Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
T U R IS M O R U R AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA FARM TOURISM The rural Farms viability in the municipal District of Soure e Salvaterra – Marajó Island-PA Analaura Corradi1 Antonio Cordeiro Santana2 Luiza Azevedo Luíndia3 Resumo: Analisa-se a perspectiva do turismo rural como viabilidade de negócios nas quatro fazendas: Bom Jesus; São Jerônimo, Araruna, Sanjo, município de Soure e Nossa Senhora do Carmo, município de Salvaterra, Ilha do Marajó – Pará. A proposta delimita as potencialidades e ameaças recorrentes à inclusão do turismo como agente promotor do desenvolvimento local. Assim discorre-se sobre o turismo suas dimensões e suas implicações de aplicabilidade na Amazônia através do segmento turismo rural no contexto de que mesmo com planejamento pode promover seu desenvolvimento e sustentabilidade. Palavras chave: Turismo. Turismo rural. Desenvolvimento. Sustentabilidade. Marajó/PA Abstract: In this paper we analyse the farm-tourism as business viability at five farms: Bom Jesus, São Jerônimo, Araruna, Sanjo, at Soure Municipal district and Nossa Senhora do Carmo, at Salvaterra municipal district, in the Marajó Island – State of Pará. It proposes ‘sets the limits of the potentials and threats regarding the inclusion of the Tourism as an agent to promote the local development. In this light, this paper discusses Tourism and its applicabilitydimensions and implications in the Amazon through farm tourism sector in a context through which the planning may promote its development and sustainability. Key-words: Tourism. Farm-Tourism. Development. Sustaintability. Marajó-PA 1 Analaura Corradi – é Bacharel em Comunicação Social pela UCPEL (1980) e Mestre em Letras: Lingüística e Teoria Literária pela UFPA (1998). Atualmente é professora da Unama nos níveis de graduação e pós graduação, assim como professora de pós graduação da FAZ. 2 Antonio Cordeiro Santana – é Bacharel em Agronomia pela UFCE (1983), Mestre em Economia Rural pela UFCE (1987) e Doutor em Economia Aplicada pela UFV (1993). É professor Associado II da UFRA e atua no ensino e orientação nos cursos de graduação (Agronomia, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária e Zootecnia) e pós-graduação (Mestrado em Ciências Florestais e Doutorado em Ciências Agrárias). 3 Luiza Azevedo Luíndia – é Bacharel em Comunicação Social pela UFAM (1981), Mestre em Administração pela UFPB (2000) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela UFPA (2005). É professor titular da UFAM. É Tutor do Programa de Educação Tutorial do Grupo de Comunicação Social da UFAM- PETCom desde 2006. 1 ANALAURA CORRADI et AL. INTRODUÇÃO No contexto governamental, o turismo rural insere-se no Plano Nacional de Turismo PNT, desde sua versão 2003/2007, e atua através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA para estimular o Programa Nacional de Agricultura Familiar – PRONAF, resultando no Programa de Turismo Rural na Agricultura Familiar. O programa busca promover as diretrizes de desenvolvimento e sustentabilidade. Conforme Pires (2001), o desenvolvimento do turismo rural é promissor, uma vez que no espaço brasileiro há fatores importantes, como extensão territorial, diversidade de ambientes naturais e matizamento cultural. Segundo o autor, o turismo rural, ao explorar os atributos de singularidade e diversidade fornece suporte a condições promissoras ao seu desenvolvimento. No estado do Pará, o desenvolvimento do turismo se apoia nos elementos ligados à estrutura de ecossistemas da floresta para fomentar a utilização intensiva do patrimônio natural, buscando estabelecer a sustentabilidade e, ao mesmo tempo, valorizar os aspectos culturais e sociais regionais. Para tanto, apresenta como potenciais os segmentos do turismo de aventura, agroturismo e, especificamente, o rural. Oficialmente, as ações de turismo rural no Pará estão delimitadas no Programa de Turismo Estadual – PET, conhecido como Projeto Beija Flor, que divide o estado em seis polos