Ciência Rural, Santa
Falhas
Maria,
na utilização
v.40, n.4, de
p.907-912,
poliacetalabr,
e poliamida
2010
em forma de haste intramedular bloqueada...
907
ISSN 0103-8478
Falhas na utilização de poliacetal e poliamida em forma de haste intramedular bloqueada
para imobilização de fratura femural induzida em bovinos jovens
Failures in the use of polyacetal and polyamide in the form of intramedullary interlocking nail for
immobilization of induced femoral fracture in young cattle
Odael Spadeto JuniorI, II Rafael Resende FaleirosI Geraldo Eleno Silveira AlvesI
Estevam Barbosa de Las CasasIII Luciano Brito RodriguesIII, IV Bruno Zambelli LoiaconoI
Fabiane CassouI
RESUMO
ABSTRACT
Apesar da expressiva evolução da ortopedia
veterinária nos últimos anos, as fraturas de ossos longos em
grandes animais são constante desafio para o médicoveterinário. O presente estudo é parte da proposta de
desenvolvimento de um sistema de haste intramedular
polimérica, de baixo custo e fácil aplicação, para uso em
bovinos jovens e neonatos. Os objetivos foram avaliar, in vivo,
hastes de poliacetal e poliamida para imobilização de fraturas
femorais em bovinos jovens. Cinco bezerros machos foram
submetidos à anestesia geral e tiveram os fêmures esquerdos
fraturados e, em seguida, imobilizados, utilizando-se uma haste
cilíndrica de poliacetal ou poliamida inserida no canal
intramedular e bloqueada por quatro parafusos corticais de
aço inoxidável, inseridos na diáfise em seu sentido lateralmedial e igualmente distribuídos distal e proximal à linha de
fratura. Durante um período de 60 dias pós-cirúrgico, os
animais foram avaliados por meio de exames clínicos e
radiográficos. Houve fratura em quatro das cinco hastes de
poliacetal implantadas pela primeira vez e em duas das quatro
hastes de poliamida que foram implantadas após a quebra
das de poliacetal. Todas as falhas ocorrerem nas primeiras
duas semanas de imobilização. Não foram verificados
quaisquer sinais de rejeição aos materiais usados. Os resultados
demonstram que as hastes de poliacetal e poliamida não
apresentaram resistência suficiente para, de acordo com o
modelo proposto, promover imobilização precoce de fraturas
de fêmur em bovinos jovens.
In spite of the expressive development of veterinary
orthopedics in the last years, long bone fractures in large animals
remains a challenge for veterinary surgeons. This study is part
of a proposal for development of a low-cost and easy-to-use
polymeric interlocking nail designed to be used in newborns
and young cattle. The objectives were to evaluate, in vivo,
polyacetal and polyamide nails for immobilization of femoral
fractures in calves. Five calves were submitted to general
anesthesia and the left femur was fractured and then fixed
using polyacetal or polyamide rods (nails) interlocked with
four cortical screws (stainless steel) equally applied to the distal
and proximal fracture line. In the postoperative period, calves
were clinically assessed during 60 days by clinical and
radiographic exams. Fractures occurred in four of the five
polyacetal nails implanted in the first time and in two of the
four polyamide nails implanted after the polyacetal nail failures.
All failures occurred in the first 14 days after implantation. No
Palavras -chave: bezerro, haste intramedular, biomaterial,
poliacetal, poliamida.
Key words: calf, intramedullary interlocking nail, biomaterial,
rejection signs against the polymers were observed. In
conclusion, polyacetal and polyamide did not have enough
resistance to be used as intramedullary interlocking nails in
this system designed to promote early femoral fractures
immobilization in young calves.
polyacetal, polyamide.
Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Av. Antonio Carlos, 6627, 30123-970, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: odaeljr@hotmail.com. Autor para
correspondência.
II
Hospital Veterinário, Centro Universitário de Vila Velha (UVV), Vila Velha, ES, Brasil.
III
Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, Escola de Engenharia, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.
