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Cutopia: aterrorizando o cinema narrativo 1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem e do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade do Sul de Santa Catarina. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Ramayana Lira de Sousa 1 e-mail: ramayana.lira@gmail.com 1 O texto que apresento para a seção Fora de Quadro é o que preparei para apresentar no Seminário Teoria Queer e Feminista - coordenado por mim e por José Gatti e Maurício Gonçalves - durante o XX Encontro da SOCINE, em 2016, na Universidade Tuiuti do Paraná. À época, interessava-me pensar certas formas de sexualidades dissidentes no cinema narrativo de longa metragem. Tomei como ponto de partida o sexo anal, com sua promessa de transgressão, por um lado, e a cooptação do cu e sua potência pelo capital, por outro. O cinema mostra-se espaço especialmente propício para pensar essa dupla articulação: promessa e opressão. O cinema dos dá a ver a incompletude de qualquer projeto que se fie um uma única expressão da sexualidade como aposta utópica. A temporalidade sugerida não é consecutiva — o cu salvará o corpo (ao cu, antes livre, libertará em seguida o todo). O que apreendemos com o cinema é a simultaneidade. A forma aqui publicada é exatamente a mesma que foi lida no evento. Quando comecei a escrever o texto, que deveria tomar uma forma acadêmica, ele me escapou. Teimosamente quis ser escrito como roteiro, como se quisesse ser posso deixar de mencionar a criação de um espaço generoso de experimentação na SOCINE. Eu não sei se essa forma, se esse pensamento desfigurado, teria existido não fosse a SOCINE, para mim, uma rede de encontros e de provocações mútuas, de partilha e de dúvida. A apresentação desse texto durante o XX Encontro da SOCINE foi singular. Tomou forma graças à participação afetiva e atenta de Alessandra Soares Brandão (no gesto deslocador de ler as falas destinadas a mim no roteiro), Erly Vieira Jr. (Corpo 1), Diego Paleólogo (Corpo 2) e de todos os participantes do ST que, naquela tarde de outubro de 2016, entoaram animadamente a “Polca do cu”, música de DJ Dolores feita para o filme Tatuagem, na sala lotada. Agradeço a essas pessoas pela disposição em se colocar nessa experimentação. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 imagem, ser ensaio, ser imagem-ensaio ensaiada no roteiro. Nesse sentido não 2 CUTOPIA: ATERRORIZANDO O CINEMA NARRATIVO Spec Script por Universidade do Sul de Santa Catarina AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Ramayana Lira de Sousa 3 1. FADE IN: INT. SAUNA Atravessando os vapores esverdeados de eucalipto, dois corpos sentam lado a lado nos bancos. V.O. DE ADRIENNE RICH O que não recebe um nome, não é colocado em imagens, o que é omitido na biografia, censurado na coletânea de cartas, o que recebe o nome de outra coisa, o que é feito difícil de encontrar, o que é enterrado na memória sob uma linguagem inadequada ou mentirosa - isso se tornará não apenas tácito, mas indizível. CORPO 1 CORPO 2 Todo ano. CORPO 1 Por que? CORPO 2 Obsessão. CORPO 1 se aproxima de CORPO 2, quase tocando. CORPO 2 se afasta. CORPO 1 Tem medo? AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Você vem sempre aqui? 4 CORPO 2 Nojo. CORPO 1 De mim? CORPO 2 Do teu cu. CORPO 1 Deixa eu te contar uma história. CORPO 2 Não. Eu conto mesmo assim. “Era uma vez um ânus…” A voz de CORPO 1 vai aos poucos dando lugar à voz de Paul B. Preciado V. O. DE PAUL B. PRECIADO O mito, e eu conto de memória, diz assim: não nascemos homens ou mulheres, nem mesmo nascemos meninos ou meninas. Ao nascer somos um entrelaçado de líquidos, sólidos e géis recobertos por um órgão estranho cuja extensão e peso supera qualquer outro: a pele. É um tegumento que se encarrega de manter tudo contido e dar uma aparência de unidade isolada ao que chamamos de corpo. Enrolada ao redor do tubo AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 CORPO 1 5 AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 digestivo, a pele se abre em seus extremos deixando à vista dois orifícios musculares: a boca e o ânus. Não