ISSN : 1676-661X
Regionais
Expediente
Célio Lima da Silva – AC
Sisto Magro – AP
Conflitos no Campo Brasil 2020
Maria Agostinha de Souza/Tiago Maiká Muller Schwade – AM
É uma responsabilidade do Centro de Documentação Dom
Lorrany Lourenço Neves/Evandro Rodrigues dos Anjos/Antônia Laudeci Oliveira
Tomás Balduino – CPT
Moraes – AR/TO
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Comissão Pastoral da Terra é um organismo ligado à Co-
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missão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, da
Roberto Carlos de Oliveira – MS
CNBB.
Letícia Aparecida Rocha/Gilsilene Maria Mendes – MG
Marluce Melo/Renata Costa Cézar de Albuquerque/Maria Aparecida Rodrigues
A CPT é membro da Pax Christi Internacional
– Nordeste (AL, PB, PE e RN)
Andréia Aparecida Silvério dos Santos/José Batista Gonçalves Afonso – PA
Goiânia, maio de 2021
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Altamiran Lopes Ribeiro/Teresinha de Jesus Soares de Menezes Pereira – PI
José Iborra Plans – RO
Luiz Antônio Pasinato – RS
José Valmeci de Souza – SC
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Assessoria
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Geógrafo – UFF
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Sociólogo – UFG
Assessoria Administrativa
Diretoria da CPT
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Dom André Marie Gerard Camilla de Witte - Presidente
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Revisão
Centro de Documentação Dom Tomás Balduino e Setor de Comunicação da Se-
Coordenação Executiva Nacional
cretaria Nacional
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Diagramação: Carmelo Fioraso
Seleção de fotos: Cristiane Passos Melo e Silva
Conselho Editorial
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CCFD Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement
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D&P Development and Peace
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Misereor
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In Memoriam
Dom André De Witte (31/12/1944 - 25/04/2021)
Partiu para o outro lado do caminho, um homem simples e amigo dos pobres, que escolheu
morar no Brasil.
Filho de camponeses, nasceu na Bélgica, no ano de 1944. Chegou ao Brasil em 1976 e se
engajou, desde o início, na vida das comunidades, com uma sensibilidade aguçada para
as questões sociais e os problemas do povo do campo. Foi referencial de diversas pastorais
sociais.
Inicialmente, bispo da CPT Nordeste 3 (Bahia/Sergipe), assumiu a CPT Nacional em 2015,
primeiro como vice e depois como presidente, onde ensinava, aprendia e nos iluminava.
Uma grande dádiva.
Seu carinho, atenção e voz profética continuarão sinais vivos de sua presença no meio de
nós, um verdadeiro pastor que acampou no meio do seu povo.
A ti, dom André, dedicamos esta publicação. Obrigado e continue rezando por nós.
Pedro Casaldáliga (16/02/1928 - 08/08/2020)
Pedro, depois de tanto viver, lutar se apaixonar, esperançar, você nos deixou... Quanta luz
em suas palavras e quantas batalhas travou... Você nos estimulou a derrubar cercas, a libertar cativos, a não ter medo nas denúncias contra o mal, a combater a miséria imposta e
o latifúndio. Pedro, sua palavra forte, nesse corpo franzino, sempre foi abertura para ideais
nossos e outros mundos. Indígenas, posseiros, sem-terra, quilombolas e tantas comunidades dividiram o pão e a vida contigo, em comunhão.
A ti, pai da nossa CPT, dedicamos esta publicação, que traz nas memórias, identidades e
lutas, o teu sonho também, o sonho de Deus, sonho de terra e corpos livres.
Vítimas da Covid-19
Neste momento difícil e cruel de pandemia e caos político-social, dedicamos esta publicação a todas as vítimas da Covid-19, que hoje são mais de 400 mil, mortes prematuras e
permitidas por omissão e negligência calculadas do governo federal. Tristeza e revolta nos
tomam ao constatar que a maioria dessas mortes poderia ter sido evitada e, por não sê-lo,
temos um genocídio.
A CPT se solidariza com todas as famílias das vítimas, impedidas de se despedir dos seus
entes queridos.
Dedicamos, também, esta publicação, aos/às agentes pastorais que foram contaminados
e nos deixaram. Somos eternamente grat@s pela vida doada, pela alegria partilhada, pela
coragem empenhada. Vida...vida...vida... E ressurreição.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
5
Sumário
Apresentação ..................................................................................................7
Metodologia ....................................................................................................11
Tabela 1 - Comparação dos Conflitos no Campo Brasil (2011 - 2020) ..............22
Conflitos no Campo
“Fala Parente!” “Fala Comadre!” “Fala Vizinho!” “Fala Irmão!” – Resistência
Camponesa, Indígena e Quilombola em tempos de pandemia da COVID-19 ....24
Patrícia Rocha Chaves
Tabela 2 - Conflitos no Campo (2020) .............................................................39
“Os carrascos avançam”: Múltiplas violências do patriarcado patronal
branco contra Mulheres em conflitos agrários e socioambientais ....................100
Tatiana Emilia Dias Gomes
Terra
Agravamento da violência no campo:Reflexões sobre a política de
regularização fundiária ...................................................................................112
Girolamo Domenico Treccani, José Heder Benatti, Aianny Naiara Gomes Monteiro
Tabela 3 - Violência Contra a Ocupação e a Posse (2020) ................................124
Fogo como arma contra povos e comunidades .................................................125
Diana Aguiar, Ginno Pérez, Valéria Pereira Santos
Tabela 4 - Conflitos por Terra (2020) ...............................................................138
Regularização fundiária e ambiental de mercado para um cerceamento
financeiro das terras e bens comuns no sul global ..........................................139
Larissa Ambrosano Packer
Violência contra os Povos Indígenas no Brasil: aspectos atuais de um
genocídio em trâmite.......................................................................................151
Luiz Eloy Terena
Água
A apropriação da água e a violência do setor mineral no contexto do
neoextrativismo brasileiro ...............................................................................158
Luiz Jardim Wanderley, Pedro Catanzaro da Rocha Leão, Tádzio Peters Coelho
Tabela 5 - Conflitos pela Água (2020) ..............................................................170
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Trabalho
Trabalho escravo pós-golpe: o declínio das políticas de enfrentamento ............172
Tiago Muniz Cavalcanti
Tabela 6 - Conflitos Trabalhistas (2020) ..........................................................183
Trabalho escravo e superexploração do trabalho no Brasil em tempos
de pandemia ...................................................................................................184
Cesar Sanson
Violência contra a pessoa
Tabela 7 - Violência Contra a Pessoa (2020) ....................................................194
A criminalização dos movimentos que lutam por terra, água e meio ambiente .195
Deborah Duprat
Tabela 8 - Assassinatos (2020) ........................................................................200
Conflitos agrários e massacres no campo na Nova República: Um balanço no
marco dos 35 anos dos relatórios da CPT ........................................................201
Alexandre Bernardino Costa, Claudio Lopes Maia, André Felipe Soares de Arruda,
Carla Benitez Martins, Diego Augusto Diehl, Euzamara de Carvalho,
Gladstone Leonel da Silva Junior, José Humberto de Góes Junior,
Maria José Andrade de Souza
Tabela 9 - Tentativas de Assassinato (2020) ....................................................211
Olhar pastoral sobre os conflitos ....................................................................212
Flávio Lazzarin
Tabela 10 - Ameaças de Morte (2020) ..............................................................216
Manifestações
As LGBTI+ do campo e a luta contra a lgbtifobia .............................................222
Alessandro Santos Mariano, Katia Iris Marro
Tabela 11 - Manifestações (2020) ....................................................................231
Notas Públicas
Notas ..............................................................................................................234
Siglas dos Movimentos Sociais,Organizações e Entidades (2020) ...................274
Fontes de Pesquisa ........................................................................................276
7
Apresentação
A apresentação do relatório Conflitos no
Campo Brasil 2019 alertava para o contexto
de um ano “peculiar”, cuja “têmpera” forjou-se em “brutal tenacidade”.
Tratava-se do assombro diante de uma
conjuntura que, para uma considerável e
importante parte do conjunto social, prefigurava o retrocesso, com evidente risco de
cassação de inúmeras conquistas sociais,
políticas, culturais e civilizatórias.
Com efeito, a chegada da extrema direita ao
poder, a partir da eleição do ex-capitão do
Exército Jair Bolsonaro para a Presidência
da República, um reacionário com tendência fascista, atordoou boa parte da sociedade, até então alimentada pela ilusão de uma
democracia em curso, mais do ponto de vista institucional, desde a Constituição Federal de 1988, chamada “cidadã”. Na verdade,
a democracia no Brasil tem sido sempre um
reiterado arranjo social sem solução da profunda contradição socioeconômica, que se
arrasta ao longo dos séculos e impede o País
de realizar-se plenamente como nação justa
e livre.
Não desconfiavam os perplexos escribas de
2019 que o ano de 2020 seria ainda mais
trágico, pois abrigaria a conjunção de Jair
Bolsonaro com a pandemia de SARS-CoV-2.
O novo coronavírus, causador da COVID-19,
se abateu sobre o Brasil em um dos momentos mais duros de sua história recente, com
o retorno da fome a milhões de lares e o fantasma do autoritarismo a invadir noites mal
dormidas e forjar pesadelos movidos à violência, tortura, miséria, medo... A alquimia
do binômio causa-consequência – nem Jair
Bolsonaro nem o SARS-CoV-2 foram obras
do acaso, senão devir de processos históricos – resultou na fórmula perfeita para a ca-
tástrofe, que se consumou.
Se no contexto da vida urbana, a COVID-19
representou em elevado grau a deterioração
da vida, com adoecimento, morte e miséria,
para as populações do campo, os desdobramentos se notam ainda mais severos, uma
vez que a pandemia foi instrumentalizada
pelos antípodas das comunidades camponesas e tradicionais para potencializar toda
a sorte de ataques contra terras e territórios. À virulência mortal da “peste”, somou-se a violência do capital, referendada pela
omissão e conivência do Estado.
O medo e a morte, sempre presentes na vida
das periferias e na luta dos povos do campo, agora se pulverizavam e se alastravam
a passos gigantes. Desde o início do ano
de 2020, passamos a constatar que a crise
mundial sanitária tinha, no Brasil, aspectos
surrealistas onde uma trágica pandemia era
alimentada por um nefasto projeto político,
e esse, por sua vez, se alimentava do caos
que a pandemia impunha sobre as populações.
A CPT, a cumprir sua tarefa histórica de penetrar a realidade pelas frestas que o establishment não consegue selar, documentou
e sistematizou 1.576 ocorrências de conflitos por terra em 2020, o maior número desde 1985, quando o relatório começou a ser
publicado, 25% superior a 2019 e 57,6% a
2018.
Parece ser o pior dos mundos possíveis, porém a pandemia cuidou de respingar tintas
ainda mais sinistras em um quadro já fúnebre. Ao lado desses registros, figuram outros 316, relativos à COVID-19, cujo impacto se mostrou especialmente destrutivo nas
comunidades tradicionais como indígenas e
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
quilombolas.
De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), até 15 de abril de
2021, 52.406 indígenas, de 163 diferentes
povos, haviam sido infectados pelo novo coronavírus, com 1.038 óbitos. Se no contexto
geral, as mortes provocadas pela COVID-19
foram intensificadas pelo governo Bolsonaro até se converterem em genocídio, o morticínio entre os povos originários adquiriu
um sentido muito mais amplo e lúgubre. É
desse modo que o povo Munduruku, enlutado e soçobrado pela perda de 11 lideranças
idosas, até meados de 2020, lamenta seus
“Encantados”:
A epidemia está sendo uma das formas
de destruição de nosso povo, a morte dos
nossos sábios, nossos velhos, nossos conhecedores. É como se uma biblioteca estivesse sendo queimada porque sem ela a
gente não tem como aprender, o que ensinar para os filhos. Todo mundo está sujeito à morte e doença, mas com a pandemia vem acontecendo tudo muito rápido e
não tem havido tempo de transmitir esse
conhecimento, essa orientação. Se perdermos um ancião, já é difícil, imagine perder
vários ao mesmo tempo. É muito dolorido,
nosso coração fica paralisado.
A pandemia também exponenciou a situação de abandono das populações quilombolas e revelou a completa ausência de políticas públicas destinadas a protegê-las diante
da grave crise sanitária. De acordo com a
Coordenação Nacional de Articulação das
Comunidades Negras Rurais Quilombolas
(Conaq), em 24 de novembro de 2020, havia
4.646 casos confirmados, com 169 óbitos.
Seguindo esses casos, até o período de 29
de abril de 2021, foram confirmados 5.329
casos, com o triste saldo de 270 óbitos, uma
letalidade de 5,06%, quase duas vezes maior
que o índice nacional, de 2,8%1. O Pará é
o Estado mais impactado com 79 mortes,
29,3% do total.
Para conter o avanço do vírus, muitas comunidades instalaram barreiras sanitárias
autônomas. Contudo, sem apoio do poder
público, a ação de invasores, como grileiros,
madeireiros, mineradoras e garimpeiros,
se robusteceu, a aproveitar a restrição de
mobilidade – apenas para as vítimas. Em
2020, foram contabilizados cerca de 20.000
garimpeiros dentro da T.I. Yanomami, em
Roraima. No Pará, a T.I. Apyterewa, do povo
Parakanã, virou notícia após grileiros e madeireiros sitiarem uma base de fiscalização
em seu interior a impedir agentes públicos
de deixarem o local. Homologado há anos, o
território tem 80% de sua área invadida por
cerca de 1.500 ocupantes ilegais. O virus,
portanto, não se mostrou obstáculo para
ataques contra as populações do campo.
Em artigo para este relatório, a prof. dra.
Patrícia Chaves, da Universidade Federal do
Amapá – Unifap –, revela que entre as categorias que mais provocaram conflitos nos
últimos dez anos estão fazendeiros, empresários, madeireiros e grileiros. Segundo ela,
as ações desses agentes recrudesceram durante o governo Bolsonaro, de tal modo que
os eventos protagonizados por grileiros, por
exemplo, aumentaram 48% no biênio 20192020, em comparação com 2011-2016. É
necessário fazer notar, contudo, que a categoria conflituosa cujo índice percentual
mais cresceu durante a gestão Bolsonaro,
foi o próprio governo federal, com exponenciais 591%.
Os registros da CPT confirmam a análise da
prof. Patrícia ao identificar, na esteira dos
ataques promovidos pelos referidos agentes, os principais tipos de violência por eles
cometidos em 2020: “invasão”, “grilagem” e
“desmatamento ilegal”. Foram vitimadas por
invasão 81.225 famílias, das quais 58.327
1
Dado disponível na página oficial do Ministério da Saúde – MS – m https://covid.saude.gov.br/. Acesso em
04/05/2021
9
são indígenas (72%); 19.489 sofreram grilagem (37% indígenas); e 25.559, desmatamento ilegal (60% indígenas).
Os conflitos pela água em 2020 também
foram demarcados pelos mesmos protagonistas históricos, as mineradoras internacionais, responsáveis por 39% das 350
ocorrências, que envolveram 56.292 famílias, cujas categorias mais afetadas foram
ribeirinhos (23% dos eventos), pescadores
(21%) e indígenas (16%).
O enredo do relatório da CPT 2020 segue um
roteiro historicamente dado: injustiça fundiária, prevalência dos interesses do capital,
violência, omissão/conivência do Estado e
resistência dos povos e comunidades. É um
ano, contudo, em que alguns atores tiveram
que se adaptar frente a uma condicionante
inesperada: a COVID-19. Nesse sentido, as
ações de resistência, como ocupações/retomadas e acampamentos – que já haviam
declinado em 2019, diante da postura belicosa do governo federal –, experimentaram
novo enfraquecimento, e somaram apenas
29 ocupações e três acampamentos.
Tal processo de adaptação contextual motivou as comunidades, organizações e movimentos sociais do campo a reinventar práticas – e práxis – para perseverar na luta.
Assim, colocaram a solidariedade na pauta do dia. Entre as 1.348 manifestações de
luta sistematizadas pela CPT em 2020, 965
(71,6%) foram “Ações de solidariedade”, cujo
objetivo principal foi a doação de alimentos
para famílias, do campo e da cidade, em
situação de vulnerabilidade agravada pela
COVID-19. A resistência não arrefeceu, talvez até tenha se fortalecido, fomentada pela
percepção de que a verdadeira libertação
das classes oprimidas depende de sua indissolúvel união. Praticamente abandonados pelo Estado, na maior crise sanitária em
100 anos no Brasil, os excluídos puderam
contar com outros excluídos. Eis a fórmula
histórica da “inclusão”.
Por outro lado, a violência contra homens e
mulheres do campo não se prende a qualquer roteiro novo e segue o seu ancestral
overacting macabro. Foram registrados: 18
assassinatos, 159 ameaças de morte e 35
tentativas de assassinato. O Estado, por
sua vez, mantém-se como um coadjuvante
de luxo nessa tragédia, a interpretar o assecla dos agentes da violência, a quem beneficia com a impunidade, além de perseguir e
criminalizar aqueles que lutam pelo direito
à terra e ao território e à vida digna no campo, nas águas e nas florestas.
Escreve a Dra. Deborah Duprat, advogada
e Subprocuradora-Geral da República aposentada:
O relatório de conflitos da CPT de 2020 revela que o Brasil atual está mais próximo
de 1500 do que de 1988. Em diversas regiões do país, indígenas, trabalhadores rurais sem-terra, quilombolas, ribeirinhos,
geraizeiros, pescadores artesanais, vazanteiros, camponeses de fundo e fecho de
pasto são vítimas de processos de criminalização por conta de lutas, principalmente
por terra e água. Os documentos juntados
nessa publicação também permitem concluir por uma espécie de associação, ainda
que tácita, entre sistema de Justiça, forças
policiais e poder econômico.
Duprat refere-se aos 84 casos de criminalização registrados em 2020 pela CPT, cujas
maiores vítimas foram sem-terra (40), posseiros (24) e quilombolas (9). Trata-se, segundo ela, de um verdadeiro “Estado de
Exceção”, e de “muita covardia”, pois, não
obstante o medo, a doença e a morte provocados pela pandemia, homens e mulheres
do campo seguem perseguidos em nome da
luta para assegurar direitos constitucionais
que lhes foram solapados.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Mesmo diante de um quadro desolador, matizado pelos tons sombrios do governo Bolsonaro e da pandemia, é preciso avançar,
ainda que alertados pela consciência, algo
clássica, de que “um passo atrás” ou um interregno para reflexão e reorganização pode
ser inegociável. É nesse sentido, qual seja,
de seguir em frente, mesmo em tempos de
recolhimento, que a CPT introduz nesta edição uma temática capital para o bem-estar e
o bem “con-viver” das classes trabalhadoras
da cidade e do campo e para a potencialização de suas lutas: a (re)xistência LGBTI+.
Tratam do tema Alessandro Santos Mariano
e Katia Iris Marro. Ele, membro do Coletivo LGBTI+ da Via Campesina Brasil, e ela,
professora associada da Universidade Federal Fluminense (UFF). Segundo os autores,
assim como no contexto urbano, o ambiente do campo reproduz o preconceito atávico
contra pessoas LGBTI+, de modo a torná-las
invisíveis, recolhidas em si mesmas, infelizes, irrealizadas e vítimas de violências. Não
obstante, movimentos como MST, MAB,
MPA e Indígenas têm organizado espaços
para inclusão, que resultaram na criação,
em 2020, do Coletivo LGBTI+ da Via Campesina, cuja finalidade é assumir, nas pautas de luta do campo, a diversidade sexual
e a identidade de gênero, de maneira que as
pessoas LGBTI+ tenham o direito de ser plenamente integradas em suas comunidades.
Este ano, com atraso devido às circunstâncias, a CPT apresenta à sociedade um relatório de conflitos forjado não somente por
uma inexorável esperança, mas também
pela dor empática, diante da violência do
capital e do Estado, que potencializaram o
genocídio pandêmico. Tal esperança, contudo, não pode ser passiva, acanhada, tributária da letargia. Nem a dor o pode.
Nesse sentido, recomenda Flávio Lazzarin,
em seu artigo “Olhar Pastoral sobre os Conflitos”:
Para combater essa guerra contra essa religião mortífera [o capitalismo], devemos
nos armar com a verdade e a justiça, empunhar a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, e acolher a companhia de
Jesus, com o cortejo dos Encantados e das
Encantadas, dos Orixás, dos Santos, Santas, das forças espirituais, que derrotam
os espíritos do mal e acompanham a resistência e a luta dos pobres, dos povos indígenas, dos quilombolas, das comunidades
tradicionais, dos pequeninos, pequeninas,
irmãos e irmãs de Quem derrotou a morte
e restaurou a vida.
Lazzarin conduz a palavra à qual nos referimos anteriormente: Solidariedade. Essa é
a profecia. Dos Orixás aos pequeninos; dos
quilombolas aos moradores de rua rotos;
dos indígenas aos jovens negros das periferias urbanas; das forças santificadas aos
mais dessacralizados e mundanos pensamentos e sentimentos.
BOA LEITURA!
11
Metodologia
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde
a sua criação, em 1975, se defronta com os
conflitos no campo e o grave problema da
violência contra o que se convencionou nomear de trabalhadores e trabalhadoras da
terra, termo que engloba diversas categorias
camponesas, entre elas comunidades tradicionais, assalariados rurais, indígenas, pescadores e pescadoras artesanais que vivem
em espaços rurais e têm no uso da terra e da
água seu sistema de sobrevivência e dignidade humana.1 Desde o início, também faz o
levantamento de dados sobre as lutas de resistência pela terra, pela defesa e conquista
de direitos, e denuncia, por diversos meios,
sobretudo através de seu Boletim, a violência sofrida pelos povos e comunidades.
Já no final dos anos 1970, foi promovida
uma pesquisa em âmbito nacional sobre os
conflitos e a violência que afetavam os povos
e suas comunidades. Os dados dessa pesquisa foram sistematizados e publicados,
em 1983, no livro CPT: Pastoral e Compromisso, uma coedição Editora Vozes-CPT, o
qual incluiu relatos de conflitos até dezembro de 1982.
A partir de então, a CPT continuou a registrar sistematicamente os dados que eram
publicados em seu Boletim. Em 1985, iniciou-se a publicação anual intitulada Conflitos no Campo Brasil, com os registros das
ocorrências de conflitos e violências sofridas
pelos trabalhadores e trabalhadoras da terra.
Até 1988, os registros eram feitos à mão,
em fichas. Nesse referido ano, já com aces-
so à informática, criou-se o primeiro banco de dados, chamado dBase, em que foram registrados os conflitos até 1999. Em
2000, houve uma reestruturação e criou-se
o DataCPT; os dados foram migrados para
o Sistema SQL server. Porém permaneceram duas bases de dados separadas (uma
até 1999 e outra a partir do ano 2000). Em
2018, iniciou-se uma nova reestruturação
do banco de dados, visando à junção das
duas bases de registros, que se consumou
em 2020. Nasceu o Gaia, novo banco de dados que reúne as ocorrências quantitativas
e qualitativas publicadas pela CPT no decorrer dos 35 anos. Além do agrupamento
das bases de dados, o Gaia traz novas categorizações de registros, as quais serão abordadas posteriormente, bem como as mudanças ocorridas no contexto da pandemia
da COVID-19.
A CPT tornou-se a única entidade a realizar tão ampla pesquisa sobre os conflitos no
campo em âmbito nacional. Com esse trabalho formou-se um dos mais importantes
acervos documentais sobre as lutas pela
terra-território e formas de resistência dos
trabalhadores e trabalhadoras da terra, das
águas e das florestas, bem como sobre a defesa e conquista de direitos. Os documentos
dizem respeito a conflitos ocorridos desde os
anos de 1960.
Ao iniciar a digitalização em 2008, a CPT
priorizou aqueles que se referem aos conflitos que aconteceram de 1985 a 2007,
já sistematizados em seu banco de dados.
Esses foram identificados, organizados por
temas e digitalizados. Por sua vez, os docu-
1
Além das categorias citadas neste parágrafo, constam outras seguintes: assentados, sem-terra, posseiros, pequenos proprietários, parceleiros, pequenos arrendatários, trabalhadores rurais, garimpeiros, caiçaras, camponeses de fundo e fecho
de pasto, faxinalenses, geraizeiros, marisqueiras, pescadores, quilombolas, retireiros, ribeirinhos, seringueiros, vazanteiros,
extrativistas (castanheiros, palmiteiros, quebradeiras de coco babaçu), povos indígenas etc. A categoria “Atingidos por barragens” inclui comunidades tradicionais, ou assentados, sem-terra, indígenas etc. A partir de 2020, houve alterações na
categorização de “Lideranças”.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
mentos anteriores ao banco de dados – período de 1960 a 1985 – foram digitalizados
e organizados por datas, sem registros de
ocorrências quantitativas e qualitativas das
informações. Os documentos referentes aos
conflitos a partir de 2008 já foram adquiridos em forma digital, bem como identificados, sistematizados e salvos no banco de
dados Datacpt. Com esse processo de digitalização, a CPT disponibiliza o acervo pelo
site www.cptnacional.org.br, ou via Google
Drive < goo.gl/TJ10G>.
para que o trabalhador, conhecendo melhor
sua realidade, possa, com segurança, assumir sua própria caminhada, tornando-se
sujeito e protagonista de sua história.
Pedagógica – porque o conhecimento da
realidade ajuda a reforçar a resistência dos
trabalhadores e a forjar a transformação necessária da sociedade.
Por que documentar?
Histórica – porque todo esforço e luta dos
trabalhadores de hoje não podem cair no esquecimento e devem impulsionar e alimentar a luta das gerações futuras.
A CPT é uma ação pastoral da Igreja, tem
sua raiz e fonte no Evangelho e, como destinatários de sua ação, os trabalhadores e
trabalhadoras da terra e das águas. Por fidelidade “[...] ao Deus dos pobres, à terra
de Deus e aos pobres da terra”, como está
explícito na definição de sua Missão, a CPT
assumiu a tarefa de registrar e denunciar os
conflitos de terra, água e a violência contra
os trabalhadores e seus direitos, criando o
setor de documentação. Em 2013, foi renomeado “Centro de Documentação (Cedoc)
Dom Tomás Balduino”.
Científica – porque o rigor, os procedimentos metodológicos e o referencial teórico permitem sistematizar os dados de forma coerente e explícita. A preocupação de dar um
caráter científico à publicação existe não em
si mesma, mas para que o acesso a esses
dados possa alimentar e reforçar a luta dos
próprios trabalhadores, em seu enfrentamento com o latifúndio. Não se trata simplesmente de produzir meros dados estatísticos, mas de registrar a história da luta de
uma classe que secularmente é explorada,
excluída e violentada.
A tarefa de documentar tem uma dimensão
teológica, porque, de acordo com a tradição
bíblica, Deus ouve o clamor do seu povo e
está presente na luta dos trabalhadores e
trabalhadoras (Ex 3, 7-10). Essa luta é em
si mesma um ritual celebrativo dessa presença e da esperança que anima o povo.
O que a CPT documenta e conceitos que
fundamentam os registros
Além desse aspecto, a CPT fundamenta
seus registros em outras dimensões, que
são: ética, política, pedagógica, histórica e
científica.
Ética – porque a luta pela terra é uma questão de justiça e deve ser pensada no âmbito
de uma ordem social justa.
Política – porque o registro da luta é feito
A CPT registra conflitos, entendidos como
ações de resistência e enfrentamento que
acontecem em diferentes contextos sociais
no âmbito rural, envolvendo a luta pela terra, água, direitos e pelos meios de trabalho
ou produção. Esses conflitos acontecem
entre classes sociais, entre os trabalhadores ou por causa da ausência ou má gestão de políticas públicas. Nesse sentido, os
registros são catalogados por situações de
disputas em conflitos por terra, pela água,
conflitos trabalhistas, em tempos de seca,
conflitos em áreas de garimpo e conflitos
sindicais. Até o ano de 1999, registrou-se
conflitos relacionados à política agrícola.
13
Nas duas últimas décadas, praticamente
não se tem registro de conflitos em tempos
de seca, sindical e garimpo.
Conflitos por terra são ações de resistência
e enfrentamento pela posse, uso e propriedade da terra e pelo acesso aos recursos naturais, tais como: seringais, babaçuais ou
castanhais, dentre outros (que garantam o
direito ao extrativismo), quando envolvem
posseiros, assentados, quilombolas, geraizeiros, indígenas, pequenos arrendatários,
camponeses, sem-terra, seringueiros, camponeses de fundo e fecho de pasto, quebradeiras de coco babaçu, castanheiros, faxinalenses etc.
As ocupações/retomadas e os acampamentos também são classificados no âmbito dos
conflitos por terra.
No ano de 2020, a COVID-19 trouxe alterações nos registros dos conflitos. Entre essas,
o fenômeno das barreiras sanitárias2, as
quais, assim como as ocupações e os acampamentos, foram consideradas no conjunto
dos conflitos por terra.
Ocupações e ou retomadas são ações coletivas das famílias sem-terra, que por meio
da entrada em imóveis rurais, reivindicam
terras que não cumprem a função social, ou
ações coletivas de indígenas e quilombolas
que reconquistam seus territórios, diante
da demora do Estado no processo de demarcação das áreas que lhe são asseguradas por direito.
Acampamentos são espaços de luta e formação, fruto de ações coletivas, localizados
no campo ou na cidade, onde as famílias
sem-terra organizadas, reivindicam assentamentos. Além disso, os povos indígenas e
comunidades tradicionais também formam
acampamentos na luta pela retomada de
seus territórios. Em suas pesquisas, a CPT
registra somente o ato de acampar. Não se
faz o acompanhamento do número de famílias acampadas no país.
Conflitos trabalhistas compreendem os casos em que a relação trabalho versus capital indica a existência de trabalho escravo
e superexploração. As greves também integram o conjunto dos conflitos trabalhistas
(ver adiante).
Na compreensão do que é Trabalho escravo, a CPT segue o definido pelo artigo 149
do Código Penal Brasileiro, atualizado pela
Lei nº 10.803, de 11.12.2003, que o caracteriza por submeter alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, ou por sujeitá-lo a condições degradantes de trabalho,
ou quando se restringe, por qualquer meio,
sua locomoção em razão de dívida contraída
com o empregador ou preposto, ou quando
se cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, ou quando
se mantém vigilância ostensiva ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho.
As situações de Superexploração acontecem na esfera salarial e dizem respeito às
ocorrências em que as horas de trabalho
não pagas excedem a taxa normal de exploração do trabalho. Geralmente, esses casos
estão ligados a precárias condições de trabalho e moradia.
Ações de resistência (Manifestações por
direitos trabalhistas): a partir de 2018,
com o processo de reestruturação do banco
de dados, decidiu-se que as greves por melhorias nas condições de trabalho, relacionadas às questões de segurança, benefícios
trabalhistas ou salariais rurais, bem como
para impedir a desvalorização e desprote-
2
Diante da grave omissão do governo federal no combate à COVID-19, os povos, sobretudo indígenas e quilombolas, realizam
movimento autônomo de bloqueio aos acessos dos seus territórios, para evitar a entrada do vírus nas comunidades e impedir
atividades ilegais como caça, garimpo, extração ilegal de madeira, grilagem, turismo etc.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
ção do trabalho, ou a perda dos benefícios
vigentes, seriam novamente integradas ao
conjunto dos conflitos trabalhistas.
Conflitos pela água são ações de resistência, em geral coletivas, que visam a garantir
o uso e a preservação das águas. Expressam a luta contra a apropriação privada dos
recursos hídricos, contra a cobrança do uso
da água no campo, contra a construção de
barragens e açudes. Esse último envolve os
atingidos por barragem, que lutam pelo seu
território, do qual são expropriados. Envolve ainda a luta dos povos e comunidades
frente à mineração.
Conflitos em tempos de seca são ações coletivas que acontecem em áreas de estiagem
prolongada e reivindicam condições básicas
de sobrevivência e ou políticas de convivência com o semiárido.
Conflitos em áreas de garimpo são ações
de enfrentamento entre garimpeiros, empresas e o Estado.
Conflitos sindicais são ações de enfrentamento que buscam garantir o acompanhamento e a solidariedade do sindicato
aos trabalhadores, contra as intervenções,
as pressões de grupos externos, ameaças e
perseguições aos dirigentes e filiados.
Esses três últimos só são publicados quando é expressiva sua ocorrência, ou quando o
contexto em que se desenrolaram indicar a
pertinência de uma análise a respeito.
Além disso, são registradas as manifestações de luta e as diversas formas de violência praticadas contra os povos camponeses:
assassinatos, tentativas de assassinato,
ameaças de morte, prisões, agressões e outras.
As manifestações são ações coletivas dos
trabalhadores e trabalhadoras da terra e
das águas, que protestam contra atos de
violência sofrida ou de restrição de direitos,
reivindicando diferentes políticas públicas,
repudiam políticas governamentais ou exigem o cumprimento de acordos e promessas.
As manifestações também sofreram mudanças significativas no contexto da COVID-19,
pois no mês de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu o distanciamento social como uma das
medidas mais importantes e eficazes para
reduzir o avanço do SARS-CoV-2. Tal distanciamento exigiu a redução de circulação
de pessoas em espaços coletivos públicos
(ruas e praças) ou privados (centros de compra, shows etc.), ou seja, a não aglomeração. Com isso, os povos do campo e suas
organizações paralisaram as manifestações
presenciais, porém adotaram manifestações
virtuais como instrumentos legítimos de denúncia e luta contra as mais variadas formas de violências aos seus territórios. Apesar de as manifestações virtuais romperem
com a dimensão de espaço e sujeitos sociais
compreendidos historicamente pela CPT, as
que apresentaram pautas reivindicatórias
concretas dos povos do campo e suas organizações, com intencionalidade de denunciar uma determinada violência contra uma
comunidade específica e de protestar contra
ações e políticas que violentam os modos de
vida dos povos do campo, criminalizando as
suas lutas, foram incorporadas aos registros.
Outra mudança nas manifestações em contexto de pandemia foi que a agenda de lutas
históricas, a título de exemplo, a Jornada
Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, foi
revertida para ações de solidariedade, entre
essas, doação de alimentos, pautando a reforma agrária, a agroecologia, a redução dos
efeitos da fome, entre outras dimensões;
plantio de árvores para denunciar a destruição ambiental por parte do agronegócio, da
15
mineração etc. O conjunto de manifestações
em 2020 também pautou o entendimento
que reforma agrária é sinônimo de alimentação saudável e de cuidado com os bens
comuns da natureza.
Por violência, entende-se o constrangimento, danos materiais ou imateriais, destruição física ou moral exercida sobre os povos
do campo e seus aliados. Essa violência está
relacionada aos diferentes tipos de conflitos
registrados e às manifestações dos movimentos sociais do campo.
A partir do ano de 2020, com o novo banco
de dados (Gaia), começou-se a sistematizar
quantitativamente violências relacionadas
ao desmatamento ilegal, impedimento de
acesso às áreas de uso coletivo e às violações nas condições de existência. Outras
modalidades nesse quesito incorporadas ao
banco de dados foram violências relacionadas a sexo, gênero e sexualidade3, bem como
à raça/cor/etnia e às criminalizações4.
brevivência da maioria das espécies de vida
ali presente. A CPT também considera que
o conceito de natureza é socialmente construído (MONTIBELLER Filho, 2004; PORTO-GONÇALVES, 2004; e, BELLEN, 2006) e
o conceito de ambiente também. Nesse sentido, faz-se necessário perceber qualquer
ação que envolva humanos e natureza como
uma relação entre as espécies viventes nos
espaços (sejam eles físicos, culturais, econômicos, políticos e sociais). Assim, quando identifica e apresenta a existência de um
conflito no espaço rural, especificamente
nesse espaço, entende que há, também, um
conflito ambiental.
No que se refere às questões ambientais e
direitos humanos, a CPT entende que podem estar presentes em todos os conflitos
cadastrados, sistematizados e analisados
pelo Centro de Documentação.
2. Direitos humanos. A CPT, sendo signatária do Comitê Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais (Dhesca), assume compromisso
com a lógica de que a conquista ou a agressão aos Direitos Humanos é situação integrante das várias condições de vida dos
trabalhadores e trabalhadoras da terra e de
suas organizações nos espaços em que atuam. A plataforma Dhesca tem como objetivo
contribuir para que o Brasil adote um padrão de respeito aos direitos humanos, tendo por fundamento a Constituição Federal
do Brasil promulgada em 1988, o Programa
Nacional de Direitos Humanos, os tratados
e convenções internacionais de proteção
aos direitos humanos ratificados pelo Brasil e as recomendações dos/as relatores/as
da ONU e do Comitê Plataforma de Direitos
Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais (Dhesca).5
1. Ambiente representa o conjunto dos elementos naturais em sua forma original e
que, a partir da relação com o ser humano,
sofre transformações, porém essas devem
levar em consideração a possibilidade de so-
Os procedimentos, metodologias, conceitos
e variáveis temáticas apresentadas nos cadernos Conflitos no Campo do Brasil, foram
construídos coletivamente, envolvendo as
várias equipes de documentação e contando
Em relação à grave situação que vivemos, de
mortes e contaminações pela COVID-19 entre os povos do campo e suas organizações,
utilizamos um método próprio de inserção
no banco de dados, buscando corresponder
à complexidade que o momento nos traz.
3
Conforme a publicação “Amor na vitrine”, autoria de Regina Navarro Lins, o sexo é biológico (homens, mulheres, intersexuais), a sexualidade está relacionada ao desejo de cada pessoa e o gênero é como nos percebemos e queremos ser identificados
no mundo.
4
Os conceitos relacionados às violências estão sistematizados no Tutorial do Centro de Documentação da CPT.
5
Maiores informações sobre a Plataforma ver no site os conceitos fundamentais dos Direitos Humanos: http://www.dhescbrasil.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=330:quem-somos&catid=46:organizacao&Itemid=134
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
com a participação dos agentes de base da
CPT e movimentos sociais que atuam no espaço rural. Alguns conceitos foram assumidos pelo Cedoc a partir da existência deles
em leis, declarações, estudos, censos.
Como a CPT documenta e objetivos da
sistematização dos dados
Os registros são feitos por meio de pesquisas primária e secundária. Ressalta-se que,
para o centro de documentação da CPT,
são três os objetivos ao se fazer a coleta de
dados: 1) buscar as fontes primárias de informações para construir o banco de dados
(a partir de relatos e de informações obtidas com os agentes de base da CPT. Além
dos agentes da CPT, documentos oficiais,
denúncias dos próprios camponeses e de
movimentos sociais populares relatadas
em seus veículos de comunicação e nas redes sociais, declarações, cartas assinadas,
boletins de ocorrência, relatos repassados
pelos movimentos sociais, igrejas, sindicatos e outras organizações e entidades diretamente ligadas à luta dos trabalhadores e
trabalhadoras da terra); 2) buscar fontes secundárias, por meio da clipagem virtual6 em
várias mídias de conteúdo público (jornais,
revistas, sites de notícias, blogs, rádios, televisão, redes sociais, podcasts e plataformas de streaming, como YouTube, boletins
e publicações de diversas instituições, partidos e órgãos governamentais, entre outros);
3) processar, sistematizar e analisar os dados, transformando-os em registros de denúncias das violações de direitos cometidas
contra os camponeses e suas organizações,
bem como as resistências perpetradas pelos
mesmos, na defesa dos seus modos de ser, e
da produção e reprodução da vida.
A pesquisa documental “[...] vale-se de ma-
teriais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser
reelaborados de acordo com os objetivos da
pesquisa” [...] (GIL, 2007, p. 66). Existem
documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais
como: documentos oficiais, reportagens de
jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias e gravações.
Após a obtenção desses materiais, o ato de
“documentar não é sinônimo de acumular
textos e recortes [...]. Não é o caso também
de armazenar, sem critério [...]”. Documentar é organizar o material que tem importância significativa para a pesquisa que se
realiza. E essa importância está relacionada ao objetivo primeiro de seu estudo (ALMEIDA JÚNIOR, 2000, p. 111), que é fundamentar denúncias das violências sofridas
pelos povos e comunidades do campo, bem
como cuidar das memórias das resistências
e lutas das várias identidades camponesas,
para que as causas da vida não caiam no
esquecimento.
Por fim, o objeto de pesquisa do centro de
documentação são os documentos enumerados anteriormente. Uma vez processados
busca-se analisar os conflitos e as violências sofridas em espaços rurais e urbanos
que envolvam ações dos povos e comunidades da terra, das águas e suas organizações.
Critérios de inclusão e exclusão
Como primeiro critério de inclusão no banco de dados, tem-se que as informações
são obtidas por meio de pesquisas primária e secundária, conforme descrição feita
anteriormente. Uma vez identificando-se a
existência de conflito nesses documentos a
ocorrência é registrada.
6
O serviço de clipagem virtual no Centro de Documentação da CPT iniciou-se em abril de 2004. Antes, faziam-se recortes
de revistas e jornais impressos no próprio Centro de Documentação da entidade. Sendo que o mesmo trabalho era feito nas
Secretarias Regionais da CPT e as cópias dos documentos clipados eram remetidas para a Secretaria Nacional via agência
dos Correios. Além disso, a CPT tinha contrato com empresa de clipagem, a qual enviava mensalmente para a Secretaria
Nacional um pacote com documentos relacionados aos conflitos no campo e à questão agrária.
17
Quando se percebe que os números fornecidos pelas fontes secundárias não coincidem
com os apurados pelas Secretarias Regionais da CPT, considera-se a fonte primária
como dado de registro. Nos casos que um
mesmo conflito possui várias ocorrências de
resistências e violências no decorrer do ano,
registra-se todos os acontecimentos. Porém,
na soma total dos conflitos, o número de famílias será considerado apenas uma vez – o
maior número do qual se teve informação.
O mesmo não ocorre para as violências sistemáticas contra as famílias. Ou seja, se as
famílias de uma mesma comunidade foram
vítimas de destruição de casas, pistolagem,
invasões etc., várias vezes durante o ano, na
soma total, considera-se todas as violências
sofridas.
Para registro de datas, quando não há informação do dia do fato, registra-se no último
dia daquele mês e ano, caso não tenha informação do mês, registra-se no último dia
daquele ano, ou na data do documento pesquisado.
Situações de violência e conflitos que envolvam povos indígenas e comunidades tradicionais, como quilombolas, pescadores,
caiçaras, dentre outros, mesmo em espaços
urbanos, mas que vivenciam modo de vida
tradicional, são registradas e contabilizados.
No registro das manifestações que são prolongadas (marchas, jornadas etc.), para a
contagem dos participantes, considera-se
o maior número de pessoas informadas, na
última data, e registram-se os atos realizados em cada lugar, durante o trajeto ou o
período da manifestação.
Registram-se os conflitos que ocorreram durante o ano. Conflitos anteriores e não resolvidos só figuram no relatório se tiverem
algum fato novo que indique a continuidade
dos mesmos.
Não são registrados
1. Casos de violência, inclusive assassinatos, que acontecem no âmbito rural e não
tenham relação com conflitos pela disputa,
posse, uso ou ocupação da terra, ou pelo
acesso ou uso da água, ou na defesa de direitos por trabalhos realizados no campo;
2. Casos de conflitos pela posse, uso ou
ocupação da terra em áreas urbanas. Excetuam-se os casos em que a disputa pela terra se dá por povos indígenas e comunidades
tradicionais (quilombolas, pescadores artesanais etc.) que defendem um modo de vida
tradicional, mesmo que em área urbana;
3. Conflitos entre latifundiários ou grandes
empresários do agronegócio;
4. Casos de trabalho escravo em atividades
urbanas (são apenas citados na publicação
como nota de rodapé).
O banco de dados
As informações são organizadas por meio de
formulários temáticos do Gaia – Banco de
Dados dos Conflitos no Campo – Comissão Pastoral da Terra – e são sistematizadas em tabelas, gráficos e mapas dos conflitos. Para cada conflito, elaboram-se textos
de históricos, os quais reúnem as informações que lhe são características, possibilitando fundamentações de análises.
Importante destacar que o processo de inserção e revisão dos conflitos no campo é
contínuo. Entre outras dimensões, isso quer
dizer que, após cada publicação anual, é comum ocorrer registros de anos anteriores,
dos quais o Cedoc não teve conhecimento na
época do fato. A partir do Caderno de Conflitos, ano 2020, tendo em vista instrumentos
facilitadores do Gaia, a Tabela 1 (comparação dos Conflitos no Campo Brasil) será publicada a partir de registros atualizados no
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
banco de dados, e não de informações das
publicações anuais.
A composição das famílias
O Centro de Documentação acolhe o conceito de família apresentado pelo IBGE em seu
censo demográfico de 2010. “Família é conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de
convivência, residente na mesma unidade
domiciliar, ou pessoa que mora só em uma
unidade domiciliar”. [...] “Consideram-se
como famílias conviventes as constituídas
de, no mínimo, duas pessoas cada uma, que
residam na mesma unidade domiciliar (domicílio particular ou unidade de habitação
em domicílio coletivo) (PNAD 1992, 1993,
1995, 1996)” (IBGE, 2010).
sicas/ferimentos.
Por último, uma tabela em que estão registradas as Manifestações de Luta feitas pelos
diferentes movimentos sociais ou outras organizações durante o ano.
Estrutura do relatório impresso
Os dados coletados e organizados pela CPT
são publicados anualmente, desde 1985,
em um relatório impresso que tem por título Conflitos no Campo Brasil. A partir de
2008, ele sofreu algumas alterações e ficou
com a seguinte estruturação:
Quatro tabelas detalhadas e organizadas
por estado em ordem alfabética e seis tabelas-sínteses agrupadas nas cinco regiões
geográficas definidas pelo IBGE.
Estrutura do Banco de Dados – Gaia
Do Banco de Dados, retiram-se tabelas específicas para a página eletrônica da CPT,
bem como para a publicação anual impressa e atendimento à pesquisa.
Tabelas disponibilizadas na página eletrônica:
Áreas em conflito, Ocorrências de conflitos
por terra, Ocupações/Retomadas e Acampamentos. Os dados das três últimas tabelas são agrupados em uma tabela-síntese,
denominada “Violência contra Ocupação e a
Posse”, compreendendo o eixo Terra.
Além do eixo Terra, disponibiliza-se tabelas
com a listagem dos Conflitos pela Água, dos
Conflitos Trabalhistas (Trabalho Escravo,
Superexploração e Ações de Resistência), de
assassinatos, tentativas de assassinatos e
ameaças de morte. Por fim, uma tabela-síntese denominada Violência contra a Pessoa,
na qual, além dos dados das tabelas anteriores, constam as mortes em consequência
de conflito7, torturas, prisões, agressões fí-
TABELA 1 – Comparação dos Conflitos no
Campo
É uma síntese do último decênio. Dispõe os
dados de cada tema: terra, água, trabalho
e outros (quando há casos de conflitos em
tempos de seca, garimpo etc.) e o total dos
conflitos no campo brasileiro.
TABELA 2 – Conflitos no Campo Brasil
Essa tabela registra detalhadamente os conflitos por terra, trabalhistas, água e outros
se houver, com as seguintes informações:
município, nome do conflito, data, número
de famílias ou de pessoas envolvidas e um
campo com informações específicas conforme o tema.
TABELA 3 – Violência contra a ocupação
e a posse
É a síntese da soma das ocorrências dos
Conflitos por Terra, Ocupações e Acampamentos por Estado, o número de famílias
envolvidas em cada bloco, a área, o número
19
de famílias expulsas, despejadas, ameaçadas de despejo, ou que sofreram tentativa
ou ameaça de expulsão, o número de casas,
roças e bens destruídos, e o número de famílias que estão sob ameaças por pistoleiros.
Além desses registros, a Tabela 3 também
apresenta o número de famílias que sofrem
algum tipo de violência com invasões de
suas terras ou posses por parte de grileiros,
fazendeiros, mineradoras, madeireiras etc.
TABELA 4 - Terra
Sistematiza o eixo Terra organizado em três
blocos: Conflitos por Terra, Ocupações e
Acampamentos. Contém as seguintes informações: número de ocorrências de conflitos
por terra, ocupações, acampamentos, seguidas do número de famílias.
TABELA 5 - Água
Retrata a síntese dos conflitos pela água por
Estado, com as seguintes informações: número de ocorrências de conflitos e quantidade de famílias envolvidas.
TABELA 6 - Trabalho
Sintetiza os conflitos trabalhistas por estado,
com dois blocos de informações. 1. Trabalho
Escravo: consta o número de ocorrências,
quantidade de trabalhadores envolvidos na
denúncia e libertados, número de crianças
e adolescentes. 2. Superexploração: número de ocorrências, quantidade de trabalhadores envolvidos na denúncia e resgatados,
número de crianças e adolescentes. Com a
retomada das greves como conflito trabalhista posteriormente essa tabela sofrerá alterações.
TABELA 7 - Violência contra a pessoa
Agrupa o número das ocorrências registradas em Terra, Água, Trabalho, o número de
pessoas envolvidas e as violências sofridas
pelos trabalhadores e trabalhadoras: os assassinatos, as tentativas de assassinato,
as mortes em consequência de conflitos, as
ameaças de morte, bem como torturas, prisões e agressões.
TABELAS 8, 9 e 10 - Assassinatos, Tentativas de Assassinato, Ameaçados de Morte
Contêm as seguintes informações: município, nome do conflito, data, nome, quantidade, idade e categoria da vítima.
TABELA 11 – Manifestações
Relatório síntese por estado. Informa o número de ocorrências e a quantidade de manifestantes.
As tabelas vêm acompanhadas de textos de
análise produzidos por professores e professoras de diferentes universidades e pelos
agentes de pastoral da própria CPT, religiosos ou algum outro especialista na temática.
A última parte de Conflitos no Campo reproduz notas emitidas pela CPT, só ou em
parceria, ou outros documentos, sobre as
diferentes situações de conflito e de violação
dos direitos humanos.
Referências bibliográficas
ALMEIDA JÚNIOR, João Baptista de. “O estudo
como forma de pesquisa”. In.: Construindo o saber. CARVALHO, Maria Cecília de (org.). 10ª ed.
Campinas-SP: Papirus Editora, 2000.
BELLEN, Hans Michael van. “Desenvolvimento
sustentável: diferentes abordagens conceituais e
práticas”. In: ______. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2006.
BRASIL. Código Penal Brasileiro, Lei nº 10.803,
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
de 11.12.2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,
para estabelecer penas ao crime nele tipificado e
indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Disponível em http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
l10.803.htm
olhar sobre as relações amorosas contemporâneas. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2021.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Editora Atlas,
2007.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. O desafio
ambiental. Coleção Os porquês da desordem
mundial. Organização, SADER, Emir. Rio de Janeiro-São Paulo: Editora Record, 2004.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA (PNAD). Senso Demográfico de 2010.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/
estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/conceitos.shtm
LINS, Regina Navarro. Amor na vitrine – um
MONTIBELLER FILHO, G. O mito do desenvolvimento sustentável. Meio ambiente e custos
sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Santa Catarina: Editora da UFSC, 2004.
Organograma dos temas publicados
O organograma a seguir apresenta os temas documentados, os nomes dos formulários utilizados na sistematização e as respectivas tabelas
derivadas dos registros.
21
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 1 - Comparação dos Conflitos no Campo Brasil
(2011 - 2020)
2011
1
2
Ocorrências
(1)
Ocupações/ Retomadas
Acampamentos
Total
3
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Conflitos por Terra
(2)
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
Hectares
818
828
802
820
828
1.112
1.033
1.000
1.260
1.576
211
255
245
223
234
224
193
157
46
29
32
15
15
22
30
25
13
20
5
3
1.061
1.098
1.062
1.065
1.092
1.361
1.239
1.177
1.311
1.608
30
34
30
37
49
61
70
27
27
14
491.660
471.160
461.065
622.495
642.005
736.590
639.715
664.470
580.228
687.872
14.410.626 13.181.570
6.228.667
8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494 53.313.244 77.442.957
Conflitos Trabalhistas
Trabalho Escravo
230
170
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
Superexploração
Total
132
80
68
67
86
89
96
1.760
751
532
1.465
880
1.104
1
3.929
3.002
1.730
2.494
30
14
13
10
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
142
2
6
1
5
1
1
1
2
3
14
3
466
73
142
294
125
2
260
184
155
142
86
69
67
91
90
96
69
78
103
131
151
177
199
279
502
350
2
2
2
1
1
2
4
145.755
158.180
36
12
26.005
1.350
1.390
1.396
30
36
636.340
Conflitos pela Água
Conflitos
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
140.285
204.255
217.710
223.455
178.090
379.035
317.524
225.168
1.332
1.338
1.329
1.607
1.505
1.547
1.903
2.054
35
37
50
64
71
30
32
18
619.990
621.117
829.538
861.600
960.798
818.337
1.044.984
898.635
914.144
14.410.626 13.181.570
6.228.667
Outros (3)
Conflitos
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
Total dos Conflitos no Campo Brasil
Conflitos
Assassinatos
Pessoas Envolvidas
Hectares
8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494 53.313.244 77.442.957
1
Os dados do nº de Ocorrências referem-se aos despejos e expulsões, ameaças de despejos e expulsões, destruição de casas,
roças e pertences; pistolagem, grilagem, invasões etc.
2
Em 2020, foram registrados 1.608 no total de ocorrências de conflitos por terra. Numa mesma área, um conflito pode ter
desdobramentos diversos. Cada um deles corresponde a uma ocorrência. Neste ano, as áreas ou localidades em conflito
somam 1.190. Para saber as Áreas em Conflito, ver no site www.cptnacional.org.br.
3
Outros: Conflitos em Tempos de Seca e Garimpo.
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Conflitos no
Campo
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
“Fala Parente!” “Fala Comadre!”
“Fala Vizinho!” “Fala Irmão!”
– Resistência Camponesa, Indígena e
Quilombola em tempos de
pandemia da COVID-19
Patrícia Rocha Chaves1
500 anos, chega! Queremos outros 500 anos diferentes, porque a história que antes nos
antecedeu não é bonita. É uma história ruim! A história boa da resistência, da luta do
povo, não está nos manuais. Ela foi escrita pela mão branca, não pela mão do negro, do
índio, do mulato. Não foi escrita pela mão da mulher. A história da resistência foi negada.
(Leonardo Boff, 2007)
As notícias que dominaram os cadernos e
jornais de negócios do Brasil, a exemplo
da revista Época e da Folha de São Paulo,
no ano de 2020, demonstraram que nem a
pandemia de COVID-19 foi capaz de impactar fortemente os índices de exportação das
commodities brasileiras no mercado internacional. Em janeiro de 2020, o site do Ministério da Economia anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deveria
superar a marca de 7 trilhões de reais em
2019 e subir para 7,7 trilhões em 2020. Segundo a página desse Ministério, a inflação
brasileira no segundo semestre do ano havia demonstrado fortes sinais de alta o que
sugeriria um aumento da margem percentual de crescimento de 2,32% para 2,40%.
O que não se confirmou ao término do ano
de 2020. Conforme registrado pelo IBGE, o
PIB brasileiro apresentou um quantitativo
de 7,4 trilhões de reais.
Esse resultado surpreendeu negativamente
os economistas, que, por sua vez, imputaram-no à conjuntura econômica, à produ1
ção industrial e ao consumo das famílias,
dada a situação de pandemia. O Brasil,
nesse sentido, teria regredido dez anos e a
situação seria ainda pior caso o setor agropecuário não tivesse salvaguardado os altos
índices de exportação.
Dessa forma, os economistas assinalaram
a urgência de conceder e prorrogar os prazos dos auxílios emergenciais, assim como
a promoção de créditos para as empresas.
Essa questão estaria, então, no cerne do
salvamento da economia brasileira.
Em tal cenário, a agricultura capitalista
no Brasil tem sido retratada como heroína irrefutável nas páginas dos cadernos de
economia e na mídia nacional. No mês de
novembro de 2020, a soja, carro-chefe das
exportações brasileiras, já somava mais de
80 milhões de toneladas, fechando o ano
com valores de 82,273 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). A escassez interna das oleaginosas provocou crescimento
Doutora em Geografia Humana – FFLCH – USP, Professora do Curso de Geografia da UNIFAP.
25
do preço dos óleos vegetais. O aumento da
exportação da carne bovina, suína e das
aves foi de 38, 48 e 27%, respectivamente,
conforme a tabela da Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (Fipe). Carnes de
menor qualidade, cujo consumo popular é
mais frequente, sofreram aumentos de ao
menos 45%.
Observou-se, portanto, que o minério de ferro, a soja e o petróleo lideraram as exportações do país. A do petróleo atingiu 70,6
milhões de toneladas, 18,5% a mais que no
ano anterior. A soja, embora tenha apresentado índices inferiores ao ano de 2018,
recuperou, na modalidade farelo, marcas
historicamente superiores, somando 17,5
milhões de toneladas. O café também fechou o ano com marcas extraordinárias, foram 2,37 milhões de toneladas e o açúcar e
o algodão também não deixaram a desejar.
Esses produtos elevaram suas marcas de
exportação, destinada em especial à China,
que já se encontra em recuperação sanitária, econômica e social.
Ao que parece, o cenário econômico seria
perfeito, não fossem os efeitos contraditórios revertidos nos impactos sociais e econômicos negativos sentidos pela população
brasileira, em especial, pelas classes menos
abastadas. A pandemia do novo coronavírus
colocou em evidência, para o Brasil e para
o mundo, a fragilidade e a miséria que as
relações capitalistas impõem às massas que
vivem em países cuja exploração da natureza e do trabalho sobrepõe a produção e a
reprodução da vida social.
As demandas dessas frações sociais ignoradas pela mídia, sufocadas pelo reducionismo
econômico imposto pelo capital, suplantadas pelos governantes e, às vezes, desdenhadas pelos intelectuais, historicamente
têm marcado as lutas sociais no Brasil. É
nesse contexto que os dados dos conflitos
no campo sistematizados pela Comissão
Pastoral da Terra (CPT) nos interessam.
Eles nos auxiliam no desmascaramento dos
altos índices econômicos que os governos
brasileiros trazem à tona, ano a ano, por
meio das mídias oficializadas. Demonstram
também a catástrofe que os governos brasileiros têm imposto à população, sujeitando-a às políticas neoliberais, assumindo o
projeto econômico da agricultura capitalista
para o desenvolvimento nacional.
Assim, o campo brasileiro, enquanto lugar
fundamental da negação das relações capitalistas, da manifestação incontestável e da
insatisfação com as desigualdades impostas, possui a capacidade de demonstrar os
processos sociais que colocam o Brasil em
marcha contra a miséria e as formas destrutivas de apropriação da natureza e do
trabalho pelos agentes do capital. Colocam,
dessa maneira, os territórios em disputa,
que passam a configurar verdadeiras regiões de conflitos.
Conforme aponta Oliveira (2007), o território apresenta-se como “[..] a luta contínua
da sociedade pela socialização igualmente
contínua da natureza”. O autor nos convida a observar que a expansão do capital no
campo demarca dois tipos de processos, os
quais contribuem para a compreensão das
dinâmicas da luta camponesa contra as elites do campo: territorialização do monopólio
e monopolização do território. Tais dinâmicas de realização das atividades econômicas
no campo configuram as ações de resistência dos sujeitos do capital e representam a
construção/desconstrução/reconstrução
dos sujeitos da resistência que lutam contra a exploração, expropriação, intrusão e
despossessamento capitalista.
Esses processos denotam a relação entre
os sujeitos das disputas manifestadas nos
tipos de conflitos socioterritoriais e socioespaciais: terra, água, trabalho e suas formas de manifestações. O conflito é, então,
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
essa forma desigual de divisão do poder e
da riqueza, a manifestação política do desenvolvimento desigual e combinado, estabelecendo-se continuamente nas relações
econômicas e sociais capitalistas.
Para Boff (2014), “o conflito começa com o
desmascaramento ideológico, mantenedor
do estado de subdesenvolvimento, com análise social que traz à luz os mecanismos de
dependência e de dominação”. É instituído
pelo antagonismo que demarca as relações
materiais e, por conseguinte, simbólicas.
Oliveira (2008) adiantou que, nas relações
capitalistas entre as regiões, a questão econômica se desenvolve e a social jamais terá
possibilidades de avançar. É nesse sentido
que a expressão e a interpretação da mundialização do capital da agricultura brasileira e suas dinâmicas de produção/circulação/consumo, assim como a manutenção
e concentração da propriedade privada da
terra e das contradições da realização do
capitalismo rentista brasileiro, contribuem
para a compreensão dos conflitos socioterritoriais.
rências de conflitos por terra foi 2020, em
seguida 2019, ou seja, os dois anos de governo de Jair Bolsonaro foram os de maior
registro de ocorrências de conflitos por terra
na série histórica. Em terceiro lugar, está o
ano de 2016, ano do golpe que retirou Dilma
Rousseff da presidência e instituiu Michel
Temer. É importante observar o que isso representou em termos regionais.
Gráfico 1
Gráfico 2
OS CONFLITOS SOCIOTERRITORIAIS NO
BRASIL
Conflitos por terra, acampamentos, ocupações, retomadas e violência contra a
ocupação e a posse
Os últimos dez anos totalizaram 10.077
ocorrências de conflitos por terra. Na década anterior – 2001 a 2010 –, foram registrados, no total, 6.050. Isso significa que
houve diferença expressiva no número de
ocorrências registradas nesses últimos dez
anos para os dez anos iniciais do século XX.
Daí, é necessário destacar os elementos que
impulsionaram as lutas das populações do
campo nessa última década.
Conforme demonstra o Gráfico 1, o ano no
qual se manifestou maior número de ocor-
No gráfico 2, observa-se que as regiões que
mais se destacam em ocorrências de conflitos são Norte e Nordeste. Há uma espécie
de protagonismo do Nordeste até o ano de
2014, e, a partir de então, o Norte exerce certa liderança, com exceção do ano de 2018.
Temos, em seguida, Sudeste, Centro-Oeste
e Sul, respectivamente. Os dez estados mais
conflituosos da Federação, ao todo, somam
7.488 ocorrências de conflitos, 74,3%.
27
Entre os Estados, em primeiro lugar, está
o Maranhão, com 1.772 ocorrências, seguido de Pará, com 1.169; Bahia, com 827;
Rondônia, com 788; Mato Grosso, com 564;
Amapá, com 557; Acre, com 555; Pernambuco, com 433; Mato Grosso do Sul, com
426; e Minas Gerais, que apresentou nos
últimos dez anos 397 ocorrências.
Observando esse ranqueamento, temos o
Norte em 1º lugar, com 3.069, logo à frente do Nordeste, que somou 3.032 ocorrências. Em seguida, ficou o Centro-Oeste, com
990, e o Sudeste, com 397. Se considerada
a Amazônia Legal como critério de análise,
teremos seis Estados dentre os dez em destaque, concentrando 5.045, ou 53,6% de
ocorrências (Mapa 1 anexo 1).
Em 2020, a Amazônia Legal chama a atenção no tocante às ocorrências de conflitos
por terra. Observa-se maior concentração
dos conflitos exatamente nessa região, com
destaque para o norte Maranhense, sul do
Pará, Acre, norte de Mato Grosso e de Tocantins. Destacam-se também Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul.
Sobre o registro do número de famílias, vejamos (Gráfico 3):
Gráfico 3
flitos foi de 83.209 famílias – lembrando que
Dilma deixou o governo ainda em agosto de
20162. Em 2017 e 2018, governo de Michel
Temer, houve queda no número de famílias,
em relação a 2016, estabelecendo a mesma
dinâmica das ocorrências nesses anos. Já
entre 2019 e 2020, período de governo de
Jair Bolsonaro, o número de famílias em
conflitos elevou-se drasticamente, atingindo
a média de 157.432.
Gráfico 4
No gráfico 4, que distribui os registros de famílias por região, observa-se que a dinâmica
não diferiu muito da situação das ocorrências. A Região Nordeste liderou entre 2011
e 2014 e, a partir de 2015, a Região Norte
ficou em primeiro lugar (exceto em 2017),
destacando-se de maneira muito relevante
a partir de 2018.
O total de famílias de 2011 a 2020 foi de
1.029.653. A Região Norte apresentou maior
número, com 426.401; Nordeste, 353.231;
Centro-Oeste, 127.864; Sudeste, 71.379; e
Sul, 50.778. É nítido o protagonismo da Região Norte em se tratando da série histórica
dos últimos dez anos. Também é nítido que
o governo de Jair Bolsonaro tem sido extremamente violento para as famílias camponesas, indígenas e quilombolas.
Entre 2011 e 2016, período de governo de
Dilma Rousseff, a média de famílias em con2
Optamos por manter 2016 como período Dilma.
Os dez estados da Federação mais conflitu-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
osos se estabeleceram da seguinte maneira:
Pará em primeiro lugar, com 168.546 famílias envolvidas em conflitos; em segundo,
o Maranhão, com 137.515. Nesse sentido,
os dois Estados alternam suas posições.
A Bahia é o terceiro, com 85.874 famílias;
Amazonas, que não aparece com número
de ocorrências elevado, fica em quarta posição, com 63.731; o Mato Grosso, em quinto,
com 63.525; em sexto lugar, Roraima, com
55.571; em sétimo, Rondônia, com 49.257;
em oitavo, Acre, 47.281; em nono, Pernambuco, com 45.865; e em décimo, Mato Grosso do Sul, com 38.108.
de 2016.
O governo de Dilma Rousseff foi marcado
pelo distanciamento das políticas de reforma agrária. Dados do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) demonstram que no ano de 2015 não houve
sequer um hectare de desapropriação. Se
o governo Lula se consolidou por pactuar
muitos termos com a agricultura capitalista, permitindo o avanço do agronegócio, sem
abalar as bases que garantem a concentração fundiária no país, o de Dilma teve uma
postura negligente no trato das políticas de
reforma agrária.
Sobre o governo de Jair Bolsonaro, podemos
dizer que o presidente não faz nenhum tipo
de questão de esconder os traços violentos
de sua relação para com a maior parte da
sociedade brasileira. Ele é declaradamente motivador e promotor da hostilidade e
agressividade física e psicológica para com
as populações que vivem em situação de
vulnerabilidade.
Avaliando a elevação dos conflitos a partir
de 2016, podemos citar a excelente análise
de Mitidieiro Júnior et. al (2016) sobre as
ações do Legislativo a partir de 2015 revertidas em ataques aos povos do campo. Segundo o autor:
Em 2016, ano do Golpe, além dos desarquivamentos, novas propostas pipocaram
do Legislativo e Executivo. Foram 11 novos
projetos e propostas no âmbito das Leis e
29 projetos de Decretos Legislativos para
reversão de conquistas e retomadas de terra, totalizando 40 ações de ataque aos homens e mulheres do campo.
Repito aqui que tais questões refletem a situação das ocorrências de conflitos no ano
Em 2017, o então presidente Michel Temer sancionou a Medida Provisória (MP)
759/2016, que autorizou a regularização
fundiária de áreas urbanas e rurais alterando assim, a legislação da reforma agrária.
Tal MP aumentou as áreas rurais passíveis
de regularização fundiária de 1,5 mil hectares para 2,5 mil hectares, legalizando latifúndios e retirando as legislações fundiárias
com vistas a promover ainda mais o desmatamento na Amazônia. Institui-se aí a MP da
Grilagem.
Verificamos que os governos anteriores,
desde a redemocratização, não atentaram
para a reforma agrária exceto o de José Sarney e o de Lula, que criaram o primeiro e o
segundo Plano Nacional de Reforma Agrária
(PNRA). Bolsonaro, por sua vez, não somente faz vistas grossas para as ilegalidades e
impunidades cometidas pelas classes ruralista e burguesa do país, ele abertamente
propõe leis ou cria decretos que estimulam
os massacres contra as populações, como é
o caso dos decretos 10.627/21, 10.628/21,
10.629/21 e 10.630/21, que flexibilizam os
procedimentos para porte de armas; ampliam a lista de profissões autorizadas ao
uso de armas; retiram o imposto de importação de armas; e permitem a posse de arma
para toda propriedade rural.
O presidente também apresentou o Projeto
de Lei (PL) 191/2020, para regulamentar a
exploração em terras indígenas, e apoiou o
29
PL 5.518/2020, apresentado pelo deputado
Rodrigo Agostinho (PSB-SP), cujo objetivo
é de aprovar concessões de exploração das
florestas à iniciativa privada. Nesse mesmo
sentido, foi aprovada a lei que suprimiu a MP
884/2019 e eliminou o prazo de adesão ao
Cadastro Ambiental Rural (CAR), de modo
que os produtores rurais ficaram livres de
punições, como restrição ao crédito rural e
realização de inscrições e ações a qualquer
momento, vinculadas ao mesmo imóvel.
no estado. Esse processo não pretende beneficiar os camponeses posseiros e quilombolas que lutam para garantir suas terras
e territórios. Ao contrário, além dessas populações, esse tipo de regularização põe em
risco a situação dos assentamentos da reforma agrária, que sofrem com a ausência
de políticas públicas, com conflitos constantes com a Amapá Florestal e Celulose
S.A. (Amcel), e agora enfrentam a grilagem
capitaneada pelos empresários da soja.
Também não poderíamos deixar de mencionar a Lei 14.004/2020, para a “regularização” de terras da União ocupadas por particulares nos estados de Amapá e Roraima.
Segundo a Agência do Senado (2020), a medida altera a Lei 10.304/2001, que regula o
repasse de terras da União aos dois estados:
É nesse sentido que os conflitos por terra
têm impactado drasticamente as famílias
camponesas, quilombolas e indígenas. Não
há recuo nessas estatísticas (Mapa 2 anexo
1).
Permite que os particulares mantenham a
propriedade das terras, mesmo que os títulos tenham sido extintos por descumprimento de condições impostas pela União;
assegura o direito à terra mesmo aos beneficiários de títulos que não tenham registrado os documentos em cartório de
imóveis; reduz as garantias ambientais
previstas na legislação anterior; as terras
transferidas aos Estados de Amapá e Roraima devem ser utilizadas preferencialmente em atividades agropecuárias e de
desenvolvimento sustentável ou em projetos de colonização e regularização fundiária.
Observa-se ainda a concentração de famílias
em conflitos por terra na Amazônia Legal,
e também em estados da Região Nordeste,
como Bahia, Pernambuco, Paraíba, Sergipe,
margeando o litoral nordestino. Além disso,
norte do Rio Grande do Sul, sul de Santa
Catarina e a extensão oeste do Paraná, que
faz fronteira com os dois estados, apresentam alta conflitividade
É nesse contexto que as áreas em conflitos
estão cada vez mais volumosas (Gráfico 5).
Gráfico 5
Isso contrapõe a Lei 10.304/2001, que prevê o uso preferencial das glebas para atividades de conservação ambiental.
Desde que o Amapá entrou no mapa da logística das commodities, por meio do uso do
porto de Santana, as faixas de terras das
margens da BR-156 passaram a ser disputadas pelos empresários do setor de grãos,
que exercem forte pressão sobre o governo
para realização da regularização fundiária
Os anos de 2011 e 2012 apresentam, respectivamente, 14.410.623 e 13.181.570 hectares em conflitos, com queda significativa em
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
2013. Todavia, a partir de 2015, há um novo
aumento, com 21.387.160 hectares, chegando a 53.313.244 em 2019, até estabelecer um recorde, em 2020, de 77.442.957.
A Região Norte se destaca com 60.151.622
hectares de áreas em conflitos, seguida pelo
Centro-Oeste, com 15.271.178; Nordeste,
1.605.338; Sudeste, com 303.528; e Sul,
com 111.291.
Além do avanço de empresários, fazendeiros, grileiros, madeireiros e outros agentes
de conflitos invadem as terras de camponeses – posses, seringais, assentamentos etc.
– e territórios indígenas e quilombolas. Em
2020, para se defenderem da COVID-19, indígenas e quilombolas instalaram barreiras
sanitárias, que foram desrespeitadas pelos
invasores e também pelo próprio Estado,
que atua para estimular as invasões. Essas
potencializam o risco de contaminação pelo
coronavírus, especialmente entre indígenas
e quilombolas.
Outro dado que reflete o fôlego das lutas
das populações do campo são as ocupações
e retomadas, assim como os acampamentos. Tais ações constituem um elemento
relevante para compreensão das lutas dos
movimentos sociais no campo. Nesse sentido, permitem interpretar, por exemplo, em
que medida os povos indígenas e quilombolas avançam na luta pela retomada de seus
territórios ancestrais.
A formação social e econômica do Brasil,
pautada na concentração de terra para monocultura/latifúndio/trabalho escravo, somada às estruturas patriarcais e racistas,
criou uma sociedade extremamente violenta, desigual e desumana. Essa ordenação
socieconômica e institucional marginalizou
as populações campesinas, considerando-as atrasadas e retrógradas, sem espaço no
mundo capitalista moderno.
Observando a série histórica de ocupações e
retomadas (gráfico 6), percebemos uma queda sistemática das ocorrências. Entre 2011
e 2013, a Região Nordeste foi protagonista
nessas ações, seguida pela Região Sudeste.
Em 2014, o Sudeste apresenta maior número, seguido pelo Nordeste. Em 2015, o Nordeste volta a assumir a dianteira, sendo sucedido pela Região Centro-Oeste. Em 2016,
Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste
sustentam desempenhos semelhantes. Em
2017, desponta o Sudeste, em 2018, o Nordeste e, a partir de 2019, há uma queda
abrupta em todas as regiões brasileiras. Em
2019, foram registradas 46 ocupações e em
2020, apenas 29.
Gráfico 6
Gráfico 7
O gráfico do número de famílias em ocupações apresenta a seguinte dinâmica regional: entre 2011 e 2014, há protagonismo
31
do Nordeste; de 2015 a 2016, o Centro-Oeste apresenta maior número de famílias;
em 2017, desponta o Sudeste, seguido pelo
Nordeste; em 2018, o Nordeste e o Sudeste apresentam maior número de famílias;
e nos anos seguintes, 2019 e 2020, o contingente acompanha a queda do número de
ocorrências em todo o país, de sorte que as
ocupações praticamente desaparecem nesse biênio.
De 2011 a 2020, as populações do campo
realizaram, segundo a CPT, 1.817 ocupações envolvendo 206.808 famílias.
Gráfico 9
Gráfico 10
A série histórica também revela queda expressiva nos acampamentos, de tal forma
que, em 2020, apenas três dessas ações foram realizadas, ante cinco no ano anterior
(Gráfico 8).
Gráfico 8
De 2011 a 2020, foram 180 novos acampamentos, com pico em 2015 na Região Norte,
enquanto o Nordeste se destacou em 2011;
o Sul, em 2014; e o Centro-Oeste, em 2018.
Vejamos a dinâmica do número de famílias
nos novos acampamentos (Gráfico 9).
De 2011 a 2020, registraram-se 31.014 famílias em novos acampamentos, maior número na Região Centro-Oeste em 2015, seguida do Sul em 2014.
Quanto aos agentes causadores de conflitos,
sobressaem-se fazendeiros, empresários e
grileiros, seguidos de madeireiros e mineradoras, conforme demonstra o gráfico 10. Se
comparados os governos, constata-se que
a gestão de Jair Bolsonaro potencializou a
ação dos agressores, ainda que considerado o curto período de dois anos. Durante a
gestão Dilma, “fazendeiro”, a categoria que
mais provocou conflitos, está presente em
uma média de 322 conflitos anuais. Com
Bolsonaro, o número subiu para 392, um
crescimento de 22%. De acordo com a mesma métrica comparativa, outros agentes de
conflito foram igualmente responsáveis por
significativo aumento das ocorrências: “grileiro” – 48%, “empresário” – 38%, “madeireiro” – 17%. A cifra mais expressiva, contudo,
foi do próprio “governo federal”, que à época
de Dilma foi polo agressor em 45 conflitos
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
por ano e na administração Bolsonaro em
311, um crescimento exponencial de 591%.
Relacionando o número de famílias vítimas
de violências contra a ocupação e posse com
os períodos de governos nesses dez últimos
anos (gráfico 11), observamos que na gestão Dilma predominaram as ameaças de
despejo judicial, com 142.431 famílias envolvidas: ameaças de expulsão, 127.691;
invasões, 100.887; e pistolagem, 103.470.
Essas violências também prevaleceram na
gestão Temer. Já no governo Bolsonaro tiveram destaque as invasões, com 121.267
famílias envolvidas; grilagem, com 41.283;
desmatamentos ilegais, que se avolumaram, com 25.654. A partir do mesmo eixo
de análise utilizado no tópico anterior, para
comparar a ocorrência de determinadas
categorias de agentes causadores, entre
os períodos Dilma e Bolsonaro, verifica-se,
nesse último governo, um elevado aumento
percentual da média de famílias impactadas por “invasão” e “grilagem”, na ordem de
260,6% e 108,6%, respectivamente.
de sobrevivência e existência, de sorte que
têm seu modo de vida e sua (re)produção
material e cultural comprometidos. Entre os
agentes causadores pode estar o poder público, em todas as suas esferas. Um exemplo claro desse tipo de violência é a gestão
do governo Bolsonaro em relação à pandemia de Covid-19, em especial no que se refere à proteção das comunidades tradicionais
e originárias, completamente abandonadas
diante do avanço do vírus. Quilombolas e
indígenas têm sido os mais impactados e
tentaram, por iniciativa própria, conter os
danos o avanço da doença, não sem muitas
vítimas fatais.
Gráfico 12
Gráfico 11
Em 2020, a CPT sistematiza uma nova tipificação de violência, denominada “violações
nas condições de existência”, que atingiu
53.456 famílias. Trata-se de um processo
extremo de abandono e/ou agressão, que
submete as comunidades a condições-limite
Entre os grupos mais atingidos pela violência contra a ocupação e a posse (gráfico 12),
destacam-se: os povos indígenas nas regiões, Norte, Nordeste e Centro-Oeste; as populações quilombolas, no Norte e Nordeste;
sem-terra no Norte, Nordeste e Centro-Oeste; posseiros, no Norte e no Nordeste; assentados e pequenos proprietários no Nordeste e Centro-Oeste; ribeirinhos, no Norte;
seringueiros, no Acre; camponeses de fundo
e fecho de pasto no Nordeste; e extrativistas,
no Norte. Em 2020, o mapa da distribuição
de sujeitos sociais da luta pela terra e território não sofreu grandes alterações sobre
as ocorrências dos tipos de sujeitos (Mapa 3
anexo 1).
33
A conjuntura de 2020 alterou os mapas de
conflitos, por conta do adensamento das situações de pobreza e de violações das condições de existência dos povos no campo.
Conflitos socioterritoriais em 2020: Violência contra os povos do campo e a COVID-19
É num contexto histórico de transformações
sociais e econômicas abruptas, que a pandemia da COVID-19 surgiu no mundo ainda sob os impactos da crise de 2008. Nesse
cenário, os governos de extrema-direita, que
se estabeleceram, nos últimos anos, em países como o Brasil, implementaram políticas
de austeridade que visam à eliminação de
direitos sociais e potencializaram todos os
problemas graves que uma situação de pandemia poderia trazer.
Se a gestão da pandemia foi ruim nas zonas urbanas, que possuem infraestrutura
mínima de serviços para manutenção da
saúde e da vida, no campo, a situação se
agravou mais ainda, o que se refletiu na dinâmica dos conflitos socioterritoriais. Foram registrados, em 2020, 316 ocorrências
de COVID-19, envolvendo 79.038 famílias.
Somando-se aos casos de ocorrências históricas de conflitos, temos 1.892 ocorrências
e 250.663 famílias em conflitos por terra e
em situação de COVID no Brasil (Mapa 4
anexo 1).
Comparando o mapa de ocorrências históricas e o mapa com a inclusão dos eventos
relacionados à COVID-19, observamos que
a maior elevação dos conflitos ocorreu nas
regiões, estados e municípios já impactados
pelos conflitos no campo. Todavia, observamos um número crescente de ocorrências
no estado Amazonas, Roraima, Acre, Pará,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Essa situação se expressa também no número de
famílias em conflitos e casos de COVID-19
(Mapa 5 anexo 1).
Esses estados concentram um número considerável de territórios indígenas e quilombolas. É onde também observamos maior
predominância de casos com mais de 800
famílias impactadas por ocorrências históricas e de COVID-19. A situação dos sujeitos
sociais é expressa a seguir (Mapa 6 anexo
1).
Verifica-se que: indígenas são predominantes em todas as partes do país; posseiros se
destacam no Amapá, Maranhão, Acre, Tocantins e estados do litoral da Região Nordeste; Quilombolas, na Bahia, Tocantins,
Pará, Maranhão, Amapá e Goiás; e sem-terra, no Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Conflitos por água
A Comissão Pastoral da Terra, desde 2004,
tem registrado e divulgado os dados de
conflitos por água. Após o acirramento dos
conflitos e ocorrências relativas a vários
problemas relacionados à ‘crise por água’,
decidiu-se publicar nos Cadernos de Conflitos no Campo aqueles decorrentes de
processos de disputa pela apropriação da
renda da água. Eles englobam Estado, políticas públicas, empresas, demais setores
da sociedade civil no campo e na cidade,
quando se trata, por exemplo, dos conflitos gerados pela construção de barragens
para exploração de energia elétrica (Chaves, 2015) (Gráfico 13).
Gráfico 13
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Na série histórica de 2011 a 2020, é possível observar o crescimento dos conflitos
por água. A partir de 2015, há uma sensível
elevação, com pico em 2019, ano em que se
destaca a Região Nordeste.
Em 2018, Minas Gerais e Bahia tiveram 65
ocorrências, de modo a demonstrar o quanto as áreas de Cerrado são impactadas por
esse tipo de conflito. As companhias mineradoras, especialmente, as internacionais,
são as que mais causam conflitos em solo
mineiro. Na Bahia, avançam sobre as terras
dos geraizeiros. Fazendeiros e empresários,
por sua vez, são os principais causadores de
conflitos com pescadores.
Algumas questões para o contexto
Os dados analisados nos permitem sugerir
que, na medida em que os conflitos por terra e violências contra a ocupação e a posse
aumentaram, as ocupações e retomadas,
assim como os acampamentos, entraram
em declínio sistemático.
O recuo de ocupações e acampamentos vem
ocorrendo desde os governos de Fernando
Henrique Cardoso. Não obstante uma menor incidência dos sem terra nessas ações,
é perceptível, ao longo das décadas, a retomada das lutas pelos posseiros, pequenos
proprietários, indígenas e quilombolas.
Gráfico 14
Sobre o número de famílias em conflitos por
água (gráfico 14), nota-se que a Região Norte é predominante, especialmente em 2018,
com registro de 44.955 famílias, e em 2020,
com 19.016. Também se destacam, nos dois
últimos anos, as regiões Nordeste e Sudeste. Em 2020, no Rio de Janeiro, na baía de
Sepetiba, por exemplo, foi registrado um
conflito envolvendo 8.065 famílias de pescadores. A denúncia foi realizada pela Associação de pescadores contra a mineradora
Vale e a Thyssen Krupp CSA. O ano de 2020
fechou a série histórica com 350 ocorrências e 56.292 famílias.
No período FHC, o recuo se deu por conta
da repressão às famílias que vinham buscando, principalmente por meio do Movimento Sem-Terra, ingressarem na luta
pela terra. No governo Lula, a iniciativa de
recuar à luta pela terra se deu por conta dos pactos políticos que os movimentos
construíram com o governo. Não foi por
conta de repressão, foi opção. Violência
direta, assassinatos, ameaças de morte e
tentativas de assassinato do início da década de 1980 até os anos de FHC tinham
como alvo principal os grupos de posseiros
e depois de sem-terra, por conta das manifestações coletivas e recorrentes acampamentos e ocupações realizadas, ou seja, a
possibilidade de destruir o movimento socioespacial podia constituir-se em um impeditivo do próximo passo dos movimentos
camponeses, a ação total de territorializar-se, a conquista da terra (Chaves, 2015).
Na gestão Dilma experimentou-se os vácuos
das políticas de reforma agrária e nos governos posteriores, de Temer e Bolsonaro,
retornamos à violência repressiva, à fome
e à pobreza no campo. Em 2017 houve o
recrudescimento dos massacres, como o de
35
Pau D’arco no Pará.
A partir de 2020, a pandemia de Covid-19
está sendo utilizada por Bolsonaro como
política de extermínio das populações vulneráveis no campo e na cidade. O povo Guajajara no Maranhão chora constantemente
as mortes de seus parentes. Em 2020 foram
assassinados sete indígenas, três quilombolas, três ribeirinhos, um posseiro e dois
sem terras, demonstrando que as lutas pela
terra no Brasil precisam reencontrar seus
caminhos.
Embora ocupações, retomadas e acampamentos, formas históricas de resistência,
tenham arrefecido, em especial nos últimos dois anos, por razões políticas [cautela
diante da postura institucional belicosa do
governo Bolsonaro] e sanitárias [precaução
contra a pandemia de Covid-19], a luta das
populações indígenas e quilombolas, pela
conquista e manutenção de seus territórios,
assim como do campesinato pelo direito às
suas pequenas propriedades e posses, permanece incessante.
As manifestações e as jornadas, nesse último ano, ganharam espaços até então hostis
para grande parte das populações que vivem no campo: os meios virtuais. Dessa forma, outras expressões de resistência foram
possíveis, como “lives” e “tuitaços”, graças à
apropriação das redes sociais. As marchas,
por sua vez, remetem, de certa maneira,
às lutas da década de 1980, dado um novo
avanço da fome. Só foi possível amparar as
vítimas da insegurança alimentar por conta
da solidariedade de entidades e organizações sociais que se empenharam no combate à fome. Neste contexto de pandemia
muitos e muitas se expuseram à COVID-19
para levar o pão aos companheiros. Tomaram para si as tarefas do governo, do Estado. Assim, se fez um certo tipo de ocupação.
Um certo tipo de sócio-espacialização.
[...] a ação de ocupar ou acampar estão
sob essa orientação. A luta camponesa
pela terra se construiu sob uma tríade que
ainda não foi bem entendida pelos movimentos organizados. De um lado a ocupação como instrumento de negação da concentração da propriedade privada da terra
e negação de seu acesso aos camponeses.
De outro, o acampamento como ação positiva de negação da negação, a fixação
ainda que temporária dos camponeses na
terra concentrada negada. E, por último, o
assentamento como conquista irretorquível daquilo que foi sempre negado, a territorialização camponesa na fração capitalista do território capitalista mundializado.
É luta de classes, é luta camponesa por
um pedaço do mundo para fundar o território camponês da esperança e da partilha. É por isso que o campesinato nunca
cessou sua luta, apesar dos movimentos
organizados deixarem de ser socioterritoriais para serem apenas socioespaciais.
Porém, permanece a luta da classe camponesa, esta, sim, sempre socioterritorial.
É assim que a história segue (OLIVEIRA,
inédito in Chaves 2015).
A pandemia da COVID-19 também revelou
e fomentou a violência contra as mulheres
em todos os cantos, além de expor suas três
dimensões: a violência do Estado, do capital e a doméstica/privada. A mulher, como
maior responsável pelo trabalho do CUIDADO, estruturante nas relações sociais e
econômicas, de uma maneira geral tem sido
profundamente aviltada nos vários processos de luta por terra e território, nos quais
regularmente assume a liderança das comunidades. A mulher é protagonista das lutas e está sujeita a mais um risco dentro do
opressivo ambiente patriarcal.
No que tange à relação entre as lutas e as
conquistas camponesas, verifica-se que a
abertura de novas posses e pequenas propriedades registradas no Censo Agropecuá-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
rio de 2017 demonstram a reprodução dos
camponeses.
Em 2017, eles alcançaram o total de
80.891.084 hectares, sendo que, em 2006,
atingiam um total de 80.102.694 hectares,
portanto, uma diferença de 788.390 hectares a mais, ou seja, um total de 0,98% a
mais. Com relação ao aumento dos camponeses (familiares), os proprietários apresentaram em 2017 um total de 71.336.379
hectares contra o total de 70.190.973 hectares em 2006, ou seja, uma diferença de
1.145.406 hectares, o que equivale a dizer
que apresentou 1,63% a mais (Oliveira,
2020).
Assim, os registros do censo confluem com
os dados de posseiros, pequenos proprietários e assentados, envolvidos em conflitos ao
longo da série histórica aqui apresentada.
À guisa de conclusão, é necessário destacar que a presente análise é inesgotável em
sua multiplicidade de razões, sejam elas de
ordem sócio-econômica, existencial, política ou epistêmica. Nesse sentido, os conflitos sistematizados pela CPT, sobre os quais
recortamos a década de 2011 a 2020, são
fonte perene de uma reflexão vívida, plena
de práxis, capaz de instar, motivar e sustentar a luta de tantos camponeses, camponesas, indígenas, quilombolas, posseiras,
posseiros, além de todas e todos que com
eles e elas se irmanam, alimentados pela
convicção de que só há mundo possível: um
mundo melhor.
Referências bibliográficas
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socioterritoriais na região do bico do papagaio.
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região do bico do papagaio”. Revista Geografia
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OLIVEIRA, A. U. “A geografia agrária e as transformações recentes no campo Brasileiro”. In: Novos caminhos da geografia brasileira (org. Carlos). 5. Ed. Contexto: São Paulo, 2007.
______________(Org). A grilagem das terras na
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MITIDIERO J. M. A. et al. “Ataques aos direitos dos povos do campo: as ações do legislativo
e executivo federal”. In Conflitos no Campo no
Brasil 2016. Goiânia-GO: Comissão Pastoral da
Terra, 2016.
37
Anexo 1
Mapa1
Mapa 3
Mapa 2
Mapa 4
Conflitos
no
Campo Brasil
Mapa5
2020
Mapa6
39
Tabela 2 - Conflitos no Campo (2020)
Acre
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Acrelândia
Ramal Campo Novo
12/02/2020 45
Posseiro
Acrelândia
Faz. da Rondobrás/BR-364/Km 105/
Gleba Porto Luiz
08/05/2020 12
Posseiro
Acrelândia
Fazenda Canaã
15/08/2020 72
Posseiro
Acrelândia
Faz. do Senhor Viana/Ramal da 7/
Estrada AC-475/Gl. Porto Luiz
18/08/2020 60
Posseiro
Posseiro
Acrelândia
Seringal Fortaleza
18/08/2020 60
Acrelândia
Faz. Sará/Gleba Porto Luiz
01/09/2020 30
Posseiro
Acrelândia
Faz. Graúna/BR-364
12/09/2020 80
Posseiro
Acrelândia
Seringal Triunfo/Ramal do Pelé
14/09/2020 129
Posseiro
Acrelândia
Faz. Girassol/Ocup. do Brito
20/09/2020 14
Posseiro
Acrelândia
Faz. do Zé Capim/BR-364/Km 105
10/10/2020 40
Posseiro
Acrelândia
Fazenda Jéssica
13/10/2020 72
Posseiro
Acrelândia
Seringal Porto Dias
18/10/2020 80
Extrativista
Posseiro
Acrelândia
Ocupação do Baiano
18/10/2020 38
Acrelândia
Fazenda do Dr. Roberto
20/10/2020 41
Posseiro
Acrelândia
Fazenda Zé Juína
25/10/2020 50
Posseiro
Posseiro
Bujari
Seringal Mercês
20/10/2020 300
Bujari
Faz. Canary/Ramal do Cacau
20/10/2020 400
Posseiro
Capixaba
Seringal Capatará /Faz. do Jorge Moura
07/01/2020 15
Posseiro
Senador Guiomard, Capixaba
Seringal Capatará
04/09/2020 97
Posseiro
Cruzeiro do Sul
Comunidade Socó
02/02/2020 14
Posseiro
Cruzeiro do Sul
Seringal Russas
09/10/2020 14
Seringueiro
Cruzeiro do Sul
Seringal Valparaíso
14/10/2020 130
Seringueiro
Feijó
T.I Kulina do Rio Envira
31/08/2020 34
Indígenas
Feijó
T. I. Katukina/Kaxinawa/Aldeias Paredão/
Paroá/Pupunha/Belo Monte
31/08/2020 252
Indígenas
Mâncio Lima
T.I Poyanawa/Barreira Sanitária
23/03/2020 130
Indígenas
Mâncio Lima, Rodrigues Alves
Seringal Santa Cruz/Com. do Oco
18/09/2020 30
Posseiro
Mâncio Lima
T.I Poyanawa/Barreira Sanitária
22/09/2020 130
Indígenas
Manoel Urbano, Santa Rosa do
Purus, Sena Madureira
Parque Estadual do Chandiess/
Jaminawa, Madijá e Manchineri
30/06/2020
Indígenas
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal Porto Central
10/11/2020 18
Manoel Urbano
Seringal Itatinga
10/11/2020 21
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal Afluente
10/11/2020 20
Seringueiro
Posseiro
Manoel Urbano
Seringal Areis
10/11/2020 101
Manoel Urbano
Seringal Novo Destino
10/11/2020 70
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal Barcelona
10/11/2020 30
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal São Salvador
10/11/2020 15
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal Santa Cruz
10/11/2020 20
Seringueiro
Manoel Urbano
Seringal Mercejana
10/11/2020 15
Seringueiro
Marechal Thaumaturgo
T. I. Arara do Amônea/Apolima-Arara/P. A
24/01/2020 82
do Rio Amônea
Indígenas
Marechal Thaumaturgo
T. I. Arara do Amônea/Apolima-Arara/P. A
31/08/2020 82
do Rio Amônea
Indígenas
Plácido de Castro
Ocupação Faz. Jorge Moura
04/05/2020 6
Posseiro
Plácido de Castro
Ocupação Faz. Jorge Moura II
01/07/2020 60
Posseiro
Plácido de Castro
Faz. Luiz Gomes/Seringal Capatará
31/07/2020 80
Posseiro
Porto Walter
Ramal do Besouro/Seringal Nazaré
10/09/2020 100
Posseiro
Rio Branco
Seringal Belo Horizonte
10/02/2020 100
Seringueiro
Rio Branco
Seringal Cachoeira
15/05/2020 48
Seringueiro
Rio Branco
Seringal São Bernardo
01/06/2020 30
Seringueiro
Rio Branco
Seringal São Francisco do Espalha
06/09/2020 350
Seringueiro
Rio Branco
Seringal Macapá
17/09/2020 114
Seringueiro
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Rio Branco
Seringal Humaitá
21/09/2020 20
Seringueiro
Rio Branco
Seringal São Bernardo
07/10/2020 30
Seringueiro
Rio Branco
Seringal São Francisco do Iracema
25/10/2020 300
Seringueiro
Rio Branco
Ramal São Joãozinho
26/10/2020
Assentado
Rodrigues Alves
Comunidade Pucalpa I
20/08/2020 8
Posseiro
Sena Madureira
Seringal Novo Amparo/Ramal do 25
06/10/2020 17
Seringueiro
Sena Madureira
Seringal Novo Amparo/Ramal do 38/
Ramal do Ouro
06/10/2020 15
Seringueiro
Sena Madureira
Seringal Novo Amparo/Ramal do 17
06/10/2020 15
Seringueiro
Sena Madureira
Seringal Novo Amparo/Ramal do 15
06/10/2020 15
Seringueiro
Tarauacá
T. I. Rio Gregório/Índios Katukina e
Yawanawá/Barreira Sanitária
06/05/2020 560
Indígenas
Tarauacá
T. I. Rio Gregório/Índios Katukina e
Yawanawá/Barreira Sanitária
22/09/2020 560
Indígenas
Subtotal: 59
4469
Total conflitos por terra - Acre: 59
4469
Total dos Conflitos no Campo - Acre: 59
Pessoas: 17876
Alagoas
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Atalaia
Acamp. Marielle Franco/Faz. Santa Tereza
26/05/2020 150
Sem Terra
Atalaia
Acamp. Marielle Franco/Faz. Santa Tereza
27/05/2020 150
Sem Terra
Atalaia
Faz. São Sebastião/Acamp. São José
23/07/2020 70
Sem Terra
Coruripe
Área Próxima ao Povoado Poxim
26/09/2020 50
Sem Terra
Girau do Ponciano
Acamp. Mandacaru/Faz. Salgadinho
10/02/2020 45
Sem Terra
Craíbas, Girau do Ponciano
Faz. Urussu/Acamp. Rosa Luxembrugo
17/07/2020 56
Sem Terra
Girau do Ponciano
P. A. Roseli Nunes/Faz. Tingui
14/10/2020 35
Assentado
Messias
Faz. Lageiro/Us. Utinga Leão/Área
Revolucionária Renato Nathan
03/09/2020 115
Sem Terra
Murici
Faz. Bota Velha/Acamp. Bota Velha
02/01/2020 60
Sem Terra
Palmeira dos Índios
T. I. Xucuru-Kariri/Barreira Sanitária
23/12/2020 329
Indígenas
Pão de Açúcar
Faz. Pai Mateus/Acamp. Fidel Castro
22/01/2020 22
Sem Terra
Pão de Açúcar
Faz. Pai Mateus/Acamp. Fidel Castro
02/05/2020 22
Sem Terra
Porto de Pedras
Faz. São Domingos/Acamp. Domingas
11/09/2020 15
Sem Terra
São Brás, Porto Real do Colégio
T. I. Kariri-Xocó/Barreira Sanitária
23/12/2020 575
Indígenas
São Sebastião
Acamp. Marciana Sera m/Faz. Pedras
17/07/2020 52
Sem Terra
Teotônio Vilela
Acamp. Luciano Alves/Faz. Imburi
17/07/2020 45
Sem Terra
Traipu
Acamp. Mandacaru/Faz. Balança
13/02/2020 75
Sem Terra
Traipu
Acamp. Mandacaru/Faz. Balança
05/10/2020 75
Sem Terra
Subtotal: 18
1694
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Coruripe
Nome do Conflito
Área Próxima ao Povoado Poxim
Data
Famílias Categoria
26/09/2020 50
Subtotal: 1
50
Total conflitos por terra - Alagoas: 19
1694
Total dos Conflitos no Campo - Alagoas: 19
Sem Terra
Pessoas: 6776
Amapá
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Amapá
Base Aérea/Localidade Próxima ao
Cruzeiro
31/05/2020 40
Posseiro
Amapá
Com. ao Longo do Rio Laranjeiras/Amapá
Grande/Piquiá
30/06/2020 30
Posseiro
41
Amapá
Fazenda Espírito Santo
30/10/2020 10
Posseiro
Amapá
São Roque/Redondo
30/11/2020 30
Posseiro
Amapá
Fazenda Itapoã
31/12/2020 15
Posseiro
Calçoene
Assentamento Irineu Filipe
31/01/2020 50
Assentado
Calçoene
Comunidade Sete Ilhas
28/02/2020 15
Posseiro
Calçoene
Asa Aberta
10/08/2020 40
Posseiro
Calçoene
Juncal
30/11/2020 30
Posseiro
Calçoene
Ramal Ilha Grande
01/12/2020 15
Posseiro
Cutias
Com. Alta Floresta
31/12/2020 45
Posseiro
Ferreira Gomes
Fundos Livramento do Aporema
31/01/2020 20
Ribeirinho
Ferreira Gomes
Terra Preta
31/03/2020 1
Posseiro
Ferreira Gomes
Com. Quilombola Igarapé do Palha
30/06/2020 25
Quilombola
Itaubal
Jupati
30/04/2020 15
Ribeirinho
Itaubal
Comunidade de Curicaca
14/06/2020
Ribeirinho
Itaubal
Com. Quil. São Miguel do Macacoari
30/06/2020 20
Quilombola
Laranjal do Jari
Ramal do Retiro
31/01/2020 20
Extrativista
Pedra Branca do Amapari,
Laranjal do Jari
T. I. Waiãpi/Aldeia Mariry/Aldeia Missão
Tiriyó/Parque Indígena Tumucumaque/
Barreira Sanitária
05/06/2020 300
Indígenas
Macapá
Área às Margens da AP-70/Abacate da
Pedreira/Faz. Santa Izabel
03/02/2020 12
Sem Terra
Macapá
Faz. São Sebastião/Campina de São
Benedito/Pacuí
25/02/2020
Agente pastoral
Macapá
Com. Quilombola Lagoa dos Índios/
Goiabal
22/04/2020
Quilombola
Macapá
Santo Antônio da Pedreira
30/04/2020 30
Ribeirinho
Macapá
Com. Quilombola Lago do Papagaio
02/05/2020
Quilombola
Macapá
Quilombo do Ambé
04/05/2020 50
Quilombola
Macapá
Com. Quilombola Ressaca da Pedreira
05/05/2020 56
Quilombola
Macapá
Quilombo do Ambé
31/07/2020 50
Quilombola
Macapá
Bailique-Foz
31/08/2020 15
Posseiro
Macapá
Assent. Osmar Ribeiro/Ramal do
Abacate/Km 34/BR-156
31/10/2020 80
Assentado
Macapá
Com. Quilombola Curiaú
10/11/2020 108
Quilombola
Macapá
Com. Quilombola Torrão do Macapi
18/11/2020
Quilombola
Macapá
Quilombo Conceição do Macacoari
28/12/2020 20
Quilombola
Macapá
Com. Quilombola do Rosa
28/12/2020
Quilombola
Mazagão
Assentamento Pancada do Camaipi
31/08/2020 400
Assentado
Mazagão
Assentamento Pancada/Rio Vilanova
31/12/2020 1
Posseiro
Oiapoque
Vila Brasil/Ilha Bela
31/01/2020 200
Extrativista
Oiapoque
T.I. Galibi de Oiapoque/Galibi Kalinã/
Aldeia São José do Galibi/Barreira
Sanitária
12/04/2020 22
Indígenas
Oiapoque
Terra Indígena Uaçá I e II/T.I. Palikur/T.I.
