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Dimorfismo sexual pela análise da vértebra áxis _______________________________________________________________ Revista Brasileira de Odontologia Legal – RBOL http://www.portalabol.com.br/rbol ISSN 2359-3466 _______________________________________________________________ Antropologia Forense DIMORFISMO SEXUAL DA VÉRTEBRA ÁXIS EM UMA COLEÇÃO OSTEOLÓGICA BRASILEIRA*. Sex dimorphism by the axis vertebra in a Brazilian osteological collection. Vanessa GERMANO1, Viviane ULBRICHT2, Cristhiane Martins SCHMIDT2, Francisco Carlos GROPPO3, Eduardo DARUGE JÚNIOR4, Luiz FRANCESQUINI JÚNIOR5. 1. Graduanda em Odontologia (iniciação científica) pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba-UNICAMP (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. 2. Doutoranda em Biologia Buco Dentária na Faculdade de Odontologia de Piracicaba-UNICAMP (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. 3. Professor Titular de Farmacologia e Chefe do Depto. das Ciências Fisiológicas Faculdade de Odontologia de Piracicaba-UNICAMP (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. 4. Professor Associado II de Odontologia Legal e Deontologia Livre Docente Faculdade de Odontologia de PiracicabaUNICAMP (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. 5. Professor Associado I de Odontologia Legal e Deontologia Livre Docente Faculdade de Odontologia de PiracicabaUNICAMP (FOP/UNICAMP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. * Trabalho fomentado por Bolsa de iniciação Científica PIBIC/CNPq/UNICAMP. _______________________________________________________________ Informação sobre o manuscrito Recebido em: 25 Set 2018 Aceito em: 13 Fev 2019 Autor para contato: Luiz Francesquini Júnior. Departamento de Odontologia Social (FOP/UNICAMP). Avenida Limeira, 901 Vila Areião. Piracicaba-São Paulo CEP: 13.414-903 Caixa postal 52. E-mail: francesq@unicamp.br. _______________________________________________________________ RESUMO O objetivo desse estudo foi verificar o dimorfismo sexual por meio de medidas lineares (Comprimento do corpo e processo odontóide, Comprimento do processo odontóide, Comprimento do forame vertebral, Largura do forame vertebral, Distância dos processos transversos, Distância do processo transverso esquerdo ao processo espinhoso, Distância do processo transverso direito ao processo espinhoso) da segunda vertebra cervical denominada de áxis. Para tanto foram analisadas 181 áxis, sendo 103 masculinas e 78 femininas, na faixa de idade de 22 a 85 anos, pertencentes ao “Biobanco Tomográfico e Osteológico Prof. Eduardo Daruge da FOP/UNICAMP”. Tais medidas foram feitas pelo paquímetro digital marca Stainless – hardned ® 150 mm Mauá – São Paulo, Brasil, após a calibração inter e intraoperador realizada por meio do teste de correlação intraclasse, teve como resultado o valor de 0,98 considerado excelente. Verificou-se que todas as medidas estudadas são dimórficas e foi possível estabelecer um novo modelo de regressão logística, a partir dos dados obtidos junto às ossadas. Concluiu-se que o modelo de regressão logística gerado – Germano Sexo = [- 22.7 + (0.16 × Comprimento do corpo) + (0.31 × Comprimento do forame vertebral) + (0.28 × Distância dos processos transversos)] – possui 72,4 % de acerto. PALAVRAS-CHAVE Antropometria, Vértebra cervical Áxis, Antropologia Forense, Modelos teóricos, Diferenciação sexual. Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019; 6(1):21-29 21 Germano V, Ulbricht V, Schmidt CM, Groppo FC, Daruge Junior E, Francesquini Junior L INTRODUÇÃO prontuários dos hospitais. Já os métodos A Antropologia permite o estudo de secundários são coadjuvantes para o seres humanos (vivos ou mortos, inteiros ou processo despojos), de estimar a ancestralidade, o sexo, a idade e mumificados, a estatura. Somado a este fato, a idade e a completamente ancestralidade permitem reduzir a amostra a em diferentes conservação putrefeitos, estados (frescos, semi ou 1 esqueletizados) . de identificação e permitem ser analisada pelos métodos primários o Sabe-se que o esqueleto humano se 5 que gera ganho em qualidade e tempo . desenvolve fazendo com que os mesmos, a Tais remanescentes cadavéricos depender da atividade física, apresentem também podem ser encontrados ao se algumas como analisar sepulturas comunitárias e também cristas, em situações diferenciadas da Medicina características, proeminências, rugosidades, apófises, saliências, comprimentos, entre outros, que podem (qualitativamente utilizados Desde o século passado, as quantitativamente) diferenças sexuais têm sido estudadas e para a caracterização do dimorfismo sexual. modelos matemáticos construídos visando Tais características são, em geral, determinar o sexo em ossadas e demais mais e/ou ser 6 Forense . proeminentes nos remanescentes esqueléticos. Ocorre que homens do que nas mulheres, nas quais as em geral tais estudos utilizaram populações características pouco miscigenadas (França, Alemanha, se e avantajadas apresentam mais 2 delicadas e menos salientes . Inglaterra, etc). Esta tendência de estudos e 3 Daruge et al. (2017) afirmaram que a diferença de tamanho entre o parâmetros, com o tempo, se espalharam sexo para a América do Norte, que também tem masculino e feminino está na proporção de população pouco miscigenada. Tem sido 8% maior para o sexo masculino quando demonstrado por muitos antropólogos que comparado com o feminino. Tal proporção essas permite em análise quantitativa estimar o específicas sexo em praticamente todos os ossos do precisam corpo humano. populações Com este conhecimento acumulado a 4 características da ser exibem população estudadas em todo variações e, portanto, para grandes o mundo, especialmente quando os resultados de Interpol (2014) estabeleceu os métodos de uma população são aplicados a outra identificação em primários e secundários. população similar . Os primários, permitem o estabelecimento 7 No Brasil, a miscigenação trouxe um da identidade e são eles a papiloscopia, o grande exame dentário e os exames de DNA, na diferenciados quanto ao sexo (10 a 20%), ordem crescente do menos oneroso para o podendo chegar até 30% . número de indivíduos pouco 8 mais custoso (tempo e valor monetário). Uma vez determinado o sexo, faz-se Inclui-se nestes as placas ortopédicas, que necessário verificar a ancestralidade, a contêm a numeração da fábrica estampadas idade e a estatura. A obediência a este nas peças e o registro desta numeração nos Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019;6(1):21-29 22 Dimorfismo sexual pela análise da vértebra áxis preceito pode prevenir a ocorrência de erros 5 na identificação antropológica . por meio de medidas lineares (Comprimento do Pode-se afirmar que os ossos da corpo e Comprimento processo do odontóide, processo odontóide, pelve, seguidos dos ossos do crânio, são os Comprimento do forame vertebral, Largura que apresentam caracteres qualitativos e do quantitativos (métricos) mais seguros para a processos determinação do gênero a que pertence processo transverso esquerdo ao processo uma determinada ossada. Já os ossos espinhoso, longos são em geral maiores nos homens e transverso direito ao processo espinhoso) menores da segunda vertebra cervical denominada nas mulheres, permitindo a 1 determinação da estatura e do gênero . forame vertebral, Distância transversos, Distância Distância do dos do processo de áxis. Bem como, criar um modelo de Além de se determinar o sexo em ossos, também é possível determiná-lo em regressão logística para estimar o sexo a partir desta vértebra. Tomografias Computadorizadas de Feixe Cônico (TCFC). As medidas antropológicas realizadas em MATERIAL E MÉTODOS imagens de Tomografia Trata-se de um estudo observacional Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) analítico transversal com base no Biobanco da mandíbula são