APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO DE PAISAGISMO
NOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO
DA REGIÃO SUL DO BRASIL
NOTES ON LANDSCAPE ARCHITECTURE EDUCATION IN ARCHITECTURE AND
URBAN PLANNING COURSES IN THE SOUTHERN REGION OF BRAZIL
Alessandro Filla Rosaneli*
RESUMO
Este texto faz uma reflexão acerca do ensino de paisagismo nos cursos de arquitetura e
urbanismo a partir da análise quantitativa de um conjunto de informações recolhidas sobre os
cursos da Região Sul do Brasil. As variáveis selecionadas – quantidade e título das disciplinas,
carga horária, período de oferta, ementa e bibliografia básica – representam a essência de
qualquer disciplina e permitiram compreender o panorama de aprendizado na maioria dos
cursos então autorizados. Ao expor aspectos comuns e especificidades encontradas na região
em dois eixos de análise – conteúdos propostos e característica da oferta –, este artigo promove
indagações sobre os desafios do ensino de paisagismo no Brasil.
Palavras-chave: Ensino Superior. Paisagismo. Região Sul. Brasil.
ABSTRACT
This paper is about Landscape Architecture education in Architecture and Urbanism courses from a
quantitative analysis of a set of information collected on courses in Southern Brazil. The selected variables number and title of disciplines, discipline load, offer period; summary and basic bibliography - representing
the essence of any discipline, allowed us to understand the scenery of this learning in most so authorized
courses. Thus, by exposing the common aspects and specificities found in the region in two analytical
axes - proposed content and offer features - this text promotes inquiries about the challenges of Landscape
Architecture education in Brazil today.
Keywords: Higher Education. Landscape architecture. Southern Brasil.
1 INTRODUÇ ÃO
Este trabalho procura contribuir para a reflexão a respeito do ensino de paisagismo
nos cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil – observando aqueles ofertados na
Região Sul do país, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – a
*
Arquiteto e urbanista, mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Pós-doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-graduação
em Geografia e do Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano da UFPR. Diretor de
Relações Institucionais da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP-PR). Conselheiro
do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR). Universidade Federal do Paraná.
Centro Politécnico. Setor de Tecnologia. Av. Cel. Francisco Heráclito dos Santos, 100, Jardim das
Américas, 81530-990, Curitiba, Paraná, Brasil.
alefilla@yahoo.com
HTTP://DX.DOI.ORG/10.11606/ISSN.2359-5361.V0I35P199-219
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
199
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
partir da análise quantitativa de um conjunto de informações recolhidas junto a estes
cursos e disponibilizadas pelo Ministério da Educação. Em virtude de acontecimentos
nos últimos anos, como a fundação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e
os debates acirrados, advindos do revigoramento da antiga discussão sobre a prática
profissional do paisagismo, já no Congresso Nacional, compreende-se que os dados
aqui reunidos oferecem elementos que contribuem para iluminar esse panorama, ainda
que limitado pelos recortes da pesquisa e do contexto geográfico.
O ensino de arquitetura e urbanismo na Região Sul do Brasil tem um legado de
quase setenta anos, mas, por várias décadas, poucas salas de aula abrigaram as primeiras práticas de ensino neste campo do conhecimento, porém, no último decênio,
essa qualificação tem se espalhado vigorosamente por diversos municípios sulinos,
ancorada nas normas e diretrizes federais. Mesmo com suporte legal, cada curso tem
se estabelecido com características peculiares – conteúdo curricular, carga horária mínima, perfil desejado para o futuro profissional – que permitem indagar como o ensino
de paisagismo tem sido ministrado.
As linhas iniciais deste artigo recuperam, brevemente, esse itinerário de ensino, apresentando dados sobre o processo de fundação de cursos de arquitetura e urbanismo
nos Estados analisados, contrastando-o com a situação encontrada no momento do
estudo, contextualizada com base em algumas características gerais de cada Estado.
Após a exposição dos procedimentos metodológicos que explicam a composição da
amostra analisada, fazem-se considerações sobre os aspectos comuns e as especificidades encontradas nos cursos a partir de dois eixos – conteúdos propostos e característica
da oferta. Ao final, pondera-se a respeito das limitações e dos desafios encontrados à
luz da oportunidade do ensino de paisagismo nos cursos de arquitetura e urbanismo.
2 SUCINTA CONTE X TUALIZ AÇ ÃO
Na porção meridional do Brasil, os primeiros movimentos para instituir o ensino de
arquitetura datam de meados do século XX. O primeiro curso de arquitetura foi instituído oficialmente em 1952 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Uma década depois, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), fundou-se o primeiro
curso deste Estado. Fato a destacar é que ambos os cursos tiveram em sua gênese a
contribuição das respectivas escolas de engenharia – já plenamente ativas e sensíveis
para os conteúdos específicos a serem ministrados em uma escola de arquitetura.
Nos anos 1970, seguiram-se outras iniciativas, com inédita presença em cidades
do interior, como na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Nas capitais, registram-se cursos na Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e
no Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), que, em conjunto com outros dois
cursos nos arredores da capital gaúcha, completaram a trajetória ímpar desse Estado
sulino: fundam-se os cursos na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em
São Leopoldo, e na atual Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em Canoas. De
200
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
fato, mesmo com o único curso fundado na década de 1980, no Estado do Paraná, e
com o generalizado fôlego fundacional durante os anos 1990 – quando se criam mais
escolas do que existiam até então – na virada do século, o Estado do Rio Grande do
Sul possuía mais cursos em andamento em relação aos outros dois Estados somados e,
ainda no final dos anos 2000, concentrava a maior quantidade de cursos de arquitetura
e urbanismo na região. Tal situação se modificaria completamente durante a presente
década, na qual o Estado de Santa Catarina experimentaria um fenômeno impetuoso:
em pouco tempo, fundam-se mais cursos que em toda a sua história e exatamente a
mesma quantidade de cursos que os outros dois Estados somados, passando a ter a
maior quantidade de cursos de arquitetura e urbanismo na Região Sul do Brasil.
Nos Estados da região estudada, de forma idêntica ao que vem ocorrendo no país
(MARAGNO, 2012), verificou-se gradativo incremento dos cursos de arquitetura e urbanismo – especialmente dos ofertados pela iniciativa privada – a partir do princípio do
novo século e, sobretudo, nesta segunda década, quando 89 cursos estão aprovados
por órgãos oficiais e quase todos em plena atividade. O gráfico 1 resume esse processo
a partir de dados disponíveis para 84 cursos.
*UiÀFR Processo de fundação de cursos de arquitetura e urbanismo na Região Sul do Brasil.
Fonte: Portal do Ministério da Educação (e-MEC)
As informações do portal do Ministério da Educação1 (e-MEC) permitem considerar
que o Estado do Paraná possuía 29 cursos de arquitetura e urbanismo aprovados em
14 municípios, para 24 Instituições de Ensino Superior (IES); no Estado de Santa Catarina, 31 cursos em 22 municípios, para 26 IES; no Estado do Rio Grande do Sul, 29
cursos em 19 municípios, para 23 IES. Do total de cursos autorizados para a Região
Sul do Brasil, 15,7% estão enquadrados atualmente em IES públicas e 84,3% em IES
privadas; no Paraná e Rio Grande do Sul, 13,8% dos cursos estão em IES públicas e,
em Santa Catarina, 19,3%.
