ISSN electrónico: 2172-9077
DOI: https://doi.org/10.14201/fjc2019198797
CINEMA
EXPANDIDO PORTUGUÊS DO SÉC.
XXI
Portuguese Expanded Cinema of the 21th Century
Prof. Doutor Paulo CUNHA
Professor Auxiliar
Universidade da Beira Interior, Portugal
E-mail: pmfcunha@ubi.pt
http://orcid.org/0000-0003-4890-7931
Fecha de recepción del artículo: 01/09/2019
Fecha de aceptación definitiva: 24/10/2019
RESUMO
Muitas seriam os casos de estudo interessantes para várias reflexões sobre várias questões,
mas optamos por conhecer com maior detalhe o percurso de três jovens artistas portugueses que tem posto em diálogo a linguagem cinematográfica com a arte contemporâneo,
explorando as relações múltiplas entre a sala de cinema e a galeria de arte. Pela projecção
internacional da sua obra e pela complexidade do seu trabalho, mas também pela maior
facilidade de acesso às suas obras, escolhi debruçar-me sobre os casos de Gabriel Abrantes, Filipa César e Salomé Lamas, sabendo que muitos outros aspectos ficariam, de certa
forma, colocados em plano paralelo ou secundário.
Palavras chave: Cinema português; Cinema expandido; Gabriel Abrantes; Filipa César;
Salomé Lamas.
ABSTRACT
It would be very interesting case studies for various reflections on various issues, but we
chose to know in more detail the path of three young Portuguese artists who have put
dialogue between film language and contemporary art, exploring the multiple relationships between the cinema and the art gallery. Because of the international projection of
his work and the complexity of his work, but also the easier access to his works, I chose
to look into the cases of Gabriel Abrantes, Filipa César and Salomé Lamas, knowing that
many other aspects would be, in a way, placed in parallel or secondary plane.
Key words: Portuguese Cinema; Expanded Cinema; Gabriel Abrantes; Filipa César; Salomé
Lamas.
1. Introducción
No início dos anos 80, num período de forte internacionalização do cinema português no contexto europeu, onde se sucederam prémios importantes e um reconhecimento crítico inédito, Portugal começou a ser visto como um espaço cinematográfico
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de «origem demarcada», com uma forte matriz identitária. Durante os anos 80 e 90,
a designada Escola Portuguesa apresentava um conjunto de características formais e
estéticas que ganhavam coerência nas obras de Manoel de Oliveira, António Reis e
Margarida Cordeiro, João César Monteiro, Teresa Villaverde, João Mário Grilo e João
Botelho, apenas para citar alguns nomes. A reflexão meta-cinematográfica sobre uma
condição histórica e cultual, uma suposta identidade portuguesa, serviam de mote
para pensar o país num momento de integração europeia. A cinematografia portuguesa, pouco expressiva do ponto de vista quantitativo, face a diversas contingências
económicas, foi conquistando o seu espaço num circuito de produção e reconhecimento crítico de prestígio.
Gradualmente, esse corpo nuclear de autores foi-se diversificando, abrindo espaço
à afirmação de novos valores que, se por um lado, se inscreviam nessa tradição, por
outro, queriam romper com os cânones estabelecidos nas décadas anteriores. Essa
lenta mudança de paradigma foi sendo alimentada por vários autores, a maioria deles
em permanente diálogo com outras formas de expressão. Há o caso de cineastas que
mantém uma actividade paralela do seu trabalho noutras áreas, como o veterano
Jorge Silva Melo, que fundou a Cornucópia (1973-2016) e os Artistas Unidos (1995-) e
mantém uma carreira de encenador e dramaturgo desde a década de 1970; ou o caso
de Gonçalo Tocha, que mantém uma interessante carreira musical no projecto TochaPestana desde 2004; ou o fotógrafo Daniel Blaufuks, que mantido um percurso cinematográfico (Sob Céus Estranhos, 2002; Um pouco mais pequeno que o Indiana, 2006,
Éden, 2011) paralelo aos trabalhos na fotografia. Existem vários casos de artistas de
outras formas de expressão artística que tem trabalhado recorrentemente com cinema:
o artista plástico Pedro Bastos tem desenvolvido uma interessante carreira cinematográfica (Ao Lobo da Madragoa, 2012; Cabeça de Asno, 2016; Ambulatório através da
poesia de Augusto dos Santos e António Nobre, 2019), sempre num diálogo efervescente entre várias formas de expressão artística; o músico Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), com uma longa carreira na música indie rock começou por realizar
alguns dos seus vídeo musicais (ou em colaboração com Rodrigo Areias), mas que
tem experimentado também a ficção (Amor Quântico, 2019) e a performance (Paleface, na Solar); o fotógrafo João Tabarra também foi adoptado o vídeo como meio
privilegiado no seu trabalho (Mute Control, 2000, em Serralves; Barricades improvisés,
2001); e o mesmo se passa com o artista visual João Onofre, que tem criado diversos
trabalhos em vídeo para exposições individuais e colectivas.
