DOI: 10.5433/2317-4390.2020v9n1p87
O CONTEXTO INFORMACIONAL
CONTEMPORÂNEO: O CRESCIMENTO DA
DESINFORMAÇÃO E SUAS MANIFESTAÇÕES NO
AMBIENTE DIGITAL
THE CONTEMPORARY INFORMATIONAL CONTEXT:
THE SPREAD OF MISINFORMATION AND ITS
MANIFESTATIONS IN THE DIGITAL ENVIRONMENT
Leonardo Ripolla
José Claudio Matosb
RESUMO
Introdução: O artigo aborda o atual cenário da desinformação presente na web com o
surgimento de terminologias como ‘fake news’, ‘pós-verdade’, ‘deepfake’, entre outros.
Para tanto, primeiramente remete às discussões sócio-históricas que caracterizam o
período de transformação da modernidade (pós-modernidade, alta modernidade,
modernidade líquida). Apresenta também noções teóricas sobre a sociedade da
informação e a cibercultura. Tal contextualização serve de fundamento para algumas
definições sobre informação e desinformação. Objetivo: Apresentar o atual contexto
informacional envolvendo a desinformação para sugerir novas dinâmicas no papel do
profissional da informação e no campo de atuação da Ciência da Informação.
Metodologia: Utiliza como modelo epistemológico, a teoria e o mapa conceitual de
Luciano Floridi, por meio de uma pesquisa bibliográfica exploratória. Resultados e
conclusão: Conclui que, perante este novo cenário, é imprescindível um olhar crítico
na forma de lidar com a informação, buscando formas de assegurar a confiabilidade
informacional. Tal cenário também propõe novos desafios e paradigmas aos
profissionais da informação e à Ciência da Informação enquanto área do conhecimento.
Descritores: Desinformação. Disseminação da
informacional. Fake news. Sociedade da informação.
informação.
Confiabilidade
Mestre em Gestão de Unidades de Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão
da Informação da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGInfo-UDESC). E-mail:
leonardo_ripoll@hotmail.com
b Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Professor adjunto da Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC). E-mail: doutortodd@gmail.com
a
Inf. Prof., Londrina, v. 9, n. 1, p. 87 – 107, jan./jun. 2020.
http://www.uel.br/revistas/infoprof/
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Leonardo Ripoll, José Claudio Matos
O contexto informacional contemporâneo: o crescimento da desinformação e suas
manifestações no ambiente digital
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento do cenário das fake news nas mídias trouxe consigo
a necessidade de novos questionamentos e paradigmas, especialmente nas
áreas que trabalham diretamente com questões epistemológicas ligadas à
informação. Atualmente presente de forma abundante em diversos meios,
principalmente nas plataformas digitais, a informação virou sinônimo de tudo que
habita a web – a ‘grande rede’ na qual considerável parte da população está
presente, de uma forma cada vez mais indissociável de sua existência. Tal
presença criou um ‘ciberespaço’ (LÉVY, 2010) ou uma ‘infosfera’ (FLORIDI,
2010) que produz constantemente fluxos informacionais e altera a forma como a
humanidade lida com a sua realidade e com o seu conhecimento sobre o mundo.
No entanto, o preenchimento de tais espaços pela vida política e social do
indivíduo fez com que o fluxo informacional fosse composto de todo o tipo de
manifestação comunicacional humana, incluindo aí, suas habilidades linguísticas
relacionadas à mentira e ao ludíbrio.
A migração dos mais variados aspectos da vida humana para um
ambiente caracterizado pelas virtualidades do digital, faz com que a informação
passe a ter representações que já não condizem mais com seu caráter essencial:
o ato de informar. É neste sentido que o surgimento de termos como ‘fake news’,
‘pós-verdade’, ‘deepfake’ e ‘fatos alternativos’ sugerem mais precisamente que
a sociedade da informação está composta também de sintomas de um cenário
de ‘hiperinformação’1: e um deles é a identificação de porções significativas de
desinformação.
A desinformação se propaga de forma fulminante na web, principalmente
pelas redes sociais2. Em um estudo publicado pela revista Science, Vosoughi,
1
O termo ‘hiperinformação’ aqui é entendido em consonância com Moretzsohn (2017): a
alienação consequente do excesso de oferta informacional. Ou seja, está relacionado com
sobrecargas cognitivas do indivíduo perante a quantidade contínua de informações recebidas
em seu cotidiano.
2
Neste artigo, as ‘redes sociais’ são entendidas como o que Recuero (2009) define para ‘sites
de redes sociais’, também conhecidas por ‘mídias sociais’, como o Facebook, Twitter e
Instagram.
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O contexto informacional contemporâneo: o crescimento da desinformação e suas
manifestações no ambiente digital
Roy e Aral (2018) verificaram que as notícias falsas são disseminadas de forma
mais rápida e ampla do que as verdadeiras e alcançam um número muito maior
de pessoas. Algumas explicações tecnológicas para tal fenômeno envolvem
questões relacionadas às customizações de conteúdos ou perfis informacionais
por empresas (criando o que Pariser (2011) denomina de ‘filtros-bolha’), ao uso
de bots nas interações sociais da web (conforme apresentado por Santana
Júnior e Lima (2017)) e aos processos de ganho financeiro com cliques
(conhecidos como ‘clickbait’ (ROCHLIN, 2017)).