IV
Departamento de Tecnologia Rural e Animal, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, BA, Brasil.
I
Recebido para publicação 07.08.09 Aprovado em 21.01.10
Ciência Rural, v.40, n.4, abr, 2010.
908
Spadeto Junior et al.
INTRODUÇÃO
Nos bovinos, as fraturas de ossos longos
ocorrem com relativa frequência (CRAWFORD &
FRETZ, 1985; TROSTLE & MARKEL, 1996), sendo
traduzidas em perdas econômicas significativas, tanto
para pecuária leiteira, como para a destinada à produção
de carne. O valor do animal é o principal ponto a ser
analisado em animais de produção e, na maioria das
vezes, opta-se por eutanásia em razão dos custos
elevados implicados na redução e fixação de fraturas e
cuidados pós-operatórios desses animais (MARTINS
et al., 2001). Contudo, com o grande avanço de técnicas
de reprodução aliadas à seleção genética de bovinos,
principalmente os zebuínos, pode-se observar, no
cenário nacional, animais de alto valor econômico, o
que muda esse paradigma e motiva o cirurgião de
animais de grande porte a atuar de maneira efetiva
quando se depara com as fraturas de ossos longos.
Dentre as fraturas de ossos longos,
destacam-se as ocorrem em bovinos lactentes, muitas
vezes vitimados por pisoteio da mãe. Essa situação
tem se mostrado mais comumente em casos oriundos
de transferência de embriões, quando receptora e cria
permanecem estabuladas no pós-parto. A imobilização
de fraturas, nesses casos, possui ainda outro
agravante, pois a fina espessura da cortical dos ossos
longos jovens não favorece a aplicação de placas
ortopédicas, tratamento de escolha para fraturas em
ossos longos.
Estudos prévios, realizados na Universidade
Federal de Minas Gerais, determinaram que fraturas de
úmero em bovinos jovens podem ser tratadas com
sucesso usando um sistema em forma haste
intramedular bloqueada (DE MARVAL, 2006).
Hastes intramedulares confeccionadas com
aço inoxidável ou titânio têm sido amplamente utilizadas
na imobilização de fraturas de ossos longos em
humanos (BHAT et al., 2006), bem como em animais
domésticos como cães (GIORDANO et al., 2006) e gatos
(ROMANO et al., 2008). Essa técnica possui a vantagem
de, ao mesmo tempo, atuar ao longo do eixo mecânico
central do osso e impedir movimentos de rotação que
impedem a adequada cicatrização, além de preservar
os conceitos de padrões biológicos de osteossíntese
(ROMANO et al., 2008). Contudo, podem produzir
complicações como não união ou união retardada,
quebra da haste ou dos parafusos, erros de bloqueio
dos parafusos, infecções, neuropraxias, formações de
pseudoartroses e contraturas musculares (GIORDANO
et al., 2006). Estudos retrospectivos têm demonstrado
falhas estruturais em 5% das hastes implantadas em
humanos (BHAT et al., 2006).
No estudo de bovinos, DE MARVAL (2006)
adaptou a técnica consagrada de haste intramedular
bloqueada de humanos para bovinos, utilizando um
tarugo de polipropileno, um polímero de baixo custo,
como haste intramedular, a fim de facilitar a confecção
e aplicação do implante.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar,
in vivo, hastes de poliacetal e a poliamida em forma de
haste intramedular bloqueada para imobilização de
fraturas de fêmur em bovinos jovens. O polipropileno
não foi utilizado, pois estudos ex vivo sugeriram que o
polipropileno não teria resistência suficiente para
suportar as cargas mecânicas impostas ao fêmur bovino
(SPADETO JR et al., 2008). Hastes de poliacetal e
poliamida já haviam sido utilizadas com sucesso no
tratamento de fratura experimental de tíbia em coelhos
(BROWN & MAYOR, 1980).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados cinco bezerros machos,
puro sangue da raça Holandesa, pesando em média (±
desvio padrão) 88±7kg, com idade entre 85 e 100 dias
de vida, oriundos de uma única propriedade, localizada
no Município de Inhaúma – Minas Gerais. Após
realização de exames clínicos e hematológicos de rotina,
esses animais foram mantidos por um período de 15
dias em regime alimentar padronizado à base de ração,
com de 16% de proteína bruta, sendo alimentados com
um kg, duas vezes ao dia, mais feno de Tifton (Cynodom
dactylon) e água à vontade.
