Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Espeleologia
Campinas SP, 07 a 10 de julho de 2005 - Sociedade Brasileira de Espeleologia
GEOLOGIA DO VALE DO RIO AREIA – UNAÍ (MG)
[GEOLOGY OF THE VALLEY OF THE AREIA RIVER – UNAÍ (MG)]
Cristiano Masayoshi Menezes FURUHASHI *,***; Thiago Vaz ANDRADE *,***;
Samuel Fernandes da COSTA NETO *,***; Estela Leal do NASCIMENTO *,***;
Santino ARAÚJO FILHO *,***; Lucíola Alves MAGALHÃES *, ***; Edi Mendes GUIMARÃES **;
Danielle Santos CUNHA ***; Marcos Paulo BORGES ***; Maria Emília Schutesky Della GIUSTINA ***.
* Grupo Espeleológico da Geologia – Universidade de Brasília (GREGEO-UnB) - gregeo@unb.br
** Departamento de Mineralogia e Petrologia (GMP), Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (IG/UnB).
*** Graduação em Geologia do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB).
thiagovaz@pop.com.br; samuelneto@gmail.com; rxedi@unb.br
RESUMO
O vale do rio Areia possui uma área de 50km2 que marca a transição abrupta de um relevo plano (de chapada) onde se
desenvolvem extensas culturas agrícolas, para um relevo dissecado. Como a área possuía um histórico de mineração
de dolomito para fins agrícolas, acabou-se por descobrir um grande sistema de cavernas na região, o que impulsionou
os primeiros trabalhos de prospecção e mapeamento de cavernas a partir dos anos 90. Geologicamente o vale do rio
Areia está inserido na porção leste da Faixa Brasília, no extremo norte do Grupo Vazante. Este trabalho apresenta o
mapeamento geológico em escala 1:50.000, além do detalhamento lito-estratigráfico do Grupo Vazante e a verificação
da qualidade da água local, como base para um melhor entendimento do meio físico da área. Estratigraficamente
foram definidos dois níveis principais, o terrígeno e o carbonático, sendo que cada um desses foi dividido em quatro
fácies. A geoquímica da água apresenta valores compatíveis com a Resolução CONAMA 020 e com a Portaria MS
1.469.
Palavras-Chave: Vale do rio Areia, Grupo Vazante, mapeamento geológico, lito-estratigrafia, qualidade da água.
[ABSTRACT]
The valley of the Areia River, with an area of 50 km2, marks an abrupt transition from a flat terrain (a plateau) with
extensive agricultural cultivation, to broken terrain. The area was historically mined for dolomite for agricultural
purposes, and a large system of caves has been found in the region. The first activities of prospection and mapping of
the caves started in the 1990’s. Geologically, the valley of the Areia River is inserted in the eastern part of the Faixa
Brasilia, at the extreme north of the Vazante Group. This paper presents the geological mapping of the area on a scale
of 1:50.000, as well as the litho-stratigraphic details of the Vazante Group and the verification of the quality of the
local water supply, serving as a basis for a better understanding of the physical environment of the area.
Stratigraphically, two main levels were defined, one terrigenous and the other carbonatic, with each one being divided
in four facies. The geochemistry of the water revealed values compatible with those recommended by the resolution
020 of CONAMA and the decree MS 1.469.
Key words: Valley of the Areia river; Grupo Vazante; geological mapping; lithostratigrafy; water quality.
INTRODUÇÃO
A região cárstica do Vale do Rio Areia, no município de
Unaí/MG, foi descoberta no início da década de 1990
por Leonildes Soares de Melo Filho, à época integrante
do Grupo Espeleológico da Geologia (GREGEO-UnB),
ao analisar fotografias aéreas da região e encontrar
alguns sumidouros e ressurgências ao longo de todo
vale, uma evidência clara de um grande sistema de
cavernas. Durante alguns anos, poucas expedições foram
realizadas na região, mas com novas descobertas
(submetidas ao cadastro da Sociedade Brasileira de
Espeleologia – SBE) houve um incremento no número
de expedições e um conseqüente aumento no interesse
pela região.