Tal cenário é configurado por novas dinâmicas políticas e sociais, e
demanda um reposicionamento de atuação dos profissionais da informação. À
Ciência da Informação cabe a tarefa de se atualizar epistemologicamente, e
discutir o papel da informação diante do cenário crescente de desinformação.
Este artigo tem o objetivo de abordar, sucintamente, o contexto
informacional contemporâneo, principalmente no que tange à discussão sobre a
desinformação e suas atuais manifestações no ambiente digital. Por meio de
uma pesquisa bibliográfica exploratória, o estudo utilizou a epistemologia de
Luciano Floridi como base de fundamentação conceitual sobre os fenômenos
informacionais e também os pensamentos de Pierre Lévy, Manuel Castells,
Jean-François Lyotard, Anthony Giddens e Zygmunt Bauman na elaboração
contextual sociológica. A pesquisa foi complementada com a consulta sobre as
terminologias contemporâneas relacionadas à desinformação (fake news,
principalmente) em artigos científicos.
2 TRANSIÇÃO DA MODERNIDADE E O DOMÍNIO DA INFORMAÇÃO
O contexto informacional contemporâneo é caracterizado aqui como o
presente estágio da sociedade da informação, no qual as redes sociais na
internet possuem forte papel de influência na produção, disseminação e
consumo da informação pela sociedade. No entanto, antes de as redes sociais
se desenvolverem, o atual cenário já começava a se moldar por meio de
mudanças e transições sócio-históricas relacionadas ao desenvolvimento da
tecnologia e à reconfiguração da sociedade.
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manifestações no ambiente digital
A sociedade da informação surge enquanto conceito no mesmo cenário
das discussões sobre o período histórico que surgiu após aquele que ficou
conhecido como ‘modernidade’.
2.1 PÓS-MODERNIDADE, ALTA MODERNIDADE, MODERNIDADE LÍQUIDA
As discussões sociológicas sugerem que a época conhecida como
‘modernidade’ chegou ao fim (LYOTARD, 2004), está constituída de novas
dinâmicas (BAUMAN, 2001) ou está em seu extremo (GIDDENS, 1991; 2002).
No entanto, pode-se dizer que existe um consenso de mudança, de uma nova
configuração da atividade humana, a partir do período que se inicia do meio para
o final do século XX. Nessa configuração, a internet surge enquanto artefato de
técnica humana, e a sociedade da informação emerge enquanto conceito
representativo de um ambiente que centra suas ações no objeto informacional.
Segundo Jean-François Lyotard (2004), tal mudança é caracterizada por
uma crise nos valores mantidos pela modernidade, especialmente no que o autor
se refere como as ‘grandes narrativas’ do conhecimento. Para o autor, cada
época vivida pela humanidade foi constituída por relatos específicos que
explicavam o universo naquele dado momento e eram tomados como verdades
absolutas, a fim de guiar o conhecimento. Cada vez que surge um novo relato,
os anteriores são invalidados – processo resultante da crença implícita no
progresso constante. Segundo Lyotard (2004), a partir do surgimento da ciência,
por exemplo, a maior parte dos relatos anteriores tornou-se ‘fábulas’ perante os
novos critérios. Porém, os próprios critérios científicos precisam ser legitimados
por algum tipo de discurso, que passa a ser a filosofia do conhecimento em vigor.
A pós-modernidade, assim, abdica de noções universais acerca das coisas, pois
seriam ‘totalizadoras’ e excluiriam discursos que não estão na agenda de
interesses do momento. Desta forma, também contesta a validade das
instituições e o próprio conceito da palavra ‘verdade’.
Conforme ocorre esse processo de ‘desilusão’ das narrativas da verdade,
os ideais coletivos vão gradativamente cedendo espaço à busca da finalidade
individual nas condutas. Essa finalidade individual, no entanto, também gera a
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manifestações no ambiente digital
percepção das diferenças entre os sujeitos, e é por isso que as grandes
narrativas, que procuram dar uma voz única à multiplicidade de vozes
componentes da sociedade, acabariam perdendo sua credibilidade. Além disso,
a pós-modernidade discorre sobre o avanço tecnológico que demanda a
instrumentalização do saber e a informatização da sociedade, e que prevê
mudanças na regulagem e reprodução das informações (LYOTARD, 2004).
Embora seja um conceito muito utilizado em diversas pesquisas recentes
(uma rápida pesquisa sobre o termo em qualquer base de dados revela uma
grande quantidade de artigos), a pós-modernidade ainda não forma um
consenso epistemológico. Giddens (1991), por exemplo, diz que a pósmodernidade sugere o fim do período moderno. Porém, segundo o autor, a
humanidade não se encontra em um período ‘além’ da modernidade, e sim,
vivenciando sua fase de radicalização. Para o autor, a nomenclatura correta seria
‘alta modernidade’, ‘modernidade tardia’ ou ‘modernidade radicalizada’.
