Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Espeleologia
Campinas SP, 07 a 10 de julho de 2005 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
GEOESPELEOLOGIA DO SISTEMA DE CAVIDADES
SÃO BENTO, JANUÁRIA/MGi
[GEOSPELEOLOGY OF THE CAVE SYSTEM OF SÃO BENTO, JANUÁRIO (MG)]
Thiago FALEIROS-SANTOS; Rodrigo Ponciano GOMES; Cláudio Maurício TEXEIRA-SILVA
Sociedade Excursionista e Espeleológica - SEE - spe_1937@yahoo.com.br
Cx. Postal: 68 - CEP: 35400-000 - Ouro Preto, MG
RESUMO
A área cárstica de São Bento situa-se a cerca de 18km, para WSW, de Januária/MG. Essa área foi estudada e
caracterizada em fevereiro de 2004. Foram levantados dados geoespeleológicos das grutas Finado Bastos (06 pontos
descritos), Anexo I (16), Anexo II (20) e Anexo III (03), com a finalidade de reunir considerações espeleogenéticas
em comum de cada cavidade num contexto regional, Sistema de Cavidades São Bento. As grutas estão hospedadas em
um calcário calcítico cristalino laminado com níveis centimétricos à métricos de brechas carbonáticas
intraformacionais intercalados. Desenvolvem-se preferencialmente segundo as direções de fraturamento NE-SW e
NW-SE, sendo a formação atribuída preferencialmente à Zona Freática da espeleogênese. As cavidades são jovens à
maduras e, atualmente, vadosas.
Palavras-Chave: Dados geoespeleológicos; considerações espeleogenéticas; contexto regional; direções de
fraturamento.
[ABSTRACT]
The karst area of São Bento is located some 18 km WSW of Januária (MG). The area was studied and described in
February 2004. Geospeleological data of the caves Finado Bastos (6 points described): Appendices I (16), II (20) and
III (03) were obtained to unite the common aspects of speleogenesis in the regional context of the cave system of São
Bento. The caves are housed in crystalline calcitic limestone cut by layers of limestone breccia which range in
thickness from centimeters to meters. The caves have developed preferentially NE-SW and NW-SE, following
fratures, with formation mainly in the freatic zone. The caves, ranging from young to mature, are at present located in
the vadose zone.
Key words: Geospeleolgoical data; speleolgenesis; regional context; fracture direction.
INTRODUÇÃO
Em fevereiro de 2004 foi realizada uma excursão de
campo à cidade de Januária,MG e seus arredores por
membros da Sociedade Excursionista e Espeleológica.
No presente trabalho serão apresentados os dados
geoespeleológicos obtidos em cada cavidade estudada
distrito de São Bento, distrito de Januária.
Este
trabalho
propõe
uma
caracterização
geoespeleológica regional - Sistema de Cavidades São
Bento - a partir dos levantamentos geológicos em cada
cavidade bem como no exocarste correspondente,
abordando
considerações
espeleogenéticas
das
cavidades estudadas.
PhotoShop.
O município de Januária localiza-se cerca de 160Km de
Montes Claros,MG no norte do estado de Minas Gerais
(Figura 01).
METODOLOGIA, LOCALIZAÇÃO E VIAS DE
ACESSO
Foram realizadas coletas de dados geoespeleológicos
(rocha, sedimentos e geomorfologia) no campo,
utilizando martelo e bússola de geólogo, lupa (até 20X)
para descrição petrográfica macroscópica, ácido HCL
diluído (10%), caderneta, lápis e borracha. Os trabalhos
de escritório foram basicamente tratamento e
organização dos dados, bem como elaboração do
relatório, utilizando os softwares Corel Draw 12.0,
Stereonet, Auto Cad 2004, Excel, Word e Adobe
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Figura 01 – Mapa de Localização
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GEOLOGIA REGIONAL
A região de Januária, MG está inserida geologicamente
no centro-sul do Cráton São Francisco. Litologicamente
esta região encontra-se coberta por uma seqüência
sedimentar carbonática-pelítica tipicamente marinha que
caracterizam variações eustáticas do nível do mar.