de desenvolvimento. Um destes é o polo Marajó, cujo segmento rural está desenhado no Programa de Diversificação da Oferta Turística – PDOT 2000 – realizado em parceria entre Governo do Estado, através da Paratur, Sebrae/PA e Consultoria Espanhola. jornadas e o engajamento na conservação de animais silvestres, contemplação da natureza e visitação em sítios 4 arqueológicos e museus vivos . O documento enfatiza, ainda, como municípios impulsionadores da implantação das atividades de turismo rural, a ilha do Marajó, Soure e Salvaterra, ao considerar a localização e a relação de acesso entre estas cidades e a capital. Salienta, também, o fato de algumas fazendas desta região já estarem explorando produtos turísticos, com visitação. Contudo, é enfático ao afirmar ser necessária uma redefinição de infraestrutura, adequação de equipamentos e capacitação de recursos humanos. Outro ponto mencionado é a proposta da criação de Conselhos Municipais de Turismo (CMT) e de um Comitê Regional de Desenvolvimento Turístico (CRDT) como apoio aos cursos de capacitação, gerenciamento e prestação de serviço para os empreendedores e colaboradores. TURISMO RURAL NO MARAJÓ O PDOT do Polo Marajó cadastrou inicialmente, quatroze empreendimentos e segmentos de apoio ao turismo rural dos quais, desde 2009, apenas cinco estão em atividade. Estes se constituem no objeto de estudo: quatro na área de Soure – Fazendas São Jerônimo, Bom Jesus, Sanjo e Araruna – e uma em Salvaterra, a Fazenda Nossa Senhora do Carmo conhecida como Carmo/Camará. Em relação à localização das quatro fazendas situadas em Soure, três estão dentro da área urbana, possibilitando, desse modo, maior disponibilidade do produto turístico. A única localizada em Salvaterra se encontra distante da sede municipal. O mencionado programa destaca como possibilidades de atrativos o manejo das montarias de búfalos e dos cavalos 4 Museus vivos: Criados para apresentar em espaço marajoaras, a convivência com cerimônias delimitado as características da região salientando aspectos da natureza com seu complexo de flora e e ritos de influência índigenas, assim como fauna, assim como apresentações de tradições o envolvimento com a cultura extrativista e culturais destacando-se o carimbó, entre outros ritmos a pesca artesanal. Ressalta, também, as musicais. 2 T URISM O RUR AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA Este artigo analisa a viabilidade das atividades de turismo rural nas fazendas acima mencionadas. Entende-se a viabilidade a partir da visão de Azevedo Luíndia (2007), ao declarar que a mesma é uma condição aliada tanto a fatores externos – permeados pelas condições política e econômica – quanto a fatores internos, estes relacionados à estrutura, ao desenho e ao desempenho econômico e mercadológico de cada produto. Desta forma os produtos turísticos para garantir a viabilidade devem estabelecer a forma equilibrada de transpor as tensões e conflitos da região Amazônica na busca dos benefícios locais. Azevedo Luíndia (2007) reforça ainda que as atividades turísticas, independente dos segmentos, devem perseguir o respeito à natureza, aos ambientes e ao saber local/cultural. Caso estas condições sejam efetivadamente trabalhadas, as mesmas podem fazer do turismo uma atividade lucrativa e duradoura, fundamentada nas bases de sustentabilidade econômica, ambiental, sociocultural e étnica das populações. No Marajó, o enfoque da análise são as características da pecuária, dos ribeirinhos, dos pescadores tradicionais e dos vaqueiros. Para se efetivar o objetivo, escolheram-se as categorias: logística, aspectos socioculturais, econômicos e mercadológicos. Nos aspectos econômicos, a análise se baseou em percentuais de tempo de atividade e a média de fluxo turístico, bem como atrativos utilizados para formatar a atratividade. Nos aspectos socioculturais partiu-se dos elementos de relações trabalhistas, de capacitação e treinamento ao mesmo tempo interligados aos processos de gestão de cada empreendimento. No foco cultural, procurou-se a utilização