Giddens (2002) propõe que apesar do surgimento das instituições
modernas ser reconhecido há certo tempo, é apenas no final do século XX que
se percebe que elas são mais complexas e problemáticas do que se havia
suposto. O autor avalia que a crítica da modernidade faz parte de um processo
de reflexão sobre ela e não de superação, como a ideia da pós-modernidade
sugere. Segundo Giddens (1991), o que está em jogo no atual momento é um
fenômeno de reflexividade inerente à própria modernidade. Se para Lyotard
(2004) há uma transição de períodos, para Giddens (1991) há apenas uma
‘conscientização’ de um período que não só não acabou como também está em
seu auge, em seu extremo, em sua forma mais radical e íntegra.
Já segundo Zygmunt Bauman (2001), ‘modernidade líquida’ seria a
melhor expressão para caracterizar tal transição da modernidade. Para o autor,
a leveza, a fluidez, a volatilidade e a constante transformação são características
presentes nas relações dentro da atual sociedade. Bauman (2001), por
comparação, chama então o início da modernidade de ‘sólida’. Durante a
modernidade sólida, as instituições sociais ainda manifestavam uma ‘solidez’ na
sua relação com o indivíduo, agindo como referenciais na construção de sua
identidade e na mediação de suas ações. Na modernidade líquida, ocorre a
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perda de tais pontos de referência e um crescimento do individualismo e
autoafirmação do eu perante a sociedade.
Para Bauman (2001), a ideia da pós-modernidade, ou do ‘fim da história’,
vem justamente do fato de que a velocidade dos acontecimentos sociais (ou
históricos) já está no patamar do ‘instantâneo’. O tempo rompe o espaço, e
permite que nada mais seja exclusivamente local ou pertencente a certo
momento. A tecnologia e a interconexão anulam as distâncias e promovem uma
sensação de que as coisas estão sempre ‘à disposição’ o tempo todo, para o uso
instantâneo e pontual. Enquanto isso, o consumo mercadológico aumenta,
oferecendo cada vez mais alternativas descartáveis para usos momentâneos,
em que a quantidade vai sobrepondo a qualidade. E assim também se
configuram as relações humanas na modernidade líquida: fáceis, frágeis, leves,
transitórias, fugazes e utilitárias.
Independentemente da terminologia utilizada, percebe-se nos discursos
relatados a ideia de que uma mudança (com maior ou menor ênfase) vem
acontecendo e tem relação com a quebra dos paradigmas que já não bastam
para representar o atual momento da humanidade. Além disso, a tecnologia
desponta como grande motor revolucionário do século XX, transformando os
meios de produção e a forma como o indivíduo se situa no mundo. Essa
tecnologia, baseada em princípios matemático-computacionais, permite a
produção massiva, contínua e crescente de informação.
2.2 CIBERCULTURA E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Segundo Giddens (1991), a ‘sociedade da informação’ surge como um
dos termos possíveis que anunciam um novo tipo de sistema social emergente
da transição ocorrida no final do século XX. É a sociedade da informação que
consolida a mudança socioeconômica da produção de bens industriais (frutos da
Revolução Industrial) para a produção de bens informacionais. Castells (1999)
descreve, com farta fundamentação empírica, este movimento de mudança na
estrutura da sociedade, caracterizado, segundo o autor, pela elevação da
informação à condição de fundamento da nova configuração social, em um
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sistema que ele denomina de ‘informacionalismo’, e que teria substituído o
‘industrialismo’ de etapas anteriores da modernidade. Castells (1999) também
descreve cinco características principais da nova dinâmica social: é fundada na
informação, é arquitetada na forma de redes, penetra e atua profundamente em
todas as condutas humanas, é altamente flexível e moldável e, finalmente,
conduz a uma convergência das tecnologias em um sistema integrado. Segundo
ele, “a primeira característica do novo paradigma é que a informação é sua
matéria-prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas
informações para agir sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções
tecnológicas anteriores” (CASTELLS, 1999, p. 108, grifo do autor).
De acordo com Luciano Floridi (2010), filósofo e pesquisador que
desenvolveu a ‘Filosofia da Informação’, o que realmente caracteriza a atual
noção de ‘sociedade da informação’ são as questões relacionadas ao que o autor
denomina de ‘revolução da informação’. Para o autor, desde a invenção da
escrita, as tecnologias de informação e comunicação – TIC, que antes eram
apenas sistemas de registro, passaram a ser, também, sistemas de
comunicação (a partir da invenção da imprensa), e sistemas de processamento
e produção (a partir da difusão dos computadores). Desde então, as sociedades
têm se organizado e se desenvolvido em torno de serviços e questões
informacionais. Floridi (2010) cita como exemplo que todos os países membros
do G7 (Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido)
possuem pelo menos 70% do seu Produto Interno Bruto (PIB) dependentes de
bens intangíveis relacionados à informação, o que acaba os qualificando, de fato,
como exemplos autênticos de ‘sociedades da informação’. O impacto das TIC na
atual sociedade é tão profundo, que Floridi (2010) afirma que elas estão ‘reontologizando’ o mundo, transformando sua natureza intrínseca.
