T U R IS M O
R U R AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
FARM TOURISM
The rural Farms viability in the municipal
District of Soure e Salvaterra – Marajó Island-PA
Analaura Corradi1
Antonio Cordeiro Santana2
Luiza Azevedo Luíndia3
Resumo: Analisa-se a perspectiva do turismo rural como viabilidade de negócios nas quatro
fazendas: Bom Jesus; São Jerônimo, Araruna, Sanjo, município de Soure e Nossa Senhora do
Carmo, município de Salvaterra, Ilha do Marajó – Pará. A proposta delimita as potencialidades
e ameaças recorrentes à inclusão do turismo como agente promotor do desenvolvimento local.
Assim discorre-se sobre o turismo suas dimensões e suas implicações de aplicabilidade na
Amazônia através do segmento turismo rural no contexto de que mesmo com planejamento
pode promover seu desenvolvimento e sustentabilidade.
Palavras chave: Turismo. Turismo rural. Desenvolvimento. Sustentabilidade. Marajó/PA
Abstract: In this paper we analyse the farm-tourism as business viability at five farms: Bom
Jesus, São Jerônimo, Araruna, Sanjo, at Soure Municipal district and Nossa Senhora do
Carmo, at Salvaterra municipal district, in the Marajó Island – State of Pará. It proposes ‘sets
the limits of the potentials and threats regarding the inclusion of the Tourism as an agent to
promote the local development. In this light, this paper discusses Tourism and its applicabilitydimensions and implications in the Amazon through farm tourism sector in a context through
which the planning may promote its development and sustainability.
Key-words: Tourism. Farm-Tourism. Development. Sustaintability. Marajó-PA
1
Analaura Corradi – é Bacharel em Comunicação Social pela UCPEL (1980) e Mestre em Letras:
Lingüística e Teoria Literária pela UFPA (1998). Atualmente é professora da Unama nos níveis de
graduação e pós graduação, assim como professora de pós graduação da FAZ.
2
Antonio Cordeiro Santana – é Bacharel em Agronomia pela UFCE (1983), Mestre em Economia Rural
pela UFCE (1987) e Doutor em Economia Aplicada pela UFV (1993). É professor Associado II da UFRA e
atua no ensino e orientação nos cursos de graduação (Agronomia, Engenharia de Pesca, Medicina
Veterinária e Zootecnia) e pós-graduação (Mestrado em Ciências Florestais e Doutorado em Ciências
Agrárias).
3
Luiza Azevedo Luíndia – é Bacharel em Comunicação Social pela UFAM (1981), Mestre em
Administração pela UFPB (2000) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela UFPA
(2005). É professor titular da UFAM. É Tutor do Programa de Educação Tutorial do Grupo de Comunicação
Social da UFAM- PETCom desde 2006.
1
ANALAURA CORRADI et AL.
INTRODUÇÃO
No contexto governamental, o turismo rural
insere-se no Plano Nacional de Turismo PNT, desde sua versão 2003/2007, e atua
através do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – MAPA para
estimular o Programa Nacional de
Agricultura Familiar – PRONAF, resultando
no Programa de Turismo Rural na
Agricultura Familiar. O programa busca
promover as diretrizes de desenvolvimento
e sustentabilidade.
Conforme Pires (2001), o desenvolvimento
do turismo rural é promissor, uma vez que
no espaço brasileiro há fatores importantes,
como extensão territorial, diversidade de
ambientes naturais e matizamento cultural.
Segundo o autor, o turismo rural, ao
explorar os atributos de singularidade e
diversidade fornece suporte a condições
promissoras ao seu desenvolvimento.
No estado do Pará, o desenvolvimento do
turismo se apoia nos elementos ligados à
estrutura de ecossistemas da floresta para
fomentar a utilização intensiva do
patrimônio natural, buscando estabelecer a
sustentabilidade e, ao mesmo tempo,
valorizar os aspectos culturais e sociais
regionais. Para tanto, apresenta como
potenciais os segmentos do turismo de
aventura, agroturismo e, especificamente, o
rural.