Fechando esta seqüência tem-se uma sedimentação
terrígena siliciclástica. Essas unidades litoestratigráficas
de idade Neoproterozóica são descritas e agrupadas
dentro do Grupo Bambuí (Pflug & Ranger 1973),
Supergrupo São Francisco, caracterizado como uma
Bacia de Ante-país. É subdivido nas seguintes
formações, da base para o topo: Sete Lagoas, Serra de
Santa Helena, Lagoa do Jacaré, Serra da Saudade e Três
Marias. As deformações existentes são resultantes da
reativação das faixas móveis Brasilianas e diminuem
progressivamente das bordas para o interior do Cráton.
GEOLOGIA LOCAL
Litoestratigraficamente têm-se (Rabelo et al. 1977), da
base para o topo:
Formação Januária/Itacarambi - Calcários calcíticos
cristalinos laminados (CCCL) com laminações
horizontalizadas, intercalações de lentes (cm) de silexito
e níveis (cm a m) de brechas intraformacionais,
compostas por matriz e clastos de rochas, ambos
carbonáticos, sendo os segundos retangulares, angulosos
e mal selecionados, porém, pouco desorganizados
indicando um colapso sem transporte. Apresentam
estratificações cruzadas do tipo hummockies, estruturas
de escape de fluidos e superfícies estilolíticas. Nestas
rochas encontram-se as cavidades estudadas.
Formação Nhandutiba - Siltitos com intercalações de
arenitos finos e calcilutitos.
Formação Urucuia – conglomerados localizados,
siltitos na base e arenitos no topo.
Essas rochas foram levemente afetadas por esforços
tectônicos (provavelmente Ciclo Brasiliano), resultando
padrões estruturais identificados como fraturas e falhas
de direções preferenciais NE-SW e NW-SE. Podem
ocorrer dobras suaves nos calcários, de natureza
simétrica, ou ainda, pequenas falhas de baixo ângulo de
mergulho que truncam os estratos, podendo denotar
leves deformações. O acamamento encontra-se bem
preservado,
horizontal
a
sub-horizontal.
O
metamorfismo parece ser ausente ou insipiente, podendo
considerar o conjunto rochoso como tipicamente
sedimentar.
Um exocarste bem formado é bastante marcante na
região de Januária, MG, principalmente nas
proximidades das cavidades estudadas. É um carste
exposto composto por uma grande diversidade de
formas residuais como cannyons e paredões rochosos de
dezenas de metros, destacam-se também maciços
individualizados e torres. Outras feições comumente
presentes são dolinas e uvalas podendo atingir
dimensões de centenas de metros. Tais feições chegam a
se comunicar com as cavidades que representam o
endocarste da região, podem ser encontradas na forma
de clarabóias. Foram observados sumidouros, surgências
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e vales cegos, assim como o aspecto ruiniforme
proporcionado por lapiás e microformas de dissolução
nos paredões rochosos.
GEOSPELEOLOGIA
DAS
CAVERNAS
ESTUDADAS
LAPA DO FINADO BASTOS
A notação utilizada para nomear os pontos de descrição
geoespeleológica da Lapa do Finado Bastos foi GFB 01
(lê-se: geoespeleologia da Lapa do Finado Bastos ponto
número 01).
GFB 01 - Geomorfologia: boca retangular (largura x
altura = 10m x 6m).
GFB 02 - Rocha: calcário calcítico cristalino laminado
(CCCL) horizontal com níveis de superfícies estilolíticas
e lentes de silexito. Tem-se nível de calcário (35cm)
apresentando intraclastos.
Sedimentos: colunas, escorrimentos (dm), cortinas e
microtravertinos; blocos abatidos.
Geomorfologia: Salão retangular (05m x 05m).