Galibi-Marworno/T.I.Karipuna do Amapá
06/05/2020 1115
Indígenas
Porto Grande
Sítio São Francisco/Igarapé Gravata
28/02/2020 2
Posseiro
Ferreira Gomes, Porto Grande
UHE Cachoeira Caldeirão
11/06/2020 20
Pescador
Porto Grande
Área da Codepa/Km 92
31/07/2020 22
Posseiro
Porto Grande
P. A. Nova Canaã
30/09/2020 1
Assentado
Santana
P. A. Matão do Piaçacá
31/01/2020 3
Assentado
Santana
Com. Quilombola Engenho do Matapi
06/05/2020
Quilombola
Santana
Assentamento Anauerapucu
31/08/2020 1
Posseiro
Santana
Fazenda Pau Furado
30/09/2020 15
Ribeirinho
Serra do Navio
Assentamento Silvestre
31/07/2020 12
Assentado
Serra do Navio
Ramal da Raquel
30/10/2020 2
Posseiro
Tartarugalzinho
Quilombo São Tomé
10/02/2020 30
Quilombola
Tartarugalzinho
Redenção do Araguari
28/02/2020 5
Posseiro
Tartarugalzinho
Ramal Nova Canaã/Colônia de Itaubal/Faz.
Santa Isabel/Pedreiro/Boca do Braço
30/06/2020 27
Posseiro
Tartarugalzinho
Las Palmas
31/07/2020 5
Posseiro
Tartarugalzinho
Área na Margem Direita do Rio Itaubal/
São Raimundo
31/08/2020 2
Posseiro
Tartarugalzinho
Comunidade ao Longo do Rio Aporema
31/08/2020 1
Posseiro
Macapá
Áreas em Itaubal/Agronegócio Sinal
Verde/Boa Vista da Pedreira
31/01/2020 20
Posseiro
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Subtotal: 55
2998
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Macapá
Nome do Conflito
Área às Margens da AP-70/Abacate da
Pedreira/Faz. Santa Izabel
Data
Famílias Categoria
18/01/2020 12
Subtotal: 1
12
Total conflitos por terra - Amapá: 56
2998
Sem Terra
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Cutias
Com. Alta Floresta
31/12/2020 45
Uso e
preservação
Ferreira Gomes
UHE Ferreira Gomes
24/01/2020 500
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Ferreira Gomes
UHE Coaracy Nunes
17/04/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Macapá
Santa Luzia/São Tomé/Rio Pacuí/10
Comunidades Próximas ao Rio Pacuí
30/09/2020 200
Apropriação
Particular
Impedimento de acesso
à água
Macapá
Com. Quilombola Casa Grande/APA
Curiaú
09/11/2020 45
Uso e
preservação
Impedimento de acesso
à água
Ferreira Gomes, Porto Grande
UHE Cachoeira Caldeirão
17/04/2020 20
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 6
810
Total dos Conflitos no Campo - Amapá: 62
Pessoas: 15232
Amazonas
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
de Olivença, Benjamin Constant
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
08/01/2020 1000
Indígenas
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
de Olivença, Benjamin Constant
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
11/04/2020 1000
Indígenas
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
de Olivença, Benjamin Constant
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
28/05/2020 1000
Indígenas
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
de Olivença, Benjamin Constant
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
28/10/2020 1000
Indígenas
Autazes
T. I. Trincheira
08/01/2020 62
Indígenas
Autazes
Aldeia Taquara
08/01/2020
Indígenas
Autazes
T. I. Patauá
08/01/2020 47
Indígenas
Autazes
Aldeia São Félix
08/01/2020 120
Indígenas
Autazes
Aldeia Padre
03/02/2020 30
Indígenas
Autazes
T. I. Pantaleão
03/02/2020
Indígenas
Autazes
T. I. Jauary
07/02/2020 315
Indígenas
Autazes
T. I. Capivara/Barreira Sanitária
15/04/2020 61
Indígenas
Autazes
Aldeia Murutinga/T. I. Murutinga/
Barreira Sanitária
21/05/2020 600
Indígenas
Benjamin Constant
Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna
21/09/2020
30
Indígenas
Benjamin Constant
Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna
28/09/2020
30
Indígenas
Boca do Acre
P. A. Monte
18/02/2020 300
Assentado
Boca do Acre
Faz. União/Cruzeirinho
17/05/2020 314
Posseiro
Boca do Acre
Resex Arapixi/PAE Antimary
21/05/2020 300
Extrativista
Boca do Acre
Seringal Perseverança
10/06/2020 25
Extrativista
Boca do Acre
Seringal Bom Lugar/Com. Nova Vida
12/06/2020 60
Ribeirinho
Boca do Acre
Ramal do 37/Seringal Entre Rios/
Recreio do Sto. Antônio/Gl. Pauene
15/06/2020 31
Posseiro
Boca do Acre
Gleba Novo Axioma Redenção/Km 90/
Ramal Santa Helena
15/06/2020 28
Posseiro
Boca do Acre
Ramal do Garrafa
25/06/2020 60
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Pirapora
01/07/2020 350
Posseiro
Impedimento de acesso
à água
43
Boca do Acre
Seringal Bom Lugar/Ramal do Espigão
22/07/2020 300
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Macapá
08/08/2020 114
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Cametá
18/08/2020 36
Seringueiro
Boca do Acre
Seringal Andaraí
20/08/2020 120
Posseiro
Boca do Acre
Ocup. do Vinha/Ramal São Francisco/
Km 60
02/09/2020 25
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Europa
15/09/2020 30
Extrativista
Boca do Acre
Seringal Cajueiro
18/09/2020 25
Posseiro
Boca do Acre
Gl. Novo Axioma Redenção/Ramal do
Km 104/Vila Velha
19/09/2020 33
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Bananeira
25/09/2020 26
Extrativista
Boca do Acre
Seringal Entre Rios/Ramal do 52
10/10/2020 39
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Novo Axioma Redenção/
Ocup. do Diva
11/10/2020 48
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Igarapé Grande
14/10/2020 26
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Porto Central
15/10/2020 300
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Codó/PAE Antimary
17/10/2020 23
Seringueiro
Boca do Acre
Seringal Entre Rios/Ramal São
Francisco/Faz. do Km 60/Faz. Savana
19/10/2020 28
Posseiro
Boca do Acre
Gleba Francisco Sevalha
20/10/2020 800
Extrativista
Boca do Acre
Seringal Entre Rios/Ramal do 64/Com.
Lua Nova
29/10/2020 15
Posseiro
Boca do Acre
Seringal Igarapé Grande
20/11/2020 26
Posseiro
Careiro
T. I. Lago do Piranha
03/02/2020 50
Indígenas
Careiro da Várzea
T. I. Sissaíma
08/01/2020 74
Indígenas
Iranduba
Com. Vera Lúcia Castelo Branco/Km
13/Barreira Sanitária
25/08/2020 165
Posseiro
Itacoatiara
Com. Rondon I e II/N. Sra. Aparecida
do Jamanã/Jesus é Meu Rei
21/05/2020 600
Ribeirinho
Lábrea
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Mariele Franco
28/02/2020 125
Posseiro
Lábrea
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Mariele Franco
26/07/2020 125
Posseiro
Lábrea
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Mariele Franco
22/11/2020 125
Posseiro
Lábrea
T. I. Hi-Merimã
27/11/2020 50
Indígenas
Lábrea
Seringal São Domingos
01/12/2020 140
Posseiro
Manaus
Prainha do Tarumã
30/08/2020 4
Indígenas
Manaus
Prainha do Tarumã
05/09/2020 4
Indígenas
Manaus
Prainha do Tarumã
09/09/2020 4
Indígenas
Manaus
P. A. Água Branca
03/11/2020 1
Assentado
Manicoré
T. I. Lago Capanã
05/04/2020 49
Indígenas
Maués
Próximo à Com. Santa Clara/Rio
Urupadi/Polo 11/Sítio São Francisco
07/06/2020
Ribeirinho
Parintins, Maués, Barreirinha
T. I. Andirá-Marau/Barreira Sanitária
01/08/2020 3337
Indígenas
Parintins, Maués, Barreirinha
T. I. Andirá-Marau/Barreira Sanitária
15/10/2020 3337
Indígenas
Presidente Figueiredo
Com. Terra Santa/Km 152/BR-174
21/12/2020 25
Posseiro
Rio Preto da Eva
Comunidade Bons Amigos 1, 2 e 3
19/05/2020 111
Posseiro
São Gabriel da Cachoeira
T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária
17/04/2020 1100
Indígenas
São Gabriel da Cachoeira
T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária
16/07/2020 1100
Indígenas
São Gabriel da Cachoeira
T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária
07/12/2020 1100
Indígenas
São Paulo de Olivença
Com. Kambeba/Castanhal do
Ajaratuba
09/10/2020 700
Indígenas
Tonantins
T. I. Jerusalém do Urutuba
06/03/2020
Indígenas
Subtotal: 66
12252
Acampamentos
Município(s)
Lábrea
Nome do Conflito
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Mariele Franco
Data
Famílias Categoria
22/11/2020 125
Subtotal: 1
125
Total conflitos por terra - Amazonas: 67
12252
TRABALHO
Posseiro
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Trabalho Escravo
Município(s)
Lábrea
Nome do Conflito
Área em Lábrea
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
20/07/2020 14
11
Subtotal: 1
14
11
Total Conflitos Trabalhistas - Amazonas: 1
14
11
Extração de madeira
(desmatamento)
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Autazes
T. I. Pantaleão
03/02/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Autazes
T. I. Trincheira
08/01/2020 62
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Autazes
Aldeia Padre
03/02/2020 30
Uso e
preservação
Autazes
Aldeia Taquara
08/01/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Autazes
T. I. Patauá
08/01/2020 47
Uso e
preservação
Autazes
Aldeia São Félix
08/01/2020 120
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Impedimento de acesso
à água
Benjamin Constant
Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna
28/09/2020
30
Apropriação
Particular
Careiro
T. I. Lago do Piranha
03/02/2020 50
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Careiro da Várzea
T. I. Sissaíma
08/01/2020 74
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Itacoatiara
Lago Canaçari
25/08/2020
Uso e
preservação
Pesca predatória
Nova Olinda do Norte, Borba
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e
Outras
07/08/2020 140
Uso e
preservação
Pesca predatória
Nova Olinda do Norte, Borba
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e
Outras
09/08/2020 140
Uso e
preservação
Pesca predatória
Parintins
Comunidade Brasil Roça
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Parintins
Comunidade Boa Esperança
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Parintins
Com. Bom Socorro do Zé Açu
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Parintins
Comunidade Nova Esperança
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Parintins
Comunidade Paraíso
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Parintins
Com. Nossa Senhora das Graças
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Parintins
Comunidade Vista Alegra
27/07/2020 250
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Parintins
Comunidade Nazaré
27/07/2020 250
Uso e
preservação
São Paulo de Olivença
Com. Kambeba/Castanhal do
Ajaratuba
15/09/2020 700
Apropriação
Particular
Subtotal: 21
3253
Total dos Conflitos no Campo - Amazonas: 89
Pessoas: 62034
Bahia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Andorinha
Com. Morro Branco
01/07/2020
Posseiro
Barra
Comunidade Quilombola Torrinha/
Barreira Sanitária
01/05/2020 100
Quilombola
Barra
Com. Quilombola Igarité/Barreira
Sanitária
12/05/2020 500
Quilombola
45
Barra
Comunidade Quilombola Torrinha/
Barreira Sanitária
17/05/2020 100
Quilombola
Barra
Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira
04/09/2020 56
Camponês de fundo e fecho de pasto
Barra
Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira
11/09/2020 56
Camponês de fundo e fecho de pasto
Barra
Com. Quilombola Pedra Negra dos
Extremos/Barreira Sanitária
31/12/2020
Quilombola
Bom Jesus da Lapa
Com. Quilombola Fortaleza
21/01/2020 160
Quilombola
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
30/01/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
01/07/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
31/07/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Com. Mata de Eufrásio
31/07/2020 15
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade de Malhada
31/07/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade Papagaio
31/07/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas
Com. Amansador/Lago do Maciel/Pé do
Morro/Mata do Bom Jesus/Nova
Santana/Nova Vista/Novo Horizonte/
Riachão/Três Reis
30/09/2020 470
Posseiro
Caetité
Com. Curral Velho
07/05/2020 80
Pequeno proprietário
Cairu
Com. de Garapuá/Ilha de Tinharém
15/05/2020 80
Pescador
Camamu
Com. Quilombola Barroso
02/03/2020
Quilombola
Camamu
Com. Quilombola Barroso
08/05/2020
Quilombola
Campo Alegre de Lourdes
8 Comunidades de Angico dos Dias
24/03/2020 400
Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes
Comunidades de Lagoa do Sal/Malhada
06/09/2020 44
Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes
Comunidades de Lagoa do Sal/Malhada
14/09/2020 44
Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes
Comunidade de Pitombas
15/09/2020 27
Camponês de fundo e fecho de pasto
Canudos
Com. de Raso/Barreira Sanitária
27/05/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Canudos
Com. Rio do Suturno/Barreira Sanitária
27/05/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Capim Grosso
Comunidade de Melancia/Faz. Morro
Branco
31/12/2020
Posseiro
Capim Grosso
Com. Alto Bonito/Faz. Morro Branco
31/12/2020
Posseiro
Capim Grosso
Com. Morro Branco/Faz. Morro Branco
31/12/2020
Posseiro
Serra do Ramalho, Carinhanha
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Fria
20/05/2020 800
Quilombola
Serra do Ramalho, Carinhanha
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Fria
26/05/2020 800
Quilombola
Serra do Ramalho, Carinhanha
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Fria
15/06/2020 800
Quilombola
Carinhanha
Quilombo Barra do Parateca
16/06/2020 214
Quilombola
Casa Nova
Comunidade Serra das Imagens
02/05/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova
Comunidade Serra das Imagens
31/05/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova
Comunidade Veredão dos Macenas
05/08/2020 27
Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova
Comunidade de Pintado
05/08/2020 24
Camponês de fundo e fecho de pasto
Cordeiros
Com. Palmeiras
04/06/2020 1
Camponês de fundo e fecho de pasto
Cordeiros
Com. Pedra Branca
11/06/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Correntina
Fecho de Pasto de Porcos Guará e
Pombas/Com. Matão/Garrotes/Brejo dos
Aflitos/Cabeceira Grande
18/02/2020 43
Camponês de fundo e fecho de pasto
Correntina
Fecho de Pasto da Vereda da
Felicidade/Com. Silvânia/São Francisco/
Cobra Verde/Cerco/Faz. Sta. Tereza
18/02/2020 40
Camponês de fundo e fecho de pasto
Curaçá
Com. Esfomeado e Vargem Comprida
04/09/2020 1
Camponês de fundo e fecho de pasto
Euclides da Cunha
Área Indígena Kaimbe/Massacará/
Barreira Sanitária
27/05/2020 338
Indígenas
Eunápolis
Aldeia Taquari
22/07/2020 30
Indígenas
Gandu
Acampamento 2 de abril
08/04/2020 15
Sem Terra
Gongogi
Assent. Santa Irene/Barreira Sanitária
17/05/2020 100
Assentado
Ibipeba, Barro Alto
Com. Barreiro/Barreirinho/Santa Cruz/
Sumidouro/Boa Vista/Lagoa do Cipó/
Queimada do Ru no/Pé de Limão/Volta
Grande/Mandacaru/Morro do
Fernandes/Santana do Jacaré/Lagoa
Grande/Gergilim
31/03/2020 531
Camponês de fundo e fecho de pasto
Ibipeba, Barro Alto
Com. Barreiro/Barreirinho/Santa Cruz/
Sumidouro/Boa Vista/Lagoa do Cipó/
Queimada do Ru no/Pé de Limão/Volta
Grande/Mandacaru/Morro do
Fernandes/Santana do Jacaré/Lagoa
Grande/Gergilim
09/12/2020 531
Camponês de fundo e fecho de pasto
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Itabela, Eunápolis
Aldeia Água Vermelha/Barreira Sanitária
02/07/2020
Jaguarari
Com. de Pequenos Produtores da Serra
dos Morgados
05/07/2020
40
Pequeno proprietário
Indígenas
Jaguarari
Comunidade de Correncia
31/12/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Juazeiro
Faz. Mariad I/Mariat/Projeto Curaçá/
Acamp. Palmares
03/09/2020 80
Sem Terra
Lauro de Freitas
Com. Quilombola Quingoma
26/06/2020 578
Quilombola
Licínio de Almeida
Com. Taquaril dos Fialhos
11/06/2020 32
Posseiro
Mirangaba
Com. Umbiguda/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
01/03/2020 90
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Mangabeira/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
01/03/2020 100
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Riacho/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
01/03/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Queimada Grande/Fundo de
Pasto da COMTRAFP
01/03/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Paranazinho/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
01/03/2020 200
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Mangabeira/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
31/08/2020 100
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Umbiguda/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
31/08/2020 90
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Riacho/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
31/08/2020 50
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Queimada Grande/Fundo de
Pasto da COMTRAFP
31/08/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Mirangaba
Com. Paranazinho/Fundo de Pasto da
COMTRAFP
31/08/2020 200
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Comunidade Serra do Bode
26/03/2020 35
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Com. de Paus Verdes
17/09/2020 35
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Comunidade de Muquem
17/09/2020 150
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Comunidade Xique-Xique
17/09/2020 28
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Comunidade Serra do Bode
17/09/2020 35
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Com. de Fonseca
17/09/2020 40
Camponês de fundo e fecho de pasto
Monte Santo
Comunidade de Oitero
17/09/2020 150
Camponês de fundo e fecho de pasto
Cafarnaum, Morro do Chapéu
Faz. Queimadas/Acamp. Márcio Matos
26/03/2020 60
Sem Terra
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola Fazenda Grande/
Barreira Sanitária
12/05/2020 180
Quilombola
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola do Cipó I
12/05/2020 32
Quilombola
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola Boa Vista do Pixaim/
Barreira Sanitária
12/05/2020 320
Quilombola
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola Pedrinhas/Barreira
Sanitária
17/05/2020
Quilombola
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola Fazenda Grande/
Barreira Sanitária
31/12/2020 180
Quilombola
Muquém de São Francisco
Com. Quilombola Boa Vista do Pixaim/
Barreira Sanitária
31/12/2020 320
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Caldeirão dos Padres
06/07/2020 15
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Caldeirão do Sangue
06/07/2020 51
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Lagoa da Cruz
06/07/2020 45
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Lagoa dos Bois
06/07/2020 55
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Bom Sucesso
06/07/2020 15
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Fumaça
06/07/2020 42
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Palha
06/07/2020 65
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Poças
06/07/2020 30
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Grotas
06/07/2020 25
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Lagoa das Salinas
06/07/2020 56
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Lages das Cabras
06/07/2020 35
Quilombola
Nordestina
Com. Quilombola Tanque Bonito
06/07/2020 15
Quilombola
Piatã
Com. Quilombola do Mocó e Bocaína
30/07/2020 150
Quilombola
Piatã
Com. Quilombola do Mocó e Bocaína
27/09/2020 150
Quilombola
Piatã
Com. Quilombola do Mocó e Bocaína
24/11/2020 150
Quilombola
Piatã
Comunidade dos Gerais
24/11/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Piatã
Comunidade Ressaca
24/11/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Piatã
Comunidade dos Gerais
31/12/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Pilão Arcado
Comunidade de Redenção
05/08/2020 110
Camponês de fundo e fecho de pasto
47
Pilão Arcado
Com. Limoeiro/Caldeirãozinho
15/08/2020 42
Camponês de fundo e fecho de pasto
Piripá
Comunidade Queimada
04/06/2020
Camponês de fundo e fecho de pasto
Itamaraju, Prado, Porto Seguro
T. I. Barra Velha/Aldeia Boca da Mata e
Outras/Barreira Sanitária
07/02/2020 186
Indígenas
Itamaraju, Prado, Porto Seguro
T. I. Barra Velha/Aldeia Boca da Mata e
Outras/Barreira Sanitária
07/07/2020 186
Indígenas
Porto Seguro
Gleba Roça do Povo/Mangabeira
14/07/2020 200
Posseiro
Prado
T. I. Cahy-Pequi/Comexatiba/Aldeia
Cahy/Mexatibá/Cumuruxatiba/Barreira
Sanitária
07/02/2020 75
Indígenas
Prado
T. I. Cahy-Pequi/Comexatiba/Aldeia
Cahy/Mexatibá/Cumuruxatiba/Barreira
Sanitária
08/04/2020 75
Indígenas
Prado
T. I. Cahy Pequi/Comexatibá/Barreira
Sanitária
12/05/2020 100
Indígenas
Prado
Faz. Colatina/Assent. Jacy Rocha
28/08/2020 227
Assentado
Prado
Faz. Colatina/Assent. Jacy Rocha
03/09/2020 227
Assentado
Prado
Assentamento Rosa do Prado
14/09/2020 300
Assentado
Ruy Barbosa
Povoado de Caldeirão do Morro
07/04/2020
Ribeirinho
Salinas da Margarida
Conceição de Salinas
22/12/2020 40
Quilombola
Santa Cruz Cabrália
Fazenda Havana/Ouro Fino
11/03/2020
Sem Terra
Santa Cruz Cabrália
Fazenda Ypiranga
11/03/2020 30
Sem Terra
Santa Cruz Cabrália, Porto
Seguro
Ponta Grande/Aldeia Nova Coroa/
Itapororoca/Sarã Mirawê/Mirapé/Txihi
Kamayurá/Novos Guerreiros/T. I. Coroa
Vermelha
20/08/2020 24
Indígenas
Simões Filho
Com. Quilombola Rio dos Macacos
18/10/2020 43
Quilombola
Souto Soares
Com. São Domingos/Manoel Joaquim/
Cisterna/Emília
30/09/2020 750
Camponês de fundo e fecho de pasto
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
26/01/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
17/02/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
05/03/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
20/03/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
30/03/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
04/04/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
08/04/2020 130
Indígenas
Buerarema, Una, Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/
Povo Tupinambá/Barreira Sanitária
17/05/2020 130
Indígenas
Una
Aldeia Cajueiro/T.I. Tupinambá de
Olivença
07/12/2020 70
Indígenas
Una
Aldeia Acuípe de Baixo/T.I. Tupinambá
de Olivença
07/12/2020 196
Indígenas
Una
Aldeia Lagoa do Babaço/Mabaço/T.I.
Tupinambá de Olivença
07/12/2020 16
Indígenas
Vitória da Conquista
Quilombo da Fazenda Velame
24/09/2020 1
Quilombola
Wenceslau Guimarães
Assentamento Che Guevara
25/02/2020
Sem Terra
Subtotal: 127
9585
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Cafarnaum, Morro do Chapéu
Faz. Queimadas/Acamp. Márcio Matos
27/02/2020 60
Sem Terra
Santa Cruz Cabrália, Porto
Seguro
Ponta Grande/Aldeia Nova Coroa/
Itapororoca/Sarã Mirawê/Mirapé/Txihi
Kamayurá/Novos Guerreiros/T. I. Coroa
Vermelha
31/07/2020 24
Indígenas
Subtotal: 2
84
Total conflitos por terra - Bahia: 129
9585
TRABALHO
Trabalho Escravo
Conflitos
no
Campo Brasil
Município(s)
2020
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Feira de Santana
Obra em Feira de Santana
05/08/2020 1
1
Construção
Jacobina
Fazenda Seriema
12/10/2020 31
14
Extração de sisal
Mulungu do Morro
Faz. São Jorge/Nossa Senhora
Aparecida
20/10/2020 4
1
Extração de sisal
Sento Sé
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
03/12/2020 9
9
Garimpo (Ametista)
Sento Sé
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
03/12/2020 8
8
Garimpo (Ametista)
Sento Sé
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
03/12/2020 7
7
Garimpo (Ametista)
Sento Sé
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
03/12/2020 4
4
Garimpo (Ametista)
Sento Sé
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
03/12/2020 7
3
Garimpo (Ametista)
Várzea Nova
Fazenda Pau de Colher
20/10/2020 13
12
Extração de sisal
Várzea Nova
Faz. Santo Antônio/Faz. Riacho
20/10/2020 10
10
Extração de sisal
Subtotal: 10
94
69
Total Conflitos Trabalhistas - Bahia: 10
94
69
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Cairu
Com. de Garapuá/Ilha de Tinharém
16/07/2020 1
Apropriação
Particular
Desconstrução do
histórico-cultural
Belmonte, Una, Canavieiras
Resex de Canavieiras/Com. de
Campinhos
30/08/2020 2300
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Cordeiros
Com. Pedra Branca
11/06/2020 50
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Jacobina
Com. de Canavieira/Itapicuru/
Jabuticaba
02/12/2020 86
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Maragogipe
Com. Quilombola Guerém
11/11/2020 33
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Maragogipe, Cachoeira
Hidrelétrica Pedra do Cavalo/Resex
Baía do Iguape/92 Comunidades
20/08/2020 5000
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Piatã
Com. Quilombola do Mocó e Bocaína
30/07/2020 150
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Ruy Barbosa
Povoado de Caldeirão do Morro
07/04/2020
Barragens e
Açudes
Diminuição do acesso à
Água
Salinas da Margarida
Conceição de Salinas
22/12/2020 40
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Salvador
Colônia de Pescadores Z-3
15/09/2020 1
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Salvador, Candeias, Madre de
Deus
Território Quil. da Ilha de Maré/Porto de
Aratu
09/09/2020 1500
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Sento Sé
Comunidade Ribeirinha de Pascoal
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Comunidade Ribeirinha Aldeia
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Comunidade Ribeirinha Andorinhas
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Com. Ribeirinha Cajui
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Com. Ribeirinha Tamboar de Cima
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Com. Ribeirinha Ponta d'Água
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Retiro de Baixo
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Comunidade Ribeirinha Limoeiro
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Comunidade Ribeirinha de Itapera
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Com. Ribeirinha Retiro de Cima
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sento Sé
Com. Ribeirinha Volta da Serra
20/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
49
Simões Filho
Com. Quilombola Rio dos Macacos
11/05/2020 43
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Simões Filho
Com. Quilombola Rio dos Macacos
18/10/2020 43
Barragens e
Açudes
Impedimento de acesso
à água
Vitória da Conquista
Quilombo da Fazenda Velame
24/09/2020 1
Uso e
preservação
Contaminação por
agrotóxico
Itaguaçu da Bahia, Xique-Xique
Projeto de Irrigação Baixio do Irecê/18
Comunidades Atingidas
09/12/2020 760
Apropriação
Particular
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 26
9965
Total dos Conflitos no Campo - Bahia: 165
Pessoas: 78294
Ceará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Acaraú
Com. Quilombola Córrego dos Iús/
Barreira Sanitária
Aquiraz
T. I. Lagoa da Encantada
16/01/2020
Aracati
Com. do Cumbe/Emp. de Carcinicultura
19/08/2020 180
Pescador
Caucaia
T. I. Tapeba/Barreira Sanitária
16/01/2020 1850
Indígenas
Caucaia
T. I. Anacé/Barreira Sanitária
31/03/2020 459
Indígenas
São Gonçalo do Amarante,
Caucaia
T. I. Anacé/Taba dos Anacés/Barreira
Sanitária
29/05/2020 385
Indígenas
Caucaia
T. I. Tapeba/Barreira Sanitária
29/05/2020 1850
Indígenas
Caucaia
Aldeia Lagoa dos Bestas/T.I. Tapeba
15/06/2020
Indígenas
Caucaia
Aldeia Vila dos Cacos/T.I. Tapeba
15/06/2020
Indígenas
São Gonçalo do Amarante,
Caucaia
T. I. Anacé/Taba dos Anacés/Barreira
Sanitária
15/08/2020 385
Indígenas
Caucaia
T. I. Tapeba/Barreira Sanitária
31/12/2020 1850
Indígenas
Caucaia
T. I. Anacé/Barreira Sanitária
31/12/2020 459
Indígenas
Itarema, Itapipoca
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Barreira Sanitária
16/01/2020 130
Indígenas
Itarema, Itapipoca
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Barreira Sanitária
01/05/2020 130
Indígenas
Itarema, Itapipoca
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Barreira Sanitária
17/05/2020 130
Indígenas
Itarema, Itapipoca
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Barreira Sanitária
15/08/2020 130
Indígenas
Pacatuba, Maracanaú
T. I. Pitaguary
16/01/2020 1150
Indígenas
24/05/2020 60
80
Subtotal: 17
4294
Total conflitos por terra - Ceará: 17
4294
Quilombola
Indígenas
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Fortim, Aracati
Nome do Conflito
Marisqueiras de Pontal de Maceió e
outras Com./Vazamento de Óleo
Data
Famílias Tipo Conflito
30/08/2020 500
Subtotal: 1
Uso e
preservação
500
Total dos Conflitos no Campo - Ceará: 18
Pessoas: 19176
Distrito Federal
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Brasília
Faz. São Franscisco II/Gl. C e D/Acamp.
Marielle Franco
24/03/2020 30
Sem Terra
Brasília
Aldeia
Teko Haw/Com. Indígena do Bananal/St.
Noroeste/Brasal/Povo Guajajara/Santuário
dos Pajés
25/08/2020 27
Indígenas
Situação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conflitos
no
Campo Brasil
Brasília
2020
Área Rural na Ponte Alta do Gama/Assent.
10 de junho
16/09/2020 1
Subtotal: 3
58
Total conflitos por terra - Distrito Federal: 3
58
Total dos Conflitos no Campo - Distrito Federal: 3
Posseiro
Pessoas: 232
Espírito Santo
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
São Mateus, Conceição da Barra,
Aracruz
Aldeia Tupinikim Pau-Brasil/Aracruz/Vila
do Riacho/Caieiras Velhas/Fibria/
Votorantim/Tupiniquim/Barreira Sanitária
26/05/2020 1200
Indígenas
São Mateus, Conceição da Barra,
Aracruz
Aldeia Tupinikim Pau-Brasil/Aracruz/Vila
do Riacho/Caieiras Velhas/Fibria/
Votorantim/Tupiniquim/Barreira Sanitária
19/08/2020 1200
Indígenas
Conceição da Barra
Com. Quilombola S. Domingos/Sapê do
Norte/Aracruz
02/04/2020 37
Quilombola
Conceição da Barra
Com. Quilombola do Linharinho
03/06/2020 60
Quilombola
Conceição da Barra
Com. Quilombola Córrego Alexandre
03/06/2020
Quilombola
Conceição da Barra
Com. Quilombola São Domingos
03/06/2020
Quilombola
Conceição da Barra
Com. Quilombola de Angelim I/Sapê do
Norte/Aracruz
03/06/2020 70
Quilombola
Conceição da Barra
Com. Quilombola do Linharinho
19/08/2020 60
Quilombola
Pinheiros, Conceição da Barra
Faz. Itaúnas
04/12/2020 130
Sem Terra
Subtotal: 9
1497
Ocupações/Retomadas
Município(s)
São Mateus, Conceição da Barra
Nome do Conflito
Com. Quil. Angelim III/Sapê do Norte
Data
Famílias Categoria
11/12/2020 70
Subtotal: 1
70
Total conflitos por terra - Espírito Santo: 10
1567
Quilombola
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Aracruz
T. I. Comboios/Mineradora Samarco-ValeBHP Billiton
03/11/2020 29
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Baixo Guandu
Ilha das Orquídeas/Rio Doce/Mineradora
Samarco-Vale-BHP Billiton
26/10/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Baixo Guandu
Com. Ribeirinha Mascarenhas/Mineradora
Samarco-Vale-BHP Billiton
26/10/2020 300
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Colatina
Várias Com. Ribeirinhas do Rio Doce/
Mineradora Samarco-Vale-BHP Billiton
01/07/2020 116
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Conceição da Barra
Com. Quilombola de Angelim II/Sapê do
Norte/Aracruz
21/12/2020 37
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
São Mateus, Conceição da Barra
Com. Quil. Angelim III/Sapê do Norte
21/12/2020 100
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Conceição da Barra
Com. Quilombola de Angelim I/Sapê do
Norte/Aracruz
21/12/2020 70
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
São Mateus
Com. Nativo de Barra Nova/Mineradora
Samarco-Vale-BHP Billiton
15/03/2020 27
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Vitória
Colônia de Pescadores Z-5
10/11/2020
Uso e
preservação
Impedimento de acesso
à água
Subtotal: 9
Total dos Conflitos no Campo - Espírito Santo: 19
Goiás
TERRA
Conflitos por Terra
679
Pessoas: 8984
51
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Acamp. Dom Tomás Balduino/Faz.
Crixás/Cangalha/Maltizaria
04/03/2020 280
Sem Terra
Amorinópolis
Assentamento Pe. Nilo
20/01/2020 40
Assentado
Anápolis
Área em Vivian Parque
05/03/2020 50
Sem Terra
Cachoeira Alta
Faz. às margens da BR-364
09/09/2020 75
Sem Terra
Caiapônia
Acampamento Torres do Taquari
30/01/2020 30
Sem Terra
Caiapônia
Assentamento Morrinhos
18/05/2020 3
Assentado
Catalão
Comunidade Macaúba/Vale
17/02/2020 30
Sem Terra
Catalão
Acamp. Oziel Alves/Faz. João da Cruz
21/10/2020 35
Sem Terra
Cavalcante
Com. Quilombola São Domingos/Tatu/
São José
02/06/2020 70
Quilombola
Cavalcante, Monte Alegre de
Goiás
Com. Engenho II/Quilombo Kalunga
22/06/2020 125
Quilombola
Cavalcante, Monte Alegre de
Goiás
Com. Vão de Almas/Quilombo Kalunga
22/06/2020 215
Quilombola
Cavalcante, Monte Alegre de
Goiás
Com. Engenho II/Quilombo Kalunga
06/09/2020 125
Quilombola
Cavalcante
Povoado Rio Preto
30/09/2020 40
Quilombola
Cidade Ocidental
Com. Quilombola de Mesquita
21/11/2020 750
Quilombola
Formosa
Fazenda Cangalha
04/05/2020 1
Sem Terra
Iaciara
Com. Levantado/Salina/Belo/Córrego
Brejo do Fogo/Riacho do Fogo
20/01/2020 16
Sem Terra
Santa Helena de Goiás
Acamp. Leonir Orback/Faz. Ouro
Branco
08/06/2020 250
Sem Terra
Santa Helena de Goiás
Acamp. Leonir Orback/Faz. Ouro
Branco
10/11/2020 250
Sem Terra
Turvelândia
Fazenda Monjolo
20/01/2020 140
Sem Terra
Formosa, Alexânia
Subtotal: 19
2150
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Anápolis
Área em Vivian Parque
05/03/2020
Sem Terra
Lagoa Santa
Fazenda Santa Maria
27/06/2020 50
Sem Terra
Subtotal: 2
50
Total conflitos por terra - Goiás: 21
2200
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Extração de madeira
(Desmatamento)
Campo Limpo de Goiás
Fazenda Conceição
02/10/2020 1
1
Davinópolis
Fazenda Boqueirão de Cima
21/09/2020 6
6
Carvoaria
Joviânia
Fazenda Córrego Fundo
21/09/2020 3
3
Extração de basalto
(mineração)
Joviânia
Fazenda Vertente do Meio
21/09/2020 4
3
Extração de basalto
(mineração)
Joviânia
Fazenda Santa Bárbara
21/09/2020 1
1
Extração de basalto
(mineração)
Rio Verde
Carvoaria do Carlinhos
21/09/2020 3
3
Carvoaria
Vicentinópolis
Faz. Ouro Branco/Santa Maria
28/09/2020 20
20
Vicentinópolis
Fazenda Santa Bárbara
28/09/2020 3
3
2
Extração de basalto
(mineração)
Extração de basalto
(Mineração)
Subtotal: 8
41
40
2
Total Conflitos Trabalhistas - Goiás: 8
41
40
2
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Baliza
Nome do Conflito
Assent. Oziel Alves Pereira
Data
Famílias Tipo Conflito
20/02/2020 540
Uso e
preservação
Situação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Caiapônia
Acampamento na GO-221
16/02/2020 50
Apropriação
Particular
Não cumprimento de
procedimentos legais
Caiapônia, Piranhas
P. A. Nascente de São Domingos
15/02/2020 63
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Cavalcante
Povoado Rio Preto
25/09/2020 40
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Pontalina
Faz. São Lourenço/Rompimento de
Barragem
04/01/2020 3
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Posse
Com. Quilombola Baco Pari
04/09/2020 60
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Vianópolis
Com. Santa Rita/Lado Esquerdo do
Ribeirão Saltinho
10/01/2020 18
Apropriação
Particular
Impedimento de acesso
à água
Vianópolis
Com. Santa Rita/Lado Direito do
Ribeirão Saltinho
10/01/2020 26
Apropriação
Particular
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 8
800
Total dos Conflitos no Campo - Goiás: 37
Pessoas: 12041
Maranhão
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Açailândia
Com. Francisco Romão/Vale
10/02/2020 102
Assentado
Açailândia
Assent. Novo Oriente/Vale
10/02/2020 40
Assentado
Açailândia
Fazenda Novo Horizonte
10/02/2020
Sem Terra
Açailândia
Comunidade Jardim Bela Vista
10/02/2020
Pequeno proprietário
Açailândia
Comunidade Agroplanalto
10/02/2020 30
Assentado
Açailândia
Assent. Planalto I/Vale
10/02/2020 39
Assentado
Açailândia
Assent. Califórnia/Suzano Papel e
Celulose
10/02/2020 200
Assentado
Açailândia
Assent. Califórnia/Suzano Papel e
Celulose
24/09/2020 200
Assentado
Alcântara
Com. Quil. Retiro/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/02/2020 3
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Tacaua/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Vista Alegre/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 32
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Águas Belas/Cema/Centro
de Lançamento de Alcântara
27/03/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Baracatatiua/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 11
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Bom Viver/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 8
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Pacuri/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 19
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Periaçu/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 26
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Itapera/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 18
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Folhal/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 30
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Canavieira/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Brito/Centro de Lançamento
de Alcântara
27/03/2020 45
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Santa Maria/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 138
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mocajubal/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 27
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mamuna/Mamona/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 80
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Rio Verde/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Porto do Aru/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. São João de Cortes/Centro
de Lançamento de Alcântara
27/03/2020 151
Quilombola
53
Alcântara
Com. Quil. Ponta d' Areia/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 80
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Araú Novo/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Camarajó/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Galego/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 13
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Canelatiua/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 67
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Vila Valdeci/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mamuninha/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 4
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mãe Eugênia/Centro de
Lançamento de Alcântara
27/03/2020 2
Quilombola
Alcântara
Agrovila Ponta Seca/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 17
Quilombola
Alcântara
Agrovila Peru/Centro de Lançamento
de Alcântara
30/06/2020 123
Quilombola
Alcântara
Agrovila Pepital/Centro de Lançamento
de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mamuna/Mamona/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 80
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Águas Belas/Cema/Centro
de Lançamento de Alcântara
30/06/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Baracatatiua/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 11
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Santa Maria/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 138
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mato Grosso/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 7
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Vista Alegre/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 32
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Retiro/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 3
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Canavieira/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Folhal/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 30
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Galego/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 13
Quilombola
Alcântara
Agrovila Cajueiro/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 59
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Tacaua/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Vila Valdeci/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Barbosa/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Centro de Lançamento de Alcântara/
Pov. Trajano
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. São Francisco/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quilombola São Maurício/Centro
de Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Araú Novo/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 5
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Brito/Centro de Lançamento
de Alcântara
30/06/2020 45
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Bom Viver/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 8
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Camarajó/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Ponta d' Areia/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 80
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Porto do Aru/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Rio Verde/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 5
Quilombola
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Alcântara
Com. Quil. São João de Cortes/Centro
de Lançamento de Alcântara
30/06/2020 151
Quilombola
Alcântara
Centro de Lançamento de Alcântara/
Com. Quilombola Manival
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mamuninha/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 4
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Itapera/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 18
Quilombola
Alcântara
Agrovila Só Assim/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Agrovila Espera/Centro de Lançamento
de Alcântara
30/06/2020 13
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Periaçu/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 26
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Pacuri/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 19
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mocajubal/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 27
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Mãe Eugênia/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 2
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Canelatiua/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020 67
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Pacoval/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Agrovila Marudá/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Alcântara
Com. Quil. Caiuaua/Centro de
Lançamento de Alcântara
30/06/2020
Quilombola
Aldeias Altas
Pov. Gostoso, Barro I e II, Pati, Bom
Sucesso/TG Agroindústria
07/01/2020 23
Posseiro
Aldeias Altas
Pov. Gostoso, Barro I e II, Pati, Bom
Sucesso/TG Agroindústria
08/01/2020 23
Posseiro
Aldeias Altas
Pov. Gostoso, Barro I e II, Pati, Bom
Sucesso/TG Agroindústria
15/02/2020 23
Posseiro
Aldeias Altas
Pov. Gostoso, Barro I e II, Pati, Bom
Sucesso/TG Agroindústria
17/07/2020 23
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão
Boa Hora
08/06/2020 41
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov.
Campestre/Pov. Canafístula/Território
Campestre
08/06/2020 427
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov.
Campestre/Pov. Canafístula/Território
Campestre
19/09/2020 427
Posseiro
Bom Jesus das Selvas, Buriticupu,
Buritirana, Amarante do Maranhão,
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
31/03/2020 1329
Indígenas
Bom Jesus das Selvas, Buriticupu,
Buritirana, Amarante do Maranhão,
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
04/04/2020 1329
Indígenas
Bom Jesus das Selvas, Buriticupu,
Buritirana, Amarante do Maranhão,
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
14/04/2020 1329
Indígenas
Bom Jesus das Selvas, Buriticupu,
Buritirana, Amarante do Maranhão,
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
25/05/2020 1329
Indígenas
Amarante do Maranhão
T. I. Governador
25/05/2020 164
Indígenas
Bom Jesus das Selvas, Buriticupu,
Buritirana, Amarante do Maranhão,
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
31/08/2020 1329
Indígenas
Anajatuba
Com. Quilombola Assutinga
04/03/2020
Quilombola
Zé Doca, Centro Novo do
Maranhão, Maranhãozinho,
Araguanã, Centro do Guilherme,
Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda
do Maranhão
T. I. Alto Turiaçu
25/05/2020 360
Indígenas
Zé Doca, Centro Novo do
Maranhão, Maranhãozinho,
Araguanã, Centro do Guilherme,
Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda
do Maranhão
T. I. Alto Turiaçu
03/08/2020 360
Indígenas
55
Zé Doca, Centro Novo do
Maranhão, Maranhãozinho,
Araguanã, Centro do Guilherme,
Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda
do Maranhão
T. I. Alto Turiaçu
11/09/2020 360
Indígenas
Araioses
Comunidade Pesqueira Barreirinhas
06/06/2020 105
Pescador
Arari
Povoado Cedro
05/01/2020 5
Quilombola
Arari
Povoado Cedro
07/01/2020 5
Quilombola
Arari
Povoado Cedro
17/01/2020 5
Quilombola
Arari
Com. Mutum II
21/01/2020
Posseiro
Arari
Com. Flexeiras/Búfalos
19/02/2020
Quilombola
Arari
Com. Flexeiras/Búfalos
04/03/2020
Quilombola
Arari
Pov. Santo Antônio/Baixada
Maranhense
07/12/2020
Posseiro
Bacabeira
Vila Cearense/Duplicação BR-135
14/04/2020
Quilombola
Bacurituba
Comunidade Chapada do Boqueirão
30/01/2020
Posseiro
Bacurituba
Comunidade Sá Litre
30/01/2020
Posseiro
Bacurituba
Comunidade Moizinho
30/01/2020
Posseiro
Bacurituba
Comunidade Entrilhas
30/01/2020
Posseiro
Balsas
Com. Bom Acerto/Data Flor do Tempo
31/01/2020 8
Posseiro
Balsas
Comunidade Santa Dulce dos Pobres
13/02/2020 40
Posseiro
Balsas
Com. Bom Acerto/Data Flor do Tempo
11/08/2020 8
Posseiro
Balsas
Gleba Picos/Faz. Picos
04/11/2020 100
Posseiro
Barra do Corda, Fernando Falcão,
Formosa da Serra Negra, Grajaú
T. I. Porquinhos/Canela-Memortumré/
Canela-Apãnjekra/Barreira Sanitária
26/01/2020 169
Indígenas
Barra do Corda, Fernando Falcão,
Formosa da Serra Negra, Grajaú
T. I. Porquinhos/Canela-Memortumré/
Canela-Apãnjekra/Barreira Sanitária
22/04/2020 169
Indígenas
Barra do Corda, Fernando Falcão,
Formosa da Serra Negra, Grajaú
T. I. Porquinhos/Canela-Memortumré/
Canela-Apãnjekra/Barreira Sanitária
25/05/2020 169
Indígenas
Barra do Corda, Fernando Falcão,
Formosa da Serra Negra, Grajaú
T. I. Porquinhos/Canela-Memortumré/
Canela-Apãnjekra/Barreira Sanitária
31/08/2020 169
Indígenas
Barra do Corda, Fernando Falcão,
Formosa da Serra Negra, Grajaú
T. I. Porquinhos/Canela-Memortumré/
Canela-Apãnjekra/Barreira Sanitária
05/10/2020 169
Indígenas
Santo Amaro do Maranhão,
Barreirinhas, Primeira Cruz
Com. Tradicionais do Parque Nacional
dos Lençóis Maranhenses
06/06/2020 200
Pescador
Barreirinhas
Com. Pesqueira Mandacaru
06/06/2020 325
Pescador
Bom Jardim, São João do Carú
T. I. Caru/Barreira Sanitária
25/03/2020 100
Indígenas
Monção, Bom Jardim
T. I. Rio Pindaré/Aldeia Januária/
Tabocal
25/05/2020 45
Indígenas
Indígenas
Bom Jardim, São João do Carú
T. I. Caru/Barreira Sanitária
30/06/2020 100
Bom Jardim
Assent. Antônio Conselheiro
13/09/2020 200
Assentado
Brejo
Quilombo Alto Bonito
04/11/2020 46
Quilombola
Cajari
Com. Quilombola Camaputiua
29/04/2020 46
Quilombola
Carutapera
Com. São João de Murujá
01/12/2020
Posseiro
Codó
Com. Quilombola São Benedito dos
Colocados/Barreira Sanitária
06/07/2020 73
Quilombola
Colinas
Com. Quilombola Peixes
09/07/2020 68
Quilombola
Cururupu
Com. Quilombo Acre
30/06/2020
Quilombola
Fernando Falcão
Com. Brejinho/Parque Estadual do
Mirador
21/08/2020
Posseiro
Fernando Falcão
Com. Brejinho/Parque Estadual do
Mirador
05/10/2020
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do
Bacuri/Gl. São José/Data Alegre
10/05/2020 12
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do
Bacuri/Gl. São José/Data Alegre
11/05/2020 12
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Comunidade Boa Esperança/Fazenda
Boa Esperança
29/05/2020 12
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do
Bacuri/Gl. São José/Data Alegre
16/07/2020 12
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do
Bacuri/Gl. São José/Data Alegre
01/08/2020 12
Posseiro
Formosa da Serra Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do
Bacuri/Gl. São José/Data Alegre
15/08/2020 12
Posseiro
Grajaú
T. I. Bacurizinho/Aldeias Kamihaw
Guajajara/Nazaré/Pedra/Planalto
22/04/2020 915
Indígenas
Grajaú, Itaipava do Grajaú
T. I. Urucu-Juruá/Guajajara
05/05/2020 208
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Grajaú
Aldeia Bananal/T. I. Bacurizinho
25/05/2020
Indígenas
Grajaú, Jenipapo dos Vieiras,
Barra do Corda
T. I. Cana Brava/Guajajara/Aldeias
Coquinho/Coquinho II/Ilha de São
Pedro/Silvino/Mussun/Nova Vitoriano
25/05/2020 1127
Indígenas
Grajaú, Itaipava do Grajaú
T. I. Urucu-Juruá/Guajajara
25/05/2020 208
Indígenas
Grajaú, Jenipapo dos Vieiras,
Barra do Corda
T. I. Cana Brava/Guajajara/Aldeias
Coquinho/Coquinho II/Ilha de São
Pedro/Silvino/Mussun/Nova Vitoriano
08/07/2020 1127
Indígenas
Grajaú
T. I. Bacurizinho/Aldeias Kamihaw
Guajajara/Nazaré/Pedra/Planalto
22/09/2020 915
Indígenas
Grajaú
T.I. Morro Branco/Povo Guajajara/
Barreira Sanitária
05/10/2020 146
Indígenas
Guimarães
Com. Brejo/São José dos Pretos
03/08/2020 60
Quilombola
Igarapé do Meio
Com. Vila Bela
30/08/2020 25
Posseiro
Igarapé do Meio
Com. Vila Bela
31/08/2020 25
Posseiro
Itaipava do Grajaú
T. I. Geralda Toco Preto
25/05/2020
Indígenas
Jenipapo dos Vieiras, Itaipava do
Grajaú
T. I. Lagoa Comprida/Aldeias Leite/
Decente
25/05/2020 201
Indígenas
Itapecuru Mirim
Povoado Cheiroso
31/01/2020 19
Posseiro
Itapecuru Mirim
Com. Quilombola Colombo
14/04/2020 145
Quilombola
Itapecuru Mirim
Com. Quilombola Mora/Duplicação
BR-135
14/04/2020 5
Quilombola
Itapecuru Mirim
Com. Quilombola Morro Grande/
Duplicação BR-135
14/04/2020 75
Quilombola
Itapecuru Mirim
Com. Quilombola Santa Maria dos
Pinheiros/Duplicação BR-135
14/04/2020 50
Quilombola
Itapecuru Mirim
Com. Quil. Outeiros dos Nogueiras/
Duplicação BR-135
14/04/2020 25
Quilombola
Itapecuru Mirim
T. Quil. Sta. Rosa dos Pretos/Barreira
Funda/Alto São João e Outros/
Duplicação da BR-135
31/05/2020 800
Quilombola
Itapecuru Mirim
Povoado Cheiroso
30/12/2020 19
Posseiro
Junco do Maranhão
Com. Vilela/Gleba Campina
17/01/2020 66
Posseiro
Junco do Maranhão
Com. Vilela/Gleba Campina
15/08/2020 66
Posseiro
Matões
Com. Quilombola Tanque dos
Melquíaques
26/05/2020 70
Quilombola
Matões
Com. Tanque de Rodagem/São João/
Faz. Castiça
01/08/2020 100
Quilombola
Matões
Com. Tanque de Rodagem/São João/
Faz. Castiça
01/09/2020 100
Quilombola
Milagres do Maranhão
Comunidade Pesqueira Milagres do
Maranhão
06/06/2020 1000
Pescador
Miranda do Norte
Com. Quilombola Joaquim Maria/Faz.
Potiguar
31/01/2020 14
Quilombola
Miranda do Norte
Com. Quilombola Joaquim Maria/Faz.
Potiguar
14/04/2020 14
Quilombola
Monção
Com. Quilombola Castelo
29/03/2020
Quilombola
Amarante do Maranhão, Montes
Altos, Sítio Novo, Lajeado Novo
T. I. Krikati
25/05/2020 254
Indígenas
Parnarama
Com. Quilombola Guerreiro/Faz. Cana
Brava
01/04/2020 80
Quilombola
Parnarama
Com. Quilombola Cocalinho
28/05/2020 170
Quilombola
Parnarama
Com. Quilombola Cocalinho
01/09/2020 170
Quilombola
Peri Mirim
Com. Quilombola Rio da Prata
24/11/2020
Quilombola
Pirapemas
Com. Bica/Território Quilombola Aldeia
Velha
01/05/2020 22
Quilombola
Pirapemas
Santo Honório/Território Aldeia Velha
01/05/2020 23
Quilombola
Pirapemas
Com. Quilombola Salgado/Território
Aldeia Velha/11 Comunidades
01/05/2020 27
Quilombola
Pirapemas
Santo Honório/Território Aldeia Velha
16/06/2020 23
Quilombola
Raposa
T.I. Tremembé Raposa/Barreira
Sanitária
04/04/2020
Indígenas
Santa Helena
Com. Pesqueira Sarney Filho
06/06/2020 250
Pescador
Santa Rita
Com. Quilombola Vila Fé em Deus/
Duplicação BR-135
14/04/2020
Quilombola
Itapecuru Mirim, Santa Rita
Com. Quilombola Santana/Duplicação
BR-135
14/04/2020 45
Quilombola
Santa Rita
Com. Quilombola Cariongo/Duplicação
BR-135
14/04/2020 80
Quilombola
57
Santa Rita
Com. Quilombola Pedreiras/Duplicação
BR-135
14/04/2020 36
Quilombola
Santo Amaro do Maranhão
Com. Pesqueira Santo Amaro
06/06/2020 3455
Pescador
São Benedito do Rio Preto
Faz. Guarimã/Data Cumbre
15/02/2020 12
Quilombola
São Bento
Comunidade Outra Banda
30/01/2020
Posseiro
São José de Ribamar
Com. Tremembé do Engenho
11/01/2020 60
Indígenas
São José de Ribamar
Com. Tremembé do Engenho
25/05/2020 60
Indígenas
São José de Ribamar
Com. Tremembé do Engenho
31/08/2020 60
Indígenas
São Luís
Comunidade Cajueiro
17/02/2020 7
Assentado
São Luís
Comunidade Cajueiro
27/07/2020 7
Assentado
São Luís
Rio dos Cachorros/Resex Tauá-Mirim
15/09/2020 47
Pescador
São Luís
Comunidade Cajueiro
24/12/2020 7
Assentado
Timbiras
Faz. São Raimundo/Pov. Santa Maria/
Jaqueira/Cavalo Morto/São Carlos/São
Lourenço/Poço do Boi/São Tomé
31/01/2020 200
Posseiro
Timbiras
Faz. São Raimundo/Pov. Santa Maria/
Jaqueira/Cavalo Morto/São Carlos/São
Lourenço/Poço do Boi/São Tomé
15/08/2020 200
Posseiro
Timbiras
Povoado Abundância e Santa Vitória/
Território Campestre
01/09/2020 46
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão, Timbiras
Com. Quilombola Mamorana/Território
Campestre
04/09/2020 19
Quilombola
Timbiras
Com Manoel dos Santos/Território
Campestre
04/09/2020 17
Posseiro
Timbiras
Povoado Abundância e Santa Vitória/
Território Campestre
19/10/2020 46
Posseiro
Timbiras
Faz. São Raimundo/Pov. Santa Maria/
Jaqueira/Cavalo Morto/São Carlos/São
Lourenço/Poço do Boi/São Tomé
31/10/2020 200
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão, Timbiras
Com. Quilombola Mamorana/Território
Campestre
02/12/2020 19
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão, Timbiras
Com. Quilombola Mamorana/Território
Campestre
04/12/2020 19
Posseiro
Alto Alegre do Maranhão, Timbiras
Com. Quilombola Mamorana/Território
Campestre
09/12/2020 19
Posseiro
Turilândia
Comunidade Pesqueira Sede
06/06/2020 5500
Pescador
Urbano Santos
Com. Santa Rosa/Bacabal
15/02/2020 60
Posseiro
Viana, Matinha
Povo Gamela de Taquaritiua/Centro do
Antero/Sesmaria Índios/Pov. Chulanga
25/05/2020
Indígenas
Grajaú, Zé Doca, Turiaçu, Bom
Jardim, Carutapera
Área Indígena Awá - Guajá
25/05/2020 90
Indígenas
Subtotal: 203
20864
Total conflitos por terra - Maranhão: 203
20864
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Caxias
Fazenda Estrela
30/06/2020 5
5
Caxias
Fazenda São Raimundo
12/03/2020 15
15
Pecuária
Soja
Caxias
Faz. São Raimundo/Hidráulica
12/03/2020 2
2
Perfuração e construção
São Félix de Balsas
Carvoaria do Zé Maria
25/11/2020 15
Carvoaria
Subtotal: 4
37
22
Total Conflitos Trabalhistas - Maranhão: 4
37
22
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Codó
Com. Quilombola São Benedito dos
Colocados/Barreira Sanitária
06/07/2020 73
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Itapecuru Mirim
T. Quil. Sta. Rosa dos Pretos/Barreira
Funda/Alto São João e Outros/
Duplicação da BR-135
11/11/2020 800
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Nova Iorque
Território Pesqueiro no Rio Parnaíba
17/01/2020
Apropriação
Particular
Ameaça de
expropriação
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Subtotal: 3
873
Total dos Conflitos no Campo - Maranhão: 210
Pessoas: 86985
Mato Grosso
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Água Boa
T.I. Areões/Xavante
24/06/2020 336
Indígenas
Água Boa
T.I. Areões/Xavante
15/09/2020 336
Indígenas
Alta Floresta
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Kayabi
11/02/2020
Indígenas
Alta Floresta
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Kayabi
20/05/2020
Indígenas
Apiacás
T.I. Apiaká do Pontal
19/05/2020 66
Indígenas
Jacareacanga, Apiacás
T.I. Kayabi
30/06/2020 192
Indígenas
Jacareacanga, Apiacás
T.I. Kayabi
15/09/2020 192
Indígenas
Barão de Melgaço
T.I. Perigara
15/09/2020 35
Indígenas
Poconé, Barão de Melgaço
T. I. Baía dos Guató/Guató
15/09/2020 80
Indígenas
Barão de Melgaço
Comunidade Ribeirinha de Piúva
20/10/2020
Ribeirinho
Poconé, Barão de Melgaço
T. I. Baía dos Guató/Guató
12/11/2020 80
Indígenas
Barão de Melgaço
Com. Tradicional Pantaneira
Barranqueira
05/12/2020 52
Ribeirinho
Barão de Melgaço
Com. Tradicional Pantaneira Piraim
05/12/2020 52
Ribeirinho
Barra do Bugres, Porto Estrela
Com. Quilombolas Vãozinho e Voltinha
20/07/2020 63
Quilombola
Barra do Bugres
T.I. Umutina/Barreira Sanitária
21/08/2020 150
Indígenas
Barra do Garças
T.I. São Marcos/Xavante
20/05/2020 712
Indígenas
Barra do Garças, General Carneiro
T.I. Merure
17/07/2020 164
Indígenas
Barra do Garças
T.I. São Marcos/Xavante
19/07/2020 712
Indígenas
Barra do Garças
T.I. São Marcos/Xavante
11/08/2020 712
Indígenas
Barra do Garças
T.I. São Marcos/Xavante
15/09/2020 712
Indígenas
Barra do Garças, General Carneiro
T.I. Merure
15/09/2020 164
Indígenas
Brasnorte
T. I. Menkü
08/05/2020 58
Indígenas
Brasnorte
T. I. Menkü
19/05/2020 58
Indígenas
Brasnorte
T.I. Manoki
19/05/2020 63
Indígenas
Brasnorte
T.I. Irantxe/Manoki
09/07/2020 94
Indígenas
Brasnorte
T.I. Irantxe/Manoki
05/08/2020 94
Indígenas
Brasnorte
T.I. Irantxe/Manoki
15/09/2020 94
Indígenas
Brasnorte
T.I. Manoki
15/09/2020 63
Indígenas
Brasnorte
T. I. Menkü
15/09/2020 58
Indígenas
Cáceres
Comunidade Pantaneira Porto Limão
15/06/2020 53
Ribeirinho
Cáceres
P.A. Flexas
19/08/2020 13
Assentado
Cáceres
Faz. Rancho Verde/Acamp. Renascer
27/09/2020 100
Sem Terra
Nova Xavantina, Campinápolis
T. I. Parabubure/Xavante
24/06/2020 955
Indígenas
Nova Xavantina, Campinápolis
T. I. Parabubure/Xavante
15/09/2020 955
Indígenas
Sapezal, Campo Novo do Parecis
T. I. Utiariti
15/09/2020 102
Indígenas
Luciara, Canabrava do Norte
T.I. Krenrehé
15/09/2020
Indígenas
Ribeirão Cascalheira, Canarana
T. I. Pimentel Barbosa/Xavante
24/06/2020 440
Indígenas
Gaúcha do Norte, Canarana
T. I. Pequizal do Naruvôtu
15/09/2020 17
Indígenas
Ribeirão Cascalheira, Canarana
T. I. Pimentel Barbosa/Xavante
15/09/2020 440
Indígenas
Chapada dos Guimarães
Quilombo Barro Preto/Serra do
Cambam Bi
20/07/2020
Quilombola
Cocalinho
T. I. Wedezé
19/05/2020 25
Indígenas
Rondolândia, Colniza
T. I. Piripkura
19/05/2020 1
Indígenas
Colniza
Faz. Bauru/Magali/Acamp. Gleba
União
19/08/2020 350
Posseiro
Colniza, Aripuanã
Reserva Extrativista (Resex) GuaribaRoosevelt
15/09/2020 80
Extrativista
Rondolândia, Colniza
T. I. Piripkura
15/09/2020 1
Indígenas
Rondolândia, Colniza
T. I. Piripkura
30/09/2020 1
Indígenas
Comodoro, Colniza
T. I. Kawahiva do Rio Pardo
19/05/2020 17
Indígenas
Comodoro
T.I. Pirineus de Souza
15/09/2020 70
Indígenas
59
Comodoro, Nova Lacerda
T. I. Vale do Guaporé/Nambyqwara
15/09/2020 121
Indígenas
Comodoro
T.I. Nambikwara
15/09/2020 119
Indígenas
Confresa
Comunidade Porta da Amazônia
14/12/2020 60
Posseiro
Conquista D'Oeste
T.I. Juininha
05/08/2020 18
Indígenas
Conquista D'Oeste
T.I. Juininha
15/09/2020 18
Indígenas
Cotriguaçu
T.I. Escondido
15/09/2020 11
Indígenas
Cuiabá
Área Flor da Mata
28/01/2020 150
Sem Terra
Cuiabá
Gleba Boa Sorte/Fazenda Santa Cruz
15/09/2020 200
Sem Terra
Cuiabá
Gleba Boa Sorte/Fazenda Santa Cruz
16/09/2020 200
Sem Terra
Nova Marilândia, Nova Maringá,
Diamantino
T.I. Estação Paresi/Ponte de Pedra/
Faz. São Jorge
19/05/2020 7
Indígenas
Glória D'Oeste
Fazenda Nossa Senhora Aparecida
28/12/2020 30
Sem Terra
Jaciara
Fazenda Santa Fé
07/07/2020
Sem Terra
Jaciara
Gl. Mestre I/Usina Pantanal/Acamp.
Renascer
14/08/2020 92
Sem Terra
Nova Canaã do Norte, Tabaporã,
Apiacás, Juara
T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald.
Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
19/05/2020 38
Indígenas
Juara
T.I. Apiaka/Kayabi
15/09/2020 221
Indígenas
Nova Canaã do Norte, Tabaporã,
Apiacás, Juara
T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald.
Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
15/09/2020 38
Indígenas
Juína
Faz. Tarciana/Assent. Vale do Juinão
03/03/2020 103
Assentado
Juína
T. I. Enawenê-Nawê/Adowinã/Rio Preto
21/08/2020 184
Indígenas
Juína
T.I. Serra Morena
15/09/2020 33
Indígenas
Juína
T. I. Enawenê-Nawê/Adowinã/Rio Preto
15/09/2020 184
Indígenas
Juína, Aripuanã
T. I. Aripuanã/Cinta Larga
15/09/2020 88
Indígenas
Vilhena, Juína
T.I. Parque do Aripuanã
15/09/2020 99
Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara
T.I. Cacique Fontoura
24/01/2020 122
Indígenas
Luciara
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
do Araguaia
31/03/2020 100
Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara
T.I. São Domingos/Barreira Sanitária
14/04/2020 41
Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara
T.I. Cacique Fontoura
19/05/2020 122
Indígenas
Santa Terezinha, Luciara
T.I. Tapirapé/Karajá
09/07/2020 128
Indígenas
Luciara
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
do Araguaia
31/07/2020 100
Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara
T.I. São Domingos/Barreira Sanitária
15/09/2020 41
Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara
T.I. Cacique Fontoura
15/09/2020 122
Indígenas
Santa Terezinha, Luciara
T.I. Tapirapé/Karajá
15/09/2020 128
Indígenas
Luciara
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
do Araguaia
10/11/2020 100
Indígenas
Nobres
T.I. Santana
15/09/2020 52
Indígenas
Nossa Senhora do Livramento
Com. Quilombola Jacaré de Cima/dos
Pretos
19/02/2020 20
Quilombola
Nossa Senhora do Livramento
Sesmaria Boa Vida/Quilombo Mata
Cavalo/Mutuca
20/10/2020 418
Quilombola
Nossa Senhora do Livramento
Sesmaria Boa Vida/Quilombo Mata
Cavalo/Mutuca
22/11/2020 418
Quilombola
Campos de Júlio, Nova Lacerda
T.I. Uirapuru
19/05/2020 7
Indígenas
Vila Bela da Santíssima Trindade,
Nova Lacerda
T.I. Sararé
28/05/2020 47
Indígenas
Vila Bela da Santíssima Trindade,
Nova Lacerda
T.I. Sararé
15/09/2020 47
Indígenas
Campos de Júlio, Nova Lacerda
T.I. Uirapuru
15/09/2020 7
Indígenas
Nova Maringá, Campo Novo do
Parecis, Diamantino
T.I. Ponte de Pedra
07/07/2020 107
Indígenas
Nova Maringá, Campo Novo do
Parecis, Diamantino
T.I. Ponte de Pedra
15/09/2020 107
Indígenas
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
14/04/2020 1875
Indígenas
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
19/06/2020 1875
Indígenas
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
15/09/2020 1875
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
26/09/2020 1875
Indígenas
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
19/10/2020 1875
Indígenas
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz
Natal, Querência
Parque Indígena do Xingu/Barreira
Sanitária
07/12/2020 1875
Indígenas
Novo Mundo
Gl. Nhandú/Faz. Recanto/5 Estrelas/
PDS Nova Conquista II
19/02/2020 50
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
01/04/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
15/05/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
28/05/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Gl. Nhandú/Faz. Recanto/5 Estrelas/
PDS Nova Conquista II
01/06/2020 96
Assentado
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
17/06/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
10/07/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
19/07/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
18/09/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Gl. Nhandú/Faz. Recanto/5 Estrelas/
PDS Nova Conquista II
30/09/2020 96
Assentado
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
12/11/2020 100
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
08/12/2020 100
Sem Terra
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
24/06/2020 221
Indígenas
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
17/07/2020 221
Indígenas
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
19/07/2020 221
Indígenas
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
11/08/2020 221
Indígenas
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
15/09/2020 221
Indígenas
Paranatinga, Planalto da Serra
T.I. Bakairi
09/07/2020 184
Indígenas
Paranatinga, Planalto da Serra
T.I. Bakairi
21/08/2020 184
Indígenas
Paranatinga
T.I. Marechal Rondon
15/09/2020 138
Indígenas
Paranatinga, Planalto da Serra
T.I. Bakairi
15/09/2020 184
Indígenas
Nova Guarita, Peixoto de Azevedo
Gleba do Gama/Lt.12/P. A. Renascer
18/01/2020 37
Sem Terra
São José do Xingu, Peixoto de
Azevedo, Santa Cruz do Xingu
T.I. Capoto/Jarina/Barreira Sanitária
24/08/2020 606
Indígenas
São José do Xingu, Peixoto de
Azevedo, Santa Cruz do Xingu
T.I. Capoto/Jarina/Barreira Sanitária
31/08/2020 606
Indígenas
São José do Xingu, Peixoto de
Azevedo, Santa Cruz do Xingu
T.I. Capoto/Jarina/Barreira Sanitária
15/09/2020 606
Indígenas
Poconé, Nossa Senhora do
Livramento
Com. Quilombola São Gonçalo II
20/07/2020 19
Quilombola
Poconé
Com. Quilombola Carretão
20/07/2020 7
Quilombola
Poconé
Colônia de Pescadores Z11
20/10/2020 30
Pescador
Porto Alegre do Norte
Gleba Xavantinho
30/11/2020 10
Posseiro
Porto Esperidião
Gleba Pau a Pique/Com. Lagoa Bonita
06/02/2020 86
Pequeno proprietário
Pontes e Lacerda, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Porto
Esperidião
T.I. Portal do Encantado
19/05/2020 262
Indígenas
Pontes e Lacerda, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Porto
Esperidião
T.I. Portal do Encantado
15/06/2020 262
Indígenas
61
Pontes e Lacerda, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Porto
Esperidião
T.I. Portal do Encantado
21/08/2020 262
Indígenas
Pontes e Lacerda, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Porto
Esperidião
T.I. Portal do Encantado
15/09/2020 262
Indígenas
Cacoal, Rondolândia, Espigão
D'Oeste
T.I. Sete de Setembro
17/08/2020 344
Indígenas
Rondolândia
T.I. Zoró
15/09/2020 178
Indígenas
Rondolândia, Espigão D'Oeste,
Pimenta Bueno
T.I. Roosevelt
15/09/2020 454
Indígenas
Rondonópolis
T. I. Tadarimana
15/09/2020 175
Indígenas
Rosário Oeste
Área da Empaer/Acamp. Fonte de Luz
21/02/2020 105
Sem Terra
Santa Terezinha, Confresa
T. I. Urubu Branco/Tapirapé
04/03/2020 250
Indígenas
Santa Terezinha, Confresa
T. I. Urubu Branco/Tapirapé
26/05/2020 250
Indígenas
Santa Terezinha, Confresa
T. I. Urubu Branco/Tapirapé
22/07/2020 250
Indígenas
Santa Terezinha, Confresa
T. I. Urubu Branco/Tapirapé
15/09/2020 250
Indígenas
Santo Afonso
Área Rural no Município de Santo
Afonso/Acamp. Pe. José Ten Cate
10/01/2020 24
Sem Terra
Santo Afonso
Área Rural no Município de Santo
Afonso/Acamp. Pe. José Ten Cate
03/02/2020 24
Sem Terra
Santo Antônio do Leste
T.I. Ubawawe/Xavante
24/06/2020 99
Indígenas
Santo Antônio do Leste
T.I. Ubawawe/Xavante
15/09/2020 99
Indígenas
Santo Antônio do Leverger
Comunidade Rural Vale Abençoado
22/01/2020 70
Posseiro
Santo Antônio do Leverger
Comunidade Rural Vale Abençoado
04/02/2020 70
Posseiro
Santo Antônio do Leverger
Comunidade Quilombola Abolição
17/03/2020 22
Quilombola
Santo Antônio do Leverger
T.I. Tereza Cristina
07/05/2020 127
Indígenas
Santo Antônio do Leverger
Comunidade Quilombola Abolição
20/07/2020 22
Quilombola
Santo Antônio do Leverger
T.I. Tereza Cristina
13/09/2020 127
Indígenas
Santo Antônio do Leverger
T.I. Tereza Cristina
15/09/2020 127
Indígenas
São Félix do Araguaia, Bom Jesus
do Araguaia, Alto Boa Vista
T. I. Marãiwatsédé/Xavante/Barreira
Sanitária
16/07/2020 195
Indígenas
São Félix do Araguaia, Bom Jesus
do Araguaia, Alto Boa Vista
T. I. Marãiwatsédé/Xavante/Barreira
Sanitária
30/07/2020 195
Indígenas
São Félix do Araguaia, Bom Jesus
do Araguaia, Alto Boa Vista
T. I. Marãiwatsédé/Xavante/Barreira
Sanitária
11/08/2020 195
Indígenas
São Félix do Araguaia, Bom Jesus
do Araguaia, Alto Boa Vista
T. I. Marãiwatsédé/Xavante/Barreira
Sanitária
15/09/2020 195
Indígenas
Sapezal
T.I. Tirecatinga
15/09/2020 44
Indígenas
Tangará da Serra
T.I Pareci/Paresí
15/09/2020 230
Indígenas
Tangará da Serra
T.I. Estivadinho
15/09/2020 9
Indígenas
Tangará da Serra
T.I. Rio Formoso
15/09/2020 42
Indígenas
Barra do Bugres, Tangará da
Serra
T.I. Figueiras
15/09/2020 5
Indígenas
Conquista D'Oeste, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Nova
Lacerda
T.I. Paukalirajausu
24/01/2020 29
Indígenas
Vila Bela da Santíssima Trindade
Comunidade Quilombola Vale do
Alegre
20/07/2020
Quilombola
Vila Bela da Santíssima Trindade
Com. Quilombola Boqueirão, Vale do
Rio Alegre e Vale do rio Guaporé
20/07/2020
Quilombola
Vila Bela da Santíssima Trindade
Comunidade Quilombola Capão do
Negro
20/07/2020
Quilombola
Vila Bela da Santíssima Trindade
Comunidade Quilombola Manga
20/07/2020
Quilombola
Vila Bela da Santíssima Trindade
Comunidade Quilombola Bela Cor
20/07/2020
Quilombola
Conquista D'Oeste, Vila Bela da
Santíssima Trindade, Nova
Lacerda
T.I. Paukalirajausu
15/09/2020 29
Indígenas
Subtotal: 166
13029
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Glória D'Oeste
Fazenda Nossa Senhora Aparecida
30/11/2020 30
Sem Terra
Jaciara
Fazenda Santa Fé
22/06/2020
Sem Terra
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Esperança/Gl. Nhandu
27/03/2020 100
Sem Terra
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Subtotal: 3
130
Total conflitos por terra - Mato Grosso: 169
13029
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Guarantã do Norte
Fazenda Três Poderes
10/02/2020 1
1
Pecuária
Novo Mundo
Garimpo da Fazenda Chumbo Grosso
10/02/2020 2
2
Garimpo
Subtotal: 2
3
3
Total Conflitos Trabalhistas - Mato Grosso: 2
3
3
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Água Boa
T.I. Areões/Xavante
20/03/2020 336
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Alta Floresta
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Kayabi
02/12/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Alta Floresta
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Kayabi
03/03/2020
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Jacareacanga, Apiacás
T.I. Kayabi
02/12/2020 192
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Barra do Garças, General Carneiro
T.I. Merure
20/03/2020 164
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra do Garças
T.I. São Marcos/Xavante
20/03/2020 712
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brasnorte
T.I. Irantxe/Manoki
09/07/2020 94
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Desconstrução do
histórico-cultural
Brasnorte
T.I. Manoki
22/09/2020 63
Barragens e
Açudes
Brasnorte
T.I. Irantxe/Manoki
22/09/2020 94
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Cáceres
Comunidade Pantaneira Porto Limão
15/06/2020 53
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Ribeirão Cascalheira, Canarana
T. I. Pimentel Barbosa/Xavante
20/03/2020 440
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Cláudia
UHE
de Sinop/Assent. 12 de Outubro/PAC
31/08/2020 28
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Cláudia
UHE
de Sinop/Assent. 12 de Outubro/PAC
22/10/2020 28
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Cotriguaçu
T.I. Escondido
02/12/2020 11
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Juara
T.I. Apiaka/Kayabi
02/12/2020 221
Barragens e
Açudes
Nova Canaã do Norte, Tabaporã,
Apiacás, Juara
T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald.
Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
02/12/2020 38
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Não cumprimento de
procedimentos legais
Nova Maringá, Campo Novo do
Parecis, Diamantino
T.I. Ponte de Pedra
08/10/2020 107
Barragens e
Açudes
Poxoréo, Novo São Joaquim,
General Carneiro
T. I. Sangradouro/Volta Grande/
Xavante
20/03/2020 221
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santo Antônio do Leverger
T.I. Tereza Cristina
17/02/2020 127
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sinop
UHE Sinop/Colônia de Pescadores
Z-16/PAC
31/08/2020 70
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Sinop, Tabaporã, Tapurah
Gl. Mercedes V/P.A. Wesley Manoel
Santos
31/08/2020 214
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Sinop, Tabaporã, Tapurah
Gl. Mercedes V/P.A. Wesley Manoel
Santos
10/08/2020 214
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 22
Total dos Conflitos no Campo - Mato Grosso: 193
Mato Grosso do Sul
TERRA
3091
Pessoas: 64483
63
Conflitos por Terra
Município(s)
Amambai
Nome do Conflito
Com. Indígena Guapo'y/Barreira
Sanitária
Data
Famílias Categoria
08/07/2020
Indígenas
Indígenas
Amambai
T. I. Amambai/Barreira Sanitária
31/08/2020 2009
Amambai
T. I. Jaguari/Barreira Sanitária
31/08/2020 95
Indígenas
Amambai
Aldeia Limão Verde/Barreira Sanitária
31/08/2020
Indígenas
Antônio João
Nhanderu Marangatu/Barreira Sanitária
08/07/2020 150
Indígenas
Aquidauana
Aldeia Água Branca/Barreira Sanitária
22/03/2020 20
Indígenas
Aquidauana
T. I. Limão Verde/Barreira Sanitária
30/04/2020 316
Indígenas
Aquidauana
Aldeia Água Branca/Barreira Sanitária
21/07/2020 20
Indígenas
Aquidauana, Caarapó
Jeroky Guasu
24/08/2020 20
Indígenas
Aquidauana
T. I. Taunay Ipegue/Barreira Sanitária
01/09/2020 1022
Indígenas
Aral Moreira
Fazenda Água Branca
31/01/2020 30
Indígenas
Aral Moreira
T. I. Guasuti/Barreira Sanitária
30/04/2020 167
Indígenas
Aral Moreira
Cristino Potrero/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Aral Moreira
Vila Satélite/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Aral Moreira
Com. Indígena Guaiviry/Barreira
Sanitária
08/07/2020
Indígenas
Bataguassu
Acamp. Indígena em Vila Urbana/
Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Bela Vista, Ponta Porã
T. I. Pirakuá/Barreira Sanitária
08/07/2020 136
Indígenas
Bonito
Fazenda Baraúna
12/06/2020 20
Sem Terra
Caarapó
Com. Tey'i Juçu/Tey'i Jusu
31/01/2020 30
Indígenas
Caarapó
T. I. Pindo Roky/Itaguá/Retomada das
Mães/Faz. Novilho/Nhandeva/T. I.
Dourados Amambai Peguá
08/02/2020 150
Indígenas
Caarapó
T. I. Guyraroká/Barreira Sanitária
29/05/2020 32
Indígenas
Caarapó
Aldeia Te Yikue/Te'yikue/Barreira
Sanitária
09/07/2020 40
Indígenas
Caarapó
Tekoha Toropaso/T. I. Dourados
Amambai Peguá
24/08/2020 24
Indígenas
Campo Grande
Aldeia Água Bonita/Barreira Sanitária
15/07/2020 251
Indígenas
Coronel Sapucaia
T. I. Taquaperi/Barreira Sanitária
30/04/2020 834
Indígenas
Amambai, Coronel Sapucaia
Kurusu Ambá/Barreira Sanitária
08/07/2020 50
Indígenas
Corumbá
Comunidade Paraguai Mirim
25/04/2020 38
Ribeirinho
Ribeirinho
Corumbá
Com. Ribeirinha Porto Manga
14/08/2020 50
Corumbá
Com. Ribeirinha da Serra Negra
21/09/2020 7
Ribeirinho
Douradina
Ita'y Ka'aguyrusu/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Douradina
Retomada Guyra Kambi’y/Guyra
Cambiy/Barreira Sanitária
08/07/2020 20
Indígenas
Douradina, Itaporã
T. I. Panambi Lagoa Rica/Barreira
Sanitária
08/07/2020 254
Indígenas
Dourados
Acamp. Nhu Vera/Nu Vera/Barreira
Sanitária
02/01/2020 45
Indígenas
Dourados
Acamp. Nhu Vera/Nu Vera/Barreira
Sanitária
16/01/2020 45
Indígenas
Dourados
Avaete e Aratikuty/Barreira Sanitária
28/01/2020 135
Indígenas
Dourados
Avaete e Aratikuty/Barreira Sanitária
29/01/2020 135
Indígenas
Dourados
Acamp. Nhu Vera/Nu Vera/Barreira
Sanitária
05/03/2020 45
Indígenas
Dourados
Picadinha/Guarani Kaiowá/Barreira
Sanitária
30/04/2020 19
Indígenas
Dourados
Pakurity/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Paso Piraju/Barreira Sanitária
30/04/2020 30
Indígenas
Dourados
Califórnia/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Unati Poke'e Hu Verá/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Jaicha Piru/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Itahum/Guarani Kaiowá/Barreira
Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Boqueiron/Boqueron/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Nu Verá Guasu/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Nu Porã/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Dourados
Com. Apyka'y/Barreira Sanitária
30/04/2020 5
Indígenas
Dourados
Vila Formosa/Agrovila/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Dourados
T. I. Panambizinho/Barreira Sanitária
02/06/2020 101
Dourados
Passo Piraju/Barreira Sanitária
08/07/2020 8
Indígenas
Indígenas
Dourados
Yvu Verá/Barreira Sanitária
24/08/2020 1
Indígenas
Dourados
Retomada Yvy Rovy Poty/Imediações
das Aldeias Bororo e Jaguapiru/Barreira
Sanitária
25/08/2020 15
Indígenas
Dourados
Aldeias Bororo e Jaguapiru/Barreira
Sanitária
01/09/2020 3755
Indígenas
Eldorado
T. I. Cerrito/Barreira Sanitária
08/07/2020 146
Indígenas
Guia Lopes da Laguna
Cerro'i/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Iguatemi
Porto Lindo/Barreira Sanitária
08/07/2020
Indígenas
Japorã
Porto Lindo/Jakarey/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Jardim
Laranjal Takuaju/Barreira Sanitária
30/04/2020 45
Indígenas
Jateí
Aldeinha/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Juti
T. I. Taquara/Takuara/Barreira Sanitária
08/07/2020 73
Indígenas
Juti
T. I. Jarara/Barreira Sanitária
08/07/2020 75
Indígenas
Ladário
APA Baía Negra
14/08/2020 40
Ribeirinho
Laguna Carapã
T. I. Guaimbé/Barreira Sanitária
30/04/2020 124
Indígenas
Laguna Carapã
T. I. Rancho Jacaré/Barreira Sanitária
08/07/2020 111
Indígenas
Maracaju
T. I. Sucuriy/Barreira Sanitária
08/07/2020 98
Indígenas
Miranda
T. I. Pilad Rebuá/Barreira Sanitária
30/04/2020 100
Indígenas
Indígenas
Miranda, Aquidauana
T. I. Cachoeirinha/Barreira Sanitária
30/04/2020
Miranda
T. I. Lalima/Barreira Sanitária
30/04/2020 377
1230
Indígenas
Naviraí
Acamp. Juncal/Guarani-Kaiowá/Barreira
Sanitária
16/01/2020 15
Indígenas
Naviraí
Acamp. Kurupi/BR-163/Guarani-Kaiowá
16/01/2020 30
Indígenas
Naviraí
T. I. Santiago Kue/Kurupi/Barreira
Sanitária
30/04/2020 25
Indígenas
Nioaque
T. I. Nioaque/Barreira Sanitária
30/04/2020 383
Indígenas
Novo Horizonte do Sul
Acamp. Indígena em Vila Urbana/
Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Paranhos
T. I. Sete Cerros/Barreira Sanitária
30/04/2020 153
Indígenas
Paranhos
T. I. Takuaraty/Yvykuarusu/Paraguasu/
Barreira Sanitária
30/04/2020 147
Indígenas
Paranhos
T. I. Y'poí/Ypoí/T. I. Ypoi-Triunfo/Barreira
Sanitária
08/07/2020 217
Indígenas
Paranhos
T. I. Arroio Korá/Proteiro Corá/Barreira
Sanitária
08/07/2020 149
Indígenas
Paranhos
T. I. Protero Guasu/Guaçu/Barreira
Sanitária
08/07/2020 196
Indígenas
Paranhos
T. I. Pirajuí/Barreira Sanitária
08/07/2020 610
Indígenas
Ponta Porã
T. I. Jata Yvary/Jatayvary/Lima Campo/
Barreira Sanitária
08/07/2020 120
Indígenas
Ponta Porã
Aldeia Kokue'y/Barreira Sanitária
02/10/2020 33
Indígenas
Ponta Porã
Aldeia Kokue'y/Barreira Sanitária
05/10/2020 33
Indígenas
Rio Brilhante
Com. Laranjeira Nhanderu/Barreira
Sanitária
01/01/2020 45
Indígenas
Rio Brilhante
Oka'i/Coquerito/Distrito de Prudêncio
Thomaz/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Rio Brilhante
Tajasu/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Rio Brilhante
Sete Placas/Guarani Kaiowá/Barreira
Sanitária
30/04/2020 25
Indígenas
Rio Brilhante
Aroeira/Jerove’i e Ju’ikua/Barreira
Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Sete Quedas
T. I. Sombrerito/Barreira Sanitária
08/07/2020 52
Indígenas
Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia T. I. Buriti/Barreira Sanitária
30/04/2020 635
Indígenas
Sidrolândia
Aldeia Terere/Barreira Sanitária
30/06/2020 200
Indígenas
Sidrolândia
Aldeia Nova Nascente/Barreira Sanitária
30/06/2020 90
Indígenas
Tacuru
T. I. Jaguapiré/Barreira Sanitária
01/03/2020 273
Indígenas
Tacuru
Reserva Indígena Sassoró/Barreira
Sanitária
08/07/2020 605
Indígenas
Iguatemi, Tacuru
Com. Indígena Pyelito Kue/Barreira
Sanitária
08/07/2020 20
Indígenas
Vicentina
Vila Rica/Barreira Sanitária
30/04/2020
Indígenas
Subtotal: 96
16321
65
Total conflitos por terra - Mato Grosso do Sul: 96
16321
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Corumbá
Fazenda na Região Paiaguás
15/12/2020 7
7
Itaquiraí
Lavoura de Mandioca
30/06/2020 24
24
Pecuária
4
Mandioca
Nioaque
Fazenda Salto
01/12/2020 15
15
8
Soja
Porto Murtinho
Fazenda Marabá
15/12/2020 17
17
2
Pecuária
Subtotal: 4
63
63
14
Total Conflitos Trabalhistas - Mato Grosso do Sul: 4
63
63
14
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Aquidauana
Aldeia Bananal
24/04/2020 60
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Corumbá
Com. Barra de São Lourenço
04/12/2020 25
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Miranda
T. I. Pilad Rebuá/Barreira Sanitária
24/04/2020 100
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Miranda
Com. Ka’ikoe/T. I. Cachoeirinha
11/12/2020 100
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Porto Murtinho
Aldeia São João/TI Kadiweu
24/04/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Iguatemi, Tacuru
Com. Indígena Pyelito Kue/Barreira
Sanitária
08/07/2020 20
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 6
305
Total dos Conflitos no Campo - Mato Grosso do Sul: 106
Pessoas: 66567
Minas Gerais
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Almenara
Assentamento Esperança Santa Rosa
13/02/2020 16
Assentado
Almenara
Faz. São Francisco/Acamp. Princesa
do Vale
10/03/2020 300
Sem Terra
Barão de Cocais
Mina do Brucutu/ Com. Laranjeiras /
Com. São José de Brumadinho/Vale do
Rio Doce
18/11/2020 30
Pequeno proprietário
Jenipapo de Minas, Chapada do
Norte, Minas Novas, Berilo,
Coronel Murta, Virgem da Lapa
Várias Comunidades Quilombolas do
Jequitinhonha
02/11/2020
Quilombola
Bocaiúva
Com. Quilombola Sítio e Mocambo
30/07/2020 30
Quilombola
Brumadinho
Com. Parque da Cachoeira/Romp. da
Barragem Mina do Feijão/Vale
30/07/2020 15
Pequeno proprietário
Campo do Meio
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo Grande
21/02/2020 450
Sem Terra
Campo do Meio
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo Grande
30/07/2020 450
Sem Terra
Campo do Meio
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo Grande
13/08/2020 450
Sem Terra
Campo do Meio
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo Grande
17/08/2020 450
Sem Terra
Campo do Meio
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo Grande
24/08/2020 450
Sem Terra
Formoso
Fazenda Piratinga/São Cristóvão
22/09/2020 46
Sem Terra
Grão Mogol
Faz. Rio Rancho/Buriti Pequeno/Com.
Geraizeiros do Vale das Cancelas
05/01/2020 230
Geraizeiro
Grão Mogol
Com. Geraizeiras Vale das Cancelas/
Mineroduto Vale do Rio Pardo/
Mineradora SAM/Brook eds
28/05/2020 80
Geraizeiro
Gurinhatã
Faz. Córrego da Jacuba/Acamp. ArcoÍris
31/07/2020 60
Sem Terra
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Ibiaí
Com. Extrativista Barra do Pacuí e
Pescadores Artesanais às margens do
Rio São Francisco
31/05/2020 60
Pescador
Itacarambi
Aldeia Vargem Grande/T. I. Xakriabá/
Faz. São Judas Tadeu
04/04/2020
Indígenas
Itatiaiuçu
Acamp. Maria da Conceição/Faz. Santa
Terezinha
20/01/2020 200
Sem Terra
Januária
Com. Quil. Croatá/Rio São Francisco/
Romp. da Barragem Mina do Feijão/
Vale
04/07/2020 65
Quilombola
Januária
Com. Quilombola Gameleira Januária/
Faz. Itapiraçaba
25/10/2020 100
Quilombola
Januária
Com. Quilombola Gameleira Januária/
Faz. Itapiraçaba
20/11/2020 100
Quilombola
Ouro Preto
Com. Antônio Pereira/Barragem
Doutor/Mina de Timbopeba/Vale
01/04/2020 78
Pequeno proprietário
Patos de Minas
Faz. no Distrito de Boassara/Com.
Quil. São Sebastião
28/01/2020 1
Quilombola
Pedras de Maria da Cruz
Fazenda Arapuim
31/01/2020 300
Posseiro
Pirapora
Faz. da Prata/Acamp. José Bandeira
17/02/2020 180
Sem Terra
Riacho dos Machados
Com. Ipiranga/Mineradora Yamana
Gold
28/08/2020
Pequeno proprietário
São João das Missões
Terra do Morro Vermelho/Xakriabá
04/04/2020 35
Indígenas
São Joaquim de Bicas
Compl. Fazs. de Eike Batista/Acamp.
Pátria Livre/Zequinha/José Nunes/
Romp. da Barragem Mina do Feijão/
Vale
20/01/2020 200
Sem Terra
Tumiritinga
Faz. Jaqueira/Acamp. Boa Esperança/
Empresa Fibria
23/01/2020 50
Sem Terra
Virgem da Lapa
Com. Quil. Capim Puba
10/03/2020 30
Quilombola
Virgem da Lapa
Com. Biquinha/Com. Geraizeira Vale
das Cancelas
10/03/2020 30
Quilombola
Subtotal: 31
2586
Total conflitos por terra - Minas Gerais: 31
2586
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Andradas
Fazenda São Pedro
01/10/2020 10
10
Café
Andradas
Fazenda de Café
01/10/2020 10
10
Café
Araxá
Fazendas Moriá e Laje Alvorada do
Canto Galo
20/08/2020 18
13
Café
Araxá
Fazenda Bom Sucesso
12/12/2020 27
27
Lavoura
Bambuí
Fazenda Glória
04/08/2020 1
1
Pecuária
Caldas
Fazenda Vargem Limpa
03/08/2020 9
9
Campos Altos
Fazenda Mesas
24/06/2020 34
34
Carvoaria
Carmo do Cajuru
Fazenda Ermo
07/07/2020 3
3
Carvoaria
Café
1
Café
Carvalhópolis
Sítio Estiva
23/07/2020 11
8
Conceição da Aparecida
Fazenda Cedro
16/07/2020 9
9
Café
Coração de Jesus
Fazenda Lagoa Grande
29/09/2020 5
3
Carvoaria
Del nópolis
Fazenda Bom Jardim
30/06/2020 39
39
Formiga
Fazenda Santa Edwiges
05/11/2020 7
7
3
Carvoaria
Café
2
Pecuária
Grão Mogol
Faz. São Francisco/Cerâmica União
27/02/2020 17
Ibiá
Fazenda Mata do Retiro
17/08/2020 3
Carvoaria
Ibiaí
Fazenda Bananal
04/03/2020 2
2
Carvoaria
Inimutaba
Fazenda Santa Clara
10/03/2020 3
3
Carvoaria
Matias Cardoso
Fazenda Terra Seca
25/08/2020 14
11
Cultivo de limão
Medeiros
Faz. Boa Vista/Cervo
27/01/2020 12
9
Carvoaria
Medeiros
Fazs. Ventania e Mantíbio
27/01/2020 6
6
Carvoaria
Medeiros
Faz. Boa Vista/Cervo
27/01/2020 10
7
Carvoaria
Mirabela
Fazenda Ouro Verde
24/08/2020 4
2
Carvoaria
Montes Claros
Extração de Argila
05/10/2020 2
2
Extração de argila
(mineração)
Oliveira Fortes
Faz. Não Informada/Plantação de
Mogno
15/11/2020 55
10
Plantação de mogno
67
Perdizes
Fazs. Cachoeirinha/Bela Vista/Santa
Bárbara/Antinha/Boa Sorte
19/06/2020 15
15
Piranguinho
Fazenda Retiro
12/03/2020 2
2
Pecuária
Rio Pardo de Minas
Fazenda Renascer
26/08/2020 9
5
Carvoaria
Rio Pardo de Minas
Carvoaria em Rio Pardo de Minas
26/08/2020 12
10
Carvoaria
Sete Lagoas
Fazenda Paiol Queimado
15/04/2020 14
13
Carvoaria
Tapira
Fazenda Água Parada
15/04/2020 7
7
Carvoaria
Turvolândia
Fazenda Bela Vista
15/04/2020 17
8
Café
1
Subtotal: 31
387
287
5
Total Conflitos Trabalhistas - Minas Gerais: 31
387
287
5
Carvoaria
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Acaiaca
Com. Goiabeira/Rompimento da
01/07/2020 25
Barragem da Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aimorés
Com. Sto. Antônio do Rio Doce e
Outros/Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
08/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Alpercata
Com. Ribeirinha de Alpercata/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
08/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro,
Alvorada de Minas
Mineroduto/Minas Rio/Anglo American
25/08/2020 250
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro,
Alvorada de Minas
Com. Quil. Ferrugem/Serra do Sapo/
Proj. Minas-Rio/Anglo American
25/08/2020 1
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barão de Cocais, Santa Bárbara
Com. Socorro/Barragem Sul Superior/
Mina Gongo Soco/Vale
13/11/2020 125
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Ocidente/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Apaga Fogo/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Corvinas/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Floresta/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. de Gesteira/Rompimento da
05/05/2020 20
Barragem da Samarco-Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não reassentamento
Barra Longa
Com. Ribeirinha de Barra Longa/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
05/05/2020 136
Uso e
preservação
Não reassentamento
Barra Longa
Com. de Mandioca/Rompimento da
Barragem da Samarco/Val/BHP Billiton
01/07/2020 20
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Tanque/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Jurumirim/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Onça/Rompimento da Barragem
Fundão/Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Capela Velha/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Ribeirinha de Barra Longa/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
26/08/2020 136
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. São Gonçalo/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. Vista Alegre/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra Longa
Com. de Gesteira/Rompimento da
01/07/2020 20
Barragem da Samarco-Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Barra Longa
Com. Barreto/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Belo Oriente
Com. Ribeirinha de Belo Oriente/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020 200
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Betim, Juatuba
Faz. Ponte Nova/Vinhático/Acamp. 2 de
Julho/Romp. da Barragem Mina do
30/09/2020 50
Feijão/Vale
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Bom Jesus do Galho
Com. de Bom Jesus do Galho/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brumadinho
Com. Rural Ponte das Almorreimas/
Romp. da Barragem Mina do Feijão
30/07/2020 200
Apropriação
Particular
Diminuição do acesso à
Água
Brumadinho
Assentamento Pastorinhas
30/09/2020 200
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Bugre
Com. Ribeirinha de Bugre/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Capinópolis
Usina Vale do Paranaíba
17/02/2020 12
Barragens e
Açudes
Impedimento de acesso
à água
Caratinga
Com. de Caratinga/Rompimento da
01/07/2020 200
Barragem da Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Jenipapo de Minas, Francisco
Badaró, Chapada do Norte
Barragem de Setúbal/PAC
14/05/2020 50
Barragens e
Açudes
Reassentamento
inadequado
Conceição do Mato Dentro
Com. Faustinos/Proj. Minas-Rio/Anglo
American
25/08/2020 25
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. Sebastião do Bom Sucesso Sapo/Proj. Minas-Rio/Anglo American
25/08/2020 170
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. do Turco/Projeto Minas-Rio/Anglo
American
25/08/2020 70
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. Cabeceira do Turco/Projeto
Minas-Rio/Anglo American
25/08/2020 2
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. do Jassém/Proj. Minas-Rio/Anglo
American
25/08/2020 90
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Família Pimenta/Proj. Minas-Rio/Anglo
American
25/08/2020 9
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. Passa Sete/Proj. Minas-Rio/
Mineradora Anglo American
25/08/2020 80
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro
Com. Quil. Água Santa/Mumbuca/Anglo
Ferrous/Anglo American/MontCalm/
25/08/2020 80
MMX
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Congonhas
Comunidade do Barnabé
01/08/2020
Apropriação
Particular
Diminuição do acesso à
Água
Conselheiro Pena
Com. Ribeirinha de Conselheiro Pena/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Coronel Fabriciano
Com. Ribeirinha de Coronel Fabriciano/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Córrego Novo
Com. Ribeirinha de Córrego Novo/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Curvelo
Com. de Cachoeira do Choro/Romp. da
30/09/2020 700
Barragem Mina do Feijão/Vale
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Dionísio
Com. Baixa Verde e Outros/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Fernandes Tourinho
Com. Ribeirinha de Fernandes
Tourinho/Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Galiléia
Com. Ribeirinha de Galiléia/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Governador Valadares
Com. Ribeirinha de Governador
Valadares/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Governador Valadares
Com. Ribeirinha de Governador
Valadares/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale/BHP Billiton
20/01/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Iapu
Com. Ribeirinha de Iapu/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
69
Ipatinga
Com. Ribeirinha de Ipatinga/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Itamarandiba
Comunidade Mandingueiro
31/12/2020
Uso e
preservação
Contaminação por
agrotóxico
Itueta
Com. Ribeirinha de Itueta/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Josenópolis
Comunidade Corralim
21/12/2020
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Josenópolis
Comunidade Corralim
24/08/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Juatuba
Com. Rural Bairro Satélite/Romp. da
Barragem Mina do Feijão/Vale
30/09/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Juatuba
Com. Rural de Francelinos/Romp. da
Barragem Mina do Feijão/Vale
30/09/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Juatuba
Com. de Pescadores de Juatuba/
Romp. da Barragem Mina do Feijão/
Vale
30/09/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Mariana
Com. Ribeirinha de Águas Claras/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Paracatu de Baixo/Rompimento
05/05/2020 80
da Barragem/Samarco/Vale-BHP Billiton
Uso e
preservação
Não reassentamento
Mariana
Com. Bento Rodrigues/Rompimento da
05/05/2020 225
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não reassentamento
Mariana
Com. Bento Rodrigues/Rompimento da
01/07/2020 225
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Paracatu de Baixo/Rompimento
01/07/2020 80
da Barragem/Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Borba /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Paracatu de Cima /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. de Pedras/Rompimento da
01/07/2020 75
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Ponte do Gama/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Camargos/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. de Pedras/Rompimento da
05/05/2020 75
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não reassentamento
Mariana
Com. Campinas /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Bicas /Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mariana
Com. Ponte do Gama/Rompimento da
Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP
Billiton
05/05/2020
Uso e
preservação
Não reassentamento
Mariana
Com. de Cachoeira/Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Marliéria
Com. Cava Grande e Outras/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Miradouro
Moinho da Com. Santa Bárbara/CGH
30/11/2020 80
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Naque
Com. Ribeirinha de Naque/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
01/07/2020 40
Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Nova Lima
Com. São Sebastião das Águas
Claras/Vale
17/07/2020 50
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Novo Cruzeiro
Faz. Gravatá/Córrego Fundo/Acamp.