dimórficas em uma Osteológico e Tomográfico Prof. Eduardo 9 população brasileira . Daruge da FOP/Unicamp de ambos os Independente da metodologia e/ou sexos, sendo 78 do sexo feminino e 103 do recurso utilizado, o grau de certeza e de sexo masculino, com idade entre 22 a 85 confiabilidade do modelo matemático criado anos. dependerá, leucodermas, dentre outros fatores, das No Biobanco há 27,81% 58,75% são de faiodermas, condições do material a ser examinado, tais 13,12% são melanodermas, e há um como ossada completa, em bom estado, xantoderma (0,32%). entre outros, bem como características medidas utilizou-se paquímetro digital de constitucionais precisão (marca Stainless – hardned® 150 dos mesmos (hipo e 10 hipermasculinos e o hipo e hiperfeminos) , da raça e idade 11 O estudo mm Mauá – São Paulo, Brasil). dos indivíduos a serem analisados. Para realização das Foram realizadas as seguintes medidas lineares em 181 vértebras áxis: da segunda vértebra Comprimento do processo odontóide (figura cervical (áxis), permite estimar o sexo em 1A), Comprimento do corpo + processo algumas situações onde grande parte do odontóide (figura 1B), Largura do forame cadáver carbonizou, chegando mesmo a vertebral calcinar. A escolha por realizar o presente forame vertebral (figura 1D), Distância entre estudo se deve ao fato da áxis ter forma os bastante sui generis, o que a torna de fácil Distância do processo transverso esquerdo localização em locais de crime. até o processo espinhoso (figura 1F), Em vista a estes fatos, o presente estudo buscou verificar o dimorfismo sexual (figura processos 1C), Comprimento transversos (figura do 1E), Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso (figura 1G). Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019; 6(1):21-29 23 Germano V, Ulbricht V, Schmidt CM, Groppo FC, Daruge Junior E, Francesquini Junior L Figura 1 – Mensurações feitas na vértebra áxis: Comprimento do processo odontóide (figura 1A), Comprimento do corpo + processo odontóide (figura 1B), Largura do forame vertebral (figura 1C), Comprimento do forame vertebral (figura 1D), Distância entre os processos transversos (figura 1E), Distância do processo transverso esquerdo até o processo espinhoso (figura 1F), Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso (figura 1G). Este estudo foi aprovado pelo comitê regressão logística utilizou-se o backward de ética em Pesquisa com seres humanos e stepwise – Wald. Também foram utilizados está em concordância com a resolução os testes de Hosmer & Lemeshow e de 466/12 Nagelkerke. com aprovação CEP/FOP/UNICAMP do 138/2014 CAAE RESULTADOS 38522714.6.0000.5418. Para poder promoveu-se a iniciar as Os testes de Kolmogorov-Smirnov e medições calibração inter e Levene mostraram que os dados intraexaminador, realizada por meio do teste apresentaram, de correlação intraclasse. Sendo realizada normalidade em três períodos de tempo diferentes em 25 homocedasticidade, sendo então aplicado o ossadas, com intervalo entre elas de um teste t de Student não pareado para mês. Obteve-se como resultado o valor de comparar os sexos considerando cada 0,98, considerado excelente. medida separadamente sendo que aquelas Findo esta etapa e devidamente calibrados foram medidas as demais vértebras até atingir 181 Áxis. Estas fazem parte do Biobanco Osteológico e Tomográfico Prof. Eduardo Daruge da FOP/Unicamp, com sexo, idade e ancestralidade conhecidas ante mortem. que não respectivamente, (após mostraram transformação) e homocesdaticidade foram corrigidas por Welch. As variáveis mostraram distribuição normal (p>0.05). A Tabela 1 mostra os valores das medidas observadas em função do sexo. Como se pode observar, todas as medidas foram maiores no sexo masculino do que no feminino. A Tabela 2 mostra a ANÁLISE ESTATÍSTICA Foi realizada correlação (teste de correlação de Pearson) análise dos dados utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov & entre as