dos atrativos históricos e culturais como elementos promotores da cada especificidade rural. Em temas de políticas públicas se verificou a intervenção dos poderes nos três níveis e as parcerias com instituições acadêmicas, de fomento e de apoio técnico. No tocante aos cuidados ambientais analisou-se desde a identificação dos tipos de construção, uso de energia alternativa, tratamento de resíduos, reciclagem de água, até os programas de manejo e reflorestamento. Por fim, aplicou-se aos fatores uma análise SWOT, para se obter uma sumarização das similitudes e diferenças entre os empreendimentos. ANÁLISE DOS DADOS Destaque-se que as propriedades envolvidas no segmento turismo rural, historicamente, são fazendas de pecuária, com a complementariedade do setor agrícola direcionado praticamente ao extrativismo. A mais antiga é a fazenda do Carmo/Camará (Salvaterra) com 126 anos, sob o domínio na familia Dias, e atua com o turismo rural há16 anos. As fazendas localizadas em Soure, como a Sanjo, têm 40 anos de atividades primárias e seis de turismo; a Araruna tem 60 anos com pecuária e 10 de turismo rural e a São Jerônimo existe há 40 anos, indicando como atividade primária a agricultura, com produção de coco. Nesta, a inclusão no turismo foi induzida quando seu espaço foi alocado para a produção do programa de televisão – reality show de aventura da 5 Rede Globo – No Limite , em 2001. Já a Bom Jesus existe na área de pecuária e agricultura há 60 anos e desenvolve visitações turísticas há 13 anos. No fator logístico, as dificuldades se concentram no acesso à ilha, realizados prioritáriamente por via rodo-fluvial, totalizando um percurso médio de quatro horas, seja por balsas ou barcos. Ambos são serviços oferecidos por concessionárias privadas, que recebem subsídio dos governos municipal, estadual e federal, na medida em que o pequeno número de turistas e/ou passageiros não 5 Terceira temporada do reality show estreou em outubro de 2001, na ilha do Marajó (PA) mostra uma competição de 12 participantes em situações de resistência e adaptações fisicas e psicológicas. 3 ANALAURA CORRADI et AL. proporcionam capital suficiente para suprir os encargos financeiros e adminstrativos. A questão logística bem como as condições climáticas da região afetam consideravelmente a taxa de ocupação dos empreendimentos de acordo com as Tabelas 1 e 2 a seguir: Tabela 1 – Média de porcentagem taxa de ocupação (de dez. a junho - baixa temporada) Fazendas Dez Jan Fev Mar Abril Maio Jun Total(%) Bom Jesus* 10 10 10 10 10 10 15 12,14 São Jerônimo 10 10 10 10 10 10 10 10 Araruna 100 100 5 5 5 5 5 32,14 Sanjo 30 20 20 20 20 20 25 22,14 Carmo 30 20 20 20 20 20 20 21,42 Total 36 32 13 17 17 17 15 21 Fonte: Pesquisa de Campo- Corradi (2007/2009) * analisado como visita. Tabela 2 – Média de porcentagem da taxa de ocupação (de julho a novembro - alta temporada) Fazendas Julho Agosto Set Nov Out Nov Total (%) Bom Jesus* 100 100 100 80 50 10 73,33 São Jerônimo 80 80 50 50 20 20 50 Araruna 100 100 80 5 5 5 49,16 Sanjo 100 100 100 80 80 80 90 Carmo 100 100 100 80 80 80 90 Total 96 96 86 59 47 39 70,49 Fonte: Pesquisa de Campo- Corradi (2007/2009) * analisado como visita. No Marajó, essencialmente, a oferta do segmento turismo rural busca se diferenciar ao proporcionar a proximidade do contato do turista com a vida no campo. Esta exposição sofre significativas interferências pelas condições climáticas regionais, que se alteram de maneira contundente durante as duas estações do ano conhecidas como: verão, considerada a alta estação e o período de secas (julho/novembro); inverno, denominada de baixa estação e período de chuvas (dezembro/junho). As referidas incidências climáticas afetam também os índices das taxas de ocupação das fazendas pesquisadas conforme Tabela 3. Tabela 3 – Média de taxa de ocupação (altas e baixas temporadas - 2008) Fazendas Baixa temporada (%) Bom Jesus* Alta Média temporada (%) Anual (%) 12,14 73,33 42.73 10 50 30 Araruna 32,14 49,16 40.65 Sanjo 22,14 90 56,07 Carmo/Camará 21,42 90 55,77 São Jerônimo 