Nova Vida
30/03/2020 45
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Novo Cruzeiro
Com. Córrego da Saudade/Vale do
Jequitinhonha
30/03/2020 50
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Paraopeba
Com. Quilombola de Pontinha/Romp.
da Barragem Mina do Feijão/Vale
06/07/2020 300
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Perdizes
Fazenda Água Santa
31/05/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Periquito
Com. de Pedra Corrida e Outras/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020 200
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Pingo-d'Água
Com. Ribeirinha de Pingo d' Água/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Pompéu
Assent. Queima Fogo/Romp. da
Barragem Mina do Feijão/Vale
30/09/2020 35
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Raul Soares
Com. Ribeirinha de Raul Soares/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Resplendor
Com. Ribeirinha de Resplendor/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Resplendor
T. I. Krenak/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020 126
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Casca
Com. Ribeirinha Rio Casca/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Jorge /Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Tapera/Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Soberbo Velho/Novo Soberbo/
UHE Candonga/Romp. da Barragem
da Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Limoeiro /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Ribeirinha Rio Doce/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Jaracatía /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Santana do Deserto/Rompimento
da Barragem da Samarco/Vale/BHP
Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Maribondo /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Matadouro /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Limeira /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Doce
Com. Funil/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Salto da Divisa
Hidrelétrica de Itapebi
14/03/2020 35
Barragens e
Açudes
Falta de projeto de
reassentamento
Santa Cruz de Minas
Com. Congo /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Merengo /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Simplício/Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Jeronimo /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Viana/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Barra do Piranga/Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Sitio Salazar /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Sitio Limoeiro /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Córrego Novo /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Cotas /Rompimento da Barragem
01/07/2020
da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Chacrinha /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Ribeirinha Sta. Cruz do
Escalvado/Rompimento da Barragem
da Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
09/10/2020 120
01/07/2020 60
01/07/2020
71
Santa Cruz do Escalvado
Com. São José da Vargem Alegre/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Córrego dos Inácios /
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale-BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santa Cruz do Escalvado
Com. Porto Plácido /Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Santana do Paraíso
Com. de Santana do Paraíso/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
São Domingos do Prata
Com. Ribeirinha de São Domingos do
Prata/Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
São Joaquim de Bicas
Aldeia Naô Xohã/Povo Pataxó Hã Hã
Hãe/Romp. Barragem Mina do Feijão/
Vale
01/07/2020 61
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
São José do Goiabal
Com. Ribeirinha São José do Goiabal/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
São Pedro dos Ferros
Com. Ribeirinha São Pedro dos Ferros/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sem-Peixe
Com. Ribeirinha Sem Peixe/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Sobrália
Com. Ribeirinha de Sobrália/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Timóteo
Com. de Timóteo/Rompimento da
01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Tumiritinga
Com. Ribeirinha de Tumiritinga/
Rompimento da Barragem da
Samarco/Vale/BHP Billiton
01/07/2020 500
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Urucânia
Comunidade Rural de Urucânia
30/04/2020 5
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Subtotal: 125
4802
Total dos Conflitos no Campo - Minas Gerais: 187
Pessoas: 29939
Pará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Abaetetuba
Com. Quilombola Unidos do Rio
Capim/Barreira Sanitária
01/05/2020 113
Quilombola
Abaetetuba
Quilombo Zumbi dos Palmares do
Igarapé Vilar/Barreira Sanitária
01/05/2020 54
Quilombola
Abaetetuba
Com. Quilombolas das Ilhas de
Abaetetuba/Barreira Sanitária
01/05/2020 701
Quilombola
Abaetetuba
Comunidades do Curuperé-Grande/
Barreira Sanitária
01/05/2020 400
Quilombola
Abaetetuba
Com. Quilombolas das Ilhas de
Abaetetuba/Barreira Sanitária
11/05/2020 701
Quilombola
Tomé-Açu, Acará
Com. Quil. Alto Acará
03/03/2020 650
Quilombola
Alenquer
Faz. Arapary/Açaí Amazonas Ind. e
Com. Ltda.
21/01/2020
Sem Informação
Alenquer
PDS Paraíso
07/07/2020 572
Assentado
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Koatinemo
27/01/2020 46
Indígenas
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu
E. Eco. Terra do Meio/Serra do Pardo/
Barreira Sanitária
12/03/2020
Extrativista
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu, Senador José Porfírio
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/
PAC
12/03/2020 187
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
Área de Proteção Ambiental-APA
Triunfo do Xingu/Terra do Meio/Barreira
Sanitária
12/03/2020 2000
Extrativista
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu, Senador José Porfírio
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/
PAC
19/04/2020 187
Indígenas
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Araweté Igarapé Ipixuna
19/04/2020
Indígenas
117
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
05/05/2020 22
Indígenas
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
13/05/2020 22
Indígenas
Peixoto de Azevedo, Altamira, São
T.I. Menkragnoti
Félix do Xingu, Matupá
26/05/2020 316
Indígenas
Guarantã do Norte, Altamira,
Matupá
T.I. Panará
26/05/2020 136
Indígenas
Altamira
Resex Riozinho do Anfrísio/Grileiro CR
Almeida
06/07/2020 51
Indígenas
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
06/07/2020 22
Indígenas
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu
E. Eco. Terra do Meio/Serra do Pardo/
Barreira Sanitária
06/07/2020
Extrativista
Altamira
Resex do Iriri/Gleba Curuá/Grileiro CR
Almeida
06/07/2020 55
Extrativista
Altamira
T.I. Baú/Kayapó
06/07/2020 47
Indígenas
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu, Senador José Porfírio
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/
PAC
06/07/2020 187
Indígenas
Altamira
T. I. Xipáia Kuruáia/UHE Belo Monte/
PAC/Barreira Sanitária
16/07/2020 41
Indígenas
Altamira
T.I. Baú/Kayapó
17/08/2020 47
Indígenas
Peixoto de Azevedo, Altamira, São
T.I. Menkragnoti
Félix do Xingu, Matupá
17/08/2020 316
Indígenas
Peixoto de Azevedo, Altamira, São
T.I. Menkragnoti
Félix do Xingu, Matupá
24/08/2020 316
Indígenas
Altamira
24/08/2020 47
Indígenas
Peixoto de Azevedo, Altamira, São
T.I. Menkragnoti
Félix do Xingu, Matupá
T.I. Baú/Kayapó
01/09/2020 316
Indígenas
Altamira
T.I. Baú/Kayapó
01/09/2020 47
Indígenas
Guarantã do Norte, Altamira,
Matupá
T.I. Panará
01/09/2020 136
Indígenas
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
08/09/2020 22
Indígenas
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Koatinemo
08/09/2020 46
Indígenas
Altamira
T. I. Xipáia Kuruáia/UHE Belo Monte/
PAC/Barreira Sanitária
08/09/2020 41
Indígenas
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu, Senador José Porfírio
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/
PAC
08/09/2020 187
Indígenas
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Araweté Igarapé Ipixuna
08/09/2020
Indígenas
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
09/09/2020 22
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
Área de Proteção Ambiental-APA
Triunfo do Xingu/Terra do Meio/Barreira
Sanitária
16/09/2020 2000
Extrativista
Altamira
Resex do Médio Xingu/Terra do Meio/
Barreira Sanitária
16/09/2020 330
Ribeirinho
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu
E. Eco. Terra do Meio/Serra do Pardo/
Barreira Sanitária
16/09/2020
Extrativista
Altamira
T.I. Baú/Kayapó
117
19/10/2020 47
Indígenas
Peixoto de Azevedo, Altamira, São
T.I. Menkragnoti
Félix do Xingu, Matupá
19/10/2020 316
Indígenas
Guarantã do Norte, Altamira,
Matupá
T.I. Panará
19/10/2020 136
Indígenas
Ananindeua
Com. Quilombola do Abacatal/Barreira
Sanitária
08/01/2020 121
Quilombola
Ananindeua
Com. Quilombola do Abacatal/Barreira
Sanitária
01/05/2020 121
Quilombola
Anapu
Gl. Bacajá/Lotes 96 e 97/Fazs. Bom
Jesus e Berrante
30/01/2020 90
Sem Terra
Anapu
Gl. Bacajá/P. A. Pilão Poente II/
Lote-69-71-73/Mata Preta
30/06/2020 187
Sem Terra
Anapu
Gl. Bacajá/Lote 46/ Faz. Sta. Luzia
30/06/2020 42
Sem Terra
Anapu
Gl. Bacajá/P. A. Pilão Poente II/Lote 73
30/06/2020 38
Sem Terra
73
Anapu
Gl. Bacajá/P. A. Pilão Poente II/Lote 71
30/06/2020 25
Sem Terra
Anapu
Gl. Bacajá/Lt. 68/Mata Preta
30/06/2020 50
Sem Terra
Vitória do Xingu, Anapu, Senador
José Porfírio
T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo
Monte/PAC/Barreira Sanitária
16/07/2020 45
Indígenas
Vitória do Xingu, Anapu, Senador
José Porfírio
T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo
Monte/PAC/Barreira Sanitária
08/09/2020 45
Indígenas
Anapu
P.A. Pilão Poente III
09/10/2020 193
Assentado
Anapu
P.A. Pilão Poente III
27/10/2020 193
Assentado
Anapu
Gleba Bacajá/PDS Esperança/
Assassinato da Ir. Dorothy
27/10/2020 178
Assentado
Vitória do Xingu, Anapu, Senador
José Porfírio
T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo
Monte/PAC/Barreira Sanitária
13/11/2020 45
Indígenas
Anapu
Ameaçados de Morte
31/12/2020
Sem Terra
Anapu
Gl. Bacajá/Lotes 96 e 97/Fazs. Bom
Jesus e Berrante
31/12/2020 90
Sem Terra
Anapu
G. Bacajá/PDS Esperança/L.
59-60-61-62/ Júlio César
31/12/2020 120
Sem Terra
Anapu
Gleba Bacajá/PDS Esperança/
Assassinato da Ir. Dorothy
31/12/2020 178
Assentado
Barcarena
Com. Quilombola Sítio Conceição/
Hydro Alunorte
01/07/2020
Quilombola
Belterra
T.I. Munduruku Taquara/Barreira
Sanitária
19/05/2020 43
Indígenas
Belterra
T.I. Bragança-Marituba/Barreira
Sanitária
19/05/2020 58
Indígenas
Belterra
T.I. Munduruku Taquara/Barreira
Sanitária
20/05/2020 43
Indígenas
Belterra
T.I. Bragança-Marituba/Barreira
Sanitária
20/05/2020 58
Indígenas
Belterra
T.I. Munduruku Taquara/Barreira
Sanitária
27/08/2020 43
Indígenas
Belterra
T.I. Bragança-Marituba/Barreira
Sanitária
27/08/2020 58
Indígenas
Benevides
Fazenda Sopalme/Acamp. Terra
Cabana
28/09/2020 400
Sem Terra
Canaã dos Carajás
Parque Nac. dos Campos
Ferruginosos/Proj. S11D/Vale
04/02/2020 100
Pequeno proprietário
Conceição do Araguaia
Fazenda Sa ta/Acamp. Vitória da
União
25/09/2020 30
Sem Terra
Conceição do Araguaia
Fazenda Sa ta/Acamp. Vitória da
União
01/10/2020 30
Sem Terra
Conceição do Araguaia
Fazenda Sa ta/Acamp. Vitória da
União
15/10/2020 30
Sem Terra
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
12/03/2020 1137
Indígenas
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
19/04/2020 1137
Indígenas
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
06/07/2020 1137
Indígenas
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
19/10/2020 1137
Indígenas
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
10/11/2020 1137
Indígenas
São Félix do Xingu, Cumaru do
Norte, Bannach, Ourilândia do
Norte
T. I. Kayapó
11/11/2020 1137
Indígenas
Eldorado do Carajás, Piçarra,
Curionópolis, Xinguara
Faz. Surubim/Acamp. Osmir Venuto da
Silva
18/09/2020 35
Sem Terra
Eldorado do Carajás, Piçarra,
Curionópolis, Xinguara
Faz. Surubim/Acamp. Osmir Venuto da
Silva
14/12/2020 35
Sem Terra
Eldorado do Carajás, Piçarra,
Curionópolis, Xinguara
Faz. Surubim/Acamp. Osmir Venuto da
Silva
15/12/2020 35
Sem Terra
Oriximiná, Faro
T.I. Trompetas-Mapuera
11/08/2020 131
Indígenas
Goianésia do Pará
Fazenda Rancho Grande
19/01/2020 12
Sem Terra
Goianésia do Pará
Faz. Baronesa/Acamp. São Sebastião
31/01/2020 105
Sem Terra
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Eldorado do Carajás, Irituia
Agrop. Sta. Bárbara/Faz. Mª Bonita/
Acamp. Dalcídio Jurandir
09/03/2020 212
Sem Terra
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
22/01/2020 31
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
22/01/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
22/01/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
14/04/2020 31
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
14/04/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
08/05/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
19/05/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
20/05/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
20/05/2020 42
Indígenas
Itaituba
T.I. Sawré Jaybu/médio Tapajós Km
43/Barreira Sanitária
20/05/2020 12
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
20/05/2020 31
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
02/06/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
04/06/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
24/06/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
24/06/2020 31
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
27/08/2020 42
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
27/08/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
27/08/2020 31
Indígenas
Itaituba
T.I. Sawré Jaybu/médio Tapajós Km
43/Barreira Sanitária
27/08/2020 12
Indígenas
Itaituba
T.I. Sawré Jaybu/médio Tapajós Km
43/Barreira Sanitária
19/10/2020 12
Indígenas
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
19/10/2020 42
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
19/10/2020 31
Indígenas
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
19/10/2020 42
Indígenas
Itaituba
PAE Mangabal e Montanha/PCH's
Tapajós
30/11/2020 101
Assentado
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
14/04/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
20/05/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T.I. Sai-Cinza/Barreira Sanitária
01/06/2020 435
Indígenas
Jacareacanga
T.I. Sai-Cinza/Barreira Sanitária
16/06/2020 435
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
16/06/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
09/07/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
27/08/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T.I. Sai-Cinza/Barreira Sanitária
16/09/2020 435
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
30/09/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T.I. Sai-Cinza/Barreira Sanitária
19/10/2020 435
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
19/10/2020 1630
Indígenas
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
10/12/2020 1630
Agente pastoral, Indígenas
75
Juruti
Assent. Agroextrativista Juruti Velho e
Socó/Alcoa
26/12/2020 2000
Assentado
Marabá, São Geraldo do Araguaia
T.I. Tuwa Apekuokawera
24/01/2020
101
Indígenas
Marabá, São Geraldo do Araguaia
T.I. Tuwa Apekuokawera
07/02/2020
101
Marabá
P. A. Diamante
20/02/2020 40
Assentado
Marabá
Com. Ribeirinha Lago dos Macacos
20/02/2020 197
Ribeirinho
Marabá
Com. Ribeirinha Associação Flor do
Brasil
20/02/2020
Ribeirinho
Marabá
Faz. Santa Clara/Acamp. Boa
Esperança
23/04/2020 20
Sem Terra
Marabá
Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa
Ernestina/Acamp. Hugo Chávez
09/06/2020 150
Sem Terra
Marabá
Comp. da Faz. Três Poderes/Faz.
Fortaleza/Cedro/Acamp. Helenira
Rezende
09/06/2020 150
Sem Terra
Marabá
Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa
Ernestina/Acamp. Hugo Chávez
11/06/2020 150
Sem Terra
Marabá
Comp. da Faz. Três Poderes/Faz.
Fortaleza/Cedro/Acamp. Helenira
Rezende
11/06/2020 150
Sem Terra
Marabá, São Geraldo do Araguaia
T.I. Tuwa Apekuokawera
27/10/2020
Moju
Território Quilombola do Jambuaçu/
Barreira Sanitária
27/02/2020 788
Quilombola
Moju
Com. Quilombola Sta. Maria do
Traquateua/Vale/Hydro
05/03/2020 27
Quilombola
Moju
Território Quilombola do Jambuaçu/
Barreira Sanitária
01/05/2020 788
Quilombola
Abaetetuba, Moju
Com. Quilombolas Laranjituba/África/
Barreira Sanitária
01/05/2020 125
Quilombola
Moju
Com. Quil. Santana do Baixo
Jambuaçu/Barreira Sanitária
01/05/2020 47
Quilombola
Abaetetuba, Moju
Com. Quilombolas Laranjituba/África/
Barreira Sanitária
30/06/2020 125
Quilombola
Moju
Território Quilombola do Jambuaçu/
Barreira Sanitária
31/12/2020 788
Quilombola
Moju
Com. Quil. Santana do Baixo
Jambuaçu/Barreira Sanitária
31/12/2020 47
Quilombola
Mojuí dos Campos
Comunidade Jatobá
25/11/2020 38
Posseiro
Monte Alegre
PDS Serra Azul
25/11/2020 170
Assentado
101
Indígenas
Indígenas
Monte Alegre
P. A. Maripá/Com. Turará
25/11/2020 591
Assentado
Altamira, Novo Progresso
PDS Terra Nossa
23/10/2020 300
Assentado
Altamira, Novo Progresso
PDS Terra Nossa
01/11/2020 300
Assentado
Altamira, Novo Progresso
PDS Terra Nossa
15/11/2020 300
Assentado
Altamira, Novo Progresso
PDS Terra Nossa
22/11/2020 300
Assentado
Altamira, Novo Progresso
PDS Terra Nossa
31/12/2020 300
Assentado
Óbidos
Com. Ribeirinhas Santíssima Trindade
e outras
18/02/2020
Ribeirinho
Óbidos
Com. Quilombolas Muratubinha/
Mondongo/Igarapé-Açu
18/02/2020 180
Quilombola
Óbidos
Comunidade Quilombola Arapucu
18/02/2020 79
Quilombola
Óbidos
Com. Quilombolas Muratubinha/
Mondongo/Igarapé-Açu
26/05/2020 180
Quilombola
Óbidos
Comunidade Quilombola Arapucu
26/05/2020 79
Quilombola
Óbidos
Com. Ribeirinhas Santíssima Trindade
e outras
26/05/2020
Ribeirinho
Oriximiná
Com. Quilombola Boa Vista e Outras/
Empresa Mineração Rio do Norte/
Barreira Sanitária
26/05/2020 500
Quilombola
Oriximiná
T. I. Kaxuyana e Tunayana/Quil.
Cachoeira Porteira/Flota Trombetas e
Faro/Barreira Sanitária
26/05/2020 144
Quilombola
Oriximiná
Território Quilombola Alto Trombetas/
Barreira Sanitária
26/05/2020 330
Quilombola
Oriximiná
Território Quilombola Erepecuru/
Barreira Sanitária
26/05/2020
Quilombola
Oriximiná
T. I. Kaxuyana e Tunayana/Quil.
Cachoeira Porteira/Flota Trombetas e
Faro/Barreira Sanitária
17/06/2020 144
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Oriximiná
T. I. Kaxuyana e Tunayana/Quil.
Cachoeira Porteira/Flota Trombetas e
Faro/Barreira Sanitária
26/08/2020 144
Indígenas
Oriximiná
Território Quilombola Alto Trombetas/
Barreira Sanitária
17/12/2020 330
Quilombola
Oriximiná
PAE Sapucuá-Trombetas/Madeireiras
Ebata e Golf
17/12/2020 800
Assentado
Oriximiná
Com. Quilombola Boa Vista e Outras/
Empresa Mineração Rio do Norte/
Barreira Sanitária
17/12/2020 500
Quilombola
Ourilândia do Norte
P. A. Tucumã/Campos Altos/Proj. Onça
Puma/Vale
29/01/2020 60
Assentado
Ourilândia do Norte
Fazenda Mil e Duzentos
31/01/2020 150
Sem Terra
Ourilândia do Norte
Fazenda Mil e Duzentos
22/02/2020 150
Sem Terra
Ourilândia do Norte
P.A. Casulo II
28/05/2020 90
Sem Terra
Ourilândia do Norte
Fazenda Mil e Duzentos
21/09/2020 150
Sem Terra
Nova Esperança do Piriá, Garrafão
do Norte, Paragominas, Santa
T. I. Alto Rio Guamá/Tembé
Luzia do Pará
09/09/2020 500
Indígenas
Parauapebas, Água Azul do
Norte, Marabá
T. I. Xikrin do Cateté
15/06/2020 375
Indígenas
Parauapebas
Faz. Lagoa Branca/Acamp. Lagoa
Nova Carajás
21/06/2020 248
Sem Terra
Parauapebas, Água Azul do
Norte, Marabá
Com. de Coletores de Jaborandi da
APA do rio Gelado
08/10/2020
Extrativista
Parauapebas, Água Azul do
Norte, Marabá
T. I. Xikrin do Cateté
08/10/2020 375
Indígenas
Parauapebas, Água Azul do
Norte, Marabá
T. I. Xikrin do Cateté
11/10/2020 375
Indígenas
Pau D'Arco
Faz. Santa Lúcia/Acamp. Nova Vida/
Jane Júlia
16/01/2020 200
Sem Terra
Placas
PDS Avelino Ribeiro
25/11/2020 210
Assentado
Porto de Moz
Com. Quilombola Tauerá e outras
09/01/2020 90
Quilombola
Prainha
Resex Renascer e Entorno/Com. Sta.
Maria do Uruará e Outras
25/11/2020 800
Extrativista
Rondon do Pará
T.I. Nova Jacundá
07/02/2020 28
Indígenas
Rondon do Pará
T.I. Nova Jacundá
27/10/2020 28
Indígenas
Rurópolis
Comunidade Ribeirinha Monte Cristo
08/01/2020 17
Ribeirinho
Rurópolis
PAC Araipacupu
26/05/2020 361
Assentado
Salvaterra
Quilombo Salvar Mangueiras/Barreira
Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Com. Quilombola Mangueiras/Barreira
Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Comunidade Quilombola Bairro Alto/
Barreira Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Com. Quilombola Boa Vista/Barreira
Sanitária
01/05/2020 42
Quilombola
Salvaterra
Com. Quilombola Providência/Barreira
Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Com. Quilombola Deus Ajude/Barreira
Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Com. Quilombola Siricari/Barreira
Sanitária
01/05/2020
Quilombola
Salvaterra
Comunidade Quilombola Rosário
11/06/2020 73
Quilombola
Santa Maria das Barreiras
Fazenda Santa Cecília
04/04/2020 40
Sem Terra
Santa Maria das Barreiras
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
João
15/04/2020 27
Sem Terra
Santa Maria das Barreiras
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
João
20/05/2020 27
Sem Terra
Santa Maria das Barreiras
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
João
30/05/2020 27
Sem Terra
Santa Maria das Barreiras
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
João
30/06/2020 27
Sem Terra
Santarém
T.I. Cobra Grande
24/01/2020 146
Indígenas
Santarém
T. I. Maró
24/01/2020 60
Indígenas
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
27/02/2020 150
Indígenas
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
08/04/2020 150
Indígenas
77
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
05/05/2020 150
Indígenas
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
13/05/2020 150
Indígenas
Santarém
Quilombo Bom Jardim
15/05/2020 70
Quilombola
Santarém
Com. Quilombola de Murumurutuba
15/05/2020
Quilombola
Santarém
T. I. Maró
19/05/2020 60
Indígenas
Santarém
T.I. Cobra Grande
19/05/2020 146
Indígenas
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
20/05/2020 150
Indígenas
Santarém
T.I. Cobra Grande
19/07/2020 146
Indígenas
Aveiro, Santarém
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
PAC
19/07/2020 4168
Indígenas
Santarém
Índios Borari/Vila Alter do Chão
19/07/2020 180
Indígenas
Santarém
T. I. Maró
19/07/2020 60
Indígenas
Santarém
Comunidade Vila Brasil
24/07/2020 46
Extrativista
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
27/08/2020 150
Indígenas
Aveiro, Santarém
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
PAC
05/10/2020 4168
Indígenas
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
28/10/2020 150
Indígenas
Aveiro, Santarém
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
PAC
18/11/2020 4168
Extrativista
Santarém
P.A. Tapera Velha
25/11/2020 251
Assentado
Prainha, Santarém
Gl. Pacoval/Corta-Corda/Raisan/PDS
Sta. Clara/PAE Curuá II
25/11/2020 170
Assentado
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
30/01/2020 182
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
12/03/2020 182
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
07/04/2020 182
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
04/06/2020 182
Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
08/09/2020 182
Indígenas
São Félix do Xingu
Complexo Divino Pai Eterno/Acamp.
Novo Oeste
02/10/2020 150
Sem Terra
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
19/11/2020 182
Funcionário Público
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
01/12/2020 182
Indígenas
São Félix do Xingu
Vila Novo Horizonte/Casa de Tábua
11/12/2020 40
Pequeno proprietário
Marabá, São Geraldo do
Araguaia, São Domingos do
Araguaia
T.I. Sororó
07/02/2020 96
Indígenas
Bom Jesus do Tocantins, São João
do Araguaia
T. I. Mãe Maria/Índios Gaviões/Barreira
Sanitária
07/02/2020 190
Indígenas
Bom Jesus do Tocantins, São João
do Araguaia
T. I. Mãe Maria/Índios Gaviões/Barreira
Sanitária
01/06/2020 190
Indígenas
Altamira, Anapu, Senador José
Porfírio
T.I. Ituna/Itatá
24/01/2020
Indígenas
Altamira, Anapu, Senador José
Porfírio
T.I. Ituna/Itatá
19/04/2020
Indígenas
Altamira, Anapu, Senador José
Porfírio
T.I. Ituna/Itatá
19/05/2020
Indígenas
Senador José Porfírio
T. I. Arara da Volta Grande do Xingu
08/09/2020 36
Indígenas
Altamira, Anapu, Senador José
Porfírio
T.I. Ituna/Itatá
09/09/2020
Indígenas
Senador José Porfírio
P.A. Itatá
20/10/2020 423
Assentado
Tomé-Açu
Comunidade Quilombola Nova Betel
11/12/2020 50
Quilombola
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
31/03/2020 6
Sem Terra
Trairão
P. A. Areia II/Com. São Mateus
15/10/2020 300
Assentado
Tucuruí, Baião
T.I. Trocará Assurini
15/06/2020 141
Indígenas
Vitória do Xingu
T.I. Juruna do Km 17
08/09/2020 22
Indígenas
Anapu
Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/
Dorothy
27/10/2020 160
Assentado
Anapu
Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/
Dorothy
31/12/2020 160
Assentado
Subtotal: 245
28608
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Conceição do Araguaia
Fazenda Sa ta/Acamp. Vitória da
União
15/10/2020 30
Sem Terra
Goianésia do Pará
Fazenda Rancho Grande
19/01/2020 12
Sem Terra
Marabá
Faz. Santa Clara/Acamp. Boa
Esperança
21/04/2020 20
Sem Terra
Subtotal: 3
62
Total conflitos por terra - Pará: 248
28608
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Dom Eliseu
Carvoaria do Ronildo/BR-222/Vicinal
do Km 25
Dom Eliseu
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
03/09/2020 10
10
Carvoaria
Carvoaria/Rod. BR-222/Vicinal do Km
25
24/08/2020 1
1
Carvoaria
Jacareacanga
Garimpo do Pau Rosa
26/10/2020
4
Garimpo (Ouro)
Jacareacanga
Garimpo do Pau Rosa
26/10/2020 39
31
Garimpo (Ouro)
Jacareacanga
Garimpo do Pau Rosa
26/10/2020
4
Garimpo (Ouro)
Portel
Serraria do Neno
22/10/2020 5
5
Desmatamento
Rondon do Pará
Faz. Moreira/Paraforest
08/12/2020 83
13
Eucalipto
Rondon do Pará
Faz. Moreira/Construtora Concel
08/12/2020 8
8
Eucalipto
Santa Maria das Barreiras
Garimpo no Distrito Casa de Tábua/
Operação Napuru
20/11/2020 40
40
Garimpo (Ouro)
Subtotal: 9
186
116
Total Conflitos Trabalhistas - Pará: 9
186
116
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Abaetetuba
Com. do Acuí/Hydro Alunorte
17/02/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Abaetetuba
Com. Santo Antônio/Ilha do Capim/
Hydro Alunorte
17/02/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Altamira
Com. Ribeirinha do Igarapé Trindade/
UHE Belo Monte
30/10/2020
Barragens e
Açudes
Diminuição do acesso à
Água
Altamira, Rurópolis, Uruará,
Medicilândia
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun
Mineradora/PAC
13/11/2020 22
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Altamira, Anapu, São Félix do
Xingu, Senador José Porfírio
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/
PAC
13/11/2020 187
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Koatinemo
13/11/2020 46
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Altamira
Colônia de Pescadores Z-57/UHE Belo
Monte/PAC
30/10/2020 3000
Barragens e
Açudes
Diminuição do acesso à
Água
Altamira, Senador José Porfírio
T.I. Araweté Igarapé Ipixuna
13/11/2020
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Altamira
T. I. Xipáia Kuruáia/UHE Belo Monte/
PAC/Barreira Sanitária
09/11/2020 41
Barragens e
Açudes
Diminuição do acesso à
Água
Vitória do Xingu, Anapu, Senador
José Porfírio
T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo
Monte/PAC/Barreira Sanitária
13/11/2020 45
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Barcarena
Com. Vila do Conde/Furo do Arrozal/
Multinacional Bunge/Hydro Alunorte
04/02/2020 200
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barcarena
Com. Burajuba/Codebar/Itupanema/
Caripi/Hydro Alunorte
04/02/2020 350
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barcarena
Com. do Murucupi/Hydro Alunorte
04/02/2020
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barcarena
Com. Vila Nova/Mineradora Hydro
Alunorte
04/02/2020 25
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barcarena
Com. Bom Futuro/Mineradora Hydro
Alunorte
04/02/2020 25
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Uruará, Altamira, Brasil Novo,
Medicilândia
T.I. Arara
13/11/2020 75
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Trairão, Itaituba
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs
Tapajós/Barreira Sanitária
30/04/2020 42
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
117
79
Trairão, Itaituba
PCHs do Rio Tapajós/Com. Pimental/T.
I. Munduruku/PAC
30/04/2020 800
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Mangue/
Barreira Sanitária
30/04/2020 42
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/
Barreira Sanitária
30/04/2020 31
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/
Barreira Sanitária
30/04/2020 1630
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Monte Alegre
Com. de pescadores do Lago Grande
e rio Maicurú
20/02/2020
Uso e
preservação
Pesca predatória
Destruição e ou poluição
Santarém
Com. Quil. Pérola do Maicá
12/02/2020 15
Uso e
preservação
Santarém
Com. Quilombola Maria Valentina
12/02/2020 104
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Santarém
Quilombo Bom Jardim
12/02/2020 70
Uso e
preservação
Santarém
Com. Quilombola de Murumurutuba
12/02/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Santarém
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Barreira Sanitária
12/02/2020 150
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Santarém
Com. Quilombola Saracura e Arapemã
12/02/2020 150
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Altamira, São Félix do Xingu
T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã
13/11/2020 182
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Tucuruí
Barragem Tucuruí/Eletronorte/T. I.
Parakanã
14/01/2020 500
Barragens e
Açudes
Não reassentamento
Vitória do Xingu
T.I. Juruna do Km 17
13/11/2020 22
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Subtotal: 31
7871
Total dos Conflitos no Campo - Pará: 288
Pessoas: 146102
Paraíba
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Alhandra, Conde, Pitimbu
T.I. Tabajara/Destilaria Tabu-Grupo João
Santos/Emp. Elizabethy/Barreira Sanitária
19/08/2020 250
Indígenas
Alhandra, Conde, Pitimbu
T.I. Tabajara/Destilaria Tabu-Grupo João
Santos/Emp. Elizabethy/Barreira Sanitária
07/09/2020 250
Indígenas
Gurinhém, Riachão do
Bacamarte, Ingá
Com. Quilombola Pedra D'Água
01/04/2020 90
Quilombola
João Pessoa
Com. Ribeirinha Porto do Capim/Vila
Nassau
27/02/2020 162
Ribeirinho
Manaíra
Comunidade Quilombola Fonseca
20/01/2020 42
Quilombola
Manaíra
Comunidade Quilombola Fonseca
17/11/2020 42
Quilombola
Monteiro
Assentamento Xique-Xique
21/10/2020 50
Sem Terra
Pedras de Fogo
Mamoaba Agro Pastoril S/A/Acamp.
Arcanjo Belarmino
30/01/2020 200
Sem Terra
Marcação, Rio Tinto
T.I. Potiguara de Monte-Mor/Barreira
Sanitária
08/05/2020 2286
Indígenas
Marcação, Rio Tinto
T.I. Potiguara de Monte-Mor/Barreira
Sanitária
13/07/2020 2286
Indígenas
Marcação, Rio Tinto
T.I. Jacaré de São Domingos/Barreira
Sanitária
13/07/2020 110
Indígenas
Baía da Traição, Marcação, Rio
Tinto
T. I. Potiguara/Barreira Sanitária
19/08/2020 3708
Indígenas
Baía da Traição, Marcação, Rio
Tinto
T. I. Potiguara/Barreira Sanitária
04/09/2020 3708
Indígenas
São José dos Ramos
Faz. São José/Pau-a-Pique
22/01/2020 80
Posseiro
Subtotal: 14
6978
Total conflitos por terra - Paraíba: 14
6978
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Itatuba
Com. Melancia/Barragem de Acauã
19/08/2020 150
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Itatuba
Com. do Costa/Barragem de Acauã
19/08/2020 120
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Itatuba, Aroeiras
Com. Pedro Velho/Barragem de Acauã
19/08/2020 169
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Itatuba
Com. Água Paba/Barragem do Acauã
19/08/2020 169
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Itatuba
Com. Cajá/Barragem de Acauã
19/08/2020 122
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Itatuba
Com. Riachão/Barragem do Acauã
19/08/2020 169
Barragens e
Açudes
Desconstrução do
histórico-cultural
Subtotal: 6
899
Total dos Conflitos no Campo - Paraíba: 20
Pessoas: 31508
Paraná
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Diamante D'Oeste
T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã
08/03/2020
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Marangatu/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 61
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Tatury/
Mineradora Andreis/Itaipu
17/02/2020 8
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guavirá/Itaipu
17/02/2020 21
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 36
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Karumbe'y/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 21
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Guarani/
Emp. Mate Laranjeira/Itaipu
17/02/2020 15
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Mirim/Guasu
Guavirá/Itaipu
17/02/2020 10
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Jevy/Guasu
Guavirá/Itaipu
17/02/2020 69
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guavirá/Itaipu
28/05/2020 21
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guavirá/Itaipu
31/05/2020 21
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guavirá/Itaipu
10/06/2020 21
Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/
Guasu Guavirá/Itaipu
06/10/2020 36
Indígenas
Itaipulândia
T. I. Avá Guarani/Tekohá Yva Renda/
Itaipu Binacional
06/10/2020 15
Indígenas
Mangueirinha, Coronel Vivida,
Chopinzinho
T.I. Mangueirinha/Kaingang-Guarani
21/05/2020 614
Indígenas
Nova Laranjeiras, Espigão Alto do
Iguaçu
T.I. Rio das Cobras/Kaingang-Guarani
16/11/2020 826
Indígenas
Paranaguá
Com. de Pescadores da Ilha do Mel
21/05/2020 35
Pescador
Paranaguá
Com. de Pescadores da Ilha do Mel
22/05/2020 35
Pescador
Quinta do Sol
Acamp. Valdair Roque/ Faz. Santa
Catarina/ US. Sabarálcool
03/07/2020 50
Sem Terra
Santa Amélia, Abatiá
T. I. Yvyporã Laranjinha/ Guarani
Nhandeva
16/06/2020 90
Indígenas
Santa Helena
T.I. Avá Guarani/Tekohá Vya Renda
01/10/2020 35
Indígenas
Santa Helena
T. I. Avá Guarani/Tekoha Curva Guarani
/Itaipu Binacional
06/10/2020 14
Indígenas
Santa Helena
T. I. Ava Guarani/Tekoha Mokoi Joegua Dois Irmãos/Itaipu Binacional
06/10/2020 20
Indígenas
Santa Helena
T.I. Avá Guarani/Tekoha Pyahu/Itaipu
binacional
06/10/2020 12
Indígenas
São Miguel do Iguaçu
T.I. Avá Guarani Mbya Ocoy/Res. Sta.
Rosa do Ocuí/UHE Itaipu/Barreira
Sanitária
20/06/2020 210
Indígenas
81
São Miguel do Iguaçu
T.I. Avá Guarani Mbya Ocoy/Res. Sta.
Rosa do Ocuí/UHE Itaipu/Barreira
Sanitária
24/06/2020 210
Indígenas
Tamarana
Área de Retomada Indígena Serrinha/
Kaingang
11/08/2020 40
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yvyraty
Porã/Faz. São Paulo/Itaipu
17/02/2020 36
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Araguaju/Pôr
do Sol/Itaipu
17/02/2020 36
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Tajy Poty/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 7
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Nhemboete/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 6
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Pohã Renda/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 20
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekoha Araguajy/
Guasu Guavirá/Itaipu
17/02/2020 100
Indígenas
Terra Roxa
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yvyraty
Porã/Faz. São Paulo/Itaipu
26/08/2020 36
Indígenas
Tomazina
T. I. Pinhalzinho/Povo Guarani
16/06/2020 90
Indígenas
Reserva do Iguaçu, Entre Rios do
Oeste, Pinhão
Faz. Fundão/Quil. Invernada Paiol de
Telha/PCHs Rio Capão Grande
17/07/2020 300
Quilombola
Subtotal: 36
2797
Total conflitos por terra - Paraná: 36
2797
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nova Santa Rosa
Nome do Conflito
Estabelecimento em Nova Santa Rosa
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
18/02/2020 5
5
1
Subtotal: 1
5
5
1
Total Conflitos Trabalhistas - Paraná: 1
5
5
1
Mandioca
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/
Guasu Guavirá/Itaipu
Itaipulândia
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
01/10/2020 36
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
T. I. Avá Guarani/Tekohá Yva Renda/
Itaipu Binacional
01/10/2020 15
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Santa Helena
T.I. Avá Guarani/Tekoha Pyahu/Itaipu
binacional
01/10/2020 12
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Santa Helena
T.I. Avá Guarani/Tekohá Vya Renda
01/10/2020 35
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Santa Helena
T. I. Avá Guarani/Tekoha Curva Guarani
/Itaipu Binacional
01/10/2020 12
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Santa Helena
T. I. Ava Guarani/Tekoha Mokoi Joegua Dois Irmãos/Itaipu Binacional
01/10/2020 20
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Subtotal: 6
130
Total dos Conflitos no Campo - Paraná: 43
Pessoas: 11713
Pernambuco
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Águas Belas
T. I. Oya Twutia Fulni-ô
09/04/2020 1250
Indígenas
Cabo de Santo Agostinho
Eng. Ilha/Complexo Suape/Vazamento de
Óleo
28/04/2020 250
Posseiro
Cabrobó
T. I. Truká/Transp. do Rio São Francisco/
PAC
31/08/2020 500
Indígenas
Catende
Us. Catende/Assent. Miguel Arraes
19/05/2020 67
Posseiro
Catende
Engenho Pau D'Óleo
19/08/2020 70
Posseiro
Catende
Engenho Pau D'Óleo
04/09/2020 70
Posseiro
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Catende
Engenho Pau D'Óleo
02/10/2020 70
Posseiro
Catende
Engenho Pau D'Óleo
05/10/2020 70
Posseiro
Garanhuns
Área Flamengo/Imobiliárias
23/06/2020
Posseiro
Iguaraci
Com. Quilombola Varzinha dos Paulinos
09/06/2020 30
Quilombola
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
06/01/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
08/01/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
10/01/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
23/01/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
28/01/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
20/03/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
03/04/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
07/04/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
07/04/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Engenho Várzea Velha/Us. Frei Caneca/
Negócios Imobiliária S/A
07/04/2020 70
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
23/04/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
24/04/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
07/05/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
13/05/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
19/05/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
22/05/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
23/05/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
26/05/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
02/06/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
05/06/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/06/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
26/06/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
15/07/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
16/07/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
17/07/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
20/07/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
29/07/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
13/08/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
21/08/2020 75
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
06/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
11/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
15/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
17/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
19/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
23/09/2020 77
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
02/10/2020 77
Posseiro
Jatobá
Com. Bem Querer de Baixo/T.I.
Pankararu
16/06/2020 75
Indígenas
Maraial
Engenho Batateira
01/07/2020 50
Posseiro
83
Maraial
Engenho Batateira
03/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
04/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
09/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
10/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
11/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
14/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
21/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
28/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
29/07/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
03/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
14/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
18/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
19/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
25/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
28/08/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
20/12/2020 50
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020 50
Posseiro
Tacaratu, Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 917
Indígenas
Tacaratu, Petrolândia
T. I. Pankararu
14/09/2020 917
Indígenas
Recife
Povo Warao
03/12/2020 5
Indígenas
São Bento do Una, Belo Jardim
Quilombo Barro Branco
17/06/2020 80
Quilombola
Sertânia
Faz. Santa Luzia/Acamp. Fortaleza
20/07/2020 30
Sem Terra
Sirinhaém
Com. Pesqueiras/Rio Sirinhahém/Us.
Trapiche
12/03/2020
Pescador
Tacaratu, Petrolândia
Com. Quil. Negros de Betinho/Barreira
Sanitária
06/06/2020
Quilombola
Subtotal: 74
3546
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Custódia
Nome do Conflito
Fazenda Poço Escuro
Data
Famílias Categoria
09/02/2020 20
Subtotal: 1
20
Total conflitos por terra - Pernambuco: 75
3566
Sem Terra
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Com. Pescadores de Cabo/Vazamento
de Óleo
Floresta
Com. Pesqueira Barragem do Juá
Goiana
Com. Ponta de Pedra/Colônia Z-3/
Vazamento de Óleo
Goiana
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
23/11/2020 1500
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
24/04/2020
Sem Informação
Sem Informação
23/11/2020 118
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Comunidade Baldo do Rio
06/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Ipojuca
Com. Quil. Ilha de Mercês/Complexo
Suape
22/11/2020 268
Uso e
preservação
Impedimento de acesso à
água
Ipojuca
Praia de Serrambi e Enseadinha/Colônia
Z-12/Vazamento de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Ipojuca
Com. Quil. Ilha de Mercês/Complexo
Suape
20/10/2020 268
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei
Caneca
03/10/2020 77
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Cabo de Santo Agostinho
Maraial
Engenho Batateira
11/12/2020 50
Uso e
preservação
Maraial
Engenho Batateira
26/11/2020 50
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Destruição e ou poluição
Maraial
Engenho Batateira
21/12/2020 50
Uso e
preservação
Maraial
Engenho Batateira
19/12/2020 50
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Bode/Vazamento de Óleo
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Recife
Com. Pesqueira Ilha de Deus/Vazamento
de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Brasília Teimosa/Colônia Z-1/
Vazamento de Óleo
23/11/2020 1800
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Comunidade Coque/Vazamento de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Comunidade Coelhos/Vazamento de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Vila Tamandaré/Vazamento de Óleo
06/06/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Vila da Imbiribeira/Vazamento de
Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Jaboatão dos Guararapes, Recife
Colônia de Pescadores Z-1 e Z-25/
Petrobrás/Vazamento de Óleo
23/11/2020 1900
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Ponte do Limoeiro/Vazamento de
Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Vila São Miguel/Vazamento de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Recife
Com. Caranguejo Tabaiares/Vazamento
de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
São José da Coroa Grande
Com. Abreu do Una/Vazamento de Óleo
23/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Paudalho, São Lourenço da Mata
Engenho Camurim/Quizanza/Us. Petribu
14/11/2020 5
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Serra Talhada
Comunidade Pesqueira Xique Xique
24/04/2020
Sem Informação
Sem Informação
Serrita
Com. Pesqueira/Sítio do Pavão
24/04/2020
Sem Informação
Sem Informação
Sirinhaém
Com. Pesqueiras/Rio Sirinhahém/Us.
Trapiche
12/03/2020
Apropriação
Particular
Impedimento de acesso à
água
Subtotal: 28
5718
Total dos Conflitos no Campo - Pernambuco: 103
Pessoas: 37136
Piauí
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Bom Jesus
Nome do Conflito
Área Ordem Mercedário da Igreja
Católica
Data
Famílias Categoria
11/01/2020 2
Pequeno proprietário
Bom Jesus
Comunidade Salto II
15/01/2020 16
Posseiro
Bom Jesus
Comunidade Salto I
31/07/2020 10
Posseiro
Gilbués, Bom Jesus
Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/
Barra
do Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo
das Éguas/Serra Partida/Assent. Rio
Preto
07/05/2020 41
Posseiro
Gilbués, Bom Jesus
Povo Gamela Barra do Correntim
30/06/2020 14
Indígenas
Gilbués, Bom Jesus
Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/
Barra
do Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo
das Éguas/Serra Partida/Assent. Rio
Preto
01/09/2020 41
Posseiro
Gilbués
Comunidade Brejo do Miguel
07/09/2020 12
Posseiro
Miguel Alves, União
Comunidade Olho d' Água
15/01/2020 90
Posseiro
Parnaíba
Assentamento Lagoa do Prado
18/09/2020 80
Assentado
Santa Filomena
Com. Ribeirinha Chupé
28/02/2020 13
Posseiro
Santa Filomena
Com. Ribeirinha Chupé
06/03/2020 13
Posseiro
Santa Filomena
Barra da Lagoa
30/06/2020 11
Posseiro
União
Comunidade Vereda
15/01/2020
Posseiro
União
Comunidade Morada Nova
15/01/2020
Posseiro
União
Comunidade Santa Isabel
15/01/2020 150
Posseiro
União
Comunidade Mundo Novo
15/01/2020
Posseiro
União
Comunidade Torrões
15/01/2020
Posseiro
União
Comunidade Boa Vista
15/01/2020
Posseiro
Subtotal: 18
439
Total conflitos por terra - Piauí: 18
439
85
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Alvorada do Gurguéia
Extração de Palha de Carnaúba
17/08/2020 15
15
Barras
Cerâmica J.A
08/09/2020 9
9
Cerâmica
Piracuruca
Área em Piracuruca
18/09/2020 19
19
Carnaúba
Subtotal: 3
43
43
1
Total Conflitos Trabalhistas - Piauí: 3
43
43
1
Total dos Conflitos no Campo - Piauí: 21
1
Carnaúba
Pessoas: 1799
Rio de Janeiro
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Angra dos Reis
Com. Quilombola de Santa Rita do Bracuí
13/08/2020 200
Quilombola
Angra dos Reis
T. I. Guarani do Bracuí/Aldeia Sapukaí
23/09/2020 95
Indígenas
Araruama
Com. Quilombola Sobara
18/04/2020
Quilombola
Armação dos Búzios
Com. Quilombola Baía Formosa
18/04/2020 100
Quilombola
Cabo Frio
Com. Quilombola Botafogo
18/04/2020 150
Quilombola
Macaé
PDS Osvaldo de Oliveira
06/04/2020 63
Assentado
Mangaratiba
Com. Quilombola Santa Justina/Santa
Isabel
22/04/2020 57
Quilombola
Nova Iguaçu
Assentamento Marapicu
25/06/2020 90
Assentado
Paraty
Aldeia Itatim
08/04/2020
Indígenas
Paraty
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Mbya
12/08/2020 12
Indígenas
Paraty
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de
Bocaina/Barreira Sanitária
15/08/2020 23
Caiçara
Paraty
APA de Cairuçu/Com. Caiçara Praia do
Sono/Barreira Sanitária
17/08/2020 60
Caiçara
Paraty
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Mbya
12/09/2020 12
Indígenas
Paraty
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Mbya
08/10/2020 12
Indígenas
Resende
Faz. da Ponte/Acamp. Terra Livre
07/04/2020 100
Sem Terra
Resende
Faz. da Ponte/Acamp. Terra Livre
17/04/2020 100
Sem Terra
Rio das Ostras
Faz. Andorinhas/Acamp. Andorinhas
16/10/2020 58
Sem Terra
São Pedro da Aldeia
Acamp. Emiliano Zapata/Faz. Negreiros
06/07/2020
São Pedro da Aldeia
Com. Quilombola Caveira
06/07/2020 30
Quilombola
São Pedro da Aldeia
Acamp. Emiliano Zapata/Faz. Negreiros
08/07/2020
Sem Terra
40
40
Subtotal: 20
1078
Total conflitos por terra - Rio de Janeiro: 20
1078
Sem Terra
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Angra dos Reis
Com. Caiçara Ilha Grande/Barreira
Sanitária
21/03/2020
Uso e
preservação
Campos dos Goytacazes
Ilha dos Pescadores/Rio Paraíba do Sul/
Parque Prazeres
24/01/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Campos dos Goytacazes
Praia do Farol de São Thomé
16/04/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Mangaratiba, Rio de Janeiro,
Itaguaí
Baía de Sepetiba
18/06/2020 8065
Uso e
preservação
Pesca predatória
Maricá
Faz. São Bento da Lagoa/Com. Pesqueira
de Zacarias
11/02/2020 150
Apropriação
Particular
Ameaça de expropriação
Divergência
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Paraty
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de
Bocaina/Barreira Sanitária
15/08/2020 23
Uso e
preservação
Divergência
Paraty
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de
Bocaina/Barreira Sanitária
24/06/2020 23
Uso e
preservação
Pesca predatória
São Gonçalo, Niterói, Rio de
Janeiro, Magé
Comunidades da Baía de Guanabara
08/03/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Subtotal: 8
8238
Total dos Conflitos no Campo - Rio de Janeiro: 28
Pessoas: 37264
Rio Grande do Norte
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Açu
Acamp. Boa Sorte/Coração de Jesus/Assoc.
de Desenvolvimento da Agric. Familiar da
Com. de Artur Sabino
Goianinha, Canguaretama
Pedra Grande
Famílias Categoria
03/09/2020 72
Sem Terra
Aldeia Catu/Barreira Sanitária
22/10/2020 203
Indígenas
Com. Pesqueira Enxu Queimado
25/08/2020 554
Posseiro
Subtotal: 3
829
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Ceará-Mirim
Nome do Conflito
Data
Acamp. Resistência Popular Pedrosina
Famílias Categoria
05/12/2020 80
Subtotal: 1
80
Total conflitos por terra - Rio Grande do Norte: 4
909
Total dos Conflitos no Campo - Rio Grande do Norte: 4
Sem Terra
Pessoas: 3636
Rio Grande do Sul
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Água Santa
Comunidade Indígena Kaingang de
São Miguel do Faxinal
04/11/2020
Indígenas
Bagé
Mineradora Águia/Mineração Três
Estradas
22/08/2020 1
Pequeno proprietário
Canela
T. I. Kaingang/Floresta Nacional de
Canela
04/03/2020 33
Indígenas
Carazinho
Com. Kaingang/Parque Municipal João
Alberto Xavier
15/06/2020 45
Indígenas
Charrua
T. I. Ligeiro/Barreira Sanitária
08/09/2020 363
Indígenas
Iraí
Com. Indígena Goj Veso/Barreira
Sanitária
17/07/2020
Iraí
T. I. Kaingang de Iraí/Barreira Sanitária 17/08/2020 161
Indígenas
Osório, Maquiné
Quilombo de Morro Alto
24/03/2020 456
Quilombola
Mostardas
Quilombo Beco dos Colodianos
24/03/2020 36
Quilombola
Nova Santa Rita
Assent. Santa Rita de Cássia II
11/11/2020 100
Assentado
Indígenas
Porto Alegre
Com. Quilombola Fidélix
24/03/2020 23
Quilombola
Porto Alegre
Quilombo da Família Silva
24/03/2020 12
Quilombola
Porto Alegre
Quilombo Alpes
24/03/2020 60
Quilombola
Porto Alegre
Quilombo da Família Flores
24/03/2020
Quilombola
Porto Alegre
T.I. Kaingang/Tupe Pan/Parque Natural
do Morro do Osso
18/04/2020 149
Indígenas
Porto Alegre
Van Ka Lami/Kaingang
18/04/2020 32
Indígenas
Porto Alegre
T. I. Mbyá-Guarani/ Lomba do Pinheiro
18/04/2020 42
Indígenas
Porto Alegre
Aldeia Fag Nhin/Lomba do Pinheiro/
Kaingang
18/04/2020 145
Indígenas
Porto Alegre
Aldeia Komag/Kaingang
18/04/2020 16
Indígenas
87
Porto Alegre
Vila Sa ra/Kaingang Desaldeados
18/04/2020 16
Indígenas
Porto Alegre
Beco das Quirinas/Kaingang
Desaldeados
18/04/2020 11
Indígenas
Porto Alegre
Jardim Potássio/Morro Santana/
Kaingang Desaldeados
18/04/2020 16
Indígenas
Porto Alegre
Aldeia Polidoro/Charrua
18/04/2020 38
Indígenas
Porto Alegre
Aldeia Oré Kupri/Lomba do Pinheiro
18/04/2020 61
Indígenas
Porto Alegre
Quilombo dos Machado
30/09/2020 20
Quilombola
Porto Alegre
Quilombo Gonçalves de Lemos
20/11/2020 8
Quilombola
Porto Alegre
Ponta do Arado/T. I Guarani Mbya
17/12/2020 7
Indígenas
Tenente Portela, Redentora, Erval
Seco
T. I. Guarita/Barreira Sanitária
12/06/2020 1444
Indígenas
São Francisco de Paula
T. I. do Povo Xokleng
23/12/2020 12
Indígenas
Vicente Dutra
T. I. Rio dos Índios/Barreira Sanitária
17/08/2020 37
Indígenas
Subtotal: 30
3344
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Canela
T. I. Kaingang/Floresta Nacional de
Canela
18/02/2020 33
Indígenas
São Francisco de Paula
T. I. do Povo Xokleng
12/12/2020 12
Indígenas
Subtotal: 2
45
Acampamentos
Município(s)
Canela
Nome do Conflito
T. I. Kaingang/Floresta Nacional de
Canela
Data
Famílias Categoria
04/03/2020 33
Subtotal: 1
33
Total conflitos por terra - Rio Grande do Sul: 33
3344
Indígenas
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Esmeralda
Fazenda Agência
11/08/2020 1
1
Pecuária
Morro Reuter
Fazenda em Morro Reuter
29/10/2020 3
3
Milho e Pecuária
Venâncio Aires
Fazenda em Venâncio Aires
28/05/2020 1
1
Fumo
Subtotal: 3
5
5
Total Conflitos Trabalhistas - Rio Grande do Sul: 3
5
5
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Pelotas
Colônia de Pescadores Z-3
31/07/2020 46
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Rio Grande
Colônia de Pescadores Z-1
31/07/2020 200
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
São José do Norte
Colônia de Pescadores Z-2
31/07/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
São Lourenço do Sul
Colônia de Pescadores Z-8
31/07/2020 40
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Subtotal: 4
286
Total dos Conflitos no Campo - Rio Grande do Sul: 40
Pessoas: 14525
Rondônia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Alta Floresta D'Oeste
Nome do Conflito
Faz. Mequéns/T.I. Wajuru/Distrito de
Porto Rolim de Moura do Guaporé
Data
Famílias Categoria
10/03/2020 60
Indígenas, Quilombola
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
São Francisco do Guaporé, Alta
Floresta D'Oeste
T. I Rio Branco/Aldeia Anderé
10/05/2020 300
Indígenas
São Francisco do Guaporé, Alta
Floresta D'Oeste
T. I Rio Branco/Aldeia Anderé
26/06/2020 300
Indígenas
São Francisco do Guaporé, Alta
Floresta D'Oeste
T. I. Massaco
26/06/2020
Indígenas
Alta Floresta D'Oeste
Reserva Biológica Guaporé
26/06/2020
Indígenas
Alta Floresta D'Oeste
Povo Wajuru
26/06/2020
Indígenas
Alta Floresta D'Oeste
Com. Rolim de Moura do Guaporé/T. I.
Wuajuru/Barreira Sanitária
26/06/2020 60
Indígenas
Alta Floresta D'Oeste
Com. Rolim de Moura do Guaporé/T. I.
Wuajuru/Barreira Sanitária
11/07/2020 60
Indígenas, Quilombola
Alto Alegre dos Parecis
Reserva dos Mequéns
26/06/2020
Ariquemes
Acamp. Canaã/Faz. Arroba/Cruzeiro do
31/01/2020 200
Sul/Só Cacau
Sem Terra
Ariquemes
Faz. Cauan/Galhardi/Acamp. Raio do
Sol/Linha C-19/Trav. 1 da Linha C-45
26/05/2020 40
Sem Terra
Ariquemes
Fazenda na Rod. 257
01/09/2020
Sem Terra
Buritis
Faz. Cinco Estrelas e Indiana
01/01/2020
Posseiro
Buritis, Porto Velho, Ariquemes
Faz. Guerin/Acamp. Rio Pardo/Flona
Bom Futuro
12/08/2020
Posseiro
Cacoal
T. I. Sete de Setembro/Barreira
Sanitária
14/04/2020 345
Indígenas
Cacoal, Espigão D'Oeste
Área Indígena Zoró
15/05/2020
Indígenas
Cacoal
T. I. Sete de Setembro/Barreira
Sanitária
26/06/2020 345
Indígenas
Cacoal
T. I. Sete de Setembro/Barreira
Sanitária
16/07/2020 345
Indígenas
Cacoal
T. I. Sete de Setembro/Barreira
Sanitária
22/07/2020 345
Indígenas
Buritis, Campo Novo de Rondônia
Faz. Cinco Estrelas e Rio Azul/Acamp.
Jacinópolis II
01/01/2020 40
Posseiro
Campo Novo de Rondônia
Fazenda do Teixeirão/Estrela
01/01/2020
Posseiro
Nova Mamoré, Campo Novo de
Rondônia, Porto Velho
Resex Jaci-Paraná
07/05/2020
Extrativista
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/
Assent. Flor do Amazonas/Acamp.
Boa Sorte
30/04/2020 45
Assentado
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/
Assent. Flor do Amazonas/Acamp.
Boa Sorte
02/05/2020 80
Assentado
Itapuã do Oeste, Candeias do
Jamari
Usina Hidrelétrica Samuel
15/06/2020
Atingido por barragem
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 47
Posseiro
Candeias do Jamari
Ramal João da Praia/Linha 45
07/07/2020 1
Pequeno proprietário
Candeias do Jamari
PAF Jequitibá
23/07/2020 514
Assentado
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/
Assent. Flor do Amazonas/Acamp.
Boa Sorte
23/07/2020 80
Assentado
Candeias do Jamari
Seringal Escalerita e Lago Brasileira/
Projeto Calama Jacundá
23/07/2020 380
Posseiro
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/
Assent. Flor do Amazonas/Acamp.
Boa Sorte
20/08/2020 80
Assentado
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/
Assent. Flor do Amazonas/Acamp.
Boa Sorte
09/10/2020 21
Sem Terra
Candeias do Jamari
Faz. Felicidade/Assent. Flor do
Amazonas
16/10/2020 4
Sem Terra
Vilhena, Chupinguaia
Faz. Estrela/Pai Herói/Vilhena/Lotes 52
e 53/Linhas 80 e 85/Gl. Corumbiara/
Assoc. Nossa Sra. Aparecida
25/05/2020 50
Posseiro
Corumbiara, Pimenteiras,
Chupinguaia, Parecis
Terra Indígena Tanaru
26/06/2020
Indígenas
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
19/08/2020 1
Sem Terra
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
24/08/2020 1
Sem Terra
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
07/09/2020
Sem Terra
Indígenas
89
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
11/09/2020
Sem Terra
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
16/11/2020
Sem Terra
Costa Marques
Reserva Extrativista do Rio Cautário
14/05/2020 150
Indígenas
Costa Marques
Com. Quilombola do Forte Príncipe da
Beira
26/06/2020 60
Indígenas
Costa Marques
Com. Quilombola do Forte Príncipe da
Beira
11/07/2020 60
Indígenas, Quilombola
Cujubim
Região do Galo Velho/Linha 03
20/08/2020 1
Assentado
Cujubim
Linha 106/Região Soldado da
Borracha
20/12/2020 3
Posseiro
Espigão D'Oeste
Reserva Indígena Roosevelt
08/05/2020 240
Indígenas
Espigão D'Oeste
Reserva Indígena Roosevelt
16/07/2020 240
Indígenas
Campo Novo de Rondônia,
Governador Jorge Teixeira
P. A. Nova Floresta/Gl. Rio Alto
14/07/2020 500
Assentado
Campo Novo de Rondônia,
Governador Jorge Teixeira
P. A. Nova Floresta/Gl. Rio Alto
02/12/2020 500
Assentado
Guajará-Mirim
T.I. Pacaas Novos/Pakaa Nova
08/05/2020
Indígenas
Guajará-Mirim, São Francisco do
Guaporé, Seringueiras
Povo Puruborá e Miqueleno/Zona do
Limoeiro/Barreira Sanitária
14/05/2020 34
Indígenas
Guajará-Mirim, São Francisco do
Guaporé, Seringueiras
Povo Puruborá e Miqueleno/Zona do
Limoeiro/Barreira Sanitária
08/06/2020 34
Indígenas
Guajará-Mirim, Nova Mamoré
T. I. Igarapé Lage
26/06/2020 120
Indígenas
Guajará-Mirim
T. I. Rio Negro Ocaia
26/06/2020 12
Indígenas
Guajará-Mirim
T. I. Sagarana
26/06/2020 85
Indígenas
Guajará-Mirim, Nova Mamoré
T. I. Igarapé Ribeirão/Aldeia Ribeirão
26/06/2020 50
Indígenas
Guajará-Mirim
T. I. Rio Negro Ocaia
11/07/2020 12
Indígenas
Guajará-Mirim, Nova Mamoré
T. I. Igarapé Lage
11/07/2020 120
Indígenas
Guajará-Mirim
T. I. Sagarana
11/07/2020 85
Indígenas
Guajará-Mirim, Nova Mamoré
T. I. Igarapé Ribeirão/Aldeia Ribeirão
11/07/2020 50
Indígenas
Guajará-Mirim
Resex Rio Ouro Preto
13/07/2020 170
Extrativista
Guajará-Mirim
Resex Rio Ouro Preto
30/08/2020 170
Extrativista
Ji-Paraná
T. I. Igarapé Lourdes
08/05/2020 246
Indígenas
Ji-Paraná
T. I. Igarapé Lourdes
13/07/2020 246
Indígenas
Machadinho D'Oeste
Fazenda Jatobá
21/01/2020 30
Sem Terra
Machadinho D'Oeste
Fazenda Jatobá
05/02/2020 30
Sem Terra
Machadinho D'Oeste
Fazenda Jatobá
23/04/2020 30
Sem Terra
Machadinho D'Oeste
Assent. Santa Maria II/Acamp.
Fortaleza/Sítio Alto Alegre
04/06/2020 80
Assentado
Machadinho D'Oeste
Fazenda Jatobá
29/07/2020 30
Sem Terra
Machadinho D'Oeste
Resex Aquariquara
20/09/2020 91
Extrativista
Machadinho D'Oeste
Resex Aquariquara
17/10/2020 91
Extrativista
Mirante da Serra
Assentamento Padre Ezequiel
30/01/2020 193
Assentado
Mirante da Serra
Assentamento Padre Ezequiel
29/06/2020 193
Assentado
Nova Mamoré, Guajará-Mirim, Porto
T. I. Karipuna
Velho
30/03/2020 58
Indígenas
Nova Mamoré, Guajará-Mirim, Porto
T. I. Karipuna
Velho
01/04/2020 58
Indígenas
Nova Mamoré
Acamp. Dois Irmãos/Dois Amigos/Faz.
do Bispo/Linha 29 C
27/04/2020 113
Sem Terra
Nova Mamoré
Acamp. Conquista/Faz. Primavera/
Gleba Buriti/Distrito de Jacinópolis
19/05/2020 38
Sem Terra
Nova Mamoré
Acamp. Dois Irmãos/Dois Amigos/Faz.
do Bispo/Linha 29 C
06/06/2020 113
Sem Terra
Nova Mamoré, Guajará-Mirim, Porto
T. I. Karipuna
Velho
08/07/2020 58
Indígenas
Nova Mamoré
Sítio Beira Rio
17/11/2020 1
Sem Terra
Nova União, Mirante da Serra
Assent. Margarida Alves
09/12/2020 200
Assentado
Pimenta Bueno
Fazenda Duas Meninas/Nova Pimenta
15/02/2020
Sem Terra
Pimenta Bueno
Lote 58/Setor 07/Linha 85/Barão de
Melgaço/Gl. Corumbiara
09/09/2020 38
Posseiro
Sem Terra
Pimenteiras do Oeste
Fazenda Siriema
14/05/2020
Porto Velho
Reserva Indígena Cassupá
08/05/2020
Indígenas
Porto Velho
T.I. do Povo Mura/Zona Beira Rio
08/05/2020
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Porto Velho
T. I. Karitiana/Aldeia Myniwin/Igarapé
Preto
26/06/2020 70
Indígenas
Porto Velho
T. I. Kaxarari
26/06/2020 70
Indígenas
Porto Velho
Reserva Indígena Cassupá
26/06/2020
Indígenas
Porto Velho
Área do Militão/Setor Chacareiro
03/07/2020 600
Posseiro
Porto Velho
T. I. Kaxarari
08/07/2020 70
Indígenas
Porto Velho
Área do Militão/Setor Chacareiro
21/07/2020 600
Posseiro
Porto Velho
Acamp. Nova Conquista/Faz. Mutum/
Faz. Bom Futuro
28/08/2020 75
Sem Terra
Porto Velho
T. I. Kaxarari
30/08/2020 70
Indígenas
Porto Velho
Área do Militão/Setor Chacareiro
03/09/2020 600
Posseiro
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
03/10/2020 600
Sem Terra
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
10/10/2020 600
Sem Terra
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
21/10/2020 600
Sem Terra
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
23/11/2020 300
Sem Terra
Seringueiras, São Francisco do
Guaporé
Índios
Miqueleno e Quil. Santo Antônio/Rebio
Guaporé
14/05/2020 160
Indígenas
27/03/2020
Sem Terra
Seringueiras
Faz. Recanto/Linha 32
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 14/04/2020 115
Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 18/04/2020 115
Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 21/04/2020 115
Indígenas
Indígenas
Seringueiras
T.I. Puruborá/Barreira Sanitária
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
08/05/2020 75
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 22/05/2020 115
Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 26/06/2020 115
Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 07/07/2020 115
Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 08/07/2020 115
Indígenas
Seringueiras
T.I. Puruborá/Barreira Sanitária
22/07/2020
Indígenas
Seringueiras
Comunidade Quilombola de Jesus
16/12/2020 14
Quilombola
Vilhena
Associação Santa Fé/Gl. Corumbiara/
Lote 35/Setor 12
31/01/2020 40
Posseiro
Vilhena
Associação Santa Fé/Gl. Corumbiara/
Lote 35/Setor 12
14/03/2020 40
Posseiro
91
Vilhena
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
16/03/2020 70
Posseiro
Vilhena
Faz. Vilhena/Gleba Corumbiara/Linha
85/ Setor 7/Lote 1
25/04/2020
Posseiro
Vilhena
Faz. Vilhena/Gleba Corumbiara/Linha
85/ Setor 7/Lote 1
27/04/2020
Posseiro
Vilhena
Acamp. Flor da Serra/Gleba
Corumbiara/Setor 12/Lote 84
08/05/2020 64
Posseiro
Vilhena
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
02/06/2020 70
Posseiro
Vilhena
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
11/06/2020 70
Posseiro
Vilhena, Chupinguaia
T. I. Tubarão Latundê
26/06/2020 180
Indígenas
Vilhena, Chupinguaia
T. I. Tubarão Latundê
08/07/2020 180
Indígenas
Vilhena
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
03/08/2020 70
Posseiro
Vilhena
Linha 135, Kapa 136
15/08/2020 1
Posseiro
Vilhena
Lotes 75 e 85/Faz. Vilhena
28/08/2020 77
Posseiro
Vilhena
Lotes 75 e 85/Faz. Vilhena
08/09/2020 77
Posseiro
Subtotal: 125
6846
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Ariquemes
Fazenda na Rod. 257
28/08/2020
Sem Terra
Buritis, Porto Velho, Ariquemes
Faz. Guerin/Acamp. Rio Pardo/Flona
Bom Futuro
12/08/2020
Posseiro
Chupinguaia
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Elina
16/08/2020
Sem Terra
Pimenta Bueno
Fazenda Duas Meninas/Nova Pimenta
31/01/2020
Sem Terra
Pimenteiras do Oeste
Fazenda Siriema
30/04/2020
Sem Terra
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
22/06/2020 600
Sem Terra
Porto Velho
Acampamento Tiago Santos
26/10/2020 600
Sem Terra
Seringueiras
Faz. Recanto/Linha 32
29/02/2020
Sem Terra
Subtotal: 8
600
Total conflitos por terra - Rondônia: 133
6846
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Estabelecimento em Alta Floresta
d'Oeste
03/08/2020 3
2
Nova Mamoré
Linha 3/Km14/Distrito de Jacinópolis
10/06/2020 5
5
Santa Luzia D'Oeste
Fazenda Canela
31/07/2020 1
1
Subtotal: 3
9
8
1
Total Conflitos Trabalhistas - Rondônia: 3
9
8
1
Alta Floresta D'Oeste
Pecuária
1
Maracujá
Extração de madeira
(Desmatamento)
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Alta Floresta D'Oeste
Nome do Conflito
Com. Rolim de Moura do Guaporé/T. I.
Wuajuru/Barreira Sanitária
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
11/07/2020 60
Uso e
preservação
Pesca predatória
Pesca predatória
São Francisco do Guaporé, Alta
Floresta D'Oeste
T. I Rio Branco/Aldeia Anderé
10/05/2020 300
Uso e
preservação
Costa Marques
Com. Quilombola do Forte Príncipe da
Beira
11/07/2020 60
Uso e
preservação
Pesca predatória
Porto Velho
Unidade de Conservação Rio Madeira
B
03/02/2020
Uso e
preservação
Destruição e ou poluição
Porto Velho
UHE Jirau e Sto. Antônio/Rio Madeira/
PAC
07/01/2020 5000
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Porto Velho
Nova Mutum e Jaci Paraná/UHE Jirau e
Santo Antônio
07/01/2020 1564
Barragens e
Açudes
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conflitos
no
Campo Brasil
Porto Velho
2020
Com. do Distrito de Nazaré/UHE Jirau
e Sto. Antônio
Uso e
preservação
31/08/2020 1
Subtotal: 7
6985
Total dos Conflitos no Campo - Rondônia: 143
Pessoas: 55333
Roraima
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Alto Alegre
T.I. Barata Livramento/Barreira Sanitária
14/04/2020 178
Alto Alegre
T.I. Boqueirão/Barreira Sanitária
20/06/2020 116
Indígenas
Indígenas
Alto Alegre
T.I. Barata Livramento/Barreira Sanitária
03/07/2020 178
Indígenas
Boa Vista
T.I. Serra da Moça/Barreira Sanitária
14/04/2020 174
Indígenas
Alto Alegre, Boa Vista
T.I. Truaru
03/06/2020 137
Indígenas
Bon m
T.I. Wapixana/ Reserva Moskow/Barreira
Sanitária
26/03/2020 178
Indígenas
Cantá, Bon m
T.I. Muriru/Barreira Sanitária
21/05/2020 46
Indígenas
Cantá
T. I. Canauanim/Barreira Sanitária
18/05/2020 335
Indígenas
Cantá
T. I. Canauanim/Barreira Sanitária
03/06/2020 335
Indígenas
Cantá
T.I. Malacacheta/Barreira Sanitária
15/07/2020 350
Indígenas
Mucajaí
Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre
04/01/2020 80
Sem Terra
Mucajaí
Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre
06/01/2020 80
Sem Terra
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
08/01/2020 6695
Indígenas
Mucajaí
Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre
09/01/2020 80
Sem Terra
Mucajaí
Projeto Surubim/Vicinal Canta Galo/
Tamandaré
28/02/2020 90
Sem Terra
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
28/04/2020 6695
Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
12/06/2020 6695
Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
17/06/2020 6695
Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
30/09/2020 6695
Indígenas
Pacaraima
T.I. Manoá-Pium/Wapixana/Macuxi/Barreira
Sanitária
26/03/2020 685
Indígenas
Pacaraima
T. I. São Marcos/Macuxi/Wapixana/
Taurepang
11/11/2020 1460
Indígenas
São João da Baliza, São Luiz
T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária
28/02/2020 502
Indígenas
São João da Baliza, São Luiz
T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária
14/04/2020 502
Indígenas
São João da Baliza, São Luiz
T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária
10/11/2020 502
Indígenas
Uiramutã, Pacaraima, Normandia
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
13/03/2020 5780
Indígenas
Uiramutã, Pacaraima, Normandia
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
01/04/2020 5780
Indígenas
Uiramutã, Pacaraima, Normandia
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
05/07/2020 5780
Indígenas
Uiramutã, Pacaraima, Normandia
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
16/07/2020 5780
Indígenas
Subtotal: 28
16806
Acampamentos
Município(s)
Mucajaí
Nome do Conflito
Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre
Data
Famílias Categoria
09/01/2020 80
Subtotal: 1
80
Total conflitos por terra - Roraima: 29
16806
Total dos Conflitos no Campo - Roraima: 29
Sem Terra
Pessoas: 67224
Santa Catarina
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Abelardo Luz
Nome do Conflito
T. I. Toldo Imbu/Kaingang/Barreira
Sanitária
Data
Famílias Categoria
29/01/2020 61
Indígenas
Destruição e ou poluição
93
Abelardo Luz
T. I. Toldo Imbu/Kaingang/Barreira
Sanitária
03/04/2020 61
Indígenas
Abelardo Luz
T.I. Palmas/Kaingang/Barreira Sanitária
03/04/2020
Indígenas
Araquari
T. I. Piraí/Aldeia Tiaraju/M'byá Guarani/
Barreira Sanitária
03/04/2020 39
Indígenas
Balneário Barra do Sul, Araquari
T.I. Tarumã/Guarani M'bya/Barreira
Sanitária
03/04/2020 5
Indígenas
Paial, Arvoredo, Seara
T. I. Toldo Pinhal/ Kaingang/Barreira
Sanitária
03/04/2020 311
Indígenas
Biguaçu
T. I. Guarani M'Biguaçu/Morro de Palha/
Itanhaen/Barreira Sanitária
03/04/2020 30
Indígenas
Biguaçu
T. I. Guarani M'Biguaçu/Morro de Palha/
Itanhaen/Barreira Sanitária
31/10/2020 30
Indígenas
Chapecó
T. I. Toldo Chimbangue/Kaingang/Sede
Trentim/Barreira Sanitária
03/04/2020 50
Indígenas
Chapecó
T.I. Aldeia Kondá/Kaingang/Barreira
Sanitária
03/04/2020 94
Indígenas
Chapecó
T.I. Aldeia Kondá/Kaingang/Barreira
Sanitária
14/05/2020 94
Indígenas
Doutor Pedrinho, Itaiópolis,
Ibirama, Vitor Meireles, José
Boiteux
T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom
Sucesso/Barreira Sanitária
03/04/2020 514
Indígenas
Doutor Pedrinho, Itaiópolis,
Ibirama, Vitor Meireles, José
Boiteux
T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom
Sucesso/Barreira Sanitária
13/08/2020 514
Indígenas
Doutor Pedrinho, Itaiópolis,
Ibirama, Vitor Meireles, José
Boiteux
T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom
Sucesso/Barreira Sanitária
31/10/2020 514
Indígenas
Florianópolis
Com. Quilombola Vidal Martins
18/12/2020 28
Quilombola
Xanxerê, Ipuaçu, Abelardo Luz,
Entre Rios
T. I. Xapecó/Kaingang/Barreira
Sanitária
03/04/2020 1334
Indígenas
Xanxerê, Ipuaçu, Abelardo Luz,
Entre Rios
T. I. Xapecó/Kaingang/Barreira
Sanitária
16/07/2020 1334
Indígenas
Palhoça
T. I. Morro dos Cavalos/Itaty/Guarani
M'Bya/Nhandéva/Baixada do
Massiambu/Barreira Sanitária
03/04/2020 75
Indígenas
Palhoça
T. I. Praia de Fora/Guarani/Baixada
Massiambu/Barreira Sanitária
03/04/2020 4
Indígenas
Palhoça
T.I. Cambirela/Guarani M'bya/Baixada
do Massiambu/Barreira Sanitária
03/04/2020
Indígenas
Paulo Lopes
Com. Quilombola Toca de Santa Cruz
06/10/2020 38
Quilombola
Rio do Campo
Área da Rohden S.A./Serra do Mirador
31/01/2020 12
Sem Terra
São Francisco do Sul
T. I. Morro Alto/Guarani/Barreira
Sanitária
03/04/2020 40
Indígenas
Cunha Porã, Saudades
T. I. Guarani do Araçaí/Barreira
Sanitária
03/04/2020 30
Indígenas
Subtotal: 24
2665
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Florianópolis
Nome do Conflito
Com. Quilombola Vidal Martins
Data
Famílias Categoria
15/02/2020 51
Subtotal: 1
51
Total conflitos por terra - Santa Catarina: 25
2688
Quilombola
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Alfredo Wagner
Fazenda em Alfredo Wagner
17/11/2020 1
1
Ituporanga
Fazenda Coqueiral
06/08/2020 9
9
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
20/11/2020 6
6
Ituporanga
Fazenda do Valmir
20/07/2020 17
9
Cebola
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
01/09/2020 14
14
Cebola
Cebola
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
17/11/2020 13
13
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
17/11/2020 8
8
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
17/11/2020 6
6
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
21/08/2020 12
18
Pecuária
Cebola
2
Cebola
Cebola
2
Cebola
Cebola
Conflitos
no
Campo Brasil
Ituporanga
2020
Fazenda do Nico
21/08/2020 17
Cebola
Subtotal: 10
103
84
4
Total Conflitos Trabalhistas - Santa Catarina: 10
103
84
4
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Balneário Rincão
Nome do Conflito
Com. Pesqueira de Balneário Rincão/
Rio Araranguá
Data
Famílias Tipo Conflito
Uso e
preservação
20/01/2020
Subtotal: 1
Total dos Conflitos no Campo - Santa Catarina: 36
Pessoas: 10855
São Paulo
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Arco-Íris
Aldeia Vanuíre/Barreira Sanitária
31/12/2020 80
Indígenas
Caraguatatuba
Colônia de Pescadores Z-8/Com.
Pesqueira do Litoral Norte/Barreira
Sanitária
24/03/2020
Pescador
Gália
Faz. Paraíso/Vitória/Santa Fé/Assent.
Luiz Beltrame
20/04/2020 77
Sem Terra
Ilhabela
Baía dos Castelhanos/Barreira Sanitária
21/03/2020
Caiçara
Ilhabela
Com. Bonete/Barreira Sanitária
21/03/2020
Caiçara
São Paulo, São Vicente,
Mongaguá, São Bernardo do
Campo
T.
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray
Rexakã/Barreira Sanitária
11/06/2020 250
Indígenas
São Paulo, São Vicente,
Mongaguá, São Bernardo do
Campo
T.
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray
Rexakã/Barreira Sanitária
21/06/2020 250
Indígenas
Peruíbe
T. I. Piaçaguera
31/03/2020 85
Indígenas
São Paulo
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
Mbya
05/02/2020 100
Indígenas
São Paulo
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
Mbya
10/03/2020 100
Indígenas
São Paulo
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
Barreira Sanitária
26/03/2020 200
Indígenas
São Paulo
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
Barreira Sanitária
11/06/2020 200
Indígenas
São Paulo
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
Barreira Sanitária
21/06/2020
Indígenas
São Paulo
Índios Pankararu/Real Parque
22/06/2020 170
Indígenas
São Sebastião
Barra do Urca/Área Guarani/Barreira
Sanitária
24/03/2020
Indígenas
São Sebastião
T.I. Ribeirão Silveira/Alemoa S.A/
Barreira Sanitária
24/03/2020 90
Indígenas
São Sebastião
Colônia de Pescadores Z-14/Com.
Pesqueira do Litoral Norte/Barreira
Sanitária
24/03/2020
Pescador
São Sebastião
T.I. Ribeirão Silveira/Alemoa S.A/
Barreira Sanitária
13/07/2020 90
Indígenas
Ubatuba
Com. Quilombola Cambury/Barreira
Sanitária
12/02/2020 30
Quilombola
Ubatuba
Quilombo Cazanga/Barreira Sanitária
24/03/2020
Quilombola
Ubatuba
Colônia de Pescadores de Ubatuba/
Com. Pesqueiras do Litoral Norte/
Barreira Sanitária
24/03/2020
Pescador
Ubatuba
Quilombo da Fazenda Picinguaba/
Barreira Sanitária
24/03/2020 77
Quilombola
Ubatuba
Comunidade Quilombola Caçandoca/
Barreira Sanitária
24/03/2020
Quilombola
Ubatuba
Com. Caiçara da Almada/Barreira
Sanitária
24/03/2020 50
Caiçara
Situação
Destruição e ou poluição
95
Ubatuba
Com. Quilombola Cambury/Barreira
Sanitária
24/03/2020 50
Quilombola
Ubatuba
Vila de Picinguaba/Com. Caiçara/
Barreira Sanitária
24/03/2020
Caiçara
Ubatuba
Aldeia Tupi-Guarani Renascer/Barreira
Sanitária
24/03/2020 15
Indígenas
Ubatuba
Com. Caiçara do Cedro/Barreira
Sanitária
24/03/2020
Caiçara
Ubatuba
Com. Caiçara de Ubatumirim/Barreira
Sanitária
24/03/2020
Caiçara
Ubatuba
T. I. Boa Vista do Sertão do Promirim/
Barreira Sanitária
24/03/2020 175
Indígenas
Ubatuba
Com. Caiçara da Almada/Barreira
Sanitária
09/10/2020 50
Caiçara
Subtotal: 31
1419
Ocupações/Retomadas
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Jardinópolis
Antiga Área da RFFSA
09/03/2020 100
Sem Terra
São Paulo
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
Barreira Sanitária
30/01/2020 30
Indígenas
São Paulo
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
Mbya
30/01/2020 7
Indígenas
Subtotal: 3
137
Total conflitos por terra - São Paulo: 34
1519
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Bofete
Lavoura de Laranja
03/09/2020 20
20
Laranja
Lucianópolis
Fazenda São Bento
17/12/2020 18
18
Laranja
Mogi Guaçu
Fazenda em Mogi Guaçu
30/09/2020 10
10
Jiló, berinjela e
abobrinha
São José dos Campos
Fazenda do Juca Tatu
30/06/2020 1
1
Pecuária
Subtotal: 4
49
49
Total Conflitos Trabalhistas - São Paulo: 4
49
49
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Ilhabela
Com. Bonete/Barreira Sanitária
06/11/2020
Uso e
preservação
Ilhabela
Baía dos Castelhanos/Barreira Sanitária
06/11/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
São Paulo, São Vicente,
Mongaguá, São Bernardo do
Campo
T.
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray
Rexakã/Barreira Sanitária
21/06/2020 250
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
São Paulo
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
Barreira Sanitária
21/06/2020
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Subtotal: 4
250
Total dos Conflitos no Campo - São Paulo: 42
Pessoas: 7125
Sergipe
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Aracaju
Ocupação das Mangabeiras
20/07/2020 11
Extrativista
Japaratuba
Com. Quilombola Patioba
20/04/2020 160
Quilombola
Porto da Folha
T.I. Xocó/Aldeias Ilha de São Pedro e
Caiçara/Barreira Sanitária
29/05/2020 100
Indígenas
Não cumprimento de
procedimentos legais
Conflitos
no
Campo Brasil
Porto da Folha
2020
T.I. Xocó/Aldeias Ilha de São Pedro e
Caiçara/Barreira Sanitária
04/07/2020 100
Subtotal: 4
271
Total conflitos por terra - Sergipe: 4
271
Indígenas
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Tipo Conflito
Situação
Aracaju
Ilha dos Namorados/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Aracaju
Comunidade Mosqueiro/Vazamento de
Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aracaju
Praia Viral/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aracaju
Praia Coroa do Meio/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aracaju
Praia de Aruanã/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aracaju
Praia Boa Viagem/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Aracaju
Praia dos Náufragos/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Praia da Costa/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Praia do Porto/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Com. Atalaia Nova/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Povoado Jatobá/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Com. de Barra dos Coqueiros/Vazamento
de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Barra dos Coqueiros
Com. Pontal/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brejo Grande
Ilha da Costinha/Vazamento de Óleo
16/01/2020 166
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brejo Grande
Com. de Foz do Rio São Francisco/
Vazamento de Óleo
16/01/2020 241
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brejo Grande
Com. Quilombola Carapitanga/
Vazamento de Óleo
16/01/2020 128
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brejo Grande
Colônia Z-16/Vazamento de Óleo
16/01/2020 25
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Brejo Grande
Praia do Cabeço/Vazamento de Óleo
16/01/2020 20
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Estância
Com. Praia do Saco/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Estância
Com. Praia do Abaís/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Indiaroba
Com. Mangue de Indiaroba/Vazamento
de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Itaporanga d'Ajuda
Com. Mangue/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Itaporanga d'Ajuda
Pov. Caueiras/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Japaratuba
Com. Quilombola Patioba
20/04/2020 160
Uso e
preservação
Diminuição do acesso à
Água
Pacatuba
Praia de Ponta dos Mangues/Vazamento
de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Pirambu
Praia do Pirambu/Vazamento de Óleo
30/08/2020
Uso e
preservação
Não cumprimento de
procedimentos legais
Porto da Folha
Quilombo de Mocambo
27/04/2020
Barragens e
Açudes
Destruição e ou poluição
Subtotal: 27
Total dos Conflitos no Campo - Sergipe: 31
Tocantins
TERRA
740
Pessoas: 4044
Não cumprimento de
procedimentos legais
97
Conflitos por Terra
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Famílias Categoria
Araguaína
Acampamento Levinha
30/08/2020 110
Araguatins
Comunidade Quilombola da Ilha de
São Vicente
Sem Terra
25/05/2020 48
Quilombola
Arraias
Com. Quilombola Lagoa da Pedra
07/07/2020 37
Quilombola
Paranã, Arraias
Com. Quil. Kalunga do Mimoso
02/09/2020 250
Quilombola
Babaçulândia
UHE Estreito/Acamp. Ilha Verde
26/05/2020 35
Atingido por barragem
Barra do Ouro
Gleba Tauá
01/02/2020 20
Posseiro
Barra do Ouro
Gleba Tauá
04/02/2020 20
Posseiro
Barra do Ouro
UHE Estreito/Ocupação em Barra do
Ouro
26/05/2020
Atingido por barragem
Barra do Ouro
Gleba Tauá
14/07/2020 20
Posseiro
Barra do Ouro
Gleba Tauá
10/09/2020 20
Posseiro
Carmolândia
Fazenda Vera Cruz/Primavera
20/02/2020 20
Sem Terra
Conceição do Tocantins
Comunidade Quilombola Matões
19/12/2020 38
Quilombola
Filadél a
UHE Estreito/Acamp. Dom Bosco
26/05/2020 35
Atingido por barragem
Formoso do Araguaia
T. I. Taego Ãwa/Avá-Canoeiros/Barreira
Sanitária
14/04/2020 7
Indígenas
Itacajá, Goiatins
T.I. Kraolândia/Barreira Sanitária
12/05/2020 748
Indígenas
Ipueiras
Faz. Pântano do Papagaio/Acamp.
Clodomir Santos de Morais
28/08/2020 80
Sem Terra
Lagoa da Confusão, Pium
T. I. Iñawébohona/Barreira Sanitária
14/04/2020 57
Indígenas
Cristalândia, Lagoa da Confusão
T. I. Mata Alagada/Loroty/Faz. Planeta/
Krahô Kanela/Barreira Sanitária
29/05/2020 31
Indígenas
Lagoa da Confusão
Mata Alagada/Retiro do Cocal/Lagoa
do Jacaré/Krahô Kanela/Barreira
Sanitária
29/05/2020
Indígenas
Lagoa da Confusão, Pium
T. I. Iñawébohona/Barreira Sanitária
23/09/2020 57
Indígenas
Santa Tereza do Tocantins, Novo
Acordo, Lagoa do Tocantins
Comunidade Quilombola Barra do
Aroeira
11/06/2020 97
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Mumbuca
19/06/2020 80
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Boa
Esperança
14/07/2020 8
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Capão do
Modesto
14/07/2020 8
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Formiga
14/07/2020 20
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Rapadura
14/07/2020 8
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Mumbuquinha
14/07/2020 8
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Carrapato
14/07/2020 20
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Borá
14/07/2020 8
Quilombola
Mateiros
Comunidade Quilombola Ambrósio
14/07/2020 20
Quilombola
Palmas
Fazenda Normandia do Sul/Acamp.
Sebastião Bezerra
06/08/2020 40
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Santo Reis/Brejão/São Bento/
Acamp. Vitória/Gleba Anajá
09/01/2020 16
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
15/01/2020 19
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
23/03/2020 19
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
24/03/2020 19
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
02/04/2020 19
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Santo Reis/Brejão/São Bento/
Acamp. Vitória/Gleba Anajá
15/05/2020 16
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
07/06/2020 19
Sem Terra
Palmeirante
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Jesus/Gabriel Filho
11/06/2020 19
Sem Terra
Pium
T.I. Utaria Wyhyna/Irodu Irana/Karajá e
Javaé/Barreira Sanitária
03/04/2020 29
Indígenas
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
14/04/2020 876
Indígenas
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
24/06/2020 876
Indígenas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
30/06/2020 876
Indígenas
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
07/07/2020 876
Indígenas
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
17/07/2020 876
Indígenas
Formoso do Araguaia, Lagoa da
Confusão, Pium
Parque Indígena do Araguaia/Barreira
Sanitária
23/09/2020 876
Indígenas
Pium
T.I. Utaria Wyhyna/Irodu Irana/Karajá e
Javaé/Barreira Sanitária
23/09/2020 29
Indígenas
Santa Fé do Araguaia
T.I. Xambioá/Barreira Sanitária
30/01/2020 91
Indígenas
Santa Fé do Araguaia
T.I. Xambioá/Barreira Sanitária
03/04/2020 91
Indígenas
São Félix do Tocantins
Comunidade Quilombola do Rio do
Prata
14/07/2020 79
Quilombola
Tocantínia
T.I. Xerente/Barreira Sanitária
14/04/2020 673
Indígenas
Tocantínia
T.I. Xerente/Barreira Sanitária
13/07/2020 673
Indígenas
Maurilândia do Tocantins, São
Bento do Tocantins, Cachoeirinha,
Itaguatins, Tocantinópolis
T. I. Apinajé/Apinayés/UHE Serra
Quebrada/PAC/Barreira Sanitária
14/04/2020 586
Indígenas
Maurilândia do Tocantins, São
Bento do Tocantins, Cachoeirinha,
Itaguatins, Tocantinópolis
T. I. Apinajé/Apinayés/UHE Serra
Quebrada/PAC/Barreira Sanitária
24/11/2020 586
Indígenas
Maurilândia do Tocantins, São
Bento do Tocantins, Cachoeirinha,
Itaguatins, Tocantinópolis
T. I. Apinajé/Apinayés/UHE Serra
Quebrada/PAC/Barreira Sanitária
30/11/2020 586
Indígenas
Subtotal: 55
4202
Total conflitos por terra - Tocantins: 55
4202
TRABALHO
Trabalho Escravo
Município(s)
Nome do Conflito
Data
Trab. na
Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Lagoa da Confusão
Fazenda Diamante
07/05/2020 40
Arroz, soja, serviços
gerais
Lagoa da Confusão
Fazenda Eldorado
07/05/2020 20
Arroz, soja, serviços
gerais
Nova Olinda
Fazenda Gratão
08/09/2020 5
5
1
Subtotal: 3
65
5
1
Total Conflitos Trabalhistas - Tocantins: 3
65
5
1
Pecuária
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s)
São Salvador do Tocantins
Nome do Conflito
Vila Retiro/UHE Peixe Angical
Subtotal: 1
Total dos Conflitos no Campo - Tocantins: 59
Data
Famílias Tipo Conflito
05/02/2020 97
97
Pessoas: 17261
Barragens e
Açudes
Situação
Diminuição do acesso à
Água
99
Errata para Tabela 2
1
Os conflitos a seguir relacionados situam-se
no município de Boca do Acre (AM) e não em
Rio Branco (AC), conforme publicado no Relatório de Conflitos 2019: Seringal Bom Lugar/Com. Nova Vida, Seringal Andaraí, Seringal Igarapé Grande, Seringal Bananeira,
Seringal Cajueiro, Faz. União/Cruzeirinho,
Seringal Europa, Seringal Entre Rios/
Ramal do 64/Com. Lua Nova, Ramal do 37/
Seringal Entre Rios/Recreio do Sto. Antônio/Gl. Pauene, Seringal Cametá, Ramal do
Garrafa, Gl. Novo Axioma Redenção/Km 90/
Ramal Sta. Helena, Ocup. do Vinha/Ramal
São Francisco/Km 60, Seringal Bom Lugar/
Ramal do Espigão, Seringal Porto Central,
Gleba Francisco Sevalha, P. A. Monte, Seringal Perseverança e Seringal Pirapora.
1*Descrição de todos os eixos de conflitos no campo: Ocorrências de Violências Terra, Ocupações/Retomadas, Acampamentos, Conflitos pela Água e Conflitos Trabalhistas. Embora represente o conjunto das ocorrências, o número de famílias nas
localidades em conflito é somado apenas uma vez. Os totais, portanto, eliminam a duplicidade e expressam rigorosamente
o quantitativo de famílias envolvidas.
*Os conflitos do município de Boca do Acre são acompanhados pela CPT Acre.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Foto: Andressa Zumpano
“Os carrascos avançam”:
Múltiplas violências do patriarcado
patronal branco contra Mulheres em
conflitos agrários e socioambientais
Tatiana Emilia Dias Gomes1
“ela aceita o fardo do sol
derramando uma panela de sal em chamas
sobre seu corpo reluzente
sobre suas revelações cortantes
de tendão e osso
sua pele torna-se mais
macia e opaca
E saindo das cinzas
e do seu campo de visão
os carrascos avançam”.2
Primeiras palavras
Este artigo analisa os dados organizados
pelo Centro de Documentação Dom Tomás
Balduíno, da Comissão Pastoral da Terra, a
respeito das violências sofridas por mulheres nos conflitos agrários e socioambientais
tomando como referência a última década,
bem como o ano de 2020, o que levou à necessidade incontornável de relacioná-los à
pandemia de COVID-19.
1
Assessora jurídica popular, desde 2006, colabora com a Comissão Pastoral da Terra; Professora de Direito Agrário na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia.
2
LORDE, Audre. “Dança da morte para uma poeta”. In: ______. A unicórnia preta. Tradução Stephanie Borges. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2020, p. 179.
101
Para tanto, está dividido em três seções.
Na primeira, a partir de uma constatação
de uma personagem presente em um livro
de 1944 do escritor haitiano Jacques Roumain, mas só recentemente publicado no
Brasil, percorremos as condições desiguais
que orientam a vida e a morte de pessoas
negras, brancas e das etnias originárias,
considerando a situação das mulheres e dos
homens. Assim, há uma descrição das condições em que a pandemia vem ocorrendo,
o que nos leva a crer que vivemos em uma
cova rasa e não em um país.
Na segunda seção, tratamos dos dados organizados pela CPT sobre as múltiplas violências cometidas contra as mulheres, inclusive crianças e adolescentes, na última
década (2011-2020), no quadro dos conflitos agrários e socioambientais. Destacamos
algumas dessas situações, a exemplo dos
assassinatos e dos estupros, constituindo
estes últimos em uma típica forma de subjugação articulada ao patriarcado patronal
branco.
Na terceira seção, articulamos concepções
teórico-políticas dedicadas à reflexão sobre
as relações de raça, gênero e classe de modo
a compreender como as violências contra as
mulheres nesses contextos, sobretudo negras e das etnias originárias, estão entrelaçadas com as dinâmicas da exploração neocolonialista dos bens da natureza.
Escrito em um ritmo ora ensaístico, ora
descritivo, ora analítico, este artigo buscou
desenvolver a ideia de um patriarcado patronal branco como uma chave de leitura
útil para evidenciar uma racionalidade que
opera no mundo de modo a circunscrevê-lo
a um conjunto muito limitado de interesses racistas, capitalistas e machistas, como
3
carrascos que avançam3.
Pandemia para quem?
“– Todos nós vamos morrer...” Essa é a frase que inaugurou o romance Senhores do
Orvalho, de Jacques Roumain4. Ela saiu da
boca de Délira Délivrance, uma camponesa
negra haitiana, personagem desse livro maravilhoso. Délira nos disse o inevitável, nos
recordou da fragilidade dos nossos corpos
que nos iguala a todos(as). É o inevitável, o
inexorável, o insondável. É a certeza de todos(as) os(as) viventes.
No entanto, as circunstâncias em que todos(as) morreremos nos desigualam. No
Brasil, é uma tarefa árdua descortinar essas desigualdades que produzem mortes
evitáveis. Movimentos sociais, como a Organização Política Reaja ou Será Morto(a) e
as Mães de Maio, e Pastorais Sociais, como
a Comissão Pastoral da Terra e o Conselho
Indigenista Missionário, denunciam o genocídio promovido contra os povos negros e
originários, no campo e na cidade.
Pessoas brancas morrem, em média, no
Brasil, oito anos mais tarde que pessoas negras. Há municípios em que essa diferença
de idade média ao morrer chega a 13 anos,como é o caso de Niterói, no Estado do Rio
de Janeiro5.
De acordo com a última edição do Atlas da
Violência6, homicídios são a principal causa da morte de jovens entre 15 e 29 anos,
sendo os jovens negros as principais vítimas
brasileiras. Para a juventude masculina, os
percentuais são: 55,6% entre 15 e 19 anos;
52,3% entre 20 e 24 anos; e 43,7% entre
25 e 29 anos. Para as mulheres jovens, os
percentuais são menores: 16,2% entre 15 e
Ibid.
ROUMAIN, Jacques. Senhores do orvalho. Tradução Monica Stahel. São Paulo: Carambaia, 2020.
5
CASA FLUMINENSE. Mapa da desigualdade: região metropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:
http://casafluminense.org.br/wp-content/uploads/2020/07/mapa-da-desigualdade-2020-final_compressed.pdf.
6
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da Violência 2020. Brasília: IPEA, 2020. Disponível em: https://
www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 11 abr. 2020.
4
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
19 anos; 14% entre 20 e 24 anos; e 11,7%
entre 25 e 29 anos. Entretanto, ainda que
as taxas entre a juventude feminina sejam
mais baixas, os homicídios ainda atingem
mais mulheres nessa faixa etária do que em
qualquer outra, o que as coloca na mesma
condição que os homens jovens. A morte
violenta espreita e encurrala a juventude
no Brasil, sobretudo a juventude negra, em
meio às promessas não cumpridas do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto da Juventude.
cia Internacional (ESPII)10, o nível mais alto
de alerta em saúde, e, em 11 de março, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral
do organismo internacional, anunciou que
a situação da COVID-19 caracterizava uma
pandemia11.