Após 24 horas de jejum, os animais foram
pré-medicados com cloridrato de xilazina 2% (0,05mg
kg-1, IM), foi realizada a anestesia geral induzida com
cloridrato de cetamina 10% (1,5mg kg-1, IV) e mantida
com isoflurano volatilizado em oxigênio por um
vaporizador termo-compensável em circuito
semifechado conectado à sonda orotraqueal. Antes da
recuperação da anestesia e em intervalos de 12 horas,
foi administrado cloridrato de tramadol (1mg kg-1, IM),
por um período de três dias, seguindo protocolo
descrito por DE MARVAL (2006).
Sob anestesia geral, com o bezerro em
decúbito lateral direito, foi realizada uma incisão de
pele linear que se iniciava caudalmente ao trocânter
maior do fêmur esquerdo e se estendia até o epicôndilo
lateral. Em seguida, foi feito um plano de dissecação
paralelo à borda cranial do bíceps femoral e ao tensor
da fáscia lata. Abaixo dessas estruturas encontrava-se
o músculo vasto lateral, que foi rebatido para exposição
da diáfise do fêmur, seguindo técnica descrita por
TROSTLE et al. (1995).
Ciência Rural, v.40, n.4, abr, 2010.
Falhas na utilização de poliacetal e poliamida em forma de haste intramedular bloqueada...
Após a exposição do fêmur, foi induzida uma
fratura na diáfise, na transição entre os terços proximal
e médio, de forma oblíqua. A secção do osso foi realizada
em sentido crânio-proximal para caudo-distal com fio
serra Gigle, em um ângulo de aproximadamente 40 graus
em relação ao eixo longitudinal do osso (TROSTLE &
MARKEL, 1996), sendo o ponto inicial de corte
localizado 3,0cm distalmente ao trocânter maior em sua
face lateral.
A fratura foi imediatamente reduzida e
imobilizada pela introdução retrógrada da haste de
poliacetal (tarugo de poliacetala) de 12mm de diâmetro
(autoclavada durante 30min a 134ºC), após a fresagem
do canal medular com auxílio de uma broca de aço de
mesmo diâmetro, de forma semelhante ao previamente
descrito para o úmero (DE MARVAL, 2006). Essa
abertura foi realizada na extensão do canal medular,
tanto no fragmento distal, como no proximal,
estendendo-se até criar um orifício na fossa trocantérica.
Após colocação retrógrada da haste, sua extremidade
foi identificada por palpação, e a pele e a musculatura
foram incididas para promover a exposição da haste. A
haste então foi inserida no sentido proximal, até que
sua extremidade distal ficasse alinhada à fratura. A partir
desse momento, as extremidades ósseas fraturadas
foram reduzidas, e a haste foi rebatida no sentido distal
até alcançar o osso esponjoso.
Para o bloqueio da haste, foram utilizados
dois parafusos ósseos corticais de aço inoxidável
4,5mm em cada fragmento, colocados de forma
transversal ao eixo do osso e inseridos a partir da face
lateral, de forma a fixar a cortical de ambos os lados.
Esse procedimento foi realizado após perfuração, tanto
da cortical, quanto da haste, sendo usadas broca e
furadeira, seguidas do uso de rosqueador. Após o
bloqueio, a parte externa da haste, que ficou exposta
acima da fossa trocantérica, foi aparada com auxílio do
fio serra.
Terminada a fixação da fratura, a musculatura
e o tecido subcutâneo das incisões laterais e da região
da fossa trocantérica foram aproximados por meio de
suturas simples contínuas utilizando fio de poliglicólico
n.0. As incisões de pele foram aproximadas usando
sutura simples separada com fio de poliamida 0,40mm.