Oficialmente, as ações de turismo rural no
Pará estão delimitadas no Programa de
Turismo Estadual – PET, conhecido como
Projeto Beija Flor, que divide o estado em
seis polos de desenvolvimento. Um destes
é o polo Marajó, cujo segmento rural está
desenhado no Programa de Diversificação
da Oferta Turística – PDOT 2000 – realizado
em parceria entre Governo do Estado,
através
da
Paratur,
Sebrae/PA
e
Consultoria Espanhola.
jornadas e o engajamento na conservação
de animais silvestres, contemplação da
natureza
e
visitação
em
sítios
4
arqueológicos e museus vivos .
O documento enfatiza, ainda, como
municípios impulsionadores da implantação
das atividades de turismo rural, a ilha do
Marajó, Soure e Salvaterra, ao considerar a
localização e a relação de acesso entre
estas cidades e a capital. Salienta,
também, o fato de algumas fazendas desta
região já estarem explorando produtos
turísticos, com visitação. Contudo, é
enfático ao afirmar ser necessária uma
redefinição de infraestrutura, adequação de
equipamentos e capacitação de recursos
humanos.
Outro ponto mencionado é a proposta da
criação de Conselhos Municipais de
Turismo (CMT) e de um Comitê Regional de
Desenvolvimento Turístico (CRDT) como
apoio aos cursos de capacitação,
gerenciamento e prestação de serviço para
os empreendedores e colaboradores.
TURISMO RURAL NO MARAJÓ
O PDOT do Polo Marajó cadastrou
inicialmente, quatroze empreendimentos e
segmentos de apoio ao turismo rural dos
quais, desde 2009, apenas cinco estão em
atividade. Estes se constituem no objeto de
estudo: quatro na área de Soure –
Fazendas São Jerônimo, Bom Jesus, Sanjo
e Araruna – e uma em Salvaterra, a
Fazenda Nossa Senhora do Carmo
conhecida como Carmo/Camará.
Em relação à localização das quatro
fazendas situadas em Soure, três estão
dentro da área urbana, possibilitando,
desse modo, maior disponibilidade do
produto turístico. A única localizada em
Salvaterra se encontra distante da sede
municipal.
O mencionado programa destaca como
possibilidades de atrativos o manejo das
montarias de búfalos e dos cavalos
4
Museus vivos: Criados para apresentar em espaço
marajoaras, a convivência com cerimônias
delimitado as características da região salientando
aspectos da natureza com seu complexo de flora e
e ritos de influência índigenas, assim como
fauna, assim como apresentações de tradições
o envolvimento com a cultura extrativista e
culturais destacando-se o carimbó, entre outros ritmos
a pesca artesanal. Ressalta, também, as
musicais.
2
T URISM O RUR AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
Este artigo analisa a viabilidade das
atividades de turismo rural nas fazendas
acima
mencionadas.
Entende-se
a
viabilidade a partir da visão de Azevedo
Luíndia (2007), ao declarar que a mesma é
uma condição aliada tanto a fatores
externos – permeados pelas condições
política e econômica – quanto a fatores
internos, estes relacionados à estrutura, ao
desenho e ao desempenho econômico e
mercadológico de cada produto. Desta
forma os produtos turísticos para garantir a
viabilidade devem estabelecer a forma
equilibrada de transpor as tensões e
conflitos da região Amazônica na busca
dos benefícios locais.
Azevedo Luíndia (2007) reforça ainda que
as atividades turísticas, independente dos
segmentos, devem perseguir o respeito à
natureza, aos ambientes e ao saber
local/cultural. Caso estas condições sejam
efetivadamente trabalhadas, as mesmas
podem fazer do turismo uma atividade
lucrativa e duradoura, fundamentada nas
bases de sustentabilidade econômica,
ambiental, sociocultural e étnica das
populações.
No Marajó, o enfoque da análise são as
características da pecuária, dos ribeirinhos,
dos pescadores tradicionais e dos
vaqueiros. Para se efetivar o objetivo,
escolheram-se as categorias: logística,
aspectos socioculturais, econômicos e
mercadológicos. Nos aspectos econômicos, a
análise se baseou em percentuais de
tempo de atividade e a média de fluxo
turístico, bem como atrativos utilizados
para formatar a atratividade.