A partir de 1993 ampliou-se o conhecimento na região
através de expedições mais freqüentes, gerando mapas
espeleométricos e arquivos fotográficos além da
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descoberta de várias cavidades.
O presente trabalho é resultado de um mapeamento, em
nível de graduação, para a disciplina “Estágio
Supervisionado em Geologia” no ano de 2003,
coordenado pela Prof. Dra. Edi Mendes Guimarães, do
IG/UnB, somados aos dados espeleológicos coletados
pelo GREGEO-UnB (do qual a maioria dos autores são
membros) durante os últimos anos de trabalho na região
estudada.
LOCALIZAÇÃO
A área mapeada constitui uma poligonal fechada com
área de 50 km2 e está localizada a noroeste no Estado de
Minas Gerais, município de Unaí, à aproximadamente
170 km de Brasília-DF (figura 01). A principal via de
acesso saindo de Brasília é a BR-251 e os principais
acessos à área estudada são por estradas não
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pavimentadas: a primeira entre duas torres de
transmissão de telefonia e a segunda pela que liga UnaíMG a Cristalina-GO.
Figura 01: Contexto geológico regional (adaptado de
Dardenne & Schobbenhaus, 2001) e fotografia aérea 1:60.000
com a localização da área estudada
METODOLOGIA
A metodologia empregada seguiu os padrões utilizados
no mapeamento geológico convencional, dividida em
três etapas:
a) Etapa de preparação: foram utilizados como base
cartográfica a folha Queimados, escala 1:100.000 do
Exército, as fotos aéreas USAF 22 – 121, 122 e 123,
escala 1:60.000 e imagens do satélite LANDSAT, além
do levantamento da bibliografia disponível;
b) Etapa de campo: realizada entre os dias 19 e 22 de
setembro de 2003, contou com a participação de
membros do Gregeo-UnB para auxiliar os autores na
localização das entradas e na segurança dentro das
grutas. As equipes se revezaram na coleta de amostras
dentro e fora das cavernas e no trabalho de mapeamento;
c) etapa laboratorial: onde foram analisadas vinte e
seis amostras por meio de Difração de Raios–X, dentre
as quais, nove amostras foram selecionadas para
confecção de lâmina delgada e análise geoquímica de
elementos. Foram analisadas também três amostras de
água coletadas em pontos pré-definidos e uma amostra
de solo.
As análises químicas foram realizadas no Laboratório de
Geoquímica da Universidade de Brasília. As amostras de
rocha e de materiais inconsolidados foram digeridas pelo
método de fusão com LiBO2 (ataque II) numa diluição
de 0,05g de amostra para 500mL. Os elementos maiores
foram analisados pelo Espectrômetro de Emissão
Atômica com Plasma Indutivamente Acoplado
(ICP/AES), calibrado para o programa MAIORSIM. Já
as amostras de água foram analisadas de acordo com os
métodos padrões do laboratório baseados no Standart
Methods for Water Analysis. Para a leitura de
constituintes maiores e traços em água utilizou-se o
Espectrômetro de Emissão Atômica com Plasma
Indutivamente Acoplado (ICP/AES), calibrado para o
programa IRD – Água.
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ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
O rio Areia é um afluente do Rio Preto, tributário do Rio
Paracatu, pertencente à Bacia do São Francisco.
O clima da região é
essencialmente tropical, com
dois períodos bem definidos.
O período chuvoso abrange
os meses de outubro a abril,
destacando-se o trimestre
novembro,
dezembro
e
janeiro. O período seco
abrange os meses de junho a
agosto. As temperaturas
máximas
ocorrem
geralmente no mês de
setembro e seu valor médio
varia entre 31,7°C e 28,3°C.
As temperaturas mais baixas
ocorrem no mês de julho,
com média mínima variando entre 13,4°C e 11,8°C.