1
Consulta realizada em www.e-mec.mec.gov.br. Acesso em: mai. 2014.
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
201
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
Para melhor aproximação, a tabela 1 expõe a situação dos cursos aprovados em
contraste com dados gerais dos Estados sulinos. Um dos aspectos que chama atenção
é a presença de cursos de arquitetura e urbanismo em 22 municípios catarinenses,
proporção bem maior que a verificada (considerando o total de municípios) nos outros
Estados sulinos, pois 7,4% dos municípios catarinenses são atendidos por esses cursos.
Da mesma forma, Santa Catarina é o Estado em que se observa a maior quantidade
de IES com cursos de arquitetura e urbanismo, já que estão presentes em quase um
quarto do total das IES. Proporcionalmente, o Estado do Rio Grande do Sul possuía
mais profissionais para a população estimada em 2012 (1/1.110 habitantes), seguido
por Santa Catarina (1/1.450) e Paraná (1/1.764). Esta configuração se explica, provavelmente, em razão de o histórico de ensino no Estado gaúcho ter se consolidado há
mais tempo que nos outros dois Estados – como apontado nos parágrafos anteriores.
Destaca-se que em todos os Estados sulinos a concentração de profissionais é muito
superior à média nacional, de 1/2.038 habitantes2.
Tabela 1 Dados Sobre os Cursos de Arquitetura e Urbanismo da Região Sul do Brasil
Estado
Municípios
Total
População Arquitetos e
com Cursos
Municípios
Total
Urbanistas
ARQ&URB
(2014) [1]
(EST. 2012) Ativos [4]
(2014) [2]
M1
M2/M1
[3]
(2012)
M2
Total de
IES
[2]
(2014)
IES com
Cursos
ARQ&URB
[2]
(2014)
PARANÁ
399
14
3,5%
10.577.755
5.996
207
24
SANTA
CATARINA
295
22
7,4%
6.383.286
4.402
107
26
RIO
GRANDE
DO SUL
497
19
3,8%
10.770.603
9.695
125
23
1.191
55
4,6%
27.731.644
20.093
439
74
TOTAL
Fontes: [1] Portal Estados@IBGE; [2] Portal e-MEC; [3] Estimativa IBGE 2012; [4] Censo CAU 2012.
Contudo, o ensino de paisagismo nos cursos de arquitetura e urbanismo configura-se em prática menos constante. Nas escolas mais antigas, esse exercício se deu de
forma distinta: enquanto no Instituto de Belas Artes – que anos adiante comporia a
fundação do curso de arquitetura na UFRGS – a disciplina de “Urbanismo e Arquitetura
Paisagística” foi ministrada pela primeira vez em 1949, na UFPR a primeira disciplina foi
ofertada somente na década de 1980. Para as que foram criadas a partir de meados
dos anos 1990 – em virtude do conteúdo das diretrizes curriculares exposto na Portaria
1.770/1997 (BRASIL, 1997), que já padronizava a obrigatoriedade do ensino de projeto
de paisagismo como matéria do núcleo de disciplinas que caracterizariam a atribuição
2
202
Resultados obtidos considerando a estimativa populacional para 2012 divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e o Censo elaborado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) em 2012.
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
e responsabilidade profissional – poder-se-ia afirmar que esse campo disciplinar tem
sido ministrado desde a fundação desses cursos. A diferença marcante, entretanto, é o
modus operandi, motivo que fundamenta a tessitura das próximas linhas.
3 OS C A MINHOS DA PESQUISA E A S
ESCOLHA S ME TODOLÓGIC A S
É importante ressaltar que uma investigação acerca do ensino de paisagismo sem
uma análise do dia a dia na sala de aula tem limitações incontestáveis: a dureza dos
dados não permite aferir com apuro as idiossincrasias da aprendizagem pelos relacionamentos docente/discente, discente/discente e docente/docente –, nem possibilita
apreciar se o conteúdo apresentado nos planos de ensino é minimamente cumprido. Ao
mesmo tempo, diante de grande quantidade de dados possíveis de análise, as escolhas
metodológicas podem mascarar, ou até deturpar, a realidade que se pretende investigar.
Compreende-se que se faz necessária a exposição do caminho da pesquisa a fim de
que as eventuais falhas e omissões possam ser contestadas e os acertos considerados,
garantindo a sua possível replicação em outras paragens.
As informações deste estudo foram compiladas por meio de um levantamento iniciado em dezembro de 2013 e concluído em maio de 2014. As variáveis selecionadas
foram: a) quantidade e título das disciplinas; b) carga horária; c) período de oferta; d)
ementa; e) bibliografia básica. De certa maneira, esses tópicos representam a essência
de qualquer disciplina e, por isso, reúnem elementos importantes para esta análise de
fundamento preliminar.
O procedimento inicial escolhido para a obtenção de informações foi o contato
direto com os coordenadores de curso via e-mail, pois nem sempre os sites das IES ou
dos próprios cursos refletem a dinâmica atual do ensino ofertado – por exemplo, troca
de projeto pedagógico em desenvolvimento, curso sendo implantado no momento
do estudo. Em sua grande maioria, os e-mails dos coordenadores foram retirados
dos websites dos cursos, fato que, por vezes, dificultou o contato, uma vez que não
se tinha a garantia de que a pessoa continuava exercendo a função, de que o e-mail
estava correto ou mesmo se, como e-mail institucional, chegaria ao destinatário final.
Obteve-se retorno efetivo de pouco menos de um terço dos coordenadores contatados
por, no mínimo, três vezes no período. Para os casos em que não se logrou retorno, os
dados foram recolhidos em pesquisa aos sites dos cursos ou das próprias IES. Nessas
consultas, em torno de 20% das IES disponibilizam tanto a grade curricular quanto os
planos de ensino, às vezes simplificados, e pouco mais de um terço do total só disponibiliza a grade com informação dos títulos das disciplinas e períodos de oferta. Às vezes,
disponibilizam, também, a carga horária e os créditos das disciplinas, não havendo
ementário e nem bibliografia disponível.
Para o total de cursos analisados, foram recolhidos, com êxito, 100% da quantidade de disciplinas (com respectivos títulos) e período de oferta; 94,6% das informações
referentes à carga horária das mesmas; 63,5% das ementas e 52,7% da bibliografia
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
203
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
básica. Num panorama segmentado por Estados, para 66% das disciplinas analisadas
do Paraná, 43,1% de Santa Catarina e 55,5% do Rio Grande do Sul, foram coletadas
informações completas. A tabela 2 expõe os detalhes desse cenário.