Por outro lado, nas últimas duas décadas, de forma mais recorrente, e à semelhança do que acontece em várias cinematografias de dimensão reduzida, a procura
de meios alternativos de produção e circulação «empurraram» ou «desviaram» para
espaços alternativos diversos cineastas. Em Portugal, registam-se várias incursões de
cineastas com carreiras estabelecidas na área do cinema a fazer incursões por outras
formas de expressão artística: Marco Martins encenou as peças de teatro Estaleiros
(2012), Great Yarmouth (2017) Actores (2017) ou Provisional Figures (2018); João
Botelho já encenou a ópera Banksters (2011) no Teatro São Carlos, em Lisboa. Finalmente, em ocasiões particulares, cineastas promovem encontrou dos seus filmes com
outras formas de apresentação pública, por exemplo: João Pedro Rodrigues e João
Rui Guerra da Mata conceberam, para a Solar – Galeria de Arte Cinemática de Vila do
Conde, a exposição Do Rio das Pérolas ao Ave (2016);
Estes diversos trabalhos são representativos de uma vitalidade intermediática e
intertextual que tem caracterizado o cinema português contemporâneo. Muitas seriam
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os casos de estudo interessante para várias reflexões sobre várias questões, mas
optamos por conhecer com maior detalhe o percurso de três jovens artistas portugueses que tem posto em diálogo a linguagem cinematográfica com a arte contemporâneo, explorando as relações múltiplas entre a sala de cinema e a galeria de arte.
Pela projecção internacional da sua obra e pela complexidade do seu trabalho, mas
também pela maior facilidade de acesso às suas obras, escolhi debruçar-me sobre os
casos de Gabriel Abrantes, Filipa César e Salomé Lamas, sabendo que muitos outros
aspectos ficariam, de certa forma, colocados em plano paralelo ou secundário. O texto
é essencialmente um convite para um primeiro contacto com as obras destes três estimulantes casos de estudo, na expectativa que possa despertar a curiosidade do leitor
e que o leve a ver as obras e a conhecer melhor estes e outros autores.
2. Gabriel Abrantes
Gabriel Abrantes nasceu em 1984, em Chapel Hill, no estado da Carolina do
Norte, nos Estados Unidos da América. Vindo das artes plásticas, mas com formação
académica em cinema e artes visuais, Gabriel Abrantes começou por fazer cinema em
contexto de galeria, realizando e produzindo filmes essencialmente para serem exibidos em exposições de artes plásticas. No entanto, desde cedo começou a construir um
universo estético muito singular no contexto do cinema português contemporâneo. A
obra fílmica de Gabriel Abrantes iniciou-se em 2006 com a produção de vários pequenos filmes que integravam exposições de artes plásticas do autor, mas gradualmente
foi-se encaminhando para processos produtivos mais próximos do cinema e procurando enquadrar-se no circuito cinematográfico, particularmente no circuito dos festivais de cinema. Apesar desta aproximação processual, Gabriel Abrantes (Marmeleira,
2010: em linha) rejeita ser classificado apenas como um cineasta: «Quero fazer cinema,
mas vejo-me como um artista […] Não como pintor, escultor, fotógrafo ou cineasta.
Sou um artista que está a trabalhar em diversos meios.»
De acordo com Alexandre Melo (cit. in Abrantes, 2010: 110)., crítico e pontual
colaborador de Abrantes, as obras Dear God please save me (2006), Anarchist King
(2006), The Razor thin definition of Punk (2006), Arabic Hare (2006), Tunel Performance (2006) e Gugg ‘n’ Tate (2008) incluem-se nos «trabalhos escolares», que se
distinguem da restante obra de Gabriel Abrantes, «antes de mais, pelo seu afastamento
em relação a temáticas que dizem respeito à história da arte, às instituições do mundo
da arte contemporânea e ao modo como com elas se relacionam os jovens artistas».
Gabriel Abrantes (2010: 294) corrobora com esta análise, afirmando que estas obras
focavam «questões relacionas com a crítica institucional do mundo da arte: a função/
economia do mundo da arte, a forma da arte, o questionamento da representação
como tema.»