A região é caracterizada por vegetação de cerrado,
formada por um estrato herbáceo-arbustivo, que é uma
forma intermediária de vegetação entre cerrado “strictu
sensu” e o campo sujo (figura 02_a). Nas rochas
carbonáticas domina a mata mesofítica ou mata seca, que
são as formações florestais de inferflúvio, em lugares
com umidade suficiente para um amplo desenvolvimento
vegetativo (figura 02_b).
a.
b.
Figura 02: a) Aspecto da vegetação de cerrado que recobre as
unidades terrígenas; b) Detalhe da mata mesofítica ou mata
seca em rochas carbonáticas
Entalhado na chapada (declividade menor que 3%), o
vale do Rio Areia mostra encostas fortemente onduladas
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(declividade maior que 8%) e a base suavemente
ondulada. Dentro do vale os morros têm topos
sustentados por corpos carbonáticos silicificados (figura
03). Nas chapadas, cujas bordas são sustentadas por
crostas lateríticas, encontram-se latossolos com
coloração amarelo-avermelhada. Os cambissolos
ocupam as encostas de rochas, caracterizados pela
pequena espessura e pela presença de fragmentos líticos.
Figura 03: Aspecto do relevo na região do Vale do rio Areia
mostrando as encostas do vale com estruturas de ravinamento,
além da superfície de aplainamento (chapada), bem como, seu
estrato herbáceo arbustivo nas encostas (canto esquerdo da
foto) e a vegetação mesofítica nas regiões com rochas
carbonáticas (vegetação mais densa nos morros no centro da
foto).
Na baixada do vale encontram-se solos coluvionares e
aluvionares, predominantemente acumulados em
depressões cársticas.
GEOLOGIA REGIONAL
O vale do Rio Areia se insere na porção leste da Faixa
Brasília, que se estende por aproximadamente 1.200km2,
na direção NS (figura 01), representando uma cadeia
orogênica com vergência para leste, em direção ao
Cráton São Francisco (Costa & Angeiras, 1971;
Dardenne, 1978).
O vale corresponde à dissecação de rochas do Grupo
Vazante, aflorantes nas encostas e na base. Este grupo,
que se estende por 250km, também na direção NS,
compreende um espesso conjunto de rochas terrígenas e
carbonática de origem litorânea a plataformal.
Inicialmente as rochas desse grupo foram atribuídas ao
Grupo Bambuí (Branco & Costa, 1961), posteriormente
posicionadas na Formação Paraopeba (Braun, 1968).
Dardenne (1978) individualizou a Formação Vazante,
subdividindo-a nos membros Morro do Calcário, Serra
do Poço Verde e Serra do Garrote, mantendo a
correlação com o Grupo Bambuí.
Proposto como Grupo Vazante (Dardenne, 1998 in:
Dardenne & Schobbenhaus, 2001) foi individualizado,
da base para o topo, nas formações Serra do Garrote,
Serra do Poço Verde, Morro do Calcário e Lapa.
Posteriormente foram acrescentadas à sua base as
formações Santo Antônio do Bonito, Rocinha e Lagamar
(Dardenne & Schobbenhaus, 2001).
Laranjeira (1992) individualiza na região de Unaí (MG)
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sete unidades lito-estratigráficas, enumeradas de I a VII,
incluídas nos grupos Paranoá e Bambuí. Ao topo do
primeiro grupo (Unidade Psamo-pelito-carbonatada) são
atribuídas as unidades portadoras de estromatólitos tipo
Conophyton (I e II) e de psamitos (IV), bem como o
nível intercalado entre elas (III) e a seqüência turbidítica
(V).
Laranjeira não sustenta uma correlação da unidade VI
com a Fm. Vazante, pela ausência de trabalhos na região,
mas correlaciona a unidade VII à porção superior (Fm.
Três Marias e/ou Serra da Saudade) do Grupo Bambuí,
com base no trabalho de detalhe a norte na Serra Geral
do Rio Preto realizado (Dardenne & Guimarães,1989).
O contexto geotectônico mostra que as unidades
descritas anteriormente sofreram deformação durante o
Ciclo Brasiliano (Proterozóico Superior), em um esforço
compressivo de direção NE / SW, responsável por
dobramentos em escala mega a mesoscópica, associados
a falhamentos e fraturamentos (Laranjeira, 1997).