Todos os animais receberam cefoquinoma (1,0mg kg-1,
IM) e fenilbutazona (4,4mg kg-1, IV) uma hora antes do
procedimento cirúrgico e, em intervalos de 24 horas,
por mais quatro dias, seguindo protocolo citado por
DE MARVAL (2006).
Em caso de fratura da haste, os animais eram
novamente submetidos ao protocolo anestésico, sendo
a haste fratura removida e substituída por outra haste
de mesmo diâmetro de poliacetal ou de poliamida (tarugo
de poliamida 6.6a).
909
Imediatamente após a recuperação
anestésica, os animais foram avaliados quanto à
capacidade de retorno à posição de estação
quadrupedal, deambulação e à presença de sinais de
dor e desconforto mediante a palpação e flexão do
membro fraturado. Diariamente, foram realizados exames
clínicos a fim de monitorar a condição geral de cada
animal, a presença e o grau de claudicação, as
condições da ferida cirúrgica e os possíveis sinais de
dor e desconforto em estação.
Exames radiológicos foram realizados
durante o pós-operatório imediato e aos 20, 40, e 60
dias, usando incidência latero-medial (70kV, 30mA). A
análise dos achados radiológicos concentrou-se
principalmente em verificar a posição adequada dos
implantes, a formação do calo ósseo e as possíveis
complicações, como desalinhamento da linha de fratura,
migração do implantes e possível sobreposição das
extremidades fraturadas, sinalizando falha da haste e/
ou quebra de parafusos.
Nos animais que apresentaram
complicações mais severas, como desalinhamento das
extremidades ósseas e ou fratura da haste de poliacetal,
uma ou duas novas intervenções cirúrgicas,
dependendo do caso, foram realizadas para remoção
dos implantes danificados e nova fixação óssea com a
metodologia descrita anteriormente, sendo utilizado o
mesmo material ou poliamida 6,6 como haste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os bezerros retornaram movimentos
voluntários cerca de 10 minutos após o término da
oferta de isoflurano. Sialorreia discreta foi observada
no período entre a retirada da sonda orotraqueal e a
recuperação da consciência. Todos os animais iniciaram
deambulação utilizando o membro com a fratura de
fêmur, ainda com grau de claudicação tipo IV,
imediatamente depois de adotada a posição de estação.
Em geral, a dor no foco de fratura iniciou com grau IV,
logo após a primeira semana de pós-operatório,
regredindo para grau III, na segunda semana, e grau II,
na quarta semana, no bezerro que não apresentou falha
na haste inicial (bezerro 31). Nos casos onde houve
falha da haste e os animais foram submetidos na nova
intervenção, o grau de dor retornava a IV, e a melhora
iniciava na semana seguinte.
Durante o período experimental, os bezerros
apresentaram ganho médio de peso correspondente a
50,7% do peso inicial. Isso mostra que as condições de
bem-estar oferecidas foram adequadas.
A técnica cirúrgica para acesso e exposição
do fêmur se mostrou de fácil execução. A cirurgia para
Ciência Rural, v.40, n.4, abr, 2010.
910
Spadeto Junior et al.
aplicação do implante foi realizada sem grandes
complicações, e as intervenções posteriores mostraram
que os parafusos foram inseridos corretamente no
centro ou em local próximo ao centro da haste.
Contudo, não foi possível seccionar a haste rente à
fossa trocantérica, havendo uma sobra de
aproximadamente 4cm em todos os casos.