GFB 03 - Rocha: CCCL horizontal com níveis de
silexito.
Estruturas: Fraturas (S1 e S2) - S1 = N30°E, 90° e S2 =
N30°W, 90°.
Sedimentos: cascas finas com travertinos, colunas,
escorrimentos, microtravertinos, calcita cintilante,
coralóides, estalactites, estalagmites, cortinas com
pontas serrilhadas e ninhos de pérolas.
GFB 04 - Rocha: CCCL horizontal com níveis de
estilolitos e lentes de silexito.
Sedimentos: blocos abatidos sendo que alguns estão
recobertos por coralóides; cortinas, cascas finas,
escorrimentos e lustres.
Geomorfologia: salão com clarabóia.
GFB 05 - Rocha: CCCL horizontal com níveis de
silexito.
Estruturas: Acamamento - S0 = 90/06, Fratura - S2 =
N70°W, subvertical.
Geomorfologia: conduto meandrante em forma de funil.
No piso as feições são freáticas, já próximo ao teto são
vadosas.
GFB 06 - Rocha: CCCL com níveis de superfícies
estilolíticas. Tem-se outro nível litológico composto por
brecha carbonática com cerca de 60cm de espessura em
contato concordante ao CCCL.
Sedimentos: coralóides, estalactites e microtravertinos;
blocos abatidos.
As direções de desenvolvimento dos condutos
coincidem com um par conjugado de fraturas NW-SE e
NE-SW, pré-dissolução. As feições freáticas são
predominantes,
assim
a
espeleolgenêse
foi
preferencialmente na zona freática (Lino, 2001).
Secundariamente têm-se feições vadosas, e, ainda,
processos de incasão são relevantes. Atualmente a gruta
é vadosa estando entre as fases jovem e madura na sua
formação.
Paleopisos foram identificados a partir da presença de
casca fina o que indica mudanças, rebaixamento, do
nível freático local.
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LAPA DO ANEXO I
A notação utilizada para nomear os pontos de descrição
geoespeleológica desta cavidade (Mapa 01) foi G 01 (lêse: geoespeleologia da Lapa do Anexo 01 ponto número
01).
G 01 - Rocha: calcário calcítico cristalino com
estratificação (CCCE) paralela levemente ondulada,
cinza médio, apresentando estilolitos intercalados ao
acamamento que é subhorizontal.
G 02 - Sedimentos: coralóides, estalactites (dm),
cortinas, travertinos e microtravertinos; blocos abatidos
e espeleotemas abatidos recobrem o piso.
G 03 - Rocha: CCCE plano-paralela com inclinação de
baixo ângulo, observaram-se lentes (cm) de silexito
além de níveis de brecha sedimentar interdigitados.
Estruturas: Fratura - S1 = N15E, subvertical.
Sedimentos: coralóides e casca fina.
Geomorfologia: Conduto triangular apresentando três
níveis, um argiloso (nível atual) e dois paleopisos, o
primeiro situa-se a cerca 50cm acima do nível argiloso,
já o segundo fica a 2 m desse nível.
G 04 - Rocha: CCCE cruzada.
Sedimentos: blocos abatidos.
G 05 - Sedimentos: argilas no piso; presença de
coralóides, escorrimento, cortinas (cm), estalactites e
travertinos.
G 06 - Rocha: brecha sedimentar carbonática intercalada
a camadas calcárias estratificadas plano-paralelas com
superfícies estilolíticas com percolações de óxido de
ferro.
Sedimentos: cortinas (cm), algumas com ponta
serrilhada e, próximo ao piso, têm-se vários coralóides.
G 07 - Rocha: brecha sedimentar carbonática em
contanto com calcário calcítico cristalino subhorizontal.
Sedimentos: blocos abatidos recobertos por calcita
cintilante; coralóides.
Geomorfologia: salão retangular.
G 08 - Sedimentos: coralóides, microtravertinos, pérolas
de caverna (mm a cm), cortinas (cm a dm) e calcita
cintilante.