LITOESTRATIGRAFIA
As unidades identificadas no vale do Rio Areia
formaram-se em dois momentos distintos: Proterozóico
Superior, no qual as rochas do Grupo Vazante se
depositaram e foram deformadas (Laranjeira, 1992),
enquanto
que,
provavelmente
no
Cenozóico,
desenvolveram-se as coberturas pedogênicas e os
sedimentos recentes.
Na área, foram individualizados dois grandes conjuntos
litológicos: as unidades terrígena (T) e carbonática (C),
respectivamente na base e no topo. Cada uma das
unidades apresenta diferentes fácies. Ambas as unidades
mostram características do Membro Serra da Lapa –
Formação Lapa – Grupo Vazante (Dardenne, 1998 in:
Dardenne & Schobbenhaus, 2001).
No nível terrígeno, predominantemente síltico, foram
definidas quatro fácies superpostas (figura 04). Na fácies
T-I, com cerca de 13 metros de espessura, os siltitos
laminados são intercalados por níveis centimétricos de
conglomerados finos, siltitos e argilitos maciços e
arenitos líticos. Não tendo sido observado o contato
basal, esta fácie é marcada, na porção inferior, por
estruturas do tipo hummocky, enquanto no topo ocorrem
laminações cruzadas e marcas onduladas de pequeno
porte. Presença de um nível com piritas limonitizadas no
meio do pacote. Na fácies T-II, sobrejacente, dominam
os níveis de siltito laminado com intercalações de siltito
maciço, com cerca de 10 metros de espessura. Na fácies
T-III predomina a intercalação de níveis de arenito lítico
e de siltito maciço, mostrando estruturas do tipo marcas
onduladas, pseudo-nódulos e flaser, com espessura total
de 12 metros. Finalmente na fácies T-IV as camadas de
siltito maciço são mais espessas que as de siltito
laminado, também contendo marcas onduladas, cuja
espessura é de 20 metros.
Para o conjunto das rochas carbonáticas diferenciou-se
também quatro fácies (figura 05). A fácies C-I tem na
base dololutito laminado com camadas de brecha e
níveis de dolarenito, além de corpos estromatolíticos,
tendo 5,5 metros de espessura. A fácies C-II é
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caracterizada por dolarenitos contendo biohermas com
estromatólitos colunares e camadas de brecha, com 3,75
metros de espessura. A fácies C-III é formada por
dolarenito com biohermas laminados e a intercalação de
dolorudito, com 6 metros de espessura. Por fim, a fácies
C-IV foi definida como a intercalação de níveis de
dolarenito, dolorudito e brecha, com estromatólitos
colunares na base, com 9 metros de espessura. O mapa
geológico e um perfil representativo é mostrado na
figura 06.
As análises por Difratometria de Raios-X mostraram que
esses sedimentos (que formam uma camada no piso das
cavernas) são basicamente constituídos por quartzo,
caolinita, dolomita, além de constituintes menores tais
como ilita e plagioclásio rico na molécula da anortita,
além de um mineral do grupo da esmectita-saponita. Os
sedimentos que cobrem as paredes da caverna formam
uma crosta de óxido e hidróxido de ferro (goetita) e
manganês originados da decomposição do carbonato.
Esses sedimentos não apresentam teores anômalos de
Manganês, mas podem conter minerais manganesíferos.
Figura 04: Coluna estratigráfica da unidade terrígena
SEDIMENTOS RECENTES
Dentro das cavernas estudadas foram encontrados
sedimentos inconsolidados, depositados em suas paredes
e pisos dos salões e/ou corredores. Este material é fruto
da dissolução dos carbonatos, da ação do intemperismo
nas rochas pelíticas presentes nas cavernas e também do
intemperismo externo, que colabora para o transporte
dos sedimentos para dentro da caverna por ação da água
das drenagens, que em alguns locais marcam os antigos
níveis de base das drenagens.