A transdisciplinaridade é, naturalmente, uma característica muito cara a Gabriel
Abrantes. O jovem autor afirma que trabalha em diversas plataformas porque acredita
que «o conceito ou ideia é a parte mais importante ou valiosa de qualquer trabalho e é
transferível entre plataformas». O que realmente lhe interessa «é a narrativa, que pode
ir desde a escultura até ao cinema, bem como à vida. A criação de objetos úteis, sejam
filmes, pinturas ou concertos, é a [sua] principal intenção» (Abrantes cit. in Marques,
2009: em linha). Ainda a este propósito, ao programa Fotograma, da televisão pública
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portuguesa (2009: em linha), Gabriel Abrantes explicava que não considerava haver
diferenças significativas entre as suas pinturas, filmes e fotografias.
Alexandre Melo (cit. in Abrantes, 2010: 110) prefere classificar o cinema de Abrantes como «exemplo de um dilema de localização disciplinar: entre o mundo da arte
contemporânea e o mundo do cinema […] O autor não faz apenas filmes. Fez e faz
também fotografia, pintura sobre tela, trabalhos sobre papel (desenhos, aguarelas),
esculturas […] e instalações que, em muitos casos, criam o contexto especial para a
projeção de filmes».
Visionary Iraq (2008) e Too many Daddies, Mommies and Babies (2009) foram
produzidos precisamente nesse referido contexto de instalações: o primeiro filme foi
produzido para integrar a exposição homónima apresentada na Galeria 111, no Porto;
e o segundo foi o resultado de três exposições em três espaços distintos da cidade de
Lisboa (Museu da Eletricidade – espaço institucional; Galeria Zé dos Bois – espaço de
residências artísticas; e Lumiar Cité Escola Maumaus – espaço expositivo num bairro
social), em que cada um dos espaços que serviram, cada um destes, comode cenário
à rodagem de cada uma das três partes do filme. Para o efeito, e foram transformados
em instalação e utilizados como espaços de exibição do próprio filme. Segundo o
próprio Abrantes (2010: 294), estes filmes iniciais «relacionam-se diretamente com a
forma como estes espaços [galerias de arte e espaços de arte institucionais] funcionam.
As estruturas das narrativas, a teatralidade dos cenários e a relação com o espaço de
exposição foram elementos que estruturaram a dinâmica do trabalho».
Para uma análise à primeira fase da obra de Gabriel Abrantes é muito útil convocar o conceito de «cinema expandido», que se refere ao cinema produzido para ser
exibido fora do espaço histórica e socialmente convencionado (sala de cinema). Parece-me claro considerar que o modo de exibição – projeção fragmentada por múltiplos
espaços, ausência ou desvalorização da linearidade narrativa, coexistência com outras
peças artísticas não-fílmicas, manipulação do tempo pelo próprio espectador, entre
outros – influencia objetivamente o modo de produção. A espaços, este dispositivo
próprio do «cinema expandido» parece muito próximo do «cinema das atrações», onde
a narrativa linear e a tradicional lógica de causa-efeito perdem relevância, porque mais
importante do que contar uma história é mostrar momentos de uma história, momentos marcantes que se justificam mais pelo aspeto visual do que racional, procurando-se que essas imagens possam provocar reações emocionais no espectador.
Christopher Kihm (cit. in Abrantes, 2010: 12) designa o cinema de Abrantes como
«arcaico», explicando: «Dada a abundância de afiliações e de orfandades, estabeleceu-se um novo território para o cinema, onde as formas não se desenvolverão através de
novas alianças ou heranças, mas antes através de um novo arcaísmo». Ainda a propósito desse «cinema arcaico», Kihm conclui: «O cinema arcaico de Gabriel Abrantes é
um laboratório de lugares comuns (étnico, social, político, cultural ou artístico), e isso
demonstra, através de deslocamentos e redistribuições, como é possível tecer novas
histórias, definir novos problemas e delinear novas verdades» (ibidem: 24).
E concretiza o seu raciocínio com o exemplo de Olympia I (2006) e Olympia
II (2006), que considera «o primeiro filme» realizado pelo autor. Gabriel Abrantes
correalizou e coprotagonizou com Katie Widloski um díptico inspirado no quadro
homónimo do francês Édouard Manet (1832-1883), pintado em 1863 e considerado
«imoral» na época, e num ensaio fotográfico publicado na revista Vogue sobre outro
trabalho de Manet, o Dejeuner sur l’Herbe. Basicamente, o quadro de Manet retrata
uma jovem nua deitada com vários pormenores que a podem identificar como uma
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cortesã da alta sociedade acompanhada por uma empregada negra com um ramo de
flores. As versões de Abrantes contam duas histórias distintas: «Uma prostituta é visitada pelo irmão adolescente homossexual e os seus dois cães. Ele confronta-a sobre
a forma de ela viver depois de ter jogado Trivial Pursuit com a mãe no pátio. Ele
não pagaria um cêntimo pelas suas mamas nojentas.»; «Um prostituto travesti de uma
família de classe média do Texas espera clientes enquanto ouve Henry Gorecki e bebe
uma mini Coca-Cola diet. A sua empregada, a ‘morango com cobertura de chocolate’,
tenta acalmá-lo, apalpando-lhe o ‘material’, e os dois começam a fazer amor» ( JFlor,
2011: em linha).