Tabela 2 Universo dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo da Região Sul do Brasil
e Dados Totais Compilados
Estado
PARANÁ
SANTA
CATARINA
RIO
GRANDE
Total
Total
de
AnaliCursos
sados
[1]
[T2]
[T1]
[T2/
T1]
Título
[2]
%
Carga
Horária [2]
%
Período de
Oferta
[2]
%
Ementa [2]
%
BiblioJUDÀD
Básica
[2]
%
29
23
79,3%
23
100
20
86,9
23
100
18
78,3
14
60,9
31
24
77,4%
24
100
24
100
24
100
14
58,3
12
50
29
27
93,1%
27
100
26
96,3
27
100
15
55,5
13
48,1
89
74
83,1%
74
100
70
94,6
74
100
47
63,5
39
52,7
DO SUL
TOTAL
Fonte: [1] Portal e-MEC; [2] IES, via coordenador do curso ou consulta ao site do curso/instituição.
Deve-se destacar que a premissa inicial era examinar as variáveis propostas em todos
os cursos da região. Aqueles que não compuseram esta análise foram excluídos pela
impossibilidade de acesso aos dados requeridos. Muitos cursos, por estarem no início
de suas atividades, não dispõem de maiores informações em seus websites. No retorno
por e-mail de alguns coordenadores, essa mesma justificativa era acusada, apesar do
estranhamento frente à imperiosa necessidade de um projeto pedagógico que comtemplasse as informações requeridas para aprovação e respectiva oferta das turmas junto às
instâncias governamentais. Nesses casos, não se procurou outros modos de obtenção,
como esferas superiores da instituição ou órgãos oficiais de âmbito federal. Para cursos
que ocorrem em dois períodos, os dados recolhidos foram computados uma única vez,
para o período instituído há mais tempo. Por fim, com exceção da Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA) em Foz do Iguaçu (PR) – com o curso em fase
de implantação – obtiveram-se informações completas de todos os cursos ofertados
por IES públicas e quase 35% dos cursos ofertados pela iniciativa privada. Pouco mais
de 15% dos cursos da Região Sul não serão enquadrados neste estudo.
Os quadros 1, 2 e 3 descrevem quais os cursos contemplados neste trabalho e que
tipos de informação foram utilizadas para cada Estado sulino. A partir desses dados,
observam-se curiosidades sobre a distribuição geográfica dos cursos: 1) o município
de Curitiba é o que tem a maior oferta concentrada no Sul do Brasil, com seis cursos;
seguido por Porto Alegre, com cinco; Londrina e Florianópolis, com 4; 2) quase 70%
dos cursos são ofertados em um único município, fora das capitais, em 38 distintas
jurisdições; 3) Santa Catarina é o Estado sulino em que a oferta se dá de forma
204
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
Quadro 1 Cursos de Arquitetura e Urbanismo Analisados do Estado do Paraná e
Dados Específicos Compilados
FUNDAÇÃO
CH TOTAL
1
2
3
4
5
[1]
[1]
[2]
[2]
[2]
[2]
[2]
Centro de Ensino Superior dos
Ponta Grossa
Campos Gerais Cescage
2011
4.060
X
X
X
X
X
Centro Universitário de Maringá
Maringá
Unicesumar
2003
4.728
X
X
Faculdade Dinâmica
Foz do Iguaçu
2011
4.623
X
X
Faculdade Ingá
Maringá
2011
4.080
X
X
X
Faculdade Assis Gurgacz
FAG
Cascavel
2002
3.600
X
X
X
X
X
Faculdade Mater Dei
Pato Branco
2007
4.032
X
X
X
X
X
Pontifícia Universidade Católica
Curitiba
do Paraná PUCPR
1976
4.626
X
X
X
X
X
Centro Universitário Dinâmica
Foz do Iguaçu
das Cataratas UDC
2000
4.320
X
Londrina
1979
4.150
X
X
X
X
X
Maringá
2000
4.466
X
X
X
X
X
Curitiba
1962
3.960
X
X
X
X
X
Centro Universitário Curitiba
Curitiba
Unicuritiba
2013
4.552
X
X
X
X
X
Centro Universitário Filadélfia
Londrina
UniFil
1980
3.600
X
X
X
X
X
Cascavel
2002
4.320
X
X
X
X
X
Cianorte
X
4.320
X
X
X
X
Paranavaí
2013
4.320
X
X
X
X
Francisco Beltrão
2010
4.320
X
X
X
X
Umuarama
2001
4.320
X
X
X
X
X
4.320
X
X
X
X
IES
UEL - Universidade Estadual
de Londrina
UEM - Universidade Estadual
de Maringá
UFPR - Universidade Federal
do Paraná
Universidade Paranaense
Unipar
MUNICÍPIO
Toledo
X
X
Centro Universitário de União
de Vitória
Uniuv
União da Vitória
2009
3.744
X
X
X
Universidade Positivo
UP
Curitiba
2000
3.920
X
X
X
X
X
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná
UTFPR
Curitiba
2009
4.365
X
X
X
X
X
1997
3.600
X
X
X
X
X
Universidade Tuiuti do Paraná
UTP
Curitiba
1 – nome da disciplina; 2 – carga horária; 3 – período de oferta; 4 – ementa; 5 – bibliografia básica.
Fontes: [1] Portal e-MEC e [2] IES – Via coordenador do curso ou consulta ao site do curso/instituição.
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
205
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
mais esparsa, seguido pelo Rio Grande do Sul e pelo Paraná; 4) seis municípios, cuja
população total média é de 370 mil habitantes (Censo de 2010), oferecem três cursos
em seus limites; sete municípios, cuja população total média é de 200 mil habitantes
(Censo 2010), oferecem dois cursos em seus domínios; 5) apenas uma IES, no Paraná,
possui aprovação para ofertar seis cursos em seis distintos municípios do interior do
Estado. É interessante ressaltar que, considerando os 74 cursos analisados da região,
a carga horária total média é de 4.030 horas/aula, levemente superior à média nacional, de 4.012 horas/aula (MARAGNO, 2012); para os cursos paranaenses, 4.379
horas/aula, para os catarinenses, 4.006 horas/aula e, finalmente, para os gaúchos,
3.914 horas/aula. Somente 13,5% desses cursos ofertam a carga horária total mínima,
ou muito próxima dela, estipulada pela diretriz nacional (BRASIL, 2010), ou seja, um
patamar bem abaixo da média nacional, registrada em 25% para o ano de 2012.
(MARAGNO, 2012).