Nos aspectos socioculturais partiu-se dos
elementos de relações trabalhistas, de
capacitação e treinamento ao mesmo
tempo interligados aos processos de
gestão de cada empreendimento. No foco
cultural, procurou-se a utilização dos
atrativos históricos e culturais como
elementos promotores da cada especificidade
rural. Em temas de políticas públicas se
verificou a intervenção dos poderes nos
três níveis e as parcerias com instituições
acadêmicas, de fomento e de apoio
técnico.
No tocante aos cuidados ambientais
analisou-se desde a identificação dos tipos
de construção, uso de energia alternativa,
tratamento de resíduos, reciclagem de
água, até os programas de manejo e
reflorestamento.
Por fim, aplicou-se aos fatores uma análise
SWOT, para se obter uma sumarização das
similitudes
e
diferenças
entre
os
empreendimentos.
ANÁLISE DOS DADOS
Destaque-se
que
as
propriedades
envolvidas no segmento turismo rural,
historicamente, são fazendas de pecuária,
com a complementariedade do setor
agrícola direcionado praticamente ao
extrativismo. A mais antiga é a fazenda do
Carmo/Camará (Salvaterra) com 126 anos,
sob o domínio na familia Dias, e atua com o
turismo rural há16 anos.
As fazendas localizadas em Soure, como a
Sanjo, têm 40 anos de atividades primárias
e seis de turismo; a Araruna tem 60 anos
com pecuária e 10 de turismo rural e a São
Jerônimo existe há 40 anos, indicando
como atividade primária a agricultura, com
produção de coco. Nesta, a inclusão no
turismo foi induzida quando seu espaço foi
alocado para a produção do programa de
televisão – reality show de aventura da
5
Rede Globo – No Limite , em 2001. Já a
Bom Jesus existe na área de pecuária e
agricultura há 60 anos e desenvolve
visitações turísticas há 13 anos.
No fator logístico, as dificuldades se
concentram no acesso à ilha, realizados
prioritáriamente
por via
rodo-fluvial,
totalizando um percurso médio de quatro
horas, seja por balsas ou barcos. Ambos
são
serviços
oferecidos
por
concessionárias privadas, que recebem
subsídio dos governos municipal, estadual
e federal, na medida em que o pequeno
número de turistas e/ou passageiros não
5
Terceira temporada do reality show estreou em
outubro de 2001, na ilha do Marajó (PA) mostra uma
competição de 12 participantes em situações de
resistência e adaptações fisicas e psicológicas.
3
ANALAURA CORRADI et AL.
proporcionam capital suficiente para suprir
os encargos financeiros e adminstrativos.
A questão logística bem como as
condições climáticas da região afetam
consideravelmente a taxa de ocupação dos
empreendimentos de acordo com as
Tabelas 1 e 2 a seguir:
Tabela 1 – Média de porcentagem taxa de ocupação (de dez. a junho - baixa temporada)
Fazendas
Dez
Jan
Fev
Mar
Abril
Maio
Jun
Total(%)
Bom Jesus*
10
10
10
10
10
10
15
12,14
São Jerônimo
10
10
10
10
10
10
10
10
Araruna
100
100
5
5
5
5
5
32,14
Sanjo
30
20
20
20
20
20
25
22,14
Carmo
30
20
20
20
20
20
20
21,42
Total
36
32
13
17
17
17
15
21
Fonte: Pesquisa de Campo- Corradi (2007/2009) * analisado como visita.
Tabela 2 – Média de porcentagem da taxa de ocupação (de julho a novembro - alta temporada)
Fazendas
Julho
Agosto
Set
Nov
Out
Nov
Total (%)
Bom Jesus*
100
100
100
80
50
10
73,33
São Jerônimo
80
80
50
50
20
20
50
Araruna
100
100
80
5
5
5
49,16
Sanjo
100
100
100
80
80
80
90
Carmo
100
100
100
80
80
80
90
Total
96
96
86
59
47
39
70,49
Fonte: Pesquisa de Campo- Corradi (2007/2009) * analisado como visita.
No Marajó, essencialmente, a oferta do
segmento turismo rural busca se diferenciar
ao proporcionar a proximidade do contato
do turista com a vida no campo. Esta
exposição sofre significativas interferências
pelas condições climáticas regionais, que
se alteram de maneira contundente durante
as duas estações do ano conhecidas como:
verão, considerada a alta estação e o
período de secas (julho/novembro); inverno,
denominada de baixa estação e período de
chuvas (dezembro/junho). As referidas
incidências climáticas afetam também os
índices das taxas de ocupação das
fazendas pesquisadas conforme Tabela 3.