4 T URISM O RUR AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA Fonte: dados obtidos em pesquisa de campo (2007/2009). * considerado apenas as visitas. A taxa de ocupação média anual das fazendas, de acordo com a Tabela 3, é superior a 30% em seu valor mínimo; de 56% no seu valor máximo Na alta temporada os percentuais de ocupação atingem uma média 70%, considerando-se todas as fazendas; e nos meses de baixa temporada, o inverno/chuvas, de dezembro a junho, a média de ocupação de cinco fazendas é de 21%. Explica-se que as irregularidades de acesso, acrescidas pelas dificuldades decorrentes no período de chuvas/inverno e níveis de maré resultam no fato da maioria dos empreendimentos ficarem isolados favorecendo, portanto, um declínio no fluxo de turistas na região. Vale mencionar que as duas fazendas, Sanjo (Soure) e Carmo/Camará (Salvaterra) enfrentam, além da ineficácia da interligação prioritária, mais um deslocamento fluvial, considerando-se a distância entre as fazendas e as sedes municipais. Para preencher a lacuna do acesso deficitário, possuem embarcações próprias atendendo sua demanda especificamente. Em relação aos atrativos, os mesmos se voltam aos elementos ecológicos e culturais (Quadro 1): Quadro 1 – Atrativos das Fazendas de Turismo Rural do PDOT- Pólo Marajó Atrativos Bom Jesus São Jerônimo Araruna Sanjo Carmo 1- Flora e fauna E E E E E 2-Observação etnobotânica E E E E E 3-Focagem de animais - - - E E 4-Pesca artisanal - - - - E 5-Montaria de gado E E E E E 6-Cavalgadas - E E E E 7-Passeio de charretes- - E E E E - E E E E 9-Visita queijaria - - - C - 10-Visita arqueológica - - - C C 11-Museus indígenas - - - C C 12-Réplica cemitério indígena - - - C C 13-Museu de arte sacra C - - - - cavalos/búfalos 8-Passeio fluvial Canoa/barco Fonte- Dados obtidos em pesquisa de campo- Corradi (2007/2009) Legenda: E – turismo ecológico e C – turismo cultural, (-) - Não há atividade. Aproveitando, portanto a origem pecuária e agrícola, as fazendas rurais disponibilizam passeios de montarias, a pé, por cavalos, por gado bovino ou bubalino, além de passeios fluviais em variados tipos de embarcações regionais, conhecidas como 6 casco, popopo locais. e outras denominações Das treze atividades relacionadas, 62% têm ênfase ecológica, enaltecendo o ecossistema do arquipélago do Marajó; 38% cultural. Apesar das atrações culturais 6 Popopo: Embarcações equipadas com motores de baixa potência, consideradas típicas e tradicionais da região e que apresentam capacidade de lotação limitada. 5 ANALAURA CORRADI et AL. ofertarem pratos típicos, exposição e comercialização de peças artesanais representativas da cultura indígena e cabocla e até visita a sitios arqueológicos, registra-se fragilidade nos atrativos culturais dos empreendimentos. Os mesmos necessitam de uma revitalização, principalmente no que se refere à memória oral, através de ‘performances’ para privilegiar as tradições e costumes locais por meio dos contos, mitos e lendas. Na dimensão ambiental, todas as fazendas, independente das atividades turísticas, já atuavam na preservação dos bens naturais, tendo como suporte os convênios junto aos orgãos ambientais. Os programas visam à preservação de áreas naturais como manejo, reflorestamento e cuidados com os animais silvestres sejam os nativos de cada área das respectivas fazendas ou os animais apreendidos em operações de fiscalização na região. Nas fazendas as construções se constituem dos elementos tradicionais das sedes originais, não apresentando preocupações de preservação da circulação climática, para minimizar os efeitos por si. Não há também quaisquer ações ligadas ao uso de energia alternativa (solar e/ou eólica), sendo que apenas a Fazenda Sanjo e a Carmo Camará se mostram inclinadas a fazer utilização das mesmas. Empreendimentos Nenhum dos empreendimentos apresenta programa sistematizado de rudimentar, reaproveitamento das águas ou tratamento de resíduos sólidos. Este último é com os procedimentos de enterrar o lixo não orgânico após processo de queima Sobre fatores