Entender o mundo do ponto de vista informacional consiste em reordenar
a realidade e a história em torno de um ambiente composto por dados,
processos, agentes e conexões. Consiste em perceber que o desenvolvimento
humano se dá por meio de interações informacionais que acontecem em seu
sistema cognitivo e que, portanto, também afetam o desenvolvimento social.
Consiste também em perceber que a realidade não é mais sempre tangível ou
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material, e está cada vez mais dinâmica e associada a um ambiente digital3.
Ainda que os primeiros passos da sociedade da informação tenham sido
dados na primeira metade do século XX, a sua verdadeira consolidação pode
ser atribuída à popularização da internet na década de 1990, e à criação de um
mundo digital decorrente da ocupação humana na rede, que Pierre Lévy (2010)
denomina como ‘ciberespaço’ e ‘cibercultura’. O ciberespaço passa a ser
sinônimo do ambiente digital de criações e interações da sociedade, possibilitado
pela web. Dentro dele, o homem continua a desenvolver suas manifestações
(técnicas, sociais, artísticas, culturais, políticas, entre outras) de forma a produzir
uma cibercultura.
Lévy (2010) destaca que, com o surgimento do hipertexto dentro da
cibercultura, a produção e recepção da mensagem acontecem de forma
sincronizada e no mesmo local: o ciberespaço. Segundo Lévy (2010), no
ciberespaço há uma distribuição generalizada da informação, mas sem nenhum
limite semântico, pois ela acaba sendo continuamente reconfigurada pelos seus
usuários, dentro deste universo digital em constante transformação.
A tendência de crescimento do ciberespaço é inevitável. A cibercultura faz
parte da mais recente atuação humana dentro da infosfera4; a representação
máxima de como o ser humano tem deslocado cada vez mais suas relações
(econômicas, sociais, educacionais, políticas, de lazer) do ambiente material
para o informacional. Portanto, dentro da sociedade da informação, a
cibercultura representa o modus operandi dos indivíduos conectados em rede.
Tais repercussões estão cada vez mais sendo sentidas com a migração, cada
vez maior, da vida e atividade humana para dentro da rede56. Floridi (2010) cita
3
Luciano Floridi desenvolve, nesse sentido, um extenso trabalho teórico denominado de
‘Filosofia da Informação’ (ver Floridi (2011) e (2018)).
4 Floridi (2010) define a infosfera como o ambiente informacional da sociedade da informação
que é constituído por processos informacionais, serviços e entidades – incluindo agentes
informacionais e suas propriedades, interações e relações mútuas.
5 Para Floridi (2010) a imersão na infosfera é cada vez maior conforme as gerações avançam e,
portanto, os nativos digitais se sentirão cada vez mais excluídos e deslocados quando
desconectados da infosfera, gerando possíveis crises existenciais.
6 É importante ressaltar que a ocupação do ciberespaço se deu principalmente após o surgimento
do que se convencionou chamar de ‘web 2.0’. A web 2.0 corresponde ao estágio que a web
alcançou no início dos anos 2000. Também chamada de social web, ficou caracterizada por
possibilitar a criação de conteúdos na rede por todos os seus usuários, ação que até então
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que a tendência atual de fusão entre o digital e o analógico (representado por
termos como a ‘internet das coisas’, os ‘ambientes inteligentes’ e a ‘computação
ubíqua’) cria um cenário no qual, cada vez mais, a imersão digital se torna
imperceptível e profunda.
Dentro deste contexto, a informação atinge seu potencial máximo de
existência, até mesmo significando o que não é. A disseminação instantânea e
massiva de dados e conteúdos informacionais, possibilitada pelo crescimento do
ciberespaço e pela imersão na infosfera, faz também com que ações de
desinformação surjam e se espalhem pela cibercultura.
3 INFORMAÇÃO E DESINFORMAÇÃO
A informação é um termo discutido em diversas áreas do conhecimento e
atende a diversos contextos e utilizações. Por isso mesmo, é difícil encontrar um
conceito único e definitivo do que ela representa. Sendo um termo com diversas
definições, o consenso da literatura parece apontar justamente para essa
ausência de um conceito unificado, como atestam, por exemplo, Floridi (2011) e
Capurro e Hjorland (2007).
Floridi (2011) comenta que a informação é um fenômeno polimórfico e um
conceito polissemântico, e, portanto, sua definição deverá levar em conta
algumas considerações, como o nível de abstração adotado para a sua
explicação. Capurro e Hjorland (2007), no artigo O conceito de informação,
comentam que a distinção mais importante sobre o conceito de informação é
aquela que separa e define a informação em dois caminhos principais:
informação enquanto objeto ou coisa (dados de máquina, descrições objetivas)
e informação enquanto signo (subjetiva ou interpretativa). Os autores também
ressaltam que, neste último caso, o significado da informação é determinado
pelos contextos social e cultural.
estava restrita a editores e administradores de sites. É a partir da web 2.0 que ocorre o
crescimento de blogs, redes sociais (como o Twitter e o Facebook), Wikipédia e do jornalismo
participativo. Na web 2.0, a participação, a interconexão e o compartilhamento tornam-se meios
para a criação de uma ‘inteligência coletiva’ (NEWMAN et al., 2016; PRIMO, 2007).