Do universo total dos dados obtidos, salientam-se questões relevantes quanto ao
método de inclusão das disciplinas enquadradas neste estudo: 1) não foram incluídas
as disciplinas que, apesar de possuírem termos como “paisagismo”, “paisagem”, “arquitetura paisagística” dispostos no título, não apresentavam indícios do tratamento
dessas questões, observando conjuntamente ementa, objetivos e bibliografia; certamente, a fim de verificar se a menção a esses conceitos nos títulos das disciplinas
significa realmente que são abordados em sala de aula seria necessário outro tipo de
levantamento; o recorte adotado para a análise específica de ementas e bibliografia
básica demonstra-se mais rígido que o recolhido; 2) não foram incluídas disciplinas que
abordam INDIRETAMENTE questões tratadas, em geral, em disciplinas de paisagismo,
pois essas questões também são necessárias para outras disciplinas do curso, como
topografia, ecologia, meio ambiente, planejamento urbano. Dessa forma, estão incluídas disciplinas tão somente que tratam DIRETAMENTE do ensino de questões ligadas
ao paisagismo, como projeto paisagístico, arquitetura paisagística, paisagem urbana;
3) não foram incluídas as disciplinas optativas, pois não é possível comprovar se são,
realmente, ofertadas; porém, salienta-se que essas disciplinas não se fazem presentes
na maioria absoluta dos cursos – são exceções e, por isso, entende-se que a exclusão
das mesmas não prejudica a análise final das ofertadas regularmente; 4) somente foram
analisados os livros citados como bibliografia básica.
Para a análise do conteúdo dos planos de ensino, o programa escolhido para expor
os dados foi o hospedado no website www.wordle.net. As ementas foram modificadas
para que cada expressão ou conceito mencionado fossem reconhecidos pela ferramenta,
mas sem que o conteúdo exposto nas ementas fosse alterado. Tomaram-se as seguintes
medidas para o texto final: 1) conceitos e expressões conjugadas (como “paisagem
natural e/ou construída”) foram desmembrados (“paisagem natural” e/ou “paisagem
construída”); 2) conceitos e expressões com duas ou mais palavras (“paisagem urbana”)
foram unidos (“paisagemurbana”); 3) conceitos ou expressões com duas ou mais palavras
(“projeto de paisagismo”) foram unificados em expressão similar (“projetopaisagístico”);
4) todas as palavras foram mantidas ou convertidas para o singular; 5) todas as pala206
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
Quadro 2 Cursos de Arquitetura e Urbanismo Analisados do Estado de Santa
Catarina e Dados Específicos Compilados
IES
MUNICÍPIO
FUNDAÇÃO
[1]
CH
TOTAL
[1]
1
2
3
4
5
[2]
[2]
[2]
[2]
[2]
X
X
Católica de Santa Catarina
Joinville
2012
4.260
X
X
X
Faculdade Concórdia
Facc
Concórdia
2010
3.978
X
X
X
Chapecó
2012
3.744
X
X
X
Itapiranga
2013
3.744
X
X
X
Guaramirim
2011
3.600
X
X
X
Brusque
2011
4.176
X
X
X
Florianópolis
2004
4.080
X
X
X
São José
2013
3.662
X
X
X
Blumenau
1992
4.878
X
X
X
X
Joinville
2005
4.320
X
X
X
X
X
Laguna
2008
4.320
X
X
X
X
X
Florianópolis
1977
3.900
X
X
X
X
X
Universidade do Contestado
UnC
Curitibanos
2009
3.810
X
X
X
X
X
Universidade do Extremo Sul Catarinense
Unesc
Criciúma
2003
4.170
X
Indaial
2008
3.744
X
X
X
Brusque
2012
3.780
X
X
X
X
X
Florianópolis
1998
4.260
X
X
X
X
X
Tubarão
1998
1998
4.260
X
X
X
1996
4.125
X
X
X
X
Joinville
2012
4.260
X
X
X
Chapecó
2010
3.978
X
X
X
X
X
2012
3.744
X
X
X
X
X
Videira
2013
3744
X
X
X
X
X
Xanxerê
2011
3600
X
X
X
X
X
Faculdade Empresarial de Chapecó
FAEM
Faculdades de Itapiranga
FAI
Faculdade Metropolitana de Guaramirim
Fameg
UNIASSELVI
Faculdade do Vale do Itajaí Mirim
FAVIM
UNIASSELVI
Faculdade Barddal de Artes Aplicadas
FB-AA
Centro Universitário Estácio de Sá de Santa
Catarina
Fundação de Ensino e Engenharia de Santa
Catarina
FEESC
Universidade Regional de Blumenau
FURB
Instituto Superior Tupy
IST
Fundação Universidade do Estado de Santa
Catarina
UDESC
Universidade Federal de Santa Catarina
UFSC
Centro Universitário Leonardo da Vinci
UNIASSELVI
Centro Universitário de Brusque
Unifebe
Universidade do Sul de Santa Catarina
Unisul
Universidade do Vale do Itajaí
Univali
Universidade da Região de Joinville
Univille
Balneário
Camboriú
X
Universidade Comunitária da Região de
Chapecó
Unochapecó
São Miguel do
Universidade do Oeste de Santa Catarina
Unoesc
Oeste
Legenda: 1 – nome da disciplina; 2 – carga horária; 3 – período de oferta; 4 – ementa; 5 – bibliografia básica.
Fontes: Portal e-MEC e IES. Fontes: [1] Portal e-MEC e [2] IES – Via coordenador do curso ou consulta ao site do
curso/instituição.
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
207
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
Quadro 3 Cursos de Arquitetura e Urbanismo Analisados do Estado do
Rio Grande do Sul e Dados Específicos Compilados
IES
MUNICÍPIO
Universidade Feevale
Faculdade da Serra Gaúcha
FSG
Centro Universitário Metodista
IPA
Faculdade Meridional
IMED
Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul
PUCRS
UCPEL - Universidade Católica
Novo Hamburgo
Caxias do Sul
FUNDAÇÃO [1]
CH
TOTAL
[1]
Porto Alegre
Passo Fundo
Universidade de Cruz Alta
Unicruz
Faculdade São Francisco de Assis
Unifin
Centro Universitário Franciscano
Unifra
Centro Universitário Ritter dos Reis
UniRitter
Universidade de Santa Cruz do Sul
Unisc
Universidade do Vale do Rio
dos Sinos
Unisinos
Centro Universitário Univates
3.600
2009
3.706
2006
3.600
2010
0000
1996
4.335
1991
3.600
1996
2013
4.050
4.050
2010
4.020
1972
4.233
1952
4.500
1993
4.680
2002
3.876
1974
1998
2013
1997
3.876
3.876
3.876
3.780
2011
3.610
2003
4.080
1976
4.021
1999
3.810
1972
3.605
2003
3.720
1995
3.780
2001
2011
2012
3.825
3.825
3.825
Porto Alegre
Pelotas
de Pelotas
Universidade de Caxias do Sul Caxias do Sul
UCS
Bento Gonçalves
Universidade Federal da Fron- Erechim
teira Sul
UFFS
Universidade de Passo Fundo Passo Fundo
UPF
Universidade Federal de Pelotas Pelotas
UFPel
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
UFRGS
Universidade Federal de Santa
Maria
UFSM
Universidade Luterana do Brasil
ULBRA
2000
Porto Alegre
Santa Maria
Santa Maria
Canoas
Torres
Carazinho
Cruz Alta
Porto Alegre
Santa Maria
Porto Alegre
Santa Cruz do Sul
São Leopoldo
Lajeado
URI - Universidade Regional Santiago
Integrada do Alto Uruguai e Santo Ângelo
das Missões
Frederico Westphalen
1
2
3
4
5
[2]
[2]
[2]
[2]
[2]
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
1 – nome da disciplina; 2 – carga horária; 3 – período de oferta; 4 – ementa; 5 – bibliografia básica.