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Figura 05: Coluna estratigráfica da unidade carbonática
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NE associadas. As falhas
encontradas
na
região
variam quanto ao tamanho,
em escala microscópica
(>1mm) a macroscópica
(até 3m) possuem rejeito
mergulhando
preferencialmente
para
SSW
e
localmente
encontram-se dobras de
arrasto métricas (~5m)
associadas
a possíveis
falhas normais regionais,
com eixo mergulhando para
NE (figura 08). Outras
feições
indicativas
de
falhamentos presentes na
área são as brechas
tectônicas, estromatólitos
quebrados e inclinados e
descontinuidade
nos
sedimentos.
Os dados obtidos indicam
uma compressão regional
NE/SW na bacia e três fases
de deformação: a primeira,
denominada de Dn-1, singenética e associada à
formação dos sedimentos
da bacia, indicada por
brechas tectônicas. A fase
Dn (D1) está associada à
formação de uma foliação
subhorizontal (S1) paralela
(ou subparalela) a S0 e a
fase (D2) é responsável pelo
dobramento da foliação S1 e
formação
de
dobras,
localmente centimétricas e
assimétricas, com eixo
mergulhando para SW/
SSW (figura 09).
Figura 06: a) Mapa geológico mostrando as litologias
diferenciadas neste trabalho; b) Perfil geológico para a área de
estudo
GEOLOGIA ESTRUTURAL
O vale do Rio Areia se estende por 50 Km2 na direção
NNW e representa uma estrutura sinfórmica, com eixo
mergulhando para SE.
As dobras encontradas na área são preferencialmente
centimétricas (5 a 15cm), assimétricas, com eixo
mergulhando para SW/ SSW e vergência para leste, mas
não foram caracterizadas no modelo de Ramsay, devido
a alteração e principalmente as poucas dobras in situ
encontradas, que dificultou também a hierarquia (figura
07).
As fraturas foram caracterizadas como ortogonais (NNW
e ENE), lisas, com espaçamento 3/m e 4/m
respectivamente e com fraturas de cisalhamento NW e
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Figura 07: Diagrama Schmidt de S0 (plotagem de pólos no
hemisfério inferior). Note que a guirlanda mostra uma
compressão preferencial NE e SW e um eixo
mergulhando para SE
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Figura 08: Diagrama em roseta com fraturas com mais de 80°.
Note que as fraturas ortogonais indicam direção ENE e NNW
com associação de fraturas de cisalhamento com direção
NW e NE.
GEOQUÍMICA DA ÁGUA
Os parâmetros físico-químicos das amostras de água
coletadas foram obtidos in loco e nas análises
laboratoriais. A partir dos dados obtidos foi gerada uma
tabela correlacionando os parâmetros físico-químicos.
Os elementos traços, por apresentarem baixos teores, não
foram representados (figura 10).
Uma alta alcalinidade é naturalmente esperada na
amostra da gruta do Areia, por ter sido coletada no
interior da caverna, o que é confirmado pelos teores de
cálcio e magnésio. Conseqüentemente, um valor elevado
de sólidos dissolvidos totais (TDS) e de condutividade
são também observados nesta amostra.
A amostra coletada na Gruta Paulista apresenta valores
de alcalinidade, TDS e condutividade próxima aos da
amostra coletada na gruta do Areia. As leituras elevadas
de oxigênio consumido para a amostra da gruta Paulista
refletem uma maior concentração de matéria orgânica.
Entretanto, se observado o fato da restrição da vida à
luminosidade, a amostra coletada na Gruta Areia
apresenta um valor de oxigênio
consumido muito elevado. A partir
dos dados obtidos não é possível
uma identificação clara do
ocorrido com a amostra. Sugere-se
que
interferentes
tenham
influenciado na leitura deste
parâmetro. Além disso, esta
amostra também apresenta um
valor elevado de turbidez. Pode
estar ocorrendo uma interferência
dos íons de cálcio e magnésio
dissolvidos na água.
Em relação aos teores de ferro e
alumínio das grutas Sheila
Molhada e Paulista, a Gruta Areia
mostra uma diminuição dos íons
na água. Sugere-se que esteja
ocorrendo a retirada destes
elementos como precipitados na
forma de óxidos. Esta hipótese
está de acordo com os valores de
oxigênio consumido na Gruta
Areia.