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Floridi (2010), em seu livro Information: a very short introduction, tenta
sumarizar em um mapa conceitual os diversos conceitos de informação,
conforme algumas categorias e sua relação com os dados (Figura 1).
Figura 1 – Mapa de conceitos informacionais
Fonte: Floridi (2010, p. 49).
A informação, de acordo com o mapa, se apresenta como a fase
intermediária no percurso que tem os dados como ponto de partida e o
conhecimento como ponto de chegada.
De acordo com o mapa, Floridi (2010) divide a informação em duas
principais categorias: ambiental ou conteúdo semântico. A informação ambiental,
segundo Floridi (2010), está relacionada aos dados que possuem significado,
independentemente de terem sidos produzidos por um informante (por exemplo,
a indicação de idade de uma árvore pelos anéis do seu tronco cortado ou as
próprias impressões digitais dos seres humanos). Já a informação com conteúdo
semântico exige que a informação dependa da existência de um vocabulário
(linguístico ou não).
Como também visto no mapa, informações ambientais são sempre
instrucionais, já as que possuem conteúdo semântico podem ser instrucionais
ou factuais. A categoria instrucional trata de informações que repassam
orientações ou descrições de algo, como, por exemplo, um manual de um
equipamento, uma lista de afazeres, ou um código de programação. São
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informações, segundo Floridi (2010, p. 35, tradução nossa) “[...] que não se
referem a uma situação, a um fato, ou a um estado das coisas [...]”, portanto,
não podem ser julgadas como verdadeiras ou falsas. Por sua vez, a informação
factual é justamente aquela que se refere a um fato e, assim, é passível de
julgamento.
Ainda de acordo com o mapa de Floridi (2010), a informação factual
possui conteúdo semântico e é constituída de dados estruturados. No entanto,
ela ainda precisa de mais um complemento: manifestar uma qualidade
relacionada com a veracidade. A partir deste cenário se pode perguntar: O que
acontece quando uma informação factual não é verdadeira? Segundo os critérios
de Floridi (2010; 2011), especialmente o que ele chama de ‘veridicalidade’
(veridicality), ela deveria ser considerada como desinformação.
É importante perceber que a palavra ‘desinformação’, em português,
muitas vezes é usada enquanto a tradução tanto de ‘disinformation’, como de
‘misinformation’, duas palavras que são conceitualmente distintas na língua
inglesa. Conforme menciona Fallis (2010), ambas remetem ao contexto da
informação imprecisa/incorreta (innacurate) e enganosa/ilusória (misleading). No
entanto, misinformation corresponde a um engano originado na fonte emissora
de forma não proposital (honest mistake), enquanto que na palavra
disinformation existe uma intenção consciente da fonte em enganar (intended to
deceive). O autor comenta que, sendo assim, é mais difícil identificar uma
disinformation, já que ela é justamente produzida com a intenção de não ser
identificada como tal.
Floridi (2010) corrobora com tais definições ao definir que a disinformation
é a ação informacional intencional de um dado não verdadeiro. Já a
misinformation é a ação informacional de um dado não verdadeiro feita por
engano, sem saber que o dado não corresponde à verdade. Portanto, uma
tradução adequada para o conceito de misinfomation poderia ser ‘má
informação’ (o indivíduo estaria ‘mal informado’). Tal diferença é apresentada
também na Figura 1 acima.
A definição do dicionário Oxford para disinformation, por sua vez, está
enunciada como “informação falsa que tem a intenção de enganar,
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particularmente a propaganda emitida por uma organização governamental para
um poder rival ou a mídia” (OXFORD UNIVERSITY PRESS, 2018a, p.1, tradução
nossa). Esta definição é caracterizada, principalmente, pela sua raiz política
(enfatizada pelos exemplos, também políticos, descritos na página de definição
do termo). No entanto, a definição encontrada no dicionário para a palavra
misinformation, como “informação falsa ou imprecisa, particularmente aquela
que deliberadamente tem a intenção de enganar” (OXFORD UNIVERSITY
PRESS, 2018b, p. 1, tradução nossa), sugere que, para o dicionário, a diferença
entre os termos está mais no seu contexto de uso (político ou não) do que em
seu significado7.