Tabela 3 – Média de taxa de ocupação (altas e baixas temporadas - 2008)
Fazendas
Baixa
temporada (%)
Bom Jesus*
Alta
Média
temporada (%)
Anual (%)
12,14
73,33
42.73
10
50
30
Araruna
32,14
49,16
40.65
Sanjo
22,14
90
56,07
Carmo/Camará
21,42
90
55,77
São Jerônimo
4
T URISM O RUR AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
Fonte: dados obtidos em pesquisa de campo (2007/2009). * considerado apenas as visitas.
A taxa de ocupação média anual das
fazendas, de acordo com a Tabela 3, é
superior a 30% em seu valor mínimo; de
56% no seu valor máximo Na alta
temporada os percentuais de ocupação
atingem uma média 70%, considerando-se
todas as fazendas; e nos meses de baixa
temporada, o inverno/chuvas, de dezembro
a junho, a média de ocupação de cinco
fazendas é de 21%.
Explica-se que as irregularidades de
acesso, acrescidas pelas dificuldades
decorrentes no período de chuvas/inverno
e níveis de maré resultam no fato da
maioria dos empreendimentos ficarem
isolados favorecendo, portanto, um declínio
no fluxo de turistas na região.
Vale mencionar que as duas fazendas,
Sanjo
(Soure)
e
Carmo/Camará
(Salvaterra) enfrentam, além da ineficácia
da interligação prioritária, mais um
deslocamento fluvial, considerando-se a
distância entre as fazendas e as sedes
municipais. Para preencher a lacuna do
acesso deficitário, possuem embarcações
próprias
atendendo
sua
demanda
especificamente.
Em relação aos atrativos, os mesmos se
voltam aos elementos ecológicos e
culturais (Quadro 1):
Quadro 1 – Atrativos das Fazendas de Turismo Rural do PDOT- Pólo Marajó
Atrativos
Bom Jesus
São Jerônimo
Araruna
Sanjo
Carmo
1- Flora e fauna
E
E
E
E
E
2-Observação etnobotânica
E
E
E
E
E
3-Focagem de animais
-
-
-
E
E
4-Pesca artisanal
-
-
-
-
E
5-Montaria de gado
E
E
E
E
E
6-Cavalgadas
-
E
E
E
E
7-Passeio de charretes-
-
E
E
E
E
-
E
E
E
E
9-Visita queijaria
-
-
-
C
-
10-Visita arqueológica
-
-
-
C
C
11-Museus indígenas
-
-
-
C
C
12-Réplica cemitério indígena
-
-
-
C
C
13-Museu de arte sacra
C
-
-
-
-
cavalos/búfalos
8-Passeio fluvial
Canoa/barco
Fonte- Dados obtidos em pesquisa de campo- Corradi (2007/2009) Legenda: E – turismo ecológico e C – turismo
cultural, (-) - Não há atividade.
Aproveitando, portanto a origem pecuária e
agrícola, as fazendas rurais disponibilizam
passeios de montarias, a pé, por cavalos,
por gado bovino ou bubalino, além de
passeios fluviais em variados tipos de
embarcações regionais, conhecidas como
6
casco, popopo
locais.
e outras denominações
Das treze atividades relacionadas, 62% têm
ênfase
ecológica,
enaltecendo
o
ecossistema do arquipélago do Marajó;
38% cultural. Apesar das atrações culturais
6
Popopo: Embarcações equipadas com motores de
baixa potência, consideradas típicas e tradicionais da
região e que apresentam capacidade de lotação
limitada.
5
ANALAURA CORRADI et AL.
ofertarem pratos típicos, exposição e
comercialização de peças artesanais
representativas da cultura indígena e
cabocla e até visita a sitios arqueológicos,
registra-se
fragilidade
nos
atrativos
culturais dos empreendimentos.
Os
mesmos
necessitam
de
uma
revitalização, principalmente no que se
refere à memória oral, através de
‘performances’ para privilegiar as tradições
e costumes locais por meio dos contos,
mitos e lendas.