Geomorfologia: conduto com teto plano.
G 09 - Sedimentos: piso argiloso; blocos abatidos com
partes revestidas por espeleotemas; coralóides, calcita
cintilante, cortinas, microtravertinos, casca fina,
estalactites (cm a dm), ninho de pérolas cúbicas e
canudos de refresco.
Geomorfologia: nível de entupimento a 3m do piso
delimitado por casca fina; salão retangular; canal d’
água intermitente esculpido nas argilas.
G 10 - Rocha: CCCE paralela ondulada e lentes de
silexito.
Sedimentos: blocos abatidos e estalactites (cm).
G 11 - Rocha: calcário mais carbonoso que o anterior,
preto, horizontal.
Sedimentos: têm-se blocos abatidos e coralóides.
Geomorfologia: salão retangular.
G 12 - Sedimentos: blocos abatidos (dam); presença de
lustres, travertinos, estalactites com escorrimento e
cortinas que às vezes terminam em estalactites
(“cortinite”).
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G 13 - Rocha: calcário calcítico cristalino.
Estruturas: Fraturas - S1 = N40E,subvertical e S2 =
N30W,subvertical.
Geomorfologia: lapiás verticais, salão retangular.
G 14 - Estruturas: Fraturas - S1 = N45E,subvertical e S2
= N45W,subvertical.
Sedimentos: coralóides.
G 15 - Rocha: CCCE paralela-ondulada.
Sedimentos: casca fina, cortinas, lustres, escorrimentos e
coralóides.
Geomorfologia: nível de entupimento a 2m do piso.
Observações: os espeleotemas ocorrem somente acima
da casca fina.
G 16 - Rocha: CCCL com nível brechado e lentes de
silexito isoladas e interligadas.
Estruturas: Fratura - S1 = N40E,subvertical
Sedimentos: presença de escorrimento revestido por
cristais aciculares e radiais de gipsita.
Geomorfologia: conduto triangular.
Foi observado que o desenvolvimento dos condutos é
concordante à direção do par conjugado de fraturas
N40E e N30W, ambas subverticais (Mapa 01). As
feições predominantes são freáticas, contudo existem
feições vadosas na gruta mais recentes. Assim, a gruta é
espeleogeneticamente freática, sendo atualmente vadosa.
O desenvolvimento dos salões é, predominantemente,
por incasão.
Foram identificados pelo menos três níveis de oscilação
hidrostática, onde os níveis mais altos da gruta
encontram-se na fase madura da espeleogênese. Os
níveis mais inferiores são jovens.
Mapa 01: Localização dos pontos de descrição
geoespeleológica da Lapa do Anexo I; confronto estereograma
de fraturas e direção de desenvolvimento dos condutos (Mapa
GEO-Januária,MG).
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LAPA DO ANEXO II
A notação utilizada para nomear os pontos de descrição
(Mapa 02) foi GAII 01 (lê-se: geoespeleologia da Lapa
do Anexo II ponto número 01).
GAII 01 - Rocha: calcário calcítico cristalino laminado
(CCCL).
Sedimentos: blocos abatidos, folhas e galhos;
estalactites, colunas e estalagmites (m) e coralóides.
Geomorfologia: fenda inclinada descendente; boca
retangular.
GAII 02 - Rocha: CCCL apresentando lentes de silexito
e níveis (mm) de concreções silicosas arredondadas
(d=1mm) típicas de escape de fluidos. Tem-se esfoliação
do calcário segundo diáclases concordantes com o
desenvolvimento do conduto.
Estruturas: Fratura - S1=N55W,subvertical.
Sedimentos: blocos abatidos e argila; estalactites,
estalagmites, escorrimentos, coralóides, cortinas e casca
fina.
Geomorfologia: conduto retangular apresentando níveis
de entupimento.