No caso das mulheres, o Atlas8, da mesma
forma, comparou as taxas entre mulheres
negras e mulheres não negras, indicando
que sofreram redução (-11,7%) em relação a
essas e aumentaram em relação às primeiras (12,4%). “Em 2018, 68% das mulheres
assassinadas no Brasil eram negras”9.
A primeira pessoa a morrer em decorrência da doença que temos notícia no Brasil
foi Cleonice Gonçalves, uma mulher negra,
empregada doméstica, moradora do Rio de
Janeiro12. Cleonice contraiu a doença em
seu ambiente de trabalho. Mesmo diante
da recomendação de quarentena pelos organismos internacionais de saúde, a maioria dos(as) empregadores(as) domésticos(as)
continuou exigindo a prestação do trabalho,
tornando as trabalhadoras domésticas um
grupo bastante exposto à COVID-19. A morte de Cleonice evidenciou sinais típicos das
relações de contiguidades sociais e simbólicas entre a escravização negra e o trabalho doméstico, descrita por Flavia Fernandes de Souza13, estudiosa das experiências
de mulheres negras no mundo do trabalho
doméstico oitocentista. Esses sinais seriam
a aversão ao trabalho manual do patronato
branco e o rebaixamento dos salários, o que
torna essa mão de obra acessível mesmo às
residências não abastadas.
Em 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro, a escalada global do SARS-CoV-2 (coronavírus)
Emergência de Saúde Pública de Importân-
Já no segundo mês de quarentena no Brasil
(abril de 2020), o Ministério da Saúde comunicou em uma coletiva à imprensa que
as pessoas negras eram, apesar de menos
O Atlas7 também apresentou as taxas de
ocorrência de homicídios (por 100 mil habitantes) entre as pessoas negras e não negras (brancas, das etnias originárias e amarelas) e indicou que para cada indivíduo não
negro assassinado havia 2,7 indivíduos negros, isto é, enquanto a taxa de homicídios
para pessoas não negras foi de 13,9%, para
as pessoas negras foi de 37,8%.
7
Ibid.
Ibid.
9
Ibid., p. 37.
10
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. “OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional
por surto de novo coronavírus”. Brasília, 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6100:oms-declara-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional-em-relacao-a-novo-coronavirus&Itemid=812>. Acesso em: 11 abr. 2021.
11
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. “OMS afirma que COVID-19 é agora caracterizada como pandemia”. Brasília, 2020. Disponível em: < https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-que
12
SANTANA, Bianca. “COVID-19 e a população negra brasileira”. Ecoa: por um mundo melhor, fev. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/bianca-santana/2021/02/02/covid-19-e-a-populacao-negra-brasileira.htm. Acesso
em: 14 abr. 2021.
13
SOUZA, Flavia Fernandes de. “Escravas do lar: as mulheres negras e o trabalho doméstico na corte imperial”. In: XAVIER,
Giovana; FARIAS, Juliana Barreto; GOMES, Flavio (orgs.). Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-emancipação. São
Paulo: Selo Negro, 2012. p. 244-260.
8
103
hospitalizadas àquela altura, as que mais
morriam14. Em julho de 2020, essa tendência foi confirmada em um estudo produzido
por pesquisadores(as) do Instituto Pólis que
indicou que homens e mulheres negros(as)
eram as principais vítimas fatais da COVID-19 na cidade de São Paulo15. Outro estudo indicou acentuada associação entre os
óbitos por COVID-19 e a necessidade de sair
para trabalhar, mais comum entre trabalhadores(as) informais e com postos de trabalhos mais precarizados, que tiveram que,
por consequência, realizar grandes deslocamentos em transporte público16. A primeira
morte notificada, da senhora Cleonice, revelou, mais tarde, ser a regra.
Outro elemento igualmente preocupante
nesse quadro é que as desigualdades socioeconômicas entre pessoas brancas e negras
foram aprofundadas durante a pandemia.
De acordo com o Boletim Especial do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), que interpretou dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro
semestre de 2020, 6,4 milhões de pessoas
negras perderam ou deixaram de procurar
emprego, enquanto que para as pessoas
brancas, o número foi 2,4 milhões.
as condições de vida dos povos negros e originários, notadamente para as mulheres, o
mesmo não pode ser dito em relação ao patronato empresarial branco.
No setor mineral, por exemplo, o faturamento está em franca ascensão. Segundo
o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram),
no primeiro trimestre de 2021, as empresas
faturaram 70 bilhões de reais, o que representa uma alta de 95% em relação ao mesmo período do ano anterior17.
Um estudo realizado pelo Centro de Estudos
do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) sobre os efeitos do surto de coronavírus na China sobre o agronegócio brasileiro,
uma vez que esse país é o principal destino
da produção agropecuária brasileira, já sugeria que a situação não gerou contração nas
exportações brasileiras para o seu principal
destino18. Naquele momento, a COVID-19
ainda não havia ganhado escala pandêmica. Em março de 2021, conforme a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), houve
alta tanto no volume de exportações (21,8
milhões de toneladas), quanto nos valores
alcançados (11,6 bilhões de dólares), em relação ao mesmo mês do ano anterior, corroborando a tendência encontrada na análise
da FGV. As principais commodities foram a
soja em grãos e a carne bovina in natura. A
alta nos valores foi de 28,6%19.
Se por um lado a pandemia piorou muito
14
DIAS, Bruno. “Letalidade da Covid-19 na população negra pauta imprensa sobre raça e desigualdades”. Associação
Brasileira de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 11 abr. 2020. Disponível em: < https://www.abrasco.org.br/site/noticias/
saude-da-populacao/letalidade-da-covid-19-na-populacao-negra-pauta-debate-sobre-raca-e-desigualdade-social-na-imprensa/46775/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
15
NISIDA, Vitor Coelho; CAVALCANTE, Lara Aguiar. “Racismo e impactos da COVID-19 na população da cidade de São
Paulo”. Revista Brasileira de Direito Urbanístico, Belo Horizonte, n. 10, jan./jun. 2020, p. 151-172.
16
MARINO, Aluizio et al. “Circulação para trabalho explica concentração de casos de Covid-19”. LabCidade – Laboratório
Espaço Público e Direito à Cidade, São Paulo, 30 jun. 2020. Disponível em: <http://www.labcidade.fau.usp.br/circulacao-para-trabalho-inclusive-servicos-essenciais-explica-concentracao-de-casos-de-covid-19/>. Acesso em: 25 abr. 2021.
17
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO. Mineração em números. Instituto Brasileiro de Mineração, jan.mar. 2021. Disponível em: https://ibram.org.br/mineracao-em-numeros/. Acesso em: 25 abr. 2021.
18
CENTRO DE ESTUDOS DO AGRONEGÓCIO. Impactos do surto do coronavírus na china sobre o agronegócio (até fevereiro...). Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, fev. 2020. Disponível em: https://gvagro.fgv.br/sites/gvagro.fgv.br/files/u115/
Impactos%20do%20coronav%C3%ADrus%20sobre%20o%20agroneg%C3%B3cio%20-%20s%C3%ADntese.pdf. Acesso em:
25 abr. 2021.
19
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. Balança comercial do agronegócio brasileiro. Confederação Nacional da
Agricultura, Brasília, mar. 2021. Disponível em: < https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/boletins/Balanca-Comercial_marco2021.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Com todo esse êxito, em meio a um quadro generalizado de catástrofe e assombro,
o fato é que a pandemia não afetou significativamente os negócios do patronato branco, o que ampliou o fosso das desigualdades
sociorraciais e agudizou as violências em
estado bruto contra os povos do campo, das
águas e das florestas.
Mulheres na linha de frente das múltiplas
violências do patriarcado patronal branco
O que o desempenho ótimo dos setores mineral e do agronegócio durante a pandemia
não revela são os danos causados à vida e
ao projeto de mundo das mulheres das etnias originárias, quilombolas, pescadoras
artesanais, assentadas e acampadas da
luta pela reforma agrária.
O primeiro relatório de Conflitos da década
transcorrida estampou a fotografia de uma
mulher, Maria do Espírito Santo da Silva,
ao lado de seu companheiro, José Claudio
Ribeiro da Silva, ambos assassinados. Eram
assentados em um Projeto Agroextrativista
chamado Praia Alta-Piranheira, no município de Nova Ipixuna, no Estado do Pará,
e foram mortos a mando de madeireiros no
dia 24 de maio de 2011. Maria do Espírito
Santo e José Cláudio foram mortos mesmo
após terem denunciado às autoridades públicas as ameaças que sofriam por sua luta
em defesa da Floresta Amazônica e de seus
povos.
Nos últimos dez anos (2011-2020), a CPT
registrou 77 tentativas e 37 assassinatos de
mulheres em conflitos fundiários e socioambientais. Eram trabalhadoras rurais sem-terra, quilombolas e das etnias originárias,
em sua maioria.
Esses episódios estiveram concentrados,
sobretudo, na Região Norte do país, com 24
assassinatos e 40 tentativas. Em seguida,
estão as regiões Nordeste e Centro-Oeste,
com 5 assassinatos cada e, no caso das tentativas, foram 26 no Nordeste e 6 no Centro-Oeste. No Sudeste/Sul, foram registrados,
respectivamente, 2/1 assassinatos e 3/2
tentativas.
Tais números apontam para uma concentração regionalizada desse tipo de violência,
que podem levar analistas incautos a recair
em determinismos fáceis, atribuindo a algumas regiões certas características intrínsecas que lhe confeririam uma atmosfera de
“terra sem lei”, por, supostamente, serem
atrasadas, vazios demográficos, remotas
etc.
Além dos assassinatos consumados e das
tentativas, a CPT registrou também um conjunto bastante amplo de violências contra
as mulheres: agressões, ameaças de morte,
detenções, estupros, lesões corporais, humilhações, intimidações e prisões.
Em dez anos, 446 mulheres foram ameaçadas de morte, com posseiras (90), quilombolas (60) e trabalhadoras sem terra (49) reunindo o maior contingente de ameaçadas.
Foram 37 estupros em uma década, sendo
as principais vítimas mulheres quilombolas e das etnias originárias. Trinta desses
estupros foram cometidos contra crianças
e adolescentes da comunidade quilombola
Kalunga, no Estado de Goiás. Os envolvidos
nesses estupros foram fazendeiros, garimpeiros, membros do Poder Legislativo municipal, empresários.
Noventa e oito mulheres foram presas nos
últimos dez anos no contexto dos conflitos
no campo, nas águas e nas florestas. As prisões foram determinadas, sobretudo, para
as mulheres sem terra (66 do total), o que
sugere a permanência das engrenagens punitivistas no tratamento das lutas por reforma agrária e direitos territoriais no Brasil.
105
Em março de 2018, de uma vez, 400 mulheres foram detidas e intimidadas pela Polícia Militar no município de São Lourenço,
Minas Gerais, após ocupar uma fazenda do
grupo empresarial Nestlé como meio de denunciar a privatização das águas.
Ao longo da última década, um total de
1.814 mulheres sofreram algum tipo de violência interpessoal ou institucional em contextos diversos de lutas por direitos territoriais e socioambientais.
Avenidas e esquinas analíticas
Como refletir sobre essas múltiplas violências orquestradas pelo patriarcado patronal
branco que atingem as mulheres no cenário dos conflitos socioambientais e agrários,
agravados pela pandemia de COVID-19? A
quais aportes teóricos e políticos podemos
recorrer?
Ainda vivemos sob os escombros da “espora da opressão”20 colonial, que articulou a
escravização de milhões de seres humanos
originários do continente africano e, até certo momento, dos povos autóctones desse
continente, com a devastação dos biomas
nacionais, iniciada na Mata Atlântica, o que
a tornou, hoje, quase inexistente. Desse
amálgama, patrimônios foram amealhados
e concentrados aos auspícios de leis injustas e de religiões lideradas por sátrapas.
No entanto, além dos escombros, vivemos
também entre edifícios com fachadas novas.
O colonialismo abre lugar ao neocolonialismo, com reconfigurações, em certa medida,
mais sofisticadas. Em sua análise, Kwame
N’Krumah21 enfatizou que o neocolonialismo não é uma questão exclusivamente africana e, por essa razão, o examinou em uma
perspectiva mundial.
A essência do neocolonialismo é de que
o Estado que a ele está sujeito é, teoricamente, independente e tem todos os adornos exteriores da soberania internacional.
Na realidade, seu sistema econômico e,
portanto, seu sistema político é dirigido do
exterior. Os métodos e as formas de direção podem tomar vários aspectos [...]. Mais
comumente, [...] o controle neocolonialista
é exercido através de meios econômicos ou
monetários. [...] É possível que o controle
neocolonial seja exercido por um consórcio
de interesses financeiros que não são especificamente identificáveis com qualquer
Estado particular.22
Eis a dimensão dos desafios colocados para
o enfrentamento ao neocolonialismo no Brasil, que estão postos desde a sua pseudodescolonização no século XIX: um processo
de independência encenado por um membro
da família real portuguesa, após sucessivos
sufocamentos de diversas outras tentativas
autônomas, cujo exemplo mais notável é a
Revolta dos Búzios, instaurou uma tirana
monarquia e manteve seu domínio sobre o
Brasil até ser banida por golpe militar, que
proclamou uma república sem povo e que
promoveu, nos seus primeiros anos, o genocídio em Canudos.
Apesar do Estado brasileiro ostentar, como
escreveu N’Krumah, “todos os adornos exteriores da soberania internacional”, manteve-se e mantém-se apenas nominalmente
independente.
Esse quadro foi reafirmado com decisões
macroeconômicas no campo das políticas
estatais que consolidaram a posição do Brasil no mundo, desde 1532, como um “Estado
PAES, Fábio. Salve Canudos. Interprete: Jurema Paes. In: FÁBIO PAES. Canudos e Canto do Sertão. [S.I.]: Audio Factory,
p1995. 1 disco sonoro. Lado A, faixa 4.
21
N’KRUMAH, Kwame. Neocolonialismo: último estágio do imperialismo. Tradução Maurício C. Pedreira. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1967.
22
Ibid.
20
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
hospedeiro”23, uma “nação fornecedora”24,
posto que calcadas em modelo de desenvolvimento mono-agro-minero-exportador de
commodities agropecuárias e minerais.
Ao longo dos séculos, houve significativas
variações políticas, jurídicas, econômicas e
de mercados nesse modelo, considerando os
ciclos das commodities mais rentáveis, mas
o núcleo da decisão permanece o mesmo. A
economia brasileira é movida pela exportação dessas commodities. Hoje, soja, petróleo
(e seus derivados) e minério de ferro são as
principais.
A adoção desse modelo mono-agro-minero-exportador trouxe dividendos astronômicos para o patriarcado patronal branco,
mesmo durante a pandemia de COVID-19,
como já indicamos na primeira seção deste
artigo. Na mesma proporção, tal modelo deixou custos socioambientais para o conjunto
do povo brasileiro, sobretudo os povos negros e originários. A desindustrialização e a
dependência tecnológica do Brasil em todas
as áreas, evidenciada pela escassez de equipamentos e insumos médicos necessários
para dar conta da pandemia de COVID-19,
também são consequências desse processo
que reverberam na vida social brasileira.
Considerando os registros da CPT, a Região
Norte do país acumula o maior contingente de violências letais contra mulheres, nos
últimos dez anos, notadamente no Estado
do Pará. Como escrevemos alhures, não podemos cair em determinismos fáceis, típicos
dos “adoradores prediletos da deusa preguiça”25. Um dos elementos que deve ser consi23
derado para a compreensão desses números
tem a ver com fatores que não dizem respeito à região em si, mas sim ao sentido que é
dado aos bens ambientais e aos povos nela
existentes. A Floresta Amazônica, com mais
intensidade a partir do século XX, converteu-se numa das principais fronteiras agropecuárias e minerais do país, capitaneada
por agentes privados turbinados por crédito
público. Sojeiros, madeireiros, mineradoras, garimpos devoram territórios e corpos,
corpo-territórios.
Frantz Fanon26 nos advertiu que o racismo
tem por objeto não uma pessoa em particular, mas uma forma de existir. São essas
formas de existir, representadas por esses
corpos-território, que morrem, são violentadas, detidas ou presas, como afirmação de
uma racionalidade racista e genocida.
Gênero não é sinônimo de mulher, da mesma forma que raça não é sinônimo da negritude. Análises em perspectiva interseccional devem considerar as relações desiguais
entre os sexos, as raças e as classes.
Consideramos importante tratar dessas
questões a partir das relações raciais, entendidas aqui, na esteira de Guerreiro Ramos, em que “condições objetivas colocam
o problema do ‘branco’”27. Igualmente, Maria Aparecida Silva Bento28 problematizou a
funcionalidade do apagamento das pessoas
brancas nas discussões sobre relações raciais no Brasil, o que, no seu entendimento,
tem a ver com a preservação dos seus privilégios, o que ela chamou de “pacto narcísico
Ibid., p. 100.
Ibid., p. 100.
25
GAMA, Luiz. “A emancipação ao pé da letra”. In: FERREIRA, Ligia Fonseca (org.). Lições de resistência: artigos de Luiz
Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 268.
26
FANON, Frantz. Por uma revolução africana: textos políticos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar,
2021.
27
RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Andes Limitada, 1957, p.
171.
28
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; ______. (orgs.). Psicologia
social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 25-57.
24
107
entre os brancos”29.
O silêncio, a omissão, a distorção do lugar
do branco na situação das desigualdades
raciais no Brasil têm um forte componente
narcísico, de autopreservação, porque vem
acompanhado de um pesado investimento
na colocação desse grupo como grupo de
referência da condição humana30.
Nas violências praticadas contra mulheres
em contextos de conflitos socioambientais e
fundiários, um fator que merece atenção é a
ocorrência de estupros. Violências sexuais
contra mulheres constituem historicamente
formas de controle patronal. Considerando que as vítimas na última década foram
mulheres das etnias originárias e crianças
e adolescentes quilombolas, a persistência
do mito da democracia racial constitui um
elemento para a análise, na medida em que
tal mito contribuiu para a crença de que a
miscigenação resultou de contatos cordiais
entre as três raças, ocultando que as mulheres negras e das etnias originárias suportaram as consequências sexuais desse
processo em seus corpos e que não houve possibilidades igualitárias de existência
para as três raças. Abdias Nascimento, crítico dessa suposta democracia racial e dos
seus ideólogos, escreveu
O Brasil herdou de Portugal a estrutura
patriarcal de família e o preço dessa herança foi pago pela mulher negra, não só
durante a escravidão. Ainda nos dias de
hoje, a mulher negra [...] continua vítima
fácil, vulnerável a qualquer agressão sexual do branco.31
29
Com isso, Abdias Nascimento refutou a ideia
de que as relações raciais no Brasil foram
construídas em bases que não encontrariam paralelos possíveis com outros contextos, postos que baseadas em uma “saudável
interação sexual”32. Nesse sentido, as reflexões de Patricia Hill Collins a respeito da experiência de mulheres negras nos Estados
Unidos também podem ser aproximadas da
experiência de mulheres negras na Diáspora, bem como das mulheres das etnias originárias. Collins33 entende que o estupro é
parte da subordinação de mulheres negras
nas opressões interseccionais, sendo a sua
dimensão mais visível. Ele tende a ser perdoado e legitimado, com base em um processo de construção das violências a partir
das relações raciais e de gênero, que construiu a imagem objetificada dessas mulheres como sexualmente disponíveis. No caso
das meninas quilombolas estupradas, isso
é agravado pela sexualização precoce da infância/adolescência, imbricada a um quadro de pauperização.
A autora bell hooks descreveu o poder patriarcal como “o poder que os homens usam
para dominar as mulheres”34, não apenas
baseado na discriminação contra as mulheres, mas como um “comprometimento político sério para manter um regime político
[...] que seja dominado pelo homem”35. No
caso dos homens brancos, acrescentou a
autora, o sucesso desse poder patriarcal é
medido pelo uso sistemático da tecnologia
para violentar os outros, bem como pela sua
ampla capacidade de explorar pessoas para
fins capitalistas36.
Ibid., p. 25.
Ibid., p. 30.
31
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 2. ed. São Paulo: Perspectiva,
2017, p. 73-74.
32
Ibidem, p. 76.
33
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução
Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.
34
hooks, bell. E eu não sou uma mulher? mulheres negras e feminismo. Tradução Bhuvi Libanio. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 2020, p. 145.
35
Ibid., p. 163.
36
bid.
30
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Para tanto, propomos a noção de patriarcado patronal branco para compreender uma
racionalidade e como um “corpo elaborado
de teorias e práticas”37 que operam sobre os
corpos das mulheres, notadamente negras
e das etnias originárias, promovendo violências físicas interpessoais, mas também aniquilando seus projetos de mundo e existência38, de modo a solapar outros caminhos
possíveis, racionalidade essa que se articula
com o devorar dos bens da natureza numa
lógica de predação contínua e concentração veloz de riquezas, operando também na
produção e na aplicação de instrumentos
estatais de controle e punição quando as
mulheres desafiam tais engrenagens, como
foram os casos de prisões e detenções registrados pela CPT ao longo de sua missão de
documentar os conflitos agrários e socioambientais.
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25 abr. 2021.
37
38
Ibid., p. 33.
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Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Foto: Mídia Ninja
Terra
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Agravamento da violência no campo:
Reflexões sobre a política de regularização
fundiária
Girolamo Domenico Treccani1
José Heder Benatti2
Aianny Naiara Gomes Monteiro3
2020: apesar da pandemia, agrava-se a
violência no campo
O ano de 2020 poderia ter passado para a
história como o ano da união nacional contra um inimigo externo tão minúsculo que
só é visível com a ajuda de potentes microscópios: a Covid-19, uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que vitimou 194.949 pessoas no
Brasil, segundo dados oficiais publicados
pelo Ministério da Saúde4.
Num momento de pandemia, cujos números fatais não encontram paralelo em qualquer guerra combatida pelo Brasil, poderia
se esperar um grande esforço conjunto do
povo em geral, dos movimentos sociais, da
sociedade civil e do Poder Público em todas
as suas vertentes: Executivo, Legislativo e
Judiciário. Como consequência, diminuir as
ocorrências de conflitos no campo e o número de famílias envolvidas. Os dados divulgados nesse relatório de Conflitos vão em
direção contrária: desde 1985, em nenhum
momento da história o número de confli-
tos por terra foi tão alto: 1.576, envolvendo
171.625 famílias. Os dados são ainda mais
assustadores quando analisados apenas
os números referentes aos povos indígenas
no Brasil: 656 ocorrências (41,6% do total),
com 96.931 famílias (56,5%).
Gráfico 1: Número de ocorrências em conflitos por terra no Brasil (1985-2020)
Fonte: Autores a partir do Banco de Dados do Cedoc
Dom Tomás Balduino.
1
Advogado, Doutor em Ciência e desenvolvimento socioambiental, pós-doutorado pela Universidade de Trento (Itália) e Universidade Federal de Goiás. Professor da Graduação e da Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA),
Amazônia, Brasil. Membro da Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/UFPA). E-mail: girolamo@ufpa.br.
2
Advogado, doutor em Ciência e desenvolvimento socioambiental, professor da Graduação e da Pós-Graduação em Direito
da Universidade Federal do Pará (UFPA), Amazônia, Brasil. Membro da Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/
UFPA). Pesquisador do CNPq. E-mail: jbenattti@ufpa.br.
3
Advogada, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Direito, Mestra em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, ambos pela Universidade Federal do Pará. Desenvolve pesquisas na Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA/UFPA). E-mail: aiannymonteiro@yahoo.com.br.
4
Esses dados constam na planilha HIST_PAINEL_COVIDBR_12abr2021, publicada pelo Ministério da Saúde, que divulga
diariamente o número de pessoas infectadas e mortas. Essa mesma planilha mostra como na data desta pesquisa o número
de pessoas infectadas no Brasil atingiu 13.517.808 e o número de mortos 354.617: um crime contra a vida do povo brasileiro
que precisa ser investigado. Disponível em https://covid.saude.gov.br/ acesso em: 13 abr. 2021.
113
Comparando o número de ocorrências de
1985 a 2020, percebe-se um aumento considerável da violência no campo, de maneira
especial nos últimos dois anos. O relatório
de Conflitos relativo aos dados de 2019 apresentava um aumento de 26% comparado
com os dados de 2018 (de 1000 ocorrências
se passou a 1.260). Em 2020, esse aumento foi 25,1% ainda maior, alcançando 1.576
ocorrências, perfazendo um total de 21.801
nesses 35 anos. Tal quadro de agravamento
dos conflitos fica mais evidente quando se
comparam as porcentagens dos conflitos: se
entre 1985 e 2009 a média anual das ocorrências era quase sempre abaixo de 3,0% do
total, a partir de 2010, essa porcentagem foi
sempre superior a 3,0% e aumentou consideravelmente em 2019 (5,78% do total) e em
2020 (7,23%).
O número de conflitos por dia, que tinha
sido 2,74 por dia em 2018, passou a 3,45
em 2019 e 4,31 em 2020.
É importante destacar que a CPT sistematiza “ocorrências”, isto é, violências documentadas num determinado momento histórico:
o que se percebe é que muitos conflitos perduram ao longo do tempo, em alguns casos
por anos ou, até, por décadas, sobretudo
quando envolvem populações tradicionais.
Em muitos casos, as ameaças de expulsão
denunciadas num ano, são transformadas
em despejo judicial em outro momento.
Nesse contexto nasce uma pergunta fundamental: qual a origem dos conflitos no campo?
Análise histórica
No Brasil, o processo de concentração de
terras e de formação de grandes propriedades foi iniciado com o regime de capitanias
hereditárias, que dividiu a costa brasileira,
facultando aos seus donatários conceder
as terras àqueles que quisessem cultivá-las, seguido do Sistema de Sesmarias que
também não impediu o estabelecimento de
enormes latifúndios (OPITZ; OPTIZ, 2007).
Esses regimes permitiram a garantia da
propriedade da terra apenas aos “amigos do
Rei” e dificultaram o seu acesso aos mais
pobres (TRECCANI, 2001). Por sua vez, a Lei
de Terras (Lei nº 601/1850)5, além de criminalizar as posses, também não solucionou o
problema da má distribuição de terras.
Esses regimes jurídicos de regularização
de terras, apesar de adotados em períodos
históricos diferentes, tinham em comum o
caráter privatista da terra que foi se consolidando e sendo reproduzido nas legislações
modernas, apesar das reivindicações coletivas de povos e comunidades tradicionais e
do reconhecimento formal dos direitos territoriais coletivos desses grupos que permaneceram secularmente “invisibilizados”.
Foi só na segunda metade da década de
1980 do século passado6 que os povos indígenas, as comunidades de quilombo e outras populações tradicionais7 conseguiram
dar “visibilidade” às propostas de políticas
públicas e às reivindicações territoriais8.
Essas mobilizações deram fruto: a Constituição Federal de 1988 (art. 231 e 68 do
5
A Exposição de Motivos da Medida Provisória 910/2019 irá fincar suas raízes históricas da “legitimação de posse” prevista nesta norma. Ver EM nº 00084/2019 Mapa, Brasília, 4 de dezembro de 2019, https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
medpro/2019/medidaprovisoria-910-10-dezembro-2019-789549-exposicaodemotivos-159670-pe.html, acesso em: 13 abr.
2021.
6
É importante lembrar o papel desempenhado por Chico Mendes e pelos seringueiros do Acre na articulação dos “Encontros
dos Povos da Floresta” que deram origem ao Conselho Nacional dos Seringueiros, hoje Conselho Nacional das Populações
Extrativistas – CNS. Ver sua origem e história em: http://www.memorialchicomendes.org/quem-somos/, acesso em: 13 abr.
2021.
7
Adota-se aqui o conceito previsto no Decreto nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007 e a listagem que consta no Decreto nº 8.750,
de 9 de maio de 2016. Esse último decreto será de fundamental importância na identificação dessas populações.
8
Na última década, dezenas de comunidades tradicionais adotaram o “mapeamento social” como uma ferramenta para
mostrar sua existência ao Estado e solicitar o reconhecimento dos seus direitos. De particular importância, o trabalho desenvolvido pela Nova Cartografia Social da Amazônia: ver http://novacartografiasocial.com.br/.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
ADCT) reconheceu os direitos territoriais
dos povos indígenas e comunidades remanescentes de quilombos. Várias outras normas infraconstitucionais criaram unidades
de conservação de uso sustentável (Lei nº
9.985, de 18 de julho de 2000 que criou o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Snuc) e assentamentos ambientalmente diferenciados9.
Até 2009, foram reconhecidas mais de 70%
das terras indígenas e expedidos, entre
1995 e 2008, 86 títulos de reconhecimento de domínio em favor dos quilombos por
parte da União e de vários Estados brasileiros, com uma área total de 684.381,6543
ha, representando 67,03% das áreas tituladas até o presente. No que diz respeito
aos projetos ambientalmente diferenciados,
territórios quilombolas federais ou moradores de unidades de conservação reconhecidos como integrantes do Plano Nacional de
Reforma Agrária, tinham sido criados 470
projetos (64,30% do total) com uma área de
36.948.462,0072 ha (81,65%).
A partir de 2009, no entanto, começou a ser
institucionalizado um novo discurso: retomar a regularização fundiária flexibilizando
as normas em vigor. Enquanto isso as normas em favor dos quilombolas, por exemplo, eram extremamente burocratizadas, a
exemplo da Instrução Normativa Incra nº
57, de 20 de outubro de 2009. Nos últimos
dois anos, o governo federal, que não reconheceu nem um palmo de terras para os povos indígenas, titulou apenas 323 hectares
em favor de quilombos (isto é, 0,03% das
terras tituladas desde 1995). Considerando
que o respeito aos artigos 231 e 68 do ADCT
não é uma política pública opcional, mas
uma obrigação constitucional: quais medidas poderiam ser adotadas para a responsabilização do presidente da República pela
omissão na implementação dessas políticas
de reconhecimento de direitos territoriais?
Além de não ser reconhecido o direito dos
povos indígenas, uma nota técnica publicada em março de 2021 pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostra
o crescimento, entre 2016 e 2020, de 55%
das áreas registradas irregularmente como
propriedade privada sobre terras indígenas.
No mesmo período o Cadastro Ambiental
Rural (CAR) avançou 75%.
Os relatórios de Conflitos no Campo Brasil
publicados posteriormente comprovaram
que as populações tradicionais, sobretudo
as da Amazônia, passaram a ser as principais vítimas dessa política.
Abandonava-se, dessa maneira, a política
de “Ordenamento Territorial”10 que permitia estabelecer as prioridades de destinação
das terras públicas, em favor da regularização fundiária individual.
Programa Terra Legal: solução ou agravamento dos conflitos?
Quando, em 6 de fevereiro de 2009, foi apresentada ao Congresso Nacional a Medida
Provisória nº 458, o governo federal justificou a mesma com o intuito de pacificar
o campo11. A MP 458 foi transformada na
9
Os assentamentos ambientalmente diferenciados são os projetos de desenvolvimento sustentável, de assentamentos agroextrativistas e de assentamento florestal criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
10
Podemos definir o ordenamento territorial como o processo de gestão territorial contínua, transparente e democrática. A
política de ordenamento territorial, que visa a promover o desenvolvimento sustentável, deve ser pactuada com os diferentes atores: federal, estadual, municipal e sociedade civil. Entre seus instrumentos podemos citar o Zoneamento Ecológico
Econômico (ZEE), a unificação e divulgação dos diferentes cadastros (imóveis rurais, registro de imóveis, fiscal e ambiental
rural). Nesse contexto ganhavam destaque os debates relativos à “Governança Fundiária”. Por isso a transparência nas informações e a efetiva participação popular, estão entre seus princípios básicos.
11
Na Exposição de nº 01 se afirmava: “Desde os anos oitenta as ações de destinação de terras pelo governo federal na
Amazônia Legal foram interrompidas intensificando um ambiente de instabilidade jurídica, propiciando a grilagem e terras,
o acirramento dos conflitos agrários e o avanço do desmatamento”. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2009/Exm/EMI-1-MDA-MP-MCidades-09-Mpv-458.htm. Acesso em: 13 abr. 2021
115
Lei nº 11.952, de 25 de junho de 2009, que
instituiu o Programa Terra Legal, visando
a regularizar individualmente as terras da
União na Amazônia12, para conceder titulação definitiva aos pequenos posseiros em
áreas de até 15 módulos fiscais e não superiores a 1.500 ha. Essas normas criaram
mecanismos que priorizavam a regulação
fundiária de pequenos ocupantes que ocupavam terras desde dezembro de 200413.
Em julho de 2017, por meio da Lei nº 13.465,
esse limite foi aumentado, passando a permitir a concessão individual de terras públicas até o limite de 2.500 ha, no caso de
ocupações mansas e pacíficas anteriores a
22 de julho de 2008. Posteriormente, esse
limite foi alterado pela Medida Provisória nº
910/201914, que reduziu esse marco para
05 de maio de 2010. (MONTEIRO, VASCONCELOS, TRECCANI, 2019; MONTEIRO; TRECCANI, 2019; TRECCANI; MONTEIRO; VASCONCELOS, 2020). Destaca-se
que, mais uma vez, o governo afirmou que
se “busca legalizar a situação de milhares
de núcleos familiares que exploram a terra e dela retiram o seu sustento, conferindo
segurança jurídica à sua situação dantes
precária”15. A Lei nº 13.465/2017, além de
aumentar o limite para regularização individual de ocupações em terras públicas, al12
tera o prazo, possibilitando a regularização
de áreas ocupadas cada vez mais recentes,
ainda dispensou a realização de licitações
para aquisição desses imóveis até 2.500 ha
e autorizou que essas mesmas regras fossem expandidas a todas as terras públicas
da União e em todo o território nacional.
Em 2020, encabeçado pela bancada ruralista, o governo federal tentou aprovar a Medida Provisória nº 910/2019, que introduziu um novo marco temporal: 5 de maio de
2014, prazo reduzido ainda mais para dezembro de 2018 no artigo 38. O recado era:
Vocês desmatam queimam e eu regularizo.
Confirma-se o que foi escrito ano passado
por Eliane Brum, em seu artigo para o Relatório da CPT (2020, p. 113): “A legalização
da grilagem e a conversão dos grileiros em
fazendeiros”.
No entanto, essa pretensão foi frustrada
pela oposição que defendeu que durante
a pandemia do novo coronavírus matérias
que fugissem dessa temática não deveriam
ser pautadas no Congresso. Tramitam hoje,
na câmara dos deputados, o Projeto de Lei
(PL) nº 2.633/202016 e, no Senado Federal,
o PL nº 510/202117, que visam a alterar as
regras de regularização fundiária em áreas
federais reintroduzindo nesse debate, com
Conforme o disposto no Art. 2º da Lei Complementar nº. 124, de 03 de janeiro de 2007 a Amazônia Legal: “abrange os
Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins, Pará e do Maranhão na sua porção a oeste
do Meridiano 44º”. Segundo o IBGE: “Possui uma superfície aproximada de 5.015.067,749 km², correspondente a cerca de
58,9% do território brasileiro” (https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/geologia/15819-amazonia-legal.html?=&t=o-que-e). Esta medida corresponde a 501.506.774,90 ha.
13
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.269, ajuizada pela Dra. Deborah Macedo Duprat de Britto
Pereira, da Procuradoria Geral da República, o STF determinou que as terras ocupadas por comunidades quilombolas ou
tradicionais que façam uso coletivo da área deverão ser regularizadas de acordo com normas específicas.
14
Ver: Brito, B. & Barreto, P. (2020). Nota técnica sobre Medida Provisória nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em:
https://bit.ly/3vW0Q4W; Brito, B. 2020. Nota técnica sobre o relatório do Senador Irajá Abreu referente à Medida Provisória
(MP) nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em: https://bit.ly/2QCFkCj; Brito, B. 2020. Nota técnica sobre o segundo
relatório do Senador Irajá Abreu referente à Medida Provisória (MP) nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em: https://
bit.ly/2PuBIlm.
15
Ver a EMI nº 00020/2016 MCidades MP CCPR de 21 de dezembro de 2016, disponível em https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/medpro/2016/medidaprovisoria-759-22-dezembro-2016-784124-exposicaodemotivos-151740-pe.html,
acesso
em: 13 abr. 2021.
16
Ver: Brito, B. (2020). Nota técnica sobre Projeto de Lei n.º 2.633/2020. Belém: Imazon. Disponível em: https://imazon.
org.br/wp-content/uploads/2020/06/Imazon_Nota_Tecnica_PL2633_2020-1.pdf e PACKER Larissa e TRECCANI, Girolamo
Domenico. MP 910/19 transformada em PL nº 2633/2020: “Lobo em pele de cordeiro”. (2020) Disponível em http://www.
cartadebelem.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Lobo-em-pele-de-cordeiro-final.pdf, acesso em: 13 abr. 2021.
17
Ver: Brito, B. (2021). Nota técnica sobre Projeto de Lei n.º 510/2021. Belém: Imazon. Disponível em: https://imazon.org.
br/wp-content/uploads/2021/04/Nota_Tecnica_PL510_Imazon.pdf, acesso em: 13 abr. 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
poucas exceções, o que estava previsto na
MP 910/2018.
Em comum, essas propostas, incentivam a
continuidade de ocupação de terras públicas e o desmatamento. O PL nº 510/2021
permite a regularização de terras de médio
e grande porte ocupadas após dezembro de
2014, com benefícios a seus ocupantes; aumenta o risco de titular áreas em conflitos
ou com demandas prioritárias, pois desobriga a realização de vistoria prévia e enfraquece os casos excepcionais em que a vistoria é
obrigatória; flexibiliza regras para titulação
de áreas desmatadas ilegalmente; permite a
reincidência de invasão de terra pública e
amplia a possibilidade de extinção de projetos de assentamento para aplicação das regras de privatização de terras públicas, com
risco de afetar assentamentos criados para
populações agroextrativistas (BRITO, 2021).
Em paralelo a essas iniciativas, os estados
vêm alinhando suas legislações fundiárias à
orientação da Lei nº 13.465/2017, adotando cada vez mais um caráter privatista, sob
o argumento da desburocratização dos procedimentos de regularização fundiária. Assim, criam mecanismos que “ressuscitam”
títulos já definidos pelas legislações anteriores como ineficazes para o reconhecimento
dos direitos de propriedade, autorizando o
uso de documentos antigos por parte do Incra e dos órgãos fundiários estaduais. Dessa forma, aquecem um “mercado de títulos
podres” que poderá provocar conflitos com
pequenos posseiros e/ou comunidades tradicionais. As políticas descritas acima ganham uma dimensão especial quando se
analisam as novas formas de apropriação
indevida de terras públicas.
18
A grilagem das terras públicas como instrumento para destruir a sociobiodiversidade amazônica.
Nas últimas décadas, a grilagem de terras
públicas tem sido utilizada para explicar
a violência no campo e o desmatamento.
Dependendo de sua definição a prática da
apropriação ilegal do patrimônio público é
tão antiga que fica difícil precisar em que
momento se tornou um procedimento recorrente, pois elementos do passado continuam sendo empregados no presente (BENATTI et al, 2003).
O termo grilo ou grilagem tem sua origem
na tentativa de transformar títulos falsificados, dando lhes aparência de legais, com
o emprego do inseto ortóptero (o grilo). Se
no passado o instrumento que se utilizava
para dar uma aparência de legalidade era
um documento falsificado, hoje o Cadastro
Ambiental Rural (CAR) é o mais utilizado.
Podemos afirmar que a definição do que seja
grilagem vai depender do momento histórico. O que foi praticado ilegalmente antes
pode ser aperfeiçoado com a introdução de
novos elementos para assegurar o sucesso
da ilegalidade.
Se num passado, não tão remoto, a falsificação de documentos era utilizada para apropriação de terra pública (devoluta ou não),
hoje a definição de grilagem modificou. Estudos indicam que o CAR está sendo empregado para legitimar a ocupação ilegal de terras indígenas, na esperança de que o atual
governo diminua essas áreas para reconhecer a ocupação irregular.18 Nesse sentido, o
governo federal já tem dado sinais, seja pelo
não reconhecimento de terras indígenas (TI)
Seguhttps://deolhonosruralistas.com.br/2020/10/27/terras-em-297-areas-indigenas-estao-cadastradas-em-nome-de-milhares-de-fazendeiros/ndo o observatório “De olho nos ruralistas”, são 297 terras indígenas demarcadas que possuem
parte de seus territórios registrados no CAR em nome de pessoas físicas ou jurídicas (, acessado em 11/04/2021). O MPF
identificou quase 10 mil CAR em áreas destinadas a povos indígenas (www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-identifica-quase-10-mil-propriedades-rurais-em-areas-destinadas-a-povos-indigenas, acesso em: 11 abr. 2021).Desse modo, atualmente
não são somente as glebas de terra públicas não destinadas que estão sendo apropriadas ilegalmente, também as já destinadas como as terras indígenas. Tudo indica que se for realizado levantamento semelhante para os territórios quilombolas,
reservas extrativistas e projetos de assentamento agroextrativistas e desenvolvimento sustentável a prática pode estar sendo
repetida.
117
e quilombolas e a não criação de assentamentos ambientalmente diferenciados das
populações tradicionais, reservas extrativistas (Resex) e reservas de desenvolvimento
sustentável (RDS).
Outro fato que comprova o avanço inconstitucional e ilegal da grilagem sobre os territórios tradicionais é a aprovação pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) da Instrução
Normativa (IN) no 9/2020, que altera o regime administrativo da Declaração de Reconhecimento de Limites (DRL) em relação a
imóveis privados. O DRL tinha o objetivo de
certificar se o imóvel rural limítrofe a terra
indígena respeitava a linha de divisa existente, não importando se o território indígena estava com restrição de uso, em fase
de identificação, demarcada, homologada e
registrada no Cartório de Registro de Imóveis e na Secretaria do Patrimônio da União.
A nova IN limitou a declaração somente
para imóvel rural lindeiro à terra indígena
homologada. Nos 237 processos de demarcação de terra indígena pendentes de homologação, o confinante não precisaria da declaração visto que a divisa “não existe para
o mundo administrativo”. A situação ficava
mais grave porque a mesma norma administrativa previa a retirada do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef-GEO) de todas as terras
indígenas não homologadas e em estudos.
Felizmente o MPF tem conseguido suspender os efeitos da IN Funai no 9/2020, obrigando o órgão indigenista a manter ou incluir no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef)
e no Sistema de Cadastro Ambiental Rural
(Sicar) as terras indígenas com restrição de
19
uso, em fase de identificação, demarcada,
homologada e registrada no Cartório de Registro de Imóveis.19
Outra tentativa de enfraquecer o reconhecimento das terras indígenas e, consequentemente, fragilizar as glebas de terras
reivindicadas pelos povos indígenas, foi a
aprovação pela FUNAI da Resolução no 4,
de 22 de janeiro de 2021, que definiu “novos
critérios específicos de heteroidentificação
que serão observados pela FUNAI, visando a
aprimorar a proteção dos povos e indivíduos indígenas, para execução de políticas públicas” (art. 1º), que restringe, na prática, a
autodeclaração indígena. De forma célere, o
Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu
os efeitos da Resolução, por decisão cautelar do ministro Luís Roberto Barroso (ADPF
709 MC / DF), em 13/03/2021.
Todas essas medidas normativas e políticas
federais estão alcançando seus objetivos. A
Nota Técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), divulgada em
março deste ano, demonstra que, antes de
2018, as terras indígenas eram os espaços
protegidos com a menor taxa de desmatamento e fogo na Amazônia. Já em 2020 o
quadro mudou, “apenas 3% das TIs concentram 70% do desmatamento e 50% do fogo,
com ligação a atividades ilegais de agentes
externos” (FELLOWS, 2021). Isso significa
que os grileiros têm plena confiança que
serão recompensados ao invadir as terras
indígenas, mesmo que as mesmas estejam
demarcadas.20
A grilagem dos territórios tradicionais21 não
Segundo o site do MPF, até 18 de março de 2021, foram ajuizadas “26 ações judiciais em 13 Estados brasileiros – Pará,
Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul – perante a Justiça Federal buscando o retorno dos registros das terras indígenas para os cadastros
fundiários públicos”. Disponível em: http://mpf.mp.br/ba/sala-de-imprensa/noticias-ba/a-pedido-do-mpf-justica-federal-suspende-efeitos-de-instrucao-normativa-09-da-funai-na-bahia), acesso em: 11 abr. 2021.
20
Outro trabalho que faz a relação direta entre grilagem como causa de desmatamento é a discussão realizada por Hugo
Loss, Analista Ambiental do IBAMA, disponível em amazonialatitude.com/2021/03/23/como-a-grilagem-causa-o-desmatamento-na-amazonia, acesso em: 11 abr. 2021.
21
Trabalharemos com a definição de território tradicional o existente no inciso I, art. 3o do Decreto Federal nº 6.040/2007,
que são os “Espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam
eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas,
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
se limita às terras indígenas, mas também
atinge os quilombos reconhecidos ou em
fase de reconhecimento, as reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável
e os assentamentos ambientalmente diferenciados criados ou em fase de criação. As
duas propostas de regularização fundiária
em discussão no Congresso Nacional possuem comandos normativos que facilitam a
grilagem dos territórios tradicionais.
Outra alteração realizada em 2017, na Lei
8629/1993, proíbe que os assentamentos
ambientalmente diferenciados possam ser
titulados coletivamente. O art. 18, § 14 da
lei proíbe “(...) a titulação, provisória ou definitiva, a pessoa jurídica.” Em outras palavras, os PAE e PDS não podem ser titulados em nome da associação ou cooperativa,
que é uma clara violação constitucional e da
Convenção 169 da OIT. O objetivo em titular individualmente as famílias dos assentamentos coletivos é pressionar para que os
lotes sejam vendidos e estejam disponíveis
no mercado de terra.
O Incra tem celebrado contratos individuais
com famílias dentro dos PAE, PDS e PAF,
com a emissão de Contrato de Concessão
de Uso (CCU) ou Contrato de Direito Real
de Uso (CDRU) individual, objetivando enfraquecer os territórios tradicionais e criar
cisões dentro dos movimentos sociais. Malerba e Treccani (2020) mostraram como
dos mais de 35 mil contratos individuais expedidos em assentamentos ambientalmente
diferenciados, até 2018, 98% se localizavam
na Amazônia. No Pará, entre 2009 e 2018,
foram 617 títulos individuais emitidos em
assentamentos ambientalmente diferenciados22 (SILVA, 2020).
Quais os resultados da política de regu-
larização fundiária num campo em conflito?
Os números apresentados pela CPT contradizem o efetivo alcance da política da “paz
no campo” anunciada pelo Governo Federal quando editou a Medida Provisória nº
458/2009. Observou-se acima que, entre
1985 e 2020, foram documentadas 21.801
ocorrências de conflitos por terra. O quadro abaixo mostra que, entre 2009 e 2020,
aconteceram 11.282 ocorrências, isto é,
nesses 11 anos, foram registrados 51,75%
dos eventos, desses 58,16% nos estados
que integram a Amazônia Legal, enquanto
nos 25 anos anteriores 48,25%. O quadro
abaixo mostra a distribuição espacial dos
conflitos e o número de famílias envolvidas
nas diferentes regiões brasileiras entre 2009
e 2020:
Quadro 1: Ocorrências de conflitos pela terra de 2009 a 2020
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Cotejando as áreas em conflito em 2019
(53.313.244 ha) com as de 2020 (77.442.957
ha), há um acréscimo de 45,3%. O significativo aumento da área dos conflitos nesses
anos é visível no gráfico abaixo.
Quando se comparam os números relativos
às famílias envolvidas em conflito, verifica-se que 58,7% residem na Amazônia. Comparando, porém, o número de habitantes da
Amazônia Legal (29.313.40923), com os do
respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da CF e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações.”
22
Informações disponíveis no site do Incra site: http://www.incra.gov.br/titulacao, acesso em: 20 jun. 2020.
23
Ver População na Amazônia Legal ultrapassa 29 milhões de pessoas, estima IBGE. Disponível em: https://revistacenarium.com.br/populacao-na-amazonia-legal-ultrapassa-29-milhoes-de-pessoas-estima-ibge/, acesso em 13 abr. 2021/
119
Brasil (211.755.69224), a população da região representa só 13,89% da nacional. Esses dados mostram a gravidade dos conflitos na Amazônia.
Gráfico 2: Violência por Terra - 2009-2020:
Áreas em conflito (ha)
O número de famílias envolvidas em 2019
(143.238) foi 28,09% superior ao de 2018
(111.827). Em 2020, o número de famílias
envolvidas em conflitos fundiários no Brasil
(171.625) foi 19,8% maior que o ano anterior. Nunca, antes, os números tinham sido
tão altos. Tudo isso num momento em que o
Brasil e o mundo vivem uma crise sanitária
aguda.
Gráfico 4: Violência por Terra – 2009-2020.
Nº de ocorrências
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Considerando as informações e análises feitas acima, escolhemos avaliar mais de perto
os dados relativos a algumas das diferentes
modalidades de conflito a partir de 2009.
Serão verificadas as informações relativas
ao número de famílias envolvidas, famílias
vítimas de ameaças de despejo judicial; desmatamento ilegal, grilagem e Impedimento
de acesso às áreas de uso coletivo.
Gráfico 3: Violência por Terra – 2009-2020.
Famílias envolvidas
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Quando se olham as informações por estados e regiões, destacam-se a Região Norte,
com 41,8% das famílias, e o Pará (16,8%),
Estado que, sozinho, detém o maior número de famílias que as regiões Centro-oeste
(11,9%), Sudeste (7,2%) e Sul (4,7%), que
concentram um número muito maior de habitantes.
Gráfico 5: Violência por Terra – 2009-2020.
Ameaças de expulsão, ameaça de despejo
judicial e despejo judicial.
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
24
Ver: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/panorama acesso em: 13 abr. 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Quando comparados os despejos judiciais,
as ameaças de expulsão e de despejo judicial, verifica-se que, em muitos casos, os
três eventos acontecem nos mesmos conflitos. Nessa série histórica, a Região Nordeste,
seguida da Região Norte, apresenta o maior
número de ocorrências nas ameaças de expulsão, situação que se inverte nas ameaças
de despejo judicial em que figuram 32,3%
das famílias. Ao comparar as informações
do Brasil com as relativas à Amazônia Legal, essa região detém 46,1% das ameaças
de despejo. Esse tipo de violência está entre
as poucas que apresentam uma diminuição
entre 2019 e 2020. Possivelmente, as decisões do STF determinando a suspensão
das reintegrações de posse surtiram efeito.
A análise da atuação do Poder Judiciário
na defesa da “propriedade privada”, ainda
quando a mesma não cumpre sua função
social, iniciada em 2019, pelo Marés25, merece um acompanhamento constante.
17.561 são na Região Norte, 68,7% do total
nacional, com o Pará que detém 11.958 famílias, isto é, 46,8%, número maior que todas as demais regiões brasileiras. A Amazônia Legal merece uma atenção especial, pois
concentra 23.312 famílias, 90,9% do total
a partir de 2019, quando a CPT passou a
registrar esse tipo de violência.
Gráfico 7: Violência por Terra – 2009-2020.
Ocorrências/Famílias/Violências contra a
ocupação e posse (grilagem)
Gráfico 6: Violência por Terra – 2009-2020.
Famílias vítimas de desmatamento ilegal
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
07/04/2021
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
07/04/2021
Mais preocupante ainda, é o número de famílias vítimas do “Desmatamento ilegal”:
só em 2020, foram 25.559 famílias, dessas,
25
No caso de vítimas de “grilagem”, com
141.651 famílias, a Região Norte permanece
como a mais atingida: 73.224 (51,7%). Entre os estados, a Bahia, com 29.789 famílias
(21,0%), Maranhão, com 27.737 (19,6%),
Amazonas, com 26.443 (18,7%), e Pará,
com 23.575 (16,6%) ganham um destaque
especial. No caso da Bahia, há anos, a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia26 denuncia as diferentes formas de apropriação indevida de
terras públicas, fato que levou o Conselho
Nacional de Justiça a afastar alguns magistrados, inclusive integrantes do Tribunal
estadual. A Amazônia detém 70,2% do nú-
Marés no “Caderno” publicado em 2020 escrevia: “O Poder Judiciário é a permanente aposta do latifúndio proprietário
para manter a estrutura fundiária e ser cada vez mais a garantia da terra mercadoria”.
26
ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DE TRABALHADORES RURAIS NO ESTADO DA BAHIA (AATR). No Rastro da Grilagem.
Formas Jurídicas da Grilagem Contemporânea. Salvador: AATR. 2017. Disponível em https://e9461469-6107-4456-89431a39e47f2832.filesusr.com/ugd/4cebf9_a5463053f66144cb8891e285e1fc384a.pdf acesso em: 13 abr. 2021.
121
mero de famílias.
Gráfico 8: Violência por Terra 2009-2020.
Impedimento de acesso a áreas de uso coletivo
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
07/04/2021
Uma categoria criada em 2020 pela CPT,
para acompanhar mais de perto a tentativa
de desestruturar as formas de vivência dos
povos e comunidades tradicionais, é a que
investiga as famílias impedidas de ter acesso a áreas de uso coletivo. No Brasil, foram
contabilizadas 477 famílias que sofreram
essa forma de violência, com destaque para
Região Nordeste, com 312 famílias (65,4%),
e ao Estado de Pernambuco, com 161 famílias (33,8%). Acredita-se que, nos anos vindouros, esse item, infelizmente, terá índices
maiores quando essa realidade for pesquisada mais profundamente.
Quem são as principais vítimas e agressores da violência no campo?
Vimos como, a partir de 2009, os povos e
comunidades tradicionais passaram a ser o
principal alvo da violência, o que permaneceu nos anos posteriores, conforme os números sistematizados. As cinco categorias
que mais foram vítimas de agressões entre
2009 e 2020 foram: sem-terra, com 2.804
ocorrências (24,85% do total); posseiro,
2.470 (21,89%); indígenas, 2.010 (17,82%);
quilombolas, 1.470 (13,03%); e assentados,
861 (7,6%). Quando, porém, analisamos
os números dos últimos dois anos, podemos verificar que as duas categorias com o
maior número de ocorrências são os indígenas e os quilombolas, que aumentaram,
respectivamente, 2,67 vezes e 1,93 vezes. As
populações tradicionais locais merecem um
debate à parte. Os camponeses de fundo e
fecho de pasto, por exemplo, que representam 30% dos conflitos na Bahia, e os seringueiros 45,5% do total do Acre. Finalmente,
quando considerados os diferentes segmentos das populações tradicionais, somam-se
4.652 ocorrências, representando 41,23%.
Quando analisados os responsáveis pela
violência, em primeiro lugar, temos os “fazendeiros”, com 3.934 (34,87%), seguidos
de “empresários nacionais e internacionais”,
com 2.428 (21,52%), e “Poder Público”, com
1.562 (13,75%). Nessa última categoria, inserem-se o governo federal, com 1.115 ocorrências, os governos estaduais, com 316, e
municipais, com 131. Comparando os dados de 2019 com 2020, o governo federal
destaca-se, passando de 103 para 519, um
aumento de cinco vezes.
Considerações finais
Nesse contexto, não teremos paz sem a garantia do reconhecimento e respeito aos direitos territoriais dos povos e comunidades
tradicionais, objetivo que deve nortear a
ação do poder público e da sociedade, priorizando o debate acerca do respeito à vida,
aos direitos humanos de acesso aos bens
fundamentais como terra, água, florestas
e demais bens ambientais. A saída para a
efetiva “paz no campo” só será alcançada
quando o Poder Público alterar de maneira significativa a política fundiária: em lugar de priorizar a regularização fundiária
como única forma de garantir a segurança
jurídica, inserir no debate o Ordenamento
Territorial, que é o instrumento que permite conhecer a realidade fundiária e planejar
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
a destinação das terras, respondendo à seguinte questão: “Quem tem direito a ter direito à terra e ao território?” (Dr. José Heder
Benatti, UFPA, 2021).
A Constituição Federal de 1988 e as leis infraconstitucionais precisam ser respeitadas
na destinação das terras públicas, identificando quem deve ser priorizado na ação do
Poder Público. As normas constitucionais,
as decisões do STF (de maneira especial a
decisão na ADI nº 4.269) determinam que,
quando há sobreposição de interesses entre
atores sociais diferentes, as terras deveriam
ser regularizadas prioritariamente em favor
dos povos indígenas, comunidades quilombolas, demais comunidades tradicionais e
em favor da criação de espaços protegidos.
Nos últimos anos houve, no Brasil, o agravamento da miséria e da fome. Somente
priorizando a produção de alimentos e não
de commodities primárias destinadas à exportação, o país poderá efetivamente democratizar o campo, alcançar a paz e a inclusão social. Para tanto, é urgente abandonar
qualquer forma de regularização fundiária
que possa favorecer a expansão da fronteira agrícola, a busca de ganhos patrimoniais
rápidos, a grilagem de terras pública, a concentração da riqueza e o aumento da exclusão social.
4cebf9_a5463053f66144cb8891e285e1fc384a.
pdf acesso em: 13 abril. 2021.
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Nota Técnica Amazônia em Chamas nº6. Desmatamento e fogo nas terras indígenas da Amazônia. Brasília: IPAM, 2021, PDF, 11p.
Os fatos analisados ao longo deste artigo
nos fazem refletir: parece que os grilos estão
se transformando numa “nuvem de gafanhotos” que destroem a sociobiodiversidade, ou seja, a vida.
MALERBA, Julianna e TRECCANI, Girolamo Domenico. Mais proprietários e menos assentados.
Disponível em https://fase.org.br/wp-content/
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Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 3 - Violência Contra a Ocupação e a
Posse (2020)
UF
Ocorrências*
Famílias
Famílias
Expulsas
Área
Famílias
Ameaçadas
Despejadas de Despejo
Tentativa
ou
Ameaça
de
Expulsão
Casas
Destruídas
Bens
Roças
Destruídas Destruídos
Pistolagem
Invasão
405
420
Centro-Oeste
DF
3
58
GO
21
2200
275063
50
105
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7
MS
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TO
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28
Subtotal
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Sudeste
130
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30
Sul
1PR
* RS
SC
25
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Subtotal
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77
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171968
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1906
15718
15659
Brasil
469
70
1991
2712
4425
323
845
8937
81225
*1O número de ocorrências e famílias envolvidas refere-se à soma de Ocupações/Retomadas, Acampamentos e Ocorrências
de Conflitos por Terra.
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
Fogo como arma contra
povos e comunidades
Diana Aguiar1
Ginno Pérez2
Valéria Pereira Santos3
Nos últimos dois anos, o elemento fogo emergiu na cena pública como artifício central de
uma guerra contra os bens comuns e seus
guardiões. O antiambientalismo reacionário
do atual governo se explicita na fala do ministro do Meio Ambiente pró-agronegócio,
1
Pesquisadora de Pós-Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ) e assessora da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
2
Geógrafo cholo, pesquisador militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM e doutorando do Programa em Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF.
3
Mestre em Demandas Populares e Dinâmicas Regionais (PPGDIRE/UFT) e articuladora das CPT’s do Cerrado.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Ricardo Salles, nos bastidores (revelados
a posteriori) sobre aproveitar a pandemia
para “passar a boiada”4 sem que ninguém
perceba, enquanto o presidente da República responsabiliza publicamente “o caboclo e
o índio” pelos incêndios florestais, inclusive
no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas5. Cabe resgatar, ainda, uma fala de Jair Bolsonaro no primeiro
trimestre de seu governo em um jantar com
conservadores americanos quando afirmou
sem pudor: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas
para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa.
Para depois nós começarmos a fazer.”6 Esse
é o desenho do projeto em curso.
Esse projeto de destruição bolsonarista
conta com muitos soldados nos fronts da
guerra: as fronteiras da expansão agrícola e
mineral. E o fogo como instrumento de controle territorial e de terror tem sido constantemente adotado pelos asseclas do presidente, como as investigações em torno do
infame “Dia do Fogo”, em agosto de 2019,
na Amazônia7, e da origem orquestrada de
grande parte dos incêndios do Pantanal em
2020 demonstram8. Não se trata de uma estratégia totalmente nova, pois as relações
históricas entre desmatamento e grilagem9
são conhecidas e analisadas, mas ganharam tração institucional com a aceleração
dos processos de legalização da grilagem a
partir do pós-golpe de 201610. E, especialmente a partir da campanha presidencial
de 2018, a percepção generalizada de impunidade em relação a crimes ambientais e a
violência contra povos e comunidades deu
munição ao crime organizado dos grileiros-desmatadores, garimpeiros e madeireiros.
Os invasores de terras públicas, muitas
das quais tradicionalmente ocupadas por
povos indígenas e comunidades quilombolas e tradicionais, não hesitam em realizar
ataques com fogo para apropriar-se dessas
terras e saquear seus bens naturais. Os
povos e comunidades – herdeiros dos “empates amazônicos” de Chico Mendes junto
aos seringueiros e da defesa dos babaçuais
pelas Quebradeiras de Coco em toda transição Cerrado-Amazônia – frequentemente
defendem as matas nativas com seus próprios corpos. Nesse processo, veem o fogo
ser usado contra suas casas, roças, barracões comunitários e áreas de uso comum,
como forma de aterrorizá-los e expulsá-los
de seus territórios. Enfrentam ainda as narrativas falsas e preconceituosas que estigmatizam o uso do fogo nos sistemas tradicionais – um conhecimento desenvolvido e
adaptado ao longo de milênios aos diversos
ecossistemas11 – para confundi-lo com o fogo
capitalista12 – que é aplicado com outras intenções, em outras escalas e sem a menor
reverência a esse elemento da natureza.
Como reação a esse projeto de destruição
e terror, surgiu no segundo semestre de
2020 a Articulação Agro é Fogo, composta
por cerca de 30 movimentos, organizações
4
Portal de Notícias G1, maio de 2020. “Ministro do Meio Ambiente defende passar ‘a boiada’ e ‘mudar’ regras enquanto atenção da mídia está voltada para a COVID-19”.
5
Articulação Agro é Fogo, novembro de 2020. “Agro é fogo: queimadas são crimes do agronegócio”.
6
Portal de Notícias Valor, março de 2019. “Nós temos é que desconstruir muita coisa”, diz Bolsonaro durante jantar.
7
Folha de São Paulo, outubro de 2019. “Fazendeiros e empresários organizaram Dia do Fogo, apontam investigações”.
8
MPF Mato Grosso do Sul. Relatório aponta que quase 60% dos focos de incêndios no Pantanal em 2020 têm probabilidade
de ligação com atividades agropastoris. Repórter Brasil, setembro de 2020. “Fogo no Pantanal mato-grossense começou em
fazendas de pecuaristas que fornecem para gigantes do agronegócio”.
9
Diana Aguiar e Maurício Torres. “A boiada está passando: desmatar para grilar”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
10
Joice Bonfim e Larissa Packer. “Presidência e Parlamento a serviço dos grileiros: legislar para grilar”. Dossiê Agro é Fogo,
2021.
11
Angela May Steward, Antonio Veríssimo da Conceição et al. “Saberes que vêm de longe: usos tradicionais do fogo no Cerrado e Amazônia”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
12
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais – WRM, julho de 2018. “Desafiando o fogo capitalista”.
127
e pastorais sociais13 que atuam há décadas
na defesa da Amazônia, Cerrado e Pantanal
e de seus povos. Mobilizadas pela necessidade de qualificar o debate público e trazer
para o centro a realidade vivida no chão da
floresta e dos sertões, a Articulação lançou
em abril de 2021 o Dossiê “Agro é Fogo: Grilagem, Desmatamento e Incêndios na Amazônia, Cerrado e Pantanal”14. A publicação
reúne análises e relatos de conflitos territoriais no rastro do fogo.
Como parte desse esforço político-analítico,
nos debruçamos sobre a base de conflitos no
campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
e encontramos evidências de que o uso do
fogo como arma contra povos e comunidades na Amazônia, Cerrado e Pantanal se
acelerou nos últimos anos, em razão do ambiente político-institucional em que o país
se encontra. Contaremos essa história a realizar um percurso que segue os caminhos
da expansão da fronteira agrícola a partir do
Cerrado, na qual a ocupação predatória pelo
agronegócio já devastou mais da metade da
cobertura nativa. Do coração das fronteiras
mais antigas do Cerrado de Goiás, iremos
às fronteiras relativamente mais recentes
do chamado Matopiba, região formada pelo
Cerrado dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde a savana foi mais
desmatada nos últimos 20 anos do que nos
cinco séculos anteriores15. Ainda, a partir
das fronteiras mais antigas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, percorreremos os
caminhos de transbordamento da devastação rumo ao Pantanal, primeiro a partir das
águas que inundam a planície – cada vez
mais baixas em razão do desmatamento nas
chapadas do Cerrado onde nascem – e de13
pois, a partir da própria expansão da fronteira agrícola do Cerrado rumo à maior área
continental alagada do planeta, o Pantanal,
que tem a savana (cerrado) como formação
ecossistêmica dominante16. Além disso, faremos o percurso pelo chamado “Arco do Desmatamento”, como se convencionou chamar
a faixa da borda leste e sul da Amazônia, região na qual historicamente a devastação da
floresta se concentrou e que é justamente a
área de transição Cerrado-Amazônia, espaço em que a fronteira agrícola se expande
da savana para a floresta17. Não por acaso,
essa é também a região com o maior índice
de conflitos no campo brasileiro18. Por fim,
veremos como essa devastação avança cada
vez mais rumo às áreas nucleares da floresta por meio das rodovias construídas na Ditadura Militar.
Deixemos, então, que essa história e os relatos concretos do uso do fogo como arma
contra povos e comunidades nos permitam perceber como o destino da defesa da
Amazônia, Cerrado e Pantanal e seus povos
estão entrelaçados em uma teia sociometabólica de vida, r-existência e oposição ao
desmatamento, grilagem e fogo capitalistas.
Cerrado ameaçado: uma devastação que
acompanha a expansão da fronteira agrícola
O Cerrado vive um processo histórico de
mais de quatro décadas de intenso desmatamento que já devastou mais da metade
da savana brasileira e pode implicar em
sua extinção no curso de poucos anos, caso
nada seja feito para conter essa situação,
que teve como marco fundamental a expansão da Revolução Verde ou a chamada
“Quem somos”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
Acesse: agroefogo.org.br
15
“Carta Pública: Em defesa de direitos territoriais das comunidades do Cerrado, os povos do campo merecem ser escutados!”
16
Carlos Walter Porto-Gonçalves. “Dos Cerrados e de suas riquezas: de saberes vernaculares e de conhecimento científico”.
Rio de Janeiro e Goiânia: FASE e CPT, 2019, p. 29.
17
Aguiar e Torres, 2021.
18
Análise a partir dos dados de conflitos no campo documentados pela CPT. Ver: Porto-Gonçalves, 2019, p. 29.
14
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
modernização conservadora da agricultura,
que ocorreu no campo brasileiro durante
a Ditadura Militar. Foi esse o momento de
surgimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do estabelecimento do Programa de Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer) com a cooperação
japonesa, que confluíram no processo de
adaptação da soja para cultivo no Cerrado e
no seu desdobramento – a expulsão (ou até
extermínio) de povos indígenas e comunidades tradicionais e camponesas para dar lugar à expansão da fronteira agrícola. Como
parte desse legado, entre 2003 e 2018, de
um total de 7.353 localidades onde ocorreram conflitos por terra no campo brasileiro,
40,5% estavam nos Cerrados e suas zonas
de transição19. Se o uso do fogo como arma
contra os povos e comunidades sempre foi
uma estratégia do agronegócio para a expansão da fronteira agrícola na região, nos
últimos cinco anos, é possível perceber uma
intensificação desses processos.
Começamos nosso percurso justamente por
uma das áreas de fronteira mais antiga do
Cerrado contínuo, em Goiás. Ali, onde foi
implantado um dos primeiros projetos do
Prodecer, encontra-se o Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros, localizado entre os
municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma e São
João d’Aliança, na parte norte do estado. O
Parque, segundo os bombeiros e brigadistas
do ICMBio20, teve aproximadamente 16 mil
hectares incendiados em 2020, equivalente
a 6,6% da sua área. As comunidades de Cavalcante e Colinas do Sul foram isoladas por
conta da expansão do fogo que impossibilitou seu deslocamento para outras regiões.
É provável que os incêndios estejam vinculados a processos de queimadas fomentadas por fazendeiros e produtores rurais da
região próxima ao Parque.
Seguimos nosso percurso rumo à fronteira agrícola do Matopiba, onde houve mais
desmatamento nos últimos 20 anos (12,23
milhões de hectares entre 2000 e 2019) do
que nos 500 anos anteriores (10,75 milhões
de hectares até o ano 2000), de acordo com
dados do Prodes Cerrado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre
os municípios campeões de crescimento
de desmatamento no Cerrado predominam
justamente os de fronteira agrícola da soja
no Matopiba, alguns dos quais receberam
projetos do Prodecer nas fases II (como Formosa do Rio Preto e Barreiras, ambos na
Bahia) e III (como Balsas no Maranhão) do
programa, já nos anos 1980 e 1990.
Incremento de desmatamento acumulado no Cerrado – por município
Fonte: Terra Brasilis/Prodes/Inpe, 2021.
A correlação disso com o uso do fogo como
arma é explícita na realidade vivida pelo povo
indígena Gamela do Piauí. A Terra Indígena
Gamela - Barra do Correntim tem sido especialmente afetada. Em 2017 e, mais uma
vez em 2020, várias casas foram incendiadas sem que os responsáveis fossem identificados, ainda que os indígenas apontem
ameaças constantes por parte dos grileiros
da região. Em 2021, mais uma vez, eles sofreram com a destruição de cercas, retirada de bens e, ainda, incêndio a um galpão
de família, destinado à construção de mo-
19 Porto-Gonçalves, 2019.
Diário da Manhã, outubro de 2020. “Queimada na Chapada dos Veadeiros avança e atinge quatro casas em Cavalcante”.
20
129
radia para um dos filhos, além de ameaças
de morte. A TI é um dos territórios do povo
Gamela no Estado, que tem uma população estimada em 228 famílias distribuídas
nas comunidades Vão do Vico, município
de Santa Filomena; Morro D’água e Prata,
em Baixa Grande do Ribeiro; Barra do Correntim, Assentamento Rio Preto e Tamboril/
Território do Corrente dos Matões, em Bom
Jesus; Pirajá e Laranjeiras, em Currais. Todas as comunidades estão localizadas ao
sul do estado, no Cerrado piauiense, região
palco de diversos conflitos com o agronegócio, que invade e grila as terras, consolidando a fronteira agrícola do Matopiba.
Os Gamela estão retomando seus territórios, lutam pelo reconhecimento oficial de
sua identidade e demarcação do território, o
qual encontra-se com o processo qualificado pela Fundação Nacional do Índio (Funai)
desde 202021. James Gamela, de Barra do
Correntim, relata:
Não é a primeira vez que esse tipo de violência acontece. Eu mesmo já tive minha
casa destruída com fogo. Eles falsificam os
documentos e nos deixam sem nada, inclusive sem renda, porque nós vivemos da
nossa roça, do milho, feijão, mandioca e
outras coisinhas que a gente produz com
muita peleja.22
A situação do Cerrado piauiense tem paralelos com fortes conflitos por terra provocados pelo agronegócio contra comunidades na Zona dos Cocais maranhense, área
de transição Cerrado-Amazônia-Caatinga.
Ali encontramos a Fazenda São Raimundo,
um grande território camponês de cinco mil
hectares, que faz parte do espólio de Zeca
Tomé, ocupado há mais de 15 anos por 200
famílias que reivindicam a desapropriação.
O território é formado pelas comunidades
21
22
23
24
Santa Maria, Jaqueira, Cavalo Morto, São
Carlos, São Lourenço, Poço do Boi e São
Tomé, no município de Timbiras. De 2017
a 2019, as famílias sofreram uma sequência
de ataques de pistoleiros ligados ao grupo
empresarial Maratá, que alega propriedade
da área. Nos sucessivos ataques, ocorreu
invasão do território por homens armados.
Em 2019, as famílias foram intimidadas,
ameaçadas de morte, suas roças foram destruídas com trator e tiveram 36 moradias,
paiol com 100 sacas de arroz e casas de farinhas incendiadas por pistoleiros. Durante
o ataque dos pistoleiros, o Sr. Gino, membro
da comunidade que presenciou o ocorrido,
passou mal e foi hospitalizado, mas faleceu
logo depois em decorrência da pressão psicológica resultante da violência.23
Rumo ao Cerrado tocantinense, o uso do
fogo como arma também é uma prática histórica que tem se acirrado. Nos dois últimos
anos (2019 e 2020), as 100 famílias camponesas (entre camponeses posseiros, sem-terra e camponeses tradicionais) da Gleba
Tauá, no município de Barra do Ouro, têm
sofrido os impactos de incêndios de grandes proporções, que queimaram uma casa
de farinha, roças de mandioca e áreas de
Cerrado preservadas. A Gleba Tauá é um
território centenário com mais de 17 mil
hectares de terras da União, localizado à
margem direita do Rio Tocantins24. Nos últimos 35 anos, os camponeses da Tauá vêm
sofrendo diversas violações de seus direitos
territoriais: primeiro, o Grupo Executivo das
Terras do Araguaia-Tocantins (Getat), que
arrecadou essas áreas da União em 1984,
ignorou as famílias camponesas no processo de titulação; e, em 1992, a família Binotto entrou em cena com um esquema de
grilagem. A partir de então, os camponeses
passaram a sofrer pressão para abandonar
a terra, com sucessivas ameaças de mor-
Boletim da Nova Cartografia Social da Amazônia, janeiro de 2021. “Indígenas Gamela vítimas de violência no Piauí”.
Cimi, agosto de 2020. “Casas de indígenas Gamela são incendiadas no Piauí”.
Agência Tambor, outubro de 2019. “Maranhão: camponeses relatam que pistoleiros incendiaram 36 residências”.
Valéria Pereira Santos et al. “Gleba Tauá: luta pela terra no Cerrado tocantinense”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
te, intimidações, destruição ambiental e de
benfeitorias. Dentre as ocorrências no período de 1992 a 2020, está o desmatamento
para expansão das lavouras de soja, milho
e pastagens, incêndios florestais, grilagem,
assassinatos de animais, queima de casas,
destruição de roças com fogo e maquinário,
contaminação das águas dos córregos com
agrotóxicos, ameaças de morte, intimidação
e despejo25. A terra grilada segue sendo arrendada pelo grileiro a produtores do Sul
e Sudeste do Brasil, que exploram a área
pertencente às famílias camponesas com a
produção devastadora de soja, milho e gado.
Em outra região do Tocantins, no sudeste
do estado, nos municípios de Santa Tereza,
Lagoa do Tocantins e Novo Acordo, a Comunidade Quilombola Barra da Aroeira luta
pela titulação do território que ocupa desde aproximadamente 1870, enquanto sofre
com as invasões e ameaças frequentes de
grileiros e políticos importantes da região e
do estado. Em 2019, foi o território quilombola mais desmatado do país. No mesmo
ano, um galpão comunitário foi incendiado
sem que nunca encontrassem os responsáveis. O Relatório Técnico de Identificação e
Delimitação (RTID), concluído e publicado
em 2011, identifica um território de aproximadamente 62 mil hectares, dos quais, atualmente, a comunidade segue com a posse
de um núcleo – em que a maioria das 120
famílias reside – e de algumas localidades
isoladas dentro do território, todas são áreas
de intensos conflitos com os invasores, que
têm cerca de 280 registros de imóveis rurais
sobre a área. Em razão disso, o processo de
regularização foi e segue sendo contestado
por um grupo de grandes fazendeiros e está
engavetado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), de Brasília. O intenso desmatamento por parte dos
invasores não somente tem encurralado a
25
comunidade em uma área restrita do próprio território, como tem causado fortes impactos nas áreas sobre as quais ainda têm
a posse26.
Do Matopiba, retornamos às fronteiras mais
antigas do Cerrado em Goiás, mais precisamente ao município de Jaupaci, onde famílias rurais sem-terra no Acampamento
Garça Branca foram vítimas do incêndio de
vários barracos no ano de 2019. De acordo
com informações relatadas à CPT Regional
Goiás, o fogo estaria vinculado a uma estratégia de pistoleiros com vínculos com fazendeiros da região para ameaçar e expulsar as
famílias. Mesmo com essas denúncias, o Incra não fez a devida vistoria para conhecer
a situação do acampamento e das famílias.
O acampamento foi estabelecido após um
despejo, em 2017, da Fazenda Rui Carrilho
da Costa. O Sindicato dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar (Sintraf) aponta que a
área tem problema de documentação e pendências com a União e que por isso pode ser
objeto de reforma agrária27.
Cruzando a divisa de Goiás com Mato Grosso, chegamos à região de Rondonópolis,
onde se encontra a TI Tadarimana, na qual
vivem 175 famílias do povo Bororo em 10
mil hectares de território homologado em
1991. Nessa região de Cerrado, já dentro da
Amazônia Legal, os incêndios entre os meses de julho e agosto de 2020 resultaram
na destruição de 7 mil ha do território, segundo informou o cacique Bosco Arquimedes. Ele não soube dizer se o incêndio, que
demorou cinco dias para ser debelado por
bombeiros com o auxílio dos indígenas, foi
acidental ou criminoso. A partir daqui, tomando a BR-364 (Brasília-Porto Velho), um
dos eixos históricos do Arco do Desmatamento da Amazônia, vamos nos aproximando do Pantanal.
Cese, 13/07/2020. Websérie (R)Existências no Cerrado: Comunidade Tauá – Tocantins.
Paulo Rogério Gonçalves. “A luta da comunidade quilombola Barra da Aroeira na defesa do seu território”. Dossiê Agro é
Fogo, 2021.
27
Portal de Notícias Oeste Goiano, junho de 2017. Sem terras invadem fazenda nas proximidades de Jaupaci.
26
131
A partir do Cerrado, alastra-se a devastação rumo ao Pantanal
O desmatamento no Cerrado não afeta somente seu próprio território. Como a vegetação cerradeira permite a infiltração profunda da água da chuva, o bioma é o berço das
águas que alimenta importantes aquíferos
(como o Guarani e o sistema Urucuia-Bambuí) e bacias hidrográficas (Paraguai, Paraná, São Francisco, Doce, Jequitinhonha,
Parnaíba, Itapecuru, Tocantins, Araguaia,
Tapajós, Xingu, além de vários afluentes
do Rio Madeira). O desmatamento acelerado nas chapadas da região tem provocado
a morte ou baixas históricas de muitos rios
que banham as demais regiões brasileiras e
partes da América do Sul.
É assim que chegamos à Chapada dos Parecis, onde nasce o Rio Paraguai. Em 2019,
quando houve um aumento de 88% em focos
de incêndio nas Terras Indígenas do Brasil,
a TI Pareci teve 1.934 focos. A TI, homologada em 1991, está localizada em Tangará
da Serra (MT) e tem 564 mil hectares. Em
2020, o número subiu para assustadores
2.164 focos de incêndio28.
É justamente o Rio Paraguai que alimenta a
maior extensão de terras continentais alagadas do planeta: o Pantanal. Se a planície
pantaneira já vinha sofrendo os impactos
do desmatamento nas chapadas do Cerrado
na baixa das águas que inundam a planície,
nos últimos dois anos, a devastação foi de
grandes proporções: foram mais de 10 mil
focos em 2019 e, em 2020, o recorde histórico de 22 mil focos.
Focos de fogo no Pantanal
28
Fonte: Inpe, 2021.
O mês de setembro de 2020 teve quatro
vezes mais focos do que a média histórica
para o mês. Ao longo do ano, cerca de 30%
do Pantanal foi queimado29. Os municípios
mais atingidos foram Corumbá (MS) (mais
de 8 mil focos), Poconé (MT) (5,5 mil focos)
e Cáceres (MT) (2,7 mil focos), áreas de expansão da fronteira agrícola.
Foi assim que, entre as diversas lutas em
defesa de seu território, os indígenas Bororo enfrentaram em 2020 incêndios criminosos que afetaram de forma drástica a vida
da população, conforme relata Estevinho:
“As queimadas haviam começado primeiro
fora do Pantanal, na área de Cerrado da TI
Tadarimana, que fica no município vizinho
de Rondonópolis, região de plantações de
soja, algodão e milho.” Os incêndios relatados pela liderança alcançaram 46 focos de
calor que consumiram 75% da TI Perigara
e 86 focos que atingiram 12% da TI Tereza
Cristina, 3,3 mil ha. Em relação à TI Tereza
Cristina, Estevinho completa:
A terra é cortada pelo Rio São Lourenço; a
margem esquerda do rio pegou fogo, cercou duas aldeias, queimou uma ponte.
Depois, o fogo avançou em direção à al-
Repórter Brasil, novembro de 2020. “Abandonadas pela Funai, 60% das terras indígenas são devastadas por mais de 100
mil focos de incêndio”.
29
BBC News Brasil, novembro de 2020. “Incêndios no Pantanal: por que o fogo ainda ameaça o ecossistema mesmo após a
chegada das chuvas”.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
deia Córrego Grande, que foi a mais impactada. [O fogo] Veio com tudo, cercou
até mesmo as residências. Apesar de não
ter pego fogo nas casas, nosso líder precisou ir para Rondonópolis porque inalou
muita fumaça.
Além do ancião, outras 100 pessoas tiveram
que evacuar a aldeia General Carneiro, tendo em vista a qualidade irrespirável do ar
por conta da fumaça.30 A TI Perigara, localizada no município de Barão do Melgaço,
é habitada por 35 famílias, possui 10.740
hectares e foi homologada em 1991. A TI
Tereza Cristina fica no município de Santo
Antônio do Leverger, com 34 mil hectares
– declarada e em revisão desde 2005 –, e
é ocupada por 127 famílias. Atualmente, a
população Bororo está estimada em 1.392
pessoas distribuídas nas TIs Meruri, Sangradouro, Bacia do Rio Araguaia, Jarudori,
Tadarimana, Tereza Cristina, Perigara e Bacia do Rio Lourenço. Dessas oito áreas, os
Bororos detêm apenas seis terras demarcadas no Mato Grosso, num território descontínuo e descaracterizado, que corresponde a
uma área 300 vezes menor do que o território tradicional.
Ainda na região do Pantanal mato-grossense, outro território indígena foi devastado
pelos incêndios em 2020. Dos 19 mil hectares da TI Baía dos Guató, 16.704 foram queimados ao longo do ano, praticamente 88%.
Localizada nos municípios de Barão do Melgaço e Poconé, a TI foi homologada em abril
de 2018, mas a homologação foi suspensa
em dezembro do mesmo ano, atendendo a
uma ação movida por produtores da região,
que alegam direito sobre as terras. Os Guató são um dos povos mais antigos do Pantanal, tendo ocupado praticamente toda a
região Sudoeste do Estado do Mato Grosso,
inclusive áreas hoje pertencentes ao Mato
Grosso do Sul e à Bolívia. Sofreram diversas
30
31
32
violências a partir da invasão bandeirante
no século XVIII e com a entrada do gado no
Pantanal nos séculos XIX e XX, chegando
a ser considerados extintos nos anos 1950.
A pajé Dona Sandra dos Santos (Guató) lamentou a devastação em 2020: “As pessoas
bebem água do rio cheio de agrotóxico e ficam com diarreia, vomitação, dor de barriga. […] Espia como está a nossa natureza,
a nossa saúde. As árvores não têm nem pra
onde correr!” E concluiu: “O fogo devastou
também dentro de mim!”31
Descendo rumo ao Pantanal do Mato Grosso
do Sul, chegamos à APA Baía Negra, localizada no município de Ladário. Em abril de
2020, esta APA registrou um incêndio que
se espalhou por vários quilômetros de estrada e chegou próximo à casa das famílias
vizinhas à APA. Muita vegetação nativa e
pequenas plantações foram destruídas pelo
fogo, porém não se tem informação confirmada da origem do incêndio.
Na vizinha Corumbá, três famílias ribeirinhas das Comunidades Paraguai Mirim e
Barra do São Lourenço tiveram que ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros e cerca
de 25 famílias ficaram dias convivendo com
as águas barrentas e cheias de cinzas, em
decorrência da maior seca dos últimos 60
anos e das cinzas deslocadas por um fenômeno climático que levou os resquícios das
queimadas do Pantanal diretamente para
as comunidades32. Os incêndios de setembro de 2020 atingiram a região do Amolar,
passando pelas margens do Rio Paraguai,
entre a serra e a comunidade da Barra do
São Lourenço, chegando a atingir também
o Parque Nacional do Pantanal e o corredor que liga a Serra do Amolar ao Parque
Encontro das Águas, considerado o maior
refúgio de onças-pintadas do mundo. Dias
depois, a Polícia Federal concluiu inquérito
que indiciou pelo menos quatro fazendeiros
Portal de Notícias ElPais, setembro de 2020. “Incêndios já tomam quase metade das terras indígenas no Pantanal”.
Aloir Pacini. “Território Guató em chamas: ‘As árvores não têm pra onde correr!’” Dossiê Agro é Fogo, 2021.
Ecoa, outubro de 2020. “Água para a Comunidade da Barra do São Lourenço, Pantanal”.
133
pelo início das queimadas na região da Serra
do Amolar, provocados a fim de criar novas
áreas de pastagens33. As duas comunidades estão localizadas na região de transição
Cerrado-Pantanal sul-mato-grossense. Em
2012, receberam um Termo de Autorização
de Uso Sustentável (Taus) – documento que
confere a permanência das comunidades
tradicionais em áreas da União ocupadas
há centenas de anos. A comunidade Barra
de São Lourenço tem área de 12.241 m²,
está à beira do rio Paraguai e foi declarada
de interesse público por parte da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em 2016.
Em 2018, a comunidade foi deslocada mais
de uma vez e atualmente luta para que sua
área seja demarcada como Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS).
Rumo a Porto Murtinho (MS), ainda na transição entre Pantanal e Cerrado, chegamos
à TI Kadiwéu. Em 2019, a TI já havia sido
uma das mais afetadas do país e, em 2020,
viveu uma situação ainda mais crítica: foram 5.311 focos de incêndio34 que queimaram mais de 211 mil hectares, o equivalente
a 39,15% do território. Na TI, vivem dois mil
indígenas Kadiwéu, mas também indígenas
dos povos Kinikinau, Terena e Chamacoco.
O território de 539.000 hectares foi demarcado em 1981, mas uma parte importante
ficou de fora em razão dos intensos conflitos, com a invasão de posseiros e grileiros,
na casa dos milhares, desde os anos 1950,
aumentando nos anos 1980, inclusive com
incentivo do próprio Serviço de Proteção
ao Índio (SPI). Em meados dos anos 2000,
mais de 100.000 mil hectares da TI estavam
invadidos e, mesmo depois das retomadas e
das lutas de recuperação por parte dos indígenas, pelo menos cerca de 80.000 hectares
permanecem nesta situação. Ou seja, a luta
contra madeireiros, arrendatários e fazendeiros segue viva e, segundo os Kadiwéu,
33
34
35
36
os invasores têm usado diversas táticas de
ocupação, como, por exemplo, a expansão
da pecuária com derrubada de mato e, sobretudo, as queimadas. Gilberto Kadiwéu
relata que a comunidade está estarrecida
com o quanto já queimou: “São extensões
de mato inteiras, plantas, raízes e árvores,
nossa medicina, muita fonte de cultura de
nosso povo vai junto com esta natureza,
sem pensar nos bichos que acho que muitos
nem existem mais.”35
Ainda mais ao sul, na transição Cerrado-Mata Atlântica e próximo à divisa com o
Paraná, encontramos a terra do povo Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva, a TI Jaguapiré, no município sul-mato-grossense
de Tacuru. No mês de março de 2020, a
casa de reza da Aldeia Jaguapiré e elementos centenários da cultura Guarani Kaiowá
foram destruídas por um incêndio36. De
acordo, com relatos obtidos pelo Conselho
Indigenista Missionário (Cimi), seriam duas
pessoas que estariam envolvidas na queima desta casa. Os indígenas denunciaram
e solicitaram às autoridades que o caso seja
investigado. Suspeita-se que o fogo esteja
vinculado a fazendeiros produtores de soja
na região como estratégia de ameaça e expulsão do povo indígena de suas terras. De
acordo com o portal que noticiou o incidente, essa casa de reza seria a segunda destruída em 2020 no estado.
O fogo como arma no “Arco do Desmatamento” da transição Cerrado-Amazônia
De Tacuru retornamos ao Mato Grosso pela
BR-163, um dos eixos centrais da devastação que sobe do Cerrado rumo à floresta amazônica. O “Arco do Desmatamento”
é como se convencionou chamar a região
composta por cerca de 250 municípios,
onde historicamente se concentrou a devas-
Portal UOL, 29 de setembro de 2020. “PF já tem provas para indiciar fazendeiros do MS por queimadas no Pantanal”.
Repórter Brasil, novembro de 2020.
Matias Benno Rempel. “Território Kadiwéu e as queimadas”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
Portal Campo Grande News, março de 2020. “Indígenas denunciam segundo incêndio em casa de reza em 2020”.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
tação da floresta. O arco vai do oeste do Maranhão e Tocantins, sul e sudoeste do Pará,
passando pelo norte do Mato Grosso, norte
de Rondônia e leste do Acre, uma faixa localizada justamente ao longo da área de transição Cerrado-Amazônia, onde a fronteira
agrícola pressiona por expansão a partir da
savana brasileira. E como desmatamento e
grilagem caminham juntos, a transição Cerrado-Amazônia é também a região de maior
intensidade de conflitos no campo no país37.
Sigamos, então, essa faixa do Maranhão
ao Acre para conhecer como o fogo é usado como arma em conflitos por terra nessa que é a região de mais intenso desmatamento e conflito dos últimos 40 anos no
país. Dentro da região da Amazônia Legal
no Maranhão, encontramos a TI Governador e a TI Araribóia, nas quais as principais
ameaças à vida do povo Gavião e Guajajara advêm de ataques e roubo de madeiras
por parte de madeireiros e fazendeiros, que
usam estratégias de intimidação, incêndios
criminosos e assassinatos para barrar o
processo de demarcação das terras e expulsá-los da região. Os territórios Gavião, com
41.912,64 hectares, e Guajajara, com 413
mil hectares, localizadas no município de
Amarante e região, área de transição Cerrado-Amazônia, tiveram suas áreas demarcadas e homologadas nas décadas de 1980
e 1990. Juntos, os territórios abrigam mais
de 6 mil pessoas. A série de conflitos, intensificados a partir da década 1980, tem
como pivô central a rica biodiversidade e a
abertura do processo de revisão da demarcação para ampliação do território Gavião.
Entre 2019 e 2020, a área sofreu desmatamento de mais de 24.698 hectares e incêndios recorrentes entre agosto e novembro38.
Para manter a resistência, os indígenas se
organizam em diversas associações, grupo
de Guardiões da Floresta e em brigadas de
37
38
39
40
combate a incêndios para enfrentar os ataques do consórcio de madeireiros e carvoarias e a pressão do monocultivo de eucalipto
que se aproxima do território.
Em direção à região do Bico do Papagaio no
Tocantins na tríplice divisa com Maranhão
e Pará, encontramos o Acampamento Padre
Josimo. Nessa que é uma região histórica
de conflitos e luta pela terra na transição
Cerrado-Amazônia, por dois anos seguidos,
no período de estiagem dos anos de 2016
e 2017, 50 casas de 80 famílias sem terra
acampadas foram incendiadas como forma de pressão para expulsá-las da área. A
ocupação está localizada no Assentamento
Cupim, criado na década de 1990, no município de Carrasco Bonito (TO). A área ocupada pelas famílias sem terra é objeto de
disputa por fazendeiros e políticos da região
que tentam se apropriar da terra e expulsar os camponeses. O incêndio criminoso
provocou graves prejuízos às famílias, como
a destruição de todos os utensílios domésticos, móveis, roupas e produção de arroz,
abóbora, farinha, feijão, fava etc.39
Mais a sudoeste do Tocantins, encontramos
aquela que é a segunda maior planície alagada do planeta, o Araguaia, que, assim como
o Pantanal, tem o cerrado (savana) como formação ecossistêmica dominante40. No Araguaia, está a maior ilha fluvial do mundo, a
Ilha do Bananal, que abrange os municípios
de Pium, Caseara, Formoso do Araguaia,
Lagoa da Confusão, Marianópolis e abriga
os territórios de diversas comunidades indígenas que têm sofrido com fortes incêndios
nos últimos dois anos, inclusive em áreas
onde vivem povos isolados. A TI Parque Indígena do Araguaia, homologada em 2001,
tem 1.359.000 hectares, onde vivem 3.500
indígenas Avá-Canoeiro, Iny Karajá, Javaé,
Tapirapé e isolados. Em 2019, sofreu graves
Porto-Gonçalves, 2019.
Instituto Socioambiental – ISA. Terra Indígena Araribóia.
Comissão Pastoral da Terra, agosto de 2017. “Incêndio criminoso em acampamento sem-terra no Tocantins”.
Porto-Gonçalves, 2019.
135
impactos das queimadas, ficando entre os
dez territórios indígenas mais afetados na
Amazônia Legal naquele ano41. Em 2020, a
TI teve 8.792 focos de incêndio. “Este ano
está sem controle. Está muito difícil respirar
e não sabemos mais de onde vem o fogo e
nem como surgiu”, afirmou Eliana Karajá,
coordenadora da Associação Indígena Vale
do Araguaia. A intensidade das chamas e
sua proximidade das casas obrigaram alguns indígenas a abandonar as aldeias42. De
acordo com o Cimi, a origem do fogo pode
ser a limpeza de pasto em fazendas próximas43. Na vizinha TI Iñawébohona, com 377
mil hectares, homologada em 2006, um incêndio de grandes proporções, também em
2020, na região da Mata do Mamão, onde
vivem indígenas isolados, causou forte preocupação, como relata Kamutaya Avá da
Silva, em fevereiro de 2021:
Eu pertenço ao povo Avá-Canoeiro e venho em nome do meu povo falar da nossa preocupação [...] hoje nós não sabemos
como está a situação dos nossos parentes
da mata do mamão, porque eles estão em
situação de vulnerabilidade, situação de
refúgio e isolamento.
Na ilha, encontra-se também a TI Utaria
Wyhyna/Irodu Irana, declarada em 2010,
com 117 mil hectares e aguardando titulação, onde vivem 116 indígenas Karajá e
Javaé. O povo Avá-Canoeiro luta ainda pela
demarcação do seu território tradicional
Taego Ãwa, que está declarado desde maio
de 201644.
No curso do “Arco do Desmatamento”, chegamos ao Araguaia mato-grossense, mais
especificamente à TI Marãiwatsédé, dos indígenas Xavante, localizada nos municípios
de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia
41
e São Félix do Araguaia. Vivendo intensos
conflitos desde a década de 1960, quando processos de grilagem e desmatamento
avançaram sobre a TI com a conivência de
órgãos públicos como o SPI e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam), os Xavante têm sofrido uma série
de invasões por parte de posseiros e grileiros, fomentada diretamente por políticos e
fazendeiros da região. Entre os anos 2009
e 2012, foram atacados com fogo sobre o
ônibus de transportes das crianças para a
escola, assim como sobre suas terras, em
um intento de degradá-las e de criar medo.
Os não indígenas foram retirados das terras
Xavante em 2012 e alguns deles são investigados por suposta organização criminosa,
invasão e grilagem, e por gerar os focos de
incêndio. Mesmo com a contenção desses
processos, em 2019, a TI Marãiwatsédé ocupou o quinto lugar em número de queimadas e está na quarta posição entre as terras indígenas mais desmatadas, segundo o
INPE.
A devastação avança rumo ao coração da
floresta a partir de suas bordas
Após um esforço sustentado de contenção
das taxas de desmatamento na Amazônia
Legal que gerou quedas expressivas a partir
de 2005, o quadro tem mudado nos últimos
anos, atingindo recordes em 2019 (10.129
km2) e 2020 (11.088 km2) em relação a
toda década anterior.
O “Dia do Fogo” em 2019, no eixo da BR163 e Transamazônica, é a expressão mais
dramática dos processos que fazem de Pará
e Mato Grosso os estados campeões no
desmatamento acumulado na região, com
34,46% e 32,34% respectivamente. O histórico “Arco do Desmatamento” na borda
Instituto Socioambiental, agosto de 2019. “ISA mostra Terras Indígenas mais afetadas por incêndios na Amazônia brasileira”.
42
Repórter Brasil, novembro de 2020.
43
Documento do Conselho Indigenista Missionário, setembro de 2020.
44
Eliane Franco Martins. “Fogo ameaça povo indígena isolado na Ilha do Bananal”. Dossiê Agro é fogo, 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
sul e leste da Amazônia, que acompanha a
expansão da fronteira agrícola45, tem entrado rumo ao coração da floresta no eixo das
estradas, por meio das ações de desmatadores e grileiros, que se aproveitam da impunidade. Outras atividades criminosas que
provocam a degradação da floresta, como o
saqueio madeireiro – implementado, inclusive, com trabalho escravo46 – e o garimpo,
sobretudo em terras indígenas e unidades
de conservação, também têm se expandido
nesse contexto.
Desmatamento anual na Amazônia Legal
Fonte: Terra Brasilis/Prodes/Inpe, 2021.
A Fazenda Araúna/Gleba Nhandu, localizada no município de Novo Mundo, região da
BR-163, no estado de Mato Grosso, é uma
propriedade de 14.675 hectares de área da
União que figura no espólio da família do
grileiro Marcelo Bassan. Em 2009, essa propriedade foi ocupada por cerca de 50 famílias sem terra, que criaram o Acampamento Nova Esperança. Elas foram despejadas
no mesmo ano por pistoleiros armados, os
45
quais, por ordem do grileiro, queimaram as
barracas e bens dos acampados. No ano de
2013, a área foi retomada pela segunda vez
por 80 famílias acompanhadas pela CPT. No
ano seguinte, em um intento de despejo, as
casas dos acampados foram queimadas por
policiais militares que agiram sob as ordens
do grileiro. Em 2015, ocorreu outro despejo
de 100 famílias através de liminar expedida pela Justiça Estadual, em favor de Bassan47. Meses depois, as famílias retomaram
a ocupação e em seguida foram obrigadas a
desocupar a área sob as ameaças de pistoleiros, que na ocasião incendiaram 80 casas,
derrubaram cercas, destruíram plantações
e assassinaram animais de pequeno porte48. As famílias despejadas permaneceram
acampadas na beira da estrada, de 2016 a
2020, e continuaram sofrendo ameaças e
ataques dos pistoleiros49.
Rumo a Rondônia, encontramos a TI Uru-Eu-Wau-Wau, que abriga cinco povos indígenas – Jupaú (Uru-eu-wau-wau), Amondawa, Cabixi, Oro Towati (Oro win) – e três
povos em isolamento voluntário e é palco
de intensos conflitos há várias décadas. A
TI foi demarcada e homologada em 1991,
com 1.867.118 hectares e está cercada por
12 municípios da região oeste do estado
de Rondônia, no Alto Jamari. No entorno
do território, são predominantes fazendas
agropecuárias e madeireiras, acusadas pelos indígenas há mais de 30 anos de invasões de suas terras e tentativa de dizimação
do povo na década de 1980. Trata-se de um
território muito cobiçado por suas riquezas.
Ao longo das últimas décadas, este território
tem sido invadido por grileiros em repetidas
ocasiões, gerando confrontos diretos com o
povo. Entre os anos de 2008 e 2019, o ter-
Aguiar e Torres, 2021.
Carolina Motoki e Ginno Perez. “Trabalho escravo, expropriação e degradação ambiental: uma conexão visceral”. Dossiê
Agro é fogo, 2021.
47
Documento Comissão Pastoral da Terra – MT: “Despejo de 100 famílias em novo mundo revela a face violenta do judiciário
em Mato Grosso” (09/01/2015).