variáveis, considerando ou não os sexos. Levene e teste T não pareado. Para obter a Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019;6(1):21-29 24 Dimorfismo sexual pela análise da vértebra áxis Tabela 1 – Distribuição da média e desvio padrão das medidas realizadas. Medidas em mm Medidas realizadas Média (± erro padrão) Masculino Feminino (n=103) (n=78) Comprimento do corpo 39 (±0.25) 36.2 (±0.37) p <0.0001* Comprimento do processo odontóide 16.3 (±0.25) 15.3 (±0.24) 0.0049 Comprimento do forame vertebral 20.1 (±0.17) 18.9 (±0.16) <0.0001 Largura do forame vertebral 23.6 (±0.17) 22.8 (±0.16) 0.0008 Distância dos processos transversos Distância do processo transverso esquerdo até o processo espinhoso Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso * - com correção de Welch 40.6 (±0.32) 37.3 (±0.32) <0.0001 30.6 (±0.21) 28.7 (±0.17) <0.0001* 30.2 (±0.21) 28.5 (±0.17) <0.0001* Para observar dependência do o sexo em grau de Valores maiores que 0,5 (cutoff) relação às seriam considerados como “masculino” e medidas, foi calculada a regressão logística menores que 0,5, como “feminino”. (Forward Stepwise – Wald), considerando o Tabela 4 mostra a predição considerando sexo masculino como “1” e o feminino como essa relação. “0” para efeito do cálculo. A Essa tabela revela que o método, de para o ponto de corte de 0,5 – considerado acerto ao acaso, os dados revelaram uma como o ponto de equilíbrio do teste porcentagem de 56,9% de chance de diagnóstico acertar o sexo. A regressão revelou que o sensibilidade, 75,2% de especificidade e modelo 72,4% de acurácia. Considerando a composto probabilidade pelas medidas do – resulta em 68,4% de comprimento do corpo, comprimento do forame vertebral e da distância dos DISCUSSÃO processos transversos foi melhor (Qui- O estudo do sexo por meio de quadrado=40,7, p=0.0172) para predizer o vértebras deve ser sempre considerado pelo sexo do que o acaso. As outras medidas fato das mesmas estarem situadas no não foram importantes para o modelo interior do tórax, protegida por musculatura 2 (p>0.05). O R de Nagelkerke mostrou que e pele. Em situações onde a temperatura as variáveis são responsáveis por 39,4% da excedeu a 680ºC, por mais de quinze variação encontrada no sexo. Além disso, o minutos, os membros superiores e inferiores teste de Hosner e Lemeshow mostra que o carbonizam chegando mesmo a calcinar e modelo foi adequado (p=0.34). Esse modelo desintegrar, porém as vértebras resistem a é apresentado na Tabela 3. tal temperatura por um período maior de O logito obtido foi: Germano Sexo = [- 12 tempo . 22.7 + (0.16 × Comprimento do corpo) + Tanto na vértebra Atlas como na (0.31 × Comprimento do forame vertebral) + vértebra Áxis pode-se estimar o sexo e a (0.28 idade. A maturação vertebral cervical (CVM) × transversos)]. Distância dos processos tem potencial para estimar a idade como um novo método de análise da mudança de Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019; 6(1):21-29 25 Germano V, Ulbricht V, Schmidt CM, Groppo FC, Daruge Junior E, Francesquini Junior L forma durante a adolescência, idade adulta 13 e decrepitude . Tabela 2 – Distribuição dos valores de correlação de Pearson. Valores de rP (correlação de Pearson) Todos (Fem e Masc) Comprimento do processo odontóide (B) Comp. corpo 0.7 (p<0.0001) Comprimento do forame vertebral (C) 0.3 (p=0.0001) Largura do forame vertebral (D) 0.4 (p<0.0001) Distância dos processos transversos (E) 0.5 (p<0.0001) Distância do processo transverso esquerdo até o processo espinhoso (F) Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso (G) Fem. C D 0.2 (p=0.017 ) 0.2 (p=0.002 5) 0.3 (p=0.000 5) 0.5 (p<0.000 1) 0.2 (p=0.002 6) 0.3 (p<0.000 1) 0.4 (p<0.0001) 0.2 (p=0.001 8) 0.6 (p<0.000 1) 0.4 (p<0.000 1) 0.5 (p<0.000 1) 0.4 (p<0.0001) 0.3 (p=0.000 1) 0.5 (p<0.000 1) 0.4 (p<0.000 1) 0.5 (p<0.000 1) 0.1 (p=0.288 7) 0.2 (p=0.033 5) 0.2 (p=0.084 4) 0.4 (p<0.000 1) 0.1 (p=0.281 5) 0.3 (p=0.020 8) 