socioculturais, um ponto registrado é o entrave da locação de mão de obra, pois todas as fazendas têm origem nas atividades pecuárias e, por conseqüência, um deslocamento de ações dos funcionários para atividades turísticas. Esses funcionários, em sua maioria originária dos setores primários, estão alocados com carteiras assinadas e nos períodos de alta temporária há contratação de serviços esporádicos sem os registros trabalhistas legais. Diante deste contexto, observa-se que não houve uma política de treinamento ou capacitação sistematizada para a formação de profissionais ligados às atividades turísticas. Registram-se ao longo do período de 2000 até 2009 alguns passos factuais e não contínuos sobre o assunto, envolvendo manisfestações deliberadas do Sebrae/PA em parcerias com os poderes municipais e estadual. Não há investimento em treinamentos, somente orientações entre os proprietários e seus funcionários, o que implica no amadorismo das atividades. Este fato repercute sobremaneira na rentabilidade do turismo rural nas fazendas (Quadro 2): Quadro 2 – Rentabilidade das atividades Atividades desenvolvidas Pecuária Agrícola Turismo F. Bom Jesus P S - F. S.Jerônimo S S P* F. Araruna S S P F. Sanjo S NT P F. do Carmo P NT P Fonte- pesquisa de campo-Corradi (2007/2009)/ Legenda: P – Principal; S- Secundária; NT- Não tem valor comercial.* combinada com aposentadoria dos proprietários 6 T URISM O RUR AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA Vale salientar que os depoimentos dos proprietários contradizem as condições da rentabilidade observadas na pesquisa de campo. Pelos dados obtidos junto aos proprietários, nos cinco casos haveria três incidências de o turísmo ser a atividade principal, na rentabilidade das fazendas. agricultura; não haveria rentabilidade para o setor turismo. Em síntese, a atividade turística não chega a ser nem complementar, reforçada pela declaração da proprietária ao apontar que o turismo para ela é apenas um ‘hobby’. Percebe-se que 100% das fazendas rurais pesquisadas não têm apoio institucional, apesar de serem os atores pioneiros do pólo Marajó de turismo rural. Em aspectos de políticas públicas, registra-se a ausência de influência de ações indicadas por políticas públicas em todas as fazendas. Neste item nota-se pouca eficácia do setor de turismo rural, principalmente no tocante aos seguintes componentes: apoio de fomento, apoio institucional de promoção e divulgação, apoio à logística e capacitação como se descreve em cada um dos casos objetos. Esse conjunto de elementos pode limitar as condições mercadológicas dos empreendimentos. Na coleta dos dados se verificou que os indicativos de rentabilidade somente se dão para a do Carmo/Camará, quando a referida apresenta indíces similares entre as atividades de turismo e pecuária. A Sanjo não considera a pecuária como sua atividade primária, mas seus resultados indicam complementabilidade entre a atividade turística e a pecuária. Já a São Jerômino apresenta um quadro precário tanto nas atividades de agricultura e pecuária como em turismo. Por sua vez, a Araruna indica gestão disassociada entre as atividades de pecuária e agricultura controlada pelo pai da proprietária, da atividade de turismo administrada pela mesma. A pesquisa de campo constatou que os aspectos mercadológicos nos itens de divulgação e promoção são, na maioria, compostos de enfoques individualizados e realizados pelas próprias fazendas rurais (Quadro 3). Ambos afirmam não haver correlação de rentabilidade financeira nas duas atividades. Já a Bom Jesus indica que sua principal renda é a pecuária, seguida pela Quadro 3 – Esquema de promoção das fazendas Instrumentos promoção Bom São Araruna Jesus Jerônimo Sanjo Carmo boca a boca X X X X Folder - X X X X Site - X - X -* Citações na web X X X X X X Fonte – Dados obtidos em pesquisa de campo- Corradi (2007/2009) Em relação à promoção, o órgão estadual, a Paratur, divulga em suas campanhas a ilha do Marajó como um todo, isso é, os ecossistemas do arquipélago, salientando suas