48
Documento Comissão Pastoral da Terra – MT: “Gleba Nhandu-Fazenda Araúna” (08/10/2015).
49
Documento Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Mato Grosso: “Comissão Nacional de Combate a
Violência no Campo discute situação de conflitos agrários em MT” (18/03/2016).
46
137
ritório teve 153 mil hectares desmatados. E
no ano de 2020 foram denunciados incêndios florestais usados pelos grileiros após o
desmatamento50.
Ainda em Rondônia, a TI Karipuna, localizada entre os municípios de Nova Mamoré
e Porto Velho, é território do povo Karipuna, alvo de invasões por parte de grileiros
e madeireiros ilegais desde 201651, com incursões e ataques diretos nas aldeias. Em
repetidas ocasiões, o fogo tem sido usado
para queimar postos de vigilância da Funai
e como forma de ameaça ao povo Karipuna.
Diversas organizações, como o Cimi, denunciam as violências e apoiam os Karipuna,
até hoje ameaçados pelo avanço dos madeireiros e grileiros, que queimam e destroem
a TI.
50
Comentários finais
Chegamos ao fim desse percurso que buscou sistematizar o uso do fogo como arma
contra povos e comunidades, deixando um
rastro de destruição e terror na expansão da
fronteira agrícola sobre Cerrado, Pantanal e
Amazônia. São relatos do front de uma guerra turbinada nos últimos anos pelo projeto
de destruição bolsonarista e seus soldados
invasores de terras públicas – muitas tradicionalmente ocupadas. Certamente, muito
mais conflitos como esses aconteceram nesse período, mas não foram sequer relatados
e seguem invisibilizados, longe dos olhos da
sociedade brasileira, na fronteira. Esperamos que essa sistematização presente em
“Conflitos no Campo Brasil” – esse verdadeiro anuário da memória da luta pela terra no
Brasil – nos permita ajudar a não esquecer,
a lançar luz sobre fatos e a lutar por justiça
e para que o uso do fogo capitalista como
arma contra os povos e comunidades seja
banido de suas terras e territórios.
Repórter Brasil, novembro de 2020. “Abandonadas pela Funai, 60% das terras indígenas são devastadas por mais de 100
mil focos de incêndio”.
51
Repam, fevereiro de 2016. “Cimi denuncia invasão de terras indígenas em Nova Mamoré”.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 4 - Conflitos por Terra (2020)
Conflitos por Terra*
UF
Ocupações/Retomadas Acampamentos
Ocorrências Famílias Ocorrências Famílias
Total UF
Ocorrências Famílias Ocorrências Famílias
Centro-Oeste
DF
3
58
GO
19
2150
3
58
2
50
21
2200
MS
96
16321
96
16321
MT
166
13029
3
130
169
13029
Subtotal
284
31558
5
180
289
31608
Nordeste
AL
18
1694
1
50
19
1694
BA
127
9585
2
84
129
9585
CE
17
4294
17
4294
MA
203
20864
203
20864
PB
14
6978
PE
74
3546
PI
18
439
3
829
RN
SE
Subtotal
4
271
478
48500
14
6978
75
3566
1
20
18
439
1
80
4
909
4
271
5
234
483
48600
Norte
AC
59
4469
AM
66
12252
1
125
59
4469
67
12252
AP
55
2998
1
12
56
2998
PA
245
28608
3
62
248
28608
RO
125
6846
8
600
RR
28
16806
TO
Subtotal
55
4202
633
76181
12
674
9
1497
1
70
31
2586
133
6846
1
80
29
16806
55
4202
2
205
647
76181
Sudeste
ES
MG
10
1567
31
2586
RJ
20
1078
20
1078
SP
31
1419
3
137
34
1519
Subtotal
91
6580
4
207
95
6750
45
Sul
PR
36
2797
RS
30
3344
2
1
33
36
2797
33
3344
SC
24
2665
1
51
25
2688
Subtotal
90
8806
3
96
1
33
94
8829
1576
171625
29
1391
3
238
1608
171968
Brasil
1*Os dados da primeira coluna, denominada conflitos por terra, referem-se à soma das ocorrências em que as famílias foram despejadas, expulsas, ameaçadas de despejo ou expulsão, tiveram seus bens destruídos ou foram vítimas de invasões,
ações de pistolagem etc.
139
Regularização fundiária e
ambiental de mercado para um
cerceamento financeiro das terras e bens
comuns no sul global
Larissa Ambrosano Packer1
1. Desmatamento e grilagem como método histórico para o roubo de terras públicas e dos bens comuns: os dados de 2020
Em 2020, foram registradas 25.559 famílias que tiveram suas terras atingidas pelo
desmatamento ilegal e 19.489 famílias vítimas de grilagem de terras. A CPT considera
como grilagem qualquer ação que implique
a tomada ou venda da posse de terras pertencentes ao poder público, a terceiros particulares ou de terras devolutas por meio da
falsificação de documentos de propriedade,
assim como por meio de ações diretas como
desmatamento e incêndios, invasão, pistolagem, ameaças e expulsões, trabalhos forçados e análogos ao de escravo, dentre outros. Também foi registrado como grilagem o
uso fraudulento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e de outros dispositivos revestidos
com caráter de legalidade e que formalizam
a ilicitude, já que expedientes largamente
utilizados nos últimos anos no país2.
O início do registro de ambos os dados é relevante como leitura de realidade tendo em
vista a íntima conexão entre o desmatamento, o uso do fogo e a grilagem de terras, o
que chamamos de ciclo da grilagem para a
expansão da fronteira agrícola. Em regra, a
ocupação ilegal de terras e florestas públicas tem início com o corte raso das árvo-
res e a retirada da madeira mais valiosa por
madeireiras e, no período da seca, se ateia
fogo à cobertura vegetal excedente a fim de
ocultar o crime ambiental e “limpar a terra”,
tanto de vegetação quanto de gente, utilizando-se não só das queimadas, mas também de forças de segurança privadas ou públicas, como arma para expulsão dos povos
indígenas e comunidades locais, iniciando-se o ciclo da grilagem3. Com a chamada
“terra limpa”, agrega-se valor de mercado à
área, além de se comprovar os requisitos de
exploração direta e cultura efetiva para se
requerer a regularização fundiária da terra
pública como propriedade privada, conforme os termos da nova Lei da Grilagem (Lei
13.465/17, antiga MP 759/16, editada por
Michel Temer meses após o golpe institucional). Assim, desmatadores/grileiros vendem, ilegal ou legalmente (se regularizadas),
as terras públicas invadidas, em geral, para
fazendeiros e empresas ligadas à agropecuária, como também para fundos de pensão
e investimento e outros atores financeiros
especializados em ocultar dinheiro advindo
de atividades ilegais, em um esquema de lavagem de dinheiro. Com a terra “limpa” – de
vegetação e de gente –, primeiro há a introdução do gado, para o chamado “amansamento da terra”, para, anos mais tarde, se
iniciar a instalação de extensos monocultivos, principalmente de soja. Todo esse ciclo
1
É advogada popular socioambiental, mestre em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), membro
da equipe da Grain.
2
A CPT entende a grilagem como um processo histórico, cujos meios e estratégias se renovam com o tempo.
3
Para mais detalhes sobre a íntima conexão do uso do fogo com o ciclo do desmatamento e grilagem de terras públicas, ver:
https://agroefogo.org.br/
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
de violência e ilegalidade pode ser apagado
com processos renovados de regularização –
ambiental e fundiária – e a produção advinda dessas áreas passa a compor, inclusive,
cadeias globais sustentáveis.
O desmatamento em florestas públicas não
destinadas da Amazônia cresceu 50% nos
últimos dois anos em comparação aos cinco
anos anteriores: de 112,8 mil hectares (ha)
desmatados, na média de 2014 a 2018, a
área derrubada cresceu para 215,6 mil ha,
em 2019, e 226,5 mil ha, em 2020. A maioria desse desmatamento, 60%, aconteceu
em áreas inscritas ilegalmente como propriedade particular no Sistema Nacional de
Cadastro Ambiental Rural (Sicar), aponta o
Ipam.4
Espelhando os dados oficiais sobre o desmatamento acumulado entre agosto de
2019 e julho de 2020 reunidos pelo Prodes/
Inpe, que apontou o Pará como o estado
mais atingido, com 5.192 km² desmatados
(46% do total da Amazônia Legal5), os dados
de 2020 da CPT também indicam que 46,8%
do total das famílias impactadas por conflitos envolvendo o desmatamento ilegal no
país, ocorreram no Pará. A Região Norte, por
sua vez, concentrou 17.561 famílias vitimadas, ou 68,7% do total. O Maranhão, zona
de transição entre Amazônia e Cerrado, foi
o segundo estado com o maior número de
ocorrências envolvendo o desmatamento
ilegal com 17,7% do total, e o Mato Grosso
o quarto, com 6,8% das famílias vitimadas,
atrás apenas do estado de Rondônia com
13,1%. Dados que também confirmam os
registros do Prodes, de aumento em 13% do
desmatamento no bioma Cerrado, em relação a 2019, o que corresponde a quase cinco vezes a cidade de São Paulo com 7.340
km², sendo o Maranhão o estado com maior
área de vegetação nativa suprimida (1.836
km²), seguido por Tocantins (1.565 km²) e
Bahia (919,1 km²)6.
Pará e Maranhão também foram os estados
com o maior número de famílias impactadas pela grilagem de terras, representando
26,8% e 23,3%, respectivamente, do total.
Mais da metade dos casos de grilagem documentados estão na Região Norte, com
11.399 famílias, representando 58,5% dos
casos, seguida do Nordeste com quase 33%
dos casos. As duas regiões detêm historicamente as maiores porcentagens de violência
no campo, justamente nas mais recentes
zonas de expansão e investimento do agronegócio.
Desmatamento e grilagem de terras como
método de captura de estoques de terras
não são fenômenos novos, tampouco a legalização destas práticas. De tempos em tempos, invade-se mais, desmata-se mais e altera-se a lei para legalização dos crimes. Eis
o ciclo econômico e legal da regularização
do grande roubo de terras e recursos naturais em todo o mundo. Da colônia até os
dias de hoje, grileiros de plantão, indústria
madeireira, corporações do agronegócio e os
donos do dinheiro7, vêm modificando a data
limite e o tamanho das ocupações ilegais,
para salvar seus títulos antigos podres e legalizar o roubo de terras públicas e o desmatamento ilegal.
Mas esse é um ciclo de morte da humanidade e do planeta, e nos trouxe ao desastre
de 2020. O modo de uso e ocupação do solo
entre campo e cidade, a concentração de
terra e recursos naturais com a destruição
massiva de ecossistemas e a crescente homogeneização das paisagens têm sido apontadas como algumas das principais causas
https://ipam.org.br/desmatamento-em-areas-griladas-nas-florestas-publicas-da-amazonia-explode-em-dois-anos/
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates
6
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/cerrado/increments
7
Para ver alguns dos principais setores por detrás dos focos de incêndio e desmatamento na Amazônia, veja relatório de
Grain e Grupo Carta de Belém, Clima, terra e soberania: as narrativas climáticas sobre os territórios do sul global, 2019:
https://grain.org/e/6370
4
5
141
estruturais para a eclosão de epidemias e
sua acelerada dispersão em pandemias. O
novo desenho da malha fundiária brasileira
permitida pela Lei 13.465/17 e demais alterações da legislação que aqui serão mencionadas, prometem uma concentração da
terra rural sem precedentes, culminando
com mais “terra limpa” e uma crescente expulsão de milhares de pequenos agricultores, povos e comunidades tradicionais para
as periferias urbanas. Trata-se da produção
industrial do espaço rural e urbano que se
coloca como um caldeirão para futuras pandemias e crises sanitárias.
Ao tentar identificar as causas e os atores
por detrás da renovada pressão internacional de acumulação do capital em torno das
terras e recursos naturais do Sul global,
assim como as alterações estruturais nos
marcos legais de tutela dos bens comuns
que tentam empreender uma transferência
de bens essenciais à vida das presentes e
futuras gerações para o regime da propriedade privada, tentamos também apontar
lugares estratégicos e táticos para seu enfrentamento.
2. Uma nova captura da terra e recursos
naturais no Sul global se anuncia
Sob a égide do boom das commodities agrícolas e minerais, principalmente pós 2008,
os negócios com terras no mundo saltaram
de cerca de 4 milhões para 45 milhões de
ha/ano, de 2008 para 2009, sendo 3,6 milhões de ha dessas terras no Brasil e Argen-
tina (Banco Mundial, 20108). A essa corrida por apropriação internacional de terras
deu-se o nome de “landgrabbing”9. Relatório
da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2012
estimou que até 2050 haverá um avanço de
cerca de 70 milhões de ha da fronteira agrícola no mundo, mas com uma redução de
63 milhões de ha nos países desenvolvidos
e, portanto, com um aumento da destinação
de cerca de 132 milhões de h para os agronegócios nos países em desenvolvimento do
Sul global. Todas as terras consideradas
como as “últimas terras agricultáveis” para
o avanço da fronteira agrícola no mundo estão em países do Sul global, especialmente
na África subsaariana e América Latina10.
Embora a taxa de negócios internacionais
com terras tenha se estabilizado desde
2012, houve tendência de crescimento, com
de cerca de 50 milhões de ha, em 2019, e
de 66,5 milhões em março de 2021, segundo dados públicos dos relatórios financeiros
dos investidores (Land Matrix11). Há ao menos seis fatores relevantes que anunciam
uma nova corrida por terras e recursos naturais a nível global neste pós 2020, o que
pode implicar um aumento das formas de
grilagem de terras, dos índices de desmatamento e violência no campo, assim como
comprometer a segurança alimentar dos povos no Brasil e na América Latina. São eles:
I. Economia financeira, digital e investimentos sobre o não trabalho: a pandemia
de COVID-19, eclodida em 2020, dificultou
8
Banco Mundial. Rising global interest in farmland: Can it yield sustainable and equitable benefits? Washington D.C., 07 de
setembro de 2010.
9
Landgrabbing é geralmente definido como um processo de apropriação de grandes parcelas de terra (acima de 500 ha) pelo
capital estrangeiro e envolvidas na produção e exportação de alimentos e óleos vegetais. Com o tempo esta definição básica
evoluiu, podendo cobrir atores governamentais e nacionais (usualmente utilizados pelo capital estrangeiro), como também a
aquisição de terras para outras cadeias de valor como a da madeira e de minerais (resources grab), ou tão somente como ativo fundiário do capital fictício. Passa a considerar inclusive negócios de terras menores ou maiores, a depender dos impactos
sociais e ambientais. Além disso, vem sendo ampliado os tipos grab para água (water grab) e vegetação nativa (greengrab),
já que o acesso a água e biodiversidade vem direcionando os negócios com terras.
10
Segundo avaliação da FAO/2012, existem cerca de 1,4 bilhão de hectares de terras agricultáveis para expansão da
fronteira agrícola no mundo, sendo que 80% delas estariam na África Subsaariana e América Latina, em especial: Angola,
Moçambique, Tanzânia, Zâmbia, Congo, Sudão e Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia e Venezuela. http://www.fao.org/3/a-ap106e.pdf
11
Disponível em: https://landmatrix.org/observatory/global/
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
a circulação física de pessoas e mercadorias
e representou mais um fator para se ampliar
a movimentação financeira dos negócios e
dos valores através de plataformas e dinheiro digital. Se por um lado, há um excesso
de liquidez e empoçamento de dinheiro nos
bancos e no sistema financeiro (grande parte público, vindos de pacotes emergenciais),
com potencial para investimentos especulativos, assim como na crise pós-2008; de
outro, observa-se um aumento dos investimentos nas corporações de tecnologia,
captura e processamento de dados massivos, as Big techs ou Big data, responsáveis
pela infraestrutura digital necessária para
a virada tecnológica do modo de produção
da chamada indústria 4.0 e das transações
no ambiente digital. Não por outro motivo,
Apple, Amazon e Microsoft encabeçam o
ranking das maiores empresas do mundo,
únicas avaliadas em trilhões de dólares e
que duplicaram de valor nos últimos dois
anos, desbancando em muito as gigantes do
petróleo e gás12. Nesta dança entre sistema
financeiro e as Big Techs, se aprofunda a
tendência de concentração da economia em
sua etapa financeira, caracterizada por gerar valor sobre o não trabalho vivo, e tendo
como lastro as novas bases tecnológicas da
indústria 4.0 (com aplicação de inteligência
artificial e robotização na base produtiva,
inclusive na agricultura13), ou as próprias
bases naturais, como a terra, os serviços
ambientais e outros recursos naturais.
II. “Acordos Verdes” e “soluções baseadas na natureza”: fala-se que cerca de 37%
das metas fixadas para reduzir as emissões
no âmbito do Acordo de Paris poderiam ser
atingidas a partir de “soluções baseadas na
natureza”, ou seja, a partir da capacidade de
bases naturais como ecossistemas terres12
tres, marinhos e os solos capturar o carbono já emitido na atmosfera. Nessa “equação
da compensação”, países e empresas podem
manter ou até aumentar suas emissões,
desde que apoiem projetos de conservação e
reflorestamento compatíveis com suas metas, opção muito mais barata do que impor
limites aos seus negócios e lucros. Para se
ter uma ideia, Shell, Eni e Nestlé precisariam de 20 milhões de ha por ano para compensar suas emissões, o equivalente ao total
das florestas públicas estaduais no Brasil14.
Também as novas metas por energias renováveis como a solar, eólica, hidroelétrica, e
a partir de agrocombustíveis, advindos de
etanol de cana-de-açúcar, milho ou de oleaginosas, como a soja e a palma africana
(dendezeiro), implicam mais terras destinadas a abastecer a demanda energética atual e futura. Isso levando em conta a opção
política de se manter a escala e intensidade
do modo de produção e apenas substituir
uma fonte de energia – fóssil – por outra.
Por meio do chamado “colonialismo do carbono15”, esses “acordos verdes” podem promover a mera exportação dos danos socioambientais – e da responsabilidade por eles
–, para os países do Sul global, enquanto
retardam a adoção efetiva de medidas que
imponham limites ao crescimento econômico e à degradação do planeta. A União Europeia, por exemplo, pode facilmente cumprir
com sua meta do Green New Deal europeu
para 2030 de redução em 20% no uso de
fertilizantes e 50% de pesticidas, com a destinação de ¼ de suas terras para agricultura orgânica, ao aumentar suas importações
atuais de 1/5 dos grãos e 3/5 de sua carne
e leite. Desse modo, o “esverdeamento” da
economia europeia se dará com o aumento
da quantidade de terras e do uso de agrotóxicos nos principais países exportadores
https://www.value.today/
Controle Digital: a entrada das Big Techs na produção de alimentos e na agricultura (e o que isso significa). Disponível em:
https://grain.org/e/6604
14
Ver mais em “A maquiagem verde das corporações: emissões liquidas zero e soluções baseadas na natureza são uma fraude”. Disponível em: https://grain.org/e/6635
15
MORENO, Camila e outros. A métrica do Carbono: abstrações globais e epistemicídio ecológico. HBS Brasil.2015. Disponível em: https://br.boell.org/sites/default/files/carbonmetrics_livro_boll.pdf
13
143
dessas commodities, como nos EUA, Brasil
e Argentina. Com o aumento das cotas de
exportação e diminuição de tarifas de commodities agropecuárias, como gado, soja e
cana-de-açúcar, o acordo União Europeia-Mercosul pretende tornar economicamente
viável esta exportação de danos e metas16.
III. Novo boom de commodities agrícolas
e minerais: seja devido a movimentos especulativos sobre a cadeia de valor de commodities agrícolas e minerais (decorrente
do ponto 1), à recuperação de economias
relevantes como a chinesa, que deve crescer 6% em 2021, ou ainda, pelo aumento
da demanda por agrocombustíveis para o
cumprimento das “metas verdes” (ponto 2),
como também minerais para a nova base
tecnológica da indústria 4.0, é possível notar um significativo aumento no preço das
commodities agrícolas e minerais que, se
mantido, pode caracterizar um novo ciclo de
boom das commodities e o aprofundamento
dos graves impactos socioambientais da indústria extrativa. Enquanto a onça de ouro
e a tonelada do minério de ferro aumentaram sua cotação internacional nos últimos
2 anos em 45% e 122%; a soja alcançou, em
fevereiro de 2021, U$ 574 dólares a tonelada, aumento de 50%, o milho U$ 245 dólares com aumento de 47% e o óleo de palma
(ou dendezeiro) mais de U$ 1000 dólares a
tonelada, com aumento de 71% face a janeiro de 2019. Valores que ainda não chegam
aos de 2008 pós-crise, mas estão próximos
ao período de pico de 2011 a 2014, pouco
antes da queda do valor internacional das
commodities. Tendência que pode acirrar a
disputa por terras para instalação de mo-
noculturas de exportação e os conflitos com
povos indígenas e comunidades do campo.
Além disso, há tensões entre as próprias
cadeias de valor agroalimentar, mineral e
agroenergética, o que tende a gerar uma
pressão cada vez maior sobre o abastecimento interno e o preço dos alimentos. Fato
que recoloca o problema da fome e da insegurança alimentar como centrais para a
América Latina como um todo.
IV. Valorização direta da terra e regularização fundiária como propriedade privada por cadastros digitais: apesar de não
refletir diretamente os preços internacionais
das commodities – agrícolas, energéticas,
ambientais ou minerais –, o preço da terra é cada vez mais influenciado por essas
cadeias globais, principalmente as situadas
nas zonas de expansão e investimento do
agronegócio, mais atreladas ao mercado financeiro17. A composição do valor de mercado da terra depende de fatores locais como
qualidade do solo, topografia, presença de
água, infraestrutura, se “limpa” ou com vegetação nativa, mas também depende da definição de direitos de propriedade sobre ela
e sobre seus recursos naturais. Cadastros
digitais de terras para fundamentar uma regularização fundiária mais célere e barata,
por meio da destinação de terras públicas à
propriedade privada, vêm sendo promovidos
principalmente nessas zonas de expansão
da fronteira agrícola, como primeiro passo
para a inserção de um significativo estoque
de terras no mercado18. A contrapartida necessária para a entrada de investimentos de
condomínios de capital, como fundos de investimento e de pensão, principalmente in-
Para mais informações, “Acordo União Europeia-Mercosul intensificará a crise climática provocada pela agricultura”. Disponível em: https://grain.org/e/6358.
17
Em 1994, o valor médio da terra com lavoura no país era de cerca de R$ 1.188/ha. Em 2010, em pleno boom das commodities, o valor médio saltou para R$ 7.490, aumento de 430%. SAUER e LEITE. Expansão agrícola, preços e apropriação de
terra por estrangeiros no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Julho/setembro. 2012. Disponível: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032012000300007
18
Para mais informações, acesse: “Cercas Digitais: cercamento financeiro das terras na América Latina”. Disponível em https://grain.org/e/653. Ver também relatório da Fian sobre casos de cadastros digitais de terras como barreiras de acesso a
terra: https://www.fian.org/en/press-release/article/digital-technologies-cut-off-access-to-land-2699
16
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
ternacionais, em terras, recursos naturais e
na cadeia de valor do agronegócio, está justamente nessa transformação da terra e outros ativos fundiários em ativos financeiros
e garantia de dívida facilitada para os empréstimos. Embora não haja uma sistematização sobre a média nacional do preço da
terra, o Valor da Terra Nua (VTN) aumentou
em até 600% em alguns municípios frente
a 2019 no país, podendo variar de R$ 208
mil/ha em Joinville (SC) a 500 reais em municípios no Tocantins (Itapiratins e Itaporã)
ou na Bahia (Barra), a depender de sua aptidão agrícola, segundo planilha publicada
para Secretaria especial da Receita Federal,
com base na declaração de 2.903 municípios para cobrança do ITR19.
V. Recuperação das carteiras de investimento de longo prazo dos fundos de pensão: com a rentabilidade baixa/negativa da
taxa de juros, muitas carteiras de investimentos de longo prazo, como dos fundos de
pensão que administram as contribuições
para aposentarias, buscam fugir de investimentos especulativos de alto risco. A imobilização de capital em alternativas mais
seguras, com menor risco de desvalorização
a longo prazo, como os recursos naturais e
terras, passaram a ser alvo cada vez maior
dos investimentos, desde a crise de 2008.
Em 2004, eram sete os fundos com investimentos em terras no mundo, em 2010, esse
número saltou para 300 fundos com ativos
em recursos naturais. Atualmente, metade
dos investimentos globais em terras vem
dos fundos de pensão de trabalhadores20.
Apenas o fundo dos professores de Harvard
e o fundo TIAA (Teachers Insurance and
Annuity Association of America) possuem
juntos 750 mil hectares no Brasil, grande
parte, no Cerrado. A grande maioria dessas
instituições opera por meio de uma rede de
empresas com sede no Brasil a fim de burlar
os limites de acesso a terras por estrangeiros. Recentemente, órgãos públicos nacionais reconheceram o envolvimento dos fundos com processos de grilagem de terras21.
VI. Acesso a políticas de crédito e subsídios governamentais: o investimento em
terras permite o acesso a políticas de crédito
rural e subsídios governamentais agrícolas,
principalmente nos países voltados à exportação de commodities, como o Brasil. O
plano Safra 2020/2021 recebeu R$ 13,5 bilhões a mais que o ano anterior, em meio a
uma das maiores crises econômicas do país,
perfazendo um total de R$ 236 bilhões, 85%
para médios e grandes agricultores que
produzem para exportação. Também permite acesso a recursos da cooperação internacional para regularização fundiária
e ambiental, facilitando a captura da terra pública a preços subsidiados. O Banco
Mundial emprestou U$ 45 milhões com recursos destinados às mudanças climáticas
(Climate Change Mitigation Trust Fund22),
como também o Programa de investimen-
Em muitos casos, municípios declaram valores superfaturados a fim de ampliar a arrecadação do ITR, assim como também municípios governados por grandes proprietários rurais também podem subdimensionar o valor. Acesso em: https://
receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/auditoria-fiscal/pdf-planilha-final-para-publicacao2020.pdf
20
Preqin/UK e https://grain.org/e/6541
21
O Tribunal de Justiça da Bahia, em setembro de 2020, bloqueou o registro da fazenda Gleba Campo Largo da empresa
Caracol Ltda, uma das subsidiárias do Fundo de Harvard, com cerca de 110 mil hectares, por reconhecer a origem ilegal
do título e a cadeia de grilagem envolvendo a área. Também o Incra emitiu parecer técnico anulando as aquisições de 32
fazendas com cerca de 150 mil ha pertencentes a empresa Tellus/Radar (gerenciada pela Cosan com capital da TIAA), por
violar os limites de aquisição de terras por estrangeiros, além de reconhecer a cadeia dominial grilada das áreas. Para mais
informações ver em: https://grain.org/e/6589
22
Projeto Federal Pro Cerrado (P150892), de 2015-2018, inclusive com apoio para reformas legais e inscrição de 3,7 mil
pequenos agricultores e 280 médios e grandes proprietários rurais (U$ 4.3 milhões/ Climate Change Mitigation Trust Fund);
Projeto de Regularização Ambiental dos Imóveis no Cerrado (P143334), de 2015-2021, para inscrição e georreferenciamento
dos imóveis no CAR e integração no Sicar de 23 mil médios e grandes agricultores e 190 mil pequenos agricultores (U$ 32,4
milhões BIRD/ Strategic Climate Fund Credit para diversos Estados do Cerrado e no Matopiba); assim como projetos específicos com os Estados do Piauí (P143362) e Bahia (P143376), de 2014-2017 (U$ 4.4 milhões para cada Estado, Defra e Climate Change Mitigation Trust Fund. Disponível em:www.projects.worldbank.org/en/projects-operations/project-detail/
19
145
to florestal (FIP23) e o banco alemão KFW24,
que juntos somam empréstimos de cerca de
EU 66 milhões de euros, para a inscrição no
CAR individual como imóvel rural particular
– seja para pequenos, médios ou grandes requerentes. O financiamento para inscrição e
posterior transferência de estoque de terras
à iniciativa privada foi dirigido justamente
para imóveis localizados no Cerrado e nas
zonas de transição com Amazônia, regiões
de expansão da cadeia de valor do agronegócio no Brasil.
3. Principais mudanças legislativas para
facilitar mercado de terras e recursos naturais
Não por outro motivo, o Brasil vem realizando reformas em seus marcos legais a fim de
facilitar os investimentos, principalmente
estrangeiros, no mercado de terras e de recursos naturais. Enumeramos algumas das
principais modificações recentes que promovem verdadeira captura e transferência
da terra pública e coletiva e dos recursos naturais do regime jurídico dos bens comuns
destinados a todos e, portanto, pertencentes a ninguém – inapropriável e inalienável
– para o regime jurídico da propriedade imobiliária e mobiliaria, como ativo financeiro.
Dentre as modificações legais, destacamos
as normas-chave para a regularização fundiária, ambiental e os processos de financeirização da terra e dos recursos naturais:
23
Código Florestal (Lei 12.651/12) – perdão do desmatamento, financeirização e
“grilagem verde”: promoveu a regularização ambiental dos imóveis rurais por meio
do perdão do desmatamento ilegal realizado
até 22.07.2008 de cerca de 29 milhões de
ha, assim como permitiu o desmatamento
legal e a incorporação de mais 88 milhões
de ha de vegetação nativa para o aumento da fronteira agrícola25. Também permitiu
a compensação da Reserva legal em outro
imóvel no mesmo bioma, fora da microbacia, através da compra da Cota de Reserva
Ambiental (CRA) que representa 1 ha de vegetação nativa, negociada obrigatoriamente em bolsas de valores. Segundo a Bolsa
de Valores Verde do Rio de Janeiro, a CRA
pode valer, a depender da região e do “estoque” de vegetação nativa, entre R$ 50 e
R$ 3000 reais, podendo gerar mercado de
compensação de no mínimo R$ 9 bilhões26.
Além disso, a lei criou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público eletrônico
autodeclaratório e espécie de “certidão de
nascimento” do imóvel rural, requisito obrigatório para acesso a políticas públicas e
crédito rural para comprovar a conformidade ambiental. Embora tenha finalidade apenas ambiental, o CAR, por não exigir documento que comprove o domínio do imóvel
e se basear em informações prestadas pelo
próprio requerente, sem prazo para verificação pelo Estado, vem sendo amplamente
utilizado de forma fraudulenta como instrumento de grilagem, gerando inúmeras
Projeto de Regularização Ambiental de Imóveis Rurais no Bioma Cerrado – CAR FIP, no âmbito do MMA, mas coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro. O doador é o Programa de Investimento Florestal (FIP), que apresenta valor total de €
32.480.000,00 para alcançar 47 municípios. O SFB tinha um acordo com o GT CAR para PCTs para realizar um termo de
referência que contemplasse os territórios coletivos no edital. Ver Ofício Grupo Carta de Belém participa de audiência sobre
o CAR coletivo na Câmara – Grupo Carta de Belém (cartadebelem.org.br)
24
Projeto Regularização Ambiental de Imóveis Rurais na Amazônia em áreas de transição para o Cerrado – KFW CAR, financiado pelo Ministério alemão do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Construção e Segurança Nuclear – BMUB por meio
da Iniciativa Internacional do Clima – IKI, com recursos no valor de € 33.000.000,00.
25
Citar Nature
26
Decreto 9640/18 regulamentou a CRA, cuja emissão está a cargo do Serviço Florestal Brasileiro, hoje alocado no Ministério da Agricultura. A CRA pode servir para compensação da área de Reserva Legal desmatada, como também ser negociada
como qualquer ativo financeiro. A inserção do meio ambiente na lógica da lei de oferta e procura é indutora de desmatamento, já que os ativos ambientais se valorizam na medida da escassez da qualidade ambiental que representa. Quanto menor
a quantidade de vegetação nativa, maior o valor da CRA, portanto, quanto mais desmatamento e lucros para a chamada
“economia marrom”, maior o lucro da “economia verde” financeirizada. Para mais informações: PACKER, Larissa. Código
Florestal e Pagamento por Serviços Ambientais: regime proprietário sobre bens comuns. Juruá,Curitiba. 2015.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
sobreposições em áreas públicas e territórios coletivos. Essa prática resultou em, até
março de 2019, 30% de área a mais cadastrada do que o território brasileiro passível
de cadastramento, expondo o caos fundiário
do país e legitimando um mercado de terras
de títulos podres27.
CAR e disputa fundiária digital:
Ora se observa o cadastro sobre parte de
assentamentos, terras indígenas, Unidades
de Conservação, territórios coletivos, terras
devolutas, como Reserva Legal, para compensar áreas desmatadas de grandes fazendas, em um fenômeno de “grilagem verde”;
ora a inscrição no cadastro se dá para forçar
disputas por terras, despejos judiciais, ou
mesmo ser utilizado como base para o reconhecimento de invasões de terras públicas
nos processos facilitados de regularização
fundiária permitidos desde aprovação da Lei
13.465/1728.
Até março de 2019, apenas 6% do território
cadastrável, ou 34,5 milhões de ha, foram
declarados como terras indígenas, territórios quilombolas e territórios de povos e comunidades tradicionais no Sistema de Informações do CAR (Sicar), embora a Funai
registre que apenas de territórios indígenas
são 117 milhões de ha ou 13,7% do território nacional (Funai/202029). Por outro lado,
embora cruzamento das bases de dados oficiais do governo apontem para cerca de 43%
do território do país constituído por áreas
privadas30, foram declarados como imóvel
rural particular no CAR 78% do território
e no Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR), também autodeclaratório, 91% do
27
território nacional. Houve um aumento de
1/3 de 2016 a 2018 do território declarado como particular, desde a aprovação da
chamada “Lei da grilagem” (MP 759/16 – Lei
13.465/17)31.
“Grilagem legal” de terras públicas e inserção de assentamentos no mercado
de terras (MP 759/16 convertida na Lei
13.465/17): torna regra geral a regularização fundiária em favor de médios e grandes proprietários, invertendo toda a lógica
constitucional de destinação prioritária das
terras públicas para categorias fundiárias
mais protetivas social e ambientalmente,
como para os assentamentos de reforma
agrária (art. 188 da Constituição Federal CF), a proteção de ecossistemas (art. 225,
§5 da CF) e dos modos de vida associados
a sua preservação, como os territórios indígenas (art. 231 da CF), das comunidades
quilombolas (art. 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias - ADCT) e comunidades tradicionais (art. 215, art. 216
da CF e Decretos 5051/0432 – Convenção
169 e Decreto 6.040/07). A lei confere perdão ao crime de invasão de terras públicas
federais da Amazônia Legal ou de titularidade do Incra (mesmo fora da Amazônia) para
aquelas ocupações de até 2.500 ha ocorridas até 22.07.2008 – mesma data do perdão
ao desmatamento do Código Florestal. Segundo a exposição de motivos, isso abrange ao menos 40 milhões de ha da Amazônia Legal, área do tamanho da Alemanha.
A regularização pode ocorrer em favor de
pessoas físicas e jurídicas mediante pagamentos com descontos de até 90% sobre o
valor mínimo da terra nua (VTN) fixado pelo
INCRA, o que pode chegar a R$ 21 bilhões,
Regularização ambiental e fundiária tensionam pela massiva privatização das terras públicas e territórios coletivos no
Brasil. 2019. Disponível em: https://grain.org/e/6219
28
“De olho nos ruralistas e outros”.
29
Disponível em: http://funai.gov.br/index.php/indiosno-brasil/terras-indigenas. Acessado em 29 de abril de 2020.
30
Who owns Brazilian lands?”. Sparoveck et al. Land use police 87, 2010. Atlas da Agropecuária Brasileira (Imaflora/Geolab/Esalq). Disponível em: www.imaflora.org/atlasagropecuario.
31
Paulo Alentejano. “O mistério do crescimento exponencial das terras cadastradas no Incra e a MP 910: prenúncio de um
crime em andamento”, 2020. Disponível em: https://outraspala vras.net/outrasmidias/alerta-grilagem-de-terras-dispara-no-pais/.Acessado em 11 de setembro de 2020.
32
Revogado pelo Decreto 10.088, de 5 de novembro de 2019.
147
se computadas as terras públicas federais
apenas na Amazônia Legal (IMAZON33). Se
houver pagamento do VTN médio, a terra
regularizada – e valorizada – pode ser revendida após três anos (e não dez anos como
exige a lei), em verdadeiro estímulo institucional e financeiro do Estado em favor de
um mercado com terras públicas griladas,
não só ao regularizar, mas ao aumentar a
margem de lucro da grilagem de terras com
subsídios governamentais. O pagamento do
VTN máximo autoriza ainda a regularização
de invasões ainda mais recentes na Amazônia Legal, até dezembro de 2011, inclusive
por quem já é proprietário. A lei também
desestrutura a política nacional de reforma
agrária. De um lado, enfraquece as políticas
de infraestrutura, assistência técnica e crédito para os assentamentos ao retirar a responsabilidade do Incra no desenvolvimento
dos assentamentos criados há 15 anos. De
outro, fomenta o mercado de terras com a
antecipação da autorização de venda dos
lotes de até quatro módulos fiscais (que
pode chegar a 440 ha na Amazônia legal)
em assentamentos criados ou desmembrados até 22 de dezembro de 2014, já a partir
da emissão do título provisório e não mais
do título definitivo. Cerca de 80% do total
de assentamentos ou 37 milhões de ha encontram-se nesta situação34. A edição da referida MP foi um dos principais legados do
pós-golpe institucional contra a presidenta
Dilma Rousseff em 2016.
Procedimento facilitado de regularização
fundiária por normas infralegais: pavimentando a “grilagem legal”
O governo de Jair Bolsonaro, por meio do
Decreto 10.592/20, que regulamenta a Lei
11.952/09 alterada pela Lei 13.465/17 (MP
759/16 de Temer); da Portaria Conjunta nº
33
01/Seaf/Mapa/Incra, que cria o Programa Titula Brasil, e das IN nº 104/21 e nº
105/21, do Incra, tenta legitimar uma privatização massiva de terras públicas federais com subsídios estatais, de forma acelerada e barata, por meio:
da municipalização da regularização, a se
utilizar dos Núcleos Municipais de Regularização Fundiária (NMRF) que poderão
realizar atividades de geomensura, cadastramento, titulação, instrução processual,
dentre outras. Mais propensa às influências das forças econômicas e sem recursos
humanos ou orçamentários, na prática,
essa gestão municipal sinaliza para a desregulação das condicionantes para a regularização em favor de interesses privados;
de documentos comprobatórios autodeclaratórios, como o CAR e memorial descritivo georreferenciado (GPS), com anotação técnica de profissional contratado
pelo requerente, embora a IN nº 104/21
preveja a necessidade de sua habilitação
junto ao Incra (art.11, II). O decreto prevê
que a documentação deve ser “submetida”
ao Sigef, mas a IN silencia qualquer conformidade com o Sigef, embora esse também seja autodeclaratório. Nenhuma norma prevê assinatura dos confrontantes da
área requerida, conforme art.213, §5 e §6
da Lei 6.015/75 de registros públicos;
da flexibilização da verificação do cumprimento da função socioambiental da
ocupação da terra pública por qualquer
profissional habilitado, órgão ou entidade
dos entes da federação em razão de convênio. Embora o Decreto determine vistoria
presencial obrigatória para imóveis acima
de quatro módulos, a IN nº 104/21 exige
apenas a verificação das coordenadas do
Nota Técnica sobre os impactos das novas regras de regularização fundiária na Amazônia. Disponível em: https://imazon.
org.br/publicacoes/ nota-tecnica-sobre-o-impacto-das-novas-regras-de-regularizacao-fundiaria-na-amazonia/. Acesso em
23 out.2018
34
SAUER, Sergio e LEITE, Acácia Z. Medida Provisória 759: descaminhos da reforma agrária e legalização da grilagem de
terras no Brasil. Retratos de Assentamentos. V. 20n.1.2017.p. 25
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
imóvel, não prevendo como obrigatórias,
no memorial de vistoria, informações sobre a natureza da posse (mansa, pacífica),
presença de conflitos e sobreposições, critérios de cumprimento de cultura efetiva e
exploração direta, trabalho análogo ao de
escravo, dano ambiental. O que torna a verificação dos demais critérios ato discricionário do profissional contratado pelo requerente: “outros dados e informações que
o vistoriador considere relevantes” (art. 19,
§2 da IN 104/21);
da flexibilização dos critérios para a regularização ao admitir:
- como exploração direta aos contratos de
parceria (art. 4º,§1 do Decreto 10.592/20),
assim como a Lei 13.465/17 já admitia
contratos de integração no caso dos assentamentos, expandindo a possibilidade
de regularização em favor do agronegócio e
monocultivos de commodities;
- como cultura efetiva a renda obtida por
meio de serviços ambientais, brecha para
se admitir a regularização de extensas
áreas não utilizadas, funcionando como
estoque de terras a serviço do mercado especulativo imobiliário, como prestadoras
de serviço ambiental (art. 4, §2 do Decreto
10.592/20);
- regularização de área desmatada ilegalmente, se aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) ou Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) (art. 5, §3
do Decreto 10.592/20 e art. 21, §2 da IN
104/21);
da aprovação tácita da regularização
após 60 dias sem manifestação dos órgãos responsáveis pelas terras públicas de
interesse que compõem a Câmara Técnica
de regularização fundiária sob coordenação da Secretaria Especial de Assuntos
Fundiários. Caso não haja manifestação
de interesse do Serviço Florestal Brasileiro
pelas florestas públicas, essas podem ser
regularizadas (art. 3, §2 da IN nº 104/21),
em clara afronta à Lei 11.952/09 e ao art.
225, §1, III da CF;
da não verificação de sobreposições
com terras públicas com prioridade de
regularização, como territórios indígenas,
unidades de conservação e florestas públicas, ao deixar de prever a verificação das
informações com as bases de dados da Funai, ICMBio e de florestas públicas. A IN
n°104/21 só prevê necessidade de consulta a bases de dados do SNCR (não do Sigef), do Sicar, do Ibama, do Sipra (reforma
agrária), do SEI e do Sisprot (art. 16);
da análise de sobreposições no Incra por
filtros automáticos, sem definição dos
critérios para se considerar o que é uma
sobreposição, como a porcentagem da área
sobreposta, sobre territórios indígenas
e de povos e comunidades tradicionais,
conforme o estágio de demarcação (antes
e depois do Relatório Circunstanciado de
Identificação e Delimitação – RCID – e Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID –, por exemplo);
da prioridade das comunidades locais
em casos de sobreposição e conflito com
imóvel particular, embora acordo entre as
partes no âmbito do órgão possa resolver
o conflito, sem exigência da presença do
Ministério Público ou Defensoria (art. 7 do
Decreto 10.592/20);
da emissão de Certificado de reconhecimento de ocupação com o mero requerimento de regularização, sem tempo de
validade, se aprovado no Sigef e não houver sobreposição com áreas públicas não
passíveis de regularização do art. 4 da Lei
11.952/09 (art. 10 do Decreto 10.592/20).
Embora não sirva para comprovar posse,
assim como o CAR, poderá ser utilizado
149
para fortalecer processos de grilagem;
da não previsão da necessidade de anotação no cartório das condições resolutivas por 10 anos para verificação de seu
cumprimento quando do registro do Título
de Domínio (TD) ou da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU).
Terra e serviços ambientais como ativos financeiros e garantia de dívida do
agronegócio: a chamada Lei do Agro (Lei
13.986/20) transforma os títulos do agronegócio em ativo financeiro ou valor mobiliário ao assumir a forma escritural, ou seja,
vinculados à emissão de escritura por instituição custodiante autorizada pelo Banco
Central, em regra, bancos, corretoras de títulos e instituições financeiras autorizadas
a operar em mercados de bolsas de valores
e de balcão, inclusive securitizados por terceiros. Na forma cartular, o título de crédito
era constituído na própria cédula pelo emissor para averbação no registro de imóveis,
independentemente da gestão do mercado
financeiro. Além disso, títulos do agronegócio como a Cédula do produtor rural (CPR)
e a Cédula imobiliária rural (CIR) passam a
reservar novos “patrimônios rurais” como
garantia de dívida específica do agronegócio
(patrimônio de afetação). Assim, frações da
terra (não a hipoteca como um todo, mas
títulos de garantia sobre frações equivalentes ao empréstimo), a safra futura ou mesmo os serviços ambientais passam a ser
ativos em garantia de dívida. Desde 2012,
o Código Florestal autoriza um mercado
de serviços ambientais (art. 41 e §5 e §6),
mas agora foram regulamentados pela Lei
14.119/21. Também o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e de Direitos
Creditórios do Agronegócio (CDCA) passam
a poder ser emitidos em moeda estrangeira
em favor de investidor estrangeiro não residente. Por fim, a lei também realiza alteração fundamental para garantia de dívida
de investimentos estrangeiros: altera a lei
5.709/71 que limita o acesso a terras por
estrangeiros, ao autorizar a consolidação
da propriedade rural por estrangeiros, independentemente dos limites da lei, quando
for para execução de dívidas ou dação em
pagamento. Essa engenharia acaba por pavimentar o caminho para o financiamento
do crédito rural por agentes não bancários,
como os fundos de investimento privados ou
públicos, principalmente estrangeiros, e não
mais organizado apenas pelo Estado, tendo
como garantia e lastro a terra e os recursos
naturais. Não por outro motivo, foi sancionada a Lei 14.130/21, que institui os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas
Agroindustriais (Fiagro), como instrumentos de captação de recursos para o agronegócio no mercado financeiro, incentivando
especulação sobre ativos fundiários. Atores
alheios ao sistema agroalimentar passam a
ter condições de controlar os fatores de produção – terra e recursos de interesse – , o
ordenamento territorial do país e a cadeia
de valor do agronegócio35.
Apesar da pressão econômica, política e legal para que os recursos essenciais à vida
digna para a presente e futuras gerações
troquem de mãos, e diga-se, para poucas
mãos proprietárias, grande parte da vegetação nativa, da biodiversidade, da água, dentre outros, ainda estão sob a posse ancestral dos povos e comunidades tradicionais e
em espaços públicos pertencentes a toda a
sociedade. Portanto, cabe finalizar também
esse texto com as conclusões de outro:
(..) dar respostas adequadas aos desafios
impostos pela massiva privatização dos
bens comuns, da terra e dos recursos naturais passa necessariamente pelos modos de produção da vida e estratégias de
sobrevivência promovidas e implementadas pelos diversos povos, comunidades e
movimentos que formam a diversidade e
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/03/12/a-espera-de-sancao-pl-do-fiagro-escancara-as-porteiras-para-o-capital-estrangeiro
35
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
promovem a biodiversidade do campo brasileiro e, que, não por acaso, constituem o
público prioritário para a destinação das
terras públicas brasileiras. Seja pela dívida histórica, seja por determinação constitucional ou medida estrutural para conter
o aprofundamento da sobreposição de crises, principalmente ecológica e sanitária,
mais do que nunca se faz necessário um
levante popular nacional e solidariedade
internacional em defesa dos bens públicos
e comuns dos povos, pela destinação prioritária das terras brasileiras para a efetivação dos direitos territoriais dos povos do
36
campo. O remédio contra futuras pandemias está justamente na capacidade das
sociedades promoverem medidas estruturais de desconcentração e distribuição da
terra para quem nela quer trabalhar, na
proteção da biodiversidade, dos habitats e
dos modos de produção da vida associados. Isto começa com um simples passo: a
unidade da luta da classe trabalhadora e
dos povos contra os projetos de regularização fundiária de mercado36.
BONFIM, Joice e PACKER, Larissa. Presidência e Parlamento a serviço dos grileiros: legislar para grilar. Dossiê Agro
é Fogo. 2021. Disponível em: https://agroefogo.org.br/presidencia-e-parlamento-a-servico-dos-grileiros-legislar-para-grilar/
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
Violência contra os Povos Indígenas no
Brasil: aspectos atuais de um
genocídio em trâmite
Luiz Eloy Terena1
O cenário atual dos povos indígenas no Brasil está marcado pela submissão contínua
ao processo de violação de seus direitos
fundamentais. Quando se trata de povos e
comunidades indígenas, tais direitos estão
diretamente ligados à garantia de seus territórios e sua devida proteção. São muitos os
interesses políticos e econômicos que recaem sobre esses espaços vitais para a manu1
tenção da reprodução física e cultural das
comunidades indígenas.
Importa salientar que a Constituição Federal de 1988 outorgou uma proteção especial às terras indígenas. O regime jurídico
instituído reconheceu o direito originário
às terras tradicionalmente ocupadas e determinou a proteção integral por parte do
Advogado e pesquisador indígena. Coordenador jurídico e integrante do departamento jurídico da APIB e COIAB.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
poder executivo federal (afetação federal).
Ao mesmo tempo, garantiu o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e lagos
por parte dos povos indígenas sobre seus
territórios tradicionais (art. 231, § 2º, CF).
Por meio dessa opção, entendeu o Estado
brasileiro a essencialidade do território, elemento fundamental para a garantia da vida
dos povos indígenas.
No ano de 2020, entre os 18 assassinatos
registrados pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), no contexto dos conflitos no campo,
sete foram de indígenas, 39% das vítimas.
Entre as 35 pessoas que sofreram tentativas
de assassinato, ou homicídio tentado, 12 foram indígenas, 34% das vítimas. No que diz
respeito às ameaças de morte, entre as 159
pessoas ameaçadas, 25 são indígenas, 16%
das vítimas. Esses dados revelam que as lideranças indígenas estão à mercê de uma
violência engendrada a partir de uma postura governamental que incentiva as invasões e a exploração dos territórios.
Importa lembrar que estamos sob a gestão
do presidente Jair Bolsonaro, primeiro presidente eleito declaradamente contrário às
demarcações de terras indígenas. Desde o
primeiro dia de seu mandato, já no ato de
posse, apresentou ao Congresso Nacional a
Medida Provisória 8702, que retirava a atribuição de demarcação de terras indígenas
da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a
transferia para o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa), além de
retirar o órgão indigenista de Estado da tutela do Ministério da Justiça. Esse último
ato também foi viabilizado pelo Decreto n.
9.673/19, assim como a transferência da
atribuição de regularização fundiária das
terras indígenas foi viabilizada pelo Decreto
n. 9.667/19. A demarcação de terras indí2
genas é condição estruturante para a existência indígena enquanto tal.
A Medida Provisória 870 determinou que
seria competência do Mapa tratar sobre “reforma agrária, regularização fundiária de
áreas rurais, Amazônia Legal, terras indígenas e quilombolas”. Na estrutura do Estado
brasileiro, esse é o mesmo ministério que
tutela os interesses da indústria do agronegócio, os quais conflitam diretamente com
os direitos socioambientais e indígenas. À
sua frente, Jair Bolsonaro nomeou Tereza
Cristina Corrêa da Costa Dias, ex-chefe da
bancada ruralista do Congresso Nacional.
Na pasta específica responsável pela regularização fundiária, foi nomeado Luiz Antônio Nabhan Garcia, o ex-presidente da
União Democrática Ruralista (UDR), notório
combatente das políticas indigenistas, em
especial ligadas à demarcação dos territórios indígenas. O mesmo ato do presidente
transferiu a Funai para a tutela do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), chefiado por Damares Alves,
ministra com posição abertamente assimilacionista3. Na estrutura legal brasileira, os
ministros de Estado atuam por delegação
do presidente da República e sob sua estrita autoridade4.
Jair Bolsonaro promove discriminação, incita ódio e violência contra povos indígenas.
Chegou a afirmar abertamente que sua intenção seria integrar os povos indígenas5.
Isso significa dizer: incorporá-los à sociedade nacional, desfazendo-os de sua identidade indígena. Uma prática abominada,
responsável pelo desaparecimento de povos
indígenas, contrária às normas internacionais de proteção dos direitos humanos e
também da Constituição brasileira6.
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/57510830
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/31/politica/1548946667_235014.html.
4
Artigo 84 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
5
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/02/bolsonaro-diz-que-vai-integrar-indios-e-quilombolas.
ghtml.
6
Em Nota Pública, o Conselho Indigenista Missionário afirma que a MP 870 “Fere, de pronto, o Art. 6º da Convenção 169
3
153
Aliado a isso, a Funai, órgão indigenista oficial do Estado brasileiro, criado para promover a defesa dos interesses indígenas e
zelar pela implementação da política indigenista, vem atuando na contramão da proteção dos territórios indígenas, fragilizando e
expondo comunidades inteiras ao risco de
extermínio.
No dia 22 de abril de 2020, foi publicada
a Instrução Normativa nº 09/2020, da Funai7, que disciplina o requerimento, análise
e emissão da Declaração de Reconhecimento de limites em relação a imóveis privados.
Essa normativa revogou a Insrução Normativa nº 03, datada de 20 de abril de 2012,
promovendo significativa mudança administrativa e atingindo os direitos e interesses
dos povos indígenas do Brasil. O parágrafo
primeiro do art. 1º, da Instrução Normativa nº 09/2020, preceitua que a Declaração
de Reconhecimento de Limites se destina a
fornecer aos proprietários ou possuidores
privados a certificação de que os limites do
seu imóvel respeitam os limites das terras
indígenas homologadas, reservas indígenas
e terras dominiais indígenas plenamente regularizadas.
Assim, na medida em que a Funai passa a
considerar passível de emissão de Declaração de Reconhecimento de Limites (documento que atesta que a propriedade não
incide em terra indígena) toda posse (sem
escritura) ou propriedade que não incida
apenas sobre terra indígena homologada,
reserva indígena, terras indígenas dominiais, passa a liberar para a compra, venda
e ocupação todas as terras em estudo, as
delimitadas pela Funai, as terras declaradas
pelo Ministério da Justiça, além das áreas
sob portarias de restrição de uso e aquelas
interditadas para estudo sobre a presença
de indígenas isolados.
Há pelo menos 246 terras indígenas ainda
pendentes de homologação. Os invasores de
TI poderão solicitar a DRL à Funai e, munidos desse documento, requerer junto ao Incra, por meio de cadastro autodeclaratório,
a legalização dessas áreas invadidas. Tais
normas potencializam o conflito, o desmatamento e os incêndios em terras indígenas. Em 2020, quase 800 km2 de floresta
foram derrubados nos três primeiros meses,
um aumento de 51% em relação ao mesmo
período em 2019. Um terço da devastação
ocorreu em terras públicas, alvo preferencial dos grileiros.
É preciso destacar que, além dos problemas
estruturais causados pela não demarcação
de terras indígenas e pela ausência de proteção naquelas já demarcadas, os povos e
comunidades indígenas são assolados pelo
avanço da pandemia da COVID-19 em todas as regiões do país. A situação se agrava diante da total inoperância e omissão do
governo brasileiro em elaborar o “plano de
enfrentamento da COVID-19”, determinado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em
julho de 2020, por ocasião do julgamento
da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) nº 709. Somente em
março de 2021, portanto, oito meses depois, foi que o STF homologou parcialmente
e com ressalvas a quarta versão do plano
apresentado pelo governo brasileiro. Enquanto isso, até o dia 15 de abril de 2021,
segundos dados levantados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB),
52.406 indígenas foram infectados e 1.038
morreram. Sendo que o vírus já afetou 163
povos indígenas diferentes.
A política genocida adotada pelo presiden-
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – sobre povos indígenas e tribais, promulgada pelo Decreto n 5051, de 19
de abril de 2004, bem como afronta o Art. 1º do Decreto 1775/1996, Art. 19 da Lei 6001/1973 e os Arts. 1º e 4º do Decreto
nº 9010/2017. A medida fere ainda os direitos culturais dos Povos Indígenas com fundamento no Art. 129, inciso V, da
Constituição Federal”. Disponível em: https://cimi.org.br/2019/01/nota-do-cimi-medidas-inconstitucionais-do-governo-bolsonaro-afrontam-direitos-indigenas/.
7
https://www.in.gov.br/web/dou/-/instrucao-normativa-n-9-de-16-de-abril-de-2020-253343033
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
te Jair Bolsonaro coloca em risco a sobrevivência física e cultural dos povos indígenas,
especialmente aqueles que vivem de forma
isolada e os de recente contato. Em fevereiro, com a eleição dos novos presidentes da
câmara dos deputados e do Senado Federal,
o governo federal apresentou um pacote de
pautas prioritárias8.
Dentre elas, inclui-se o Projeto de Lei n.
191/20, o qual “regulamenta o § 1º do art.
176 e o § 3º do art. 231 da Constituição
para estabelecer as condições específicas
para a realização da pesquisa e da lavra de
recursos minerais e hidrocarbonetos e para
o aproveitamento de recursos hídricos para
geração de energia elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela restrição
do usufruto de terras indígenas”. Trata-se
de abrir as terras indígenas para exploração
minerária.
Essa postura do governo federal encoraja
atentados como o sofrido pela Associação
de Mulheres Munduruku Wakoborun, no
município de Jacareacanga, no Pará9, no
dia 25 de março de 2021. Tais proposições
também incentivam a invasão massiva de
garimpeiros ilegais na TI Yanomami, que alcança cifra assustadora de mais de 20 mil
garimpeiros, devastando uma área equivalente ao tamanho de 500 campos de futebol10. Essas incursões criminosas resultam
em conflitos que levam, inclusive, à morte
de lideranças indígenas.
Os registros da CPT dimensionam a gravidade do ataque contra os territórios originários, especialmente a partir de 2019. Nota-se que algumas modalidades de violência,
como “invasão” e “grilagem”, sofreram expo8
nencial crescimento. Em 2020, das 81.225
famílias vítimas de invasões, 58.327 são
indígenas, 71,8%. Em 2019, essa porcentagem foi de 66,5% (26.621) e em 2018, 50,1%
(14.757). Se considerado apenas o incremento das famílias indígenas impactadas,
entre 2018 e 2020, o percentual é de 295%.
Com relação à grilagem, 2020 é igualmente
superlativo, com 7.252 famílias indígenas
entre um total de 19.489 (37,2%), em profundo contraste com dois anos antes, quando indígenas somaram 1.381 de 15.037 famílias, 9,2%.
O Gráfico 1, abaixo, mostra a distribuição
geográfica da violência “invasão” e revela a
predominância da Região Norte no avanço
das ocupações ilícitas de territórios originários, fato resultante da expansão acelerada [e muitas vezes ilegal] do agronegócio e
da mineração na Amazônia, avalizada pelo
discurso e pela prática institucional anti-indigenista do governo federal. Mesmo terras
indígenas regularizadas, caso da T.I. Apyterewa, da etnia Parakanã, localizada no Sudoeste do Pará, têm sido afetadas. Homologada em 2012, a T.I. possui 773.000 ha, dos
quais, 80% estão sob a posse ilegal de invasores. Em 2020, eram cerca de 1.500 deles,
entre madeireiros, garimpeiros e grileiros,
estimulados pela promessa de regularização fundiária. Os Parakanã não são vítimas
apenas de criminosos, enfrentam também
uma tentativa de redução da T.I. a partir
de uma ação interposta pelo município de
São Félix do Xingu, já analisada pelo STF,
que instou a União a se manifestar sobre
o litígio. A etnia se posicionou contrária à
proposta e promete lutar para garantir seus
direitos constitucionais sobre a totalidade
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/02/prioridades-de-bolsonaro-para-o-congresso-incluem-reformas-economicas-e-privatizacao-da-eletrobras.shtml.
9
Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/documentos/2021/ataque-garimpeiro-sede-associacao-mulheres-munduruku-jacareacanga-pa-25-03-2021/> .
10
Relatório Cicatrizes na floresta: evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/cicatrizes-na-floresta-evolucao-do-garimpo-ilegal-na-ti-yanomami-em-2020;https://
noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2021/03/25/garimpo-ilegal-aumenta-em-terras-indigenas-yanomami-no-brasil-diz-informe.htm.
155
do território.
Gráfico 1
Fonte – CEDOC Dom Tomás Balduino – CPT –
07/04/2021
Seguindo na contramão do debate internacional, a Funai emitiu a Resolução nº
4/2021, a qual objetiva “definir novos critérios específicos de heteroidentificação que
serão observados pela Funai, visando aprimorar a proteção dos povos e indivíduos indígenas, para execução de políticas públicas”. A Apib acionou o Ministério Público
Federal (MPF) apontando as inconstitucionalidades flagrantes na referida resolução
que visa determinar quem é ou não é indígena, a partir de critérios do Estado11. A Convenção nº 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) e a Constituição Federal
brasileira compõem o arcabouço normativo
que determina que a identidade indígena é
dada pelo autorreconhecimento, bem como
pela legitimação dos respectivos povos.
Não cabe ao Estado, tampouco ao seu órgão indigenista oficial – no caso, a Funai –,
determinar quem são os indígenas brasileiros. Esse é um ato inconvencional e inconstitucional. Além de mobilizar o MPF, a Apib
acionou o Supremo Tribunal Federal (STF),
no âmbito da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) 709, levando o Ministro Relator Luís Roberto Barroso
a suspender de ofício a Resolução nº 4/21
pelas razões expostas. A emissão da Resolução se deu no contexto em que o Brasil
avança de forma tímida com sua campanha
de vacinação, que coloca os povos indígenas
como populações prioritárias, mas exclui
comunidades que vivem em áreas não regularizadas ou em contextos urbanos. Um
ato que sinaliza o desprezo do atual governo
federal para com as vidas indígenas.
No âmbito da questão ambiental, o governo
federal emitiu a Instrução Normativa Conjunta nº 1/2021, expedida pela Funai e pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama)12. Seu
conteúdo “dispõe sobre procedimentos a serem adotados durante o processo de licenciamento ambiental de empreendimentos
ou atividades localizados ou desenvolvidos
no interior de terras indígenas cujo empreendedor sejam organizações indígenas”.
Trata-se da possibilidade de exploração do
agronegócio dentro das terras indígenas.
Fragiliza-se a proteção ambiental e se abre
espaço para que não indígenas venham a
explorar atividades de interesse econômico
no interior desses territórios.
Outra norma inconstitucional, uma vez que
a Constituição em seu art. 231, § 2º, determina que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos
lagos nelas existentes”. O Instituto Socioambiental (ISA) produziu um relatório técnico atualizado (março de 2021) sobre desmatamento e invasões em sete terras indígenas
na Amazônia brasileira, no qual destaca o
avanço dos invasores, com alguns casos
prioritários, nos quais se enquadram os territórios indígenas Araribóia, do povo Guajajara, no Maranhão; Munduruku, no Pará e
Yanomami, em Roraima. O documento ori-
11 Disponível em: https://apiboficial.org/2021/02/09/apib-aciona-mpf-contra-resolucao-n-4-da-funai/.
12 Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,funai-e-ibama-abrem-espaco-para-agronegocio-entrar-em-terra-indigena,70003626724>.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
ginal foi produzido em julho de 2020 para
notificar o STF da gravidade situacional à
qual esses territórios estão submetidos. A
atualização demonstra que o desmatamento e as invasões avançaram durante a pandemia. É urgente a criação de um plano de
desintrusão/extrusão imediata de todos os
invasores. É uma questão sanitária, uma
vez que esses invasores são vetores da Covid-19, além de ser medida necessária para
a proteção territorial.
Por fim, importante citar o relatório técnico
apresentando pela Apib, ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ADPF n.
709, que trata dos dados de desmatamento
e degradação florestal retirado dos sistemas
Prodes e Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em 2020, a taxa oficial do Prodes registrou
1.108.800 hectares desmatados na Amazônia legal, a maior taxa desde 2008. A alta é
de 9,5% em relação ao ano passado. Com
isso, os números representam um indicador
do efeito das políticas ambientais do governo Bolsonaro. Segundo os dados do Prodes,
o desmatamento total nas TIs da Amazônia
legal já destruiu mais de 1,6 milhão de hectares. Entre os anos de 2019 e 2020, o desmatamento nas TIs já acumulou 89.769,8
hectares. Essa perda significativa de vegetação no interior das TIs nos dois últimos
anos é um indicativo grave de invasão com
as finalidades de exploração ilegal dos recursos naturais e de apropriação fundiária,
processos estes que podem comprometer a
sobrevivência física e cultural de povos originários e, no limite, levá-los ao extermínio.
São aspectos da violência que retratam o genocídio atual.
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Água
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
A apropriação da água e a violência do
setor mineral no contexto do
neoextrativismo brasileiro
Luiz Jardim Wanderley1
Pedro Catanzaro da Rocha Leão2
Tádzio Peters Coelho3
O caráter extrativo do território brasileiro
O Brasil, na segunda década do século XXI,
intensificou o seu modelo neoextrativista
(MILANEZ; SANTOS, 2013; VITTE, 2020).
As corporações extrativo-minerais, do agronegócio, da geração de energia e dos hidrocarbonetos intensificaram sua centralidade
no projeto nacional de crescimento econômico – com destaque para Petrobrás, Eletrobrás, Vale S.A., BRF S.A., JBS, Braskem,
Ultrapar Participações, CSN, CPFL Energia,
entre outras. Discursivamente, elas se colocam como essenciais para o país, para a
balança comercial e para a economia nacional (DELGADO, 2012). E de fato conseguiram impor um modelo exportador de matéria prima, agravando o caráter dependente e
subordinado da economia brasileira na divisão internacional do trabalho (CARVALHO,
2018).
Segundo Gudynas (2015), o neoextrativismo se caracteriza pela exploração de bens
naturais vendidos in natura ou com apenas
um processamento primário, com destino
final predominante à exportação. O extrativismo não se resume à extração de bens
minerais e hidrocarbonetos (petróleo e gás),
engloba ainda a exploração do solo, dos mananciais de água, da floresta, do ar, da biodiversidade e da paisagem. Ou seja, trata-se
de uma captura ampliada de bens comuns,
por meio da incorporação destes ao processo de acumulação privada de capital. Gudynas detalha que o grande volume de material exportado e removido, a intensidade
dos efeitos ambientais causados pelas atividades extrativas e o mercado internacional como destino final dos bens primários,
são as variáveis que tipificam o modelo de
desenvolvimento com base no extrativismo
(GUDYNAS, 2015).
No século XXI, o Brasil reprimarizou sua
pauta exportadora (DELGADO, 2012; MILANEZ; SANTOS, 2013; VALVERDE; OLIVEIRA, 2012), passando de 22,8% do valor exportado de produtos básicos em 2000, para
52,8% em 2019 (MDIC, 2020). Em 2019,
pela primeira vez na série histórica, desde
1997, o país exportou mais produtos básicos que semimanufaturados e manufaturados, característica central do neoextrativismo. Soja, minério de ferro e, posteriormente
o petróleo, foram os principais produtos
que puxaram a expansão da pauta primá-
1
Geógrafo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do grupo de Pesquisa e Extensão Poemas Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade.
2
Graduando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsista CNPq no Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO-UFF) e integrante do Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários da Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB), Seção Local Rio e Niterói.
3
Sociólogo, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa (DCS-UFV) e pesquisador do
grupo de Pesquisa e Extensão Poemas - Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade.
159
rio-exportadora, seguidos de outros produtos agropecuários e minerais. Em 2020, o
mesmo padrão se manteve apesar dos efeitos na crise sanitária do novo coronavírus.
Inclusive, os principais produtos do agronegócio tiveram aumento no volume e no valor
exportado, soja (12% e 9,5%), cana-de-açúcar (67,2% e 64,7%) e carne bovina (14% e
18,3%). O petróleo também aumentou seu
volume exportado (16,7%), mas o valor teve
queda. O minério de ferro foi o oposto, apesar do aumento do valor (19,9%), a produção permaneceu quase igual (MDIC, 2021)4.
reflexos do modelo neoextrativista nos conflitos sociais pela água no campo brasileiro
utilizando os dados sistematizados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) entre 2011 e
2020. Numa segunda parte, analisamos os
conflitos ligados ao setor mineral – mineradoras e garimpo –, no que concerne a sua
dimensão sobre a água e a terra. O destaque
dado ao setor mineral se deve a sua posição de liderança na disputa por água nos
últimos anos no Brasil, mas que precisa ser
acrescido dos seus reflexos na questão fundiária (WANDERLEY; GONÇALVES, 2019).
O neoextrativismo do agro-hidro-minero-petro-negócio é um processo de acumulação demandante de terra, água, subsolo
e trabalho precarizado. Para tanto, exige o
controle do território por meio da expropriação de populações tradicionais, pequenos
produtores e trabalhadores rurais de suas
terras, da captura dos mananciais de água,
da monopolização do subsolo e da exploração do trabalhador. A apropriação intensiva dos bens naturais, tendo como destino
o mercado internacional, se expressa ainda
na face perversa da amputação ecológica
(GUDYNAS, 2015); dos desastres sociotécnicos (ZHOURI; OLIVEIRA; ZUCARELLI;
VASCONCELOS, 2018) – como os da mineração no rio Doce e Paraopeba e no petróleo
no litoral brasileiro; dos desmatamentos e
queimadas; do barramento dos rios, na “escassez” de água por conta da contaminação
e do consumo excessivo; e do solo exaurido
sem nutrientes e salinizado. Existe ainda
um caráter violento e repressor por parte do
Estado, corporações e grupos hegemônicos
contra os atingidos e os movimentos sociais
de resistência. Tanto o processo de violação
de direitos humanos, como a destruição da
natureza se expressam nos conflitos pela
água e resultantes da mineração, que debateremos neste texto.
Disputa por água na 2ª década do século
XXI (2011 – 2020)
Buscamos sistematizar e compreender os
4
A água tem sido colocada como umas das
questões centrais para a sociedade no século XXI. A perspectiva da escassez absoluta e
relativa da água, agravadas na atualidade,
desmistifica o entendimento desse recurso
como renovável e revaloriza suas acepções
estratégica e monetária junto aos Estados
e corporações. Os agentes capitalistas vêm
de maneira indiscriminada se apropriando e
comercializando a água, tornando-a mercadoria no processo de acumulação primitiva
(MARX, 2011), ou por espoliação (HARVEY,
2004). Um marco da crescente mercantilização, agora financeirizada, foi em 2020,
quando se comercializou a água pela primeira vez como commodity na bolsa de futuros Nasdaq nos Estados Unidos da América – Nasdaq Velez Califórnia Water Index
(ALVARÉZ, 2020).
Por um lado, a água serve ao consumo direto, para beber ou suprir as necessidades
cotidianas da vida dos indivíduos; ainda
abriga os recursos pesqueiros, fluviais e
marinhos; serve de via de transporte para
cidades e comunidades ribeirinhas; e funciona como espaço de lazer/cênico (FRANCALANZA, 2005). Por outro lado, se consolidou como matéria-prima indispensável
Dados do MDIC retirados do site: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
na produção agropecuária e industrial de
grande escala; gera energia elétrica por sua
força motriz; consiste na principal rota de
circulação das mercadorias no mercado global; e é utilizada como depósito de despejo de rejeitos, poluentes e esgoto. Contudo,
diferentemente dos outros bens naturais, a
água é um recurso único e insubstituível,
portanto, demandado por todos, seja para
reprodução do capital ou para reprodução
metabólica da vida.
Por isso, os conflitos e a busca pela segurança hídrica, pelo acesso à água para consumo
ou para mercantilização vêm resultando em
uma nova geografia e geopolítica da água,
que coloca em xeque antigas relações de poder. “O controle e/ou a posse da água são
sobretudo de natureza política, pois interessam ao conjunto de uma coletividade” (RAFFESTIN, 1993; p. 231), sendo seu controle
um poder social (SWYNGEDOUW, 2006).
Porto-Gonçalves (2008) apontou que estamos diante da “questão da água”. Uma nova
questão que se soma e se mistura à questão
urbana e agrária, já existente. O autor indica que os problemas são resultantes da
desigual distribuição natural da água e das
assimétricas relações sociais e de poder, entre áreas rurais e urbanas, ricos e pobres,
no interior das cidades, dentro de países ou
entre países.
Os conflitos pela água ocorrem em decorrência da existência ou da possibilidade de
“escassez” relativa ou absoluta, mas também quantitativa ou qualitativa (ASSUNÇÃO; BURSZTYN, 2002). Como dito anteriormente, boa parte dos conflitos recentes
se travaram no âmbito da “escassez” relativa, não relacionada à ausência de água.
Pelo contrário, a água se encontra disponível no espaço, porém inacessível a determinados grupos sociais e instituições, em
virtude da má distribuição ou do controle
de outros grupos sobre o recurso e/ou pelo
domínio do território. Os conflitos são resul-
tantes da exclusão e da má inclusão – física
e econômica – de grupos sociais sem acesso aos mananciais; e em virtude do controle
dos corpos hídricos que impedem o acesso
ou outros tipos de usos, inclusive por razões
relacionadas à degradação, poluição, contaminação e desastres sociotécnicos.
Podemos chamar de conflitos provocados
pela “escassez” relativa àqueles gerados pelo
controle territorial sobre espaços de captação e acesso aos corpos hídricos, como os
deslocamentos compulsórios sofridos pelos
atingidos por barragens para instalação das
usinas hidrelétricas, apropriação de áreas
para atividades econômicas – como a monocultura de camarão, a pesca industrial, o
cultivo de eucalipto, as atividades de transporte, o turismo, a exploração mineral ou
de petróleo –, ou as limitações e proibições
impostas por leis e normas. A qualidade da
água é um fator fundamental para definir
os usos e seus possíveis modos de apropriação. Atividades econômicas, como a mineração e o agronegócio, capturam valor ao
contaminarem os cursos d’água com seus
rejeitos, sedimentos e agrotóxicos, inutilizando a água como recurso (valor de troca)
para outros agentes econômicos e inviabilizando-a como valor de uso para outros grupos sociais.
Diferentes tipos de conflitos em torno da
escassez relativa e absoluta da água vêm
sendo sistematicamente registrados pela
CPT. Segundo os dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc), os
conflitos pela água na última década apresentaram uma curva ascendente, aumentando mais de sete vezes, com agravamento
a partir de 2018. O campo brasileiro passou de 69 ocorrências, em 2011, para 502,
em 2019, maior número contabilizado. Por
mais que em 2020 tenha havido uma queda
no total de ocorrências, o ano ainda é o segundo com mais conflitos pela água (350) e
indica a manutenção do incremento da dis-
161
puta por água (Gráfico 1).
Essa curva ascendente também é registrada
se analisados os dados de pessoas envolvidas em conflitos pela água (Gráfico 1). Se
em 2011 foram contabilizadas 28.057 famílias envolvidas em conflitos, em 2019, esse
valor praticamente triplicou, com 79.381 famílias. No período analisado, identificou-se
um salto no envolvimento de mais famílias a
partir de 2018. O caráter crescente da curva, tanto de conflitos pela água, como de famílias envolvidas, evidencia a importância
de um olhar atento à questão da água. Afinal, a existência de conflitos indica tensões
sobre a apropriação da água e seus usos.
Devemos salientar também que, em 2019,
ocorreram dois eventos de grande magnitude com forte caráter conflituoso: o derramamento de óleo no litoral brasileiro, em especial na Região Nordeste (DISNER; TORRES,
2020), e o desastre provocado pelo rompimento da barragem B1 da mineradora Vale
S.A (SILVA et al., 2020). Contudo, os dois
eventos não podem ser vistos como acidentes ou ocorrências eventuais. Desastres sociotécnicos de grande magnitude e amplitude espacial têm sido recorrentes no cenário
nacional e internacional, confirmando o padrão agressivo do neoextrativismo, com efeitos que perduram no tempo.
Gráfico 1: Conflitos pela Água no Campo
Brasileiro: ocorrências e famílias envolvidas
(2011 – 2020)
Principalmente por conta dos desastres sociotécnicos recentes e seus efeitos duradouros nos anos seguintes – o óleo no litoral do
Nordeste (2019) e as tragédias no rio Doce
(2015) e Paraopeba (2019) no Sudeste –, os
mais de dois mil conflitos pela água no país
se concentraram nessas duas regiões, 38%
e 37% respectivamente. Em seguida, apareceram a Região Norte (18%), Centro-Oeste
(5%) e Sul (3%).
As mineradoras foram responsáveis por
43% dos conflitos, os empresários (dentre
os quais as empresas petroleiras) 22% e as
corporações de energia hidroelétrica 18%.
Além desses, o Estado (9%) e os fazendeiros
(7%) completam a lista de principais violadores em conflitos pela água. A maior parte
das violações se dá por conta de poluição
e destruição de mananciais (42%), no não
cumprimento de procedimentos legais (26%)
e na diminuição do acesso à água (12%). No
Nordeste, em particular, região marcada
historicamente pela distribuição desigual
do acesso à água, se destacam também os
conflitos por diminuição e impedimento ao
bem hídrico (SILVEIRA; SILVA, 2019), que
corresponde a 30% das ocorrências regionais.
Gráfico 2: Ocorrências de conflitos pela água
no Brasil, segundo as categorias sociais que
causaram ações (2011 – 2020)
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Nos conflitos pela água, os grupos mais afe-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
tados foram pescadores e ribeirinhos, envolvidos em 26% das ocorrências cada um.
Uma vez que os principais danos causados
são a poluição e a destruição das águas, populações ribeirinhas e de pescadores acabam perdendo suas condições de reprodução da vida e de sustento econômico. Tais
grupos sociais apresentam relação simbiótica – materiais e simbólicas – com os rios,
lagos e mares, sendo estes seus espaços de
vida, de aquisição de alimento, de geração
de renda, de sociabilização e de modo de
vida, isto é, são territórios-água ou hidroterritórios (GONÇALVES TORRES; VIANNA, 2008). Em menor proporção, mas não
menos importantes, pequenos proprietários
rurais (10%), indígenas (8%), atingidos por
barragem (7%), geraizeiros (6%) e assentados (5%) também aparecem entre os grupos
que sofreram ações de violações no que concerne à água (Gráfico 3).
Gráfico 3: Ocorrências de Conflitos pela
água por categoria social que sofreu ação no
Brasil (2011 – 2020)
Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduíno.
Em 2020, as mineradoras se mantiveram
como as principais causadoras de conflitos
pela água, com 40% das ocorrências. O predomínio das mineradoras como as maiores
deflagradoras de conflitos pela água no país
ocorreu a partir de 2014, quando o setor suplantou o setor hidrelétrico, que até então
configurava como maior causador de danos.
A partir de 2015, com o desastre do rio Doce
e do Paraopeba, as mineradoras assumiram
isoladamente o ranking de mais conflituosas.
Ainda em 2020, o Estado brasileiro (governos municipais, estaduais e federal), os empresários, as hidrelétricas e os fazendeiros
também foram protagonistas de conflitos
pela água (Gráfico 4). A Região Sudeste contabilizou 146 ocorrências de conflitos pela
água, seguida pela região Nordeste (91),
Norte (66), Centro-Oeste (36) e Sul (11). Os
mesmos grupos sociais que figuravam entre
os mais violados na última década também
sofreram para acessar os bens hídricos em
condições dignas no ano passado. Ribeirinhos estiveram presentes em 81 ocorrências
(23%) e pescadores em 78 (22%), seguidos
por indígenas (16%), atingidos por barragem (11%), pequenos proprietários (9%) e
quilombolas (8%).
Um ano de pandemia e a continuidade dos
efeitos socioambientais provocados pelos
grandes desastres de 2019 agravaram a situação de vida dos povos litorâneos durante
a crise sanitária do coronavírus. O “Manifesto Mar de Luta: Justiça Social para os Povos
das Águas Atingidos pelo Petróleo”, de movimentos sociais de pescadores e pescadoras
artesanais e organizações ligadas às temáticas de direitos humanos e socioambientais,
denunciou a continuidade da tragédia em
nove Estados do Nordeste e dois do Sudeste,
cerca de mil localidades e 500 mil pescadores e pescadoras tradicionais. Os atingidos
pelo petróleo reafirmaram a perda da renda familiar, a insuficiência dos dois salários
mínimos de auxílio recebidos do governo
federal, a exclusão de muitos pescadores
(principalmente mulheres) do acesso ao benefício, o prejuízo às condições de saúde e
ainda a presença do material contaminante
no fundo do mar e na forma de micropartículas. Diante da inação dos órgãos públicos, o movimento cobrou
dos poderes públicos (federal, estaduais e
municipais) respostas, por meio de ações
capazes de reduzir e enfrentar os efeitos
nefastos desse crime ambiental sobre o
163
ambiente e as comunidades pesqueiras
artesanais, que tiveram seus dramas socioeconômicos oriundos do petróleo agravados ainda mais pela pandemia do novo
Coronavírus (Comitê da Campanha Mar de
Luta, 2020).
E destacou o caráter violento e extralegal
das ações e dos ideários antidemocráticos e
ecoetnocidas do governo federal (WANDERLEY; MILANEZ: GONÇALVES, 2020), que
não realizou um planejamento para combater o vazamento e nem implementou o Plano
Nacional de Contingência para Incidentes
com Óleo.
Isso comprova que a política de Estado
do (des)governo Bolsonaro para o meio
ambiente é de destruição da natureza e
de toda a vida que a circunda e a compõe, inclusive a humana, fato materializado pela presença de um ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, que atua a todo
momento para flexibilizar a legislação ambiental, omitindo-se diante de inúmeros
crimes ambientais de toda ordem e, também, contra aqueles que dão suas vidas
historicamente para a proteção de seus
territórios (Comitê da Campanha Mar de
Luta, 2020).
O movimento, desse modo, reivindicou a
aplicação do Plano Nacional, a realização de
pesquisas transparentes e autônomas sobre a contaminação, a execução de investigações para apuração dos responsáveis
pelo crime, até hoje sem agente causador,
e a proibição de novos poços de petróleo
em alto mar (Comitê da Campanha Mar de
Luta, 2020).
No caso do desastre da Vale S.A., no Rio Paraopeba, persistiram os problemas no abastecimento, o fornecimento de água de má
qualidade e de modo intermitente pela mineradora aos atingidos e a manutenção da
contaminação do rio continuaram afetando
ribeirinhos, pescadores, indígenas, quilombolas e outros grupos sociais. Somente em
2021, o governo estadual e as instituições
de justiça firmaram um acordo com a mineradora para a reparação dos danos coletivos, ainda assim sem a participação dos
atingidos e com diversos problemas relatados pelos movimentos sociais, que recorreram, sem sucesso, ao Supremo Tribunal
Federal (STF) (PASSOS, 2021).
Por fim, o conflito pela água, em 2020, resultou no massacre de quatro pessoas, um
indígena e três ribeirinhos, no Rio Abacaxi,
municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, no Amazonas. Segundo informações da
CPT, o crime foi em decorrência do conflito
entre ribeirinhos e indígenas, de um lado,
policiais e pescadores esportivos ilegais, de
outro, e um grupo de traficantes. O imbróglio vem sendo denunciado por indígenas
desde 2007.
Conflitos causados pela atividade mineral
A importância de uma análise direcionada
ao setor mineral está na estreita relação
que a mineração possui com a água. Isso
se deve ao fato de a extração de água ser
considerada pela legislação brasileira uma
atividade de mineração, mas também pelos efeitos diretos da extração mineral sobre rios, lagos, cursos d’água, nascentes e
lençóis freáticos (MILANEZ, 2017). A água
possui diversas funções no processo de extração mineral: na perfuração e escavação;
no transporte de minérios em forma de polpa por meio de minerodutos; no beneficiamento e separação do minério; no controle
da emissão de poeira na área de mina, no
embarque e desembarque do minério e nas
estradas de acesso às minas. Além disso, o
aprofundamento da cava pode ser acompanhado pelo rebaixamento do nível do lençol
freático, o que afeta de maneira decisiva a
dinâmica hídrica superficial e subterrânea
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
das regiões mineradas, muitas vezes reduzindo a disponibilidade de água para o consumo das populações locais, urbanas e rurais, e prejudica suas atividades produtivas.
para o mercado externo, ou seguem as rotas
até as indústrias de transformação, quando atendem à demanda do mercado interno
(MILANEZ, 2017).
Uma característica da atividade mineradora que deve ser destacada é seu potencial
poluidor das águas. Tal poluição pode ocorrer, majoritariamente, devido ao transbordamento e rompimentos de barragens de
rejeitos, na descarga irregular de rejeitos
e outros resíduos dos processos de beneficiamento dos minerais, nos vazamentos de
minerodutos ou por problemas nos trens e
embarcações transportadoras de minério.
Em geral, a poluição hídrica causada pelas
mineradoras afeta grandes áreas e milhões
de pessoas. A redução da disponibilidade
de água e a sua contaminação degradam os
ecossistemas, inviabilizam modos de vida e
prejudicam as estruturas produtivas locais
e regionais (SANT’ANA; RIGOTTO, 2021),
além de colocar populações em grave risco
alimentar.
Assim, a análise segmentada por mineração
e água dos dados do Cedoc-CPT possibilita uma visão mais detalhada dos conflitos
sociais gerados pela atividade mineradora e quais grupos são afetados. Em 2020,
as mineradoras – com destaque para as
internacionais – foram o principal agente
deflagrador de conflitos pela água no campo brasileiro, com 40,2% das ocorrências
(141). Outros atores corporativos geradores
de conflitos foram empresários e empresas
hidrelétricas envolvidas em 15% e 13% das
ocorrências respectivamente (53 e 46 casos). Devemos destacar também o papel do
Estado no embate por água. Sua atuação
como agente causador de conflitos ocorreu
em 23% dos casos, por meio de governos
federal, estaduais, municipais ou outros
agentes estatais. Por fim, os fazendeiros estiveram envolvidos em 6% das ocorrências
com populações do campo e outros atores
representaram 2%, como pescadores de
grande porte e garimpeiros (Gráfico 4).
Entretanto, os empreendimentos de mineração podem gerar reações por parte de
grupos sociais (étnico-raciais, classe social
e gênero), instaurando o que se considera
como conflitos socioambientais. Tais conflitos podem envolver pequenos proprietários
rurais, povos indígenas, quilombolas, pescadores, populações tradicionais e moradores de pequenas, médias e até mesmo grandes cidades.
As estruturas de mineração que causam
esses conflitos socioambientais podem ser
as áreas de cava e as barragens de rejeitos, mas também pilhas de estéril, ferrovias, minerodutos, usinas e portos. Assim,
os conflitos socioambientais decorrentes
da mineração não ocorrem exclusivamente
nos municípios onde são realizadas as extrações minerais, mas extrapolam esses limites e acompanham o caminho percorrido
pelos minerais até os pontos de escoamento
Gráfico 4: Ocorrências de conflitos pela água
no Brasil, segundo as categorias sociais que
causaram ações (2020)
Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduíno.
165
Os conflitos gerados pela atuação das mineradoras e dos garimpeiros têm se expressado tanto na dimensão da terra, como na
apropriação da água, como já se discutiu
anteriormente (WANDERLEY; GONÇALVES,
2019). Desse modo, entre 2011 e 2020, 58%
das ocorrências ligadas às atividades de mineração (891) foram causadas pela disputa
por bens hídricos e 42% (650) por embates
por terra. O Gráfico 5 mostra que até 2014
havia uma predominância dos conflitos por
terra envolvendo o setor mineral. A partir de
2017, o padrão se tornou a prevalência dos
conflitos pela água, chegando a representar
o dobro das ocorrências de disputa por terra
em 2018 e 2019.
A curva dos conflitos deflagrados por mineradoras e garimpeiros vem sendo ascendente, com pico em 2019, quando foram
registradas 283 ocorrências. Dessas, 201
se deram em conflitos por água e 82 em
conflitos por terra. O ano de 2020 foi o segundo com mais conflitos na última década,
contabilizando 242 ocorrências de conflitos
envolvendo a mineração – 143 em conflitos
água e 99 em conflitos por terra. A partir de
2015, o número de conflitos esteve acima da
média anual de 154,1 ocorrências.
O crescimento acelerado, que fez o número
de conflitos minerários mais que quintuplicarem em menos de uma década, tem dois
fatores primordiais. O primeiro se deve aos
recentes desastres e danos de grande amplitude na mineração: Samarco/ Vale S.A./
BHP Billiton, a partir de 2015, em Minas
Gerais e Espírito Santo; Hydro Alunorte a
partir de 2018, em Barcarena, no Pará; e
novamente Vale S.A. a partir de 2019, no
Rio Paraopeba, também em Minas Gerais.
Em Minas Gerais, ambas as tragédias provocaram mortes, soterramento de casas e a
perda dos rios como abastecimento e fonte
de renda familiar. Os efeitos sobre os cursos
d’água também foram vistos de maneira preocupante em Barcarena. O segundo fator,
que contém relação com o primeiro, consiste na maior percepção da sociedade sobre os
riscos e danos provocados pela mineração.
Os desastres, que tiveram visibilidade nacional e internacional, colocaram em alerta as
comunidades no entorno mineral de todo o
país e incrementaram as ações de resistência aos projetos mineradores, assim como o
apoio de organizações ambientalistas e de
direitos humanos. Há ainda uma ascensão
dos movimentos sociais de luta contra a
mineração em escala nacional, a partir de
2010 (WANDERLEY; GONÇALVES, 2019): o
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios
Frente à Mineração; a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale
(AIAV); o Movimento pela Soberania Popular
na Mineração (MAM), a Rede Igrejas e Mineração; e o Movimento dos Atingidos por
Barragem (MAB), que assumiu as barragens
de mineração como problema social.
Os conflitos envolvendo a mineração contêm uma distribuição espacial concentrada em Minas Gerais, que contabilizou 37%
das ocorrências da última década. A forte
expressão da violência extrativa sobre o
território mineiro está relacionada aos dois
maiores desastres recentes, à emergência
de movimentos de embate à mineração e ao
histórico violento das corporações do setor,
que vêm por mais de um século avançando
sobre as terras e águas do estado (JORGE
et al., 2020). Por conta do desastre no Rio
Doce, o Espírito Santo, com 6% das ocorrências, também se destaca. A Bahia, como
frente de expansão mineral, corresponde a
21% das ocorrências de conflitos (MONTALVÃO; MOREIRA; NUNES, 2020). Já o Pará,
com 12%, e o Maranhão, com 11%, abrigam
o Grande Projeto Carajás, que tem sido o
principal eixo de expansão da mineração
industrial na região amazônica e do país,
com inúmeros projetos da Vale S.A. e com
fortes efeitos sobre a terra e a água ao longo do complexo mineral (MALHEIRO, 2019).
Acrescenta-se ainda o desastre da Hydro em
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Barcarena, que afetou inúmeras comunidades ribeirinhas e quilombolas no Pará. Parte
desses conflitos, principalmente no Maranhão e no Espírito Santo, mas também em
Minas Gerais e Pará, se deve à presença de
infraestruturas de transporte dos minérios
– ferrovias, minerodutos e portos.
Gráfico 5: Conflitos por mineração no Brasil
por tipo de conflito (2011 – 2020)
do governo Bolsonaro, as ocorrências envolvendo garimpeiros subiram de nove, em
2018, para 39, em 2020. Isso demonstra o
agravamento das ações de invasão de garimpeiros, sobretudo aqueles com grandes
e caros maquinários, em territórios proibidos de minerar – Unidades de Conservação
e Terras Indígenas.
Gráfico 6: Principais mineradoras envolvidas em ocorrências (2011 – 2020)
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Ao longo do período analisado, as mineradoras internacionais, com investidores
estrangeiros, passaram de cinco conflitos
em 2011 para 158 em 2020, tornando-se
as maiores violadoras socioambientais dos
conflitos ligados à mineração. Mineradoras
como Samarco/Vale/BHP Billiton (30%),
Vale S/A (16%), Bahia Mineração (BAMIN)
(8%), Anglo American (5%), Hydro (4%), entre outras, estão envolvidas na maioria dos
conflitos decorrentes da mineração, o que
demonstra o perfil violento do capital mineral transnacional (Gráfico 6). Contudo, no
total geral as mineradoras nacionais, de diferentes portes (pequenas, médias e grandes), ainda aparecem com maior frequência,
em 47,9% das ocorrências, acompanhadas
pelas mineradoras internacionais (44,9%) e
pelos garimpeiros (7% ou 109 ocorrências).
Os garimpeiros vêm se tornando mais frequentes nos conflitos no campo, em especial
em embates com indígenas. Desde o início
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduíno.
A mineração tem o padrão de causar danos
em diferentes grupos sociais. É difícil destacar um ou mais grupos específicos que mais
sofrem com a atividade mineral. Dos grupos
afetados, os ribeirinhos (23%) e os pequenos
proprietários (18%) apareceram como principais categorias, entre 2011 a 2020. Quilombolas e indígenas também sofreram com
o avanço violento da mineração, ambos com
10% cada, assim como outros povos tradicionais como pescadores, geraizeiros, camponeses de fundo e fecho de pasto e posseiros (Gráfico 7).
Gráfico 7: Ocorrências de conflitos por mineração segundo as categorias sociais que
sofreram ações de violência (2011 – 2020)
167
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino.
Considerações finais
Podemos destacar a recente trajetória econômica brasileira pautada pelo neoextrativismo do agro-hidro-minero-petro-negócio
e seu componente de expropriação e apropriação da terra, água, subsolo e trabalho.
Nesse processo destrutivo do meio ambiente
e de transferência de riqueza aos centros de
acumulação de capital, os mais prejudicados, como podemos perceber nos dados sistematizados pela CPT, entre 2011 e 2020,
foram os pequenos agricultores, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores, geraizeiros, sem-terra dentre outras
populações, em especial comunidades tradicionais.
As relações decorrentes da expansão do
neoextrativismo se expressam em conflitos
sociais compostos por esses grupos, movimentos sociais e outras organizações, de
um lado, e do outro, as corporações e suas
organizações representativas, além de setores do Estado e seu poder repressivo. A
disputa pelo usufruto da água e das terras
situa esses conflitos, nos quais as empresas
mineradoras ocupam um crescente papel
de fator gerador de conflitos, junto ainda a
grandes fazendeiros, hidrelétricas, garimpeiros, empresários de forma geral e a atuação do Estado.
Não à toa, as empresas mineradoras passaram a capitanear esse processo. Considerando o aparato legislativo-institucional da
atividade, as crescentes flexibilizações nos
licenciamentos dos projetos minerários, a
atuação do governo federal a favor das empresas e do garimpo, a dinâmica operacional da mineração ditada pelos preços dos
minerais no mercado internacional, os incentivos dados por isenções e benefícios fiscais, as assimetrias no sistema jurídico em
favor das empresas, era de se esperar essa
centralidade das mineradoras nas violações
aos direitos dos povos. Nesse aspecto, como
vimos, as principais mineradoras transnacionais operando no Brasil se destacam.
Uma última reflexão acerca dos conflitos
sociais gerados pela expansão do neoextrativismo no Brasil parece se tratar de uma
forma de apropriação capitalista dos bens
naturais e do trabalho própria da periferia e
semiperiferia global. É um processo que se
vale de formas mais intensas de exploração
do trabalho e da natureza, o que causa evidentes contradições, gerando tragédias em
larga escala.
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Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 5 - Conflitos pela Água (2020)
UF
Centro-Oeste
DF
GO
MS
MT
Subtotal
Nordeste
AL
BA
CE
MA
PB
PE
PI
RN
SE
Subtotal
Norte
AC
AM
AP
PA
RO
RR
TO
Subtotal
Sudeste
ES
MG
RJ
SP
Subtotal
Sul
PR
RS
SC
Subtotal
Brasil
No de
Ocorrências
Famílias
8
6
22
36
800
305
3091
4196
26
1
3
6
28
9965
500
873
899
5718
27
91
740
18695
21
6
31
7
3253
810
7871
6985
1
66
97
19016
9
125
8
4
146
679
4802
8238
250
13969
6
4
1
11
350
130
286
416
56292
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Trabalho
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Trabalho escravo pós-golpe:
o declínio das políticas
de enfrentamento
Tiago Muniz Cavalcanti1
Premissas introdutórias
O sistema escravagista formalmente estabelecido não resistiu ao final do século XIX.
Era preciso estancar a convulsão que tomava conta do País: fugas, levantes, incêndios
e sabotagens representavam a luta dos escravos pela sua liberdade. Mais importante:
fazia-se premente deter a propagação de um
movimento abolicionista verdadeiramente
emancipatório, que pregava uma alforria
genuína por meio da implementação de reformas sociais, da democratização fundiária
e da profunda reconstrução do País.
O dia 13 de maio de 1888 não significou,
portanto, o triunfo da compaixão e da misericórdia. Representou, na verdade, uma
abolição que não se fez acompanhar pelas
reformas necessárias à completa redenção
do sistema escravagista. A manutenção
da estrutura econômica e social do período pré-abolicionista foi a mola propulsora
para a existência da chamada escravidão
contemporânea em território nacional. Os
ex-escravos tornavam-se, então, escravos
contemporâneos, submetidos às mesmas
condições ultrajantes que lhes eram impostas enquanto propriedade formal do senhor.
Quatro fatores foram cruciais para que o
Brasil continuasse a ser um país escravocrata: (1) a enorme desigualdade social e racial, vertida na condição de miserabilidade
dos escravos recém-libertos; (2) o sistema
agrário latifundiário voltado para produção
de commodities, onde grandes propriedades
monocultoras se utilizam da força de trabalho de uma população miserável e sem acesso a direitos elementares; (3) as relações
autoritárias de poder, ou seja, o conhecido
coronelismo; e (4) o vazio protecionista em
âmbito rural, mormente porque a legislação protetiva dos trabalhadores do campo é
da década de 1960, de modo que por muito
tempo os escravos “libertos” e seus descendentes ficaram sob a falsa égide da liberdade de contratar.
Foram essas as sementes do que se chama
escravidão contemporânea, uma escravidão que ocorre às sombras, mas que tem os
mesmos atributos da escravidão do passado. Os escravos “libertos” continuaram a ser
explorados da mesma forma que nos tempos anteriores: a escravidão se perpetuou
no País.
O trabalho escravo contemporâneo é um
problema jurídico, social e econômico, e
merece enfrentamento sob tais enfoques:
a erradicação exige a superação do padrão
social violento e desigual. Não é por acaso,
portanto, que o enfrentamento deve ocorrer
não apenas por meio de medidas repressivas mas, sobretudo, preventivas.
A fase preventiva do combate ao trabalho
1
Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com período de pesquisa no Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP). Membro da Academia Pernambucana de Direito do Trabalho. Procurador do Trabalho, ex-coordenador nacional de erradicação do trabalho escravo do Ministério Publico do Trabalho.
173
escravo pode ser visualizada sob duas vertentes, quais sejam, a prevenção primária
e a prevenção secundária. A primeira delas
exige a convergência de esforços no sentido
de evitar a ocorrência do ilícito, abrangendo, portanto, todas as medidas necessárias
à reversão dos fatores que contribuem para
a vulnerabilidade das vítimas em potencial.
tou, os assentamentos diminuíram, o autoritarismo renasceu, a proteção sociolaboral
evaporou e as políticas de enfrentamento
têm sido paulatinamente corroídas.
1. Definhamento das políticas preventivas
1.1. Mais desigualdade
A prevenção secundária repousa na atenção
à vítima, tendo por objetivo evitar sua reinserção na cadeia de exploração. Nesta fase,
o acolhimento da vítima e a plena satisfação
dos fatores de vulnerabilidade, como a desqualificação profissional, são essenciais ao
propósito.
O prisma da repressão, por sua vez, abrange a persecução de natureza civil, administrativa ou criminal. São as medidas repressivas e punitivas em face dos beneficiários
da conduta ilícita, desde a responsabilização penal, até aplicação de multas e condenação em indenizações de natureza estritamente civil ou trabalhista.
É certo que, em um determinado momento
da nossa história, avançamos em medidas
preventivas e repressivas: distribuiu-se renda por meio de políticas assistencialistas; famílias foram assentadas em unidades agrícolas improdutivas; instituiu-se um regime
democrático após longo período de autoritarismo, estabelecendo-se como fundamentos
a cidadania, a dignidade da pessoa humana
e os valores sociais do trabalho; direitos trabalhistas foram garantidos, direitos sociais
foram assegurados; políticas públicas específicas de enfrentamento à escravidão foram
implementadas.
A partir de 2016, no entanto, tudo piorou. O
golpe parlamentar é um marco muito nítido,
um verdadeiro divisor de águas no enfrentamento ao trabalho escravo contemporâneo:
a partir de então, a desigualdade aumen2
Após 15 anos de redução, o Brasil passou
a viver seu ciclo mais longo de aumento da
desigualdade. A escalada da concentração
de renda e riquezas tem fatores múltiplos,
é bem verdade. E começou antes do golpe,
ainda no último ano do governo Dilma.