Mais do que pela reprodução, as versões de Abrantes são marcadas pelo cruzamento de referências clássicas com outras contemporâneas, adaptando a composição
à realidade norte-americana, denunciada por várias referências linguísticas, geográficas e históricas inequívocas. De forma provocatória, o realizador parece mesmo
brincar com significados simbólicos das referências usadas, como o facto de a escrava
negra ser interpretada por Katie Widloski pintada com uma tinta negra.
As múltiplas referências artísticas são um elemento fundamental na leitura e na
compreensão do trabalho de Abrantes. Se em Olympia I e Olympia II a referência
matricial é a pintura, a literatura é referencial em Palácios de Pena, o teatro em Fratelli
e Zwazo, e o próprio cinema, nomeadamente os subgéneros da ficção científica e do
filme-catástrofe em Too many Daddies, Mommies and Babies, o melodrama e o filme
de guerra em Visionary Iraq e o meta-filme em 2002, 2003, 2004… 2002.
3. Filipa César
Filipa César nasceu no Porto, em 1975, e é formada em Pintura pelas faculdades
de Belas Artes do Porto e de Lisboa, Filipa César concluiu o mestrado Art in Context
na UDK (Universidade das Artes de Berlim) em 2008. Nessa altura, havia já começado
a incorporar o cinema na sua obra, nomeadamente como suporte instalativo, interessando-se sobretudo por reflectir sobre os dispositivos de produção e recepção da
imagem nas sociedades contemporâneas.
José Marmeleira (2010b, em linha) destaca precisamente, nas primeiras obras,
a «presença de elementos e referências do universo e da linguagem do cinema: a
ficção e a ideia de montagem. Recorde-se Untitled (Twirler), de 1999, vídeo onde uma
sequência de quartos e salas vazios (aparentemente apropriados de filmes de acção
ou terror) suspendia um desfecho sempre frustrado, ou Letters (2000), que encenava
uma série de diálogos, conversas e encontros em balcões dos correios.» Filipa César
reconhece que foi na Alemanha, onde se radicou a partir de 1998, que o seu interesse
pelo cinema se tornou mais consciente, graças à «descoberta de uma abordagem
mais experimental do documentário: Alexander Kluge, Fassbinder, Harun Farocki,
Robert Frank, Ivonne Rainer, Babette Mangolte, Frederick Wisemann» (ibidem). Nas
suas primeiras obras audiovisuais, a imagem em movimento não surge apenas como
um suporte de projecção, mas também assume uma forma reflexiva, assumindo uma
performatividade que vai alternando da montagem para a mise-en-scéne.
A primeira exposição individual de Filipa César aconteceu na Solar – Galeria
de Arte Cinemática, em Vila do Conde, entre Outubro e Dezembro de 2010. Essa
exposição intitulada Montage integrava uma série de vídeos e instalações produzidas
entre 2007 e 2010, nomeadamente The Four Chamered Heart (2009, Galeria Cristina
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Guerra, Lisboa) que propõe uma pertinente reflexão metacinematográfica ao colocar
em diálogo estudantes de cinema palestinianos e judeus após o visionamento do
La Pyramide Humaine (1961) de Jean Rouch, experiência mediada por uma série
de cadeiras que sublinhava a imobilidade do espectador durante o visionamento.
Também metacinematográfica é a reflexão presente em F for Fake (2005), um vídeo
realizado a partir de imagens do filme homónimo de Orson Welles de 1973 que integrava uma instalação, na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa, feita com três mil cassetes
VHS (que formavam a letra F) e cinco fotografias de grande formato. A Solar apresentou ainda Le Passeur (2008, Fundação Ellipse, Estoril), que incluía duas projecções
impossíveis de ver ao mesmo tempo: «para mim essa forma foi necessária para aquilo
que eu queria, que era falar sobre as passagens, sobre o cinema como uma forma de
passagem, e ao mesmo tempo sobre o lado secreto que está envolvido nas passagens.
Portanto, ou víamos o rio ou víamos os passadores a falar. A própria experiência no
espaço implicava qualquer coisa que ficava sempre oculta.» (Filipa César cit. in Mourinha, 2018, em linha). Finalmente, a exposição na Solar incluiu ainda Memograma
(2010, Museu Berardo, Lisboa), uma instalação que incluía dois vídeos e uma série de
fotografias sobre o processo de censura em Portugal do filme As Lágrimas Amargas de
Petra von Kant (1972), de Rainer Werner Fassbinder. Um dos vídeos apresenta depoimentos de várias pessoas em Castro Marim, cidade de fronteira que foi lugar de exílio
para mulheres homossexuais durante o Estado Novo, e o outro descreve a história e
memória desse mesmo lugar no contexto português.