Fontes: [1] Portal e-MEC e [2] IES – Via coordenador do curso ou consulta ao site do curso/instituição.
208
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
vras foram transformadas em minúsculas. Com essas ressalvas expostas, procurou-se
analisar os dados em dois eixos, que compõem as próximas seções.
4 OS CONTEÚDOS MINISTR ADOS
Optou-se por construir nuvens de palavras com as ementas e a bibliografia básica
com o objetivo de apreender as expressões e conceitos mais utilizados, no caso das
ementas, e para captar os autores mais citados nas referências bibliográficas. As figuras
1, 2, 3 e 4 indicam as cinquenta palavras mais frequentes nas ementas para a região
Sul e, isoladamente, para os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
respectivamente.
Figura 1 Nuvem das cinquenta palavras e expressões mais citadas nas ementas das disciplinas das escolas de
arquitetura e urbanismo da Região Sul do brasil (n = 107 ementas).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
Figura 2 Nuvem das cinquenta palavras e expressões mais citadas nas ementas das disciplinas das escolas de
arquitetura e urbanismo do Estado do Paraná (n = 43 ementas).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
209
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
Figura 3 Nuvem das cinquenta palavras e expressões mais citadas nas ementas das disciplinas das escolas de
arquitetura e urbanismo do Estado de Santa Catarina (n = 31 ementas).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
Figura 4 Nuvem das cinquenta palavras e expressões mais citadas nas ementas das disciplinas das escolas de
arquitetura e urbanismo do Estado do Rio Grande do Sul (n = 33 ementas).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
Através das figuras de 1 a 4, destaca-se que as cinco expressões mais presentes
para as disciplinas analisadas na Região Sul são, respectivamente: “projeto paisagístico”,
“paisagem”, “paisagismo”, “estudo” e “análise”; para os cursos do Estado do Paraná:
“projeto paisagístico”, “paisagem”, “estudo”, “paisagem urbana” e “espaço livre”; para os
do Estado de Santa Catarina: “projeto paisagístico”, “paisagem”, “análise”, “paisagismo”
e “projeto”; para os do Estado do Rio Grande do Sul: “variáveis”, “projeto paisagístico”,
“aplicar”, “paisagismo” e “projetar”.
Através de análise quantitativa, é possível afirmar que a expressão “projeto paisagístico” – única presente em todas as dimensões analisadas – indica a marcante
presença de um conteúdo aplicado à intervenção espacial nas disciplinas ofertadas,
210
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
sentido também dividido com as palavras “projeto” e “projetar”. Os termos “paisagem”
e “paisagem urbana”, conjuntamente, também figuram como expressões mais presentes,
evidenciando os conceitos que guiam as disciplinas na área. Por fim, os termos “estudo”
e “análise” apontam para a importância do reconhecimento da realidade para que a
ação projetual possa se desenvolver.
Do total de palavras expostas nas ementas, a constância e a escassez de algumas
expressões também merecem escrutínio. Ressalta-se a profusão de termos que procuram qualificar o objeto de preocupação da disciplina, como “espaço físico”, “espaço
público”, “espaço não construído”, “espaço externo”, “ambiente exterior”, “ambiente
urbano”, “área livre”, “área verde” e “espaço verde” (menos presentes), e os dois mais
utilizados, “espaço aberto” e “espaço livre” (o mais empregado), indicando a dificuldade
de calibração no sentido das terminologias a serem apropriadas pelas disciplinas. Da
mesma forma, foram encontradas referências explícitas a espaços urbanos bem delimitados, que recebem destaque para seu tratamento projetual. Em ordem de frequência:
“praça”, “parque”, “jardim”, “rua”, “loteamento”, “passeios”, “calçadões” e “vias”.
Em relação aos termos que qualificam a paisagem foram encontrados os conceitos de “paisagem cultural”, “paisagem construída” e “paisagem antrópica” – menos
presentes – e, mais frequentes, os conceitos de “paisagem urbana” e “paisagem natural”, fato que expõe a amplitude das tratativas encerradas pelas disciplinas. Outro
aspecto relevante é a presença de expressões e conceitos que sinalizam a presença da
preocupação ambiental no conteúdo ministrado; assim, é comum encontrar as palavras “ecossistema”, “ecologia”, “ecologia da paisagem”, “ecológico”, “meio ambiente”,
“ambiental”, “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” (esta apenas uma vez).
No tocante ao tratamento de questões referentes ao mundo vegetal aplicado às
disciplinas de paisagismo, a reduzida presença de termos talvez indique a dificuldade
de inserção desse conteúdo teórico no cotidiano da sala de aula. Os termos mais citados, em ordem decrescente, foram “vegetação” (dez), “flora” (cinco), “vegetal” (cinco),
“botânica” (dois), “arborização” (um) e “projeto de plantação” (um).
Concernente aos conteúdos do campo da teoria e da história da paisagem e/ou
paisagismo, evidencia-se que não existem disciplinas que tratam dessas temáticas exclusivamente; por outro lado, elas estão presentes em 24 disciplinas, de forma separada ou
conjugada. Tal situação revela-se preocupante, na medida em que, a partir de rápida
leitura dos projetos pedagógicos dos cursos, com raras exceções, as disciplinas de teoria
e história da arquitetura e urbanismo não trabalham esses conteúdos em seus domínios
programáticos. Finalmente, há duas evidências sobre preferências: o termo “paisagismo”
(45) para qualificar a disciplina, ao invés de “arquitetura paisagística” (três) e o recorte
marcadamente urbano – o termo “região” aparece uma única vez, por exemplo.
A observação específica dos títulos dados às disciplinas também revela curiosidades:
duas designações destacam-se pela constância: “paisagismo” (59 disciplinas em 76
períodos letivos) e “projeto de paisagismo” (trinta disciplinas em 32 períodos letivos)
nomeiam mais da metade dos enunciados, muitas vezes, seguidos de numeração que
indica a sequência de sua oferta durante o curso. No primeiro caso, em geral, os conPAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
211
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
teúdos ministrados são mais abrangentes do que no segundo, pois as ementas explicitam a abordagem de aspectos teóricos, históricos, metodológicos, em conjunto com
os projetuais – sempre presentes como um dos objetivos essenciais dessas disciplinas.
Para o segundo título e suas ramificações (“projeto paisagístico”, “ateliê de paisagismo”,
“ateliê de projeto de arquitetura, urbanismo e paisagismo”), os conteúdos ministrados,
na maioria dos casos, vinculam-se a questões de método e prática do paisagismo.