Na dimensão ambiental, todas as fazendas,
independente das atividades turísticas, já
atuavam na preservação dos bens naturais,
tendo como suporte os convênios junto aos
orgãos ambientais. Os programas visam à
preservação de áreas naturais como
manejo, reflorestamento e cuidados com os
animais silvestres sejam os nativos de cada
área das respectivas fazendas ou os
animais apreendidos em operações de
fiscalização na região.
Nas fazendas as construções
se
constituem dos elementos tradicionais das
sedes
originais,
não
apresentando
preocupações
de
preservação
da
circulação climática, para minimizar os
efeitos por si. Não há também quaisquer
ações ligadas ao uso de energia alternativa
(solar e/ou eólica), sendo que apenas a
Fazenda Sanjo e a Carmo Camará se
mostram inclinadas a fazer utilização das
mesmas.
Empreendimentos
Nenhum dos empreendimentos apresenta
programa sistematizado de rudimentar,
reaproveitamento das águas ou tratamento
de resíduos sólidos. Este último é com os
procedimentos de enterrar o lixo não
orgânico após processo de queima
Sobre fatores socioculturais, um ponto
registrado é o entrave da locação de mão
de obra, pois todas as fazendas têm origem
nas
atividades
pecuárias
e,
por
conseqüência, um deslocamento de ações
dos funcionários para atividades turísticas.
Esses funcionários, em sua maioria
originária dos setores primários, estão
alocados com carteiras assinadas e nos
períodos de alta temporária há contratação
de serviços esporádicos sem os registros
trabalhistas legais. Diante deste contexto,
observa-se que não houve uma política de
treinamento ou capacitação sistematizada
para a formação de profissionais ligados às
atividades turísticas.
Registram-se ao longo do período de 2000
até 2009 alguns passos factuais e não
contínuos sobre o assunto, envolvendo
manisfestações deliberadas do Sebrae/PA
em parcerias com os poderes municipais e
estadual.
Não há investimento em treinamentos,
somente orientações entre os proprietários
e seus funcionários, o que implica no
amadorismo das atividades. Este fato
repercute sobremaneira na rentabilidade do
turismo rural nas fazendas (Quadro 2):
Quadro 2 – Rentabilidade das atividades
Atividades desenvolvidas
Pecuária
Agrícola
Turismo
F. Bom Jesus
P
S
-
F. S.Jerônimo
S
S
P*
F. Araruna
S
S
P
F. Sanjo
S
NT
P
F. do Carmo
P
NT
P
Fonte- pesquisa de campo-Corradi (2007/2009)/
Legenda: P – Principal; S- Secundária; NT- Não tem valor comercial.* combinada com aposentadoria dos proprietários
6
T URISM O RUR AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
Vale salientar que os depoimentos dos
proprietários contradizem as condições da
rentabilidade observadas na pesquisa de
campo. Pelos dados obtidos junto aos
proprietários, nos cinco casos haveria três
incidências de o turísmo ser a atividade
principal, na rentabilidade das fazendas.
agricultura; não haveria rentabilidade para
o setor turismo. Em síntese, a atividade
turística
não
chega
a
ser
nem
complementar, reforçada pela declaração
da proprietária ao apontar que o turismo
para ela é apenas um ‘hobby’.
Percebe-se que 100% das fazendas rurais
pesquisadas não têm apoio institucional,
apesar de serem os atores pioneiros do
pólo Marajó de turismo rural. Em aspectos
de políticas públicas, registra-se a ausência
de influência de ações indicadas por
políticas públicas em todas as fazendas.
Neste item nota-se pouca eficácia do setor
de turismo rural, principalmente no tocante
aos seguintes componentes: apoio de
fomento, apoio institucional de promoção e
divulgação, apoio à logística e capacitação
como se descreve em cada um dos casos
objetos. Esse conjunto de elementos pode
limitar as condições mercadológicas dos
empreendimentos.