Mas é indene de dúvidas que a instabilidade
política provocada pelo golpe, suas causas
e consequências, além da adoção cada vez
mais intensa de políticas que atrofiam o Estado e sacrificam os mais pobres, são agentes determinantes para o aprofundamento
do fosso social.
Todos os anos, desde 2015, cresce o número de pobres; contraditoriamente, cai o
número de pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa Família. Ano após ano, os ricos veem seus rendimentos crescerem; enquanto isso, os mais pobres ganham cada
vez menos.
Hoje, quase 30% (trinta por cento) da renda
do Brasil está nas mãos de apenas 1% (um
por cento) dos habitantes do País, a maior
concentração no mundo.2 E esse abismo social se traduz em miséria, favelização, insegurança alimentar, fome e outras mazelas
sociais que empurram o trabalhador para a
escravidão.
Quanto mais a pobreza cresce, quanto mais
a miséria aumenta, mais o País tem adotado
políticas que tendem a agravar a situação,
como, por exemplo, a progressiva queda de
World Inequality Database. Disponível em: http://wid.world/world. Acesso em 21.04.2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
ganho real no salário mínimo, o fomento à
informalidade e à (pseudo) autonomia, além,
é claro, da limitação de gastos e investimentos públicos por vinte anos, imposta pela
Emenda Constitucional nº 95, uma medida
de arrocho fiscal que causa estagnação econômica e acomete direitos sociais.
1.2. Menos assentamentos
Para além do aumento das desigualdades,
os assentamentos de camponeses e trabalhadores rurais diminuíram drasticamente.
Se o governo Dilma, em termos de reforma
agrária, foi fraco em relação aos governos
FHC e Lula, os quais realizaram centenas
de assentamentos anuais, os números pós-golpe são desprezíveis. Para se ter uma noção da disparidade, o que Temer e Bolsonaro fizeram, juntos, em pouco mais de três
anos equivale ao que FHC e Lula realizavam
em apenas 80 dias de governo.
No ano de 2019, a reforma agrária sofreu a
maior retração da história: nenhum assentamento foi criado e nenhuma propriedade
foi desapropriada para fins de reforma. O
governo Bolsonaro reconheceu apenas dois
territórios quilombolas que já tinham suas
áreas delimitadas em anos anteriores, sendo um deles após determinação judicial.
Em outras palavras, os dois únicos assentamentos de 2019 não foram resultado da
política do governo Bolsonaro.3
Analisando-se o número de famílias beneficiadas pelos assentamentos, a desproporção também é gigantesca. Se os governos
FHC, Lula e Dilma assentaram, em média,
61.356 famílias por ano, os números pós-golpe foram reduzidos a pouco mais de mil
famílias. E, obviamente, junto com a sensível diminuição do número de assentamentos, as políticas destinadas ao financiamento e crédito da agricultura familiar também
foram afetadas.
A verdade é que a política de reforma agrária, já bastante deficitária antes do golpe,
simplesmente passou a não existir. Pior: a
despeito da gigantesca desproporção na distribuição de terras – menos de 1% (um por
cento) dos estabelecimentos rurais concentra quase metade da área do território nacional – o que passou a suceder após 2016
foi uma política de contrarreforma agrária
e reconcentração fundiária estimulada pelo
aumento da emissão de títulos de posse
para assentados.
Já no primeiro ano do governo Temer, intensificou-se a titulação individualizada
de lotes e a transferência, em definitivo,
do imóvel rural ao beneficiário da reforma
agrária. Se, antes, a emissão de títulos dependia da comprovação de autossuficiência
dos assentamentos, com o governo Temer
tudo ficou mais fácil: somente em 2017, foram emitidos mais de 123 mil títulos, sendo
26.523 de domínio e 97.030 de concessão
de uso, o que supera a soma dos dez anos
anteriores, cuja média girava em torno de
20 mil títulos ao ano.
Essa política, aparentemente generosa às
famílias beneficiárias, objetiva, na verdade,
fomentar o mercado de terras. O resultado,
como não poderia ser diferente, é a reconcentração fundiária: famílias fragilizadas
vendem seus lotes ao agronegócio e os assentamentos do passado retornam ao patrimônio dos latifundiários. É a reforma agrária às avessas, em prejuízo da população
vulnerável e despossuída.
O governo Bolsonaro piorou o que já era
ruim. Subordinou a agenda fundiária e ambiental à pasta do agronegócio e, já no primeiro dia de governo, editou a Medida Provisória nº 870, de 01/01/2019, por meio
da qual exterminou a Secretaria Especial
de Agricultura Familiar, que concentrava
o restante das competências do extinto Mi-
3
DATALUTA. Boletim Dataluta, janeiro de 2020. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/nera/boletimdataluta/boletim_
dataluta_1_2020.pdf. Acesso em 21.04.2021.
175
nistério do Desenvolvimento Agrário. Pouco
depois, editou as Medidas Provisórias nºs
901 e 910 com o objetivo de destinar terras públicas ao agronegócio. A primeira cedia terras da União aos governos estaduais
de Amapá e Roraima, e a segunda ampliava
as possibilidades de regularização de terras
públicas ocupadas irregularmente em todo
país, uma premiação ao desmatamento e à
grilagem de terras.4
Além de reduzir a reforma agrária a praticamente zero, o governo passou a promover a violência e a criminalização dos movimentos sociais, defender o uso de armas
contra o campesinato que luta pela terra e,
ademais, liberar amplamente o registro e a
comercialização de agrotóxicos, prejudicando sobremaneira a saúde dos trabalhadores
do campo.
A verdade é que, após o golpe, surgiu um
governo anticamponês, antitrabalhador e
anti-indígena que fomenta desmatamento,
grilagem, especulação e estrangeirização de
terras. Tudo isso é capaz de aumentar os
conflitos no campo, as invasões de terras,
a violência contra sindicalistas, indígenas,
povos e comunidades tradicionais, além,
obviamente, de intensificar a vulnerabilidade de populações oprimidas, expulsando-as
de suas terras e abrindo caminho para o
trabalho escravo contemporâneo.
1.3. Mais autoritarismo
Além do aumento da desigualdade e da reconcentração fundiária, também as relações
autoritárias de poder se agravaram recentemente e passaram a pautar os discursos
e os debates nos mais variados setores da
sociedade. Se os valores democráticos pareciam ser a realidade do País, a destituição
abrupta e inadequadamente fundamentada
de uma presidente democraticamente eleita
foi capaz de fazer ressurgir um autoritaris-
mo adormecido.
Esse renascer da tirania e da autocracia fica
muito evidente no perfil do atual chefe do
Executivo: um capitão reformado do exército, que defende a política armamentista,
enaltece a ditadura militar e exalta o torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante
Ustra. O apreço pela democracia se esvaneceu e isso teve reflexos em vários setores da
sociedade, inclusive nas relações de trabalho.
Atualmente, esse autoritarismo se expressa sob variadas formas, desde o descumprimento sistemático e socialmente aceito da
legislação trabalhista, até o exercício abusivo do poder empregatício, como ocorre, por
exemplo, na coação dos trabalhadores para
votarem em determinados candidatos e partidos políticos: uma forma metamorfoseada
do “voto de cabresto”. Nas eleições de 2018,
o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu mais de uma centena de denúncias
dando conta de que empregados vinham
sendo pressionados por seus empregadores,
sob a pena de sanções diretas ou indiretas,
decorrentes de sua escolha.
Não custa lembrar que as relações de trabalho em âmbito rural estão mais sujeitas ao
coronelismo e a todo tipo de exercício abusivo do poder patronal, sobretudo porque,
além de fugir aos olhos dos órgãos públicos
fiscalizadores, é inegável o nível elevado da
distorção socio-econômica entre as partes
contratantes, resultado – inclusive, não apenas – da desqualificação da mão de obra, da
despovoação do ambiente, da fragilidade da
atuação sindical e da dificuldade de acesso
ao aparato jurídico estatal.
1.4. Menos proteção trabalhista e social
O país caminha novamente para o vazio
protecionista. Por meio de reformas tra-
4 DATALUTA. Boletim Dataluta, janeiro de 2020. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/nera/boletimdataluta/boletim_dataluta_1_2020.pdf. Acesso 21.04.2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
balhistas que reduzem a um nível bastante rasteiro o padrão de proteção da classe
trabalhadora, os governos pós-golpe promovem um verdadeiro colapso na proteção
social cujos efeitos são devastadores na salvaguarda em face do trabalho escravo.
sificar, ainda mais, esse feitio flexibilizante
subjacente ao aparato normativo trabalhista. A nova legislação desprotege, precariza e
transfere os riscos da atividade econômica
para o trabalhador, contrariando a própria
lógica protetiva do direito do trabalho.
Já no apagar das luzes de 2016, um ano
de instabilidade política marcado pelo golpe
parlamentar, o governo Temer apresentou à
Câmara dos Deputados um projeto de reforma trabalhista anunciado como um “belíssimo presente de Natal”. Fundada numa
suposta obsolescência da legislação trabalhista, a reforma almejaria “aprimorá-la”
e “modernizá-la”, proporcionando, assim,
condições vantajosas para a geração de empregos. Tratava-se, na verdade, da primeira
providência política destinada à devastação
do aparato jurídico-normativo trabalhista e
de tudo o que o circunda e resguarda. Era o
início de uma nova época: a do desmantelamento da proteção estatal.
A verdade é que a grande reforma do governo Temer – genuíno golpe na classe trabalhadora, resultado da ruptura democrática
– promoveu uma metamorfose na CLT: da
Consolidação das Leis do Trabalho à Consolidação do Livre-comércio do Trabalho.
A reforma, em seu conteúdo, contemplou
um pacote de maldades que viola os direitos humanos e vai de encontro à concepção
de trabalho decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual se refere ao trabalho juridicamente protegido que
contribui para a inclusão social da pessoa
trabalhadora, pressupondo, com efeito, o
respeito à dignidade humana por meio da
efetivação e da proteção dos direitos que lhe
são mais caros.
Muito embora as relações individuais de
trabalho no Brasil tenham sempre gozado
de uma plasticidade característica de países periféricos (p. ex. redutibilidade salarial
por negociação coletiva, compensação da
jornada de trabalho, possibilidade de encerramento unilateral do contrato de trabalho
etc), é inegável que a reforma veio para inten-
As alterações trabalhistas promovidas pelo
governo Temer não pararam na grande reforma. A Lei nº 13.429, de 31 de março de
2017, autorizou amplamente o instituto da
terceirização, aprovando a prestação de serviços por intermédio de terceiros em qualquer atividade empresarial, inclusive na
principal. Essa permissão, aparentemente
ingênua, talvez seja, de todas, a medida que
causa maior debilidade à condição social do
trabalhador. Afinal, terceirização e precarização são sinônimos exatos: não à toa, em
cada dez resgatados da condição análoga à
de escravo, aproximadamente nove são trabalhadores terceirizados.5
A sucessão de governos, longe de representar alguma mudança no programa de desregulamentação e precarização da proteção trabalhista, significou verdadeiramente
sua continuidade. O continuísmo ganhou
contornos particularmente autoritários, na
medida em que passou-se a utilizar medidas provisórias como técnica de governo de
modo a atender aos interesses escusos do
mercado.
Já nas primeiras horas de seu governo, no
primeiro dia de 2019, o presidente recém-empossado Jair Bolsonaro anunciava o fim
5
Conforme dados obtidos junto ao Departamento de Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do extinto Ministério do
Trabalho e Emprego, dos dez maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de escravos no País entre os anos
de 2010 e 2013, em 90% os trabalhadores vitimados eram terceirizados. Vide: https://reporterbrasil.org.br/2014/06/terceirizacao-e-trabalho-analogo-ao-escravo-coincidencia/.
177
do Ministério do Trabalho. O fim da pasta
era emblemático: simbolizava a perpetuação da política neoliberal que o precedeu e
a intensificação do aniquilamento de todos
os potenciais entraves à flexibilização trabalhista.
A extinção já sinalizava o retorno à pré-história jurídica mediante a desregulamentação nas mais distintas esferas do mundo do
trabalho. Indicava a corrosão dos direitos
sociais, a fragilização dos direitos econômicos, a precarização das condições de trabalho. E todo esse desmonte foi materializado em inúmeras medidas provisórias que
desoneraram os encargos incidentes sobre
a folha de pagamento e impuseram novas
reformas trabalhistas sem prévia discussão
social.
sua aprovação. Na verdade, as alterações
legislativas impactaram negativamente nas
ocupações, atuais e novas, mormente quanto às modalidades de contratação, remuneração e tempo de trabalho.
Ademais, os estudos comprovam que a reforma restringiu sensivelmente o acesso à
Justiça pelos trabalhadores e, com isso,
reduziu a efetividade dos direitos remanescentes. Além disso, ao invés de estimular a
negociação coletiva, conforme prometido,
os sindicatos foram atacados, sobretudo no
financiamento, e saíram fragilizados. Em
uma única palavra: precarização.
2. Enfraquecimento das políticas repressivas
2.1. Ataque à lista suja
Mas as reformas promovidas no Brasil pós-golpe não foram capazes de reduzir o desemprego e aumentar a formalização, conforme prometiam. Muito pelo contrário,
dados científicos e analíticos apontam exatamente o oposto: precarização e informalidade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), quatro em
cada dez profissionais trabalham por conta
própria ou sem carteira assinada no país,
a maior proporção desde 2016, quando o
IBGE passou a investigar o índice.
Na mesma linha, a Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma
Trabalhista (Remir), constituída por professores e pesquisadores de instituições brasileiras que se debruçam sobre a temática,
demonstra que a reforma não cumpriu as
promessas que embasaram sua implementação. No livro Reforma trabalhista no Brasil: promessas e realidade, os pesquisadores asseveram que, se a reforma incitou a
redução da formalização, a economia não
apresentou sinais de melhora, anos após
Há mais de uma década, o Estado brasileiro instituiu um mecanismo de combate à
escravidão contemporânea consistente na
ampla divulgação de uma lista onde constam os nomes dos empregadores que submetem trabalhadores a condições análogas
à de escravo. Tal instrumento integra o catálogo de políticas adotadas pelo Brasil no
enfrentamento à escravidão, após a assunção de compromissos nesse sentido perante
a comunidade internacional.
Não há dúvida de que a efetivação deste
mecanismo de combate à escravidão não se
revela política de governo passível de ampla discricionariedade do administrador, de
acordo com eventual conveniência e oportunidade, mas de uma política de Estado com
natureza perene. Trata-se de um compromisso assumido pelo País que independe de
qualquer conotação partidária ou ideológica
e não pode ser interrompido. O governo Temer, no entanto, tentou alterar esse modelo
ao esconder os nomes dos empregadores,
deixando de divulgar o cadastro.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
À época do golpe, a lista suja era regulamentada pela Portaria nº 4, de 13 de maio
de 2016, publicada conjuntamente pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social
(MTPS) e pelo Ministério das Mulheres, da
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos
(MMIRHD). A despeito da previsão normativa, o governo Temer mantinha-se inerte no
seu dever de cumprir os atos previstos no
referido instrumento normativo: publicação
e atualização da lista de empregadores que
se utilizam do trabalho escravo contemporâneo.
A despeito da decisão definitiva que impôs à
União a publicação e atualização da lista, de
lá para cá, não foram poucas as tentativas
de se esquivar de tal incumbência. Ainda
em 2017, o governo Temer editou a Portaria nº 1.129 que condicionava a eficácia da
decisão administrativa sobre o auto de infração e, com efeito, a inclusão do nome do
empregador na lista suja do trabalho escravo à determinação do Ministro do Trabalho.
Ou seja, na prática, a lista suja ganhava um
viés político e passava a depender da vontade individual do Ministro.
A omissão deliberada, para além do desrespeito aos compromissos assumidos pelo
País perante a comunidade internacional,
inviabilizava a plena materialização de dois
relevantes fundamentos do Estado Democrático de Direito: o direito à informação e à
transparência administrativa.
Muito embora referido ato normativo tenha
tido seus efeitos suspensos pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) e tenha sido posteriormente revogado pelo próprio governo, não cessaram as tentativas de acabar
com a lista suja. Até hoje, há vozes dentro
da estrutura governamental que objetivam
estabelecer uma nova regulamentação que
esvazie o conteúdo da lista e acoberte os
responsáveis pela submissão de trabalhadores à escravidão contemporânea.
Considerando a insistente negligência governamental, o MPT, por meio da sua Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), ajuizou uma Ação
Civil Pública em desfavor da União e do Ministro do Trabalho com a finalidade de lhes
impor, judicialmente, a divulgação nominal
dos empregadores que submetem trabalhadores a condições análogas à de escravo. A
ação foi o último recurso encontrado pelo
MPT para enfrentar a postura omissiva e o
notório desinteresse do governo na publicação da lista.
Em decisão fundamentada em fontes do direito interno e internacional, além da observância de princípios constitucionais, o juízo
da 11ª Vara do Trabalho de Brasília deferiu
a liminar postulada na ação, para o fim de
obrigar o Ministério do Trabalho a publicar
a lista prevista na Portaria Interministerial
nº 4, de 2016. A decisão foi combatida por
meio de sucessivos recursos, não tendo o
governo logrado êxito.
2.2. Ataque ao conceito legal
O conceito legal de trabalho escravo encontra-se estabelecido no art. 149 do Código
Penal. Diz o texto:
Reduzir alguém a condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de
trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto.
Referida definição normativa, formulada no
ano de 2003, introduz os principais fatores
capazes de tolher a autodeterminação da vítima: trabalho forçado, jornada exaustiva,
condições degradantes e restrição de locomoção em razão de dívidas. Ao fazê-lo, o legislador esclareceu didaticamente o que é o
179
trabalho escravo e, seguindo o entendimento da literatura jurídica e da jurisprudência
dos nossos Tribunais, facilitou a tipificação
do delito.
Apesar dos elogios dos organismos internacionais, que passaram a celebrar o modelo brasileiro de enfrentamento à escravidão
contemporânea, a verdade é que o conceito
legal de trabalho escravo sempre foi bastante criticado pela grande maioria dos
empregadores e por sua representação no
Congresso Nacional. Sob o fundamento de
um suposto “subjetivismo” ou mesmo uma
alegada “imprecisão”, não foram poucas as
tentativas de alterar a definição legal na
casa legislativa central.
Antes do golpe, no entanto, qualquer investida no sentido de esvaziar o conceito
legal era mais custosa. Não apenas porque
os governos anteriores eram mais sensíveis
às causas trabalhadoras e comprometidos
com as políticas de enfrentamento à escravidão contemporânea, mas, sobretudo, porque Lula e Dilma haviam assinado, à época
das eleições presidenciais de 2006, 2010 e
2014, uma carta-compromisso contra o trabalho escravo. O documento, apresentado
perante a Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), previa o compromisso de defender a definição
de trabalho escravo presente no artigo 149
do Código Penal, de modo a evitar mudanças que prejudicassem o combate ao crime.
Após o golpe, as coisas mudaram. Tudo ficou mais fácil para a representação patronal no parlamento, sobretudo para a bancada ruralista, que ganhou espaço e poder
no governo Temer. As investidas ficaram,
então, mais intensas.
Primeiro, tentou-se “regulamentar” a Emenda Constitucional nº 81 com a proposta de
aprovação de um texto que reduzia as hipóteses legais de trabalho escravo. Sob a fal-
sa aparência de normatizar a expropriação
de terras, o projeto de lei nº 432/2013, de
autoria do senador Romero Jucá, líder do
governo no Senado Federal e fiel aliado da
bancada ruralista do Congresso Nacional,
objetivava alterar o conceito legal de trabalho escravo e condicionar sua ocorrência à
restrição da liberdade de ir e vir, ou seja, ao
cárcere privado. Foi necessário que Kailash
Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz, fizesse um
apelo direto ao então Presidente do Senado
Federal para que o projeto tivesse sua tramitação momentaneamente suspensa.
Se o caminho no parlamento era de alguma
forma tortuoso, a solução era promover a alteração por vias menos oblíquas. Na segunda metade de 2017, o governo Temer editou
uma portaria que alterava o conceito de trabalho escravo e dificultava a fiscalização e o
enfrentamento.
A Portaria nº 1.129/2017 representava uma
grave iniciativa para enfraquecer o combate
ao trabalho escravo no Brasil. No seu primeiro artigo, a Portaria violava o Código Penal e as Convenções 29 e 105 da Organização Internacional do Trabalho, ratificadas
pelo País, modificando o conceito de trabalho escravo e condicionando sua ocorrência
à restrição da liberdade física de ir e vir, requisito inexistente na definição prevista em
nossa legislação.
O escravo, como se sabe, não é apenas o trabalhador acorrentado e enclausurado, mas
também aquele que dorme com animais e
com eles compartilha sua comida e bebida,
tendo violada sua dignidade. Nesse sentido,
a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ao condenar o Estado brasileiro
(caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde), deixou claro que a ocorrência da escravidão nos dias atuais prescinde da limitação
da liberdade de locomoção. A Corte afirmou
que o trabalho escravo contemporâneo ocorre quando um homem exerce sobre o seu
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
semelhante, direta ou indiretamente, um
dos “atributos do direito de propriedade”, o
que inclui a “posição de vulnerabilidade da
vítima” e a “exploração”.
A verdade é que a Portaria atendia aos interesses patronais, mormente daqueles que
exploram e escravizam, no sentido de chamar de escravo apenas quem esteja aprisionado por grades ou grilhões, não importando as condições subumanas das vítimas,
exploradas de sol a sol e que habitam com
animais, com eles compartilhando o teto e
a vida.
Ao estabelecer a observância dos aludidos
conceitos em todas as fiscalizações procedidas pelo órgão fiscalizador, inclusive para
fins de inclusão do nome de empregadores
na lista suja do trabalho escravo, a Portaria
restringia a atuação dos Auditores-Fiscais
do Trabalho. Em um só artigo a Portaria
buscava aniquilar a atuação da auditoria
do trabalho e esvaziar a relação dos nomes
constantes no cadastro de empregadores
que se valem do trabalho escravo.
Para além de esvaziar o conceito legal de
trabalho escravo, a Portaria estabelecia
uma série de exigências burocráticas para a
lavratura do auto de infração com objetivos
muito nítidos: dificultar o trabalho do órgão
fiscalizador, enfraquecer as ações de fiscalização e favorecer a defesa administrativa
dos responsáveis pela submissão de trabalhadores a condições de escravidão.
Em arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), o STF suspendeu os
efeitos da Portaria 1.129/2017 sob o argumento de que ela afasta indevidamente as
figuras jurídicas da submissão a trabalho
forçado, da submissão à jornada exaustiva e da sujeição a condição degradante de
trabalho, e com isso atenua o alcance das
políticas de repressão, de prevenção e de
reparação às vítimas do trabalho escravo.
De acordo com a decisão, a conceituação
restritiva “divorcia-se da compreensão contemporânea, amparada na legislação penal
vigente no país, em instrumentos internacionais dos quais o Brasil é signatário e na
jurisprudência desta Suprema Corte”.
Após a decisão judicial desfavorável e a repercussão social negativa decorrente da
tentativa de inviabilizar a política de combate ao trabalho escravo, o governo recuou
e editou uma nova Portaria, nº 1293/2017,
que restabeleceu o conceito original e aperfeiçoou os pontos insatisfatórios.
2.3. Ataque à auditoria do trabalho
O sucateamento dos órgãos públicos comprometidos com a repressão ao trabalho
escravo não é novidade em nosso país. A
política de austeridade fiscal e as severas
restrições orçamentárias que colocam em
risco a prestação de serviços públicos, inclusive os mais essenciais, decorrem do modelo neoliberal que vem sendo implementado como algo natural e inexorável ao redor
do mundo, sobretudo nos países periféricos,
como é o caso do Brasil.
Com efeito, muito embora os governos Lula
e Dilma tenham avançado na estruturação
de carreiras públicas em relação aos governos anteriores, muito deixaram a desejar no
sentido de estruturar, a contento, os órgãos
responsáveis pela execução dos serviços de
Estado. A situação da auditoria-fiscal do
trabalho merece ser analisada com especial
atenção.
Em 1994, o Brasil contava com 2.720 Auditores-Fiscais do Trabalho. O número manteve-se estável por duas décadas: em 2014,
eram 2.713 Auditores-Fiscais no exercício
de suas funções. Apesar da relativa estabilidade, a população economicamente ativa do País aumentou consideravelmente:
saiu dos arredores de 67 milhões, em 1994,
181
para a casa dos 100 milhões, em 2014.6
Isso significa que, em termos proporcionais
à população economicamente ativa, houve
significativa redução do número de Auditores-Fiscais do Trabalho, mesmo durante
os governos petistas. Também em relação
à população ocupada e ao número total de
empresas e outras organizações empregadoras, foco em potencial das fiscalizações,
o quantitativo de Auditores-Fiscais do Trabalho foi sensivelmente reduzido em termos
proporcionais.
Por qualquer ângulo que se observe, houve deterioração no quadro da inspeção do
trabalho: enquanto todos os indicadores
das dimensões do mercado de trabalho tiveram forte aumento, o número de Auditores-Fiscais permaneceu relativamente estável,
apresentando uma pequena queda.
Após o golpe, tudo piorou sensivelmente. A
Emenda Constitucional nº 95/2016 — denominada Emenda do “Teto dos Gastos” —
instituiu um novo regime fiscal que vigorará
por vinte anos. Ao estabelecer, para cada
exercício financeiro, um limite individualizado equivalente à despesa primária paga
no exercício de 2016, corrigida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
– IPCA, o governo implementou um severo
arrocho fiscal e diminuiu sensivelmente o
tamanho do Estado.
Desde então, não houve concurso para a
carreira de Auditor-Fiscal do Trabalho. Ninguém foi nomeado. As aposentadorias e
exonerações, por outro lado, mantiveram-se
em ritmo normal. Até o momento em que
este texto foi escrito, o país contava com
aproximadamente 2.090 Auditores-Fiscais
do Trabalho, o menor número em mais de
trinta anos. O número deficitário, além de
6
proteger o descumpridor da lei, contribui
decisivamente para a perpetuação da escravidão contemporânea, mormente porque a
fiscalização trabalhista é a base da política
repressiva de combate ao trabalho escravo
no País.
Não bastasse, a restrição de gastos públicos
tem sido tão intensa que chegou a ponto de
colocar em risco as atividades de fiscalização de casos de trabalho escravo, por razões de ordem orçamentária. A despeito dos
compromissos assumidos pelo Estado brasileiro em âmbito interno e externo, o governo deixou de disponibilizar os recursos necessários para a continuidade dos trabalhos
do Grupo Móvel, fazendo-o, em meados de
2017, parar pela primeira vez desde o seu
surgimento, em 1995.
Após o MPT ajuizar uma ação em face da
União para garantir o repasse de recursos
à Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT)
e, assim, viabilizar a continuidade das operações deflagradas pelo Grupo Móvel,7 o governo permitiu o prosseguimento das forças-tarefas de combate ao trabalho escravo.
Além do estancamento momentâneo das
atividades do Grupo Móvel, que causou prejuízos diretos e irreversíveis à coletividade
de trabalhadores alcançada pelas operações deflagradas para atender denúncias
de trabalho escravo, os cortes atingiram
todas as fiscalizações de rotina promovidas
pela auditoria-fiscal do trabalho. De acordo com reportagem da Folha de São Paulo8,
os recursos para fiscalizações trabalhistas
caíram quase que pela metade no governo
Bolsonaro, em comparação com a média de
anos anteriores. Se, de 2013 a 2018, a verba destinada para fiscalizações trabalhistas
era, em média, de R$ 55,6 milhões anuais, a
http://www.ipeadata.gov.br/. Acesso em 21.04.2021
https://oglobo.globo.com/economia/mpt-entra-com-acao-para-obrigar-governo-manter-fiscalizacao-contra-trabalho-escravo-21742676. Acesso em 21.04.2021
8
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/09/verba-para-fiscalizacoes-trabalhistas-cai-pela-metade-no-governo-bolsonaro.shtml. Acesso em 21.04.2021.
7
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
partir de 2019, a quantia foi reduzida abruptamente para R$ 29,3 milhões, em média,
o menor valor de toda a série histórica do
Sistema de Planejamento e Orçamento do
Ministério da Economia, iniciada em 2013.
oca do Paraná, na cebola de Santa Catarina; está na laranja de São Paulo, no milho
do Rio Grande do Sul, no sisal da Bahia. O
trabalho escravo está onipresente e precisa
ser enfrentado.
O descaso dos governos pós-golpe com a
política repressiva pode ser traduzido em
números: de acordo com os registros da Comissão Pastoral da Terra, de 2016 a 2020
foram resgatados, em média anual, 686 trabalhadores submetidos à escravidão contemporânea, quantitativo bastante inferior
à média de 1995 a 2015, superior a 2 mil
trabalhadores resgatados por ano.
Linhas conclusivas
Nada obstante os baixos números, os registros da CPT deixam evidente a perpetuação
do problema em território nacional e a necessidade de se fortalecer o aparato de fiscalização preventiva e repressiva. Afinal, o
trabalho escravo contemporâneo se faz presente em todos os estados da Federação e
nas mais distintas atividades econômicas:
está na extração de madeira do Amazonas,
nas carvoarias de Goiás, na pecuária do
Maranhão; está no café de Minas Gerais, na
soja do Mato Grosso do Sul, no garimpo do
Pará; está na carnaúba do Piauí, na mandi-
9
https://sit.trabalho.gov.br/radar/. Acesso em 21/04/2021.
Os cortes em setores essenciais à proteção
de hipossuficientes e vulneráveis são a tônica dos governos pós-golpe. Os elevados cortes orçamentários em áreas prioritárias e o
sucateamento da auditoria do trabalho têm
colocado em xeque todas as políticas preventivas e repressivas de combate ao trabalho escravo adotadas pelo Estado brasileiro,
até então, uma referência em âmbito externo no enfrentamento à escravidão contemporânea.
Em vez de limitar gastos e atrofiar o Estado,
seria preciso investir fortemente. Se, passados vinte e cinco anos do início do combate
ao trabalho escravo, foram resgatados mais
de 55 mil trabalhadores9, ainda há muito o
que fazer para devolver a dignidade e a humanidade a tantos que aguardam sua tão
sonhada liberdade.
183
Tabela 6 - Conflitos Trabalhistas (2020)
13
1
UF
Trabalho Escravo
Ocorrências
Superexploração
Trab. na
Denúncia
Libertos Menores Ocorrências
Trab. na
Denúncia
Total UF
Resgatado Menores Ocorrências
Trab. na
Denúncia
Centro-Oeste
DF
GO
8
41
40
2
8
41
MS
4
63
63
14
4
63
2
3
16
14
107
MT
2
3
3
14
107
106
10
94
69
10
94
4
37
22
4
37
3
43
43
1
3
43
17
174
134
1
17
174
1
14
11
1
14
PA
9
186
116
9
186
RO
3
9
8
3
9
Subtotal
Nordeste
AL
BA
CE
MA
PB
PE
PI
RN
SE
Subtotal
Norte
AC
AM
AP
1
RR
TO
Subtotal
3
65
5
1
3
65
16
274
140
2
16
274
31
387
287
5
31
387
Sudeste
ES
MG
RJ
SP
4
49
49
4
49
35
436
336
5
35
436
PR
1
5
5
1
1
5
RS
3
5
5
SC
10
103
84
Subtotal
Sul
4
3
5
10
103
Subtotal
14
113
94
5
14
113
Brasil
96
1104
810
29
96
1104
*Além destes dados de trabalho escravo rural, houve 16 denúncias de trabalho escravo na área urbana, envolvendo 294
trabalhadores, dos quais 230 foram resgatados.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Trabalho escravo e
superexploração do trabalho no Brasil em
tempos de pandemia
Cesar Sanson1
Introdução
O relatório da Comissão Pastoral da Terra
(CPT) Conflitos no Campo Brasil 2020, particularmente tomando como referência o
mundo do trabalho, precisa ser lido à luz da
história do trabalho no Brasil, que se traduz
numa história de violência contra os trabalhadores, agravada neste momento pela
pandemia do coronavírus.
A sociedade do trabalho brasileira sempre
se caracterizou por sua histórica, duradoura e permanente exclusão de milhares de
pessoas. O DNA que compõe e recompõe a
sociedade do trabalho brasileira é a do seu
passado escravocrata, que se perpetua nas
reincidentes manifestações de flagrantes
desrespeitos à dignidade de milhares de trabalhadores.
Como revela Caio Prado Jr. (2000), no Brasil
se desenvolveu um sistema produtivo voltado apenas para a satisfação dos interesses
de poucos, de uma elite gananciosa, quase sempre subordinada ao capital de fora.
Esses poucos ele denomina de “setor orgânico”. Por outro lado, para que o setor orgânico possa desfrutar dessa condição de
privilégios faz-se necessário um “setor inorgânico” que se constitui como apêndice do
setor orgânico. Aqui se situam os milhares
de trabalhadores arrastando-se diariamente
em sua miserável condição de vida, convivendo com altos índices de desemprego, gigantesca informalidade e baixos rendimen-
tos, fazendo com que muitos desses flertem
com a fome.
Fato inconteste é que, tristemente, no que
toca ao mundo do trabalho, caracterizamo-nos muito mais como uma sociedade estamental do que de classes. Essa perversidade se traduz no fato de que, na condição
estamental, não há direitos. Pior ainda: há
uma negação do direito a ter direitos. Ao
menos na sociedade de classes parte-se do
pressuposto de um direito reservado aos
trabalhadores, o direito de trocar a sua mão
de obra por um rendimento ou ainda de se
negar a determinadas condições de trabalho
que atentem contra a sua dignidade.
A condição estamental vem se acentuando
por meio do sistemático e reiterado ataque
aos direitos dos trabalhadores, particularmente nos últimos três a quatro anos. Está
em curso um desmonte sem precedentes de
toda a legislação de proteção aos trabalhadores, de destroçamento da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT) e da Previdência
Social. A ordem do capital é desregulamentar. Essa realidade manifesta-se por meio
da alteração das normas que se ajustam às
condições do mercado: contrato de trabalho, remuneração e jornada de trabalho. É
nesse contexto que deve ser compreendida a
lei da terceirização e a reforma trabalhista,
ambas de 2017. Essas reformas não foram
feitas para gerar mais empregos, como mentirosamente argumentaram os empresários,
mas para atender aos interesses do capital.
1
Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professor do Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
185
Faz-se necessário aqui um recorte para dialogar com o relatório da CPT Conflitos no
Campo Brasil 2020. É de amplo conhecimento que, em seu nascedouro, o direito
ao trabalho e o acesso à previdência social
foram reservados apenas aos trabalhadores
urbanos. Quando Vargas criou a CLT, em
1943, o seu rol de direitos era apenas destinado aos trabalhadores urbanos, assim
como o direito à sindicalização e à previdência social. Aos trabalhadores rurais tudo
isso foi negado. Vargas, fiel a sua origem de
latifundiário, não ousou confrontar o poder
das oligarquias da qual fazia parte. Com
isso, se quer afirmar que, se aos trabalhadores urbanos, sob a perspectiva de direitos, abriu-se uma porta de inclusão, mesmo
com limitações, aos trabalhadores rurais
ela foi fechada.
Associado a isso é preciso nunca esquecer,
como nos diz Florestan Fernandes (2006),
que a oligarquia rural brasileira sempre foi
violenta. No Brasil, destaca o sociólogo, diferentemente dos países centrais e mesmo dos
Estados Unidos, assistiu-se a um processo
de recomposição das estruturas de poder
entre a oligarquia e a burguesia emergente, por meio da conciliação dos interesses
dessas duas classes. Tal situação permitiu
a associação entre o modelo burguês de dominação e os procedimentos autocráticos e
conservadores da oligarquia, o que transformou o Estado brasileiro numa instituição
avessa à efetiva participação e inclusão da
população em seus destinos. Ou seja, o que
caracteriza a nossa elite é uma profunda
aversão aos trabalhadores, aos pobres.
O governo Bolsonaro é estrato desse agrupamento social que permeia a história brasileira e, sob a perspectiva do trabalho, é
emblemático que defenda a ideia de que ao
trabalho não se vinculam direitos. A afirmação “trabalho ou direitos” em pleno século
XXI é simbólica da história brasileira, uma
história de, ao menos no trabalho, da nor-
matização da exclusão e da violência social.
Os relatórios sobre os conflitos no campo
que anualmente a CPT publica nos recordam tristemente que o trabalho escravo e
a superexploração do trabalho se tornaram
constitutivos à estrutura da dinâmica da organização social do trabalho em nosso país.
É a partir dessa perspectiva sócio-histórica
que os dados do relatório devem ser compreendidos.
Ainda sobre a leitura do relatório, faz-se
necessário ter presente que os registros de
trabalho escravo e superexploração do trabalho que a CPT nos apresenta são subnotificados e tampouco estão registradas as
ocorrências urbanas; ou seja, o tamanho
do problema é bem maior e mais grave do
que se imagina. A subnotificação, por outro
lado, também deve ser interpretada a partir
de duas outras dinâmicas recentes: a pandemia da COVID-19 e o desmonte sistemático das estruturas e dos recursos para a
fiscalização do trabalho escravo e da superexploração do trabalho no Brasil.
As ocorrências registradas, mesmo que
muito aquém do que efetivamente representam, são, entretanto, mais do que suficientes para uma amostragem da perversidade
e da barbárie que se instalaram na realidade do trabalho na sociedade brasileira. Não
é exagero afirmar que bastaria um caso de
registro de trabalho escravo para revelar o
caráter desviante de determinada sociedade. O que dizer de uma sociedade que transformou uma monstruosidade em algo “normal”?
Na sequência, apresentamos uma breve
análise dos dados do relatório da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) Conflitos no Campo Brasil, ano de 2020, tendo como recorte
temporal a década de registros efetivados. A
opção pelo recorte temporal decenal deve-se
ao fato de que uma leitura mais estrutural
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
do que conjuntural permite uma interpretação mais realista daquilo que se constitui
a realidade desviante do trabalho no campo
brasileiro.
Análise dos dados do trabalho escravo –
recorte temporal da última década
A legislação brasileira, tomando como referência a Lei nº 10.803, de 11 de dezembro de
2003, considera quatro aspectos que configuram trabalho em condições semelhantes
à escravidão: 1ª - condições degradantes
de trabalho (incompatíveis com a dignidade
humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais que coloquem em risco
a saúde e a vida do trabalhador); 2ª - jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de
trabalho que acarreta danos à sua saúde ou
risco de vida); 3ª - trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes,
isolamento geográfico, ameaças e violências
físicas e psicológicas) e 4ª - servidão por dívida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um débito e prendê-lo a ele).
É importante registrar que ao longo dos últimos anos os setores conservadores, particularmente aqueles ligados aos ruralistas,
tentam alterar essa legislação. É objetivo
desses setores flexibilizar a legislação, deixando-a fluida para que possam descaracterizar o trabalho escravo e fugir das consequências penais imputáveis. Ao mesmo
tempo, tentam de forma reiterada extinguir
o cadastro “lista suja”, criado por pressão
dos movimentos sociais, que relaciona empregadores flagrados explorando trabalhadores.
O gráfico 1 registra a quantidade de ocorrências de trabalho escravo por ano num recorte temporal de uma década (2011-2020).
Os números revelam 1.160 ocorrências,
envolvendo 17.647 trabalhadores e 10.506
libertos. Os dados são demonstrativos da
regularidade e da permanência dessa condição de trabalho no território rural brasileiro. A incidência da redução de ocorrências a
partir de 2016 pode estar associada ao fato
de que nesse ano houve uma ruptura institucional no país com a deposição da presidente Dilma Rousseff e início do governo
Michel Temer; na sequência com o governo
Bolsonaro, viu-se que as estruturas, os mecanismos e os instrumentos de fiscalização
do trabalho escravo começaram a ser fragilizados. É uma hipótese que demanda mais
estudos e pesquisas, mas guarda certa razoabilidade na medida em que as forças-tarefas que desenvolviam as atividades de fiscalização perderam potência.
Gráfico 1: Ocorrências de trabalho escravo
2011-2020
Fonte: Cedoc
25/03/2021.
Dom
Tomás
Balduino
-
CPT
-
Nesse contexto, é grande a probabilidade de
que a subnotificação de casos tenha crescido, uma vez que os interesses dos ruralistas ganharam força na administração do
governo federal a partir de 2019. Um dos
acontecimentos mais emblemáticos do aparelhamento do Estado pelos interesses do
agronegócio foi a fala do ministro do Meio
Ambiente Ricardo Salles, na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, em que afirmou que o governo deveria aproveitar-se da
repercussão da pandemia da COVID-19 na
imprensa para “passar a boiada”, ou seja,
atropelar toda e qualquer legislação restri-
187
tiva à exploração do meio ambiente, desfazê-la e mutilá-la com o objetivo de favorecer
os interesses dos ruralistas. Por outro lado,
o discurso presidencial sempre foi o de relativizar o desmatamento, a invasão de territórios indígenas, a exploração de Unidades
de Conservação etc., estimulando, dessa
forma, práticas ilícitas. É inegável a sensação de impunidade entre setores do agronegócio brasileiro, que passaram inclusive
a intimidar a fiscalização dos profissionais
de instituições como o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e do antigo Ministério
do Trabalho. As três coisas combinadas –
ataques à legislação ambiental, fragilização
da fiscalização e estímulo indireto a práticas
criminosas – provavelmente aumentaram o
número de casos caracterizados como trabalho escravo, mas que, pelas razões expostas acima, acabam sendo subnotificados.
Gráfico 2: Trabalho escravo por região 20112020
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
25/03/2021.
O gráfico 2 registra o maior número de ocorrências de trabalho escravo na Região Norte
(429 casos). O dado é compreensível quando
se considera que há um processo contínuo
de expansão do capitalismo brasileiro na região, particularmente na Amazônia Legal.
A região já foi palco de um primeiro ciclo
de exploração, nos anos 1970, a partir da
tese da geopolítica de segurança dos milita-
res que decidiram ocupá-la com o projeto de
transferência de populações para a região.
O ciclo desenvolvimentista em curso na região neste momento, entretanto, é incomparavelmente maior, e o aumento da violência
e dos impactos ambientais e sociais na região está relacionado a essa nova dinâmica.
A região se constituiu numa plataforma de
exportação de commodities – primarização
da economia – sobretudo para outros países. Logo, a incidência de um maior número
de casos de trabalho escravo na região deve-se a essa dinâmica.
Quando se somam as ocorrências do Centro-Oeste (188 casos) com as ocorrências do
Norte (429 casos) – regiões marcadamente
caracterizadas pelo latifúndio e pela monocultura – chegamos a 617 registros, ou seja,
mais de 50% dos casos na última década
de trabalho escravo se concentram nessas
duas regiões. Por outro lado, é expressivo
o número de ocorrências de trabalho escravo na Região Nordeste (241 registros), o
que não chega a ser surpreendente, considerando que se trata de uma região de forte
herança coronelista na qual há uma forte
cultura de desrespeito aos direitos dos trabalhadores rurais. Mesmo no “rico” Sudeste, é surpreendente o registro de ocorrências
(198 casos). Verifiquemos, na sequência, em
que tipologias maiores incidem os casos de
trabalho escravo.
Análise dos tipos de trabalho escravo
2011 a 2020
Os gráficos 3 e 4 registram o número de
ocorrências por tipos de trabalho escravo ao
longo da última década (2011-2020), distribuídas por ano.
No gráfico 3, tomando como referência apenas o número superior a 50 ocorrências
ao longo da última década, verifica-se que
a maior incidência de trabalho escravo se
concentra em atividades econômicas como
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
a pecuária (437 casos), carvoaria (161 casos), café (69 casos). O gráfico 4, por sua
vez, registra as ocorrências por tipos de
trabalho escravo até 50 casos. Sobressaem
aqui atividades como desmatamento (49
casos), extrativismo (43 casos), soja (31 casos), outras lavouras (27 casos), eucalipto
(25 casos), garimpo de ouro e cobre (23 casos), olaria (21 casos), agrotóxicos, algodão
(18 casos), serviços gerais (17 casos) e erva-mate (15 casos).
Gráfico 5: Trabalho escravo na pecuária
(2011 – 2020)
Gráfico 3: Tipos de trabalho escravo – registros acima de 50 ocorrências (2011 – 2020)
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
25/03/2021.
Fonte: Cedoc
25/03/2021.
Dom
Tomás
Balduino
–
CPT
–
Gráfico 4: Tipos de trabalho escravo – registros até 50 ocorrências (2011 – 2020)
Fonte: Cedoc
25/03/2021.
Dom
Tomás
Balduino
–
CPT
–
Chama atenção, quando se toma como referência os gráficos 3 e 5, a quantidade exponencial de situações de trabalho escravo na
pecuária, particularmente na Região Norte.
As reiteradas ocorrências nessa atividade
estão associadas (437 registros) à contínua
valorização da commodity bovina, uma das
principais na pauta da exportação internacional brasileira. É grande a probabilidade
de que outras situações de trabalho escravo, como a roçagem e o desmatamento, para
ficar em duas, associem-se, muitas vezes, à
atividade pecuária.
Gráfico 6: Trabalho escravo em carvoarias
(2011 – 2020)
Fonte: Cedoc
25/03/2021.
Dom
Tomás
Balduino
–
CPT
–
189
Outra tipologia de trabalho escravo que chama a atenção pelo alto número de incidência
e reincidência regular ao logo da década é o
trabalho escravo em carvoarias (161 casos),
quase sempre clandestinas. Destaca-se
aqui que o número maior de registros ocorre
no Sudeste (63 casos), com maior incidência em Minas Gerais (59 casos), em função
de que, efetivamente, se trata da região de
maior mercado consumidor dessa commodity. O trabalho escravo em carvoarias se
constitui em uma das situações que impõe
grande sofrimento aos trabalhadores por se
exporem ao calor, à fumaça, à fuligem, ao
pó, ao carregamento excessivo de peso etc.
uma linha tênue entre superexploração do
trabalho e trabalho escravo.
Novamente, faz-se necessário destacar aqui
que os registros de superexploração no trabalho são subnotificados, ou seja, a quantidade de casos é infinitamente maior, ainda
mais numa conjuntura de altíssimo desemprego e informalidade e de incentivo à burla
de direitos, preconizada pelo próprio governo. As ocorrências registradas pelo relatório
são suficientes, entretanto, para dar uma
amostra do tamanho do problema.
Gráfico 7: Conflitos trabalhistas por ramo
de atividade (2011-2020)
Superexploração no trabalho
O relatório Conflitos no Campo Brasil 2020
apresenta também registros caracterizados
como superexploração no trabalho. Essa
categoria corresponde a situações de flagrantes desrespeitos aos direitos dos trabalhadores, como ausência de contrato de
trabalho, não pagamento ou pagamento
parcial de salário ou de não pagamento ou
pagamento parcial acordado por empreitada, jornadas de trabalho excessivas, não
pagamento de horas extras, desvio de função da atividade contratada, condições de
trabalho penosas como insalubridade, ausência de equipamentos de proteção individual, exposição a agrotóxicos, acidentes
de trabalho etc. Muitas dessas situações,
principalmente quando os trabalhadores se
insurgem contra elas, derivam para afastamento sumário do trabalho, humilhações,
intimidações, ameaças de morte, tentativas
de assassinato e até mesmo mortes, como
destacam os registros do relatório.
O relatório registrou, nos últimos dez anos,
80 casos de superexploração no trabalho
no campo brasileiro, envolvendo um total
de 1.119 trabalhadores em atividades como
café, cana-de-açúcar, carcinicultura, carvoaria, eucalipto, garimpo, laranja, lavoura,
madeira, mineração, pecuária, roçagem e
serviços gerais. O relatório identifica o município em que aconteceu o registro, a fazenda, a data e o tipo de superexploração.
A superexploração no trabalho é acompanhada, muitas vezes, da ausência de uma
dieta alimentar razoável, de condições de
moradia deficitárias, de negligência com
problemas de saúde etc. Não é exagero afirmar que, em muitos casos, se configura
Os dados evidenciam que os maiores casos
de superexploração estão, sobretudo, associados à pecuária (28 casos). Assim como no
trabalho escravo, essa atividade econômica,
realizada muitas vezes de forma clandestina,
é um foco de atos ilícitos praticados pelos
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
“empregadores”. Chama a atenção também
o registro de 12 ocorrências na atividade
cana-de-açúcar, um setor tradicionalmente vinculado a flagrantes desrespeitos aos
direitos dos trabalhadores. Em ambos os
casos e também em muitos outros, é chocante perceber pelos dados que muitos dos
conflitos resultaram em ameaças de mortes
e até mesmo mortes. Tal desfecho é bastante típico da violência da burguesia agrária
brasileira, que sequer, minimamente, assimilou as regras civilizatórias de respeito à
vida. Mata-se porque não se quer respeitar
direitos. O ganho vale mais do que a vida.
Não é gratuito que se associem setores do
ruralismo brasileiro ao atraso e não ao conservadorismo. Mais do que conservadores,
setores do patronato no campo são atrasados.
Gráfico 8: Incidência de conflitos trabalhistas por região (2011-2020)
Percebe-se pelo relatório, acompanhando a
mesma dinâmica do trabalho escravo, que
a maior incidência de superexploração de
trabalho ocorre na Região Norte do país,
que computa 51 (64%) das ocorrências. Não
surpreende esse dado, uma vez que é notória, na Região Norte, a manifestação dos
maiores conflitos agrários, resultantes de
uma estrutura fundiária concentradora de
terra e renda, de distâncias incomensuráveis, ausência de fiscalização, reiteradas
práticas de violência e sentimento amplo de
impunidade.
Pandemia da COVID-19 e o trabalho
A pandemia do novo coronavírus escancarou ainda mais a vulnerabilidade em que
vivem os trabalhadores. Entre as maiores
vítimas da crise sanitária estão aqueles que
já se encontravam em condições de vida e
trabalho precárias. A crise da pandemia tornou mais grave os indicadores de desigualdade e pobreza em nosso país. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados 2021, 40 milhões de pessoas encontram-se na pobreza, com renda
per capita de até R$ 89,00 por mês, sendo
que 10 milhões estão em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passam
fome.
A postura inconsequente, irresponsável, desastrosa e negacionista do governo federal
ao desdenhar da gravidade da pandemia,
associada ao desmonte de políticas públicas, ao rompimento de diálogo com a sociedade civil – lembremos aqui da extinção do
Conselho Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional (Consea) – agravou a situação.
Acrescente-se a isso tudo a letargia e insensibilidade do governo em adotar planos
emergenciais de combate às consequências
sociais da crise sanitária.
O Auxílio Emergencial intermitente e de valor reduzido, particularmente em sua segunda versão, apesar de mitigar a dramática
situação, tem sido insuficiente para a subsistência de milhares de brasileiros. Essa
condição de penúria empurra milhares a se
exporem ao vírus para uma garantia mínima de renda. Em muitos casos, é a insensibilidade dos empregadores, sem adoção de
cuidados mínimos, que ameaça a integridade dos trabalhadores, como se viu nos casos
dos frigoríficos espalhados pelo Brasil.
Nesse contexto geral, é preocupante a postura das entidades representativas dos interesses do agronegócio brasileiro. A Confe-
191
deração da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) e suas filiadas regionais, apesar de
cuidadosos pronunciamentos públicos, não
escondem que seu objetivo é “não parar”. O
Brasil é o maior produtor mundial de carne bovina e de frango, está entre os maiores produtores de soja e a produção dessas
commodities, entre outras, tem dado retorno
financeiro gigantesco aos produtores rurais
em função da desvalorização do real e consequente valorização do dólar. O agronegócio é um dos pouquíssimos setores que, ao
contrário dos demais, ampliou os seus ganhos em plena pandemia.
ato criminoso.
Se essa realidade dramática acontece num
setor formalizado da economia nacional, é
de se imaginar que outras situações de descaso estejam ocorrendo Brasil afora, sobretudo em áreas rurais em que o poder das
oligarquias se sobrepõe ao poder do Estado.
Portanto, é bastante razoável supor que à
superexploração a que são submetidos milhares de trabalhadores no campo, acrescenta-se, nesse momento, a dramaticidade
da pandemia do coronavírus.
Conclusão
Os produtores rurais defendem de forma veemente a exclusão de suas atividades das
medidas de isolamento social, utilizando o
argumento de que a sua eventual paralisação ameaça o abastecimento das cidades.
Destaque-se que, na maioria dos casos, a
produção não está destinada ao mercado
interno e sim ao mercado externo. Como
justificar os preços estratosféricos do óleo
de soja comestível e da carne nos supermercados, num país que se arvora como o maior
produtor mundial dessas commodities?
Um caso elucidativo dessa sanha gananciosa é o risco à vida a que são submetidos os trabalhadores da indústria de processamento de carnes, os trabalhadores de
frigoríficos. Trata-se do setor da indústria
de transformação com maior incidência de
contaminação do coronavírus. Mais de 60
frigoríficos – ao longo de 2020 e 2021 – em
11 estados do país foram ou estão sendo investigados pelo Ministério Público em função da falta de condições adequadas de prevenção à doença. Gigantes do agronegócio
como JBS e BRF (antiga Sadia) aglomeram
milhares de trabalhadores em ambientes
fechados e sem distanciamento mínimo. É
grande a mortandade de trabalhadores pela
COVID-19 em frigoríficos e quando os dados
vierem à tona serão surpreendentes. Espera-se que responsáveis respondam por esse
O relatório da Comissão Pastoral da Terra
(CPT) Conflitos no Campo Brasil é revelador
da barbárie que se instalou na sociedade do
trabalho no país. Os dados do último decênio mostram um processo contínuo e regular de desrespeito aos direitos e dignidade
dos trabalhadores rurais. A situação piorou
ainda mais na última metade da década em
função do agressivo ataque aos direitos dos
trabalhadores e do acelerado desmanche da
legislação normativa de proteção aos trabalhadores. No campo brasileiro, não é exagero afirmar que os trabalhadores rurais se
encontram largados à própria sorte, considerando-se que foram literalmente abandonados pelo Estado.
A postura, os discursos, as práticas e as
iniciativas de leis do governo Bolsonaro pendem todas para o lado dos grandes
proprietários de terra, dos fazendeiros, dos
ruralistas, do agronegócio. Pior, o Estado
foi aparelhado por esses setores e há um
processo sistemático de desmonte de toda
e qualquer proteção aos trabalhadores, de
interrupção da Reforma Agrária, paralisia
de demarcação de territórios quilombolas e
indígenas. Na realidade, anda-se para trás,
procura-se desmanchar aquilo que já se
encontrava estabelecido como direitos. Simultaneamente ao aparelhamento do Es-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
tado, assistiu-se à fragilização de todos os
instrumentos de fiscalização e coibição aos
desmandos praticados no campo brasileiro,
relacionados aos abusos cometidos contra
trabalhadores rurais, povos indígenas, quilombolas e toda população de comunidades
tradicionais. A aparente redução de casos
de trabalho escravo da metade do último decênio para cá pode estar subnotificada para
além da amostragem histórica, considerando-se os fatos anteriormente expostos, ou
seja, a ausência da fiscalização. Os efeitos
deletérios que vemos nesses últimos cinco
anos somente não têm sido maiores em função da ação dos próprios movimentos sociais e do Ministério Público.
e na cidade. De uma hora para outra, milhares de trabalhadores se viram expostos
a um vírus letal; muitos foram obrigados a
continuar trabalhando mesmo contra a sua
vontade, outros tantos perderam o seu trabalho e milhares ficaram sem renda.
Referências
FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil. São Paulo: Globo, 2006.
PRADO Jr., C. Formação do Brasil contemporâneo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Publifolha, 2000.
http://www.mpf.mp.br/
Acrescente-se a tudo isso a chegada da
pandemia do coronavírus que tornou ainda mais difícil a vida dos trabalhadores no
campo
https://www.ibge.gov.br/
Foto: Rafael Vilela - Mídia Ninja
Violência
contra a
pessoa
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 7 - Violência Contra a Pessoa (2020)
a37UF
Conflitos*
Pessoas
envolvidas
Assassinatos
Tentativas de
Assassinatos
Mortos em
conseqüência
Ameaçados
de Morte
Torturados Presos Agredidos
Centro-Oeste
DF
3
232
GO
37
12041
1
MS
106
66567
2
9
MT
193
64483
3
2
Subtotal
339
143323
3
2
3
10
15
4
1
Nordeste
AL
19
6776
BA
165
78294
CE
18
19176
1
MA
210
86985
PB
20
31508
PE
103
37136
21
1799
RN
4
3636
SE
31
4044
591
269354
6
13
AC
59
17876
1
5
AM
89
62034
5
3
AP
62
15232
PA
288
146102
1
1
1
PI
Subtotal
5
1
3
22
10
36
1
3
3
3
7
1
1
1
1
75
6
10
Norte
1
RO
143
55333
1
RR
29
67224
2
TO
59
17261
729
381062
Subtotal
7
1
42
18
5
6
1
2
10
27
38
1
2
1
10
10
8
78
6
50
38
Sudeste
ES
MG
RJ
SP
Subtotal
19
8984
187
29939
28
37264
6
2
1
1
2
1
1
8
3
42
7125
276
83312
1
1
Sul
PR
43
11713
RS
40
14525
SC
36
10855
Subtotal
Brasil
37
9
1
3
3
119
37093
1
9
2054
914144
18
35
3
9
159
9
1
3
69
54
*Número de conflitos e de pessoas envolvidas refere-se à soma das ocorrências de conflitos por terra, água e trabalho.
195
A criminalização dos movimentos que
lutam por terra, água e meio ambiente
Deborah Duprat1
Toda a história do Brasil poderia ser escrita a partir de distintas formas de violência
que assolam o país desde a sua origem: o
episódio da conquista e seus efeitos devastadores sobre as populações indígenas; a
escravidão; a violência da exploração extrativista sem limites; a violência epistemológica da alfabetização, que impõe a língua dos
dominantes e seus valores como universais;
a violência da formação do Estado nacional,
em que a homogeneidade por ele pressuposta vai ser expressão do poder colonial. A
essas formas de violência histórica e fundacional, agregam-se aquelas que derivam da
violência de classe, de gênero, de orientação
sexual e de tantas outras, de tal forma que é
possível dizer que a violência sistêmica está
na base da organização da sociedade brasileira.
A Constituição de 1988 busca superar esse
passado, com muita ênfase na luta por
igualdade, contra a marginalidade das culturas não dominantes e contra a destruição
da natureza. O artigo 3º da Constituição
da República é uma espécie de convocação
de uma coletividade que, pela primeira vez,
presta contas de um passado colonial e escravocrata. De fato, nesse artigo, há uma
ideia genuinamente utópica de uma sociedade “livre, justa e solidária”, que se propõe
a “erradicar a pobreza e a marginalização”,
bem como a reduzir todas as desigualdades.
É uma sociedade voltada, no seu conjunto,
a “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais1
2
quer outras formas de discriminação”. O
princípio da solidariedade ali inscrito não se
traduz em consensos permanentes e neutralidade dos conflitos. Muito ao contrário,
uma sociedade plural é uma sociedade atravessada por visões de mundo contrapostas,
mas a solidariedade convoca a que as divergências se resolvam num plano em que não
se faça uso da violência.
Por isso, o reforço das liberdades expressivas no seu texto. Sabe-se que a Constituição
de 1988 é um momento inaugural de direitos, cuja concretização seguirá sendo objeto
de disputa e de luta contra a persistência de
uma ordem social ainda bastante desigual.
O Representante Especial do Secretário
Geral das Nações Unidas para os Defensores de Direitos Humanos, em seu Informe
A/62/2252, de agosto de 2007, ressaltou,
entre outros pontos, que:
Ao longo da história, os protestos e manifestações foram agentes de mudança e fatores importantes que contribuíram para a
promoção dos direitos humanos. Em todas
as regiões do mundo e em todas as épocas
da história, defensores anônimos e ativistas reconhecidos lideraram e inspiraram
movimentos de protesto que prepararam o
terreno para as conquistas alcançadas na
esfera dos direitos humanos.
Em países como o Brasil, de um longo passado de privilégios e de desigualdades abis-
Advogada e Subprocuradora-Geral da República aposentada.
Disponível em https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N07/457/26/PDF/N0745726.pdf?OpenElement
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
sais, as garantias de reunião, associação,
manifestação e protesto são absolutamente fundamentais para assegurar que movimentos sociais levem adiante a implementação do projeto constitucional.
(inciso XLI), racismo (XLII), tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e terrorismo (XLIII)
e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado democrático
(XLIV).
Como se trata de um processo agônico, de
disputa, ele, via de regra, se desenvolve de
modo a desestabilizar certezas, sempre provocando incômodos. E tem também formas
performáticas, alegóricas, de se representar. Lutas feministas costumam apresentar
seus corpos nus como denúncia do patriarcado. Gays, lésbicas, travestis e transexuais tornaram famosas as “paradas gays”,
protesto contra a condenação de seus desejos à invisibilidade dos “armários”. Negros
e negras ostentaram toda a beleza da sua
negritude e recusaram os padrões estéticos
dominantes. Povos indígenas e quilombolas
voltaram a ocupar seus territórios ancestrais. Trabalhadores, no campo e na cidade, ocupam imóveis ociosos, denunciando
o descumprimento da função social da propriedade e a não implementação do direito à
reforma agrária e à moradia.
O direito penal, portanto, passa a ter como
finalidade e limite os próprios direitos fundamentais: presta-se à defesa desses e não
pode ser usado de modo a diminuir ou neutralizar esses mesmos direitos. Ou seja, o
direito penal não pode ser usado para inibir
lutas legítimas por direitos. A Corte Interamericana tem também importantes precedentes sobre o tema. Um deles é o “Caso
Escher e outros vs Brasil3”, que trata da interceptação de linhas telefônicas das organizações sociais Adecon e Coana, ligadas ao
MST na luta pela reforma agrária no País,
e sua posterior divulgação na imprensa. A
Corte endossou a conclusão da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, de
ofensa ao direito de reunião ou associação,
com previsão no artigo 16.1 da Convenção
Americana de Direitos Humanos (“Pacto de
San José da Costa Rica”):
Por isso, foi preciso redirecionar o direito
penal, historicamente voltado a criminalizar segmentos sociais subalternizados. A
Constituição de 1988 tratou de forma muito
econômica o direito penal. Toda a sua disciplina está contida no artigo 5º, o mesmo
que trata dos principais direitos e garantias
fundamentais. Significa dizer que houve
uma opção por um direito penal de caráter residual, que teria por objeto condutas
que comprometessem seriamente o arranjo
constitucional, assentado, em especial, nos
princípios da dignidade da pessoa humana,
do pluralismo social e da solidariedade, todos eles conformando a democracia nacional. É por tal razão que o artigo 5º contém
ordens de criminalização ao legislador ordinário em relação à “discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”
165. A Comissão destacou “a obrigação do
Estado de não interferir no exercício do direito de reunião ou associação, [e] a obrigação de adotar, em certas circunstâncias,
medidas positivas para assegurar [seu]
exercício efetivo”. Alegou que as restrições
à liberdade de associação constituem “graves obstáculos à possibilidade de as pessoas reivindicarem seus direitos, darem a
conhecer suas solicitações e promoverem
a busca de mudanças ou soluções aos
problemas que as afetam”. Ainda, “a intervenção arbitrária das comunicações de
pessoas [pertencentes a uma associação]
restringe não somente a liberdade de associação de um indivíduo, mas também o
direito e a liberdade de determinado grupo de associar-se livremente, sem medo
ou temor”. A liberdade para associar-se e
3
Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_200_por.pdf. Acesso em janeiro de 2019.
197
buscar certos fins coletivos é indivisível, de
modo que uma restrição à possibilidade de
associar-se representa diretamente um limite ao direito da coletividade de alcançar
os fins aos quais se propõe. As forças de
segurança do Estado podem ver-se em necessidade de realizar operações de inteligência, de acordo com a lei, para combater
o crime e proteger a ordem constitucional.
Contudo, tais ações são legítimas quando
constituem uma medida estritamente necessária para salvaguardar as instituições
democráticas e quando existem garantias
adequadas contra os abusos. No presente
caso, “a interceptação, o monitoramento e
a gravação das comunicações telefônicas
das vítimas foram realizados com o objetivo de exercer o controle de suas atividades
associativas, [e] a publicação dessas comunicações, resguardadas por segredo de
justiça, foi efetuad[a] expressamente para
deslegitimar o trabalho das associações de
que faziam parte [as vítimas]”. Em virtude
“da natureza de sua atividade, e da existência de uma tendência de perseguição
contra os defensores e representantes dos
trabalhadores sem terra, […] a Comissão
consider[ou] que as intervenções, o monitoramento e a publicação d[as] informações em questão configuraram um modo
de restrição velada à liberdade de associação [das vítimas]”. Com base no exposto,
solicitou à Corte que declare a violação ao
artigo 16 da Convenção Americana.
Ainda, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, em sentença de 29 de maio de
2014, caso Norin Catrimán e outros vs Chile4, julgou contrária à Convenção Americana a lei chilena que possibilitou a condenação de membros do povo indígena Mapuche
que protestavam pela recuperação de suas
terras ancestrais e pelo uso e gozo dos recursos naturais ali existentes.
Essa colocação topográfica do direito penal
4
na Constituição de 1988 tem ainda um outro sentido: o direito penal não é ferramenta de segurança pública, que tem capítulo
próprio. Convém lembrar a literalidade do
caput do artigo 144: “[a] segurança pública,
dever do Estado, direito e responsabilidade
de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos […]” (destaque acrescido).
A “responsabilidade de todos” é uma expressão exatamente do princípio da solidariedade inscrito no artigo 3º da Constituição.
Todos se reconhecem entre si como sujeitos
de igual direito e consideração, afastando o
recurso à violência como possibilidade relacional. Daí por que a política de segurança
pública, no sentido da “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio”, só possa ser exercida por
meio dos órgãos ali enumerados.
Houve um investimento constitucional na
capacitação das polícias para assegurar o
compromisso da convivência pacífica: organização em carreira e remuneração mediante subsídios (art. 144, § 9º), tal como os
membros de Poder, os detentores de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais. Essa polícia deve ser treinada para, em sua atuação,
causar o menor dano possível.
O relatório de conflitos da CPT de 2020 revela que o Brasil atual está mais próximo
de 1500 do que de 1988. Em diversas regiões do país, indígenas, trabalhadores rurais
sem terra, quilombolas, ribeirinhos, geraizeiros, pescadores artesanais, vazanteiros,
camponeses de fundo e fecho de pasto são
vítimas de processos de criminalização por
conta de lutas, principalmente por terra e
água. Os documentos juntados nessa publicação também permitem concluir por uma
espécie de associação, ainda que tácita, en-
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/09/142788b09442cde14d1b005c1920ccc0.pdf
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
tre sistema de Justiça, forças policiais e poder econômico.
Gráfico 1
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
16/04/2021.
Gráfico 2
Fonte: Cedoc
16/04/2021.
Dom
Tomás
Balduino
–
CPT
–
Os gráficos 1 e 2 possibilitam analisar o
processo de criminalização que pesa sobre
os povos do campo, a partir da espacialidade e das categorias afetadas. A concentração das ocorrências em quatro Estados
da região Norte e no Maranhão (77,4%) evidenciam a prevalência da Amazônia Legal, o
5
que pode estar relacionado não apenas com
a histórica e grave conflitividade fundiária
no espaço amazônico, mas também com a
política do atual governo federal, que colabora para promover a perseguição a comunidades campesinas e tradicionais. Nesse
sentido, e não por acaso, entre os grupos vitimados, “sem terra” e “posseiros”, concentraram 76,2% dos casos, um indício de que
a luta pelo direito à terra como bem coletivo
e indispensável para promoção da justiça
social, é tratada pelo poder público como
ação delinquencial.
Em 2021, a CIDH produziu um relatório
concernente à “Situação dos direitos humanos no Brasil”5, resultado de missão ao país
em 2018. Ali se consigna que, apesar do importante marco constitucional, o país segue
em contexto de “discriminação estrutural”,
inclusive de natureza socioeconômica, e
com muita violência. No item 80 do relatório, consta que “a CIDH se reuniu com uma
delegação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a qual informou sobre
tentativas sucessivas de criminalizar suas
lideranças”.
E, após a visita da Comissão, tudo piorou,
com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. São reiteradas as suas declarações no
sentido de não demarcar áreas indígenas e
quilombolas e tampouco destinar qualquer
imóvel à reforma agrária. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) da Presidência da República, general
Augusto Heleno, publicou mensagem em
rede social acusando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) de crime de
lesa-pátria6, com referência expressa à pessoa de Sônia Guajajara, liderança indígena
conhecida internacionalmente.
Não se trata apenas de discurso, mas de um
projeto de governo totalmente associado às
http://www.oas.org/pt/cidh/jsForm/?File=/pt/cidh/prensa/notas/2021/050.asp
https://blogs.correiobraziliense.com.br/4elementos/2020/09/18/lesa-patria-apib-responde-a-acusacao-do-general-heleno-em-rede-social/
6
199
ideias mais caras ao neoliberalismo: a desregulação, a precarização de direitos e a entrega de bens públicos ao mercado.
No entanto, ele não está só. O sistema de
Justiça vem, pouco a pouco, naturalizando
o fato de que lutar por direitos é crime. O
Padre Amaro, por exemplo, teve a sua prisão referendada por várias instâncias do
Poder Judiciário, e, ao final, quando o STJ
lhe concedeu habeas corpus, foram impostas várias condições – uma delas, a de se
afastar da luta.
Significa dizer que jamais, desde a Constituição de 1988, foi tão necessária a luta
como nos momentos atuais. O relatório
de Conflitos da CPT de 2020 mostra o seu
custo pessoal, com perseguição e criminalização de lideranças. É óbvio que o cenário
é de suspensão do regime da Constituição
de 1988 – na prática, um estado de exceção
permanente, de que nos fala Giorgio Agamben na obra “Estado de Exceção”.
Mas também de muita covardia. Com a chegada da Covid-19 no país, além de assegurar que os territórios estivessem livres de
invasão e da consequente expansão da pandemia, indígenas, quilombolas, camponesas
e camponeses de um modo geral, tiveram
que conviver com mortes, doenças e medo.
Criminalizá-los nesses tempos diz muito de
quem os acusa.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 8 - Assassinatos (2020)
Municípios
Nome do Conflito
Data
Nome da Vítima
Ramal São Joãozinho
26/10/2020 Claudomir Bezerra de Freitas
Vítimas Idade Categoria
Acre
Rio Branco
Subtotal
1
52 Assentado
1
Amazonas
Boca do Acre
P. A. Monte
Borba
Nova Olinda do
Norte
Advogado/
a
18/02/2020 Fernando Ferreira da Rocha
1
55
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
07/08/2020 Josimar Moraes Lopes
1
26 Indígenas
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
09/08/2020 Vanderlânia de Souza Araújo
1
34 Ribeirinho
Nova Olinda do
Norte
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
09/08/2020 Anderson Barbosa Monteiro
1
Ribeirinho
Nova Olinda do
Norte
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
09/08/2020 Mateus Cristiano Araújo
1
16 Ribeirinho
Subtotal
5
Bahia
Camamu
Com. Quilombola Barroso
08/05/2020
Antônio Correia dos Santos,
Antônio do Barroso
Subtotal
1
Quilombola
1
Maranhão
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias Guajajara,
Gavião e Guajá/Barreira Sanitária
31/03/2020 Zezico Rodrigues Guajajara
1
Indígenas
Arari
Povoado Cedro
05/01/2020 Celino Fernandes
1
Quilombola
Arari
Povoado Cedro
05/01/2020
1
Quilombola
Centro do
Guilherme
T. I. Alto Turiaçu
03/08/2020 Kwaxipuru Kaapor
1
32 Indígenas
Junco do
Maranhão
Com. Vilela/Gleba Campina
15/08/2020 Raimundo Nonato Batista Costa
1
56 Posseiro
Wanderson de Jesus Rodrigues
Fernandes
Subtotal
5
Pará
Ourilândia do
Norte
Fazenda Mil e Duzentos
22/02/2020
Raimundo Paulino da Silva Filho,
Paulino do PT*
Subtotal
1
Sem Terra
1
Paraná
Diamante
D'Oeste
T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã
08/03/2020 Virgínio Tupa Rero Jevy Benites
Subtotal
1
24 Indígenas
1
Rio de Janeiro
São Pedro da
Aldeia
Acamp. Emiliano Zapata/Faz. Negreiros
08/07/2020 Carlos Augusto Gomes, Mineiro
Subtotal
1
58 Sem Terra
1
Rondônia
Jaru
T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária
18/04/2020 Ari Uru Eu Wau Wau
Subtotal
1
32 Indígenas
1
Roraima
Alto Alegre
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
12/06/2020 Original Yanomami
1
24 Indígenas
Alto Alegre
T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé
12/06/2020 Marcos Arokona
1
20 Indígenas
Subtotal
Total
2
18
Foto: Juliana Pesqueira
Conflitos agrários e massacres no campo na
Nova República:
Um balanço no marco dos 35 anos dos
relatórios da CPT
Alexandre Bernardino Costa, Claudio Lopes Maia1
André Felipe Soares de Arruda,Carla Benitez Martins,
Diego Augusto Diehl, Euzamara de Carvalho,
Gladstone Leonel da Silva Junior, José Humberto de Góes Junior,
Maria José Andrade de Souza2
1
Coordenadores acadêmicos do projeto de pesquisa “Massacres no campo na Nova República: crime e impunidade – 1985-2019”.
2
Coordenadores executivos do projeto de pesquisa “Massacres no campo na Nova República: crime e impunidade – 19852019”.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Uma parceria promissora no marco dos
35 anos dos relatórios da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
O relatório de conflitos no campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) chega neste ano
à sua 35ª edição. Lançada em 1985, a iniciativa se tornou a principal fonte de dados e
informações sobre conflitos agrários no Brasil e é fruto de uma atuação que combina
o rigoroso trabalho de pesquisa, apuração,
catalogação e interpretação de informações,
realizado pelo Centro de Documentação
Dom Tomás Balduino (Cedoc), com a participação direta dos agentes pastorais que
integram o conjunto da CPT, ramificada por
todo o país.
A leitura sistemática dessas 35 edições e um
contato mais próximo com as companheiras
e companheiros da CPT – especialmente do
Cedoc – permitem uma compreensão mais
profunda dos modos de fazer que culminam
em cada edição anual. Poucos pesquisadores e pesquisadoras sobre a questão agrária
no Brasil contemporâneo têm essa dimensão, à qual tivemos acesso a partir do início
do projeto de pesquisa “Massacres no campo na Nova República: crime e impunidade
– 1985-2019”.
Fruto de uma parceria da CPT com o Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos
Sociais (IPDMS), o projeto de pesquisa tem
o objetivo de aprofundar as informações disponíveis sobre os 51 massacres no campo
contabilizados pela CPT (251 vítimas), desde o ano em que os relatórios de conflitos no
campo passaram a ser divulgados. A partir
da etnografia documental constituída como
teoria fundamentada em dados, o objetivo
da pesquisa é interpretar a atuação do sistema de justiça criminal manifestada, sobretudo, em documentos de investigação e
processamento para entender os fatores que
ensejam impunidade de mandantes e executores de massacres no campo, caracteri-
zados pela CPT como situações de conflitos
agrários que resultaram em homicídios de
três ou mais pessoas em uma mesma ocasião.
Para cumprir com esse objetivo, foi constituída uma equipe de 49 pesquisadores e
pesquisadoras de todas as regiões do país,
de diferentes níveis de formação (da graduação ao pós-doutorado), de diversas áreas do
conhecimento (Direito, História, Geografia,
Psicologia, Ciências Sociais etc) e ligados a
12 instituições federais de ensino superior.
Devido às restrições impostas pela pandemia da COVID-19, os trabalhos de campo
são substituídos por uma aproximação ao
objeto de pesquisa por meio de outros documentos relevantes para a compreensão
da violência perpetrada contra trabalhadoras e trabalhadores rurais no Brasil, tais
como os relatórios de conflitos publicados
anualmente pela CPT. Por conseguinte, entre maio e outubro de 2020, a equipe realiza leitura sistemática e discute as trinta e
cinco edições, além de participar de oficinas
e atividades de formação capazes de ensejar interpretação mais acurada dos conflitos agrários no Brasil contemporâneo, bem
como dos massacres no campo, que são
uma vertente das ações empenhadas para
controle e concentração da terra.
A esse estudo sistemático dos relatórios da
CPT e às atividades formativas com pesquisadores e pesquisadoras de conflitos agrários no Brasil, somam-se os diálogos com
advogados e advogadas populares e o contato com agentes pastorais integrantes do
Cedoc, com a coordenação nacional da CPT.
Essas atividades permitem igualmente compreender o trabalho de pesquisa e organização de dados condensados em cada edição
dos relatórios, ou seja, a produção de cada
documento, as compreensões de partida, os
objetivos empregados em sua elaboração, de
modo que seja possível depreender o alcance e a densidade dos relatórios como fonte
203
da investigação que se realiza.
O presente texto tem o objetivo de compartilhar o aprendizado produzido coletiva e
preliminarmente durante a primeira parte
exploratória da pesquisa, isto é, de aproximação ao seu objeto. Em primeiro lugar, faz-se um balanço dos conflitos no campo brasileiro que o estudo sistemático das edições
dos relatórios da CPT possibilita; no segundo momento, trata-se dos modos de fazer
de cada edição dos relatórios, destacando a
importância dessa ferramenta no marco dos
seus 35 anos; por fim, apontam-se alguns
dos principais desafios que se apresentam
na tarefa de interpretar os fenômenos sociais da violência no campo em sentido mais
amplo e dos massacres no campo, de modo
mais específico, e quais as possibilidades e
os limites de uma investigação sobre a impunidade nesse tipo de conduta.
Os conflitos agrários no Brasil da “Nova
República” lidos a partir dos relatórios da
CPT
O termo “Nova República” foi utilizado por
muito tempo para caracterizar um período
mais restrito da História brasileira, referente ao período de transição da ditadura para
a redemocratização, iniciada com a eleição
indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República, pelo governo de José
Sarney e pela promulgação da Constituição
Federal de 1988. Após o golpe midiático-jurídico-parlamentar de 2016, o significado
desse termo passou a ser ampliado para se
referir também aos governos Collor, Itamar,
FHC, Lula e Dilma. A “Nova República” passou a significar o período dos governos civis
que orbitaram em torno da Carta Constitucional de 1988.
Os relatórios de conflitos no campo da CPT
passam por todo esse período histórico.
Mais que um retrato do campo brasileiro,
esses estudos são uma leitura da realidade
a partir dos de baixo. Portanto, estudá-los
de forma sistemática é também um exercício de reflexão sobre a História do Brasil
contemporâneo. De par com os acontecimentos sociais, políticos, jurídicos, seus
conteúdos podem ser distribuídos, em síntese, da seguinte forma: os legados autoritários e os impactos sociais deixados por 21
anos de ditadura empresarial-militar são o
pano de fundo dos relatórios dos anos 1980,
que marcam também as lutas dos povos do
campo por direitos no processo constituinte; o choque neoliberal e a “modernização
agrícola” são interpretados nos relatórios
dos anos 1990 para entender a concentração fundiária e o agravamento dos conflitos
agrários no Brasil; as ações dos governos
neodesenvolvimentistas e suas políticas sociais para o campo brasileiro, contraditoriamente voltadas para o incentivo aos pequeno e médio produtores rurais, mas também
para fortalecer o agronegócio, a partir do
desenvolvimento das cadeias produtivas e
reafirmação do país como produtor de matéria-prima para o mercado mundial, são a tônica dos relatórios dos anos 2000. Por fim,
a formação de um novo bloco histórico dá
coesão às forças políticas do capital financeiro, do latifúndio e das empresas transnacionais, bem assim o impulso à fragilização
de políticas sociais com a adoção de um formato neoliberal agressivo para as políticas
públicas voltadas para o campo é o que se
pode depreender da leitura dos relatórios da
CPT elaborados após 2015.
As lutas de classes no campo brasileiro passaram, portanto, por essa “história conjuntural” que se conecta à “história estrutural”
de mais de 500 anos de latifúndio e colonialidade, de quase 400 anos de escravidão e
todos os seus legados, de uma violência física e simbólica que tem aspectos de classe,
raça, gênero e sexualidade que estão interligados e que são atualizados a cada conflito
agrário registrado nos relatórios da CPT. O
desafio de um estudo sistemático dessas 35
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
edições, realizado pela equipe de pesquisa
ao longo de 2020, é captar a historicidade
desses conflitos, tentando compreendê-los a
partir das especificidades de cada grupo social, das diferenças espaciais/regionais de
conflitos que ocorrem em partes diferentes
de um país de dimensão continental. Sem
esse esforço, qualquer interpretação sobre
os massacres no campo brasileiro nesse período se reduziria a microanálises que não
integram as partes no todo.
O conjunto de registros de conflitos no campo apresentado nos relatórios da CPT de
1985 a 2019 permite identificar as temporalidades das lutas de classes e alguns padrões históricos relevantes. Se a repressão
no campo imposta pela ditadura nos anos
1970 resultou em baixos índices de conflitos, a partir do fim dessa década e do início
dos anos 1980, ocorre uma retomada por
parte das organizações populares no campo. Junto com elas, avançam as lutas por
terra, território e outros direitos, por conseguinte, a repressão armada do Estado e
dos agentes do latifúndio como resposta. O
primeiro relatório de conflitos no campo da
CPT, editado em 1985, traz um retrato desse ano que representou uma ascensão das
lutas no campo no período que vai de 1979
a 19893.
Após um período de descenso das lutas e
também dos registros de conflitos no campo, ocorre uma retomada a partir de 1996
(ano do massacre de Eldorado dos Carajás)
e vai até 1999, período relativamente curto, mas significativo na história dos movimentos sociais do campo. Foi nesse período
que o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) ganhou
maior visibilidade nacional e internacional,
mediante denúncias e pressões para a implementação do projeto de Reforma Agrária
no Brasil, e que muitos outros movimentos
sociais passaram a ser constituídos. O des-
censo que se seguiu nos anos 2000 a 2002
é interpretado nos relatórios da CPT desse
período como fruto da brutal repressão do
Estado e da falta de perspectivas de conquistas para os povos do campo, sob a égide
do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Com a eleição de Lula, em 2002, ocorreu um
ascenso das lutas de classes no campo brasileiro sem precedentes na história da Nova
República. Se o relatório de 2002 da CPT
registrou 925 conflitos, o relatório de 2003
marcou 1690, e, nos dois anos seguintes,
assinalaram-se números ainda maiores.
Além do ascenso dos movimentos de luta
pela terra (mobilizados sob a expectativa da
retomada das políticas de reforma agrária),
os relatórios da CPT desse período retratam
a entrada em cena de novos movimentos
sociais do campo (caso dos atingidos por
barragens, por exemplo) e o fortalecimento
de movimentos dos povos e comunidades
tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores etc.).
Ainda que tenham ocorrido avanços nas políticas de reforma agrária, na titulação de
territórios quilombolas, na demarcação de
terras indígenas, na introdução de políticas
sociais conquistadas pelos povos do campo,
é possível verificar o início de um descenso dos conflitos a partir de 2008, mantendo-se em padrões de relativa estabilidade
até 2015. As interpretações desse fenômeno que podemos observar nos relatórios da
CPT deste período remetem a fatores como
a insuficiência das políticas implementadas
para a reforma agrária e o reconhecimento
de terras indígenas e territórios quilombolas; à ambiguidade dos governos Lula e Dilma, ao também assimilarem as demandas
do agronegócio; aos impactos de políticas
como “Bolsa Família”, “Programa Universidade para Todos” – Prouni –, ou o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura
3
Em 1985 os relatórios registraram um total de 712 conflitos no campo; em 1986 foram 729; a partir de 1987 registrou-se
uma redução gradual (691 em 1987; 680 em 1988; 566 em 1989; 448 em 1990).
205
Familiar – Pronaf – na pauta de reivindicação coletiva dos povos do campo, que também teriam contribuído para a desmobilização.
Esse relativo descenso das lutas de massas
não significa, no entanto, que os conflitos
no campo tenham regredido ao mesmo patamar dos anos 1990. Na verdade, se a média de conflitos do período de 1990-1995
era de 550 conflitos por ano, o período de
“descenso” entre 2008 e 2015 teve uma média de 1254 conflitos por ano registrados
nos relatórios da CPT. Tais dados destoam
de todas as análises que propugnam pela
redução das lutas dos povos do campo dos
anos 1990 em diante, como suposto produto da “modernização agrícola” e da mudança
de expectativas gerada pelas políticas “pró-mercado”.
A partir de 2016, os relatórios da CPT registram um aumento dos conflitos no campo, que se intensificam no ano de 2019.
Grande parte desses conflitos foi gerada
não pela ação dos movimentos sociais do
campo, mas por ataques desferidos pelo latifúndio, pela grilagem, pelo agronegócio e
pelo próprio Estado. Os relatórios da CPT
desse período retratam as lutas defensivas
dos povos do campo, atacados das mais diferentes formas em seus direitos à terra e ao
território, em suas liberdades fundamentais
de reunião, auto-organização, manifestação
e expressão, em seus direitos sociais mais
básicos, que eram garantidos pela legislação (trabalhista, previdenciária etc.) e por
políticas públicas que foram rapidamente
desmanteladas.
É possível perceber que os registros de conflitos nos relatórios da CPT ao longo desses
35 anos são coerentes com os próprios ciclos políticos que compõem a Nova República, caracterizados pelo aumento ou pela
diminuição dos registros gerais de conflitos (ocupações/retomadas, manifestações,
despejos, expulsões, assassinatos etc) que
marcaram a trajetória dos povos do campo:
um ciclo de alta conflitividade entre 1979
e 1989 (redemocratização), diminuição dos
conflitos entre 1990 e 1995 (início dos governos neoliberais), novo ciclo de conflitos
entre 1996 e 1999 (reação aos impactos do
neoliberalismo), redução dos registros entre
2000 e 2002 (intensificação da repressão
no campo no 2º governo FHC), ascenso das
lutas no campo entre 2003 e 2007 (sob a
expectativa de retomada da reforma agrária
no 1º governo Lula); descenso das lutas entre 2008 e 2015 (desmobilização dada pelos
limites dos governos Lula e Dilma); ofensiva
do latifúndio e consequente aumento dos
registros de conflitos a partir de 2016 (golpe
e nova coalizão neoliberal).
Mas é importante deixar nítido que esses
padrões não são homogêneos em todas as
regiões do país e que os conflitos ocorreram
sob maior intensidade nas regiões Norte
e Nordeste durante a Nova República. Segundo estudo de Helaine Saraiva Matos,
Gabriela Bento Cunha e Francisco Amaro
Gomes de Alencar (publicado no relatório
2014 da CPT), entre 1985 e 2014, a região
Nordeste concentrou 36% do total de conflitos e 33% das pessoas envolvidas neles,
enquanto a região Norte concentrou 27% do
total de conflitos e 18% das pessoas envolvidas. Se tomarmos um outro critério para
distinguir o Brasil em 3 regiões (Amazônia,
Nordeste e Centro-Sul), como fez a equipe
do LEMTO-UFF (coordenada pelo professor
Carlos Walter Porto-Gonçalves), em estudo publicado no relatório de 2015 da CPT,
vemos que, entre 2000 e 2015, o total de
conflitos na Amazônia representou 44% do
total de registros, enquanto Nordeste (27%)
e Centro-Sul (29%) representaram a outra
metade dos conflitos registrados.
Esses dados levam pesquisadores e pesquisadoras a afirmar, em diversos relatórios da
CPT, que há um processo de avanço da cha-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
mada “fronteira agrícola” em direção à Amazônia, após a consolidação do agronegócio
nas regiões Sul e Sudeste nos anos 1950-60
e na região Centro-Oeste nos anos 1970-80.
Se entre 2000-2007 a Amazônia representava 40% do total de conflitos no campo registrado, no período 2008-2015, a região teve
50% do total de conflitos.
Os graus de violência dos conflitos também
são variáveis conforme cada região. Entre 1985 e 2014, 40% dos assassinatos no
campo no Brasil ocorreram na região Norte,
e 25% na região Nordeste. Os modos como
esses crimes são perpetuados também são
distintos conforme cada região, visto que,
de cinquenta e um massacres ocorridos entre 1985-2019, somente dois ocorreram na
região Nordeste. Trinta e nove ocorreram na
região Norte (sobretudo nos estados do Pará
e Rondônia). Essas informações são significativas para as reflexões que pretende produzir no decorrer da pesquisa, mas há ainda outras especificidades sobre o tema dos
assassinatos no campo de que se tratará na
parte final destas reflexões.
Como se disse, um estudo sistemático dos
relatórios da CPT permite construir uma visão de conjunto dos conflitos agrários brasileiros durante o período da Nova República,
seja sob a perspectiva totalizante e historicizada, seja quanto às singularidades de cada
“parte” desse todo, como ocorre quanto às
suas especificidades regionais. Além disso,
contribui para compreender a metodologia
dos próprios relatórios e reforça a importância dessa ferramenta para análise da realidade agrária brasileira e para a luta dos
povos do campo no Brasil.
A importância dos relatórios da CPT, no
marco dos seus 35 anos
A leitura sistemática dos 35 relatórios também nos permite compreender os “modos de
4
5
fazer” os relatórios da CPT ao longo de todo
esse período, especificamente perceber suas
mudanças e permanências. Longe de ser
uma mera publicação informativa (com toda
a sua importância para os estudos acadêmicos sobre a questão agrária brasileira), os
relatórios da CPT adotam uma perspectiva
pastoral e leitura bíblica centrada na defesa
dos povos do campo e na convocação à práxis de libertação dos oprimidos.
É possível perceber, como método subjacente a todas as edições dos relatórios, a perspectiva de “ver, julgar e agir”, que foi sendo
desenvolvida ao longo de todo este período
para que lutadoras e lutadores, antes “invisíveis”, se mostrem, sejam evidenciados:
não apenas como “dados estatísticos”, mas
como sujeitos históricos que lutam por direitos.
Os relatórios só são possíveis porque a CPT,
criada em 1975, logrou constituir uma relação de fortalecimento dos movimentos
sociais do campo a partir do seu trabalho
pastoral. Após dez anos consolidando uma
vasta rede de apoio aos povos do campo
em todas as regiões do país, já no auge
do primeiro ciclo de ascenso de lutas dos
movimentos sociais do campo na Nova República, a CPT lançou em 1985 o primeiro
relatório de conflitos no campo para denunciar a onda de violência que o latifúndio perpetuava em todo o país4.
O contato “em campo” dos agentes pastorais com lideranças, trabalhadoras/es, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantos
outros grupos oprimidos pelo latifúndio é
o que permite à CPT vivenciar e organizar
informações, que são então encaminhadas
ao Cedoc. Ao invés de apenas “registrar”
os conflitos, a CPT passa a monitorá-los
e construir um acervo de informações sobre a evolução dos acontecimentos, a partir de fontes primárias e secundárias5. Em
1985 foi o ano com o maior número de assassinatos no campo na Nova República, com 139 mortos.
As fontes primárias do CEDOC são os depoimentos de sujeitos envolvidos ou que testemunharam um dado conflito,
207
alguns casos, promove o acompanhamento
por meio de sua assessoria jurídica. É por
isso que, quanto aos massacres no campo,
a CPT possui registros também anteriores a
esses crimes, pois geralmente estão relacionados a conflitos agrários em andamento.
Os próprios agentes da CPT chamam a atenção para não tomar os dados dos relatórios
como um “espelho” dos conflitos no campo
brasileiro: o que consta nas publicações é
apenas a “ponta do iceberg” ou os conflitos
mais visíveis entre muitos outros que os
agentes pastorais não têm ainda conhecimento. Apesar disso, é possível perceber o
conjunto de cuidados que são tomados pela
entidade para retratar de forma fidedigna as
situações de conflito e os dados estatísticos
sistematizados em cada publicação. A checagem dos fatos, sua interpretação e categorização, a proteção às vítimas, testemunhas
e outras fontes vulneráveis são atividades
constantes para garantir a confiabilidade
das informações, e também a proteção das
vítimas na ação da CPT.
A voz dos povos do campo está presente na
própria metodologia de elaboração dos relatórios, por exemplo na categorização dos
sujeitos envolvidos nos conflitos. É possível
perceber, comparando relatórios dos anos
1980 com os relatórios mais recentes, que
um conjunto de “novos sujeitos” e de novas
categorias sociais emerge: os “lavradores”
e “boias-frias” praticamente desaparecem,
enquanto “sem terras”, “atingidos por barragens”, “ribeirinhos”, “pescadores” e outras
formas de autoidentificação são retratadas
nos relatórios. É que, ao invés de a própria
CPT ou seus colaboradores e colaboradoras acadêmicos realizarem essas categorizações, os relatórios reproduzem os modos
de autoidentificação dos próprios sujeitos, o
que permite ver ao longo dessas décadas as
transformações nas identidades dos povos
do campo, nas suas pautas de reivindicação
e nas formas de organização e de luta.
Isso também explica o surgimento, desde
a década de 2000, de novos indicadores
além daqueles que permeiam todas as publicações (que são os casos das categorias
“assassinatos”, “tentativas de assassinato”,
“ameaças de morte”, “expulsões”, “despejos”
etc). O tema do trabalho escravo surge desde 1985 e, a partir de então, a CPT registra sistematicamente os casos denunciados
e os resgates de trabalhadores e trabalhadoras. Os registros por água, em separado,
surgem no ano de 2002, e passam a abarcar
atingidos/as por barragens, pescadores/as,
ribeirinhos etc. Inicialmente, eram registrados como Terra-Barragem. As reflexões
sobre gênero e direitos das mulheres, bem
como sobre o tema racial, ganham espaço
cada vez maior nas últimas edições.
Os relatórios também vão aprofundando
sua densidade analítica ao convocar na academia, a partir dos anos 2000, diversos pesquisadores e diversas pesquisadoras para
interpretar os dados estatísticos produzidos
pelo Cedoc. É possível compreender melhor
não apenas a questão agrária brasileira pela
leitura sistemática dos relatórios, mas também a própria conjuntura social, política e
econômica do Brasil da Nova República.
Por ter essa capilaridade nacional com seus
agentes pastorais; por nutrir uma relação
de confiança com os movimentos sociais e
os povos do campo e assim obter informações de fontes primárias; por manter de forma sistemática o monitoramento dos conflitos e a catalogação de informações; por
adotar procedimentos e padrões referentes
à checagem de fatos e à classificação das informações; por respeitar os dados que emergem das fontes primárias e secundárias,
incluindo a autoidentificação dos sujeitos
manifestações dos movimentos sociais envolvidos, além de documentos e outras formas de registro referentes ao caso. Fontes secundárias são as notícias jornalísticas, notas de imprensa e outras formas de veiculação pública de informações sobre
o caso que não tenham sido emitidas pelos próprios sujeitos envolvidos no conflito.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
envolvidos nos conflitos; e, por mobilizar
uma ampla rede composta pelos mais reconhecidos pesquisadores e pesquisadoras
sobre a questão agrária brasileira, é possível
dizer que os relatórios da CPT, ainda que
não representem um “espelho” dos conflitos agrários no Brasil, certamente se constituem como a interpretação realizada desde um “ponto de vista superior”, invocando
aqui os debates clássicos da sociologia do
conhecimento.
Não por acaso, há muitas décadas, os relatórios da CPT sofrem ataques de representantes do latifúndio, que procuram pôr em
dúvida os dados que são veiculados. Já que
não podem “invisibilizar” o que foi tornado
visível, procuram legitimar a ideia de que os
dados retratados representariam uma “distorção da realidade”. O que ocorre é que a
CPT, ao assumir a posição social dos grupos oprimidos, consegue “ver” (para então
“julgar” e “agir”) um conjunto de fatos que o
latifúndio não pode e/ou não quer ver: que
assassinatos, tentativas de assassinato e
ameaças de morte não ocorrem por questões corriqueiras, mas por estarem situadas
dentro de conflitos agrários; que trabalho
escravo não é uma mera inobservância de
normas trabalhistas ou previdenciárias; que
a violência contra ocupações, acampamentos ou manifestações não representa uma
forma de legítima defesa e assim por diante.
O fortalecimento das pastorais sociais a
partir do pontificado do Papa Francisco,
o aprimoramento do trabalho do Cedoc e
a ampliação do trabalho colaborativo com
pesquisadores e pesquisadoras nos permite
olhar para o futuro dos relatórios da CPT
com esperança e otimismo. A leitura sistemática desses 35 anos de relatórios nos
permite dizer que o aprimoramento das interpretações sobre os conflitos agrários é
sempre possível e o avanço dos meios de comunicação e das tecnologias de informação
6
poderão nos permitir conhecer ainda mais
fatos que aqueles que temos hoje a disposição.
Reflexões sobre a violência no campo,
impunidade e a atuação do poder público
É grande o desafio de pesquisar a forma
mais grave de violência no campo que se
possa imaginar: os massacres. De um total
de 1970 pessoas executadas em conflitos
por terra, água e trabalho no Brasil entre
1985 e 2019, 12,43% delas foram mortas
em massacres no campo.
Definidas pela CPT como situações em que
três ou mais pessoas são assassinadas em
um mesmo contexto, os massacres no campo representam uma forma específica de
violência, pois, além de operar o extermínio físico das vítimas, também se constitui
como forma de “recado” aos povos do campo. Em outras palavras, na violência física
dos massacres, há uma evidente violência
simbólica. Afinal, veicula uma “pedagogia
do terror”, como caracteriza a CPT, entre
seus destinatários.
Situar os massacres como um capítulo especial da violência no campo também permite compreender alguns padrões históricos que devem ser considerados. Como dito
anteriormente, o ano de 1985 registrou a
maior quantidade de assassinatos no campo
registrados nos relatórios da CPT. São 139
vítimas, 57 delas foram mortas nos onze
massacres que ocorreram naquele ano (dez
deles se deram no estado do Pará). Nos anos
seguintes, viu-se uma redução gradual dos
assassinatos no campo e uma estabilização
desses índices, que podem ser decorrentes
da edificação da nova ordem constitucional
e também do ciclo de descenso dos conflitos
agrários do início dos anos 19906.
A redução dos índices de assassinatos de-
122 em 1986, 133 em 1987, 102 em 1988, 65 em 1989. Entre 1990-1995, a média anual foi de 52,5 vítimas.
209
correntes de conflitos no campo é convergente com a redução do número de casos de
massacres. Se entre 1985 e 1990 ocorreram
vinte e três massacres, entre 1993 e 1996,
ocorreram sete casos7 e, entre 2001 e 2012,
ocorreram onze casos. A partir de 2015, o
número de assassinatos no campo retoma
uma tendência de alta, e um novo “ciclo de
massacres” se inicia: são nove casos entre
2015 e 2019.
micídios nesse período. Ocorre que, quanto
aos modos de vitimização, aparentemente os agentes do latifúndio optaram nessa
região por executar suas vítimas de forma
mais seletiva e espaçada no tempo. Com
isso, assassinatos vinculados a um mesmo
conflito agrário podem ser tratados como se
fossem casos sem ligação entre si e tampouco são considerados como “massacres” por
estarem diferidos no tempo.
Assim, pode-se desde logo afirmar que o aumento/redução da incidência de massacres
está ligado diretamente ao aumento/redução dos índices de assassinatos no campo
de um modo geral. E também podem-se
identificar correlações entre esses dados e
os diferentes ciclos históricos de conflitos
agrários durante a Nova República, apontados anteriormente.
Chama ainda mais atenção o tema da impunidade e da atuação do poder público.
Segundo dados da CPT, das 1938 pessoas
executadas em conflitos por terra, água e
trabalho no Brasil entre 1985 e 2018, em
1789 desses casos (92%) não houve qualquer responsável julgado ou preso. No caso
dos massacres no campo, por serem crimes
que atraem maior atenção da opinião pública, os índices de impunidade são relativamente menores, mas dos poucos casos que
ensejaram prisões e condenações criminais,
raros foram aqueles que implicaram executores e seus mandantes.