Outro aspecto que se apreende da análise dos títulos é a procura por integração entre
conhecimentos advindos da prática projetual entre os campos da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo, por exemplo, nos títulos: “arquitetura e paisagismo”, projeto
arquitetônico e paisagístico”, “urbanismo e paisagismo”. Como forma de ilustrar essas
características, a figura 5 evidencia os títulos mais utilizados. Deve-se atentar para o
fato de que essas designações, mais utilizadas, destacam-se muito em razão da constante presença para sequenciar as disciplinas de vários cursos das mesmas IES, fato
que gera distorção do resultado geral. Com essa ressalva, pode-se afirmar que outras
três designações mais utilizadas, além das apontadas pela figura 5, são: “ateliê de
paisagismo”, “teoria e história do paisagismo e urbanismo” e “projeto da paisagem”.
A figura 6 apresenta as cinco expressões mais presentes nos títulos, corroborando com
o que é apreendido na análise dos conteúdos das ementas – o foco no processo de
intervenção espacial – além da correlação inequívoca com a prática da arquitetura e
do urbanismo de modo integrado.
Quanto a autores e referências bibliográficas, há que se considerar que, por vezes,
a escolha está condicionada à existência dos volumes, em quantidade mínima exigida,
presentes fisicamente na biblioteca de cada instituição, sendo fator limitante para a
atualização de títulos nos planos de ensino. Dos 422 títulos analisados, observou-se
a seleção de grande diversidade de assuntos, que tratam dos mais variados aspectos
do campo do paisagismo. Ao mesmo tempo, notaram-se algumas particularidades: i)
a língua portuguesa é base para a maioria dos títulos, seguida pelos títulos na língua
inglesa; ii) a maioria das publicações listadas referem-se à prática profissional do
projeto paisagístico; iii) a presença de poucos títulos que tratam, exclusivamente, da
teoria e da história do paisagismo; omitindo-se o número da edição, nome da editora,
cidade e ano de publicação, para homogeneizar a análise, as cinco obras mais referenciadas, em ordem decrescente, são: Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas,
herbáceas e trepadeiras (LORENZI, H.; SOUZA, H. M.); Árvores brasileiras: manual
de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil (LORENZI, H.; SOUZA,
H. M.); Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística (ABBUD, B.);
Quadro do Paisagismo no Brasil (MACEDO, S. S.); Paisagem urbana (CULLEN, G.)
como ilustrado pela figura 7. Exceto o último, todos são produções brasileiras. Uma
preocupante ressalva: várias referências estão incorretamente grafadas, tanto em observância às normas e aos padrões brasileiros para produção acadêmica quanto ao
nome dos autores e títulos das obras. Sendo este um raro momento de contato dos e
das discentes com a literatura da área e um reflexo do trabalho do e/ou da docente,
considera-se uma incorreção injustificável.
212
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
Figura 5 Nuvem de palavras com os cinco títulos mais utilizados para nomear as disciplinas de paisagismo das
escolas de arquitetura e urbanismo da Região Sul do Brasil em seus respectivos períodos letivos semestrais (n = 165
disciplinas em 198 períodos letivos).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
Figura 6 Nuvem com as cinco palavras mais utilizadas nos títulos das disciplinas de paisagismo das escolas de
arquitetura e urbanismo da Região Sul do Brasil (n = 420 palavras).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
Figura 7 Nuvem com os dez autores mais citados nas bibliografias básicas das escolas de arquitetura e urbanismo
da Região Sul do Brasil (n = 90 disciplinas e 422 títulos).
Elaborada por Alessandro Filla Rosaneli – 2014
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
213
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
5 C AR AC TERÍSTIC A S DA OFERTA
Para uma visão panorâmica sobre a oferta de disciplinas que tratam de temas
específicos do campo do paisagismo nos cursos de arquitetura e urbanismo da Região
Sul do Brasil, analisaram-se os períodos em que são ofertadas durante o curso e a
quantidade de disciplinas por curso. Na tabela 3, que expõe o contexto de oferta das
disciplinas, fica evidente que a maioria delas é disponibilizada a discentes nos terceiro
e quarto anos (quinto ao oitavo períodos), os quais representam o momento de formação profissionalizante, fato que auxilia a compreender a ênfase do projeto paisagístico
observada nos títulos e nas ementas das disciplinas.
Nos cursos da Região Sul do Brasil, pouco mais de 40% das disciplinas são ofertadas
no terceiro ano e pouco mais de 38% no quarto ano, atingindo 78,5% das disciplinas
disponibilizadas. Algumas especificidades são interessantes: i) quase um quarto da oferta
(23,6%) está concentrada no sexto período e, pelo conteúdo exposto nas ementas, são
disciplinas com foco na questão projetual; ii) os cursos do Estado de Santa Catarina
seguem essa distribuição geral, mas há discrepância entre os Estados do Paraná e Rio
Grande do Sul; iii) no Estado do Paraná, quase 90% das disciplinas estão concentradas
nos terceiro e quarto períodos; no Rio Grande do Sul, constata-se 67% de concentração
no mesmo intervalo analisado.
Tabela 3 Oferta de Disciplinas por Período nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo
da Região Sul do Brasil
ESTADO
PERÍODO DE OFERTA NOS CURSOS
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
PARANÁ
N = 73
0
1
3
4
16
20
16
13
0
0
SANTA
CATARINA
N = 61
1
1
6
4
8
13
12
13
3
0
RIO
GRANDE
DO SUL
N = 52
4
2
6
2
7
11
8
9
2
1
TOTAL
N = 186
5
4
15
10
31
44
36
35
5
1
Fonte: IES – Via coordenador do curso ou consulta ao site do curso/instituição.
Pela tabela 4, verifica-se que a maioria dos cursos – quase dois terços do total –
oferece uma ou duas disciplinas relacionadas ao paisagismo durante todo o curso. Esse
dado talvez seja uma das constatações mais preocupantes, na medida em que aponta
um infrequente e pequeno contato de discentes com temáticas e objetos do campo do
paisagismo ao longo dos períodos acadêmicos na graduação. Observando a distribuição
214
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
por Estados, distingue-se a situação do Rio Grande do Sul, onde quase 90% dos cursos
ofertam uma ou duas disciplinas, também concentradas no terceiro e quarto anos dos
cursos. Os cursos paranaenses se distinguem pela oferta de mais disciplinas na área
de paisagismo por curso, com destaque para os cursos da PUCPR (seis disciplinas) e
da UFPR (cinco disciplinas) que possuem grande concentração de carga horária: 240
e 450 horas/aula, respectivamente. Em comparação complementar, considerando os
74 cursos analisados e as 188 disciplinas obrigatórias, em média, são ofertadas 2,54
disciplinas que tratam diretamente de aspectos relacionados ao paisagismo nos cursos
da Região Sul do Brasil. Segmentando essa leitura por Estado, tem-se sensível variação,
com a oferta dos cursos paranaenses acima da média, com 3,17 disciplinas por curso;
gaúchos, abaixo da média, com 2,3; catarinenses, exatamente na média.