Mais do que filmes isolados, que podem ser projectados numa qualquer sala
de cinema convencional, Filipa César pensou estas imagens em movimento para
espaços específicos, com condições de visionamento ou de apresentação que proporciona experiências diferentes: «Com a instalação é possível um tempo diferente, um
outro relacionamento com a imagem em movimento e uma autonomia. O espectador
move-se e os fotogramas sucedem-se. Os encontros que daí resultam são mais inesperados.» (Filipa César cit. in Marmeleira, 2010, em linha).
Ainda em 2010, Filipa César filmou Porto, 1975, uma encomenda para integrar
a participação portuguesa na 12.ª Bienalle di Venezia, onde a artista portuense visita
o complexo habitacional social da Bouça, na cidade do Porto, e todo o complexo
contexto da sua implementação, nomeadamente o período pós-revolucionário e o
projecto SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), que constituiu-se como uma
experiência pioneira no contexto europeu que promovia o contacto entre equipas de
arquitectos com populações desfavorecidas em processo de construção de habitações
sociais).
Em 2009, uma passagem pelo Colonial Film Project, em Londres, iria estar na
origem de um projecto ambicioso e complexo: Luta ca caba inda (A Luta ainda não
acabou) propunha recuperar a totalidade do arquivo fílmico da Guiné-Bissau, através
de um processo de digitalização do material então existente. Ao longo de aproximadamente uma década, Filipa César recuperou as imagens possível e reunir uma série
de objectos raros que ajudam a contextualizar o arquivo e o seu próprio projecto de
pesquisa. Spell Reel, o filme-resumo do projecto foi lançado em 2017 documenta parte
do processo criativo e produtivo, como as inúmeras performances que foram sendo
apresentadas em várias geografias.
Ao longo do projecto Luta ca caba inda, Filipa César foi concluindo diversos
filmes, produzidos ao abrigo de dois programas, o Living Archive (2011-13) e o Visionary Archive (2013-15), ambos organizados pelo Arsenal - Institute for Film and Video
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Art, Berlim: Cacheu (2012) foi filmado durante um congresso em Berlim (What happened 2081?, com curadoria de Georg Diez e Christopher Roth), e regista uma performance de Joana Barrios perante uma plateia de participantes reunidos no Kunst-Werke
Institute for Contemrorary Art. Cuba (2012) foi filmado na mesma cidade alemã (agora
no FEZ-Berlin), com a mesma Joana Barrios (acompanhada pelos guineenses Suleimane Biai e Carlos Vaz), mas agora para o programa Satellite do Museu Jeu de Paume,
em Paris. Finalmente, ainda em Berlim (Reboot.fm studio e House of the Worls Cultures), Conacry (2012) apresenta performances de Grada Kilomba e de Diana McCarty.
Mined Soil (2014) resulta do trabalho desenvolvido na preparação de uma série de
apresentações ao vivo que foram sendo realizadas entre 2013 e 2014 em várias cidades
europeias (Roterdão, Holanda; Antuérpia e Bruxelas, Bélgica; Paris, França; Limerick,
Irlanda; Lisboa, Portugal; e Madrid Espanha). Conduzido pela própria Filipa César, este
vídeo junta diversos materiais recolhidos durante o processo de investigação de Filipa
César e Natxo Checa, desde textos de Amílcar Cabral, Walter Benjamin ou Kwame
Nkrumah e outros objectos e imagens (como as captadas no arquivo geológico da Boa
Fé, no Alentejo). Finalmente, a obra Transmissions from the Liberated Zones (2016),
apresentada por Gi Dias, é mais um exercício performativo que inclui depoimentos de
um grupo de suecos (o cineasta Lennart Malmer, a política Birgitta Dahl, a psicóloga
e cineasta Ingela Romare e o diplomata Folke Lofgren) que filmaram a Guiné Bissau
nos anos 70, nomeadamente as zonas libertadas pelo PAIGC (Partido Africano para a
Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) ao domínio colonial português.
Ainda que sejam exibidos em salas de cinema convencionais (por exemplo: Cuba
e Transmissions from the Liberated Zones estrearam no festival de cinema Berlinale;
Cacheu foi exibido nos festivais de Oberhausen e Torino; Mined Soil estreou mundialmente no festival de Roterdão e foi premiado no Curtas Vila do Conde; e Spell Reel
teve exibição comercial nas salas portuguesas), estas obras foram concebidas como
acontecimentos instalativos. Ainda assim, os filmes resultantes dessas experiências são
mais do que meros registos audiovisuais, assumindo, pela montagem ou pela mise-en-scène, formas de narrar através do espaço e da performatividade. Quando exibidos
no seu espaço natural, geralmente galerias, as obras fílmicas são acompanhadas por
diversos materiais que ajudam a contextualizar as imagens e os sons ou que expandem as possíveis leituras.