Conforme verificado na tabela 1, das cinco
hastes de poliacetal implantadas pela primeira vez,
quatro hastes foram fraturadas aos três, seis e 11 dias
após a cirurgia. Em dois animais que tiveram o mesmo
material reimplantado, novas fraturas ocorreram três e
nove dias após a segunda cirurgia. Quatro animais
tiveram a poliamida implantada, dois após terem uma
haste de poliacetal fraturada e os outros dois após a
fratura da segunda haste de poliacetal. Destes, o bezerro
número 30 apresentou fratura da haste de poliamida 14
dias após a terceira cirurgia, e o número 55 apresentou
fratura 12 dias após a segunda cirurgia. Para o bezerro
30, o experimento foi interrompido nesse momento e o
animal foi submetido à eutanásia por questões
referentes ao seu bem-estar; o bezerro 55, em razão das
boas condições clínicas e da estabilidade da fratura,
foi mantido vivo, sem a necessidade de nova cirurgia.
Em todos os casos, a fratura ocorreu na
região do orifício da haste, na interface haste-parafuso
próxima à linha de fratura. Das rupturas verificadas nas
hastes de poliacetal, três ocorreram no local de inserção
do parafuso distal do fragmento proximal do fêmur, e
duas ocorreram no local de inserção do parafuso
proximal do fragmento distal da fratura, mostrando que
esses pontos sofreram maior sobrecarga de forças na
região próxima da linha da fratura.
Apesar da diferença de conformação
estrutural, da posição anatômica e das forças
biomecânicas impostas sobre o úmero e o fêmur, esses
resultados são, de certa forma, inesperados quando
comparados aos resultados de DE MARVAL (2006),
que utilizou com sucesso o polipropileno, um polímero
de menor resistência, como haste intramedular, usando
o mesmo modelo para redução de fraturas de úmero.
Em simulações prévias, usando fêmures de bovinos
jovens em teste ex vivo, em máquinas de ensaio, tanto
o poliacetal, quanto a poliamida 6.6, apresentaram
resultados superiores ao polipropileno (SPADETO JR
et al., 2008; RODRIGUES, 2008).
A ocorrência das fraturas das hastes no
local dos orifícios para inserção dos parafusos ocorreu
de forma similar ao observado nos testes de flexão ex
vivo, realizados previamente em máquina universal de
ensaios (SPADETO JR et al., 2008). Esse local também
condiz com o que foi relatado por DE MARVAL (2006),
após ter realizado a osteossíntese de cinco úmeros de
bezerros com a técnica de hastes bloqueadas
confeccionadas com polipropileno, que também
observou quebra de uma das hastes no local de
inserção do parafuso distal do fragmento proximal.
TROSTLE et al. (1995), em estudo biomecânico ex vivo
Tabela 1 - Procedimentos cirúrgicos realizados para imobilização de fratura femoral induzida em bovinos jovens por meio de inserção de
haste intramedular bloqueada. Foram observadas informações sobre possíveis repetições no procedimento (em razão da falha no
implante utilizado), sobre o intervalo entre o dia do procedimento e o dia da indução da fratura óssea e sobre o material utilizado
na confecção da haste em cada uma das intervenções.
--------------------------Procedimento cirúrgico-------------------------Bezerro
1o
2o
3o
4o
1
Intervalo para a fratura óssea (dias)
Material da haste
0
Poliacetal
6
Poliamida
-
-
30
Intervalo para a fratura óssea (dias)
Material da haste
0
Poliacetal
3
Poliacetal
6
Poliamida
20
#
31
Intervalo para a fratura óssea (dias)
Material da haste
0
Poliacetal
-
-
-
39
Intervalo para a fratura óssea (dias)
Material da haste
0
Poliacetal
3
Poliacetal
12
Poliamida
-
55
Intervalo para a fratura óssea (dias)
Material da haste
0
Poliacetal
11
Poliamida
-
-
# Eutanásia.
Ciência Rural, v.40, n.4, abr, 2010.
Falhas na utilização de poliacetal e poliamida em forma de haste intramedular bloqueada...
com fêmures de bezerros ostectomizados para
comparar a resistência mecânica de hastes metálicas
cilíndricas e hastes sólidas, revelaram que o ponto de
enfraquecimento da haste cilíndrica foi localizado na
inserção dos parafusos próximos à linha de fratura. Na
medicina humana, ROBERT et al. (1988), após
analisarem 133 casos de complicações pós-operatórias
relacionadas à utilização de hastes intramedulares em
fraturas de fêmur, também relataram falha dos parafusos
próximos à linha de fratura como sendo o principal
problema na utilização desse tipo de implante.