Fallis (2010) cita que a disinformation possui algumas características
básicas, baseadas no seu histórico de uso:
a) Comumente são atividades governamentais ou militares, apesar de
também serem produzidas por outras organizações, ou mesmo por
alguns indivíduos em particular;
b) Frequentemente é produto de uma fraude cuidadosamente
planejada e tecnicamente sofisticada, apesar de também poder ser
criada por uma mentira oral ou por uma simples edição na
Wikipédia;
c) Nem sempre é divulgada diretamente a partir da fonte que a criou;
d) Frequentemente é divulgada verbalmente ou pela escrita, apesar
de também poder ser criada por outros meios, como a manipulação
de mapas ou imagens;
e) Frequentemente distribuída de forma bem abrangente, apesar de
poder ser direcionada para pessoas ou organizações específicas;
f) A vítima do engano pretendido é geralmente uma pessoa ou grupo
7
O projeto do dicionário Oxford, especialmente em sua versão digital, envolve a catalogação e
a expressão do sentido das palavras do idioma inglês. Este processo assumiu uma importante
proporção por causa do crescimento da língua dentro da expansão informacional ocasionada
pela cibercultura. Em seu livro A informação, James Gleick (2013) discute a evolução dos
significados e a geração de novos termos (como o próprio termo ‘desinformação’), e também
explora o caso do dicionário Oxford aqui mencionado. O uso do dicionário Oxford como
referência, incorpora a consciência das mudanças na própria estrutura da linguagem,
impulsionadas pela revolução informacional dos anos recentes.
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O contexto informacional contemporâneo: o crescimento da desinformação e suas
manifestações no ambiente digital
de pessoas, mas também pode ser direcionada para enganar
máquinas, como os rastreadores de mecanismos de busca na web.
A desinformação, portanto, compreende, de forma geral, uma série de
conceitos que são o oposto do ato de informar. Ou que, pelo menos, não
pretendem atender ao critério de veracidade da informação. Demo (2000)
discorre que a desinformação é um fenômeno natural da comunicação humana,
uma vez que nossos sentidos têm limites na captação das informações, que,
além disso, estão sujeitas a serem captadas conforme nossos interesses.
Adverte, porém, que é fundamental preservar o senso crítico perante os
processos de controle informacional.
Pinheiro e Brito (2014), ao comparar o conceito em inglês com suas
representações no português, destacam três definições principais para o
conceito de desinformação: ausência de informação, informação manipulada e
engano proposital. Segundo os autores, o entendimento da desinformação como
‘ausência de informação’ está associado ao estado de ignorância e precariedade
informacional, à ausência de cultura e de competência informacional, ao
desprovimento de informações adequadas. Já o entendimento sobre ‘informação
manipulada’ estaria relacionado a processos de alienação da população, para
manter projetos de dominação política, ideológica ou cultural (sentido também
partilhado por Demo (2000)). Sobre a desinformação enquanto ‘engano
proposital’, Pinheiro e Brito (2014) retomam ao uso da desinformação no
contexto Segunda Guerra Mundial. É quando a desinformação assume o
sentido, já apresentado anteriormente, de ação proposital para enganar alguém.
Fallis (2010) ressalta que, no presente momento, as novas tecnologias
permitiram uma facilidade muito maior na criação e disseminação de
desinformações
e
a
questão
da
desinformação
estaria
associada,
principalmente, a uma dimensão de ‘qualidade’ das informações.
As variações da desinformação transmitidas na comunicação cotidiana
resultaram na criação ou ressurgimento de alguns termos pela mídia ou pelo
discurso de personalidades públicas. A desinformação, assim, se reinventou a
partir da criação da internet e das mídias sociais, e passou a gerar ramificações
de categorias, aumentando sua complexidade.
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O contexto informacional contemporâneo: o crescimento da desinformação e suas
manifestações no ambiente digital
3.1 PÓS-VERDADE, FAKE NEWS, FATOS ALTERNATIVOS, DEEPFAKE
O atual estágio da sociedade da informação parece produzir um
fenômeno inverso ao que acontecia em épocas anteriores à criação da internet.
Se antes a informação era escassa, difícil de ser encontrada, ou limitada a
lugares, materiais e mídias específicas (como as bibliotecas, os jornais e a
televisão), hoje o avanço tecnológico permite que a informação esteja presente
em todas as partes, e a ubiquidade do ciberespaço seja fortalecida a cada nova
tecnologia portátil lançada8.
A produção, disseminação e consumo constantes de informação acabam
por produzir um excesso de informações, causando o fenômeno da
hiperinformação. A sobrecarga informacional, por fim, leva o indivíduo a perder
o controle sobre aquilo que assimila. É o cenário ideal também para cada ator
social utilizar a informação como melhor lhe convém no eterno palco das
representações sociais e midiáticas.
Um termo que se desenvolve neste cenário é o conceito de ‘pós-verdade’.
Criado há mais de uma década, foi eleita palavra do ano em 2016 pelo dicionário
Oxford. De acordo com o dicionário, o conceito de pós-verdade “denota ou se
refere circunstâncias em que fatos objetivos são menos influentes na formação
da opinião pública do que apelos à emoção e crença pessoal” (OXFORD
UNIVERSITY PRESS, 2018c, p. 1, tradução nossa). Tal definição não se refere
exatamente a um fenômeno novo. O discurso retórico que visa à conquista de
seu público já era visto, por exemplo, no século XVI em Maquiavel e sua obra O
Príncipe (MACHIAVELLI, 1998). Algumas passagens dessa obra angariaram
fama por sugerirem que um líder, em um espaço de poder e influência, pode e
deve distorcer as informações disseminadas, conforme a conveniência do
cenário político e em função de seus interesses. O que o conceito de pósverdade traz de novo é justamente uma adaptação de fenômenos como esse no
contexto da sociedade da informação.
