, primeiro aviador militar do Brasil.8
Astutamente, Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de terras para quem se entregasse pacificamente.
Garantia também, por outro lado, um tratamento hostil e severo para quem resolvesse continuar em luta contra o governo.
Mudança de estratégia
Com o passar do tempo, general Fernando Setembrino de Carvalho adotou uma nova postura
de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos esperavam e para o que
estavam se preparando, optando por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos os
lados, evitando que entrassem ou saíssem da região onde estavam. Para isto, o general dividiu
seu efetivo em quatro alas com nomes dos quatro pontos cardeais e, gradativamente, foi
avançando e destruindo qualquer resistência que encontrasse pelo caminho.
Com esta nova estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos
revoltosos. Isto teve como consequência imediata a rendição de dezenas de caboclos.
Contudo, a maioria dos que se entregavam eram velhos, mulheres e crianças - talvez uma
contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para
trás e que ainda defenderiam a causa.
Marcos históricos da Guerra do
Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de Deodato M anuel
Contestado. (Museu do Contestado)
Ramos, vulgo "Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder dos
contestadores. Adeodato transferiu o núcleo dos revoltosos para o vale de Santa M aria, que
contava ainda com cerca de 50.000 homens. Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passou a revelar-se cada vez mais
autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam, aplicava sem dó a pena de morte.
Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de fevereiro de 1915 a ala Sul, comandada pelo
tenente-coronel Estillac, chegou a Santa M aria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também
armados, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta inicial foi intensa e, à noite, o tenente-coronel ordenou a retirada,
afinal, já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes.
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Em 28 de março de 1915, o capitão Tertuliano Potyguara parte da vila de
Reinchardt com 1.085 homens em direção a Santa M aria, perdendo só em
emboscadas durante o trajeto, 24 homens. Depois de vários confrontos,
num deles M aria Rosa, a líder espiritual dos rebeldes, morre às margens do
rio Caçador. Em 3 de abril, as tropas de Estillac e Potyguara avançam
juntas e ordenadas para o assalto final a Santa M aria, onde restavam
apenas alguns combatentes já quase mortos pela fome.
Em 5 de abril, depois do grande assalto a Santa M aria, o general Estillac
registra que "tudo foi destruído, subindo o número de habitações
destruídas a 5.000 (…) as mulheres que se bateram como homens foram
mortas em combate (…) o número de jagunços mortos eleva-se a 600. Os
redutos de Caçador e de Santa M aria estão extintos. Não posso garantir
que todos os bandidos que infestam o Contestado tenham desaparecido,
mas a missão confiada ao exercito está cumprida". Os rebeldes
sobreviventes se dispersaram em muitas cidades.
Museu Histórico e Antropológico da Região do Contestado,
em Caçador. O edifício é uma reconstituição da estação
ferroviária de Rio Caçador.
Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos revoltosos foi devastado
pelas tropas de Setembrino. Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu
encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como
foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. M as a
fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que
Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, a Guerra do Contestado.
Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso, Adeodato foi morto pelo próprio
diretor da cadeia numa tentativa de fuga.
Estatísticas do confronto
Área conflagrada: 20.000 km²
População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes
M unicípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Três Barras, União da Vitória e Palmas
M unicípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos, Canoinhas e Porto União
Consequências imediatas
20 de outubro de 1916: Assinatura do Acordo de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro;
7 de novembro de 1916: M anifestações nos municípios do Contestado-Paranaense contra o acordo;
De maio a agosto de 1917: Sublevação popular no Contestado-Paranaense, pró Estado das M issões;
M aio e junho de 1917: Ascensão e assassinato do monge Jesus Nazareno;
3 de Agosto de 1917: Homologação final do Acordo de Limites;
Setembro de 1917: Instalação dos municípios de M afra, Joaçaba (então Cruzeiro), Chapecó e de Porto União;
1918: Reinício da colonização no Centro-Oeste Catarinense, por empresas particulares;
Janeiro e maio de 1920: Revolta política em Erval e Cruzeiro;
M arço de 1921: Revolta de caboclos contra medição de terras, entre Catanduvas e Capinzal.