Pode-se considerar as amostras das
grutas
Areia
e
Paulista
semelhantes, o que se justifica pela
coleta na primeira ter se dado após
a confluência com o ribeirão
Paulista. A amostra da gruta Sheila
Molhada apresenta variações dos
parâmetros analisados em relação
às outras amostras, o que pode
estar relacionado à variação lateral
das camadas existente no Grupo
Vazante (figura 11).
Figura 09: Modelo teórico de deformação regional atuando na
área: sistema compressivo NE/SW gerando dobramentos e
juntas de alívio e fraturas de cisalhamento.
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caolinita, saponita e goetita que forma uma crosta de
óxido de cor negra.
AGRADECIMENTOS
Ao GREGEO–UnB pelo apoio logístico e pessoal, à
HGeo pelo apoio na confecção do relatório para o
Estágio Supervisionado e para o Projeto Areia, ao IGUnB pelo apoio de transporte e laboratorial, e aos
fazendeiros da região, pela cortesia e hospitalidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil / DNPM (1988) Principais Depósitos Minerais do
Brasil. Brasília, Vol. III, pp. 81-88, 101-121.
BRAUN, O. P. G. ,1968. Contribuição à estratigrafia do
Grupo Bambuí. An. 22o Cong. Bras. Geol.,
BeloHorizonte, SBG, 155-166.
Figura 10: Resultados das análises químicas das águas
comparadas aos valores máximos permitidos CONAMA 020 e
Portaria 1469 - MS
COSTA, L.A.M & ANGEIRAS, A. C, 1971.
Geosynclinal evolution in the epi-Baikalian platform of
Central Brazil. Geologische Rundschau, 60(2), 10241050.
DARDENNE, M.A., 1978. Geologia
da região de Morro Agudo (MG). Bol.
Núcleo Centro-Oeste, SBG, 7/8, 6894.
DARDENNE, M.A., NOGUEIRA,
G.M.S. & CAMPOS, J.E.G., 1989.
Litoestratigrafia e Ambientes de
sedimentação na região de Lagamar
(MG). Anais do 5° Simpósio de
Geologia de Minas Gerais, Belo
Horizonte, SBG – Núcleo MG, 10,
271-274.
Figura 11: Resultado das análises químicas de água das grutas
Sheila Molhada, Areia e Paulista
CONCLUSÕES
O mapeamento geológico realizado no Vale do rio Areia
permitiu a confecção de um mapa na escala 1:50.000,
detalhando as lito-estratigrafias do Grupo Vazante na
região. A interpretação estratigráfica estabeleceu uma
divisão geral em duas grandes unidades sedimentares: as
unidades terrígenas e carbonáticas. As unidades
terrígenas e carbonáticas são divididas em quatro fácies
(T-I a T-IV e C-I a C-IV, respectivamente).
Confrontados com a Resolução CONAMA 020 e a
Portaria do Ministério da Saúde nº 1.469, os resultados
das análises geoquímicas mostraram que as águas das
grutas Sheila Molhada, Paulista e Areia são potáveis
quanto à quantidade dos elementos químicos, faltando
dados microbiológicos e coliformes fecais.
Os sedimentos que cobrem o piso das grutas da região
são constituídos de caolinita, proveniente da alteração
das rochas pelíticas da unidade terrígena. Já os
sedimentos que cobrem as paredes da caverna são
produtos da dissociação de carbonatos, contendo
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DARDENNE, M.A. & SCHOBBENHAUS, C., 2001.
Metalogênese do Brasil. CPRM. Ed. Universidade de
Brasília, pp. 198-203.
LARANJEIRA, N.P.F., 1992. Geologia do Grupo
Paranoá na Região de Unaí uma plataforma
siliciclástico - carbonática no Proterozóico de Minas
Gerais. Dissertação de Mestrado n.º 74, Instituto de
Geociências, Universidade de Brasília, Brasília.
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