Na coleta dos dados se verificou que os
indicativos de rentabilidade somente se dão
para a do Carmo/Camará, quando a
referida apresenta indíces similares entre
as atividades de turismo e pecuária. A
Sanjo não considera a pecuária como sua
atividade primária, mas seus resultados
indicam complementabilidade entre a
atividade turística e a pecuária. Já a São
Jerômino apresenta um quadro precário
tanto nas atividades de agricultura e
pecuária como em turismo. Por sua vez, a
Araruna indica gestão disassociada entre
as atividades de pecuária e agricultura
controlada pelo pai da proprietária, da
atividade de turismo administrada pela
mesma.
A pesquisa de campo constatou que os
aspectos mercadológicos nos itens de
divulgação e promoção são, na maioria,
compostos de enfoques individualizados e
realizados pelas próprias fazendas rurais
(Quadro 3).
Ambos afirmam não haver correlação de
rentabilidade
financeira
nas
duas
atividades. Já a Bom Jesus indica que sua
principal renda é a pecuária, seguida pela
Quadro 3 – Esquema de promoção das fazendas
Instrumentos promoção
Bom
São
Araruna
Jesus
Jerônimo
Sanjo
Carmo
boca a boca
X
X
X
X
Folder
-
X
X
X
X
Site
-
X
-
X
-*
Citações na web
X
X
X
X
X
X
Fonte – Dados obtidos em pesquisa de campo- Corradi (2007/2009)
Em relação à promoção, o órgão estadual,
a Paratur, divulga em suas campanhas a
ilha do Marajó como um todo, isso é, os
ecossistemas do arquipélago, salientando
suas características gerais, sem, contudo,
nomear os cinco empreendimentos. Neste
contexto, percebe-se que esta ausência
prejudica a divulgação, tanto as fazendas
rurais atuante no turismo rural, como do
Estado do Pará e sua região marajoara.
Em nenhum momento as fazendas e os
poderes públicos apresentam interfaces de
ações cooperativas na busca de promoção
local ou mesmo regional, para enfatizar ou
implementar um maior fluxo de turistas
para a ilha do Marajó.
Sistematizou-se os dados referentes aos
aspectos da logística de acesso, os
socioeconômicos e os mercadológicos, de
acordo com Quadro 4, para se apontar a
7
ANALAURA CORRADI et AL.
viabilidade
das
fazendas
rurais
pesquisadas.
Quadro 4 – Síntese de viabilidade dos empreendimentos
Empreendimentos
Logística
Socioeconômicos
Mercadológico
F. Bom Jesus
Proximidade de
Pouca articulação com
Menor divulgação,
acesso
parceiros municipais
promoção e parceria
Proximidade de
Pouca articulação com
Menor divulgação,
acesso
parceiros municipais
promoção e parceria
Proximidade de
Pouca articulação com
Menor divulgação,
acesso
parceiros municipais
promoção e parceria
Acesso distante e
Articulações e
Maior divulgação,
fluvial próprio
parcerias internacionais
promoção
Acesso distante e
Articulações e
Maior divulgação e
fluvial próprio.
parcerias nacionais
promoção
F. São Jerônimo
F Araruna
F. Sanjo
F. Carmo/Camará
Pista pouso
própria.
Fonte- dados obtidos em pesquisa de campo – Corradi ( 2007/2009).
Reavaliando todos os empreendimentos,
se nota que eles apresentam uma
fragilidade no aspecto de logística, pela
capacidade de acesso com interferências
do sistema disponível de prestação de
serviços, influências climáticas e de marés,
e suas consequências em termos de
vencer as distâncias entre a capital do
Estado, as sedes municipais e as próprias
fazendas.
Nos
aspectos
socioeconômicos
há
ausência de articulações e parcerias
municipais, sejam para facilitações nas
condições de melhoria da infraestrutura
para prestação de serviços e produtos
ligados ao segmento de turismo rural.
Salienta-se, também, que não há parcerias
e articulações em ações específicas para
capacitação e treinamento visando obter
uma mão de obra especializada para
atender a demanda e à oferta dos serviços
e produtos do turismo rural no Marajó.
Relacionado aos aspectos mercadológicos
os elementos de promoção e divulgação,
não contam com o apoio institucional. A
Paratur, por exemplo, não estabelece no
arquipelago um foco publicitário voltado ao
segmento turismo rural.
DISCUSSÃO
De modo geral, os empreendimentos mais
estruturados e agregados às características
de turismo rural são as fazendas Sanjo e
Carmo/Camará, com médias de taxa de
ocupação
de
55,71%
e
56,07%,
respectivamente.