Mais dados importantes
Início da Guerra: 22 de outubro de 1912
Tempo da Guerra: 46 meses (out/1912 a ago/1916)
Auge da Guerra: M arço-abril de 1915, em Santa M aria, na Serra do Espigão
Final da Guerra: Agosto de 1916, com a captura de Adeodato, o último líder do Contestado
Combatentes militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança
do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis contratados.
Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra.
Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos e desertores
Baixas na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e desaparecidos
Custo da Guerra para a União: cerca de 3.000:000$000, mais soldados militares
A Guerra do Contestado durou mais tempo que a Guerra de Canudos, outro conflito semelhante em terras do Brasil.9 10
Em quatro anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.
Representações na cultura
BORELLI, Romario José. "O CONTESTADO" . Teatro. 1972. Orion Editora, PR, 2006. Literatura
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VASCONCELLOS, Aulo Sanford. Chica Pelega. Florianópolis: Insular, 2002.
VASCONCELLOS, Aulo Sanford. O Dragão Vermelho do Contestado. Florianópolis: Insular, 2000.
Cinema
A Guerra dos Pelados, de Silvio Back. 1970
Olhar Contestado: desvendando códigos de um conflito, de Fernando Severo, Fabianne Balvedi Luciane Stocco e Jean Gabriell. 2012.
Entrevistando: Nilson Cesar Fraga [1] (http://www.nilsonfraga.com.br), Rafael Ginane, Paulo M oretti e Dorothy Jansson.
Ver também
Percival Farquhar: - A Ferrovia do Contestado
Referências
abcd
1. ↑
Guerra do Contestado (http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/guerra-do-contestado.jhtm) (em português). UOL Educação. Página visitada em 10 de julho de 2012.
2. ↑ AURAS, Marli. Guerra do Contestado: a organização da Irmandade Cabocla. Florianópolis: UFSC, Assembleia Legislativa; São Paulo:
Cortez Editora e Livraria, 1984.
abcd
3. ↑
Miriam Ilza Santana (09/10/2007). Guerra do Contestado (http://www.infoescola.com/historia/guerra-do-contestado/) (em
português). InfoEscola. Página visitada em 10 de julho de 2012.
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4. ↑
A Ferrovia do Contestado. (http://www.histedbr.fae.unicamp.br/img1_16.pdf)
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5. ↑
ANGELO, Vitor Amorim de. Guerra do Contestado: Conflito alcançou enormes proporções. UOL Educação, Especial para a
Página 3 Pedagogia & Comunicação Reproducão. (http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/guerra-do-contestado.jhtm)
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6. ↑
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Civilização Brasileira, 1966.
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7. ↑
T HOMÉ, N. PR e SC Disputam T erritório. Curitiba: Gazeta do Povo, Suplemento, 2003.
8. ↑ Tenente Kirk (http://www.fab.mil.br/portal/personalidades/kirk/index.htm). Portal da Força Aérea Brasileira. Página visitada em 03 de
dezembro de 2011.
9. ↑ Benjamin A.Junior e Isabel M.M.Alexandre "Canudos" Ed. SENAC 1997 ISBN 8573590181 pág.58, 2º§
10. ↑ Leslie Bethell (organizador) "História da América Latina; Vol. V, 1870-1930" EDUSP 2008 ISBN 9788531406515 Capítulo 16
"Brasil: Estrutura Social e Política da Primeira República, 1889-1930", por Boris Fausto
Bibliografia
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Ligações externas
O Contestado (http://www.alca-bloco.com.br/ocontestado/historia.htm) (em português) Galeria de fotos e bibliografia
A Guerra do Contestado (http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com/)
Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil". Faculdade de Educação - UNICAM P. Guerra do
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FRAGA, Nilson Cesar. CONTESTADO – 100 ANOS DA INSURREIÇÃO XUCRA - PROTEGIDOS DA PRINCESA. [3]
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THOM E, Nilson. A Formação do homem do Contestado e a educação escolar : República Velha
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