Dos 51 massacres no campo registrados
pela CPT entre 1985 e 2020, 29 ocorreram
apenas no estado do Pará e sete ocorreram
no estado de Rondônia. Apenas esse dado
nos mostra a especificidade regional que
marca o tema dos massacres no campo na
Nova República, ocorridos em regiões que
o professor José de Souza Martins (1997)
identificou como “frentes pioneiras” ou como
“frentes de expansão”. Ambas estão dialeticamente ligadas e constituem o cenário da
“fronteira”, região de contato entre formas
camponesas e tradicionais de ocupação da
terra ou do território e as diferentes formas
de personificação do capital (madeireiro, pecuário, agrícola, minerário, etc.).
Chama atenção, ainda sob uma análise regionalizada dos conflitos, o fato de a região
Nordeste apresentar menos registros de
massacres durante a Nova República (dois
casos ocorridos no estado da Bahia). Como
vimos, o Nordeste é a região com os maiores índices de conflitos agrários entre 19852014, incluindo centenas de vítimas de ho7
Uma das possíveis chaves interpretativas
que serão avaliadas ao longo da pesquisa
remete à ideia de que a impunidade nos
crimes de massacres não é mero produto
da precariedade das ferramentas de investigação criminal, mas resulta dos vínculos
profundos, no mínimo, por omissão, entre
agentes do Estado e os agentes do latifúndio implicados nessas mortes. Ao longo do
inquérito policial e do processo criminal,
há muitos “atores com poder de veto” que
podem agir na perspectiva de afastar a imputação desses delitos a seus respectivos
mandantes e executores: policiais civis e
militares, investigadores, peritos, delegados, promotores, juízes, desembargadores,
advogados etc.
O tema da impunidade gera, portanto, uma
série de perplexidades que terão de ser en-
Importante ainda mencionar que os anos de 1991-92 e 1997-2000 não tiveram registros de massacres no campo.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
frentadas ao longo do processo da pesquisa.
Se o tema é tratado como defeito ou não consecução dos objetivos do sistema criminal
(cujas funções declaradas estariam ligadas
à responsabilização criminal de mandantes
e executores), corre-se o risco de se legitimar discursos encobridores das funções reais ocultas dessas instituições estatais.
A relação entre os índices gerais de assassinatos e o capítulo específico dos massacres;
a relação entre os casos estudados e os diferentes ciclos de conflitos no campo na Nova
República; as especificidades regionais que
permeiam os massacres; bem como a atuação dos agentes do sistema de Justiça
criminal na produção de uma impunidade
estrutural são alguns dos desafios que deverão ser enfrentados ao longo do processo de pesquisa. A singularidade de cada
massacre, retratada nas fontes primárias
e secundárias recolhidas e sistematizadas
segundo a metodologia do Cedoc e a visão
totalizante dos conflitos no campo ao longo
da Nova República, propiciada pelo estudo
sistemático das trinta e cinco edições dos
relatórios da CPT, se constituem como o cenário dentro do qual a pesquisa “Massacres
no Campo na Nova República” vai sendo realizada. Não se trata de tarefa simples, mas
seus resultados serão fundamentais para,
uma vez mais, retirar da invisibilidade as
vítimas dos crimes perpetuados pelo latifúndio e para tornar visíveis os mecanismos
de produção estrutural da impunidade. Espera-se também que tenha o potencial de
contribuir para o fortalecimento da luta dos
povos da terra e território no Brasil.
Referências bibliográficas
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no campo: crime e impunidade, 1964-1985. São
Paulo: Global, 1986.
MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São Paulo:
Hucitec, 1997.
MATOS, Helaine Saraiv; CUNHA, Gabriela Bento; ALENCAR, Francisco Amaro Gomes de. Panorama dos conflitos e da violência no espaço
agrário brasileiro de 1985-2014. In: CANUTO,
Antônio; LUZ, Cássia Regina da Silva; COSTA,
Edmundo Rodrigues (coord.). Conflitos no Campo – Brasil 2014. Goiânia: CPT Nacional, 2014.
Pp. 68-73.
MOLINA, Mônica C.; SOUSA JÚNIOR, José G.
de; TOURINHO NETO, Fernado da C. (orgs.). O
direito achado na rua: Introdução crítica ao direito agrário. Vol. 3. Brasília, Universidade de
Brasília, Decanato de Extensão, Grupo de Trabalho de apoio à Reforma Agrária, São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 2002.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter; CUIM,
Danilo Pereira; LEAL, Leandro Teixeira; SILVA,
Marlon Nunes et alli. Bye bye Brasil, aqui estamos: a reinvenção da questão agrária no Brasil.
In: CANUTO, Antônio; LUZ, Cássia Regina da
Silva; ANDRADE, Thiago Valentim Pinto (coord.).
Conflitos no Campo – Brasil 2015. Goiânia: CPT
Nacional, 2015. Pp. 86-98.
211
Tabela 9 - Tentativas de Assassinato (2020)
Municípios
Nome do Conflito
Data
Nome da Vítima
Seringal São Bernardo
01/06/2020 Não informado
Vítimas Idade Categoria
Acre
Rio Branco
Subtotal
5
Seringueiro
5
Amazonas
Atalaia do Norte
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
28/05/2020
Daniel Tello Murajari
Kokama
1
Atalaia do Norte
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária
28/05/2020
Criança Kokama
1
Maués
Próximo à Com. Santa Clara/Rio
Urupadi/Polo 11/Sítio São Francisco
07/06/2020
Donizete Sales dos
Santos
1
Subtotal
25 Indígenas
4 Indígenas
37
Pequeno
proprietário
3
Maranhão
Arame
T. I. Arariboia/92 Aldeias/Etnias
Guajajara, Gavião e Guajá/Barreira
Sanitária
04/04/2020 Antônio Filho Guajajara
Arari
Pov. Santo Antônio/Baixada
Maranhense
07/12/2020
Nova Iorque
Território Pesqueiro no Rio Parnaíba
17/01/2020 Não Informado
João de Deus Moreira
Rodrigues, Conzinhado
Subtotal
1
1
1
Indígenas
50 Posseiro
Pescador
3
Mato Grosso
Campo Novo do Parecis,
Diamantino, Nova Maringá
T.I. Ponte de Pedra
07/07/2020 Não informado
Subtotal
3
Funcionário
Público
3
Pará
Novo Progresso
PDS Terra Nossa
01/11/2020
Maria Márcia Elpídio de
Melo*
Subtotal
1
Assentado
1
Paraná
Diamante D'Oeste
T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã 08/03/2020 Félix Benites Avá Guarani
1
20 Indígenas
Diamante D'Oeste
T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã 08/03/2020 Lairton Vaz Avá Guarani
1
18 Indígenas
Diamante D'Oeste
T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã 08/03/2020 Everton Ortiz Avá Guarani
1
20 Indígenas
Guaíra
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/
Guasu Guavirá/Itaipu
28/05/2020 Indígenas Guarani
5
Indígenas
Nova Laranjeiras
T.I. Rio das Cobras/Kaingang-Guarani
16/11/2020 Indígena Kaingang
1
Indígenas
Subtotal
9
Pernambuco
Jaqueira
Jaqueira
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
23/04/2020 Não informado
23/04/2020
Ernande Vicente Barbosa
da Silva
16/07/2020
Edeilson Alexandre
Fernandes da Silva
Subtotal
8
Posseiro
1
52 Posseiro
1
Posseiro
10
Rondônia
Machadinho D'Oeste
Subtotal
Total
Assent. Santa Maria II/Acamp.
Fortaleza/Sítio Alto Alegre
04/06/2020
Assentado conhecido
como Pedreiro
1
1
35
Assentado
Foto: Agatha Azevedo - MST
Olhar pastoral sobre os conflitos
Flávio Lazzarin1
O convite a escrever sobre a violência e crimes perpetrados contra indígenas, camponeses e camponesas – de inúmeras vias
campesinas – põe novamente em cheque os
meus pensamentos e a minha consciência
e deixa aflorar uma violenta indignação,
mesclada com uma imensa tristeza, que
precisariam da moderação que só seria propiciada por uma autêntica espiritualidade
evangélica.
É desde 1985 que, pontualmente, a CPT re1
Padre, Agente Pastoral da CPT-MA.
pete o rito da denúncia da perseguição do
campesinato pelo latifúndio e pelo Estado.
À ritualidade diabólica e trágica da necroeconomia e da necropolítica, respondemos
com os ritos da documentação científica,
das análises acadêmicas e das leituras teológico-pastorais. Mas todo rito corre o risco
da usura e da irrelevância, doenças graves
provocadas pela repetitividade. As palavras,
nos processos rituais de repetição, podem
perder o poder de mudar radicalmente pensamentos e emoções e conservar o mero e
213
inútil poder de confirmar contratos ideológicos e políticos, que também são escravos
da conjuração a repetir, quando é banida a
busca de novas práxis e novas leituras da
realidade.
Gostaria, também, que esse meu sentimento não nascesse do desejo hipermoderno da
novidade, mas do anseio de fazer ressoar
palavras cada vez mais poderosas e perigosas.
É evidente, porém, que a questão fundamental não é a das palavras ritualmente vazias, mas a da ausência de práticas políticas
autenticamente anticapitalistas. Em suma,
o capitalismo aparece como um sistema de
morte só em discursos e nas encíclicas de
Papa Francisco, mas, na realidade, acabamos parados, sem ação e sem reação, diante
da multidão dos sacrificados e crucificados.
E diante da própria vida que está morrendo
de morte matada.
Com relação a isso, uma lembrança do passado retorna aos meus pensamentos: devo
confessar que não fui indulgente e compreensivo com meu pai. Um dia, mais de 50
anos atrás, encarei o velho e, filho novo sem
experiência e sem coração, perguntei: “Por
que o senhor foi tão covarde diante do fascismo? Por que simplesmente quis viver e
sobreviver?” E hoje devo repetir o mea-culpa, pois, olhando para mim e para minha
geração, apesar de tudo, não encontro desculpas para a nossa ausência no enfrentamento, cada vez mais urgente e necessário,
do sistema de morte. E, assim, devo fazer
minhas as palavras de Belchior:
“Feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais”.
Em suma, acho que é cada vez mais difícil, da mesma maneira que o poeta Thiago
de Mello, cantar apesar da escuridão, como
fizemos no último Congresso de Porto Velho. Parece que conseguiram envenenar as
fontes da esperança e fechar toda porta e
caminho do futuro.
A reedição de ideologias e políticas fascistas surpreende hoje somente quem, ingenuamente, acreditava que estávamos num
processo democrático irreversível. Diante
do ódio e da violência, que não moram apenas no Planalto, mas controlam e orientam
mentes e corações de milhões de brasileiros,
acreditar no pacifismo radical significaria
apostar na mera sobrevivência, ignorando
irresponsavelmente as exigências da vida.
Nestes tempos sombrios, penso numa figura importante do século passado: Dietrich
Bonhoeffer, pastor e teólogo – o protagonista da revolução teológica do século XX – da
Igreja Confessante, um movimento luterano
minoritário de resistência ao Partido Nazista.
Bonhoeffer enfrentou o nazismo desde o
começo, em 1933. A sua oposição se dá a
partir da fé em Jesus e em sua Palavra. E é
em nome do Evangelho, aceitando a culpa
da desobediência à Lei, que colaborou com
o grupo do almirante Canaris e participou,
em 1944, do atentado falido à vida de Hitler.
Acusado do crime de alta traição, foi processado e condenado à morte. Foi justiçado em
9 de abril de 1945, no campo de concentração de Flossenbürg.
A um prisioneiro italiano, companheiro de
detenção, que perguntou a Bonhoeffer como
pode um cristão, um pastor, participar de
uma conspiração que comporta a transgressão do mandamento “não matarás”, ele respondeu: “Quando um louco joga o seu carro
em alta velocidade em cima da calçada, não
posso, como pastor, simplesmente ficar sa-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
tisfeito com o enterro das vítimas e a consolação das famílias enlutadas. Eu devo, se
estiver presente naquele lugar, pular e bloquear o motorista na direção.”
Em 1965, 20 anos depois, padre Lorenzo
Milani, ele mesmo de descendência judaica,
dizia: “Se não tivesse existido a profecia da
Igreja Confessante, nós, cristãos, não teríamos algum direito de olhar um hebreu,
olhos nos olhos.”2 Com efeito, a Igreja Católica, ao longo dos anos do nazi-fascismo, se
revestiu de uma não inocente neutralidade,
enquanto a Igreja Evangélica institucional
fez uma aliança explícita com o nazismo.
A violência contra os pobres no nosso país
aumentou exponencialmente pela pandemia pilotada por governo, Forças Armadas
e elites genocidas, chegando a estatísticas
estarrecedoras. No contexto dessa hecatombe, podem aparentar mínimos e irrelevantes
os dados sobre a violência no campo, mas
seria errada essa blasfema comparação estatística, porque, nos dois casos, é evidente
que estamos enfrentando o mesmo projeto
de negação e extermínio dos povos indígenas, camponeses e pobres, instaurado no
começo da tragédia colonial na Abya Yala.
Além disso, é bom repetir o que muitos cientistas afirmam: a pandemia evidencia a relação estrita entre a difusão dos vírus e a
destruição das florestas tropicais e savanas,
como o cerrado. Isso já tinha acontecido
com os vírus do ebola, SARS e HIV. Portanto, parece evidente que o agronegócio não é
somente um atentado à estabilidade climática e à vida dos biomas e do campesinato,
mas também uma ameaça à saúde pública
e à sobrevivência da humanidade.
Não deveria surpreender que, refletindo
sobre os conflitos de 2020, até este ponto
acentuei somente a trágica relevância da
violência pública e privada contra o campe2
sinato e praticamente ignorei a iniciativa e a
luta dos povos originários e das comunidades camponesas nesta conjuntura. De fato,
os processos de organização, articulação e
mobilização tiveram uma inevitável flexão.
A pandemia, até sem o planejamento genocida governamental, comporta, apesar das
irresponsabilidades presentes em todos os
territórios, a drástica diminuição dos contatos presenciais, a suspensão das viagens
de articulação e a ausência de mobilizações
significativas até em nível municipal.
É bom começar a entender que a pandemia,
também quando enfrentada de forma mais
adequada, como aconteceu em outros países, propicia a morte da política e o risco
da radicalização do Estado de exceção, feito
de proibições, controles, disciplinamentos,
especialistas, cientistas, médicos e temperado por medo, paranoia, depressão e o
surgimento de aprendizes de ditadores. Em
suma, a luta por terra e territórios também
foi atingida; inicialmente, pela pandemia e,
junto com ela, pela continuidade acelerada
das agressões das empresas, do Executivo e
do Poder Judiciário.
Guiados pela Palavra, parece que somos
convidados a ler e viver esse tempo como
tempo de Exílio, tempo de Lamentações,
uma Sexta-feira Santa em que não conseguimos ver, com João, a Glória escondida
na ignomínia da Cruz.
Não podemos fugir das lágrimas quando diariamente, além das frias estatísticas e das
identidades desconhecidas, somos interpelados pelo sofrimento e a morte de quem é
carne da nossa carne. E choramos também
por Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga,
Mata Atlântica, Pampas, os biomas violados
e mortalmente feridos, terra e águas, que
são também carne da nossa carne.
Sem dúvida, esses tempos de pandemia re-
Mario Di Stefano, La perla dai mille riflessi, in Fede Laica 2, 26 marzo 2015, p. 115. URL consultato il 21.01.2021.
215
comendam, sobretudo, para nós, os mais
velhos, os exercícios espirituais para a boa
morte. Não devemos esquecer que esse morrer nunca é fatalidade. É assassinato; é genocídio.
Apesar de tudo, acreditamos que a esperança possa ser iluminada pelas palavras
de Paulo aos Efésios. Estamos em guerra e,
ironicamente equipados com as armas defensivas e ofensivas do legionário romano –
símbolo da inimizade de todas as polícias e
forças armadas –, enfrentamos as potências
inimigas que inspiram e conduzem os donos
deste mundo tenebroso. Paulo escreve em
Roma onde está preso aguardando o processo em que será condenado à morte. É o tempo da perseguição de Nero e o conflito com
o Império é apresentado como um embate
com as forças do mal, os espíritos malignos,
as diabólicas entidades características das
3
culturas populares da Ásia Menor, que garantem o controle e a manutenção da sociedade submetida à dominação. Trata-se
de um projeto de dominação com características religiosas, sacrais3. Inevitável a
atualização desse imundo projeto sagrado
feita por Walter Benjamin, que define o capitalismo como uma religião. Para combater
essa guerra contra essa religião mortífera,
devemos nos armar com a verdade e a justiça, empunhar a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus, e acolher a companhia de
Jesus, com o cortejo dos Encantados e das
Encantadas, dos Orixás, dos Santos, Santas, das forças espirituais, que derrotam os
espíritos do mal e acompanham a resistência e a luta dos pobres, dos povos indígenas,
dos quilombolas, das comunidades tradicionais, dos pequeninos, pequeninas, irmãos e
irmãs de Quem derrotou a morte e restaurou a vida.
Conversando com Sandro Gallazzi e Anna Maria Rizzante, em 7 de fevereiro de 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Tabela 10 - Ameaças de Morte (2020)
Municípios
Nome do Conflito
Data
Nome da Vítima
Vítimas Idade Categoria
Rio Branco
Seringal São Bernardo
07/10/2020 Não informado
5
Seringueiro
Rio Branco
Seringal São Bernardo
07/10/2020 Não informado
2
Seringueiro
Acre
Subtotal
7
Amazonas
Boca do Acre
P. A. Monte
18/02/2020 Não informado
Boca do Acre
P. A. Monte
18/02/2020
1
Advogado/a
1
Agente pastoral
Lábrea
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com. Mariele
Franco
Nova Olinda do
Norte
26/07/2020 Não informado
1
Posseiro
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
09/08/2020 Antônio Pereira Vidal
1
Ribeirinho
Nova Olinda do
Norte
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Outras
09/08/2020 Não Informado
1
Ribeirinho
Presidente Figueiredo Com. Terra Santa/Km 152/BR-174
21/12/2020
Agente Pastoral da
CPT Acre
José Borges dos
Santos
1
59 Posseiro
Presidente Figueiredo Com. Terra Santa/Km 152/BR-174
21/12/2020
Luiz Barbosa
1
Posseiro
Presidente Figueiredo Com. Terra Santa/Km 152/BR-174
21/12/2020
Aristeu
1
Posseiro
São Paulo de
Olivença
09/10/2020 Não informado
2
Indígenas
Com. Kambeba/Castanhal do Ajaratuba
Subtotal
10
Bahia
Barra
Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira
11/09/2020
João de Oliveira
Marques
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Barra
Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira
11/09/2020
Josiel de Oliveira
Marques
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Barro Alto
Com. Barreiro/Barreirinho/Santa Cruz/Sumidouro/
Boa Vista/Lagoa do Cipó/Queimada do Rufino/Pé
de Limão/Volta Grande/Mandacaru/Morro do
Fernandes/Santana do Jacaré/Lagoa Grande/
Gergilim
09/12/2020 Não informado
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Bom Jesus da Lapa
Com. Quilombola Fortaleza
21/01/2020
Bartolomeu Oliveira
Gomes
1
Quilombola
Bom Jesus da Lapa
Com. Quilombola Fortaleza
21/01/2020
Valdeci Paulo de
Souza
1
Quilombola
Bom Jesus da Lapa
Com. Quilombola Fortaleza
Miguel Aparecido
21/01/2020
Costa dos Santos
1
Quilombola
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
30/01/2020
Mariléia Aparecida
dos Passos*
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
30/01/2020
Eunice Francisca de
Araújo
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Brotas de Macaúbas
Comunidade Mangabeira
30/01/2020
Maristelia Aparecida
dos Passos*
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Cafarnaum
Faz. Queimadas/Acamp. Márcio Matos
26/03/2020 Oziel Ferreira Silva
1
Sem Terra
Cafarnaum
Faz. Queimadas/Acamp. Márcio Matos
26/03/2020
1
Sem Terra
Camamu
Com. Quilombola Barroso
Antônio Correia dos
02/03/2020 Santos, Antônio do
Barroso+
1
Quilombola
Eunápolis
Aldeia Taquari
22/07/2020
1
Indígenas
Ilhéus
Serra do Padeiro/Serra de Trempes/Povo
Tupinambá/Barreira Sanitária
Cacique Babau,
17/02/2020 Rosivaldo Ferreira
da Silva
1
Indígenas
Piatã
Comunidade dos Gerais
31/12/2020 Não Informado
1
Camponês de
fundo e fecho de
pasto
Subtotal
Maranhão
Hércules Rosa
Brotas
Cacique Juvenal
Tupinambá
15
217
Municípios
Nome do Conflito
Data
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020 Matias Miranda
Nome da Vítima
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020 Giovane da Silva
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
Raimundo da Silva,
19/09/2020
Lindoca
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
José Prazeres da
19/09/2020 Silva, Nenzim
Lindoca
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020
Itamar Lima da
Silva, Dimas
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020
Antonio Silva dos
Santos
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
José Adriano de
19/09/2020
Jesus
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020 Luís Mendonça
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020 Leila de Jesus
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020
Maria Mousinho da
Silva
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020
Raimundo Nonato da
Silva
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
Juscelino Galvão
19/09/2020
Oliveira
1
Posseiro
Alto Alegre do
Maranhão
Faz. Campestre Catulo/Pov. Campestre/Pov.
Canafístula/Território Campestre
19/09/2020
Zaqueu Galvão
Oliveira
1
Posseiro
Carutapera
Com. São João de Murujá
José Batista do
01/12/2020 Espírito Santo
Nazaré Caxias
1
42 Posseiro
Carutapera
Com. São João de Murujá
01/12/2020
José do Carmo
Lanoa
1
Posseiro
Carutapera
Com. São João de Murujá
01/12/2020 Não Informado
1
Posseiro
Formosa da Serra
Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do Bacuri/Gl. São
José/Data Alegre
Filhos de Lideranças
10/05/2020
da Comunidade
1
SI Posseiro
Formosa da Serra
Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do Bacuri/Gl. São
José/Data Alegre
Raimundo Nonato
10/05/2020
Rodrigues Filho
1
52 Posseiro
Formosa da Serra
Negra
Pov. Bem Feito/Faz. Chapada do Bacuri/Gl. São
José/Data Alegre
10/05/2020
1
45 Posseiro
Itaipava do Grajaú
T. I. Urucu-Juruá/Guajajara
05/05/2020 Não informado
1
Santa Rita
Povoado Cedro
Luciene de Jesus da
17/01/2020
Silva
1
38 Quilombola
Santa Rita
Povoado Cedro
17/01/2020
1
35 Quilombola
Conceição da Silva
Ramos, Concita
Ivone Guimarães
Moraes
Subtotal
Vítimas Idade Categoria
Indígenas
22
Mato Grosso
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa Esperança/Gl.
Nhandu
Albertino dos Reis
12/11/2020 Vieira/Viana de
Oliveira, Robertinho
Novo Mundo
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa Esperança/Gl.
Nhandu
12/11/2020
José Antônio Dos
Reis, Zé Reis
Subtotal
1
Sem Terra
1
Sem Terra
2
Pará
Altamira, Novo
Progresso
PDS Terra Nossa
31/12/2020
1
Assentado
Anapu
Gl. Bacajá/Lotes 96 e 97/Fazs. Bom Jesus e
Berrante
Erasmo Alves
30/01/2020
Teófilo*
1
31 Sem Terra
Anapu
Gleba Bacajá/PDS Esperança/Assassinato da Ir.
Dorothy
27/10/2020 Não informado
1
Assentado
Anapu
Gl. Bacajá/P. A. Pilão Poente II/Lote 73
30/06/2020 Não informado
3
Sem Terra
Anapu
Ameaçados de Morte
31/12/2020 Não informado
6
Sem Terra
Curionópolis,
Eldorado do Carajás, Faz. Surubim/Acamp. Osmir Venuto da Silva
Piçarra, Xinguara
18/09/2020 Suzana
1
Sem Terra
Goianésia do Pará
Faz. Baronesa/Acamp. São Sebastião
31/01/2020
1
Sem Terra
PAC Araipacupu
Raione Lima
26/05/2020
Campos
1
Agente pastoral
1
Indígenas
Itaituba
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/Barreira Sanitária
24/06/2020
Maria Márcia Elpídio
de Melo*
Não informado
Alessandra Korap
Silva Munduruku
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Municípios
Nome do Conflito
Data
Nome da Vítima
Itaituba
Reserva Indígena Praia do Índio/Barreira Sanitária
24/06/2020
Anderson Painhum
Alves
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/Barreira
Sanitária
Jacareacanga
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/Barreira
Sanitária
Marabá
Faz. Santa Tereza/Acamp. Santa Ernestina/Acamp.
Hugo Chávez
09/06/2020
Moju
Território Quilombola do Jambuaçu/Barreira
Sanitária
Monte Alegre
Vítimas Idade Categoria
1
Indígenas
16/06/2020 Não informado
3
Indígenas
Maria Leuza Cosme
27/08/2020
Kaba Munduruku*
1
Indígenas
1
Sem Terra
27/02/2020 Não informado
5
Quilombola
Com. de pescadores do Lago Grande e rio
Maicurú
20/02/2020 Não informado
2
Pescador
Ourilândia do Norte
Fazenda Mil e Duzentos
Raimundo Paulino da
31/01/2020 Silva Filho, Paulino
do PT+
1
Sem Terra
Rurópolis
PAC Araipacupu
26/05/2020
1
Assentado
Santa Maria das
Barreiras
Fazenda Santa Cecília
04/04/2020 Não informado
2
Sem Terra
Santa Maria das
Barreiras
Acampamento Deus é Pai/Faz. São João
30/06/2020 Isa
1
Sem Terra
Trairão
P. A. Areia II/Com. São Mateus
Osvalinda Maria
15/10/2020 Marcelina Alves
Pereira*
1
Assentado
Trairão
P. A. Areia II/Com. São Mateus
15/10/2020 Daniel Alves Pereira*
1
Assentado
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
Antônio Pablo Souza
31/03/2020
Silva*
1
Sem Terra
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
Fabrício de Souza
31/03/2020
Silva*
1
Sem Terra
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
31/03/2020
Alan Conceição da
Silva*
1
Sem Terra
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
Joacy Alves de
31/03/2020
Sousa*
1
Sem Terra
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
31/03/2020
Trairão
P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49
31/03/2020 Anderson
Trairão
Manoel da Silva
Souza
Valdenir Ferreira
Costa*
Fagno de Souza
Silva
Subtotal
1
Sem Terra
1
Sem Terra
42
Paraíba
Manaíra
Comunidade Quilombola Fonseca
20/01/2020
Luís José dos
Santos
Subtotal
1
62 Quilombola
1
Pernambuco
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
26/06/2020
Edeilson Alexandre
Fernandes da Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca
20/07/2020 Adriano
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020
Cicero Bernardo da
Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020
Severino dos Ramos
Sena Ferreira
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
Ernande Vicente
16/07/2020
Barbosa da Silva*
1
52 Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
Josenildo Cícero da
16/07/2020
Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020
Valdenice da Silva
Delgado
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
José Severino Elias
16/07/2020
da Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
16/07/2020 Maicon da Silva
1
Posseiro
Eng. Fervedouro/Us. Frei Caneca
Adailton José
16/07/2020
Santana
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca
Jeterino Francisco
16/07/2020
da Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca
16/07/2020 Valdeci José da Silva
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca
16/07/2020
1
Posseiro
Jaqueira
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Caneca
16/07/2020 Almir Luís da Silva
1
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020 Joselito Nogueira
1
Posseiro
Jaqueira
José Adriano de
Andrade
Antônio Cícero
Custódio
219
Municípios
Nome do Conflito
Data
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020 Severino Wanderley
Nome da Vítima
1
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020 Ravel
1
M Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020
1
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
Edivaldo Rodrigues
24/12/2020
de Oliveira
1
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
24/12/2020 Vanessa Maria
1
Posseiro
Maraial
Engenho Batateira
28/07/2020
1
39 Posseiro
Kleiton Pedro da
Silva
Vanessa Maria da
Silva Oliveira*
Vítimas Idade Categoria
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Cilene
1
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Deilde Bruno
1
Indígenas
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Vasco
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Jean
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Civaldo
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Pedro Peru
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Gilmar
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Lasqueira
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Ronaldo
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Chico
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Tatu
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Nino
1
Indígenas
Petrolândia
T. I. Pankararu
31/07/2020 Zaeu
1
Indígenas
Sirinhaém
Com. Pesqueiras/Rio Sirinhahém/Us. Trapiche
12/03/2020
1
48 Pescador
Maria Nasareth dos
Santos
Subtotal
36
Piauí
Gilbués
Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/Barra do
Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo das Éguas/
Serra Partida/Assent. Rio Preto
01/09/2020 Não Informado
Subtotal
1
Posseiro
1
Rio de Janeiro
Paraty
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e Mbya
12/08/2020
Sem informação
Subtotal
1
Indígenas
1
Rondônia
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Senhor Adão
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020
1
Posseiro
1
Posseiro
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Sebastião Martins
1
Posseiro
15/06/2020 Maria Nogueira
1
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020
Posseiro
Francisco Alexandre
da Silva
1
Posseiro
Candeias do Jamari
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Elizane Gomes Pinto
1
Posseiro
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Sebastião Pavão
1
Posseiro
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Nivaldo Pavão
1
Posseiro
Candeias do Jamari
Com. Ramal São Sebastião
15/06/2020 Senhora Nazinha
1
Posseiro
Candeias do Jamari
Ramal João da Praia/Linha 45
07/07/2020 Não informado
1
Pequeno
proprietário
Candeias do Jamari
Agrop. Rio Candeias/Faz. Urupá/Assent. Flor do
Amazonas/Acamp. Boa Sorte
30/04/2020 Divina da Silva Braz
1
Sem Terra
P. A. Nova Floresta/Gl. Rio Alto
Gildo Machado de
14/07/2020
Barros
1
Assentado
Governador Jorge
Teixeira
P. A. Nova Floresta/Gl. Rio Alto
14/07/2020 Ailton, Mineiro
1
Assentado
Machadinho D'Oeste
Fazenda Jatobá
23/04/2020 Não Informado
1
Sem Terra
Nova Mamoré
Acamp. Conquista/Faz. Primavera/Gleba Buriti/
Distrito de Jacinópolis
19/05/2020 Não informado
1
Sem Terra
Porto Velho
Acamp. Dois Irmãos/Dois Amigos/Faz. do Bispo/
Linha 29 C
06/06/2020
1
31 Sem Terra
Porto Velho
Nova Mutum e Jaci Paraná/UHE Jirau e Santo
Antônio
Ana Flávia do
07/01/2020
Nascimento
1
47
Vilhena
Faz.
Vilhena/Gleba Corumbiara/Linha 85/ Setor 7/Lote
1
25/04/2020 Juraci Garcia
1
49 Posseiro
Governador Jorge
Teixeira
Subtotal
Santa Catarina
Neto do Senhor
Adão
Marcos Carvalho de
Araujo
18
Atingido por
barragem
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Municípios
Nome do Conflito
Data
Ituporanga
Fazenda em Ituporanga
20/11/2020 Não informado
Nome da Vítima
Subtotal
Vítimas Idade Categoria
3
Trabalhador
Rural
3
Tocantins
Barra do Ouro
Subtotal
Total
Gleba Tauá
01/02/2020
Valdineiz Pereira dos
Santos, Pica-Pau*
1
1
159
44 Posseiro
Foto: Andressa Zumpano
Manifestações
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
As LGBTI+1 do campo e a luta contra
a lgbtifobia
Alessandro Santos Mariano2
Katia Iris Marro3
Introdução
O Brasil é o país que lidera os números de
assassinatos relacionados à LGBTfobia4 no
mundo. Segundo as Nações Unidas, o brasileiro tem, em média, uma expectativa de
vida de 75 anos. Entretanto, para uma pessoa trans, essa expectativa raramente ultrapassa os 35 anos. Só em 2020, foram assassinadas 175 travestis e transexuais (Antra,
2021). Em seu site Quem a homofobia matou hoje?, o Grupo Gay da Bahia (GGB) denuncia a triste estatística de 2.178 LGBTI+
assassinadas entre 2014 e 2019. Em 2019,
foram mortas 329 LGBTI+ (GGB, 2020). Os
índices indicam que, a cada 26 horas, uma
pessoa LGBTI+ é vítima de assassinato ou
suicídio.
Os dados demonstram o crescimento da violência explícita contra as pessoas LGBTI+.
A crueldade com que são realizados esses
assassinatos (facada, tiro a queima-roupa,
pauladas, dentre outras formas de violência
exacerbada) parece retratar uma mensagem
macabra, de apagamento e aniquilação das
pessoas LGBTI+, que se veem forçadas a esconder sua sexualidade e identidade de gê-
nero5 para permanecerem vivas. O impacto
político e simbólico da omissão do Estado,
sobretudo das suas instituições de Justiça, sela um pacto de silêncio e impunidade,
que reproduz as cadeias de violência social
e institucional contra esses sujeitos. Por
sua vez, a omissão de algumas organizações
sociais também é indignante, pois poucos
se solidarizam com as mortes de travestis,
gays, lésbicas e bissexuais.
As violências LGBTfóbicas não estão tão
distantes das organizações camponesas e
da vida no campo. Em 19 de agosto 2019,
Aline da Silva, militante trans do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
foi degolada por dois desconhecidos na saída de uma festa no município de Arcoverde, em Pernambuco. No dia 5 de junho de
2020, Safira Nunes, mulher trans militante
do Movimento dos Pequenos Agricultores
(MPA), sofreu agressão transfóbica no município de Cedro, também em Pernambuco. No início deste ano, em 26 de janeiro de
2021, no município de Pau D’Arco, no Estado do Pará, Fernando dos Santos Araújo,
gay sem-terra, foi barbaramente executado.
1
Neste texto, vamos utilizar a terminologia LGBTI+, que significa pessoas que se reconhecem como lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos. Ao utilizar essa sigla, consideramos as existências de outras identidades e orientações sexuais, tais como queer, pansexual e assexual.
2
Doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp e membro do Coletivo LGBTI da Via campesina Brasil.
3
Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Campus Universitário Rio das Ostras.
4
Usamos a terminologia LGBTIfobia para nos referir à lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia. Elas sugerem práticas e
posturas de aversão, repugnância, ódio e preconceito que algumas pessoas ou grupos nutrem contra as LGBTI+.
5
A identidade de gênero diz respeito à forma como cada sujeito se reconhece e deseja ser reconhecido socialmente (envolve
um processo de autodefinição, de identificação), independe do seu sexo biológico, podendo se identificar como sendo do
gênero feminino, masculino, ou ainda, como uma combinação dos dois. Uma das identidades de gênero é a de transexual
e refere-se a homens ou mulheres que possuem uma identidade de gênero diferente da definida no nascimento pelo sexo
biológico. As lutas das pessoas transsexuais e das pessoas LGBTI+ têm pautado o seu direito a viverem, serem aceitas e
reconhecidas como são.
223
Ele era testemunha e um dos sobreviventes do massacre de Pau D’Arco, que matou
dez sem-terra em 24 de maio de 2017. Nesse traumático episódio, Fernando tinha ficado 36 horas escondido dentro do mato,
enquanto ouvia os gritos dos amigos, e do
seu próprio companheiro, Bruno Henrique
Pereira Gomes, um dos torturados e mortos
pela polícia no massacre. Fernando foi executado como queima de arquivo, com um
tiro na nuca, dentro da sua casa no acampamento.
Nessas situações de violência LGBTfóbica,
confluem e se reproduzem também as violências do latifúndio, da repressão e criminalização dos e das trabalhadores/as do
campo, da fome e da pobreza pela inexistência da Reforma Agrária, da invisibilidade
e o preconceito nas próprias comunidades
camponesas. Não é por casualidade que
neste período de pandemia da COVID-19,
têm aumentado os índices de depressão,
suicídio e solidão dentro da comunidade
LGBTI+, segmento particularmente afetado por essa realidade (#VOTELGBT, 2020).
Notemos que os dados sobre violência LGBTfóbica analisados neste artigo são fruto da
inciativa autônoma e da auto-organização
desses sujeitos, pois os registros oficiais de
violência contra essa população no campo
reproduzem o mesmo padrão de invisibilidade e silêncio.
Não poderíamos deixar de mencionar a invisibilidade da existência das LGBTI+ nas
lutas camponesas. Historicamente, as LGBTI+ não encontraram nas organizações sociais e sindicais espaço seguro; acolhimento
da sua participação política ou reconhecimento da legitimidade da sua vivência, e o
seu direito de ter acesso a terra, ao território, de ser LGBTI+ e amar livremente outro
ser humano. Por isso, não é casual que uma
grande maioria tenha sido levada a sair do
campo e migrar para as grandes cidades
em busca de trabalho e “liberdade” para viver a sua sexualidade. Mas as cidades nem
sempre são espaços seguros. Em muitas
oportunidades, novas discriminações e violências marcam suas novas trajetórias de
vida. As que continuam vivendo nas comunidades camponesas têm pelo menos duas
opções cruéis: viverem presas no armário,
não expressando a sua identidade ou orientação sexual – o que ajuda a explicar os casos de depressão e suicídios de LGBTI+ no
campo –, ou assumir ser LGBTI+ e viver de
forma isolada da comunidade, ser motivo de
“chacota”, alvo de piadas, agressões físicas
e verbais (LA VIA CAMPESINA, 2020).
Os homens gays efeminados6, junto com
as transexuais e as lésbicas não efeminadas ou com expressão de gênero masculina
são os principais alvos do preconceito e da
violência, pois seus comportamentos e suas
existências colidem com os padrões e papéis
sociais de gênero moldados pela sociedade
capitalista, racista e patriarcal7. Em tempos
de barbárie e regressão social, as diversas
expressões de gênero, como a transexualidade ou não binaridade de gênero, encontram a resposta brutal dos mecanismos
da dominação que esta sociedade põe em
funcionamento. Reforçar a sangue e fogo
os binarismos de gênero ou papéis sociais,
delimitados a partir de uma disciplinadora
6
Efeminado é um termo usado para descrever um padrão de comportamento social que é definido pela presença de caracterís
7
O patriarcado é um sistema de opressão, exploração e dominação do sexo/gênero masculino sobre o sexo/gênero feminino,
que atravessa diversas sociedades e modos de produção. No contexto das relações capitalistas de produção, o patriarcado e
o racismo se reorganizam, configurando uma particular divisão sexual e racial do trabalho, um modelo especifico de família
nuclear e heterossexual (caracterizada como um núcleo privado formado pela mulher, o marido e os filhos). Dentro desse
núcleo caberá à mulher (primeiro como propriedade do pai, e após o casamento, como propriedade do marido), a responsabilidade pela realização do trabalho doméstico (não remunerado), o cuidado com a casa, a criação dos filhos, o cuidado com
os idosos etc. Já ao homem, é garantida a posse dos tipos privados de propriedade, o privilégio da vida pública, o poder de
decidir a respeito da forma como esses sistemas se perpetuam, ou seja, o poder de decidir a respeito do tempo, do trabalho,
do corpo e da sexualidade da mulher.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
e hierárquica divisão sexual e racial do trabalho, pode ser fundamental em contextos
de crise econômica em que é preciso intensificar o trabalho reprodutivo ou aumentar
ainda mais a exploração das LGBTI+ no
mercado de trabalho. Perseguir, difamar e
demonizar esses sujeitos pode ser também
útil para atiçar conflitos interpessoais que
permitam escoar pequenas frustrações e
tensões de classe, inclusive para interditar
o encontro com os caminhos coletivos oferecidos pelas organizações populares das
classes trabalhadoras e subalternas.
É por isso que, desde 2015, os movimentos camponeses como MST, Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB), MPA e Indigenas8 têm organizado espaços de participação das LGBTI+ dentro de suas organizações, constituindo em 2020 o Coletivo
LGBTI da Via Campesina-Brasil9. Esse espaço tem provocado as organizações e movimentos a se interrogarem sobre a inclusão da diversidade sexual e identidade de
gênero nas suas pautas de luta: seja na luta
pelos direitos sociais, seja no acolhimento das LGBTI+, para que sigam vivendo no
campo, produzindo na terra, e tenham possibilidades de viver, amar e ser feliz participando da vida na comunidade, seja na implementação de ações em defesa da vida das
LGBTI+ que estão sendo ameaçadas nesta
conjuntura de recrudescimento do conservadorismo. Em síntese, nesses últimos
anos, as LGBTI+ do campo vêm denunciando a LGBTIfobia como mais uma cerca que
precisa ser rompida em defesa do território
e da vida, tornando realidade as palavras e
ensinamentos de Dom Pedro Casaldáliga:
“Malditas sejam todas as cercas, malditas
sejam todas as propriedades privadas que
nos privam de viver e amar!”
As raízes da LGBTIfobia
De acordo com os dados apresentados nesse
relatório, 18 camponeses foram assassinados em 2020. Essas mortes são resultantes
das relações sociais e econômicas no campo, estruturadas pela ofensiva do agronegócio e expressão perversa do capitalismo na
agricultura. Sua violência se evidencia na
concentração de riqueza e na exploração da
força de trabalho dos camponeses e camponesas, da expulsão de indígenas e quilombolas de seus territórios, do seu extermínio
social, econômico e cultural. Os determinantes econômicos e sociais do pensamento
neofacista que dão a ordem para assassinar
um indígena ou camponês são os mesmos
que escolhem como alvo as LGBTI+.
Florestan Fernandes (1975), ao analisar a
formação sócio-histórica do Brasil, constata
que essa nação se fundou na escravidão, no
latifúndio. Saffioti (2013) nos lembra que a
colonização europeia utilizou da supremacia masculina eurocêntrica e da virilidade
como ferramentas para dominação do território, disseminando a prática do estupro,
junto com a escravização. Sim, o Brasil é
fruto do estupro social de negras, indígenas
e da miscigenação forçada. Por isso, não podemos comungar com a falácia da democracia racial10 imposta pela elite conservadora,
branca, latifundiária, que camufla essa vio-
8
As LGBTI+ indígena fundaram em 2019, o Coletivo Tibira, com representantes dos povos Terena, Tupinikim, Tuxá, Boe
Bororo e Guajajara, dos Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia, Pará, São Paulo e Maranhão,
tendo como principal objetivo dar visibilidade às diversas etnias e diferentes orientações sexuais e identidades de gênero
presentes nas aldeias.
9
O Coletivo LGBTI da Via Campesina é composto por lideranças LGBTI+ das seguintes organizações: APIB (Associação dos
Povos Indígenas do Brasil), Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), CPT (Comissão Pastoral da Terra),
MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MMC (Movimento de Mulheres Camponesas), MST, MAB, MAM (Movimento
pela Soberania na Mineração), PJR (Pastoral da Juventude Rural) e MPP (Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais).
10
A democracia racial é desmitificada por inúmeros intelectuais que, dentre outros argumentos, evidenciam indicadores
sociais e econômicos que revelam as reais desigualdades. Há um racismo estrutural que segrega negros/as, que dificulta o
acesso dessa população a direitos como: educação, saúde, segurança, emprego digno, terra, moradia, mas também existe o
racismo institucional que leva ao extermínio da população negra pelas forças policiais estatais.
225
lência histórica.
A colonização no Brasil não teve como alvo
apenas a terra; a colonização dos corpos reduziu homens e mulheres indígenas e negros/as a coisas, ferramentas de trabalho.
E “coisas” e “ferramentas” não têm vida,
nem sexualidades, nem família. É justamente nas lutas e levantes contra esse processo de genocídio e aniquilação de um povo
que os quilombos, aldeias e comunidades
camponesas se organizaram pelo Brasil. Ergueram-se como territórios de resistência e
cultivo dos valores culturais, tradicionais,
ancestrais, constituindo-se como referências concretas de negação social, cultural
e econômica do regime escravista. Por sua
vez, é importante lembrar que a dominação
para a exploração do território foi marcada
por relações de poder, que mobilizaram de
forma mútua e combinada a estrutura patriarcal e heterossexista, controlando simultaneamente terra, corpos e modos de vida. É
por isso que afirmamos que as tentativas de
apagamento ou aniquilação da vivência da
sexualidade não são meramente preconceitos em torno de práticas sexuais e afetivas;
são também instrumentos de dominação
nas estratégias hegemônicas que constituem as relações de produção no campo
brasileiro. A sexualidade integrou e integra
o processo de privatização e cercamento não
somente da terra, mas também dos corpos
de homens e mulheres e o cerceamento de
existências de corpos trans e não binários.
É possível identificar raízes da LGBTfobia
na colonização portuguesa, sendo o catolicismo uma formação religiosa pioneira a
serviço de impor uma cultura eurocêntrica,
patriarcal e cristã. Esta é a mesma origem
que compartilham correntes neopentecos11
tais que se expandiram e continuam predominantes até hoje.
Em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre
detalha que conceitos como homossexualidade, bissexualidade e transexualidade
faziam parte do modo de viver e de se relacionar afetiva e sexualmente nas aldeias
indígenas brasileiras. A atração sexual entre pessoas do mesmo sexo e a existência
de outras formas não binárias de gênero11
eram bem recebidas nas comunidades indígenas, sendo direcionados papéis sociais
importantes e representativos para aqueles
indígenas com a sexualidade amplamente
desenvolvida. Com a chegada dos europeus,
as práticas difamatórias e persecutórias ganham corpo no Brasil Colônia: é possível
identificar na execução do indígena Tibira12
realizada pela Igreja Católica em 1614, os
primórdios da violência LGBTfóbica no Brasil.
Apesar das profundas transformações democráticas que experimentamos e conquistamos desde então, apesar da premissa da
laicidade do Estado, ainda hoje os discursos
moralizantes das religiões europeias refletem na vida social. O Brasil coleciona exemplos de parlamentares que desrespeitam o
regime constitucional e usam suas crenças
religiosas para formulações de leis dentro
do parlamento que violentam mulheres e
meninas ou pessoas LGBTI+.
Naturalização da LGBTIfobia no campo
A sexualidade no campo, de modo geral, é
tida como um grande tabu. Às vezes, é concebida como algo a ser controlado pelas
doutrinas religiosas e morais, no sentido
de exercê-la para a procriação, sendo fre-
Não-binariedade ou identidade não-binária é um termo guarda-chuva que pode abarcar diferentes identidades: pode mesclar identidades de gênero masculinas e femininas, identidades que não se identificam nem como masculinas e femininas,
transcendendo a cisnormatividade.
12
No ano de 1614, o missionário francês Yves d’Évreux (1577-1632), da Ordem dos Capuchinhos, ordenou a prisão, tortura
e execução do índio Tibira, da etnia tupinambá, sob o pretexto de “purificar a terra do abominável pecado da sodomia. Tibira
fugiu, mas foi capturado pelos franceses, com o apoio de alguns índios, ele foi amarrado pela cintura à boca de um canhão,
“onde deitaram-lhe ferros aos pés”, teve seu corpo destroçado (FERNANDES, 2015).
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
quentemente estimulada a prática entre os
sexos opostos e em relações matrimoniais.
Ao mesmo tempo, no caso dos homens, a
prática sexual é a afirmação da virilidade:
para esses, fazer sexo antes do casamento
com várias parceiras é sinônimo de dar espaço a uma suposta natureza do “ser macho, pegador”. Entretanto, as mulheres que
fazem sexo antes de se casar correm o risco
de serem consideradas impuras e indecentes. Ao observarmos a vivência da sexualidade no campo, identificamos a reprodução
de um discurso padrão, que tem um objetivo disciplinatório dos corpos e que fixa
papéis de gênero, pautados numa cultura
heterossexista13. Tal ideia se expressa nos
discursos das pessoas, sendo incorporada
como modo de ser e viver do camponês. Por
isso, afirmamos que essa ideologia violenta,
invisibiliza, aprisiona e/ou limita a diversidade sexual que existe no campo em razão
do sexo biológico e dos papéis sociais de gênero (LA VIA CAMPESINA, 2020).
Dessa forma, as relações de produção e de
poder no campo tomam como base essas
referências construídas a partir de uma essencialização do sexo biológico e de papéis
sociais de gênero, em que o homem desempenha o papel sobreposto ao da mulher e ao
de seus filhos, e como chefe da família, é o
dono da propriedade e dos bens materiais
produzidos pelo trabalho familiar. Já a mulher vai desempenhar o trabalho doméstico,
de cuidado dos filhos e dos idosos, da produção nos quintais, não sendo considerado trabalho produtivo, pois não gera renda.
Entretanto, todos os ganhos com essa produção pertencem ao homem, que, muitas
vezes, vende essa produção nas feiras livres
e fica com os rendimentos.
No campo, também se naturaliza a discri13
minação das pessoas LGBTI+, inclusive nas
próprias organizações como sindicatos e
movimentos sociais. Em algumas oportunidades, é abordado como um assunto pouco
relevante para os espaços da organização,
ou tendo como base a “moralidade”. O preconceito é reproduzido, legitimando percepções individuais negativas, pré-julgamentos
de pessoas transexuais ou daquelas que
sentem atração afetiva e sexual por pessoas
do mesmo sexo, culminando, muitas vezes,
em atitudes de inferiorização e desumanização.
Quando as organizações camponesas e sindicais são permissivas ou omissas frente
à violência física, verbal e moral contra as
pessoas LGBTI+, de uma certa forma, elas
assumem essas práticas LGBTIfóbicas. Se
essas organizações institucionalizam o preconceito, contribuindo com a sua reprodução no plano concreto das relações sociais
dentro das organizações, impedindo ou violando o direito da participação política, esses espaços não se tornam seguros e acolhedores para a existência desses sujeitos.
É evidente que não é a condição de “ser heterossexual” o que garante a permanência
na terra ou no campo, mas oferece privilégios e possibilidades que incluem direitos
civis para casamentos, direito de propriedade, tratamento social não estigmatizado
em razão de sua sexualidade ou garantia de
acesso às políticas públicas para si e para
seu cônjuge, que não se tornam acessíveis
de forma igualitária para quem não se identifica dessa forma. Ser LGBTI+ no campo é
ser renegado a uma possível inexistência,
pois opera uma imposição da heterossexualidade, não apenas para ser respeitado e
acolhido como parte da comunidade, mas
também para ter acesso igualitário a recur-
O heterossexismo reproduz uma padronização da vivência da sexualidade e da afetividade, colocando a heterossexualidade
como norma e parâmetro, que promove atitudes de preconceito, discriminação, negação, estigmatização ou ódio contra toda
orientação sexual que não seja a heterossexual.
227
sos que impactam nas condições socioeconômicas e materiais. Ter uma orientação
sexual como homossexual14, bissexual15,
transexual16 ou ser pessoa intersexo pode
ser, com frequência, sinônimo de rejeição
pela família, comunidade ou organizações
camponesas.
Se há em curso um processo de negação dos
direitos sociais para a população do campo, nos casos em que esses camponeses/
as não se encaixam nos padrões de gênero
normatizados, os inacessos se intensificam.
A população LGBTI+ tem acesso vetado ou
limitado à saúde, ao trabalho e à educação,
marcando profundas desigualdades em relação à população cisgênero17 e heterossexual. As LGBTI+ camponesas, muitas vezes,
são relegadas às margens sociais, por não
terem direito à posse da terra, ao nome social em seus documentos (no caso das pessoas trans), por não participarem de associações comunitárias e cooperativas, tendo
inúmeras dificuldades para ter acesso a
crédito, renda, moradia de qualidade. Invisíveis no campo, migram para as cidades
em busca de mais oportunidades e melhores condições de vida.
LGBTI+ na pandemia e o aumento de violências
Não existem estatísticas que quantifiquem
as violências e mortes de LGBTI+ no campo.
Em relação aos dados que existem sobre as
LGBTI+ nas cidades, há uma grande probabilidade de que as violências e mortes estejam subnotificadas e invisibilizadas pelos
órgãos de segurança pública. O GGB (2020)
e Antra (2021) conseguem localizar e regis14
trar os casos através dos noticiários, estudos e denúncias feitas, constatando que ao
não haver notícia, há grandes chances de
não contabilização.
Nesse contexto de pandemia, a pesquisa
“Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, organizada pelo #VoteLGBT (2020), mostra que
28% da população LGBT já foi diagnosticada com depressão, sendo que desse número,
47% das pessoas foram classificadas com o
risco de depressão mais severa. A comparação com a população geral brasileira, na
qual 5,8% são diagnosticados com depressão, revela que, mesmo antes da pandemia,
uma série de fatores provocam efeitos negativos na saúde mental desta população.
Dentre eles, destacam-se a não aceitação
por familiares e amigos próximos, o preconceito e a dificuldade de inserção no mercado
formal de trabalho.
Com a pandemia da COVID-19, 42,72% das
LGBTI+ relataram o aumento de problemas
e dificuldades relacionadas à saúde mental.
Em um contexto em que 40% da população LGBT em geral e 53,35% da população
trans em específico não conseguem sobreviver sem renda por um período superior a
um mês, se tornam evidentes os impactos
na saúde mental quando se experimenta
a exclusão do mercado de trabalho, o desmonte dos direitos trabalhistas, a ausência
de auxílios assistenciais que atendam às
necessidades básicas ou de políticas sociais
mais abrangentes que contemplem as especificidades dessa população. Segundo o
“Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, 16,58%
das LGBTs estão sob novas regras de convívio social, 11,74% declaram estar na so-
Homossexualidade refere-se à característica, condição ou qualidade de um ser que sente atração física, estética e/ou
emocional por outro ser do mesmo sexo ou gênero.
15
A bissexualidade é uma orientação sexual caracterizada pela capacidade de atração, seja sexual ou romântica, por mais
de um sexo, não necessariamente ao mesmo tempo.
16
Refere-se a pessoas que nasceram com uma determinada genitália, mas cujo gênero não corresponde a genitália, ou seja,
se identificam com gênero oposto ao sexo biológico (mulheres e homens trans, travestis).
17
A cisgeneridade é a condição da pessoa cuja identidade de gênero coincide com o gênero atribuído no nascimento em
função da sua genitália. Por exemplo, alguém que se identifica como mulher e foi designada como mulher ao nascer é uma
mulher cisgênera. O termo cisgênero é o oposto da palavra transgênero.
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Campo Brasil
2020
lidão e 10,91% estão no convívio familiar.
Apesar das rejeições familiar e social serem
questões marcantes entre as pessoas dessa população, a necessidade de isolamento
associada à falta de renda leva, em muitos
casos, à convivência forçada em dinâmicas
familiares marcadas pelo preconceito e a
violência (#VOTELGBT, 2020).
Se voltarmos novamente para o âmbito rural, podemos observar situações de extremo
sofrimento nos casos de suicídio de LGBTI+
indígenas, podendo encontrar raízes que se
relacionam ao preconceito dentro e fora das
comunidades, ou à ausência de um espaço
seguro e acolhedor, quando se trata dos casos de homicídio. Há dados que comprovam
que a taxa de suicídio entre jovens indígenas é três vezes superior à média nacional
(CAMPELO, 2021).
Outro elemento é a situação de solidão, que
deriva também da incompreensão que os/as
adolescentes e jovens passam ao se descobrirem LGBTI+, pois, na maioria das vezes,
estão fragilizados/as em vários aspectos,
sem o apoio da família, da comunidade e da
escola. Fatores como as longas distâncias
entre os/as vizinhos/as, a falta de telefone
e internet, a ausência de serviços de saúde
e a falta de conhecimento sobre o debate da
diversidade sexual podem favorecer situações de depressão e suicídio (LA VIA CAMPESINA, 2020).
Há relatos de LGBTI+ do campo que, ao serem percebidos num comportamento efeminado pelos pais, são obrigados a fazer
trabalhos pesados para se “transformarem
em homens”, como se existisse uma única
forma de ser e se sentir homem. Em algumas oportunidades, quando as mulheres
lésbicas com expressão de gênero masculina executam um trabalho pesado na roça,
conseguem certo “respeito”, como se, pelo
trabalho ou pela força, compensassem ou
legitimassem a sua expressão de gênero
masculina. Não é por casualidade que a
mesma aceitação não se observa ao amor
e à afetividade lésbica, que são alvos de reprovação e violência em muitas oportunidades. Tais situações explicitam que no campo
o trabalho é tido como “pena” para os gays
e travestis ou também como compensação
para o fato de lésbicas ou homens trans serem “boas” no trabalho agrícola.
O patriarcado também estrutura as relações
sociais e de produção no campo e, na maioria das vezes, as atividades produtivas são
familiares e conduzidas pela figura paterna,
masculina, assumindo a responsabilidade
de ser uma espécie de “patrão” e espelho
de virilidade para os filhos homens. Para a
figura materna, sobram responsabilidades
do serviço doméstico e o cuidado dos/as filhos/as, sendo o modelo feminino para as
meninas e mulheres seguirem. Claro que
também há casos de mães que reproduzem
o machismo advindo dos homens, fruto de
uma ideologia patriarcal que ninguém está
isento de reproduzir (LA VIA CAMPESINA,
2020).
Um estudo produzido nos Estados Unidos pela Universidade da Columbia aponta que os jovens LGBTI+ estão cinco vezes
mais propensos às tentativas e realizações
do suicídio que os jovens heterossexuais.
Esse mesmo estudo considera que quanto
mais espaços seguros para acolhimento das
LGBTI+, ou seja, quanto mais as comunidades, escolas, organizações sociais avancem
na compreensão da diversidade sexual e de
gênero, menor é a chance de jovens LGBTI+
se suicidarem. Infelizmente, o cenário social
brasileiro é completamente hostil com as
LGBTI+. Daí a necessidade dos movimentos camponeses avançarem na dimensão
de serem espaços seguros para a participação das LGBTI+, mas também incluírem em
suas lutas o respeito às existências e todas
as formas de ser e amar das LGBTI+.
229
Auto-organização das LGBTI+ e a luta
contra a LGBTIfobia no campo
zindo alimentos e relações humanas saudáveis.
Desde 2015, as LGBTI+ da Via Campesina
Brasil vêm rompendo com a invisibilidade de suas existências, colorindo as lutas
camponesas, questionando as violências
heterocisnormativas que condenam os corpos, identidades e sexualidades dissidentes. Elas têm dado início a um processo de
auto-organização das LGBTI+, com reuniões, encontros, cursos, o que culminou, em
2020, com a criação do Coletivo LGBTI da
Via Campesina-Brasil. Esse coletivo possui
como tarefa principal avançar na inclusão
da diversidade sexual e da identidade de
gênero na plataforma política das organizações do campo, no sentido de reconhecer
as LGBTI+ como sujeitos que têm direito à
terra, à moradia, a viver e amar livremente.
Constitui também um chamado para que
as organizações questionem as opressões
que atravessam as existências da população camponesa em geral, pois camponeses e
camponesas têm raça-etnia, gênero e orientação sexual, identidade de gênero, ancestralidades e tantos outros marcadores político-sociais. É um desafio, desses tempos,
lutar pela construção de territórios livres
de opressão e dominação, porque o capital
que transforma a terra e os bens comuns da
natureza em mercadoria incorpora aspectos
do patriarcado e do racismo para dominar,
controlar e escravizar os seres humanos.
É importante lutar contra a propriedade
privada dos meios de produção, o agronegócio, a exploração da classe burguesa sobre
a classe trabalhadora, mas também questionar as bases das relações econômicas,
sociais e políticas que perpetuam essa sociedade. Na raiz dessas relações sociais, é
preciso analisar os papéis de gênero, o mito
do sexo para procriação, as relações de poder e privilégio de uma classe sobre outra,
ou de um gênero sobre o outro, a condenação de outras formas de relações afetivas e
sexuais. Essas ideologias não estruturam
apenas a consciência, mas se expressam na
materialidade da vida e moldam os corpos,
controlam, determinam comportamentos e
condenam e impedem a existência dos que
não se encaixam no padrão heteropatriarcal.
Nesse caminho, enquanto as LGBTI+ passam pelo processo individual de sair do armário, ao mesmo tempo, elas têm feito esse
ato coletivamente, nas organizações, questionando o silêncio conivente em relação às
violências LGBTIfóbicas naturalizadas nas
relações sociais e de produção no campo.
Fazem um chamado para que suas comunidades as respeitem, protejam e acolham
como são (amando outros iguais, expressando outras vivências sexuais e afetivas),
para que sigam vivendo no campo, produ-
Infelizmente, com a eleição de um governo
neofascista a partir de 2018, tem havido
um recrudescimento do conservadorismo
no Brasil e a existência LGBTI+ camponesa e indígena segue ameaçada. Por isso, é
tão necessário aliar e fortalecer a resistência e a participação das LGBTI+ nas lutas
camponesas, denunciando todas as formas
de violência como cercas que precisam ser
rompidas em defesa do território e da vida.
A liberdade sexual também deve integrar o
projeto de liberdade da terra, de produção
de alimentos e relações humanas saudáveis, sem violência, sem machismo e LGBTIfobia no campo brasileiro.
Referências bibliográficas
ANTRA, Associação Nacional de Travestis e
Transexuais do Brasil. Dossiê dos assassinatos
e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. Bruna G. Benevides, Sayonara
Naider Bonfim Nogueira (Orgs). – São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
CAMPELO, Lilian. Taxa de suicídios entre indígenas é três vezes superior à média do País.
Acesso no link: https://www.brasildefato.com.
br/2018/09/24/taxa-de-suicidios-entre-indigenas-e-tres-vezes-superior-a-media-do-pais, data
19/03/2021.
FERNANDES, Estevão Rafael. Decolonizando sexualidades: enquadramentos coloniais e homossexualidade indígena no Brasil e nos Estados
Unidos. Tese (Doutorado em Ciências Sociais)—
Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. Rio de
Janeiro: Zahar, 1975.
GGB, Grupo Gay Bahia. Mortes violentas de
LGBT+ no Brasil – 2019: Relatório do Grupo Gay
da Bahia. OLIVEIRA, José Marcelo Domingos
de. MOTT, Luiz. (orgs); 1. ed. – Salvador: Editora
Grupo Gay da Bahia, 2020.
LA VIA CAMPESINA. Diversidade sexual e
de gênero na Via Campesina: rompendo o
silêncio sobre a existência das LGBTI no
campo. Caderno de formação da Via Campesina Brasil, São Paulo: outubro de 2020.
SAFFIOTI, Heleieth I. B. A mulher na sociedade
de classes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular,
2013.
#VOTELGBT. Pesquisa Diagnóstico LGBT+ na
pandemia: Desafios da comunidade LGBT+ no
contexto de isolamento social em enfrentamento à pandemia de Coronavírus. Pesquisa Junho
2020, disponível no link: https://votelgbt.org/
pesquisas, acesso em 28/03/2021.
231
Tabela 11 - Manifestações (2020)
UF
No de
Ocorrências
Pessoas
Centro-Oeste
Distrito Federal
Goiás
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Subtotal
30
54
44
55
183
4170
1015
3257
490
8932
Nordeste
Alagoas
Bahia
Ceará
Maranhão
Paraíba
Pernambuco
Piauí
Rio Grande do Norte
Sergipe
Subtotal
69
63
17
54
86
99
7
16
9
420
5673
8049
2756
531
7980
1728
3081
2550
32348
Norte
Acre
Amazonas
Amapá
Pará
Rondônia
Roraima
Tocantins
Subtotal
19
85
6
37
40
40
14
241
400
1058
545
3243
772
300000
150
306168
Sudeste
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
Subtotal
20
55
30
87
192
160
13970
8982
19137
42249
144
140
28
312
1348
2046
16163
270
18479
408176
Sul
Paraná
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Subtotal
Brasil
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
Notas Públicas
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - O acesso à terra é direito
garantido na Constituição Federal de 1988
O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de
Mato Grosso e a Comissão Pastoral da Terra
(CPT-MT) vêm, a público, esclarecer sobre fatos
noticiados nos últimos dias na imprensa sobre a
possibilidade de criação de novos assentamentos em parte da área de terra da Gleba Gama,
município de Nova Guarita (MT), área pertencente à União.
Desde 2009, a União, através da Advocacia-Geral da União (AGU), propôs Ações Reivindicatórias na Justiça Federal de Sinop (MT) visando a
retomada de várias áreas da Gleba Gama, ocupadas ilegalmente. Após longo período e, respeitando todo o direito de defesa dos ocupantes
irregulares, em dezembro de 2019 o juiz da 2ª
Vara da Justiça Federal de Sinop sentenciou 10
destes processos, reconhecendo que as áreas
são de propriedade da União, antecipando a tutela para imitir a União na posse das mesmas no
prazo de 120 dias.
As Ações Reivindicatórias foram propostas tendo em vista que o INCRA – Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária desde o ano
de 2008 declarou interesse público nas áreas da
Gleba Gama para serem destinadas à criação de
assentamentos, para que as mesmas cumpram
efetivamente sua função social.
A luta das famílias acampadas para serem assentadas nestas áreas pertencentes à União,
e, consequentemente, ao povo brasileiro, teve
início em 2003, sendo as primeiras famílias assentadas em 2005, a exemplo do Assentamento
Raimundo Vieira. Desde então, as famílias que
não foram assentadas continuaram acampadas,
no Acampamento Renascer, às margens da MT410.
Estas famílias vivem há mais de 15 anos debaixo de barracos de lona, sofrendo todo tipo de
violência e abandono por parte do Estado, espe-
rando que a Justiça possa fazer valer o direito
constitucional. Contudo, mesmo frente a esta
realidade, nunca desistiram de lutar, sempre
buscando e cobrando seus direitos. Insta salientar que a maioria das famílias hoje acampadas é
moradora do município de Nova Guarita.
O direito de estar organizado e lutar pela Reforma Agrária está garantido em nossa Constituição Federal, portanto as famílias que hoje reivindicam o direito de serem assentadas em áreas
da União não estão cometendo nenhum crime,
mas sim lutando por uma vida digna para suas
famílias e lutando pela construção de um mundo mais justo e solidário.
O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de
Mato Grosso e a Comissão Pastoral da Terra
acompanham e apoiam a luta destas famílias
acampadas, pois sabemos que o acesso à terra é
sinal de liberdade e vida digna. Ainda, a criação
de assentamentos contribui com o desenvolvimento da economia do município, além da produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos, e baratos para o povo que vive na cidade.
Exemplo disso é o Projeto de Desenvolvimento
Sustentável (PDS) Nova Conquista II, localizado no município de Novo Mundo (MT), onde em
2018, após a retomada de área pertencente à
União, também por decisão da Justiça, 96 famílias foram assentadas, e hoje produzem alimentos saudáveis que são vendidos na feira duas
vezes por semana.
Na esperança e coragem desse povo, alimentamos a nossa missão de acreditar numa
sociedade mais justa e igualitária. ‘Senhor,
dai Pão a quem tem fome, e fome de Justiça
a quem tem Pão!’
Cuiabá (MT), 29 de janeiro de 2020.
235
NOTA PÚBLICA - 15 anos sem irmã
Dorothy Stang
A direção nacional e coordenação executiva da
CPT divulgam Nota pelos 15 anos do assassinato de irmã Dorothy Stang, em que destacam:
“O exemplo de Dorothy nos comove e nos incita à continuidade de sua luta, como tem feito
o Pe. Amaro Lopes, seu sucessor, perseguido e
acusado injustamente. Dizia Ir. Dorothy pouco
antes de ser assassinada: “Não vou fugir nem
abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm
o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade
sem devastar”. Sejamos fiéis a ela, como ela foi
no Caminho de Jesus”. Confira:
No dia de hoje, há 15 anos, foi assassinada Ir.
Dorothy Stang, da Comissão Pastoral da Terra-CPT em Anapu, na Prelazia do Xingu, no Pará.
Missionária estadunidense, da Congregação das
Irmãs de Notre Dame de Namur, naturalizada
brasileira, foi pioneira da Pastoral da Terra, nos
anos 1970, dedicada de corpo e alma aos camponeses na luta por um modo de vida em convivência com o bioma amazônico. Por isso foi
morta, por contrariar poderosos interesses na
devastação da floresta e expulsão de suas gentes tradicionais.
Desde então, ainda que estejam presos mandante e executor do crime, a situação na região,
como de resto em todo o campo brasileiro, muito se agravou. Fazer memória de Dorothy e sua
luta só é possível denunciando esta situação e
retomando seu ideal de vida e missão.
De 2015 a 2019, foram registrados 19 assassinatos em Anapu, sete apenas no ano de 2015,
em conflitos nas terras sem lei do município de
Anapu-PA, vítimas da sanha devastadora do Capital e da omissão do Estado. O acervo da CPT
contém dezenas de documentos, cópias de denúncias encaminhadas aos órgãos públicos pelos camponeses e suas organizações, nesses 15
anos, de violências sofridas a mando de grileiros.
da ruralista, sem orçamento suficiente, o INCRA
arrastou, por anos, processos capazes de resolver as tensões que resultaram nas mortes de
camponeses em Anapu e outros municípios da
região. O órgão não recuperou as terras da União
alienadas a terceiros nos anos 1970-1980, via
Contratos de Alienação de Terras Públicas (CATPs) descumpridos, para destiná-las à Reforma
Agrária; não superou os empecilhos para a desapropriação de lotes nas Glebas Bacajá e Belo
Monte, deixando acontecer a lei do mais forte.
Assim, fica impedida a viabilidade dos Projetos
de Desenvolvimento Sustentável idealizados por
Dorothy e seus companheiros, que combinavam
agricultura familiar com preservação ambiental.
Trata-se de estratégia decisiva para salvar a floresta e sua gente que a salva.
Estratégia ainda mais prejudicada hoje, com as
políticas do atual governo federal, apátrida e entreguista, de abertura da Amazônia à exploração
sem freios das riquezas da floresta, inclusive em
terras indígenas. O INCRA entregue à famigerada União Democrática Ruralista (UDR) significa
o fim de qualquer programa viável de reforma
agrária, como sonhava Dorothy.
Não é outra razão para que o Papa Francisco tenha escolhido o dia de hoje para lançar a sua
Exortação Apostólica “Querida Amazônia” com
as decisões pastorais do Sínodo da Amazônia,
ocorrido em outubro de 2019, no Vaticano. O
exemplo de Dorothy nos comove e nos incita à
continuidade de sua luta, como tem feito o Pe.
Amaro Lopes, seu sucessor, perseguido e acusado injustamente. Dizia Ir. Dorothy pouco antes
de ser assassinada: “Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado
direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”. Sejamos fiéis a ela, como ela foi no Caminho de Jesus.
Ir. Dorothy Presente! Presente! Presente!
A partir dos anos 1980, o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) tinha
uma série de atribuições e desafios que dependiam da vontade política dos governantes e de
que quem estava à frente do órgão para resolver
os litígios existentes. Refém de retrocessos legislativos no Congresso, hegemonizado pela banca-
Diretoria e Coordenação da CPT
Goiânia, 12 de fevereiro de 2020.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - Solidariedade aos companheiros/as da CPT Regional Amapá
Disse o Senhor: “De fato tenho visto a opressão
sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu
clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto
eles estão sofrendo”. Êxodo 3:7
A Comissão Pastoral da Terra expressa toda solidariedade à equipe da Comissão Pastoral da
Terra no Amapá, especialmente aos Padres Dennis Koltz e Sisto Magro, missionários do PIME.
Padre Dennis – que junto a Padre Sisto coordena
a CPT no estado do Amapá – foi atacado violentamente, na terça-feira, 25 de fevereiro, por um
fazendeiro de soja na área de Campina do São
Benedito, Pacuí. O Estado do Amapá sofre por
décadas com a invasão do latifúndio e mais recentemente com o monocultivo da soja, que têm
como principais mecanismos o desmatamento
e a grilagem de terras públicas, estas ocupadas
pelas populações locais.
Em uma ação para verificar uma placa de licenciamento para desmatamento, que estava vencida em agosto de 2019, o padre Dennis Koltz
foi violentamente atacado pelo suposto dono da
fazenda, no local onde estava a placa. Foram
socos desferidos em seu tórax, assim como várias ameaças contra sua vida, por uma pessoa
de nome Mario Junior Rocha, que não satisfeito
com a tamanha violência, ainda jogou seu carro
contra o carro do Padre Dennis Koltz, o carro
tinha como segundo ocupante o Padre Sisto Magro.
Para descaracterizar a violência, o agressor, Mário Junior, foi até a delegacia de polícia registrar
Boletim de Ocorrência contra o Padre Dennis
Koltz, na tentativa de inverter a origem da violência.
Vários estados da Amazônia estão sendo tomados por produtores de soja, em geral, vindos do
Sul do país, que em uma ação colonizadora invadem as terras e expulsam os seus moradores
– pequenos camponeses e comunidades tradicionais –, cometendo as mais diferentes formas
de violência.
A CPT completa neste ano de 2020, 45 anos de
serviço junto aos povos do campo. Em Macapá
o trabalho desenvolvido por seus agentes e coordenadores tem contribuído na luta e resistência
das comunidades rurais. Este acompanhamento
e serviço denuncia há décadas as irregularidades e ataques aos mais desfavorecidos no Estado
do Amapá. Estas pessoas sofrem com a violência
cometida pelo latifúndio e com aqueles que, em
busca do lucro fácil, não hesitam em desmatar
e expulsar as inúmeras comunidades locais, inclusive com a omissão e conivência de agentes e
órgãos do próprio Estado.
A CPT tem como missão manter viva a memória do evangelho da vida e da esperança, sendo
sempre fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus
e aos pobres da terra, ouvindo e atendendo o
clamor que vem do povo do campo e das florestas, como ensina Jesus.
Neste sentido, em solidariedade com a Diocese
do Macapá, repudiamos toda a violência cometida contra o povo de Deus, bem como as ameaças
contra toda a comunidade de Campina do São
Benedito, e a violência cometida contra o padre
Dennis Koltz. A CPT acredita que a justiça, ainda é a esperança de dias melhores. Exigimos que
todos os instrumentos legais sejam usados para
impedir o desmatamento ilegal, a usurpação de
terras das comunidades tradicionais e a escalada de violência.
Amazônia Legal, 27 de fevereiro de 2020.
Articulação das CPT’s da Amazônia
237
NOTA PÚBLICA - PELO RESPEITO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
A construção do Estado Democrático de Direito
se faz com o fortalecimento da democracia e das
instituições democráticas, com a garantia dos
direitos humanos, com o enfrentamento das desigualdades e com a participação popular com
liberdade de expressão e de organização. Todas
as instituições e todos/as os/as cidadãos e cidadãs estão convocados/as a se comprometer e a
se engajar na promoção e defesa desses valores,
de modo permanente.
Inaceitável que o Presidente da República promova ações que ataquem estes pilares, replicando convocações de manifestações públicas contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal
Federal. Uma atitude que ataca frontalmente
os princípios constitucionais por afrontar o inciso II, artigo 85, da Constituição Federal, que
diz: “São crimes de responsabilidade os atos do
Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra: II
– o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação”.
Ataques à democracia e à estabilidade social
vindas da maior autoridade do país não podem
ser minimizadas como sendo de “cunho pessoal”. Urge que as instituições democráticas
reajam com veemência a este tipo de atitude e
promovam a responsabilização constitucional.
Também confiamos que as organizações populares da sociedade civil se engajem na formação
de uma ampla frente de luta conjunta para defender a democracia e a liberdade, o Estado Democrático de Direito e a garantia da realização
de todos os direitos humanos para todos/as os/
as brasileiros/as.
Brasília, 27 de fevereiro de 2020.
Entidades que assinam e a nota na íntegra no
link abaixo.
https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/
noticias/geral/5107-cpt-endossa-nota-publica-pelo-respeito-ao-estado-democratico-de-direito
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - CPT-MA contesta dados de
conflitos divulgados pelo Governo do Estado do Maranhão
Devido à notícia publicada pelo Governo do Estado do Maranhão, que trata da redução dos
conflitos “fundiários e agrários” registrados no
estado, a Comissão Pastoral da Terra - Regional
Maranhão divulga nota de esclarecimento em
que contesta o teor e os dados da publicação.
A nota se refere, a exemplo, da reintegração de
posse que ocorreu com a Comunidade Cajueiro,
considerada, segundo os dados do estado, um
conflito finalizado.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – REGIONAL MARANHÃO
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT MA
vem a público apresentar esclarecimentos quanto a notícia publicada na tarde do último dia
07.04 no site oficial do Governo do Estado, cujo
título afirma: “MARANHÃO REDUZ PELA METADE O NÚMERO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS E
AGRÁRIOS COM A COECV” (matéria disponível
no link: https://www.ma.gov.br/agenciadenoticias/?p=274392. Acesso em 08.04.2020, às 8h).
A matéria apresenta dados de um relatório de
atividades administrativas da Comissão Estadual de Combate à Violência no Campo e na Cidade (COECV), instância de mediação de conflitos
fundiários, coordenada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular
(SEDIHPOP)
OS CONFLITOS FUNDIÁRIOS NO MARANHÃO
NÃO FORAM REDUZIDOS PELA METADE.
Permanece grave a realidade dos povos que vivem a terra como canto e alimento terno.
De acordo com levantamento constante no relatório Conflitos no Campo Brasil, da CPT (anualmente publicado desde 1985), o Maranhão
apresentou em 2018, 196 casos de conflitos no
campo, sendo o primeiro lugar do país nesse terrível indicador. O Pará, com 114, ficou em segundo lugar. Os dados referentes a 2019 devem
ser publicados ainda neste mês de abril.
Conforme a matéria, foram encaminhadas pelo
Comando Geral da PMMA à COECV, em seus
5 anos de funcionamento (2015-2020), cerca de
645 decisões judiciais (liminares ou sentenças)
requisitando força policial para cumprimento de
despejos, individuais ou coletivos, em todo o MA.
O “Gráfico 3” na matéria citada apresenta a distribuição dessas 645 decisões pelos anos de início dos processos judiciais de onde elas provêm.
Trata-se de um recorte: decisões de despejo ainda vigentes, concedidas em processos judiciais
iniciados de 1990 a 2019, mas pendentes de
cumprimento, e que, por isso, chegaram à COECV.
São números preocupantes, mas que não indicam o total de conflitos fundiários ocorridos no
período. Não há sequer o que comemorar com
os números anuais mais baixos apresentados no
gráfico (menor quantidade nos anos anteriores a
2011 e posteriores a 2017), pois expressam algo
grave: muitas decisões de despejo já tinham sido
cumpridas antes da instalação da COECV, outras ainda serão concedidas, mesmo em processos judiciais iniciados antes de 2020.
Reviravolta no Cajueiro (MA): anulado Decreto
do Governo do Estado que gerou despejos no
território
A verdade é que o número de conflitos fundiários nesse intervalo de quase três décadas é
alto. Conforme dados dos Cadernos de Conflitos
da CPT, de 1990 a 2018 foram 2.539 conflitos
no campo ocorridos no Estado do Maranhão. Se
houvesse a contabilização dos conflitos fundiários em áreas urbanas, esse número poderia duplicar.
Portanto, o que está sendo chamado de “redução
de conflitos fundiários” na matéria do governo
estadual é na realidade a redução dos casos que
estavam sob apreciação da comissão de mediação. É uma atuação importante da COECV, mas
não se pode confundir os dados.
CPT no Maranhão renuncia à Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cida-
239
de e denuncia ações autoritárias da Secretaria
de Direitos Humanos
A conclusão da fase de mediação nem sempre é
positiva, podendo até resultar na realização de
despejos forçados contra coletividades. A violenta reintegração de posse ocorrida no Cajueiro
(São Luís), em agosto de 2019, foi um dos 645
casos que tramitaram na COECV. Ele consta naquela comissão como caso concluído, por cumprimento da decisão. Mas a eliminação de uma
coletividade não pode ser contabilizada como
“redução de conflitos fundiários”. O “fim do conflito” foi a destruição da comunidade afetada.
É inaceitável que a realidade trágica que se
abate cotidianamente sobre milhares de camponeses, quilombolas, indígenas, quebradeiras
de coco babaçu, ribeirinhos, pescadores, seja
subdimensionada com a apresentação de dados
administrativos voltada para ocultar a dimensão
real do sofrimento humano.
As comunidades no Maranhão continuam violentadas, pelos despejos forçados, intimidações,
ameaças de morte e assassinatos por encomenda.
Essa continua sendo a terrível realidade.
São Luís, 09 de abril de 2020
Comissão Pastoral da Terra
Regional Maranhão
Publicado: 13 Abril 2020
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - Grilagem de terras da
União, cumplicidade do Incra e conivência
da Polícia Militar acirram conflitos no campo no Norte de Mato Grosso
O Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT)
e a Comissão Pastoral da Terra no Mato Grosso
(CPT-MT) vem, mais uma vez, denunciar e cobrar providências quanto à situação de grilagem
de terras da União e violência contra as famílias
do Acampamento Boa Esperança, município de
Novo Mundo, Região Norte de Mato Grosso, por
parte do grileiro Marcello Bassan, com a ação,
conivência e omissão da Polícia Militar.
1. Grilagem de terras públicas, decisões judiciais e crimes ambientais:
A Gleba Nhandú, possui 211.750 (duzentos e
onze mil e setecentos e cinquenta hectares), matriculada em nome da União, sob o n.º 2.168, no
CRI do 6º Ofício de Cuiabá – MT, estando atualmente, quase toda ocupada por ocupantes ilegais, que não preenchem os requisitos exigidos
por lei para a regularização fundiária.
Após o INCRA declarar interesse social de algumas áreas localizadas na Gleba Nhandú para
destinação à Reforma Agrária, a União, através
da Advocacia Geral da União, ingressou com
Ações Reivindicatórias na Justiça Federal de Sinop, visando a retomada destas áreas. Convém
notar que as ações foram propostas somente em
áreas cujos ocupantes não fazem jus à regularização fundiária, sendo uma das áreas a Fazenda
Araúna, cujo ocupante ilegal é Marcello Bassan.
Em setembro de 2019, o juiz da 1ª Vara da Justiça Federal de Sinop (MT), sentenciou o processo
nº. 2009.36.03.005949-8, com decisão favorável à União, para “reconhecer e declarar a propriedade da União sobre o imóvel denominado
Fazenda Araúna, com extensão de 14.796,0823
(quatorze mil, setecentos e noventa e seis hectares, oito ares e vinte e três centiares), localizado
no município de Novo Mundo/MT”, antecipando
a tutela para imitir a União na posse da área
no prazo de 60 dias, decisão mantida pelo Tribunal Regional Federal de 1ª Região, no Agravo
de Instrumento nº 1042096-81.2019.4.01.0000
e no Pedido de Efeito Suspensivo à Apelação nº
1035126-65.2019.4.01.0000, o que comprova
que a área da Fazenda Araúna foi apossada ilegalmente, por meio de grilagem de terras, pelo
senhor Marcello Bassan.
E essa ilegalidade, como comumente ocorre nestes casos, vem acompanhada de crimes ambientais, em especial, a retirada ilegal de madeira e o
desmatamento, situação bastante comum nesta
fazenda, como já denunciado nos últimos anos
aos órgãos competentes, como MPF, SEMA,
IBAMA, PF, Governo do Estado, e, comprovado,
através de fotos e vídeos. Entretanto até o momento a impunidade impera e os crimes perpetuam.
2. Cumplicidade do INCRA SR13/MT:
Frente a decisão judicial, cabia ao INCRA receber
a posse da área, para então assentar as mais de
100 famílias do Acampamento Boa Esperança,
que vivem acampadas às margens da Fazenda
Araúna há mais de 15 anos e reivindicam esta
área para serem assentadas. Entretanto, o órgão
se recusa, seguindo a orientação expressa do
Governo Federal, de realizar a Reforma Agrária,
como comprova o ofício nº 72607/2019/SR(13)
MT-G, datado de 3/11/2019, em que o atual superintende do INCRA (SR13), Sr. Ivanildo Teixeira Thomaz, afirma que, “informo que esta Superintendência Regional não irá adotar nenhuma
medida para a criação de Projetos de Assentamentos na região”, referindo-se à área da Fazenda Araúna. A partir de então, o superintendente
passou a criar várias situações que impediram
a União de tomar posse da área. Ainda, aproveitando da situação da Fazenda Araúna, o superintendente do INCRA SR13, encaminha consulta ao INCRA Nacional, ofício nº. 9531/2020/
SR(13)MT, datado de 18/02/2020 (proc. administrativo INCRA-SEI nº. 54000.018816/202071), onde afirma que a Superintendência realizou
um estudo sobre a legislação vigente e concluiu
pela necessidade de que o INCRA, “através de
sua Procuradoria Federal Especializada deverá
ingressar em todas as ações reivindicatórias que
tramitam no Estado de Mato Grosso” e “Requerer o SOBRESTAMENTO de todos os processos
241
judiciais”, referindo-se a todas as Ações Reivindicatórias propostas pela União, sugerindo,
ainda, que seja dada prioridade à regularização fundiária, em detrimento à política pública da Reforma Agrária, como determina a Lei
11.952/2009, em especial no Art. 4º, que aduz
“Não serão passíveis de alienação ou concessão
de direito real de uso, nos termos desta lei, as
ocupações que recaiam sobre áreas: I – (...) ou
de interesse social a cargo da União” e o Art. 188
da CF/88, que preceitua que a “A destinação de
terras públicas e devolutas será compatibilizada
com a política agrícola e com o plano nacional de
reforma agrária”, demonstrando claramente que
está a serviço dos grileiros de terras, e não para
cumprir seu papel enquanto agente público.
conteúdos que não condizem com os fatos denunciados.
3. Histórico de violência de Marcello Bassan contra as famílias do Acampamento Boa Esperança:
Diante das diversas denúncias realizadas, resta
evidente que, o atual cenário político fortalece a
negação do acesso à terra, direito este garantido
pela CF/88 e demais dispositivos legais, e garante a perpetuação de ações violentas contra o
povo do campo, fortalecendo o modus operandi
dos fazendeiros para garantir a permanente grilagem das terras e a expropriação das famílias
camponesas no estado de Mato Grosso, que continua tendo um dos maiores índices de violência
no campo.
Essa atuação do INCRA, responsável por resolver o conflito histórico da Gleba Nhandú, está
potencializando a violência contra as mais de
100 famílias do Acampamento Boa Esperança.
O histórico de violência praticada por Marcello
Bassan contra estas famílias vem de longa data,
que vão desde expulsão das famílias por jagunços, queima de casas, carros e moto, destruição
de plantações, tentativa de assassinato, como já
denunciado pela CPT e pelo FDHT, em notas (No
Mato Grosso, a Esperança não é Boa e o Mundo
não é Novo), bem como no Relatório Estadual
de Direitos Humanos 2015 (p. 57/59), realizado
pelo FDHT (https://direitoshumanosmt.blogspot.com/2016/02/).
4. Atuação da Polícia Militar no contexto do conflito:
As violências sofridas pelas famílias têm a omissão, conivência, quando não a atuação direta da
Polícia Militar dos municípios de Novo Mundo e
Guarantã do Norte, como já denunciado diversas vezes aos governos de MT e ouvidoria de polícias. Isso se dá de diversas formas, desde fazer
a segurança da área para o grileiro, à negativa
em lavrar BO`s quando solicitado pelas famílias,
não fornecimento de cópia dos BO`s, inclusão de
A última atuação da PM ocorreu no dia 1 de abril
do corrente ano, quando quatro policiais militares, armados e fardados, foram até o acampamento, dirigindo o veículo do grileiro Marcello
Bassan, uma SW4, branca, Placa OBP-7953,
abordaram de forma truculenta as pessoas, dizendo que estavam lá para fazer um levantamento a pedido do grileiro. E, novamente, como vem
ocorrendo nos últimos anos, a PM de Novo Mundo e de Guarantã do Norte, após humilharem
duas mulheres que buscaram o atendimento, se
negaram a lavrar BO do ocorrido, obrigando-as
a fazer BO na delegacia virtual.
Diante disso, mais uma vez afirmamos a responsabilidade do estado do Mato Grosso, do INCRA
e do Poder Judiciário, tanto na esfera estadual
como na federal, pela perpetuação dessa violência, e cobramos medidas URGENTES para garantir o assentamento das mais de 100 famílias
do Acampamento Boa Esperança, expostas há
anos à violência, para com isso cessar um dos
conflitos mais graves dos últimos anos no Mato
Grosso.
Que a entrega de Jesus de Nazaré, perseguido e
sacrificado na Cruz, possa ser, também, o anúncio de Vida nova, da Ressurreição, do fim da
maldade, da terra partilhada e dignidade para
tantas famílias pobres que lutam e esperam justiça.
Cuiabá - MT, 14 de abril de 2020.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - Ninguém sem Terra, sem
teto, sem trabalho: Querem legalizar a grilagem de terras. Não vamos permitir!
“Ai de vós que juntais casa a casa e campo a
campo até não sobrar espaço para os mais pobres. (...) O Senhor os julgará com justiça” (Cf.
Isaías 5,8.16).
A Comissão Pastoral da Terra, neste momento
de Pandemia, preocupada com as consequências
às milhares de pessoas empobrecidas no campo
e na cidade, quer externar sua preocupação com
a sobrevivência de camponeses e camponesas,
deste imenso país.
Causa indignação que, apesar da crise que se
agrava, o Congresso Nacional e o Governo Federal sigam levando a cabo um conjunto de políticas com potencial de aprofundar a crise econômica, social e ambiental pela qual passamos.
Em dezembro de 2019 o Governo Federal editou a Medida Provisória (MP) 910, hoje em tramitação no Congresso Nacional. Propagandeada
como uma das principais iniciativas com objetivo de proporcionar segurança jurídica e paz no
campo, com a regularização fundiária, na verdade nada mais é que a Regularização da Grilagem
de Terras, usurpadas de Povos e Comunidades
Tradicionais.
Se aprovada a conversão, nos termos da Minuta de Relatório apresentada pelo senador Irajá
Abreu, tal medida representará uma autorização
para apropriação indevida de milhões de hectares de terras devolutas da União, pois amplia de
1.500 para 2.500 ha a extensão das ocupações
irregulares passíveis de legalização.
A MP desloca o marco temporal da ocupação
para até 09 de dezembro de 2018 e assim reduz prazo que elimina a exigência de ocupação
histórica, requisito essencial ao reconhecimento da legitimidade da posse. Esta norma anistia
crimes ambientais e, mais grave ainda, anistia
também o crime de exploração de trabalho em
regime análogo à escravidão.
A inclusão de pessoas jurídicas como beneficiárias da regularização fundiária e a dispensa de licitação, assim atendendo aos interesses do agronegócio, representa um verdadeiro crime contra
a Administração Pública (lei nº 8.429/1992) e
flagrante ofensa ao que prescreve a Constituição
Federal, acerca da regularização fundiária das
terras públicas, sua destinação e compatibilização com a política agrícola e o plano nacional de
reforma agrária (art. 188).
Nos últimos anos, muitos têm sido os retrocessos legislativos que têm marcado a agenda do
Executivo Federal, principalmente a partir da
instalação do atual governo, de desmonte dos
órgãos de fiscalização e controle ambiental, de
estímulo à grilagem, negação dos direitos das
comunidades tradicionais, de subordinação à
pauta ruralista e desprezo pela agricultura familiar. Mesmo assim, ainda causa consternação
a edição da Medida Provisória em tela. Porque a
regularização fundiária de terras federais já foi
disciplinada pela Lei 11.952/2009 e esta foi inclusive alterada pela Lei nº 13.465/2017, conforme expressamente reconhecido pelo relator
da MP 910. Portanto, não há nenhuma justificativa para a iniciativa de promover novas alterações nas leis acima citadas, ainda mais através
de uma modalidade legislativa reservada a situações excepcionais.
O objetivo de “novamente aperfeiçoar” a política
de regularização fundiária, invocado na Exposição de Motivos, e a afirmação do Relator segundo a qual a Medida Provisória “contribuirá para
a celeridade no procedimento de regularização
fundiária no país”, de modo algum atendem aos
requisitos de “urgência e relevância” exigidos artigo 62 da Constituição Federal para a edição de
medidas provisórias.
Ao contrário, as principais alterações propostas
poderão causar lesão ao patrimônio da União e
ameaçam a integridade dos territórios das comunidades tradicionais, conforme a opinião de
especialistas na matéria, vinculados por representantes dos movimentos sociais, das universidades públicas, centros de pesquisa, especialistas, exposta inclusive perante a Comissão Mista
do Senado. Comunidades às quais a legislação
nacional e a Convenção 169 da OIT asseguram o
direito de serem devidamente consultadas quando da adoção de medidas legislativas ou admi-
243
nistrativas que possam afetá-las, o que lhes foi
negado ao ser adotada uma modalidade legislativa cuja tramitação impossibilita o efetivo exercício do direito de serem ouvidas.
Editada às vésperas do recesso parlamentar, a
MP 910/19 mais parece ter sido motivada não
pelo interesse público, mas sim, como estratagema visando ampliar o arsenal jurídico de estímulo à grilagem e práticas predatórias ao meio
ambiente. Tudo isso, e, sobretudo, a situação de
excepcionalidade que o Brasil está vivendo, exigimos a imediata rejeição da MP 910/19.
gravidade dessa pandemia. Acreditamos que tal
situação deve nos levar a refletir de forma responsável e crítica sobre as formas de ocupação
do espaço, de nossos padrões de consumo e modelos predatórios de produção, como também da
exploração do meio ambiente.
Apelamos a que o governo redirecione suas políticas, para que garantam a sobrevivência da
nossa sociedade, como dos bens naturais. Ansiamos, como Pastoral da Terra, por justiça e
pelo fim das desigualdades sociais no campo e
na cidade.
Reafirmamos a postura de diversos pesquisadores e organizações sociais e ambientais frente a
Goiânia, 16 de abril de 2020.
Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da
CPT
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - AMAZÔNIA DIANTE DA
PANDEMIA
Assim como parte do mundo, o Brasil está entre
os países atingidos pelo Coronavírus (Covid19)
e os Povos da Amazônia têm vivenciado tempos
difíceis, por conta da pandemia.
O cenário preocupante, devido ao avanço dos
números de pessoas contaminadas e de mortes
nos últimos meses, afeta também a região Amazônica. Primeiro, porque apesar de suas riquezas naturais, rios florestas e toda biodiversidade
existente, a maioria dos estados que formam a
Amazônia Legal não possui infraestrutura de
qualidade de atendimento de saúde pública. Tal
realidade se agrava ainda mais quando se trata
dos povos e comunidades camponesas e tradicionais, com ausência de um plano específico
para o campo, com finalidade de prevenir e tratar os riscos e a contaminação pelo vírus.
Ainda, enquanto a população em sua maioria
está voltada às notícias sobre o avanço do coronavírus, não param de ocorrer ações predatórias
de madeireiros ilegais, grileiros, garimpeiros e
invasores de territórios indígenas e de comunidades tradicionais, bem como em unidades de
conservação. Aproveitando a suspensão de fiscalizações, a presença constante desses invasores têm deixado muitos povos preocupados, tanto no que se refere ao perigo de contaminação,
como também pelo aumento dos conflitos e do
desmatamento.
“Enquanto todos tentam se resguardar ficando
em casa de quarentena, os madeireiros fazem a
festa” disse uma agricultora do oeste do Pará que
é ameaçada de morte por grupos de madeireiros.
Inscrita no Programa de Proteção dos Defensores e Defensoras de Direitos humanos do Estado
do Pará, a agricultora relata que vive tempos difíceis, pois “Com a paralisação dos órgãos, parece que está tudo liberado para eles aproveitarem para acabar de vez com a floresta que ainda
resta em nosso assentamento”, completou. Em
efeito, o desmatamento já superou em 2020 o
índice do ano passado, revelam dados de alertas
do Inpe. Quando alguém do Ibama tentou reagir
fiscalizando aldeias do Pará, foi desonerado.
Este ímpeto renovado por ocupar e apoderar-se
de terras em plena epidemia de Coronavírus não
está alheio à tramitação da Medida Provisória nº
910/2019, junto à Comissão Mista do Congresso Nacional, que discute a regularização fundiária.
No estado do Acre, tem aumentado consideravelmente o número de queimadas. Segundo o
INPE, entre 1 de janeiro e 11 de abril de 2020 as
queimadas aumentaram 125% no Estado. É visível em Rio Branco, basta sair o sol dias seguidos já se vê nuvens de fumaça pela cidade. Mais
preocupante ainda é que este não é um período
que comumente há queimadas, pois ainda está
no período das chuvas.
Neste contexto, os povos indígenas e comunidades tradicionais são os que mais sofrem. O
contágio a povos isolados e em risco de extinção
poderia ser até proposital, como alertou representante da CPT Nacional, acrescentando que
indígenas Xavante, no Mato Grosso, têm sofrido
mais agressões justamente pelo cenário do afastamento dos órgãos.
Em Alcântara, no Maranhão, o risco de despejo
ainda é muito grande, apesar de o governo ter
adiado a data, justamente por causa da pandemia. Mesmo assim, militares do Centro de Lançamento de Alcântara, em horário inadequado
e colocando em risco de contágio os moradores,
estiveram na comunidade de Peptal, querendo
tratar de assuntos relativos regularização das
glebas de terras e casas. De acordo com as comunidades quilombolas de lá, as pessoas ainda
têm muito receio de que a possibilidade de despejo volte com força. Foi no mesmo estado onde
mais uma liderança indígena Guajajara teve sua
vida ceifada, no dia 31 de março de 2020, e outra liderança foi baleada poucos dias depois na
T.I. Arariboia. As comunidades no Maranhão
continuam violentadas, pelos despejos forçados,
intimidações, ameaças de morte e assassinatos
por encomenda. Essa continua sendo a terrível
realidade.
Em Rondônia, na madrugada do dia 18, foi assassinado o indígena Ari-Uru-Eu-Wau-Wau,
em um território que sofre contínuas invasões.
O CIMI divulgou que indígenas Karipuna foram
surpreendidos ao avistar quatro invasores derrubando uma área de floresta a menos de dez
quilômetros da Aldeia Panorama, onde vivem
245
e, atualmente, estão em isolamento, buscando
se proteger da pandemia do novo coronavírus.
Também se comprova que muitos pecuaristas
aproveitam a falta de fiscalização para desmatar os últimos remanescentes de floresta de suas
propriedades, inclusive reservas a beira de igarapés, havendo muita atividade de tratores de
esteira que seguem derrubando e enfileirando
madeira, no Rio Preto e no Rio Machado, no limite do estado do Amazonas. Enquanto em Vilhena policiais são acusados de agir à margem
de mandados judiciais, expulsando os ocupantes do Lote 35, setor 12, da Gleba Corumbiara.
Em Roraima, o território do povo Yanomami encontra-se invadido por aproximadamente 20.000
garimpeiros, o que implica na entrada e saída de
voadeiras e balsas nos rios, além de voos clandestinos, gerando uma circulação sem nenhum
controle e fiscalização. No dia 09 de Abril foi letal
o primeiro caso de Covid-19 diagnosticado em
um Yanomami de apenas 15 anos, o que nos dá
uma dimensão do risco deste vírus para aquela
população, podendo ocorrer um verdadeiro genocídio por omissão do Estado. Outros quatro
territórios em Roraima também estão sendo invadidos por garimpeiros
Já no oeste do Pará também os indígenas da etnia Munduruku, denunciam invasão de madeireiros no território Sawré Muybu, localizado no
médio Tapajós, onde os madeireiros ameaçam
as lideranças indígenas, a invasão do território
já vem sendo uma realidade constante e diversas denúncias aos órgãos competentes já foram
feitas.
Diante dessa realidade, as CPTs da Articulação
da Amazônia vem ao público denunciar o aumento do desmatamento, das queimadas e da
violência nos Estados da Amazônia Brasileira,
bem como, a constante presença de madeireiros,
grileiros, garimpeiros e de empresas do agronegócio e de mineração, que continuam avançando nos territórios indígenas e das comunidades
tradicionais. E assim, pelo contágio, colocam
gravemente em risco a vida dos povos; daqueles
e daquelas que já se encontram em situação de
vulnerabilidade, e já são ameaçados, por defender a vida e a floresta.
No Amazonas, desmentindo a crença que o Coronavirus não iria proliferar com o calor das áreas
tropicais, a pandemia já desbordou as limitadas
capacidades médicas da metrópole de Manaus,
que concentra a maior parte da população do
estado. Porém a maior letalidade corresponde
às mortes no interior do estado, por falta de recursos suficientes de atendimento, enquanto a
doença se expande seguindo os principais rios:
o Solimões, o Rio Negro, o Purus e o Madeira. É
no Amazonas onde o coronavírus está vitimando
mais indígenas no Brasil: Nas aldeias Tikuna,
na cidade de Manaus e em Parintins.