Tabela 4 Quantidade de Disciplinas Semestrais Ofertadas nos Cursos
de Arquitetura e Urbanismo da Região Sul do Brasil
ESTADO
QUANTIDADE DE DISCIPLINAS SEMESTRAIS OFERTADAS POR CURSO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
PARANÁ
N = 23
2
7
2
10
1
1
0
0
0
0
SANTA
CATARINA
N = 24
8
6
3
4
2
1
0
0
0
0
RIO
GRANDE
DO SUL
N = 27
10
14
2
0
0
0
0
0
0
1
TOTAL
N = 74
20
27
7
14
3
2
0
0
0
1
Fonte: IES – Via coordenador do curso ou consulta ao site do curso/instituição.
A análise da carga horária das disciplinas também oferece cenário intrigante sobre a capacitação de discentes na área de paisagismo. Ao contabilizar toda a carga
horária compilada no levantamento e distribuí-la pelas disciplinas ofertadas, obtém-se
valor médio aproximado de 65 horas/aula por disciplina. Considerando cada Estado,
distingue-se a situação dos cursos paranaenses com a menor média – aproximadamente
53,5 horas/aula –, seguido pelos catarinenses – aproximadamente 67 horas/aula – e
pelos gaúchos, com 77,7 horas/aula. Retirando disciplinas integradas com arquitetura e/ou urbanismo, na medida em que os conteúdos são, no mínimo, igualmente
divididos entre esses campos de conhecimento, um cenário diferente se apresenta. A
carga horária média da Região Sul cai para 55,6 horas/aula por disciplina; os cursos
paranaenses ainda se distinguem como aqueles com menor carga horária, com 51,3
horas/aula – seguidos pelos de Santa Catarina, com 57,7 horas/aula, e pelos gaúchos,
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
215
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
com aproximadamente 61 horas/aula. O que se destaca nessa comparação é a queda
brusca observada na média geral e nos dois últimos casos em razão da quantidade
de disciplinas integradas nos currículos dos dois Estados mais a meridional da região.
Verificando destacadamente a situação dos cursos que oferecem uma ou duas
disciplinas, a média de carga horária é sensivelmente menor que a média geral, com
pouco mais de 61 horas/aula, considerando as disciplinas integradas. A situação dos
cursos nos quais há apenas uma disciplina apresenta-se como a mais degradante –
mesmo que a carga horária média seja próxima da geral, com 65,5 horas/aula –,
sendo a mesma um dos poucos momentos de contato com as questões paisagísticas de
forma concentrada. Em ambos os casos, e de forma preocupante, o menor contato de
discentes com os assuntos concernentes ao paisagismo se dá tanto ao longo do curso
quanto em relação à quantidade de horas/aula cursadas. Ao compreender que são
ofertadas 2,54 disciplinas obrigatórias, em média, por curso na Região Sul do Brasil
e que, no melhor cenário, um total de 65 horas/aula são disponibilizadas, em média,
por disciplina durante a graduação (para carga horária média de 4.030 horas/aula,
em conformidade com os dados disponibilizados nos quadros 1, 2 e 3), nota-se que
nos cursos de arquitetura e urbanismo da Região Sul do Brasil as disciplinas do campo
do paisagismo abrangem 4% do total ofertado. Levando em conta esse raciocínio para
os três Estados sulinos, tem-se que os cursos de arquitetura e urbanismo no Estado
do Paraná estão abaixo da média regional, com 3,87% do total ofertado, e os cursos
gaúchos e catarinenses estão acima da média, com 4,46% e 4,35%, respectivamente.
Quando se analisa o conteúdo das ementas das disciplinas nos cursos em que é
ofertada apenas uma disciplina, fica evidente que a maioria delas trata de amplo leque
de assuntos na tentativa de encerrar temáticas relativas ao campo do paisagismo – e
todas possuem como objeto final a proposta de intervenção paisagística. Ao conseguirem
abarcar uma totalidade de assuntos satisfatória, certamente sacrificam a quantidade
de tipos de espaços livres – públicos e privados – possíveis de serem abordados no
momento projetual, ao mesmo tempo em que não exercem mergulhos nos domínios da
executabilidade das propostas, já que em alguns planos se indica o nível de anteprojeto
como o de resolução final dos trabalhos práticos. Certamente, a relação quantitativa
entre docentes e discentes, que não foi motivo de investigação desta pesquisa, também
contribuiria para elucidar essa construção pedagógica, desde o tratamento de assuntos
iniciais das disciplinas até o lançamento de trabalhos práticos, mas o que não se deve
perder de vista é a pequena exposição de discentes, ao longo do curso de arquitetura
e urbanismo, a preocupações e soluções pertinentes ao campo do paisagismo.
Com esse cenário em mente, alguns cursos mereceriam destaque, quer seja pela
quantidade de disciplinas e carga horária ofertadas ou mesmo pelo arranjo pedagógico
integrado. No Estado do Paraná, os cursos da UFPR e da PUCPR apresentam-se distintos.
O primeiro, pela diversidade da proposta pedagógica, em que, após uma disciplina de
caráter teórico-conceitual, os discentes são instados a refletir sobre a prática profissional de forma isolada – e também conjugada com o projeto arquitetônico – em cinco
disciplinas obrigatórias que correspondem a 11,4% da carga horária total; o segundo,
216
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
pela sequência manifestada a partir do terceiro período, em que se sucedem disciplinas
que se organizam pela complexidade escalar da abordagem, num conjunto de seis
disciplinas obrigatórias, correspondentes a 5,2% da carga horária total do curso. Em
ambos os cursos, a carga horária de ensino de paisagismo, em razão desses arranjos
particulares, está acima da média no Estado.
Em Santa Catarina, destacam-se os cursos da UFSC e da atual Católica de Santa
Catarina. Na primeira instituição, chama atenção a integração promovida pelas disciplinas de arquitetura no início do curso e com as de urbanismo, mais adiante, num
total de 300 horas/aula para as quatro disciplinas, que correspondem a 7,7% da carga
horária total do curso; na segunda, a disciplina de fundamentação, logo no primeiro
período, seguida pela sequência das quatro disciplinas práticas a partir do quinto período, com o aumento gradativo da complexidade escalar, ainda que com pequena
carga horária, perfazendo 3,5% da carga horária total do curso. No Estado mais ao
sul do Brasil, evidencia-se a estrutura pedagógica do curso abrigado pela Universidade
Federal de Santa Maria, no qual as dez disciplinas integradas de arquitetura, urbanismo
e paisagismo são ministradas ao longo de todo o curso, com distintos temas e complexidade; ainda que se estendam por incríveis 1.200 horas/aula, no entanto, pelos planos
analisados, observa-se que os conteúdos ligados ao ensino do paisagismo figuram de
modo coadjuvante.