GAII 03 - Rocha: do piso para o teto têm-se: brecha
carbonática calcítica cristalina com seixos carbonáticos
angulosos e retangulares cujos comprimentos variam de
poucos milímetros a 30cm e a espessura média é de
1cm; calcário calcítico cristalino com estratificações
cruzadas apresentando truncamentos de baixo ângulo;
CCCL com intercalações de superfícies estilolíticas e
lentes de silexito. Todo este pacote calcário apresenta
processos de esfoliação segundo diáclases.
Estruturas: Fraturas - S1=N55W,subvertical e
S2=N85E,subvertical.
Sedimentos: argilas; coralóides, travertinos, casca fina,
escorrimentos, cortinas e estalactites.
GAII 04 - Sedimentos: argilas; escorrimentos,
coralóides e estalactites. Casca fina aparentemente fecha
o conduto. Têm-se flores de gipsita (05mm) e helictites
(cm)
Geomorfologia: nível de entupimento a 80cm do chão
delimitado por uma laje de casca fina que também
interrompe o conduto. Através de um nível superior,
conduto elipsoidal descendente com altura e largura
máximas de 1m e 0,80m respectivamente, tem-se acesso
à continuação do conduto, atrás da casca fina, que é
rosariforme com 0,80m de largura por 8m de altura. O
piso é aparentemente oco.
GAII 05 - Rocha: CCCL horizontal.
Sedimentos: argilas; escorrimentos, calcita cintilante,
coralóides, casca fina, travertinos, microtravertinos,
estalactites, estalagmites, cortinas e pérolas de caverna
(máx.: diâmetro (d)=5cm e min.: d=2mm).
Geomorfologia: boca retangular propiciando à caverna
entrada abrupta subverticalizada.
GAII 06 - Sedimentos: blocos abatidos e argilas;
estalagmites, estalactites, escorrimentos, casca fina e
coralóides. Têm-se algumas estalactites revestidas por
coralóides.
GAII 07 - Rocha: CCCL subhorizontal com
intercalações de superfícies estilolíticas preenchidas por
material silicoso.
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Sedimentos: casca fina, travertinos, microtravertinos,
coralóides, escorrimentos, cortinas, estalactites e pérolas
de caverna concretadas por coralóides (máx.: d=8cm e
mín.: d=2mm).
GAII 08 - Sedimentos: blocos abatidos, argilas, galhos e
folhas; coralóides, cortinas, estalactites e escorrimentos.
Geomorfologia: presença de clarabóia originada por
dolinamento de colapso.
GAII 09 - Sedimentos: argilas secas e blocos abatidos;
casca fina, coralóides, estalactites, cortinas e
escorrimentos.
Geomorfologia: entupimento da cavidade pelos
sedimentos.
GAII 10 - Sedimentos: argilas; estalactites,
estalagmites, colunas, escorrimentos, coralóides,
travertinos e pérolas de caverna (máx.: d=3cm e mín.:
d=2mm).
Geomorfologia: trata-se de um nível superior
desenvolvido sobre os escorrimentos.
GAII 11 - Rocha: CCCL subhorizontal com
intercalações de superfícies estilolíticas.
Sedimentos: argilas e espeleotemas abatidos; casca fina,
estalactites, coralóides, escorrimentos, cortinas e
helictites de até 10cm de comprimento.
Geomorfologia: nível de entupimento 3m acima do piso.
Conduto retangular com pendentes (cm) nas paredes.
GAII 12 - Sedimentos: blocos abatidos; escorrimentos,
coralóides, estalactites e helictites.
Geomorfologia: conduto afunilado pelos sedimentos.
Acesso à continuação da cavidade por um quebra-corpo
descendente em uma fenda.
GAII 13 - Rocha: CCCL subhorizontal com
intercalações de superfícies estilolíticas, lentes de
silexito (cm) e níveis de concreções (mm) arredondadas
típicas de fluidização. Tem-se esfoliação do calcário
segundo diáclases concordantes ao desenvolvimento do
conduto.