características gerais, sem, contudo, nomear os cinco empreendimentos. Neste contexto, percebe-se que esta ausência prejudica a divulgação, tanto as fazendas rurais atuante no turismo rural, como do Estado do Pará e sua região marajoara. Em nenhum momento as fazendas e os poderes públicos apresentam interfaces de ações cooperativas na busca de promoção local ou mesmo regional, para enfatizar ou implementar um maior fluxo de turistas para a ilha do Marajó. Sistematizou-se os dados referentes aos aspectos da logística de acesso, os socioeconômicos e os mercadológicos, de acordo com Quadro 4, para se apontar a 7 ANALAURA CORRADI et AL. viabilidade das fazendas rurais pesquisadas. Quadro 4 – Síntese de viabilidade dos empreendimentos Empreendimentos Logística Socioeconômicos Mercadológico F. Bom Jesus Proximidade de Pouca articulação com Menor divulgação, acesso parceiros municipais promoção e parceria Proximidade de Pouca articulação com Menor divulgação, acesso parceiros municipais promoção e parceria Proximidade de Pouca articulação com Menor divulgação, acesso parceiros municipais promoção e parceria Acesso distante e Articulações e Maior divulgação, fluvial próprio parcerias internacionais promoção Acesso distante e Articulações e Maior divulgação e fluvial próprio. parcerias nacionais promoção F. São Jerônimo F Araruna F. Sanjo F. Carmo/Camará Pista pouso própria. Fonte- dados obtidos em pesquisa de campo – Corradi ( 2007/2009). Reavaliando todos os empreendimentos, se nota que eles apresentam uma fragilidade no aspecto de logística, pela capacidade de acesso com interferências do sistema disponível de prestação de serviços, influências climáticas e de marés, e suas consequências em termos de vencer as distâncias entre a capital do Estado, as sedes municipais e as próprias fazendas. Nos aspectos socioeconômicos há ausência de articulações e parcerias municipais, sejam para facilitações nas condições de melhoria da infraestrutura para prestação de serviços e produtos ligados ao segmento de turismo rural. Salienta-se, também, que não há parcerias e articulações em ações específicas para capacitação e treinamento visando obter uma mão de obra especializada para atender a demanda e à oferta dos serviços e produtos do turismo rural no Marajó. Relacionado aos aspectos mercadológicos os elementos de promoção e divulgação, não contam com o apoio institucional. A Paratur, por exemplo, não estabelece no arquipelago um foco publicitário voltado ao segmento turismo rural. DISCUSSÃO De modo geral, os empreendimentos mais estruturados e agregados às características de turismo rural são as fazendas Sanjo e Carmo/Camará, com médias de taxa de ocupação de 55,71% e 56,07%, respectivamente. Dentre os cinco casos estudados, três deles – as fazendas Bom Jesus, São Jerônimo e Araruna – apresentam amenores viabilidades turísticas. Detêm uma restrita ação de promoção/ divulgação e também uma limitada ação de parceria, não envolvendo os demais empreendimentos do setor turístico de Soure e Salvaterra. Estas limitações e entraves podem, de certa forma, reduzir a viabilidade das atividades de turismo rural nos empreendimentos. Mercadologicamente, se destaca a Fazenda Sanjo com articulações 8 T URISM O RUR AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA e parcerias atravês dos componentes promoção e divulgação em nível internacional. Com isso, obtém maior visibilidade na cadeia produtiva do turismo rural. Por exemplo, a Fazenda do Carmo/Camará mantém articulação e parceria com agências e operadores nacionais, enquanto os outros três empreendimentos mantêm articulações e parcerias limitadas a empreendimentos do setor turístico dos municípios de Soure e Salvaterra. orgãos responsáveis pelo fomento do turismo. Deste modo, cada um dos empreendimentos se afasta do desenvolvimento local – geração de emprego e cuidados ambientais – e se volta à rentabilidade individual. Nota-se, ainda, que a viabilidade dos cinco empreendimentos de turismo rural no Marajó Oriental dependem de uma melhor eficácia das políticas