4. Salomé Lamas
Salomé Lamas nasceu em Lisboa, em 1987, e estudos cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa e na FAMU, em Praga, na
Republica Checa, e concluiu um MFA em Artes Visuais no Sandberg Instituut, Gerrit
Rietveld Academie, em Amsterdão, Países Baixos. Actualmente frequenta o curso de
doutoramento em Arte Contemporânea da Universidade de Coimbra. Desde 2008,
Salomé Lamas tem apresentado um intenso e surpreendente ritmo de criação e produção em vários suportes e plataformas, cruzando o cinema e as imagens em movimento
por espaços como a galeria e a academia.
As primeiras obras – O Palimpsesto da Rapariga Cisne ou choveu bastante durante
dois dias e a paisagem alterou-se (2008), Jotta: A Minha Maladresse é uma forma de
Delicatesse (2009), Imperial Girl (2010), Golden Dawn (2011), VHS – Video Home
System (2010-2012) – anunciam uma vertigem criadora de Salomé Lamas, onde a autora
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parece apresentar e explorar dimensões documentais complexas com dispositivos que
parecer simplificar a realidade. Gradualmente, a autora transita para um dispositivo
«paraficcional», onde procura fugir às fronteiras convencionais que pretendem catalogar as imagens (e que geralmente separa ficção e documentário), afirmando uma
transversalidade que não convive com essas categorias. O ponto de viragem aconteceu em 2012, com Encounters with Landscape (3x) (2012), A Comunidade (2012) e
Terra de Ninguém (2012), produções aparentemente mais convencionais do ponto
de vista cinematográfico que fizeram percursos surpreendentes nas salas de cinema,
primeiro em festivais de prestígio e também no circuito comercial. Estes trabalhos
usam os métodos mais convencionais da categoria documental para a desconstruir.
A par de uma produção cinematográfica, Salomé Lamas foi também usando o
suporte cinematográfico e videográfico para conceber instalações intermediais,
apelando a vários sentidos do espectador e explorando as várias dimensões sensoriais: 11heatrum Orbis Terrarum (2013), uma vídeo-instalação apresentada no Museu
Nacional de Arte Contemporânea (Museu do Chiado, Lisboa, Portugal): a instalação
Norte (2015), com colaboração de Filipe Felizardo na performance audiovisual com
música ao vivo, apresentada em vários espaços nacionais e internacionais e agora
integra a Coleção António Cachola (Lisboa): em 2017 desenvolve a obra Ubi Sunt, um
projecto híbrido e ecléctico que inclui as performances One Life to Live e Requiem
do artista alemão Christoph Both-Asmus, desenvolvida no Centro Educativo de Santo
António, na cidade do Porto, e que seria sucedido pelas obras Ubi Sunt II (2017) e
Ubi Sunt III (2017, em três canais vídeo), ambas com a colaboração de Christoph
Both-Asmus; The Buriel of the Dead (2016), uma instalação de vídeo em três canais
comissariada pela suíça Biennale of Moving Images; a instalação-gravura Self Portrait
(2016-17), desenvolvida durante uma residência artística na Solar – Galeria de Arte
Cinemática, em Vila do Conde, que integra duas foto-gravuras em suporte web;
Horizon Noziroh (2017), em colaboração com Gregorio Graziosi e Christoph Both-Asmus, com o apoio do CPH:DOC e o instituto de cinema da Dinamarca; …Riots
and Rituals (2016), uma instalação web vídeo (122 gif) encomendada pela espanhola
Tabakalera Centro Internacional de Cultura Contemporanéa.