Os parafusos de 4,5mm foram resistentes às
tensões impostas a eles, uma vez que não foram
verificadas fraturas ou deformações. DE MARVAL
(2006) utilizou parafusos de 3,5mm de diâmetros para
redução de fraturas de úmeros em bezerros com haste
confeccionada com polipropileno e observou quebra
dos parafusos de 3,5mm, que foram substituídos por
parafusos de 4,5mm, sem posteriores complicações. Por
outro lado, as perfurações fora do centro da haste e o
uso do parafuso de 4,5mm (em comparação com o de
3,5mm) podem ter contribuído para a fragilização das
hastes utilizadas. Essas observações também foram
feitas por DE MARVAL (2006), quando esse autor
reduziu fraturas transversas de úmeros em bezerros
com hastes confeccionadas com polipropileno. Nos
testes biomecânicos ex vivo realizados com fêmures
de bezerros por TROSTLE et al. (1995), com a
comparação das hastes metálicas cilíndricas e das
hastes metálicas sólidas, os autores utilizaram
parafusos com 5,5mm e, após submeteram a testes de
torção e compressão crânio-caudal, observaram que
os parafusos nesse diâmetro promovem danos à cortical
óssea sem sofrer modificações estruturais. Além disso,
esses mesmos autores indicaram falha da haste
cilíndrica no ponto de inserção do parafuso próximo à
linha de fratura.
Para minimizar a fragilização da haste no
momento da inserção do parafuso e evitar a
descentralização do orifício na haste polimérica, o
desenvolvimento de um gabarito para guiar a broca no
momento da perfuração, conforme sugerido por DE
MARVAL (2006), poderá ser bastante útil.
Além da relativa fragilidade dos materiais
poliméricos quando comparados aos materiais
metálicos, outros fatores podem estar envolvidos na
falha das hastes. O diâmetro da haste ocupou
aproximadamente 70% do canal medular nas regiões
proximal e distal do fêmur. O fato de essas regiões
estarem localizadas onde o canal medular possui maior
diâmetro pode ser o motivo que dificultou o contato da
haste e do endósteo, permitindo a mobilidade do
implante no momento das perfurações, o que justificaria
911
as perfurações em sua periferia e isso poderia favorecer
as fraturas. De acordo com STIFFLER (2004), o sistema
de bloqueio permite que o diâmetro das hastes
intramedulares possa ser igual a ou 1mm menor que o
diâmetro do canal medular, sem que isso comprometa a
estabilização da fratura.
Fêmures de bezerros possuem pouca
densidade óssea (TROSTLE et al., 1995; DE MARVAL,
2006; RODRIGUES, 2008) e esse fato pode ser um
agravante no prognóstico dos tratamentos cirúrgicos
(TROSTLE et al., 1995). O bezerro de n. 39, que teve a
haste de poliacetal quebrada por duas vezes, foi
submetido a novo procedimento cirúrgico com a
colocação de uma haste intramedular confeccionada
com poliamida e, no momento da remoção da haste
danificada, foi observada uma fissura no fêmur, no local
de inserção do parafuso distal do fragmento proximal.
Para evitar maior fragilização do osso, a haste foi
substituída e não foi recolocado o parafuso distal nesse
fragmento. Ao final de 60 dias do início do experimento,
esse bezerro apresentava encurtamento no membro
fraturado, com hiperextensão da articulação
metartarsofalangeana do membro contralateral.
No momento da transição da posição de
decúbito para a posição de estação e da posição de
estação para a de decúbito, os bezerros submetem as
hastes intramedulares a forças mecânicas extras e isso
pode ter influenciado negativamente as hastes. Em seis
ocasiões, as fraturas parecem ter ocorrido no sentido
cranial, o que indica a presença de forças de flexão no
fêmur, provavelmente imposta pelos movimentos
citados anteriormente, as possíveis forças na
articulação fêmoro-tíbio-patelar e o próprio
posicionamento anatômico do fêmur (ângulo
aproximado de 40º em relação ao solo), posição que
possivelmente o submete a forças de flexão.