Estruturas: Fratura - S1 = E-W,subvertical
Sedimentos: blocos abatidos, argilas e espeleotemas
quebrados; escorrimentos e coralóides.
GAII 14 - Rocha: CCCL subhorizontal com
intercalações de superfícies estilolíticas e lentes de
silexito branco.
Sedimentos: argilas e espeleotemas quebrados; casca
fina, coralóides, estalactites, cortinas e escorrimentos.
Geomorfologia:
conduto
triangular
rosariforme
descendente. Nas paredes têm-se pendentes (mm) e
ranhuras paralelas ao acamamento.
GAII 15 - Estruturas: Fraturas - S1 = N70E,subvertical
e S2 = N15W,subvertical.
Sedimentos: argilas; coralóides e casca fina.
GAII 16 - Rocha: CCCL subhorizontal com
intercalações de superfícies estilolíticas e lentes de
silexito. Pacote de 60cm de brecha carbonática
interdigitada ao calcário.
GAII 17 - Estruturas: Fraturas - S1 = N68E,subvertical
e S2 = N35W,subvertical.
Sedimentos: argilas úmidas devido a gotejamentos
presentes.
GAII 18 - Rocha: CCCL subhorizontal com
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intercalações de superfícies estilolíticas e lentes de
silexito branco.
Sedimentos: blocos abatidos e argilas; coralóides e casca
fina.
Geomorfologia: arestas arredondadas. Nível de
entupimento observado.
GAII 19 - Estrutura: Fratura - S1 = N60W,subvertical.
Sedimentos: blocos abatidos, galhos e folhas.
Geomorfologia: boca em uma fenda inclinada
descendente segundo S1.
GAII 20 - Sedimentos: blocos abatidos e argila;
coralóides.
Geomorfologia: conduto triangular descendente.
Os condutos desenvolvem-se segundo as direções das
famílias de fraturas de direções NW-SE e ENE-WSW
(Mapa 02). Os salões foram desenvolvidos nas
interseções entre estas fraturas principais. As feições
freáticas são predominantes, admitindo-se gênese na
zona Freática da espeleogênese. Presença de feições
vadosas mais novas, sendo que, atualmente a caverna é
vadosa sendo espeleogeneticamente jovem a madura.
Níveis de oscilação do freático e entupimentos foram
evidenciados pela presença de cascas finas e sedimentos
argilosos.
Mapa 02: Localização dos pontos de descrição geoespeleológica na Lapa do Anexo II; confronto estereograma de fraturas e
direção de desenvolvimento dos condutos. (Mapa SEE/EM,2004).
LAPA DO ANEXO III
A notação utilizada para nomear os pontos de descrição
(Mapa 03) foi GAIII 01 (lê-se: geoespeleologia da Lapa
do Anexo III ponto número 01).
GAIII 01 - Rocha: calcário calcítico cristalino laminado
(CCCL) apresentando níveis de brecha carbonática com
clastos retangulares (cm a dm). Observaram-se vênulos
de calcita concordantes ao acamamento horizontal e
presença de lentes de silexito.
Sedimentos: blocos abatidos e espeleotemas recobertos
por sedimentos argilosos; escorrimentos com
microtravertinos, calcita cintilante e casca fina.
Geomorfologia: canal esculpido nas argilas caracteriza
um sumidouro intermitente; nível de entupimento
superior delimitado por casca fina.
GAIII 02 - Rocha: CCCL horizontal.
Sedimentos: blocos abatidos; estalactites.
Geomorfologia: conduto triangular. Observaram-se
ranhuras na rocha, concordantes com S0.
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GAIII 03 - Rocha: CCCL com intercalações de
superfícies estilolíticas e presença de lentes de silexito
branco.
Sedimentos:
blocos
abatidos
recobertos
por
estalagmites, escorrimentos com travertinos e calcita
cintilante. Têm-se ainda a ocorrência de blisters e
estalactites.