A experimentação e intersecção de linguagens e plataformas tem sido desenvolvida de forma sistemática por Salomé Lamas, que se recusa a ficar «aprisionada» a
convenções específicas de cada campo de acção, explorando as potencialidades transdisciplinares e intermediais. Le Boudin (2014) é uma espécie de díptico, que estreou
na versão filme no Curtas Vila do Conde e na versão vídeo-instalação na Fundação
Calouste Gulbenkian (Lisboa). O mesmo processo aconteceria com A Torre (2015, em
colaboração com Christoph Both-Asmus), que teve uma versão para salas de cinema,
com estreia no Curtas Vila do Conde e exibições nos prestigiados FID Marseille e
Oberhausen, e uma versão instalativa que foi apresentada no Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia (Lisboa) e no Centre National de Arts Plastiques (Paris). Eldorado
XXI (2016), talvez o filme da autora com mais prémios no circuito de festivais (Melhor
Documentário no Festival de Cinema de Lima, no Perú, Melhor Film no Pancevo Film
Festival, na Sérvia, Menção Especial do Júri no FINUCAM, o México, e Melhor Filme
no Porto/Post/Doc, em Portugal), seria acompanhado pela vídeo-instalação Mount
Anenea (5853) (2015, com colaboração de Bruno Moreira, Norberto Lobo e João
Lobo), que esteve patente ao público no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto) e na Galeria Miguel Nabinho (Lisboa). Também Extinção (2018), que foi
exibido em vários festivais internacionais de cinema (Festival du Réel, DocLisboa), e
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que teve estreia comercial em salas de cinema portuguesas e britânicas, acabaria por
ter uma versão vídeo-instalativa, patente no Museu do Chiado.
As obras da autora começam a ser concebidas, de forma mais complexa e ambiciosa, como projectos intermediáticas desde a raiz, pensando na sua expansão para
diversas modalidades que acabam por se complementar: entre 2016 e 2019, a artista
tem desenvolvido o projecto Fatamorgana, que inclui, para já, uma peça de teatro,
dois filmes (Fatamorgana e What do we talk about when we talk about Fatamorgana),
duas publicações e uma instalação sonora (Affektenlehre, em colaboração com Miguel
Martins). Actualmente, entre outros trabalhos, desenvolve também o projecto Extraction: The Raft of the Medusa, que tem previsto apresentar dois filmes, uma instalação
e uma publicação.
Mesmo com o sucesso alcançado no meio cinematográfico – Encounters with
Landscape (3x) (2012) foi premiado no IndieLisboa; A Comunidade (2012) venceu
o prémio para Melhor Documentário no Curtas Vila do Conde; Terra de ninguém
(2012) venceu Melhor Longa Portuguesa no DocLisboa e uma menção especial do
DocumentaMadrid – Salomé Lamas mantém uma intensa actividade permanente no
meio das galerias de arte, como atesta o tríptico Hangar-Terminal-Metro (2018), que
junta três vídeos e foi comissariado pela representação portuguesa na La Biennale di
Venezia – Architettura.
Em 2017, numa entrevista a um jornal português, Salomé Lamas reconhecia que
gosta da «ideia do realizador como alguém que traduz, que transporta a linguagem
das coisas na linguagem cinematográfica. E, para a tradução ser boa, não vai dizer o
mesmo que o original. Vai ser autónoma.» (Salomé Lamas cit. in Marques, 2017, em
linha). A complexidade da «tradução» da realidade será a melhor justificação para a
multidisciplinaridade e intermedialidade da sua obra, que se multiplica pelos recursos e discursos disponíveis. Por outro lado, essa vontade de traduzir a realidade tem
levado Salomé Lamas a viajar por várias partes do mundo, pelas regiões mais recônditas e ignoradas, com particular atenção pelos lugares historicamente mais reprimidos,
marginalizados e ignorados: Eldorado XXI mergulha na realidade das árduas condições de vida dos mineiros em La Rinconada, a povoação mais alta do mundo (5100
metros de altitude), nos Andes peruanos; a incógnita Transnístria, país que reclama
a independência há décadas, «preso» entre a fronteira da Rússia, Ucrânia, Bulgária,
Moldávia e Roménia, é o tema central de Extinção; Fatamorgana ambienta-se em
Beirute, acompanhando a vida da jovem Hana e do complexo contexto político e
social do Líbano.
Estas obras são resultado de várias residências artísticas desenvolvidas pela artista,
que assim vai conhecendo as diversas realidades que vai traduzindo, com um método
de pesquisa e de criação próximo do preconizado pelos cineastas-antropólogos
do Sensory Etnography Lab, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da
América, um laboratório que promove combinações inovadoras entre estética e etnografia, usando diversas formas de materialidades (filme, vídeo, fotografia, instalação,
fonografia performance) para explorar a estética e a ontologia do mundo não-natural,
ou seja, para traduzir a experiência humana apelando aos vários sentidos. Cada «realidade» é composta por diversas camadas específicas e cabe à autora usar os meios ao
seu dispor para traduzir da melhor forma essa realidade, transmitindo ao espectador
a mais complexa experiência.