8
Por exemplo, os termos ‘internet das coisas’ e ‘internet de tudo’ sugerem que a tendência é que
todos os artefatos produzidos pela sociedade estejam cada vez mais integrados em rede, e
sejam unidades emissoras/receptoras de informação.
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Sendo assim, pode-se perceber que a atual esfera de debate político,
proporcionada pela web e pelas redes sociais, aumenta, em maior ou menor
escala, o apelo à pós-verdade: determinadas posições políticas radicais acabam
sendo assumidas por meio de crenças e ideologias como forma de lidar com
situações de crise, levando a uma polarização e a uma ‘guerra’ informacional
entre seus usuários. A pós-verdade parece ser eficaz principalmente diante do
medo ou raiva causados por uma situação político-econômica fragilizada.
Já as ‘fake news’, correspondem possivelmente à categoria mais popular
de desinformação atualmente. Traduzido pelo termo ‘notícias falsas’, as fake
news são artigos jornalísticos que são intencionalmente e verificavelmente
falsos, que enganam ou induzem o leitor ao erro (ALLCOTT; GENTZKOW,
2017). Para Lazer et al. (2018), fake news são informações fabricadas que
imitam notícias apenas na forma, pois não são oriundas de nenhum grupo de
mídia estruturado e, portanto, carecem de normas e processos editoriais que
garantem a precisão e a credibilidade das informações. Apesar de ser um
conceito que se popularizou no auge do uso das redes sociais, as fake news
também surgiram há certo tempo (Allcott e Gentzkow (2017) relatam, por
exemplo, artigos falsos do New York Sun em 1835). No entanto, o fenômeno da
real ‘explosão’ das fake news surgiu no ambiente digital, a partir das
possibilidades de compartilhamento fácil e rápido, feito por qualquer indivíduo
dentro das redes sociais e dos aplicativos de troca de mensagens instantâneas.
Conforme as pesquisas realizadas por Vosoughi, Roy e Aral (2018) e
Lazer et al. (2018), as notícias falsas mais disseminadas são relacionadas à
política. Outras temáticas também difundidas são: terrorismo, desastres naturais,
ciência, lendas urbanas, informações financeiras e bolsa de valores, vacinação
e nutrição. Atualmente, no entanto, o termo fake news tem perdido seu sentido
original e vem sendo usado como parte de discursos de pós-verdade, como por
exemplo, para depreciar informações que sejam desfavoráveis à algum
argumento.
Outro termo relativo à desinformação é aquele denominado de ‘fatos
alternativos’ (alternative facts). O termo surgiu no início de 2017, por meio da fala
de Kellyanne Conway (assistente do presidente norte-americano Donald Trump)
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sobre a declaração do secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, a
respeito do quantitativo de pessoas no momento da posse do presidente. De
acordo com Rodden (2017), Conway utilizou o termo ao ser confrontada sobre a
diferença existente entre a declaração de Spicer e as fotos da posse e
estatísticas levantadas por profissionais. Para Conway, Spicer baseou sua
afirmação em ‘fatos alternativos’ aos apresentados pelos especialistas até então.
Por último, o surgimento da ‘deepfake’ leva a desinformação a um
patamar ainda mais complexo e refinado: a manipulação de vídeos em uma
elaborada tecnologia de sobreposição de imagens. De acordo com Floridi
(2018), técnicas de inteligência artificial permitiram o desenvolvimento de
softwares de deepfake. Neles, a criação de vídeos falsos é feita substituindo
elementos do vídeo, como as faces das pessoas que aparecem na gravação
original por outras, que se tenham registros visuais digitais armazenados. Os
casos típicos de deepfake envolvem a criação de pornografia com celebridades
e de declarações de figuras políticas que nunca aconteceram.
A desinformação, portanto, assume diversas formas de transmissão,
adequando-se às novas tecnologias e dinâmicas da comunicação presentes na
sociedade da informação. Conhecer suas bases epistemológicas e seus
mecanismos de ação é o primeiro passo para desenvolver ações que combatam
a sua disseminação. Além disso, é importante que processos de leitura e
pensamento críticos sejam desenvolvidos, permitindo ao indivíduo adquirir
conhecimento com confiabilidade informacional9.
4 CONCLUSÃO
Pós-verdade, fake news, deepfakes e fatos alternativos são, portanto,
algumas das formas contemporâneas que a desinformação assumiu dentro do
contexto da sociedade da informação e da cibercultura. São formas que,
atreladas ao fenômeno da hiperinformação, se disseminam facilmente nas redes
sociais e nos veículos de informação de forma geral. Além de instaurarem uma
9
Tal discussão é devidamente ampliada em Leite (2018).