0.2 (p=0.0749) 0.1 (p=0.417 2) 0.4 (p=0.000 1) 0.3 (p=0.002 7) 0.5 (p<0.000 1) 0.3 (p=0.0222) 0.3 (p=0.013 9) 0.5 (p<0.000 1) 0.4 (p=0.000 1) 0.4 (p=0.001 ) Comprimento do processo odontóide (B) 0.6 (p<0.0001) Comprimento do forame vertebral (C) 0.2 (p=0.1272) Largura do forame vertebral (D) 0.3 (p=0.0013) Distância dos processos transversos (E) 0.5 (p<0.0001) Distância do processo transverso esquerdo até o processo espinhoso (F) Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso (G) Comprimento do processo odontóide (B) Comprimento do forame vertebral (C) Largura do forame vertebral (D) Masc. B Distância dos processos transversos (E) Distância do processo transverso esquerdo até o processo espinhoso (F) Distância do processo transverso direito até o processo espinhoso (G) E 0.7 (p<0.0 001) 0.2 (p=0.0 927) 0.3 (p=0.0 052) 0.3 (p=0.0 03) 0.1 (p=0.221 2) 0.1 (p=0.130 5) 0.2 (p=0.057 9) 0.4 (p<0.000 1) 0.1 (p=0.535 3) 0.2 (p=0.025 5) 0.3 (p=0.0 075) 0.2 (p=0.043 6) 0.6 (p<0.000 1) 0.4 (p=0.000 1) 0.4 (p=0.000 1) 0.3 (p=0.0 032) 0.2 (p=0.025 1) 0.4 (p<0.000 1) 0.3 (p=0.001 7) 0.4 (p<0.000 1) Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019;6(1):21-29 F 0.7 (p<0. 0001) 0.6 (p<0. 0001) 0.6 (p<0.000 1) 26 Dimorfismo sexual pela análise da vértebra áxis Tabela 3 – Distribuição de valores Beta, erro padrão, Wald, Valor de P das medidas realizadas. Beta Erro padrão Wald Valor de p Exp(Beta) Comprimento do corpo 0.16 0.07 5.4 0.0204 1.17 Comprimento do forame vertebral 0.31 0.11 8.0 0.0047 1.37 Distância dos processos transversos 0.28 0.07 16.8 <0.0001 1.33 Constante -22.7 3.7 37.5 <0.0001 1.4x10 -10 Tabela 4 – Distribuição da predição do modelo obtido. Predição pela fórmula Feminino Masculino Percentagem correta Feminino 54 26 66.7 Masculino 24 79 76.7 Percentagem geral correta 72.4 Sexo real A estimativa de idade é necessária de acerto de 92,9%. Ressaltaram que a em casos forenses, onde crianças sem vértebra Áxis é parte da coluna cervical e documentação nascimento) apresenta seu crescimento tardio em altura precisam de uma estimativa para poder vertebral além de possuir maior diâmetro (registro de 14 obtê-las. Ainda, segundo Mânica (2018) , há diferentes metodologias de estimativa de idade utilizando Em esqueletos humanos danificados parâmetros não identificados, o estudo da vértebra áxis físicos, o que têm auxiliado a Ciência permitiu estabelecer o sexo com precisão de Forense nos últimos anos. 83% em amostra de população inglesa . Semeunka diferentes transverso no sexo masculino. et 17 al. (2017) 15 Marlow, Pastor (1981) 18 estudando o descreveram parâmetros morfológicos das dimorfismo sexual na Áxis em Espanhóis de vértebras cervicais C1 e C2 em imagens Barcelona, axiais de tomografia computadorizada por medidas feixe cônico (TCFC), verificando tendência obtiveram grau de acerto de 83,3%. de fusionamento da sincondrose subdental verificaram estudadas que são Gama et al. (2015) todas dimórficas 19 as e estudaram a nas fases de maturação e finalização, vértebra Áxis e obtiveram assertividade com ocorrendo em 90% e 66,6% dos casos, o modelo Forwad de 89,7%, em uma respectivamente, podendo contribuir para amostra de 190 indivíduos da Coleção de casos forenses de estimativa da idade. Esqueletos Torimitsu 16 et al. (2016) realizaram Identificados do Museu Antropológico de Coimbra. estudo para determinar o sexo pela vértebra Verificou-se que todas as medidas Áxis, em amostra homogênea de japoneses estudadas são dimórficas, porém, como foi (sem nenhuma miscigenação), obtendo grau listado pela Tabela 2, embora algumas Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019; 6(1):21-29 27 Germano V, Ulbricht V, Schmidt CM, Groppo FC, Daruge Junior E, Francesquini Junior L correlações tenham sido fracas (rP<0.4), Há agora a necessidade de se validar verificou-se que houve correlação entre o modelo criado no presente estudo visando todas as medidas. Estas relações foram verificar se