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5. Epílogo
Estes três percursos aqui abordados, diferentes propostas de «expansão» de formas
e de territórios ao cânone mais tradicional do cinema português, são exemplares de
uma marcada tendência no cinema português do séc. XXI, uma forma de expressão
que sobrevive com enormes constrangimentos e dificuldades num país pouco sensível
a políticas públicas para o cinema, e para as artes em geral. A insensibilidade politica
tem tido como resposta uma procura de novos meios de financiamento e de formas
alternativas de produção e circulação, condições que tem proporcionado uma gradual
transformação dos meios de produção no cinema português. Também as mais recentes
formas de valorização, seguindo tendências que promovem a intertextualidade e intermedialidade, tem permitido o surgimento de canais de exibição transversais a outras
práticas artísticas que se situam fora das salas de cinema convencionais, como galerias
de arte, centros culturais, eventos científicos, entre outros. Os modos de produção do
cinema independente tem-se adaptado aos vários constrangimentos do mercado, e
o cinema português tem tentado também expandir-se dos meios mais convencionais
como uma forma de dar respostas às crescentes necessidades. Consequentemente,
estes novos projectos criativos e produtivos tem contribuído para uma redefinição do
cinema português no séc. XXI, uma mudança que beneficiou da transição para um
paradigma tecnológico assente no digital e na intermedialidade.
De uma forma natural, estes três casos de estudo do cinema expandido português
do séc. XXI apresentam como característica comum um afastamento da «realidade»
portuguesa, uma forte matriz que marcou identitariamente o cinema português das
últimas décadas: Gabriel Abrantes, nascido nos Estados Unidos, interessa-se muito
pelas polifonias da geopolítica mundial, explorando fenómenos da globalização, da
geopolítica internacional, das novas identidades culturais, do sentimento de culpa
histórica, dos movimentos migratórios ou da economia global atual (filma na Amazónia, Haiti, Angola, etc.); Filipa César tem trabalhado com o arquivo cinematográfico
da Guiné-Bissau, país africano colonizado por Portugal e protagonista de uma dos
mais violentos conflitos armados anti-coloniais dos anos 60-70, precisamente contra
o colonizador português, que causou traumas nas das sociedades que as mantiveram
de costas voltadas durante as décadas seguintes; Salomé Lamas também tem viajado
para regiões historicamente reprimidas, marginalizadas e ignoradas (La Rinconada ou
Transnístria) para desenvolver os seus projectos artísticos. As gerações de cineastas
que se tem revelado no séc. XXI têm vindo a contestar e a romper, de forma mais ou
menos declarada, com o património matricial do cinema português das duas últimas
décadas do séc. XX, nomeadamente a chamada «Escola Portuguesa» e a sua obsessão
autorreferencial por pensar a história, memória e cultura colectiva da nação portuguesa. O cinema expandido tem contribuído para esse movimento internacional, de
olhar o mundo e de dialogar com questões transversais a outros contextos civilizacionais.
Por outro lado, as novas gerações, que tem desenvolvido actividade sobretudo
depois de 2001, tem-se formado em diversas instituições de ensino, em áreas artísticas
próximas mas distintas da linguagem cinematográfica convencional. Durante décadas,
o ensino do cinema passou tendencialmente pela Escola Superior de Teatro e Cinema
(fundada em 1973), uma instituição de ensino central onde foram formados os principais cineastas de referência das décadas de 1990-2000, como Pedro Costa, João Pedro
Rodrigues ou Miguel Gomes. No entanto, a recente proliferação de cursos superiores
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de cinema e audiovisual, belas artes, artes plásticas, artes visuais, arquitectura, fotografia, artes digitais, entre outros, tem contribuído para uma renovação significativa da
forma de pensar e fazer cinema em Portugal. Por isso mesmo, a par da galeria de arte,
a academia tem sido um eixo fundamental na «expansão» do campo cinematográfico
português. Importa sublinhar que estes três autores portugueses foram formados em
áreas científicas que trabalham com a imagem mas com processos e métodos muito
distintos da prática cinematográfica clássica, marcando também uma ruptura com uma
tradição pedagógica muito dependente da linguagem cinematográfica.
À semelhança do que tem vindo a acontecer com outras cinematografias de
pequena e média dimensão, o cinema expandido português tem conquistado maior
visibilidade nos circuitos internacionais e, consequentemente, mais espaço no meio
cinematográfico português. De uma prática pontual de alguns artistas mais inventivos,
o cinema expandido tem consolidado o seu espaço próprio de existência. Em suma,
o cinema expandido produzido em Portugal nas últimas duas décadas tem tudo uma
importância, muitas vezes desvalorizada e ignorada, na própria identidade do cinema
português, abrindo os seus horizontes a novas práticas produtivas e criativas.
7. Bibliografía
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by Gabriel Abrantes and in collaboration with Benjamin Crotty, Daniel Schmidt and Katie
Widloski. Guimarães: Centro Cultural Vila Flor.
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(eds.). Geração Invisível: Os novos cineastas portugueses (267-286). Covilhã: Labcom/UBI.
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detalhe/salome-lamas-gosto-da-ideia-do-realizador-como-alguem-que-traduz
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