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crise dentro dos meios de comunicação, geram transtornos sociais e acabam
deteriorando o próprio sentido da transmissão da informação.
A transição da modernidade, conforme discutido pelas análises
sociológicas, fez com que conceitos que pareciam fortes e incontestáveis, como
o de ‘verdade’ ou ‘realidade’, se demonstrem abertos a uma renovação de
significados – demanda de uma revolução em curso, a da informação. Se existe
algo que o atual contexto informacional pode levar a supor é que, o que existia
no passado era uma ‘ilusão da verdade’. Não pelo fato de a verdade não existir
(como o relativismo exagerado pode sugerir), mas justamente por deixar mais
explícito que as instituições que até então pareciam ser detentoras de uma
verdade universal e total (como a Igreja, a Mídia, o Estado, os contratos sociais,
as ‘grandes narrativas’), são representantes de apenas uma parte da realidade.
E, invariavelmente, manipulam esta realidade para atender aos seus interesses
(deliberados ou inerentes à sua natureza).
No entanto, a queda de tal ilusão causa uma desorientação inerente a
uma forma de viver nova e desconhecida. O cenário da desinformação, conforme
sugere Demo (2000), prevê ações de controle, mas ao mesmo tempo um
cuidado na utilização deste. A grande questão parece ser em como manter a
liberdade associada à confiabilidade, no constante fluxo de informações. Pois,
sem o devido cuidado, o controle de informações pode tornar-se facilmente
sinônimo de censura e repressão.
O papel que o profissional da informação assume diante de tal cenário
prevê tarefas múltiplas e um maior cuidado no atendimento das necessidades
informacionais do seu público. É preciso disseminar informações confiáveis, mas
também é preciso manter a liberdade de acesso a qualquer caminho
informacional. No entanto, defende-se que desconsiderar a desinformação como
uma forma de informação é uma ação necessária para superar a crise
informacional dos meios digitais. É também uma forma da Ciência da Informação
fortalecer seu campo de atuação e se concretizar epistemologicamente.
REFERÊNCIAS
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THE CONTEMPORARY INFORMATIONAL CONTEXT:
THE SPREAD OF MISINFORMATION AND ITS
MANIFESTATIONS IN THE DIGITAL ENVIRONMENT
ABSTRACT
Introduction: The article discusses the current scenario of misinformation on the web
with the emergence of terminologies such as 'fake news', 'post truth', 'deepfake', among
others. Firstly, the paper alludes to the socio-historical discussions that characterize the
period of transformation of modernity (postmodernity, high modernity, liquid modernity).
It also presents theoretical notions about the information society and cyberculture. Such
contextualization provides the basis for some definitions of information and
misinformation. Objective: To present the current informational context involving the
misinformation and suggest new dynamics about the role of the information professional
and about the field of Information Science. Methodology: Using as an epistemological
model, the theory and the conceptual map of Luciano Floridi, through an exploratory
bibliographical research. Results and conclusion: Concludes that, faced with this new
scenario, a critical look at how to deal with information is essential, looking for ways to
ensure information reliability. This scenario also proposes new challenges and
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O contexto informacional contemporâneo: o crescimento da desinformação e suas
manifestações no ambiente digital
paradigms for information professionals and for Information Science as an area of
knowledge.
Descriptors: Misinformation. Information dissemination. Information reliability. Fake
news. Information society.
EL CONTEXTO INFORMACIONAL CONTEMPORÁNEO:
EL CRECIMIENTO DE LA DESINFORMACIÓN Y SUS
MANIFESTACIONES EN EL AMBIENTE DIGITAL
RESUMEN
Introducción: El artículo aborda el actual escenario de la desinformación presente en
la web con el surgimiento de terminologías como 'fake news', 'posverdad', 'deepfake',
entre otros. Para ello, primero remite a las discusiones socio-históricas que caracterizan
el período de transformación de la modernidad (posmodernidad, alta modernidad,
modernidad neta). También presenta nociones teóricas sobre la sociedad de la
información y la cibercultura. Tal contextualización sirve de fundamento para algunas
definiciones sobre información y desinformación. Objetivo: Presentar el actual contexto
informacional envolviendo la desinformación para sugerir nuevas dinámicas en el papel
del profesional de la información y en el campo de actuación de la Ciencia de la
Información. Metodología: Utiliza como modelo epistemológico, la teoría y el mapa
conceptual de Luciano Floridi, por medio de una investigación bibliográfica exploratoria.
Resultados y conclusión: Concluye que, ante este nuevo escenario, es imprescindible
una mirada crítica en la forma de lidiar con la información, buscando formas de asegurar
la confiabilidad informacional. Tal escenario también propone nuevos desafíos y
paradigmas a los profesionales de la información ya la Ciencia de la Información como
área del conocimiento.
Descriptores: Desinformación. Diseminación de la información. Confiabilidad
informacional. Fake news. Sociedad de la información.
Recebido em: 14/10/2019
Aceito em: 21/04/2020
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