públicas, principalmente no item infraestrutura de logística.Também são fundamentais ações de capacitação especializada para o setor turístico rural, salientando o incentivo de preservação dos aspectos históricos e socioculturais da região. REFERÊNCIAS É pertinente focar que algumas fazendas podem alcançar condições de viabilidade da atividade de turismo rural desde que se tenha o fomento e apoio técnico do governo e dos órrgãos responsáveis. AZEVEDO LUÍNDIA, L. Ecoturismo Indígena. Quito (EC): Abya-Yala, 2007 _______ Ecoturismo de Experiências Grupos indígenas: Sustentáveis? Tese. Programa de Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido- Núcleo de Altos Estudos Amazonicos- NAEA – UFPA, Belém, 2005. BRASIL - Ministerio do Desenvolvimento Agrário – CONSIDERAÇÕES Programa O debate sobre o turismo rural no Marajó, especificamente nos emepreendimentos analisados, implica em declarar que as atividades realizadas no contexto de turismo rural ainda são amadoras, com baixa rentabilidade, não chegando a se constituir em atividade complementar aos setores de pecuária e agricultura. O discurso governamental apregoado no PDOT, no que se refere aos itens de promoção e incentivo do turismo rural como elemento impulsionador dos setores da economia informal na vertente do desenvolvimento local, não se manifesta de maneira eficaz. Em síntese, há uma ausência de integração entre as fazendas e o poder público, bem como com os órgãos de fomento turístico – Paratur e academia – que não se articulam na velocidade ideal para atender à demanda crescente de turistas. Assim, os aspectos mercadológicos ficam debilitados, pois as ações são mínimas tanto por parte das fazendas como dos de Agricultura Turismo Familiar, Rural Na Secretaria de Agricultura Familiar Brasilia 2004. BRASIL - Ministério do Turismo – Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural No Brasil, Secretaria de Políticas de Turismo 2004. BRASIL - Ministério do Turismo – Marcos conceituais –Segmentação do TurismoSecretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Brasília, 2004. CORRADI, A. O turismo rural como oportunidade de negócios no marajó Ocidental –Soure e Salvaterra. Tese Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA/PA, 2009. EMBRATUR. Empresa Brasileira de Turismo Estatísticas. Disponível http://www.embratur.gov.br/ estatistica Acesso em 20 jan. 2007. _______Boletim de desempenho econômico do turismo 2006. Disponível em http://www. embratur. gov.br/portalbrasileirodoturismo . Acesso em 21 jan.2007. 9 ANALAURA CORRADI et AL. ESTATÍSTICA Básica do turismo. Disponível em: PIRES P. S. A paisagem rural como recurso turístico. http://www.braziltour.com/site/arquivos/d In Rodrigues, A. B. ( org) Turismo Rural. ados_fatos/pesquisaanual/marco2007 São Paulo: Contexto, 2001, p. 117-132. ano iii, n.o 3, 3ª edicão. Acesso em 09/02/2008. Amazônia IBGE.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Conceitos Disponível http://www.ibge.gov.br. em Acesso em 24 fev.2007. Estado do Pará. Disponível em <http://www.paratur.gov.pa> Acesso em 10. set. 2007. no Brasil. In http://www.braziltour.com/site/arquivos/dado (pesquisa sil_2002_a_2006_22nov07.pdf, . Acesso em SEBRAE/PA e FUNPEA - Projeto 30- Turismo do Marajó (Relatório de Gestão) Gestão Estratégica Orientada por Resultados – dezembro de 2006. SEBRAE/PA e Prefeituras Municipais de Soure e Demanda e Oportunidade do Polo Turístico Marajó, novembro 2003. do Macro Turismo Mundial in http://www.braziltour.com/site/arquivos/dado s _fatos/tendencias_macro_do_turismo_mund ial.pdf. Acesso em 09/02/2008. 10 T URISM O RUR AL A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra Ilha do Marajó – PA View publication stats de por Resultados GEOR – março de 2006. TENDÊNCIAS s_fatos/estatisticas_basicas_do_turismo/bra 09/02/2008. Marajó Salvaterra – Relatório de Pesquisa de PESQUISA Anual de Conjuntura Econômica do Turismo do resultados) Gestão Estratégica Orientada Amazônia PARATUR – Plano de desenvolvimento de Turismo do SEBRAE/PA e Fidesa - Projeto 10 - Turismo