Apesar da utilização do membro
imediatamente após a cirurgia, pôde-se observar atrofia
da musculatura da perna operada em todos os animais.
Dois (31 e 39) dos cincos bezerros apresentaram
hiperextensão do boleto dos membros pélvicos
contralaterais; isso ocorreu, provavelmente, pelo
rápido ganho de peso desses animais e também pela
sobrecarga desses membros numa tentativa de adotar
posição de conforto durante a alimentação. O
crescimento rápido, associado ao ganho de peso que
os animais tiveram durante o experimento, pode ter sido
um fator que contribuiu diretamente para a ocorrência
das falhas nas hastes de poliacetal e poliamida. Esse
parâmetro deve ter maior atenção em estudos futuros.
Outro fator que pode ter contribuído para o
aparecimento dessas alterações nesses animais é o
encurtamento dos membros que tiveram o fêmur
Ciência Rural, v.40, n.4, abr, 2010.
912
Spadeto Junior et al.
fraturado. Esse encurtamento também é citado na
literatura humana, principalmente em fraturas
cominutivas (BELANGEO et al., 1994; FERNADES et
al., 1997; ROSSETTI et al., 1997) e por DE MARVAL
(2006), no seu trabalho com osteossíntese em úmeros
de bezerros.
CONCLUSÕES
As hastes de poliacetal e poliamida não
apresentaram resistência suficiente para, de acordo com
o modelo proposto, promover imobilização precoce de
fraturas de fêmur em bovinos jovens.
AGRADECIMENTO E APRESENTAÇÃO
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
Nível Superior (CAPES) E Fundação de Amparo à Pesquisa
Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo financiamento
projeto.
O presente trabalho é parte da Dissertação
Mestrado do primeiro autor, Odael Spadeto Junior.
de
do
do
de
COMITÊ DE ÉTICA
Comitê de Ética em Experimentação Animal da
UFMG (protocolos 145/04 e 136/09).
FONTES DE AQUISIÇÃO
a - Maxibor do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
REFERÊNCIAS
BELANGEO, W.D. et al. Fraturas diafisárias do fêmur: estudo
comparativo entre os métodos de Kuntscher e de Ender. Revista
Brasileira de Ortopedia, v.29, n.7, p.510-518, 1994.
Disponível em: <http://www.rbo.org.br/pdf/1994_jul_10.pdf>.
Acesso em: 01 jun. 2009.
BHAT, A.K. et al. Mechanical failure in intramedullary
interlocking nails. Journal of Orthopaedic Surgery, v.14,
n.2, p.138-141, 2006. Disponível em: <http://www.josonline.org/
pdf/v14i2p138.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2009.
BROWN, S.A.; MAYOR, M.B. Intramedullary nailing with
metals and plastics. In: UHTHOFF, H.K.; STAHL, E. (Eds).
Current concepts of internal fixation of fractures. Berlin:
Springer Verlag, 1980. p.423-428.
CRAWFORD, W.H.; FRETZ, P.B. Long bone fractures in large
animals A retrospective study. Veterinary Surgery, v.14, n.4, p.295302, 1985. Disponível em: <http://www3.interscience.wiley.com/
journal/119852065/abstract>. Acesso em: 01 jun. 2009. doi: 10.1111/
j.1532-950X.1985.tb00889.x.
DE MARVAL, C.A. Estudo ex vivo e in vivo de polímero
biocompatível como material alternativo na confecção
de haste bloqueada para redução de fraturas em úmeros
de bezerros. 2006. 54f. Dissertação (Mestrado em Medicina
Veterinária) - Programa de Pós-graduação em Medicina
Veterinária, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas
Gerais, MG.
FERNANDES, H.J.A. et al. Tratamento de fraturas diafisárias
instáveis do fêmur com haste intramedular bloqueada. Revista
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