6 CONSIDER AÇÕES FINAIS
Uma análise quantitativa sobre o ensino de paisagismo nos cursos de arquitetura e
urbanismo certamente tem suas limitações e toda investigação possui recortes que podem interferir nos resultados. No presente caso, a decisão por uma análise mais restrita
da realidade, observando aspectos basilares da formação de um arquiteto e urbanista
– através de disciplinas que tratam diretamente do campo do paisagismo – e aspectos
mais concretos dessa formação, pela exclusão das disciplinas optativas (mesmo que
sejam minoria), são fatores determinantes para o quadro apresentado. Cabe ressaltar
que uma abordagem investigativa de viés qualitativo, que considere outros aspectos,
também determinantes para o aprendizado, como a relação numérica entre docente(s)/
discentes, a forma de desenvolvimento dos trabalhos práticos e teóricos (em equipes ou
individualmente), a relação entre carga horária das disciplinas, conteúdo pedagógico
exposto nos planos de ensino e quantidade de discentes em sala, sem dúvida incidiriam
numa leitura mais completa da realidade pedagógica – outra investigação e também
imprescindível. Mesmo diante de tais insuficiências, entende-se que a presente análise
possui uma contribuição para o entendimento dessa prática pedagógica na atualidade.
Os 89 cursos da Região Sul do Brasil apresentam-se como universo relevante para
perspectivas de análise no cenário nacional, sobretudo após o intenso processo de
criação de novos cursos experimentado nos últimos anos.
As análises referentes aos conteúdos ministrados apontam questões interessantes
e, talvez, a mais evidente seja a marcante convergência das disciplinas para o ato de
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
217
A le s s a ndr o F illa Ro s a neli
projeto do espaço livre. Para tanto, o fato de perceber, de analisar e de interpretar a
paisagem revela-se como um dos caminhos mais apontados pelas ementas, sendo que
as referências bibliográficas mais utilizadas alimentam o viés aplicado nas disciplinas.
A profusão de termos que pretende identificar o objeto de intervenção, todavia, revela
a necessidade de maiores esforços teóricos. Em relação às características de oferta, um
dos aspectos gerais mais preocupantes constatados neste estudo é o infrequente contato
dos discentes com o universo de questões pertinentes ao campo do paisagismo nos
cursos de arquitetura e urbanismo. Consequentemente, tanto em relação à quantidade
de disciplinas ofertadas quanto à carga horária total das mesmas, as evidências médias
encontradas permitem indagar sobre os desafios dos egressos para desempenho das
atribuições nesse âmbito projetual. A média de 4% do total da carga horária dos cursos
destinadas ao ensino de paisagismo é um dado alarmante, que convida a reflexões.
Constatou-se, também, que cada Estado sulino apresenta estrutura de ensino e realidade
pedagógica distintas – muito devido ao processo histórico da fundação dos cursos de
arquitetura e urbanismo. Mesmo assim, as considerações gerais elaboradas oferecem
um panorama médio aceitável para a realidade estudada e podem contribuir para a
compreensão de importantes questões sobre a atualidade do ensino de paisagismo no
cenário nacional. A experiência ressaltada de alguns cursos poderia servir de parâmetros
para renovadas perspectivas.
As ausências são perturbantes: no universo observado, são mínimas as experiências de disciplinas isoladas que se concentram especificamente no tratamento teórico
e conceitual aprofundado da questão da paisagem, assim como de disciplinas que
tratam da história da paisagem e/ou do paisagismo. Ainda que esses conteúdos estejam presentes em várias ementas analisadas, o agravante é que são divididos com
outros domínios, reduzindo de forma alarmante sua importância para o rebatimento
das práticas projetuais (sem desmerecer essa essência integrada).
Por outro lado, ainda que o projeto paisagístico se evidencie como o objetivo comum
da maioria absoluta das disciplinas, quase nada foi constatado sobre o enfrentamento minucioso de questões de execução e detalhamento. Tal tendência induz a refletir
sobre outra característica muito presente nos títulos, nas ementas e nas bibliografias
analisadas: a integração com distintos campos do conhecimento. A arquitetura e o
urbanismo são diversas vezes elencados conjuntamente em busca de uma associação
desejável, porém a discussão tecnológica, que poderia contribuir para projetos mais
consistentes, configurou-se como um dos grandes vazios encontrados. A partir da leitura
de alguns planos de ensino de disciplinas com perspectiva integradora, uma suspeição
de que a atividade projetual de paisagismo é pretexto para o simples embelezamento
ou preenchimento do vazio deixado pelo espaço construído, sendo a paisagem mera
retórica, se cristaliza. Nesse caso, uma investigação com abordagem qualitativa seria
fundamental para estabelecer juízo mais convicto.
No tocante às escolhas tipológicas para o enfrentamento projetual, percebe-se que,
embora o destacado foco na intervenção em espaços livres urbanos de domínio público
configure-se em experiência positiva –, correspondendo ao debate sobre o alarmante
218
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
A pont ament o s S obr e o En sino de Pai s a gi smo no s Cur s o s de
A r qui t et ur a e Ur ba ni smo d a Re gião Sul do B r a s il
rumo do espaço público das cidades brasileiras – o enfrentamento do jardim residencial
poderia ser mais ensejado, em virtude da extensa e real demanda de trabalho passível
de contribuição profissional do arquiteto e urbanista.
Por fim, uma nota de alerta: num mundo dito “hiper-real” e deveras conectado
virtualmente, a pouca capilaridade das informações disponibilizadas pelos cursos na
“paisagem virtual” de seus websites assusta. Poderia enunciar-se que a internet não é
interface amigável para que interessados possam obter detalhes dos cursos. Através de
endereços mal preparados, confusos e esteticamente desagradáveis, não se possibilita
que a comunidade local, a sociedade brasileira e muito menos visitantes do exterior
possam distinguir as características peculiares que poderiam fazer desses cursos futuros
abrigos para o desenvolvimento de habilidades e capacidades de discentes, docentes
e pesquisadores. Mesmo sendo essa constatação paralela à investigação proposta,
revela o quanto estamos distantes de experiências exitosas espalhadas no mundo, onde
a plataforma virtual é elemento presente, vivo e imprescindível ao ensino no século XXI.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Portaria Ministerial nº 1.770, de 23 de dezembro de 1997. Fixa as
diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Brasília, 1997.
Disponível em: <http://www.fau.usp.br/fau/administracao/acad/servgrad/faupoli/anexo_1.pdf>. Acesso em: 15 a
20 jan. 2014
______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 2 de 17 de junho de
2010. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, alterando
dispositivos da Resolução CNE/CES nº 6/2006. Brasília, 2010. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&id=12991:diretrizes-curriculares-cursos-de-graduacao>. Acesso em: 15 a 20 de
janeiro de 2014.
MARAGNO, Gogliardo Vieira. Questões sobre a qualificação e o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. In:
ENCONTRO NACIONAL SOBRE ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO, 31, 2012, São Paulo. Anais... São
Paulo: ENSEA, nov. 2012. Disponível em: <http://www.abea-arq.org.br/wp-content/uploads/2013/03/artigo_maragno-pgn1.pdf>. Acesso em: 15 a 20 de janeiro de 2014.
WEBSITES CONSULTADOS*
http://emec.mec.gov.br/
http://www.caubr.gov.br/censo
http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=pr
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa 2012
http://www.wordle.net/
*
Entre 15 e 20 de jan. 2014.
PAISAGEM E AMBIENTE: ENSAIOS - N. 35 - SÃO PAULO - P. 199 - 219 - 2015
219