O conduto principal, N-S, é coincidente com a direção
principal de fraturamento. Tem-se alargamento deste
conduto por incasão que também é responsável pela
existência de passagens sob os blocos abatidos. Foi
observado entupimento da caverna por sedimentos
argilosos e espeleotemas.
Atribui-se gênese na zona freática a partir da observação
de feições freáticas predominantes. Atualmente a
caverna é vadosa e pode ser considerada “velha” por
encontrar-se na interface das fases madura e senil de sua
espeleogênese.
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Mapa 03: Localização dos pontos de descrição geoespeleológica na Lapa do Anexo III (Mapa SEE/EM,2004)
CONCLUSÕES
As rochas carbonáticas aflorantes e hospedeiras das
cavidades estudadas são calcários calcíticos cristalinos
laminados, horizontais a sub-horizontais, com
interdigitações de níveis (cm a m) de brechas
intraformacionais e presença de lentes (cm) de silexito.
Apresentam, ainda, estratificações cruzadas com
truncamentos de baixo ângulo, estruturas de fluidização
e superfícies estilolíticas. Essas rochas estão fraturadas,
segundo as direções preferenciais NW e NE.
As cavidades estudadas têm seus desenvolvimentos
preferenciais
controlados
pelas
direções
dos
fraturamentos conjugados NE-SW e NW-SE (Figura
02), estas famílias de fraturas ocorrem em todo a região
e foram as principais responsáveis pelas captações das
soluções espeleogenéticas freáticas e vadosas. Processos
de abatimento de blocos (incasão), paralelos ao
acamamento rochoso, foram observados colaborando à
formação dos salões das cavernas que são
desenvolvidos, preferencialmente, nas interseções dos
fraturamentos conjugados.
A presença de feições freáticas é predominante em
relação as vadosas e, aparentemente, mais antiga,
contemporânea à formação inicial das cavernas. As
feições vadosas são posteriores e principalmente
definidas pelos níveis de entupimento e/ou oscilação do
nível freático presentes em todas as cavernas estudadas.
Atualmente são vadosas e jovens a maduras (Lino,
2001).
A Lapa do Anexo III apresenta algumas peculiaridades:
possui desenvolvimento principal N-S e é
espeleolgeneticamente madura a senil, sendo a mais
ornamentada por espeleotemas em quantidade,
qualidade e volume.
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Os dados obtidos e apresentados, apesar de satisfatórios,
são preliminares, sendo que uma investigação
geoespeleológica mais detalhada é necessária à melhor
compreensão espeleogenética da área.
Figura 02 : Direções preferenciais de fraturas e
desenvolvimento das cavidades do Sistema de Cavidades São
Bento, distrito homônimo, Januária, MG.
AGRADECIMENTOS
Àqueles que de alguma forma contribuíram para a
realização
deste
trabalho,
em
especial
ao
DEGEO/EM/UFOP, à FUNDAÇÃO GORCEIX, à
FUNDAÇÃO VICTOR DEQUECH, aos alunos da
disciplina Espeleologia 2004/01 e ao GEO/Januária.
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BIBLIOGRAFIA
LINO, C. F. 2001. Cavernas, O fascinante Brasil
subterrâneo. 2 ed. São Paulo, Ed. Gaia. 288p.
PFLUG, R. & RANGER, F. 1973. Estratigrafia e
Evolução geológica da margem SE do cráton São
Francisco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEOLOGIA, 27, Aracaju,1973. Anais... Aracaju, SBG.
V. 2, P. 5 – 19.
RABELO, E. A. , LOPES, F. & COSTA, P. C. G. 1977.
Geologia da região de Januária / Itacarambi. Belo
Horizonte. Projeto Bambuí Norte / METEMIG. 37 p.
i
O conteúdo deste trabalho é parte do relatório de conclusão
da Disciplina Eletiva Espeleologia do curso de Engenharia
Geológica do DEGEO/EM/UFOP, apresentado pelos autores
Faleiros-Santos & Gomes no 1° semestre de 2004.
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