O estado do Amapá vai apenas atrás do Amazonas no pior índice de contaminação da Região
Norte. E há notícias de que muitos sojeiros aproveitam a ausência das autoridades para invadir
áreas de pequenos agricultores.
Repudiamos a forma como o Estado, tem se omitido nos diversos casos de violência no campo
nesse contexto de pandemia, e conclamamos a
retomada de ações de fiscalização ambiental,
de segurança pública e de proteção a lideranças em situação de ameaças, tanto de medidas
que sejam capazes de colaborar com a garantia do isolamento social dos povos da Amazônia
contra o coronavírus, como também na garantia
da integridade da vida e da dignidade da pessoa
humana.
ARTICULAÇÃO DA AMAZÔNIA - CPT
22 de abril de 2020.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - A violência no campo não
respeita quarentena
Em Rondônia, os conflitos no campo não cessam, tampouco entram em quarentena. As famílias envolvidas nesses conflitos estão vulneráveis
ao vírus da Covid-19 e à violência que há anos é
perpetrada na incorporação de novas áreas para
agricultura e na territorialização do agronegócio.
O avanço do capital sobre áreas públicas está
materializado nas inúmeras invasões de territórios indígenas e áreas de reservas estaduais
ou federais denunciadas ano após ano, seja pela
CPT ou por organizações de indígenas e extrativistas. Em 2019 a violência contra indígenas
cresceu exponencialmente no Brasil. Em Rondônia, o povo Karipuna está ameaçado de genocídio, exposto, em plena pandemia à presença
de invasores. A terra indígena onde vive o povo
Uru-Eu-Wau-Wau é palco de invasões e da ação
de organizações criminosas que tem objetido de
lotear parte da reserva, e é nesse contexto de
conflitos e ameaças que Ari Uru-Eu-Wau-Wau
foi encontrado morto na estrada do Distrito de
Tarilândia, no dia 18 de abril de 2020. Os indígenas do estado de Rondônia manifestaram, por
meio de notas, a certeza de tratar-se de assassinato e a exigiram investigação séria - vozes as
quais a CPT se une para exigir que esses crimes
não fiquem impunes. No ano de 2019, 9 conflitos
por terra envolvendo indígenas foram registrados pela CPT em Rondônia, destes, 4 referiam-se
a invasões ao território Uru-Eu-Wau-Wau.
Os processos de reintegração de posse não ficaram paralisados, pelo contrário, os despachos
seguem a todo vapor, indicando que mesmo
diante de uma pandemia o direito à propriedade
segue sagrado e absoluto.
Na região do Cone Sul de Rondônia, famílias
amargam o isolamento social em acampamentos, nem todos tem para onde ir após uma ação
de despejo, tão pouco o estado tem garantido direitos a moradia digna e assistência básica. Em
outubro de 2019, após mais de 10 anos em posse da área - com casas construídas e roças plantadas -, 45 famílias foram despejadas em Chupinguaia (RO). Atualmente cerca de 15 famílias,
ligadas à Associação Nossa Senhora Aparecida,
seguem em acampamento no lote vizinho, que
também sofre processo de reintegração, além
disso acampados relatam que policiais e capan-
gas fazem rondas intimidando as famílias. A CPT
recebeu notícias de camponeses que as casas
que não foram destruídas no despejo por determinação da justiça, mas estão sendo colocadas
ao chão por capangas do alegado proprietário,
mesmo depois de decisão controversa da justiça
estadual , que na sequência do despejo declinou
competência para a Justiça Federal, confirmando estarmos diante de um conflito agrário em
área da União.
Despejadas em 2015, outras 10 famílias seguem
acampadas junto à Associação Canarinho e reivindicam há mais de 10 anos a área do lote 52,
setor 12, Gleba Corumbiara, em Vilhena (RO).
Essas famílias também já tiveram em posse da
área. Agora despejados, aguardam resolução do
conflito que segue sub judice. Em área ocupada em 2019, outras 15 famílias foram despejadas em Pimenteiras, dos lote 01 e 02, Gleba
Guaporé, e forçadas à vida de acampamento.
Ocupantes que foram despejados do Lote 40, em
Chupinguaia, e do lote 46, em Vilhena, que estão há anos fora da área, ainda relatam a perseguição a algumas famílias.
Com outras áreas ameaçadas de despejo, em lotes que compõem a área conhecida como fazenda Vilhena, mesmo após decretada a pandemia
e o estado de calamidade pública, tendo o Comando da Polícia Militar informado a suspensão
do cumprimento de reintegração, não deixaram
de ter policiais na área - conforme relatam os
ocupantes - acompanhados pelo fazendeiro, com
o objetivo de intimidar as famílias. Mais recentemente, acampados relataram e registraram boletim de ocorrência por estarem sofrendo ameaças de uma pessoa identificada sob o apelido de
“Nego Zen”, que seria conhecido na região por
exercer esse tipo de violência contra camponeses.
Posseiros do lote 35 da gleba Corumbiara, em
Vilhena, relataram a presença de viaturas acompanhadas pelo fazendeiro, fazendo rondas e
prendendo pessoas na área, sem apresentarem
mandado judicial.
Da região entre o distrito de União Bandeirantes, município de Porto Velho (RO), e a zona ru-
247
ral do município de Nova Mamoré, a cerca de
290 quilômetros da capital, há relatos de uma
tragédia iminente: ocupantes de uma área sub
judice, e palco de um cenário de violência que
ceifou a vida de agentes públicos e acampados,
estaria novamente sob fogo cruzado. Relatos recebidos de lideranças da área apontam que na
manhã de 27 de abril de 2020, por volta das 09
horas, policiais e jagunços atacaram homens,
mulheres e crianças na ocupação Dois Amigos,
Linha 29 A, em Nova Dimensão, por meio de
disparos feitos com armas de grosso calibre, realizados por aproximadamente dez jagunços que
circulavam em caminhonetes. Ainda segundo
relato da liderança, policiais e capangas permaneceram na sede da fazenda, circulando na área
e ameaçando as famílias. Informações essas que
foram veiculadas na imprensa na data do dia 28,
com informações transmitidas pelo advogado do
grupo.
As ações de milícias na região de Machadinho
do Oeste têm sido denunciadas na imprensa regional por movimento social ligado ao conflito na
Fazenda Jatobá, localizada no km 10 da Linha
T15, -alvo de despejo em fevereiro de 2020.
tos no campo. Exige-se do estado a investigação
desses casos, e sejam adotadas medidas cabíveis para coibir a atuação dessas milícias contra
a população já vulnerabilizadas e que ainda enfrentam uma pandemia.
Outra vítima da violência no campo têm sido as
florestas, que caem e queimam para dar lugar
ao boi, sendo este, mais tarde, substituído pela
soja. Frentes de exploração de minério podem
compor um próximo ciclo de violência contra os
povos e contra a floresta. O ano de 2019 foi marcado pelo fogo, mas também pelo Sínodo para
a Amazônia, os apelos e reflexões feitos a partir
do Sínodo precisam ecoar entre os cristãos para
que sejamos verdadeiras testemunhas de Cristo,
expresso no cuidado com a Casa Comum, construindo laços com a terra, que nos permitam
também chamá-la: “Querida Amazônia”, nossa
Amazônia! Que as ações de solidariedade sejam
capazes de alcançar os povos indígenas, seringueiros, quilombolas, camponeses, posseiros e
sem-terra e reconhecer como necessárias: a defesa da Reforma Agraria e da demarcação dos
territórios tradicionais.
Rondônia, 8 de maio de 2020.
É inaceitável a atuação de agentes públicos em
episódios de violência contra os povos do campo,
e têm sido reiteradas as denúncias, por parte de
camponeses, de envolvimento policial em confli
CPT Regional Rondônia
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Nota Pública - Os conflitos no campo não
param no sul do Piauí
A Associação de Moradores da Comunidade Melancias do Município de Gilbués-PI e a Comissão Pastoral da Terra vêm a público denunciar a
reincidência do conflito no Território Melancias.
As populações tradicionais continuam sendo alvos da expropriação dos territórios no Cerrado
do Piauí, além das várias outras ameaças, o isolamento social por conta da COVID-19 não intimida os conflitos no campo e as famílias sofrem
com o risco da doença e o avanço da violência
em seus territórios.
O território Melancias é impactado pela Fazenda
Alvorada, a Fazenda Paraíba, Fazenda Roda de
Ferro e por grileiros locais. Nesta quinta-feira,
07 de maio as famílias foram surpreendidas com
duas Retroescavadeiras desmatando próximo a
Passaginha, uma das comunidades que compõe
o território. Segundo os moradores, o proprietário da suposta Fazenda Paraíba conhecido por
Celso Constantino, comentou que iria desmatar
uma área na comunidade e nesta quinta-feira o
maquinário já estava trabalhando nesta região.
Importante destacar que este não é o primeiro
episódio de violação de direitos ocasionado pelo
Senhor Celso pois, o mesmo já vem derrubando cercas, fazendo aceiros, expulsando famílias
de suas áreas coletivas e afirmando que cercará
toda a região em que vivem e trabalham estas
famílias. Não o bastante, no dia 04 de Agosto de
2019, o mesmo ameaçou o morador do território,
Valdim Alves, ordenando que retirasse uma das
cercas construídas pela comunidade e caso não
fizesse, Celso afirmou que iria “Pinicá-lo com um
facão”. As famílias registraram boletim de ocorrência no 10º DRPC de Corrente no Piauí, mas
até o incidente do dia 07 de Maio de 2020, não
se sabe que encaminhamentos foram tomados
em relação ao registro.
Destaca-se que a comunidade está incluída do
projeto de Regularização Fundiária do Governo
do Estado do Piauí financiado pelo Banco Mundial, através do Projeto: Piauí Pilares do Crescimento e Inclusão Social. Nesse processo o Instituto de Terras do Piauí – INTERPI em agosto de
2018 realizou o estudo antropológico e o levantamento do território, mas até então não houve
nenhum retorno por parte do instituto.
Diante deste cenário, manifestamos nossa solidariedade e apoio a comunidade ameaçada e
em luta na defesa de seus territórios. Exigimos
em caráter de urgência a intervenção dos órgãos
competentes para a garantia da integridade e a
proteção das famílias, como também a resolução
da problemática em questão. Além disso, repudiamos o descaso e exigimos o tratamento devido dos órgãos de segurança pública, garantindo
os direitos das famílias envolvidas.
Histórico do Conflito
As Famílias do território são impactadas pela
Fazenda Alvorada que está dentro da área da comunidade e tem privado as famílias do uso das
veredas para criação do gado, inclusive cercaram
uma das veredas existentes no território. Além
da Alvorada, a Fazenda Passaginha tem desmatado e destruído parte da mata ciliar do Uruçuí Preto e de sua nascente. E ainda a Fazenda
Paraíba que tem apresentado recorrentes episódios de violência contra as famílias residentes
no território. Além disso, O uso do veneno nas
lavouras do Cerrados tem alterado a coloração e
a qualidade da água do Rio Uruçuí Preto, tanto
que no início da temporada de chuvas o rio fica
com uma coloração alaranjada, pois o veneno
aplicado na lavoura é carreado para dentro dele.
No dia 04 de Agosto de 2019, um dos Grileiros
de Terra que afirma ser dono da Fazenda Paraíba ordenou que a cerca da comunidade fosse
retirada, abriu um aceiro próximo à comunidade
e ameaçou “pinicar com um facão” o trabalhador
rural Valdim Alves, morador do território, caso
não retirasse a cerca. No mesmo mês a Fazenda
Alvorada enviou dois agrimensores no território
para medir pontos geográficos dentro da área da
comunidade, a equipe identificou-se como sendo
da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, mas
não houve mais explicações à comunidade.
Em novembro de 2019 a Fazenda Alvorada expulsou as famílias da sua área coletiva de solta
do gado e das roças. Com auxílio da polícia e
jagunços da fazenda, chegaram à comunidade
ribeirinha do território Melancias e colocaram
uma parte do gado das famílias para o outro
lado do rio. A ação foi realizada durante toda
parte da tarde com a presença da polícia militar
249
de Gilbués-PI.
Vale ressaltar que não foi apresentado nenhum
documento oficial que justificasse a ação, sendo
ela assim, arbitrária, autoritária e violenta.
Conhecendo o Território Melancias
O Território Melancias é composto por seis comunidades, Passagem da Nega (Passaginha),
Sumidouro, Brejo das Éguas, Riacho dos Cavalos e Melancias I e II. Situado a 94km da sede
do Município de Gilbués no Sul do Piauí, Brasil,
é constituído por 38 famílias que vivem as margens do Rio Uruçuí-preto. As famílias vivem da
extração do buriti, mangaba, pequi e do cultivo
da mandioca, do feijão, do arroz e milho. Além
de frutas como manga, acerola, limão, laranja,
goiaba e melancia. Também criam gados no sistema de solta em áreas coletivas, porcos, ovelhas e galinhas caipiras.
As famílias do Território Melancias resistem protegendo a floresta e as águas na defesa do rio
Uruçuí Preto e do seu território para a manutenção do seu modo de vida, assegurando vida digna e em abundância para as presentes e futuras
gerações.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - A nação brasileira sob grave risco autoritário e violento
A CPT – Comissão Pastoral da Terra e a CBJP
– Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismos vinculados à CNBB – Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil, o CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, a CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviços, a Plataforma dos
Movimentos Sociais pela Reforma Política, a PJR
– Pastoral da Juventude Rural, a Via Campesina Brasil, o MPA – Movimento dos Pequenos
Agricultores, o MMC – Movimento das Mulheres
Camponesas, o MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração, a FASE, o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST e o
MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens,
vêm a público alertar a sociedade brasileira sobre os graves riscos que a ameaçam, caso sejam
implementadas medidas tomadas pelo Governo
Federal que virão ampliar a atual escalada autoritária e o espaço de atuação de milícias armadas e de outros grupos criminosos no campo e
na cidade.
No dia 17 de abril último, o presidente da República determinou a revogação de três portarias
baixadas pelo Comando Logístico (COLOG) do
Ministério do Exército que criavam regras para
o rastreamento de armas e munição no Brasil.
Segundo o presidente, as portarias não estavam
de acordo com as diretrizes que ele estabelecera
em decretos anteriores.
A primeira portaria, de nº 46/COLOG, de
18/03/20, publicada em 20/03/20, criava o
Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos
Controlados pelo Exército (SisNaR), que teria
como objetivo rastrear os chamados Produtos
Controlados pelo Exército (PCE), que incluem
armas de fogo e explosivos. As outras duas (portarias nº 60 e 61/COLOG) ampliavam pontos da
primeira.
Segundo diversos analistas, a revogação das
portarias citadas beneficia, sobretudo, as milícias armadas que proliferam tanto em áreas urbanas quanto no meio rural.
O Governo Federal, logo que assumiu, no ano
passado, uma das primeiras medidas que tomou
foi a de liberar a compra de armas para os chamados “cidadãos de bem” (Decreto 9847/2019),
promessa eleitoral. Abertamente contra o desar-
mamento, não sossegou até ver aprovados este
e outros projetos que não escondem intenção
belicista.
A revogação das portarias do Ministério do Exército tem claro objetivo de armar a população
também para embates políticos. Em março de
2019, quando se discutia a liberação de armas,
o deputado federal filho do presidente referiu-se
à situação da vizinha Venezuela, que em 2012,
fez campanha pelo desarmamento no país, o
que, segundo ele, estaria dificultando a população defender-se do governo de esquerda de Nicolás Maduro.
As relações sociais no Brasil estão sob constante
e crescente tensão, cujas raízes estão nas históricas desigualdades sociais e regionais, que se
agravam na atualidade, ainda mais no contexto da pandemia que vivemos. Contudo, o acirramento das tensões se dá também em consequência de um “gabinete do ódio” instalado no
próprio Palácio do Planalto, como noticia a imprensa. O qual se encarrega de propalar notícias
falsas insuflando violências verbais e em algumas situações já se tornando também físicas,
contra grupos ou pessoas que se manifestem em
oposição ao Governo Federal, como recentemente contra profissionais da saúde, da imprensa,
em especial mulheres.
Desta maneira, o presidente instiga sua base
militante e fanática a promover atos provocativos contra a democracia, almejando uma polarização máxima e perversa dos setores sociais do
país. Nem as medidas para conter a pandemia
escapam. Ele parece julgar que se estes seus seguidores estiverem armados poderão reagir com
mais contundência em sua defesa. Daí o propósito de facilitar a compra e o uso de armas, e de
restringir o mais possível o seu controle.
E essa reação já começou! A manifestação do
dia 03 de maio de 2020, em Brasília, da qual
participou o presidente, teve entre seus organizadores o acampamento chamado “300 do Brasil”, um grupo de características paramilitares,
cujo nome alude aos “300 de Esparta”, pequeno
exército grego que resistiu ao poderoso exército persa, na Batalha de Termópilas (580 a.C).
Segundo a jornalista Jessica de Almeida, em
251
reportagem de edição on-line da revista Carta Capital (07/05/2020), eles “se apresentam
como ‘o maior acampamento pelo fim da corrupção e esquerda no Brasil’. Prometem fazer uma
‘contrarrevolução’ e estimulam os participantes:
‘Você não é mais um militante. Você é agora um
militar’”. E apesar de afirmarem se tratar de um
treinamento em “revolução não-violenta”, os líderes pediam, segundo Jessica, “que as pessoas levassem coisas comuns em acampamentos,
além de ‘itens que você levaria para uma guerra
na selva! Te esperamos para a guerra!’”.
E que a nação brasileira esteja atenta! Porquanto, nos ensina o Antigo Testamento, “todo prudente procede com conhecimento, mas o insensato espraia a sua loucura” (Provérbios 13, 16).
A par da crescente militarização do governo, já
maior do que no período da Ditadura Civil-Militar de 1964/1985, não seria estimular e favorecer grupos semelhantes e situações como esta
descrita acima, o propósito do Governo Federal
ao revogar as portarias do Ministério do Exército
acima referidas?
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
Nesse cenário, as entidades que subscrevem
esta Nota denunciam os riscos que tais revogações podem trazer à segurança pública da
população empobrecida do país, bem como às
pessoas e movimentos sociais e organizações
da sociedade civil que exercem seu direito à liberdade de opinião e expressão. A violência no
campo e na cidade já bate recordes. A pandemia
exige de nós serenidade. Em 08 de maio passado, a humanidade celebrou 75 anos do fim da II
Guerra Mundial, dos horrores do nazi-fascismo,
e a esperança que nada daquilo se repita. Instamos as autoridades da República a que tomem
as providências necessárias para fazer cessar os
abusos à ordem constitucional e democrática.
Brasília, 12 de maio de 2020.
Comissão Pastoral da Terra
Comissão Brasileira Justiça e Paz
Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política
Coordenadoria Ecumênica de Serviços
Pastoral da Juventude Rural
Via Campesina Brasil
Movimento dos Pequenos Agricultores
Movimento das Mulheres Camponesas
Movimento Pela Soberania Popular na Mineração
Movimento dos Atingidos por Barragens
FASE
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - MP 910/2019 E PL
2.633/2020 - Projeto de Lei amplia
injustiças, desmatamento e caos agrário
Nas últimas semanas, o debate em torno da Medida Provisória n° 910/2019 e sua mutação em
Projeto de Lei n° 2.633/2020, que agora tramita
em regime de urgência no Congresso Nacional,
demonstrou a ênfase dada pelo governo Jair Bolsonaro na chamada “regularização fundiária” que consiste na titulação (principalmente por
meio de alienação) de terras públicas federais.
As propostas ampliam a política para todo o
país, em terras da União e do INCRA, estendendo a regularização por meio de autodeclaração
do suposto ocupante em até 15 módulos fiscais,
pelo texto da MP, ou até 6 módulos, pelo texto
original do atual PL. Inicialmente, vale destacar
que tais mudanças ocorrem de forma açodada
e completamente dissociada da prioridade a ser
dada ao combate a pandemia de coronavírus
(COVID-19), que se acentua em todo o Brasil.
De maneira coordenada, tão logo houve a edição da MP, o INCRA editou duas Instruções Normativas (n° 99 e nº 100, ainda em 2019), para
operacionalizar os novos marcos de regularização - inclusive com a dispensa de vistoria para
área de até 15 módulos fiscais e consultas a sistemas autodeclaratórios, como o SICAR, para a
comprovação da regularidade ambiental. Também editou a Portaria n° 608, de 31 de março de
2020, aprovando uma nova planilha de preços
para titulação de terras, com valores bem abaixo
dos valores de mercado.
O conceito amplo de regularização fundiária engloba uma série de situações que envolvem as
terras públicas e que demandam ações do Estado brasileiro, inclusive por determinação constitucional: os assentamentos de reforma agrária, as unidades de conservação, os territórios
quilombolas, as terras indígenas, dentre outras.
Cada uma delas com as suas especificidades
procedimentais e responsabilidades de diversos
órgãos da Administração Pública.
A regularização fundiária de ocupações por meio
de autodeclaração ignora que todos os sistemas
que assim funcionam e que possuem ligação
com meio agrário apresentam, no momento,
alta fragilidade pelo elevado número de fraudes
- praticadas por parte dos declarantes e pela au-
sência de estrutura fiscalizatória. Isso, é o caso
do Cadastro de Imóveis Rurais gerenciado pelo
INCRA; Declaração do Imposto Territorial Rural,
gerenciado pela Receita Federal; e do Cadastro
Ambiental Rural, gerenciado pelo Serviço Florestal Brasileiro.
Nesse sentido, avalia-se que qualquer política de
regularização fundiária que não vier aliada às
demais obrigações fundiárias do Estado brasileiro e ao fortalecimento da estrutura fiscalizatória
vai trazer mais caos no meio agrário do Brasil,
em vez de segurança jurídica. Curiosamente,
o setor mais beneficiado por tais medidas é o
mesmo que questiona os critérios étnicos de auto-atribuição de povos indígenas e quilombolas,
buscando impor o marco temporal de ocupação
de 5 de outubro de 1988 (data da promulgação
da atual Constituição) para a regularização fundiária de terras pertencentes a esses grupos.
Ainda que a Lei 11.952/2009 e suas alterações
tenham, abstratamente, afastado a possibilidade da “regularização fundiária” em terras tradicionalmente ocupadas por indígenas (art. 4°, II)
e em áreas de interesse social (art. 4°, I); tenham
estipulado que “as terras ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que façam
uso coletivo da área serão regularizadas de acordo com normas específicas” (art. 4, parágrafo 2°)
e estabelecido a prioridade das “comunidades
locais” em caso de conflito (art. 8°, I), tem-se verificado na prática, uma verdadeira corrida pela
destinação das terras públicas em condições
muito vantajosas para aqueles que ocuparam-nas à revelia da lei, colocando em segundo plano as diversas formas de campesinato, inclusive
os assentados.
Frisa-se que o público que se busca regularizar
está muito longe de ser o de pequenos posseiros,
pois muitos destes já possuem amparo e vantagens legais, sem que isso resulte de fato na regularização de suas terras ocupadas, conforme
consta no recente Acórdão n° 727/2020 do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou
ainda a baixa execução do agora extinto programa Terra Legal. Por isso, o aumento do número de imóveis e áreas passíveis de regularização
253
sem vistoria mostra-se completamente sem sentido, visto que atende a um público diferente dos
ocupantes de pequenos imóveis rurais, que já
possuem amparo legal.
gicas para a execução de políticas públicas de
desenvolvimento pelos diversos órgãos e esferas
da Administração Pública. Também defendem,
mais especificamente:
O que se evidencia desde a adoção da Lei n°
11.952/2009 (conversão da MP 458/2009) é
que não tem predominado o conceito de função
social e de interesse público nas ações de governança agrária - o que fica demonstrado pela paralisia nas políticas fundiárias de reforma agrária, de criação de unidades de conservação e de
reconhecimento de terras indígenas e territórios
quilombolas, de titulação dos posseiros propriamente ditos. Bem como, na ausência de reversão
de áreas públicas ilegalmente ocupadas e que
não são destinadas ao programa de “regularização fundiária”, nem para qualquer outro programa - ficando essas terras à mercê de novas
invasões, da grilagem e de outras pressões para
adoção de leis que as amparem. Esses, são problemas que se arrastam há décadas.
1- Revogação da IN/INCRA 99/2019, IN/INCRA100/2019 e IN/FUNAI/9/2020;
Essa paralisia encontra-se refletida no sucateamento de todos os órgãos que tratam dessas
políticas - especialmente o INCRA, que se encontra no momento em situação bastante defasada
em relação à sua missão institucional, estrutura
operacional, número de servidores e orçamento.
O corpo de servidores do Incra defende o máximo uso de recursos tecnológicos, inclusive de
sensoriamento remoto e cruzamento de dados
entre os diversos sistemas de informações dos
órgãos públicos como ferramentas de análise
dos pedidos de regularização fundiária, mas isso
não substitui a necessidade de vistorias prévias,
que muitas vezes se mostram imprescindíveis
para verificação do cumprimento de cláusulas
que constam nos próprios instrumentos de titulação.
Por estes principais motivos, dentre vários outros, as entidades e personalidades que subscrevem o presente documento defendem a rejeição
do Projeto de Lei nº 2.633/2020 (Regularização
fundiária de ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União ou do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e uma
nova institucionalidade para a política agrária
no Brasil. Também defendem a reestruturação
do INCRA, como órgão realizador das ações de
governança agrária do país, regulação, fiscalização e controle do uso e ocupação das terras brasileiras, de modo a promover a segurança jurídica, o direito de propriedade dos diversos sujeitos
do campo e o cumprimento da função social
da terra, concentrando as informações estraté-
2- Adoção da planilha de preços referenciais
elaborada pelo INCRA, com descontos inversamente proporcionais à área a ser regularizada,
no intuito de minimizar a perda de Receita pelo
Estado brasileiro;
3- Que fique a cargo do INCRA e não do Ministério da Economia possíveis alienações advindas
do processo de Regularização;
4- Fortalecimento imediato do Incra, para possibilitar a gestão fundiária do país e;
5- Obrigatoriedade de vistoria nos imóveis acima
de 4 módulos fiscais com pedidos de regularização, bem como em todos aqueles abaixo desta
faixa que possuam indícios de descumprimento
da função social;
Entidades que assinam e a nota na íntegra no
link abaixo.
https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/
noticias/acoes-dos-movimentos/5221-nota-publica-mp-910-2019-e-pl-2-633-2020-projeto-de-lei-amplia-injusticas-desmatamento-e-caos-agrario
Publicado: 25 Maio 2020
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA – Em defesa da vida dos trabalhadores e trabalhadoras do Vale do São
Francisco
A CPT de Juazeiro (BA) vem a público denunciar
e se solidarizar com a situação de trabalhadores
e trabalhadoras do agronegócio e das linhas de
transmissão de energia eólica, da região norte
do estado da Bahia, que estão com suas vidas
em risco diante da pandemia do novo coronavírus. No Vale do São Francisco, o coronavírus
já está presente nos pequenos municípios, de
população composta, em grande parte, por trabalhadores/as rurais, pescadores/as e povos
de comunidades tradicionais de fundo de pasto e quilombolas. Percebemos que o avanço da
Covid-19 no interior, se dá, principalmente, em
locais em que os empreendimentos do capital
continuam funcionando normalmente, na busca
desenfreada pelo lucro, que passa por cima da
garantia de nosso maior bem: a vida. A gravidade
dos fatos exige providências urgentes de órgãos
públicos no sentido de obrigarem as empresas a
adotarem medidas de segurança e proteção de
saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, bem
como evitar a disseminação do vírus nas comunidades rurais. Confira:
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro (BA), seguindo a sua missão de ser presença
fraterna junto aos povos do campo, vem a público denunciar e se solidarizar com a situação de
trabalhadores e trabalhadoras do agronegócio e
das linhas de transmissão de energia eólica, da
região norte do estado da Bahia, que estão com
suas vidas em risco diante da pandemia do novo
coronavírus.
O Brasil é hoje o segundo país do mundo que
tem mais casos confirmados da Covid-19, com
mais de 28 mil mortes contabilizadas oficialmente. O coronavírus, que inicialmente atingiu as
grandes metrópoles, já se espalha com rapidez
pelo interior do país. As regiões Norte e Nordeste
juntas, alcançaram, esta semana, a triste marca
do maior número de diagnósticos e mortes pela
Covid-19 no Brasil.
No Vale do São Francisco, o coronavírus já está
presente nos pequenos municípios, de população composta, em grande parte, por trabalhadores/as rurais, pescadores/as e povos de
comunidades tradicionais de fundo de pasto e
quilombolas. Percebemos que o avanço da Co-
vid-19 no interior, se dá, principalmente, em
locais em que os empreendimentos do capital
continuam funcionando normalmente, na busca
desenfreada pelo lucro, que passa por cima da
garantia de nosso maior bem: a vida.
No município de Casa Nova (BA), o primeiro caso
de coronavírus foi de um trabalhador rural do
distrito de Santana do Sobrado, registrado no
dia 19 de maio. Na última terça-feira (26), o número de pessoas infectadas pela Covid-19, que
são trabalhadoras das fazendas do agronegócio
de Santana, já havia subido para seis. Familiares
desses trabalhadores/as rurais também contraíram a doença. Santana do Sobrado é um polo
da fruticultura irrigada, que concentra cerca de
30 mil trabalhadores de diversos municípios do
Vale do São Francisco. Os/as trabalhadores/
as das fazendas estão mais expostos ao coronavírus, pois continuam presentes em locais de
aglomeração, como os transportes de ida e volta
ao trabalho e os refeitórios nas empresas. Em
Pilão Arcado (BA), o povoado de Nova Holanda
registrou 38 casos do coronavírus e uma morte
provocada pela doença. Dos casos diagnosticados, 34 deles são de funcionários do Consórcio
Linhão BAPI, obra de construção de linha de
transmissão da energia eólica, executada pela
Equatorial Transmissão, que atravessa comunidades rurais, entre elas tradicionais de fundo de
pasto, dos municípios de Pilão Arcado e Campo
Alegre de Lourdes. No último domingo (24), um
operador de máquinas da empresa Andrade Gutierrez (integrante do Consórcio) que trabalhava em Nova Holanda morreu por Covid-19 em
um hospital de Buritirama (BA). O descaso da
construtora com os trabalhadores foi além da
exposição ao contágio do vírus. As 34 pessoas
testadas positivos para Covid-19 foram levadas
para um galpão do canteiro de obras no povoado
de Angico, em Campo Alegre de Lourdes, e não
para um hospital ou local com infraestrutura de
saúde adequada para tratamento da doença. A
empresa tratou de forma desumana os seus trabalhadores e colocou em risco a vida da população de todas as comunidades do entorno.
A gravidade desses fatos exige providências urgentes das prefeituras, do Ministério Público
Estadual, Ministério Público do Trabalho no
255
sentido de obrigarem as empresas a adotarem
medidas de segurança e proteção de saúde dos
trabalhadores e trabalhadoras, bem como evitar
a disseminação do vírus nas comunidades rurais situadas no entorno das citadas fazendas
e na região onde está sendo instalada a rede de
transmissão.
Juazeiro (BA), 30 de maio de 2020.
Comissão Pastoral da Terra de Juazeiro (BA)
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - “É preciso indignar-se”
com algumas Redes de Televisão de inspiração católica!
Desde que foi revelado o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, vinha sempre confrontando os pronunciamentos feitos naquela reunião
com a Constituição Federal, fazendo-nos refletir como tais pronunciamentos feriam nossa Lei
Maior.
Hoje, sinto-me na obrigação de comentar os
pronunciamentos de outra reunião com o “presidente” do Brasil, ocorrida em 21 de maio. Desta vez, não com ministros do governo, mas com
padres diretores das chamadas redes de televisão de inspiração católica, com a participação de
deputados federais que se dizem católicos, que
foram os idealizadores de tal reunião virtual.
Um dos pedidos mais explícitos foi feito pelo
padre Welington Silva, da TV Pai Eterno, ligada
ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em
Trindade (GO). Disse ele: “estamos precisando
mesmo de um apoio maior por parte do governo
para que possamos continuar comunicando a
boa notícia, levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando
e fazendo pelo nosso povo”. Perguntemo-nos: o
que este padre chama de “aquilo de bom que o
governo” realiza e faz?
O padre e cantor Reginaldo Manzotti, da Associação Evangelizar é Preciso, com rádios e TV
próprias, cobrou agilidade e ampliação das outorgas e destacou o contraponto que os católicos
podem fazer para frear o atual desgaste na imagem de Bolsonaro e do governo. Uma TV de inspiração católica deve se submeter, por dinheiro,
a fazer este papel ridículo de “frear o atual desgaste da imagem” do governo?
O empresário João Monteiro de Barros Neto, da
Rede Vida, afirmou que “Bolsonaro é uma grande esperança”. Perguntemo-nos: esperança de
que, João Monteiro?
No Brasil, há nove emissoras de inspiração católica de TV, geradoras de conteúdo: Aparecida,
Nazaré, Imaculada, Horizonte, Pai Eterno, Rede
Vida, Canção Nova, Século 21 e Evangelizar - as
três últimas ligadas ao movimento da Renovação
Carismática Católica. As primeiras, Aparecida,
Nazaré, Imaculada, Horizonte, não participaram
da videoconferência. As cinco últimas participaram, Pai Eterno, Rede Vida, Canção Nova, Século 21 e Evangelizar.
Parabéns às TVs de inspiração católica que não
aceitaram ser subornadas: Aparecida, Nazaré,
Imaculada e Horizonte.
Vou escrever aqui em letras maiúsculas a minha primeira reação ao receber a informação do
que estava sendo publicado pelo jornal O Estado
de S. Paulo “Por verbas, TVs católicas oferecem
a Bolsonaro apoio ao governo”: VERGONHOSO!
MERCENÁRIOS!
Lembrei-me das palavras de Jesus no discurso
sobre o Bom Pastor. Disse Jesus que o Bom Pastor vem para que todos tenham vida (cf. Jo 10,
10b) e o Mal Pastor, o Mercenário vem para roubar, matar e destruir (cf. Jo 10, 10, 10a).
Outra cena do evangelho que me veio imediatamente à mente foi a passagem de Jesus no
Templo de Jerusalém. João relata que no templo
Jesus encontrou os que vendiam bois, ovelhas
e pombas e os cambistas em suas bancas. João
diz ainda que Jesus fez um chicote com cordas e
expulsou todos do templo e disse: “Não façais da
Casa de meu Pai um mercado” (cf. Jo 2, 13-22).
Imaginemos Jesus entrando naquela reunião e
ouvindo estes “padres” se vendendo ao governo,
fazendo de nossa fé católica um mercado, pedindo dinheiro e prometendo apoiar o governo.
Em Nota de Esclarecimento, emitida na noite do
sábado, 06 de junho, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação,
juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações de caráter nacional que reúnem as TVs e rádios de inspiração
católica do Brasil, informam que “não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com
a reunião entre o presidente da República, Jair
Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares”.
257
Diz, também a Nota da CNBB: “Recebemos com
estranheza e indignação a notícia sobre a oferta
de apoio ao governo por parte de emissoras de
TV em troca de verbas e solução de problemas
afeitos à comunicação. A Igreja Católica não faz
barganhas. Ela estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e
nos valores democráticos, republicanos, éticos e
morais”.
Como bispo da Prelazia de Itacoatiara–Amazonas e vice-presidente da Comissão Pastoral da
Terra (CPT), venho solidarizar-me com a Comissão Episcopal para a Comunicação e com a Presidência da CNBB.
Os redentoristas e os Jesuítas, também, emitiram notas, dizendo que os seus Religiosos presentes naquela reunião não foram enviados pelas Congregações. Os Redentoristas ligados à TV
do Pai Eterno e os Jesuítas ligados à TV Século
XXI.
Espero que os Padres “desobedientes”, sejam
religiosamente corrigidos, se retratem ou se tomem outras providências. O Cânon 823 diz que
“para garantir a integridade das verdades da fé
e dos costumes é dever e direito dos pastores
da Igreja vigiar para que os escritos ou uso dos
meios de comunicação social não tragam prejuízo à fé e à moral dos fiéis”.
Prelazia de Itacoatiara, 07 de junho de 2020
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA PÚBLICA - CPT Amazonas denuncia
perseguição a agente pastoral
Na tentativa de evitar o agravamento de situações de violência no campo e garantir justiça
para as comunidades que vivem da terra, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) vem acompanhando conflitos envolvendo comunidades rurais no Amazonas. Dada a grave situação dos
conflitos em toda a Amazônia, esse acompanhamento por vezes acaba implicando na exposição
dos próprios agentes ligados à pastoral e de seus
familiares a situações de violência. Mas não se
pode naturalizar essa violência. Ao contrário, é
necessário combatê-la.
No dia 07 de junho de 2020, o esposo de uma
agente voluntária da CPT de Maués sofreu uma
tentativa de homicídio. Na ocasião, a vítima encontrava-se acompanhada da esposa e do filho
adolescente e foi atingida nas costas por um disparo de espingarda. Por sorte a vítima foi atendida e está se recuperando sob cuidados médicos. A violência também causou traumas no
filho, que está muito abalado emocionalmente.
O agressor identificado estava acompanhado de
dois outros indivíduos. Entretanto, até o presente momento, nenhum dos três foi capturado e
ouvido pela polícia para explicar os motivos do
atentado.
A agente voluntária da CPT tem sido uma presença solidária em comunidades pobres do município de Maués e é atuante no combate a crimes ambientais. No período em que seu esposo
sofreu o atentado, ela se preparava para a distribuição de cestas de alimentos à famílias de
agricultores ribeirinhos que se encontram em situação vulnerável em decorrência da pandemia
de coronavírus.
Nesse sentido, solicitamos das autoridades competentes as providências cabíveis para identificar os envolvidos e esclarecer estes fatos e os
motivos que os levaram a praticar tal violência,
bem como, cumpram com os requisitos necessários para que os indivíduos sejam apresentados
à justiça e que seja garantida a segurança da
vítima e seus familiares.
Manaus, 23 de junho 2020.
Comissão Pastoral Da Terra - Regional Amazonas
259
NOTA PÚBLICA - Não à UHE Formoso!
No dia 22 de maio de 2020 foi publicado o Decreto nº 10.370, pelo Executivo Federal, cujo
escopo envolveu a qualificação da denominada
Usina Hidrelétrica Formoso (UHE Formoso), no
Rio São Francisco, como empreendimento apto
a ser incluído no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Presidência da República,
após recomendação da Casa Civil. Tal projeto compreende a construção de uma estrutura
com capacidade de geração hidrelétrica de 306
megawatts (MW) nos municípios de Pirapora e
Buritizeiro, no Norte do Estado de Minas Gerais,
a 110 km abaixo da barragem e hidrelétrica de
Três Marias.
Trata-se de um projeto antigo, reativado em
2017, que é de responsabilidade da empresa
Quebec Engenharia (Construtora Quebec S/A),
Tractebel Engeneering Suez e SPE Formoso. Tal
notícia trouxe bastante preocupação aos povos
ribeirinhos e à sociedade civil em geral, pela falta de transparência e pelos seus incontáveis impactos socioambientais, hídricos, econômicos,
turísticos, arqueológicos, histórico-culturais,
entre outros. Este projeto instala um conflito interestadual pelo uso da água da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, envolvendo os estados
de: Minas Gerais (MG), Bahia (BA), Pernambuco
(PE), Sergipe (SE) e Alagoas (AL). Ao contrário
do que vem sendo difundido por alguns setores,
os gigantescos impactos negativos da UHE Formoso estão muito longe de serem compensados
pelos empregos que podem vir a ser criados na
região.
O autoritarismo e as manobras para acelerar o
processo de licenciamento ambiental marcam
a tentativa de implantar o projeto. Além de não
consultar nenhum setor da sociedade, as informações apresentadas pela empresa para o IBAMA1 (para iniciar o licenciamento ambiental) não
condizem com as reais condições ambientais da
região e da bacia sanfranciscana. Exemplo disso
1
é o fato de que a empresa considera apenas seis
municípios como potencialmente atingidos pelo
empreendimento, sendo que a construção de
uma usina deste porte afetará todo o regime de
vazão do rio São Francisco, alterando não só os
processos de cheias até a barragem de Sobradinho, como, também, o regime das hidrelétricas
ao longo do rio2. Ademais, somente na área de
impacto declarada pela empresa, existem mais
de 60 sítios arqueológicos registrados, inúmeros cursos d’água, bens patrimoniais tombados
pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais), áreas de
Preservação Permanente (APPs), regiões de várzea, veredas, remanescentes de Mata Atlântica,
espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção, entre outros. Além das manobras duvidosas do ponto de vista ético, técnico e normativo,
os estudos de viabilidade do empreendimento
usados pela empresa são muito defasados – década de 1990. Os fatos são mais que suficientes para cancelar o processo de licenciamento.
Mesmo desta forma, sem questionar a empresa,
os órgãos ambientais estão dando andamento
ao licenciamento. Pior, há um acordo costurado entre o IBAMA e a SEMAD3 para transferir o
licenciamento ambiental para o Governo de Minas Gerais.
Os órgãos envolvidos desconsideram a crise que
vivemos na bacia sanfranciscana em função da
baixa vazão do rio, que afeta todas as regiões,
na qual as vazões ecológicas das 9 barragens/
hidrelétricas que já existem tiveram seus limites
alterados para baixo – não há água suficiente
nem mesmo para produzir a energia projetada
nas UHEs localizadas na região sub média e baixa da bacia do Velho Chico, que já está na UTI
por causa de tanta devastação na sua bacia.
É importante reiterar que a usina coloca em risco a sobrevivência de inúmeras comunidades
tradicionais que vivem não só na região, mas em
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
Ao longo do Rio São Francisco já existem 9 barragens/hidrelétricas sacrificando toda a vida do Velho Chico. O Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso é um conjunto de hidrelétricas, localizado na cidade de Paulo Afonso, formado pelas hidrelétricas
de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), que produz 4.000 megawatts de energia, gerada a partir do desnível
natural de 80 metros da cachoeira de Paulo Afonso, no rio São Francisco. A barragem e Usina Hidrelétrica de Sobradinho
está localizada nos municípios de Sobradinho e Casa Nova, estado da Bahia, a 40 km das cidades de Juazeiro (Bahia) e
Petrolina (Pernambuco) e distante, aproximadamente 470 km do complexo hidroenergético de Paulo Afonso. A barragem/
hidrelétrica de Sobradinho tem uma potência instalada de 1.050.000 KW (1.050 MW) e conta com 6 máquinas geradoras.
Outras usinas hidrelétricas construídas ao longo do rio são a de Xingó, Itaparica (Luiz Gonzaga) e a de Três Marias, no Alto
São Francisco, em Minas Gerais.
3
Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado de Minas Gerais.
2
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
toda a bacia, como povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadoras, vazanteiras e pequenos agricultores.
Há ainda uma falsa impressão que o empreendimento da UHE Formoso trará desenvolvimento
para a região, por meio da geração de empregos
e de incremento na economia. Isso é mentira!
O projeto é insustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental, e também incapaz
de beneficiar as comunidades locais como vem
sendo idealizado por alguns interlocutores. Esse
tipo de obra traz a migração sazonal de trabalhadores ocasionando o aumento da violência social
e exploração sexual, pressão sobre os serviços
públicos, elevação do custo de vida e outros estorvos. Assim, bons salários para os sócios das
empresas e para a mão de obra especializada.
Entretanto, para a população, problemas socioambientais, empobrecimento e miséria.
Desse modo, nós, povos do São Francisco manifestamos nosso total repúdio à construção da
Usina Hidrelétrica do Formoso. Estamos mobilizando toda a sociedade para lutar contra este
projeto que, sorrateiramente, no momento em
que o Brasil se preocupa com a pandemia do
novo coronavírus/COVID-19, tentam instalar
em nosso amado Rio, que é vital à existência de
nossa gente. Somos povos tradicionais, quilombolas, indígenas, comunidades pesqueiras, vazanteiras, geraizeiras, entre outras, que vivem
e preservam o Rio, “nosso pai”! Somos movimentos sociais, pastorais sociais, organizações
populares, artistas, jornalistas, pescadores/as
professoras/es, advogadas/os, ribeirinhos/as,
estudantes, pesquisadores/as, trabalhadores,
ativistas da causa ambiental e movimentos organizados. Mais de 60 entidades na luta em defesa do Rio São Francisco.
Não à UHE Formoso! O Velho Chico Vive! São
Francisco Vivo! Terra Água Rio e Povo!
Entidades que assinam e a nota na íntegra no
link abaixo.
https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/geral/5263-nota-publica-sobre-a-uhe-formoso-em-minas-gerais
Pirapora, MG, 03 de julho de 2020
Publicado: 07 Julho 2020
261
NOTA PÚBLICA - Grilagem de terra e violência no campo correm soltas com apoio do
Tribunal de Justiça De MT
“Mas vocês não têm olhos nem coração, a não
ser para o seu lucro, para derramar sangue inocente e para praticar a opressão e a violência. (Jr
22, 16-17).”
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional
Oeste 2, vêm denunciar a situação de grilagem
de terras da União e violência contra as famílias
do Pré-Assentamento Boa Esperança, município
de Novo Mundo, Região Norte de Mato Grosso,
desta vez com decisão do Tribunal de Justiça de
MT.
Trata-se da área da Fazenda Araúna, que possui
mais de 14.700 hectares, localizada no município de Novo Mundo (MT), terra comprovadamente da União, conforme sentença da 1ª Vara da
Justiça Federal de Sinop, na Ação Reivindicatória nº. 0005891-77.2009.4.01.3603, que reconhece e declara “a propriedade da União sobre
o imóvel denominado Fazenda Araúna, com extensão de 14.796,0823 (catorze mil, setecentos e
noventa e seis hectares, oito ares e vinte e três
centiares)”, decisão confirmada pelo Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, em dois recursos
impetrados pelo grileiro Marcello Bassan.
Recebemos com surpresa e indignação a decisão
do Desembargador Sebastião Barbosa Farias, da
Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal
de Justiça de MT, que acatou pedido de Revigoramento de Liminar do grileiro Marcelo Bassan,
mandando despejar as 100 famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança. Em 4.500 hectares
da área estão vivendo mais de 300 pessoas, entre elas, 65 crianças e 22 idosos, cada família em
seu lote, criando pequenos animais e iniciando
suas plantações.
As 100 famílias que são acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra-CPT/MT e pelo Fórum
de Direitos Humanos e da Terra-FDHT/MT, viveram mais de 15 anos acampadas às margens
da estrada e da fazenda e, em março deste ano,
reocuparam parte da área onde já haviam morado por quase dois anos. Tomaram esta atitude
após o Superintendente do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra-MT) se negar a receber a posse da área, para então assentar as famílias.
As atitudes tendenciosas do Superintendente
do Incra-MT foram denunciadas à Procuradoria Federal do Cidadão-Ministério Público Federal (PFDC-MPF), que emitiu o parecer nº PGR00080259/2020, e, com base na Auditoria feita
pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no Programa Terra Legal, que resultou no Acórdão/
TCU nº 727/2020, afirma que “a postura da
Superintendência do INCRA no Mato Grosso se
enquadra justamente nesse cenário de renúncia de receita e não destinação constitucional a
terras públicas.”, e que as ações do superintendente indica “uma omissão deliberada no dever
de garantir a proteção daquele patrimônio, a
ser investigada pelos órgãos com atribuição em
combate à corrupção do MPF.”.
Em 27 de junho do corrente ano, o Desembargador Sebastião Barbosa Farias havia revogado
sua decisão inicial de despejar as famílias, alegando que “sobreveio juntada de petição da Advocacia Geral da União, anunciando que a União
tem interesse em ingressar na lide perante o juízo “a quo”, com pedido de remessa dos autos à
Justiça Federal”, razão pela qual, “a manifestação da União dá guarida às ponderações do juízo
“a quo”, na decisão agravada”, decisão esta que
havia negado o revigoramento da liminar para
despejar as famílias.
O magistrado afirma na decisão de 27 de junho
que “há de se levar em consideração notícias de
intenso confronto entre as partes, em região na
qual estão instaladas muitas famílias, inclusive
com crianças.”, e que “o momento não se mostra
razoável para a retirada de tantas famílias da região, em meio à pandemia, pois sem dúvida colocam em risco as famílias que ocupam a área.”.
Contudo, no final do dia 10 de julho, o Desembargador voltou atrás em sua decisão, acatando
acusação infundada do Grileiro Marcello Bassan, de que a Advocacia Geral da União (AGU)
levantou falsas premissas no processo quando
requereu seu ingresso na ação. E mais, que “na
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
decisão anterior, deixei de ponderar quanto às
questões humanitárias, a vida dos trabalhadores da fazenda que lá já encontravam com suas
famílias, inclusive com crianças, que estão sofrendo frequentes ameaças e violência”, fatos
que não condizem com a realidade encontrada
no local, posto que as 100 famílias acompanhadas pela CPT-MT e pelo FDHT/MT, não ocuparam a sede da área e não estão ameaçando a vida
dos trabalhadores como alegado, mesmo porque
na sede da área não existem famílias, mas um
única família, e com uma criança, no mais são
jagunços contratados pelo grileiro. Mais do que
mandar despejar as famílias o Douto Julgador,
que deveria fazer valer a Justiça, mandou que
o despejo seja efetuado IMEDIATAMENTE, desconsiderando toda a situação de pandemia vivenciada pela população brasileira, não observando as orientações do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e as próprias determinações do
Tribunal de Justiça de MT, da Portaria Conjunta
nº 399, de 26 junho de 2020, que prorroga até
o dia 17 de julho de 2020, data esta que deve
sofrer nova prorrogação frente à gravidade da situação de pandemia no estado, a decisão de não
serem praticados atos presenciais, mais ainda
quando envolve aglomeração de pessoas em situação de vulnerabilidade, como é o caso das
100 famílias.
Questionamos o que mudou na situação de
pandemia nos últimos dias? É fato notório que
a situação se agravou, e isso não foi levado em
consideração pelo julgador ao reconsiderar sua
decisão inicial e determinar o despejo das famílias.
Quanto à realização de despejos em tempos de
pandemia, o relator da ONU para o direito à moradia adequada, Balakrishnan Rajagopal, pediu
no último dia 9 de julho, que o Brasil acabe com
todos os despejos durante a crise da COVID-19,
afirmando que “O Brasil tem o dever de proteger
urgentemente todos, especialmente as comunidades em risco, da ameaça do COVID-19”, e que
“Despejar as pessoas de suas casas nessa situação, independentemente do status legal de sua
moradia, é uma violação de seus direitos humanos”.
Na decisão o magistrado alega que “é fato notório a truculência costumeiramente empreendida
pelos integrantes do MST”, revelando a predisposição em criminalizar a luta pela terra feita pelo
movimento social. Ocorre que nos autos existe
petição da Comissão Pastoral da Terra-MT e do
Fórum de Direitos Humanos e da Terra-FDHT-MT, afirmando que as 100 famílias do Pré-Assentamento Boa Esperança são acompanhadas
por estas entidades há mais de 15 anos.
Ainda, esta decisão de despejar as famílias, contraria parecer do Ministério Público Estadual de
Mato Grosso, de Primeiro Grau e de Segundo
Grau, posto que ambos, opinaram pelo INDEFERIMENTO do revigoramento da liminar. Esta
mesma decisão do TJ MT revoga a decisão do
juízo da Vara Agrária, que indeferiu o revigoramento da liminar, para com isso não despejar as
famílias.
Esperamos e apelamos ao Judiciário de Mato
Grosso que reveja esta decisão, para manter as
famílias em suas casas, e ao governo do estado que tenha o bom senso de não disponibilizar
meios para que esta decisão INJUSTA e totalmente contrária ao que determina o ordenamento jurídico vigente, caso seja mantida, não seja
cumprida enquanto perdurar a situação de pandemia que assola severamente todo país.
Diante disso, mais uma vez reafirmamos a responsabilidade do Tribunal de Justiça de MT, do
Estado de Mato Grosso e do Incra, pela perpetuação da grilagem de terras no estado e a consequente violência contra as famílias e cobramos
medidas URGENTES para garantir a permanência das famílias na área ocupada e de direito,
bem como que esta decisão seja revista pelo Desembargador e o processo enviado para a Justiça Federal de Sinop, que tem competência para
julgar ações que versam sobre bens da União,
como no caso da Fazenda Araúna.
Goiânia - Brasília, 15 de julho de 2020.
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) - Regional Oeste 2
263
NOTA PÚBLICA - Vítima de criminalização,
professor universitário do Pará é
absolvido pela segunda vez de acusação
feita pela Vale
CPT Marabá, SDDH, CEPASP e Justiça nos Trilhos divulgam Nota Pública sobre a absolvição
do professor Evandro Medeiros, das acusações
que sofria desde 2016 pela empresa Vale. A
Nota destaca que “Evandro Medeiros foi vítima
de criminalização promovida pela Vale com respaldo de determinados agentes do Estado. Os
processos promovidos contra ele são uma demonstração clara de como o poder econômico da
Empresa influencia os órgãos de investigação e
acusação na região Sudeste do Pará, onde crimes cometidos pela Empresa, geralmente não
são investigados e raramente existem denúncias
das ilegalidades por ela praticadas”. Confira:
Desde 2016 o professor Evandro Medeiros enfrenta uma batalha judicial contra a maior empresa de mineração do País e, pela segunda vez,
foi absolvido pelo Poder Judiciário do Estado do
Pará. As acusações feitas pela Vale contra ele
são referentes à suposta liderança da manifestação ocorrida no dia 20 de novembro de 2015,
às margens da Estrada de Ferro Carajás, entre
os bairros Araguaia e Nossa Senhora Aparecida, respectivamente conhecidos como “Fanta” e
“Coca-cola”, no Município de Marabá/PA. O ato
público realizado por professores e alunos da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
(UNIFESSPA) contou com a participação da população local e teve como objetivo prestar solidariedade às famílias de um bairro de Marabá,
impactadas pela obra de duplicação da Ferrovia
de Carajás e, também, às comunidades impactadas pela Vale em Mariana/MG, onde ocorreu
o rompimento da Barragem de Fundão no dia 05
de novembro de 2015.
Com fundamento na acusação feita pela Vale e,
contrariando o que realmente ocorreu na manifestação, o Ministério Público de Marabá deu início a ação penal, na qual a Mineradora atuou no
papel de assistente de acusação. Nesse processo, iniciado em 2016, as acusações feitas contra
Evandro foram de perigo de desastre ferroviário
(art. 260 do CP) e incitação ao crime (art. 286 do
CP). A denúncia apresentada pelo MP se fundou
em um tendencioso inquérito policial de auto-
ria da Polícia Civil, que tão somente acolheu os
supostos elementos de prova apresentados pela
Empresa, sem aprofundar as investigações e
apurar se os fatos que lhe foram apresentados
eram ou não verídicos.
Diante da fragilidade das provas produzidas pela
acusação no inquérito policial e no transcorrer
da ação penal, a Juíza Renata Guerreiro Milhomem de Souza julgou improcedente o pedido feito na denúncia e absolveu Evandro dos crimes
que lhe eram imputados. Na sentença que ainda
não transitou em julgado, a Magistrada reconheceu que os manifestantes exerceram direitos
constitucionalmente garantidos à liberdade de
expressão e reunião, ressaltando a importância
de atos como esse, para a construção da democracia no Brasil:
É por isso que se impõe construir espaços de
liberdade, em tudo compatíveis com o sentido
democrático que anima nossas instituições políticas, jurídicas e sociais, para que o pensamento não seja reprimido e, o que se mostra fundamental, para que as idéias possam florescer,
sem indevidas restrições, em um ambiente de
plena tolerância, que, longe de sufocar opiniões
divergentes, legitime a instauração do dissenso e viabilize, pelo conteúdo argumentativo do
discurso fundado em convicções divergentes, a
concretização de um dos valores essenciais à
configuração do Estado democrático de direito:
o respeito ao pluralismo político.
Além da ação penal proposta pelo Ministério
Público, em 2016 a mineradora já havia ingressado com uma queixa-crime contra Evandro,
acusando-o do crime de “exercício arbitrário das
próprias razões” perante o Juizado Especial Criminal de Marabá. Esse crime está no art. 245
do Código Penal. A queixa-crime foi aceita pela
Juíza Adriana Divina da Costa Tristão que, ao
final do processo, proferiu sentença absolvendo
Evandro Medeiros das acusações, por entender
que não estavam presentes os elementos necessários para configuração desse tipo penal.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Insatisfeita com a decisão, a Vale recorreu às
Turmas Recursais em Belém, onde a sentença
de primeiro grau foi confirmada, reconhecendo
que “os atos praticados denotam que o intento
do ato era apenas a manifestação de pensamento, ou seja, de realizar protesto em favor das vítimas da cidade de Mariana/MG”.
Ao final de ambos os processos se confirmou
o óbvio: Evandro Medeiros foi vítima de criminalização promovida pela Vale com respaldo de
determinados agentes do Estado. Os processos
promovidos contra ele são uma demonstração
clara de como o poder econômico da Empresa
influencia os órgãos de investigação e acusação na região Sudeste do Pará, onde crimes cometidos pela Empresa, geralmente não são investigados e raramente existem denúncias das
ilegalidades por ela praticadas. Por outro lado,
manifestações, legitimamente amparadas pela
Constituição, de grupos atingidos por impactos
dos projetos da Empresa, são tipificadas e denunciadas como se fossem práticas criminosas.
A assessoria jurídica da Comissão Pastoral da
Terra e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, que atuam na defesa do Professor, segue com o monitoramento do processo,
inclusive no que diz respeito a eventuais recursos que ainda podem sem protocolados pela
acusação e se preparam para ingressar com pedido de indenização contra a Vale, pelos danos
morais causados à honra e imagem de Evandro.
Marabá, 30 de julho de 2020.
Comissão Pastoral da Terra, Diocese de Marabá
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos - SDDH
Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular - CEPASP
Rede Justiça nos Trilhos – JNT
265
NOTA PÚBLICA – Maldito todo despejo! Despejar famílias não é atividade essencial.
Exigimos Despejo Zero!
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Minas
Gerais vem a público em apoio à luta justa, legítima e necessária do MST, repudiar a continuidade do despejo no Quilombo Campo Grande,
do MST, em Campo do Meio, no sul de Minas
Gerais. Até a madrugada do dia 12 de agosto
de 2020, as famílias esperavam que um raio de
sensatez tocasse a mente das autoridades para
suspender a reintegração de posse no Quilombo
Campo Grande, mas, enquanto o irmão sol voltava a brilhar, o que vimos na cidade no sul de
MG, foi um cortejo de morte com dezenas e dezenas de viaturas, ambulâncias, caminhões do
corpo de bombeiro, com imenso aparato de guerra, com centenas de policiais militares da tropa
de choque, saindo da cidade e rumando para o
Quilombo Campo Grande, do MST, onde há 22
anos, 453 famílias vivem dignamente dando função social para um megalatifúndio de 3.900 hectares que estava totalmente abandonado e ocioso, após a ex-Usina Ariadnópolis falir deixando
mais de 300 milhões de dívida trabalhista.
Uma das primeiras barreiras de resistência que
a tropa de choque encontrou foi um grupo de
crianças Sem Terrinha, do MST, que, de cabeça
erguida e muita coragem, segurando cartazes,
bloqueavam a estrada por onde a tropa de choque deveria passar para fazer o infame despejo.
Uma das cenas mais emocionantes e eloquentes: crianças Sem Terrinha, na luta, resistindo à
investida de um imenso aparato bélico. Diziam:
“Não derrubem nossa escola!” “Não derrubem
nossas casas!”
Pelo conluio do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais (TJMG), Governador Romeu Zema, empresários e deputados do agronegócio – entre
os quais quem se diz católico praticante e frequentador de missa – estão fazendo mais uma
‘sexta-feira da paixão’ em Minas Gerais. Iniciou,
primeiro, despejando crianças e professoras da
Escola Popular Eduardo Galeano e destruindo
a escola. Destruir escola e despejar famílias são
atividades essenciais?
Estarrecidos com a continuidade do despejo
no Quilombo Campo Grande, nesta manhã do
dia 13 de agosto, estamos aqui, como a viúva
do Evangelho que clamava obstinadamente por
justiça, para clamar mais uma vez pela suspensão do despejo. A continuidade do despejo hoje
está extrapolando a área prescrita para ser reintegrada. Quanto o Estado está gastando com
essa operação com diárias em dobro, combustível, helicóptero, bombas etc.? Quantas pessoas
estão sendo infectadas pelo coronavírus neste
despejo em tempo de pandemia? Basta de despejo! Exigimos que o Governador de MG, Romeu
Zema, e/ou o presidente do TJMG, desembargador Gilson Gomes Lemes, suspendam esse despejo absurdo em tempo de pandemia e proíbam
outros despejos durante a pandemia. Despejar
não é atividade essencial. Exigimos Despejo
Zero!
O ministro Edson Fachin, do STF, suspendeu
reintegração de posse do Povo Indígena Xokleng
até o fim da pandemia. O risco de novas reintegrações de posse em meio à pandemia agravaria
a situação dos indígenas, “que podem se ver, repentinamente, aglomerados em beiras de rodovias, desassistidos e sem condições mínimas de
higiene e isolamento para minimizar os riscos de
contágio pelo coronavírus”, escreveu Fachin na
decisão. Eis um passo e o rumo a ser seguido.
Pelo exposto, exigimos do Estado brasileiro (poderes Judiciário, Legislativo e Executivo), DESPEJO ZERO. Durante a pandemia, nem pensar.
Cessem os despejos! Parem de despejar! Isso é o
justo, humano, ético, moral e parte do necessário para salvar vidas.
Um Estado com quase 3 mil mortes de pessoas
infectadas pelo novo Corona vírus, que se anuncia em crise econômica deixando de pagar professores e servidores; que não tem assegurado
renda emergencial e atenção, como deveria, às
famílias de baixa renda por causa da pandemia,
se apresenta para o povo pobre e trabalhador,
com seu braço opressor, despejando e jogando
na rua, derrubando e destruindo casas e escola de mais de 450 famílias camponesas que lutam por vida digna, usando recurso público para
isso. Muito grave e não inaceitável!
Elencamos, abaixo, um DECÁLOGO de fundamentos e propostas sobre providências possíveis, justas e necessárias no âmbito do TJMG,
para a suspensão dos despejos e a garantia de
direitos humanos no período da pandemia. Eis,
abaixo, várias recomendações já determinada
por outros Tribunais:
1 – Declaração de política do ONU-Habitat sobre
a prevenção de despejos e remoções durante a
pandemia da Covid-19;
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
2 – Nota do Relator pelo direito à Moradia adequada da ONU-Habitat “Brasil deve acabar com
os despejos durante a crise do COVID-19” (https://nacoesunidas.org/especialista-da-onu-pede-fim-dos-despejos-no-brasil-durante-a-crise-da-covid-19/ );
3 – Recomendação da Procuradoria Federal dos
Direitos do Cidadão para a suspensão por tempo indeterminado do cumprimento de mandados coletivos de reintegração de posse, despejos
e remoções judiciais ou mesmo extrajudiciais
motivadas por reintegração, entre outros, com o
fim de evitar o agravamento da situação de exposição ao vírus;
4 – Recomendação Conjunta n° 01/2020, da
Rede Nacional de Conselhos de Direitos Humanos, que recomenda, “ao Poder Judiciário, a
suspensão por tempo indeterminado do cumprimento de mandados de reintegração de posse,
despejos e remoções determinadas em processos
judiciais, pois os processos de remoção, além de
gerar deslocamentos de famílias e pessoas que
foram impactadas, também as obrigam a entrar
em situações de maior precariedade e exposição
ao vírus, como compartilhar habitação com outras famílias e, em casos extremos, a morarem
na rua” (item da recomendação 3);
5 – Decreto Judiciário 244/2020-D.M do TJPR
que fundamenta e dispõe sobre a suspensão do
cumprimento dos mandados de reintegração de
posse por invasões coletivas urbanas ou rurais
(art. 5º);
6 – Recomendação Conjunta n° 02 de
03/07/2020 do TJPE sobre o não encaminhamento para cumprimento de mandados de reintegração ou imissão na posse individuais e coletivas durante a pandemia;
7 – Resolução nº 10, de 17 de outubro de 2018,
do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que
dispõe sobre soluções garantidoras de direitos
humanos e medidas preventivas em situações
de conflitos fundiários rurais e urbanos;
8 – Resolução Recomendada nº 87, de 08 de dezembro de 2009, que Recomenda ao Ministério
das Cidades instituir a Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos;
9 – Decreto NE 103, de 01 de julho de 2015, que
instituiu a Mesa de Diálogo e Negociação Permanente com Ocupações Urbanas e Rurais e outros
grupos envolvidos em conflitos socioambientais
e fundiários.
10 – Decisão monocrática proferida pelo ministro Edson Fachin, no RE 1.017.365, que, com
base no artigo 1.035, § 5º, do Código de Processo Civil, determinou a suspensão nacional dos
processos judiciais, notadamente ações possessórias, anulatórias de processos administrativos
de demarcação, bem como os recursos vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos
territoriais dos povos indígenas, modulando o
termo final dessa determinação até a ocorrência
do término da pandemia da COVID-19 ou do julgamento final da Repercussão Geral no Recurso
Extraordinário.
Ressaltamos que houve suspensão das reintegrações de posse e despejos em diversos países em razão da crise pandêmica de covid-19,
dentre eles: Portugal, Espanha, Itália e até os
EUA. Contudo, no Brasil, o Presidente Jair Bolsonaro vetou um dispositivo aprovado na Lei
nº14.010/2020, aprovada pelo Congresso Nacional, que previa a suspensão de tais atos até o
dia 30 de outubro de 2020. O relator da ONU sobre o direito à moradia, Balakrishnan Rajagopal,
criticou o presidente Jair Bolsonaro no último
dia 09 de julho, durante o Conselho de Direitos
Humanos, acusando o brasileiro de não estar
agindo para impedir despejos em meio à pandemia. Não obstante, os diversos atos referidos,
demonstram que o Judiciário detém responsabilidade e competência constitucional para promover os atos necessários para a garantia de
direitos fundamentais, especialmente diante da
situação excepcional.
Esperamos que as recomendações e argumentos, elencados acima, possam subsidiar o TJMG
para a tomada de decisão, de forma a promover a garantia dos direitos das populações em
situação de vulnerabilidade social no contexto
da pandemia e evitar o agravamento da vulnerabilidade pelo despejo e remoção de pessoas,
famílias e comunidades durante a pandemia.
Cessem os despejos para salvar vidas!
Assina esta Nota:
Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG
Belo Horizonte, MG, às 10h00 do dia 13 de
agosto de 2020.
267
NOTA PÚBLICA: CPT denuncia contaminação em massa por Covid-19 das trabalhadoras e trabalhadores do setor agroindustrial
e outros no meio rural
A Diretoria e a Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra – CPT vêm a público
denunciar o aumento exponencial dos casos de
Covid-19 registrados entre trabalhadoras e trabalhadores do setor agroindustrial e de outros
que utilizam mão-de-obra no campo, afetando
também comunidades camponesas e povos tradicionais. Frigoríficos, construtoras e mineradoras, principalmente, têm contribuído para a
interiorização da tragédia sanitária e social que
atinge a população brasileira.
A irresponsabilidade com os protocolos de segurança por parte de empresas desses setores,
aliada às políticas equivocadas em nível nacional, estadual e municipal no combate à pandemia, influenciam determinantemente no aumento das infecções e dos óbitos por todo o país. Daí
resulta que passamos de 104.500 mortos em
decorrência da pandemia do novo coronavírus e
assumimos a vanguarda macabra mundial.
Os conflitos e violências no campo brasileiro
continuam mesmo durante a pandemia. Fazendeiros, grileiros de terra, escravagistas, madeireiros, mineradoras, empresas de energia considerada “limpa” etc. não fazem quarentena! A
situação tem piorado também em consequência
das medidas do Governo Federal que incentivam o uso de agrotóxicos e o desmatamento,
restringem os direitos territoriais e ambientais
e desautorizam as instâncias de fiscalização trabalhista e ambiental. Estas medidas favorecem
a dinâmica predatória da produção de grãos, de
minérios, de madeira e de energia, jogando na
invisibilidade os mais graves crimes contra a
pessoa e contra o meio ambiente. Por conta da
vigilância da sociedade civil organizada e da louvável teimosia de agentes públicos, casos graves
de trabalho escravo continuaram sendo flagrados, por último em Santa Catarina, vitimizando
trabalhadores aliciados no Maranhão e no Ceará, entre outros.
A produção, distribuição, comercialização e entrega de alimentos são atividades consideradas
essenciais, não podendo ser interrompidas durante a pandemia. A necessidade de alimentação da população, no entanto, não veio acom-
panhada dos cuidados com a vida daqueles que
a garantem. Os números mostram que o setor
não se preparou para seguir as orientações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) no enfrentamento da pandemia. Comprovam também
que isso contribuiu para espalhar o vírus em
comunidades e municípios do interior do país
onde atuam. A Portaria Conjunta 19/2020 dos
Ministérios da Agricultura, Saúde e Economia,
que dispõe sobre as normas de prevenção para
a indústria frigorífica, mostrou-se pouco efetiva:
os casos de contaminação não cessam no setor.
A Confederação Brasileira Democrática dos
Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação
(CONTAC) estima que foram infectados pelo menos 200 mil dos aproximadamente 800 mil funcionários e funcionárias do setor. Segundo a entidade, entre 25% e 50% desses trabalhadores e
trabalhadoras foram infectados em decorrência
das atividades nas cadeias produtivas de aves,
suínos e bovinos. Denúncias vêm sendo feitas
desde junho, sem resultar em medidas de prevenção à altura da gravidade do problema.
Até 07 de julho, o Ministério Público do Trabalho
(MPT) tinha aberto processos na Justiça para interdição de 11 frigoríficos em seis estados, após
as denúncias de contaminação de funcionários.
Seis deles chegaram a ser fechados, depois reabertos, mediante Termos de Ajustamento de
Conduta - TACs.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu
213 investigações em 22 estados para apurar
denúncias neste setor, após o surto da contaminação entre funcionários. Destas, o Rio Grande do Sul concentra o maior número de investigações em frigoríficos: em 23 municípios do
estado, empresas apresentaram trabalhadores
infectados, desde o início da pandemia. A JBS,
maior empresa do ramo e também a de maior
contaminação, veio a agir paliativamente, depois
de intervenções do MPT, e desencadeou intensa
propaganda de suas ações. Em Passo Fundo RS, entre 400 empregados testados, 180 tinham
a doença; mesma situação em outras duas unidades neste estado. Em Goiás, foram em torno
de 700 contaminados na unidade de Rio Ver-
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
de. Em todo o município, um ícone do agronegócio, somam 9.751 casos, com 140 óbitos, até
06/08/2020. Em Rondônia, 60% dos casos de
Covid-19 em São Miguel do Guaporé são de funcionários da JBS; entre eles, dois quilombolas,
que levaram a doença para sua comunidade.
A infecção comunitária é um problema em vários
Estados, e vem se agravando principalmente em
pequenas comunidades e nos povos originários
e tradicionais. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) afirma que até o dia 13 de
agosto foram registrados 667 óbitos entre os 146
povos afetados. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), foram registrados
até 12 de agosto 152 óbitos de quilombolas em
15 estados.
As comunidades do campo têm sido contaminadas também pela atuação do setor da construção
civil. Na Bahia, trabalhadores foram contaminados em canteiros de obras da Andrade Gutierrez,
que ali constrói linhas de transmissão de energia: 34 em Nova Holanda, no município de Pilão Arcado, e 28 em Angico, município de Campo Alegre de Lourdes; neste, o alojamento dos
trabalhadores contaminados foi incendiado por
moradores. Empresas construtoras de parques
eólicos são focos principais de contaminação dos
mais de 100 casos ocorridos em Pindaí e Palmas
de Monte Alto, também na Bahia. Em Minas Gerais, trabalhadores da empreiteira Cobra Brasil,
em Jaboticatubas, a 60 km de Belo Horizonte,
estavam contaminados. A empresa que pertencente ao Consórcio Mantiqueira Transmissora
de Energia S/A, do grupo Brookfield, instala linhas de transmissão por vários municípios do
estado, inclusive o Vale das Cancelas, distrito de
Grão Mogol, no norte do estado, local em que os
direitos territoriais tradicionais da comunidade
geraizeira não estão sendo respeitados.
Na mineração, o quadro não é diferente. Números oficiais falam em 20.362 casos confirmados
e 152 mortes por Covid-19 em Parauapebas PA até 05/08/2020, números superiores aos de
muitas capitais. A cidade, que se formou e cresceu em função da mineradora Vale, enfrenta um
colapso no sistema de saúde que torna ainda
pior o quadro. A Vale, uma das três maiores mineradoras do mundo, campeã de doações para
combate à Covid-19 no Brasil, em competentes
ações de marketing, não dispõe de outra forma
de apoio aos municípios que perderam valores
da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais – CFEM. Num protesto de
rua, em maio, na cidade de Brumadinho – MG,
local da tragédia criminosa do rompimento da
barragem de rejeitos da empresa, em janeiro de
2019, que levou à morte 259 moradores e 11 desaparecidos, dizia-se: “A covid-19 mata e Vale
também, lutem contra esses males”. No final
daquele mês, o complexo minerador da Vale em
Itabira - MG, a 105 km de Belo Horizonte, foi
interditado após fiscais do trabalho terem identificado 200 trabalhadores infectados – 10% do
total de funcionários que atuam na empresa.
Constatamos também que os impactos e efeitos
da Covid-19 têm diferenças de classe, de etnia e
de modos de vida. A forma com que o vírus vem
se espalhando na sociedade brasileira evidencia
os problemas estruturais oriundos da exploração secular do capitalismo agrário, neocolonial,
agroindustrial, financeiro.
Diante disso, a CPT vem alertar a sociedade
brasileira para a gravidade dessa situação que
atinge trabalhadores, trabalhadoras e as comunidades onde vivem, isso consequência da irresponsabilidade das empresas e omissão ou conivência das autoridades.
Para a CPT essa situação alarmante deve ser denunciada aos órgãos nacionais e internacionais
de Direitos Humanos. Juntamo-nos às denúncias em curso no âmbito nacional e internacional
sobre o assunto e, de modo especial, saudamos
a postura corajosa e profética da Carta ao Povo
de Deus assinada por 152 bispos da Igreja Católica, divulgada no dia 26/07/2020 e apoiada por
1.543 sacerdotes em 05/08/2020. A carta afirma que o Brasil atravessa um dos períodos mais
difíceis de sua história, fruto da “combinação de
uma crise de saúde sem precedentes, com um
avassalador colapso da economia e com a tensão
que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente
da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.” Completam os bispos que “não cabe
omissão, inércia e nem conivência diante dos
desmandos do Governo Federal”.
No momento atual, até por razões humanitárias, os esforços do Estado, das empresas e de
toda a sociedade devem priorizar a solidariedade concreta com os cidadãos e cidadãs, famílias,
comunidades e povos em situação de vulnerabilidade social, alimentar e sanitária. Ao cabo,
porém, impõe-se inexorável a questão: até quando nossa sociedade vai suportar a tragédia em
andamento sem agir à altura exigida para uma
mudança real?
Goiânia, 13 de agosto de 2020.
Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da
CPT.
269
NOTA PÚBLICA — CPT apoia a aprovação do
FUNDEB com o CAQ
A CPT – Comissão Pastoral da Terra, por meio
de sua Diretoria e Coordenação Nacional Executiva, junta-se à Campanha Nacional pelo Direito
à Educação pela aprovação integral, no Senado
Federal, do relatório do senador Flávio Arns à
PEC – Propostas de Emenda Constitucional no
26/2020, que estabelece o novo FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação e constitucionaliza o CAQ – Custo
Aluno-Qualidade, mecanismo que obriga o Estado a garantir os insumos necessários para uma
educação pública universal de qualidade.
Trata-se de uma chance histórica, mais que
oportuna, de materializar, entre outros, dois dos
princípios fundamentais da educação nacional
previstos na Constituição Federal de 1988, Art.
206: “I – igualdade de condições para o acesso e
permanência na
escola” e “ VII – garantia de padrão de qualidade”. E um obstáculo decisivo às investidas de
precarização e privatização de serviços públicos
essenciais, como a educação, ameaçada de ter
menos recursos que gastos militares em 2021.
Escolas rurais que precisam ser reabertas e requalificadas e iniciativas de Educação do Campo precisam urgentemente ter do Estado, em todos os níveis, a atenção que merecem, em vista
de uma vida digna no campo, que promova a
agricultura familiar e camponesa, a produção
alimentar agroecológica e a proteção dos bens
naturais, do que todos e todas dependemos cada
vez mais.
Goiânia, 19 de agosto de 2020.
Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da
CPT.
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
NOTA DE SOLIDARIEDADE
A Comissão Pastoral da Terra do Baixo Amazonas se solidariza com os povos indígenas Sateré-Mawé da Terra Indígena Andirá Marau, do
município de Maués, com os tuxauas e demais
lideranças indígenas que fiscalizam a entrada de
pessoas não indígena nas suas terras. No dia 1º
de agosto de 2020, por ocasião de uma assembleia dos povos indígenas na área, foram surpreendidos pela presença de um destacamento da
Polícia Militar do Estado do Amazonas altamente armado – com fuzil, metralhadora, armas pesadas – justificando que estavam ali para averiguar denúncia de abuso de autoridade e uso de
arma de fogo na Barreira Sanitária que existe na
entrada da Terra Indígena do povo Sateré-Mawé,
criada para proteger os indígenas da Pandemia
do Covid 19.
Segundo o subtenente responsável pela operação, estavam ali para averiguar as referidas denúncias. Em resposta, as lideranças indígenas
disseram que não havia necessidade de todo
esse aparato policial e armamento de alto calibre
como se fossem para um combate contra “marginas”. As denúncias não procedem, “nós povos
indígenas da Terra Indígena Andirá Marau, queremos que as autoridades cuidem e protejam
o nosso povo com honestidade, com justiça, com
respeito. É isso, que nós indígenas Sateré-Mawé
queremos. Aqui não tem irregularidade e nem
abuso de poder e exigimos que as autoridades
competentes investiguem essa ação policial que
houve na Terra Indígena Andirá Marau e venha
em nossa área ouvir o nosso povo”.
A CPT do Baixo Amazonas esteve na região e
pede apoio das autoridades, do Ministério Publico Federal e da impressa para que garantam a
manutenção da Barreira Sanitária na sua terra
para proteger os indígenas do Covid 19, da entrada de drogas e cachaça na área indígena.
Nós, da Comissão Pastoral da Terra do Baixo
Amazonas, nos solidarizamos com as lideranças
indígenas que estão na linha de frente em defesa do povo indígena Sateré- Mawé e pedimos
apoio das autoridades e da impressa nessa luta
pela existência desse povo no seu território de
origem.
Parintins (AM), 04 de setembro de 2020.
Comissão Pastoral da Terra do Baixo Amazonas
271
Entidades exigem ações concretas contra
violação de direitos humanos de indígenas
e comunidades tradicionais na região do rio
abacaxis
As entidades que abaixo-assinam o presente documento, preocupadas com a falta de garantias
constitucionais, como as torturas e os assassinatos, de ribeirinhos e indígenas, entre os rios
Abacaxis e Marimari, nos municípios de Borba
e Nova Olinda no Norte (AM), bem como com a
falta de segurança em geral, e ante o posicionamento da Secretaria de Segurança Pública do
Amazonas, manifestam que continuarão denunciando o atual estado de violência instaurado
na região dos conflitos junto às instâncias nacionais e internacionais de defesa dos Direitos
Humanos.
Em clima crescente de abusos realizados por policiais durante a ocupação da região onde ocorreram os assassinatos dos policiais militares, as
entidades destacam a importância de que tais
ações respeitem os direitos individuais e coletivos das comunidades ribeirinhas e indígenas.
Nesta semana, com base na matéria divulgada
à sociedade, o governo do Amazonas, por meio
da Secretaria de Segurança Pública, informou
que a Polícia Civil indiciou nove pessoas supostamente envolvidas na morte dos policiais militares. Estes fatos devem ser elucidados ante as
autoridades competentes, e em processos judiciais determinados pela existência de um Estado
de Direito, pelo que exigimos sejam respeitados
todos os direitos processuais já reconhecidos no
ordenamento jurídico brasileiro.
Contudo, na ação policial, violências foram cometidas. Conforme relato de moradores de diversas comunidades Maraguá, Munduruku e
ribeirinhas da região, casas foram invadidas
sem autorização judicial, ameaças de mortes
foram feitas, torturas foram praticadas, corpos
de pessoas apareceram boiando no rio com pedras amarradas nos pês e com marcas de tortura, crianças e outros inocentes foram feridos e
a fome se instaurou com a impossibilidade dos
moradores buscarem alimentos nas roças e nos
rios.
Sobre essas violências, a Secretaria de Seguran-
ça Pública e o Governo do Estado do Amazonas
não demonstram qualquer disposição para investigar e também não oferecem qualquer garantia de que trarão ao público a verdade, tendo
em vista que as denúncias atingem inclusive o
Secretário de Segurança e o Comandante Geral
da Polícia Militar, que ainda permanecem nos
cargos de chefia.
Com a violação dos direitos e garantias fundamentais previstos na legislação nacional e internacional, utilizada como meio de apuração e responsabilização de investigados de crimes, não
se faz justiça. Ao contrário, permite que ações
policiais se transformem em inaceitáveis atos de
vingança e injustiça.
Nós, representantes das entidades queremos
que os responsáveis pelos assassinatos dos policiais militares sejam punidos, com aplicação
da legislação penal brasileira. Todos os crimes
devem ser elucidados. Portanto, também EXIGIMOS DAS AUTORIDADES A APURAÇÃO E
PUNIÇÃO DOS MANDANTES E EXECUTORES
DE RIBEIRINHOS E INDÍGENA MORTOS. Bem
como a APURAÇÃO DAS TORTURAS E TODOS
OS OUTROS CRIMES COMETIDOS.
Destacamos a relevante ação do Ministério Público Federal, desde o início do conflito, que tem
trabalhado com empenho pela proteção e garantia dos direitos fundamentais das comunidades
Munduruku, Maraguá e ribeirinhas. Sem essa
atuação, os habitantes da região seguiriam invisibilizados à sombra do confronto, e a tragédia
do Abacaxis seria ainda maior. Nesse sentido,
repudiamos os ataques que vêm sendo direcionados ao MPF, numa tentativa de intimidação
do seu papel nas investigações em curso.
Apoiamos a atuação dos/as Procuradores/as,
Promotores/as, Defensores/as, Policiais que
atuam na apuração de mais este caso de extrema violência policial no Amazonas e pedimos
que NÃO recuem frente a uma parte apodrecida e doente de agentes públicos. NÃO recuem
diante de parcela cruel da polícia que assassina
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
e tortura. NÃO recuem diante desse estado de
exceção que se instaurou no Estado do Amazonas e se acoberta por trás do discurso de criminalização dos mais vulneráveis socialmente para
justificar suas atrocidades.
Por fim, exigimos a imediata exoneração do
Secretário de Segurança Pública do Estado do
Amazonas e do Comandante Geral da Polícia Militar do Amazonas, para garantir que as investigações cheguem aos reais autores das atrocidades praticadas e aos seus mandantes.
Manaus, 25 de setembro de 2020.
1. Arquidiocese de Manaus
2. Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio
Negro Residentes em Manaus -AMARN
15. Comissão Pastoral da Terra Regional Roraima
16. Comitê Estadual de Direito à Verdade, à Memória e à Justiça do Amazonas.
17. Conselho do Laicato da Prelazia de Itacoatiara
18. Conselho Indigenista Missionário - CIMI Regional Norte I
19. Conselho Nacional das Populações Extrativistas - CNS
20. Frente Amazônica de Mobilização em Defesa
dos Direitos Indígenas - FAMDDI
21. Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas - FOREEIA
3. Associação dos Docentes da UFAM - ADUA
22. Grupo de Pesquisa Dabukuri Planejamento
e Gestão do Território na Amazônia
4. Casa da Cultura do Urubuí - CACUI
23. Jubileu Sul Brasil
5. Central Sindical Popular - CSP CONLUTAS
Nacional
24. Mandato Popular do Deputado Federal José
Ricardo
6. Central CSP - Conlutas AM
25. Movimento dos Trabalhadores Cristãos
7. Centro Burnier Fé e Justiça - Cuiabá/ MT
26. Movimento Mulheres em Luta - AM
8. Centro de Promoção de Agentes de Transformação - CEPAT - Curitiba/ PR
27. Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental - SARES
9. Coletivo Mulheres da Educação
28. Sindicato dos Advogados do estado de São
Paulo - SASP
10. Comissão de Defesa dos Direitos Humanos
de Parintins.
11. Comissão Pastoral da Terra Arquidiocesana
de Manaus
12. Comissão Pastoral da Terra - Prelazia de Itacoatiara
13. Comissão Pastoral da Terra Regional Acre
14. Comissão Pastoral da Terra Regional Amazonas
29. Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do
Petróleo PA/AM/MA/AP - SINDIPETRO
30. Pastorais Sociais da Arquidiocese de Santarém
31. Prelazia Apostólica de Borba
32. União dos Povos Indígenas do Vale do Javari
- UNIVAJA
33. Sindicato dos Sociólogos do Amazonas
273
NOTA PÚBLICA - Não à violência e à criminalização da luta pela terra!
No último dia 02 de outubro de 2020, lamentavelmente, dois policiais da Polícia Militar de
Rondônia perderam suas vidas no distrito de
Mutum Paraná, localizado a 160 quilômetros de
Porto Velho (RO), próximo a área do Acampamento Tiago dos Santos, vinculado a Liga dos
Camponeses Pobres (LCP). A Comissão Pastoral
da Terra Regional Rondônia (CPT-RO) se solidariza com os familiares dos dois policiais neste
momento de dor. Ao mesmo tempo, salienta que
não concorda com qualquer tipo de violência
e espera o esclarecimento dos fatos e a devida
identificação dos responsáveis.
O Acampamento Tiago dos Santos, segundo informações veiculadas pela LCP, é constituído por
mais de 2 mil pessoas, entre homens, mulheres
e crianças, que lutam por uma porção da terra pública, de mais de 57 mil hectares, grilada
pelo latifundiário Antônio Martins dos Santos,
também conhecido como “Galo Velho”, preso em
julho de 2020, na operação “Amicus Regem”, realizada pela Polícia Federal. Ele era o chefe da
organização criminosa especializada em grilagem e superfaturamento de terras, que atuou
em Rondônia, entre 2011 e 2015, e contava com
a participação de empresários, advogados e servidores públicos, inclusive no judiciário federal.
Tornou-se o maior grileiro de terras do Estado,
com área de 1 milhão de hectares em latifúndios
mantidos nos municípios de Cujubim, Machadinho D’Oeste, Alto Paraíso e Porto Velho.
A CPT-RO vem denunciando, desde 2005, as
ações deste grileiro e a conivência e a impunidade do judiciário. Para nós o crime de grilagem
de terras merece a devida apuração, seguida do
retorno destas terras ao Estado para que este
cumpra o seu dever legal de tutela sobre o patrimônio público. Dever que é também destiná-las
à Reforma Agrária (art. 188 da CF/1988), demarcação das terras indígenas (art. 231 da CF1988)
e titulação das terras de comunidades remanescentes de quilombos (artigo 68 da ADTC).
Advindas de imprensa reacionária e de organizações ligadas a Polícia Militar, acusações, não
confirmadas, de que integrantes do acampamento ligado a LCP estavam entre os responsáveis pelas mortes dos PMs. Por meio de notas
de repúdio, matérias e áudios em redes sociais,
esses meios de comunicação escancaram seu
objetivo: criminalizar a luta pela terra, estigmatizando como terroristas e criminosos movimentos sociais e defensores dos Direitos Humanos.
O que se espera é que esse triste acontecimento
não fomente o equívoco de igualar essas ações
criminosas às ações legítimas dos movimentos
sociais de luta pela terra.
Diante da gravidade da situação, o momento é
de extrema e necessária cautela, uma vez que os
conflitos agrários no campo brasileiro e rondoniense não cessaram, mesmo durante a quarentena imposta pela pandemia da Covid-19, com
contágios e mortes que não cessam. Camponeses, indígenas e demais povos da floresta continuam sendo perseguidos e mortos. Uma situação que pode tomar proporções ainda maiores,
se alimentada por uma “sede de vingança”, que
nada mais é do que o ódio dominante histórico
e atual da sociedade brasileira, neocapitalista
dominada pela necropolítica, difundida a partir
do Palácio do Planalto. Rondônia não pode ser,
mais uma vez, palco de um massacre vergonhoso, como há 25 anos, em Corumbiara, numa
reintegração de posse pela PM que resultou na
morte de 12 sem-terra e muitos desaparecimentos.
Para evitar que outro massacre aconteça, impõe-se uma ágil apuração dos fatos e identificação dos autores dos crimes contra os PMs, para
que sejam julgados e recebam a penalização cabível conforme a lei. Tal apuração, no entanto,
deve ser feita de forma imparcial, sendo esse um
trabalho da Polícia Civil, com atenção aos protocolos de respeito aos direitos humanos, ouvindo todos os implicados. Só assim teremos uma
apuração justa, com a individualização das condutas responsáveis, que não podem recair sobre
o coletivo ou movimento social.
Dos anos 2000 a 2020, a CPT registrou 107 vítimas camponesas assassinadas em conflitos no
campo em Rondônia. Tais casos também merecem a devida apuração e identificação, julgamento e punição de seus autores.
Mesmo não tendo a CPT-RO agentes pastorais
atuantes na área onde o fato ocorreu, nós nos
colocamos em sintonia com a Igreja Local, em
busca de soluções pacíficas e eficazes para que
possamos trilhar os caminhos da justiça social
no campo.
Porto Velho, 07 de outubro de 2020.
Comissão Pastoral da Terra - Regional Rondônia
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Siglas dos Movimentos Sociais,
Organizações e Entidades (2020)
*Utilizamos as letras iniciais nas identificações
cujos nomes são apresentados por extenso.
Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA)
Alternativa para a Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO)
Articulação Estadual de Fundo de Pasto (AEFP)
Articulação Nacional das Mulheres Pescadoras
(ANP)
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)
Articulação Pop. pela Revitalização da Bacia do
São Francisco (APRBSF*)
Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA)
Articulação Vazanteiros em Movimento
Articulação do Semi-Árido* (ASA*)
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
(Apoinme)
Associação Brasileira dos Advogados do Povo
(Abrapo)
Associação Quilombola de São Sebastião de Burajuba
Associação Renovadora do Quilombo Mesquita
(Arenquim)
Associação das Comunidades Remanescentes de
Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO)
Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR)
Associação de Moradores e Produtores Rurais e
Agroextrativistas de Vila Brasil
Associação de Pescadores (AP*)
Associação de Sem Terra (AST*)
Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (CAINQUIAMA)
Associação dos Moradores Agroextrativistas da
Resex Guariba-Roosevelt, rio Guariba (AMORRAR)
Associação dos Trabalhadores Rurais (ATR)
Central das Associações de Fundo de Pasto
(COMTRAFP)
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil (CTB)
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
(Cebraspo)
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (Cebi)
Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH)
Centro de Migrações e Direitos Humanos (CMDH)
Centro de Trabalho Indigenista (CTI)
Comissão Nacional para o Fortalecimento das
Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas
Costeiros Marinhos (Confrem)
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Comitê Popular do Rio Paraguai
Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco
(CBHSF)
Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais
do Pampa
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Contag)
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB)
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (Cita)
Conselho Indígena de Roraima (CIR)
Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)
Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)
Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO)
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq)
Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas)
Coordenação das Associações das Comunidades
Remanescentes de Quilombo do Pará (Malungu)
Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (COIAB)
Cáritas Brasileira
Diocese
Federação dos Trabalhadores (as) Rurais Empregados Assalariados de Goiás (Fetaer-GO)
275
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura Familiar (Fetraf)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado do Rio de Janeiro (Fetag/RJ)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado do Maranhão (Fetaema)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado do Pará/Amapá (Fetagri/PA)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura do Estado do Piauí (Fetag/PI)
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura (Fetagri)
Federeção de Órgãos para Assistência Social e
Educacional (Fase)
Frente Brasil Popular (FBP)
Frente Nacional de Luta (FNL)
Geraizeiros
Greenpeace
Indígenas
Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ)
Instituto Socioambiental (ISA)
Liga dos Camponeses Pobres (LCP)
Marisqueiras
Movimento Aquilombar
Movimento Camponês Popular (MCP)
Movimento Camponês de Corumbiara (MCC)
Movimento Camponês de Rondônia (MCR)
Movimento Interestadual das Quebradeiras de
Côco Babaçu (MIQCB)
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP)
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL)
Movimento Unidos pela Terra (MUT)
Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST)
Movimento de Luta pela Terra (MLT)
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)
Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Alcântara (Momtra)
Movimento de Resistência Camponesa (MRC)
Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores
por Direitos (MTD)
Movimento dos Atingidos pela Base Espacial
(MABE)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST)
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
Movimento dos Trabalhadores do Campo (MTC)
Operação Amazônia Nativa (Opan)
Organização Independente (OI)
Organização Não Governamental (ONG)
Paróquias
Pastoral da Criança (Past da Criança)
Pastoral da Juventude Rural (PJR)
Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP)
Pescadores (Pescadores)
Quilombolas (Quilombolas)
Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras
Sem informação (SI)
Serviço Pastoral do Migrante (SPM)
Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino
do Rio de Janeiro (SEPE)
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait)
Sindicato da Agricultura Familiar (Sintraf)
Sindicato dos Servidores Públicos Federais da
Educação Básica e Profissional no Estado de
Alagoas (Sintietfal)
Sindicato dos Servidores Públicos Federais no
Estado de Rondônia (Sindsef-RO)
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais (STTR)
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém
(STTR)
Terra Livre (Terra Livre)
Terra de Direitos (TD*)
União das Associações de Fundo de Pasto
(UNASFP)
Via campesina
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
Fontes de Pesquisa
*Declaração e Informes dos 21 Regionais da CPT
*Depoimentos pessoais de camponeses/as e trabalhadores/as rurais assalariados
CPTs
Comissão Pastoral da Terra - AC
Comissão Pastoral da Terra - AL
Comissão Pastoral da Terra - AM
Comissão Pastoral da Terra - AP
Comissão Pastoral da Terra - AR/TO
Comissão Pastoral da Terra - BA
Comissão Pastoral da Terra - ES/RJ
Comissão Pastoral da Terra - GO
Comissão Pastoral da Terra - MA
Comissão Pastoral da Terra - MG
Comissão Pastoral da Terra - MS
Comissão Pastoral da Terra - MT
Comissão Pastoral da Terra - NE2
Comissão Pastoral da Terra - PA
Comissão Pastoral da Terra - PB
Comissão Pastoral da Terra - PE
Comissão Pastoral da Terra - PI
Comissão Pastoral da Terra - PR
Comissão Pastoral da Terra - RO
Comissão Pastoral da Terra - RR
Comissão Pastoral da Terra - RS
Comissão Pastoral da Terra - Secretaria Nacional - Goiânia - GO
Campanha Nacional de Prevenção e Combate ao
Trabalho Escravo
Igrejas
Cáritas Brasileira
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (Cebi)
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB)
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)
Dioceses
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
Koinonia
Paróquias
Pastoral da Criança (Past da Criança)
Pastoral da Juventude Rural (PJR)
Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP)
Serviço Pastoral do Migrante (SPM)
ONGs
Ecoa - Ecologia e Ação
Greenpeace
Justiça nos Trilhos
Repórter Brasil
Terra de Direitos
Outras Fontes
350.org
A Crítica de Campo Grande - MS - acritica.net
A Gazeta News - Amambai - MS - agazetanews.
com.br
A Verdade - averdade.org.br
A8 Sergipe - a8se.com
AC24horas -Notícias do Acre - ac24horas.com
Alagos Web - alagoasweb.com
Alma Preta - almapreta.com
Amazonas Atual - amazonasatual.com.br
Amazônia Notícia e Informação - amazonia.org.
br
Amazônia Real - amazoniareal.com.br
Amigos da Terra Brasil - amigosdaterrabrasil.
org.br
Bahia Notícias - bahianoticias.com.br
Boletim de Ocorrência Policial
BR104 - br104.com.br
Brasil 247 - brasil247.com
Brasil de Fato - São Paulo-SP - brasildefato.com.
br
277
Câmara dos Deputados
Campo Grande News - MS - campograndenews.
com.br
Campos 24Horas - Jornal Online - campos24horas.com.br
Carta Capital - cartacapital.com.br
Casa Ninja Amazônia - casaninjaamazonia.org
CBN - cbn.globoradio.globo.com
Cebraspo - Centro Brasileiro de Solidariedade
aos Povos
Cedefes-Centro de Documentação Eloy Ferreira
da Silva
Central Única dos Trabalhadores - cut.org.br
Centro de Ação Cultural (CENTRAC)
CGN - O Maior Portal de Notícias de Cascavel e
do Paraná - cgn.inf.br
CIR - Conselho Indígena de Roraima - cir.org.br
Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada - ciranda.net
Clic RBS - clicrbs.com.br
Clima Info - climainfo.org.br
CN - Cáceres Notícias - caceresnoticias.com.br
CNDH-Conselho Nacional dos Direitos Humanos
Coiab - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
Combate Racismo Ambiental - racismoambiental.net.br
Comissão Pró-Índio de São Paulo - cpisp.org.br
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
Compre Rural - Portal de Conteúdo Rural - comprerural.com
CONAQ - Coord. Nac. das Com. Negras Rurais
Quilombolas
Confirma Notícia - confirmanoticia.com.br
Conselho do Povo Parakanã
Conselho Estadual de Direitos Humanos de
Rondônia (CEDH/RO)
Contag - Confederação Nac. dos Trabalhadores
na Agricultura
Contraf Brasil - Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil - contrafbrasil.org.br
Correio - O Portal de Carajás - correiodecarajas.
com.br
Correio Braziliense - Brasília -DF - correiobraziliense.com.br
Correio de Notícia - correiodenoticia.com.br
Correio do Estado - Campo Grande - MS - correiodoestado.com.br
Correio do Povo - Porto Alegre - RS - correiodopovo.com.br
CTB - Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - ctb.org.br
D24am - d24am.com
De Olho nos Ruralistas - deolhonosruralistas.
com.br
Defensoria Pública
Delegacia de Polícia
Desacato - A Outra Informação - desacato.info
Dia a Dia do Vale - diaadiadovale.com.br
Diário Causa Operária - causaoperaria.org.br
Diário da Amazônia - Porto Velho -RO - diariodaamazonia.com.br
Diário da Justiça
Diário da Manhã - Goiânia - GO - dm.jor.br
Diário de Goiás - diariodegoias.com.br
Diário de Pernambuco - Recife -PE - diariodepernambuco.com.br
Diário do Nordeste - Fortaleza - CE - diariodonordeste.verdesmares.com.br
Diário do Rio.Com - diariodorio.com
Diário do Vale - Rio de Janeiro-RJ
Diário Popular - São Paulo - SP - diariopopulardesp.com.br
Documentos Gerais
DOL - Diário Online - diarioonline.com.br
Dom Total - domtotal.com
Dourados Agora - douradosagora.com.br
Dourados News - Dourados - MS
DPU - Defensoria Pública da União
DW Brasil - dw.com
É Assim - eassim.com.br
Ecoamazônia - ecoamazonia.org.br
EcoDebate - ecodebate.com.br
El Pais - O Jornal Global - brasil.elpais.com
Em Tempo - O Portal de Conteúdo do Amazonas
- d.emtempo.com.br
Estadão -SP - estadao.com.br
Estradas - O Portal de Rodovias do Brasil - estradas.com.br
Executivo Estadual
Executivo Federal
Executivo Municipal
Conflitos
no
Campo Brasil
2020
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Extra Online - extra.globo.com
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