o grau de acerto se repete em pouco afetadas pelo sexo. outras amostras. No presente estudo obteve-se grau de acerto de 72,4%, um pouco menor que os resultados obtidos pela literatura já CONCLUSÃO Verificou-se que as medidas citada. Tal fato pode ser explicado pela realizadas são sexualmente dimórficas e foi grande miscigenação ocorrida em nosso possível criar um modelo de regressão país nos últimos 518 anos. logística para estimar o sexo [Sexo = - 22.7 A miscigenação gera um número + (0.16 × Comprimento do corpo) + (0.31 × maior de indivíduos pouco diferenciados o Comprimento do forame vertebral) + (0.28 × que acaba por reduzir o grau de acerto. Distância dos processos transversos)]. 1 O Coma (1999) aponta uma margem de 10% método quantitativo desenvolvido resulta em a 20% de indivíduos pouco diferenciados na 72,4% de acurácia. 8 população mundial. No Brasil, Silva (1997) AGRADECIMENTO relata índice de até 30%. O modelo de regressão logística Os autores agradecem ao Sr. João criado com as medidas realizadas em Leite pela dedicação na estruturação e amostra nacional pertencentes ao Biobanco preparo das ossadas que compõem o é eficaz para a estimativa do sexo em um Biobanco Osteológico e Tomográfico Prof. país miscigenado como o Brasil e, portanto, Eduardo Daruge da FOP/Unicamp. mais eficaz na predição do sexo do que o mero acerto ao acaso. Agradecem, PIBIC/CNPq/UNICAMP ainda, pelo auxílio ao de Bolsa de iniciação científica recebida. ABSTRACT The objective of this study was to verify the sexual dimorphism through linear measurements (length of the body and dentinoid process, length of the dentinoid process, length of the vertebral foramen, width of the vertebral foramen, distance of the transverse processes, distance from the left transverse process to the spinal process , Distance from the right transverse process to the spinous process) of the second cervical vertebra known as the Áxis. For this purpose, 181 Axioms were analyzed, of which 103 were male and 78 were female, in the age range of 22 to 85 years, belonging to the "Tomographic and Osteological Biobank Prof. Eduardo Daruge of FOP / UNICAMP ". These measurements were made by the stainless - hardned ® digital pachymetro 150 mm Mauá - São Paulo, Brazil, after the inter and intra - operator calibration performed through the intraclass correlation test, resulting in a value of 0.98 considered excellent. It was verified that all the measures studied are dimorphic and it was possible to establish a new model of logistic regression, based on the data obtained from the bones. It was concluded that the logistic regression model generated Germano Gender = [- 22.7 + (0.16 × Body length) + (0.31 × Vertebral foramen length) + (0.28 × Distance of transverse processes), with 72.4% of hit. KEYWORDS Anthropometry, Axis Cervical Vertebra, Forensic Anthropology, Theoretical Models, Sex differentiation. Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2019;6(1):21-29 28 Dimorfismo sexual pela análise da vértebra áxis REFERÊNCIAS 1. Coma JMR. Antropologia forense. 2ª ed. Madrid: Ministério de Justicia, Centro de Publicaciones; 1999. 2. França G. Medicina legal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. 3. Daruge E, Daruge Jr E, Francesquini Jr L. Tratado de odontologia legal e deontologia. Rio de Janeiro: Gen/Santos; 2017. 4. Interpol. Disaster victim identification guide. Lyon: Interpol; 2014. 5. Francesquini Júnior L, Francesquini MA, De La Cruz BM, Pereira SD, Ambrosano GM, Barbosa CM, et al. Identification of sex using cranial base measurements. J Forensic Odontostomatol. 2007; 25(1): 711. 6. Graw M, Wahl J, Ahlbrecht M. Course of the meatus acusticus internus as criterion for sex differentiation. Forensic Sci Int. 2005; 147(2-3): 113-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.forsciint.2004.08. 006 7. Iscan MY. Forensic anthropology of sex and body size. 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