Dentre os cinco casos estudados, três
deles – as fazendas Bom Jesus, São
Jerônimo e Araruna – apresentam
amenores viabilidades turísticas. Detêm
uma restrita ação de promoção/ divulgação
e também uma limitada ação de parceria,
não
envolvendo
os
demais
empreendimentos do setor turístico de
Soure e Salvaterra.
Estas limitações e entraves podem, de
certa forma, reduzir a viabilidade das
atividades
de
turismo
rural
nos
empreendimentos. Mercadologicamente, se
destaca a Fazenda Sanjo com articulações
8
T URISM O RUR AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
e parcerias atravês dos componentes
promoção
e
divulgação
em
nível
internacional. Com isso, obtém maior
visibilidade na cadeia produtiva do turismo
rural. Por exemplo, a Fazenda do
Carmo/Camará mantém articulação e
parceria com agências e operadores
nacionais, enquanto os outros três
empreendimentos mantêm articulações e
parcerias limitadas a empreendimentos do
setor turístico dos municípios de Soure e
Salvaterra.
orgãos responsáveis pelo fomento do
turismo. Deste modo, cada um dos
empreendimentos
se
afasta
do
desenvolvimento local – geração de
emprego e cuidados ambientais – e se
volta à rentabilidade individual.
Nota-se, ainda, que a viabilidade dos cinco
empreendimentos de turismo rural no
Marajó Oriental dependem de uma melhor
eficácia
das
políticas
públicas,
principalmente no item infraestrutura de
logística.Também são fundamentais ações
de capacitação especializada para o setor
turístico rural, salientando o incentivo de
preservação dos aspectos históricos e
socioculturais da região.
REFERÊNCIAS
É pertinente focar que algumas fazendas
podem alcançar condições de viabilidade
da atividade de turismo rural desde que se
tenha o fomento e apoio técnico do
governo e dos órrgãos responsáveis.
AZEVEDO LUÍNDIA, L. Ecoturismo Indígena. Quito
(EC): Abya-Yala, 2007
_______
Ecoturismo
de
Experiências
Grupos
indígenas:
Sustentáveis?
Tese.
Programa de Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido- Núcleo de Altos Estudos
Amazonicos- NAEA – UFPA, Belém, 2005.
BRASIL - Ministerio do Desenvolvimento Agrário –
CONSIDERAÇÕES
Programa
O debate sobre o turismo rural no Marajó,
especificamente nos emepreendimentos
analisados, implica em declarar que as
atividades realizadas no contexto de
turismo rural ainda são amadoras, com
baixa rentabilidade, não chegando a se
constituir em atividade complementar aos
setores de pecuária e agricultura.
O discurso governamental apregoado no
PDOT, no que se refere aos itens de
promoção e incentivo do turismo rural como
elemento impulsionador dos setores da
economia informal na vertente do
desenvolvimento local, não se manifesta de
maneira eficaz.
Em síntese, há uma ausência de
integração entre as fazendas e o poder
público, bem como com os órgãos de
fomento turístico – Paratur e academia –
que não se articulam na velocidade ideal
para atender à demanda crescente de
turistas.
Assim, os aspectos mercadológicos ficam
debilitados, pois as ações são mínimas
tanto por parte das fazendas como dos
de
Agricultura
Turismo
Familiar,
Rural
Na
Secretaria
de
Agricultura Familiar Brasilia 2004.
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Desenvolvimento do Turismo Rural No
Brasil, Secretaria de Políticas de Turismo
2004.
BRASIL
-
Ministério
do
Turismo
–
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T URISM O RUR AL
A viabilidade das Fazendas Rurais nos municípios de Soure e Salvaterra
Ilha do Marajó – PA
View publication stats
de
por Resultados GEOR – março de 2006.
TENDÊNCIAS
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09/02/2008.
Marajó
Salvaterra – Relatório de Pesquisa de
PESQUISA Anual de Conjuntura Econômica do
Turismo
do
resultados) Gestão Estratégica Orientada
Amazônia
PARATUR – Plano de desenvolvimento de Turismo
do
SEBRAE/PA e Fidesa - Projeto 10 - Turismo