há, então, diferenças, todos somos um pedaço de pele que, respondendo às leis da gravidade, começa na boca e termina no ânus. Mas havia muita simetria entre esses dois orifícios e os corpos, simples tubos dérmicos, assustados com a potência indefinida de gozar com tudo (com a terra, pedras, água, animais, outros tubos dérmicos) buscaram formas de controlar-se e de controlar. O medo de que toda a pele fosse um órgão sexual sem gênero os fez redesenhar o corpo, traçando foras e dentros, marcando zonas de privilégio e abjeção. Foi preciso fechar o ânus para sublimar o desejo pansexual, transformando-o em vínculo de sociabilidade, como foi necessário cercar as terras comuns para marcar a propriedade privada. […] Os meninos-de-ânuscastrados ergueram uma comunidade a que chamaram de Cidade, Estado, Pátria, de cujos órgãos de poder excluíram todos aqueles corpos cujos ânus permaneceram abertos: mulheres duplamente perfuradas por seus ânus e vaginas, seu corpo inteiro transformável em uma cavidade uterina para abrigar futuros cidadão, mas também corpos viados a quem o poder não conseguiu castrar, corpos que renegam o que outros consideram evidência anatômica e fazem da mutação uma estética de vida. 6 2. INT. SAUNA Os vapores se adensam. Estranhas figuras emergem deles, figuras também vaporosas, feitas de luz e pó. O olhar atento de CORPO 2 reconhece imediatamente entre elas o anti-super-herói Deadpool sendo impiedosamente enrabado pela sua namorada. Ela pediu, ele deu. CORPO 2 Parece que é preciso ser antiherói para ser sodomita. CORPO 1 Consegue imaginar o Super-Homem… CORPO 2 … sendo passivo? Só usa essa expressão quem acha que o pau é o princípio ativo. Para mim não. Todos agem, cu, pau, buceta, peito, todos agem uns nos outros. CORPO 2 Então minha coxa está agora agindo sobre a tua mão? CORPO 1 Isso mesmo! CORPO 2 Pode tirar, por favor? AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 CORPO 1 7 CORPO 1 Foi mal. 3. INT. SAUNA Os vapores se transformam. Aos poucos deixam ver dois cowboys em uma tenda, em longo beijo. A música tocada em um violão, ouvida na imaginação dos dois CORPOS, é suave, as cores suaves, os toques suaves. Os vapores se transformam. Os cowboys estão na tenda novamente, mas agora está escuro, não há música, apenas gemidos, sussurros, grunhidos. O cowboy loiro monta o cowboy moreno com vigor, feito macho. O cowboy moreno aceita o cowboy loiro também com vigor, feito macho. CORPO 2 CORPO 1 Anti-natural? CORPO 2 Isso de desperdiçar esperma no cu. Anti-natural assim. A natureza não é lugar para essas coisas. Lá o que acontece é a reprodução, o espermatozóide encontra o óvulo e disso nasce um… CORPO 1 …operário… CORPO 2 … um novo… AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Estranho ver uma cena de sexo anti-natural em meio à natureza. 8 CORPO 1 … cidadão da pólis… CORPO 2 …disso nasce um novo ser humano, era que eu estava dizendo! CORPO 1 Sei. CORPO 2 A natureza é o lugar dos machos e das fêmeas. Letreiro: INTERLÚDIO PASTORAL No prado que se abre todo verde, dois pastores tangem suas ovelhas. V.O. DE TEÓCRITO LENDO SEUS “IDÍLIOS” Não te lembras quando eu te cutuquei e tu sorrindo balançou esse rabinho para mim e se agarrou naquele carvalho? AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 4. EXT. UM PASTO VERDE 9 5. INT. SAUNA CORPO 1 Os cowboys tentam abrir o ânus para a natureza. Nada mais natural do que tentar destravar o cu para a natureza. Esse espaço natural se torna tão queer quanto esta sauna. Desnaturaliza a natureza. Barbariza a cultura. CORPO 2 se levanta e vai até as brasas jogar mais água para voltarem os vapores. CORPO 1 acompanha os movimentos de seu traseiro com olhos atentos. Pensando bem, é até bonito de ver tanta macheza nesse agarro dos cowboys. Homem, homem, sabe como é? Quando tem aquele abraço de mulherzinha e beijo romântico é tudo luz âmbar, música melosa. Mas na hora do vamos ver, de um montar no outro não tem isso. É tudo azul - cor de homem - e animal. CORPO 1 É como se o sexo não pudesse ser melodrama? Pois aí ficaria menos macho? CORPO 2 É bem o que acho. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 CORPO 2 10 6. INT. SAUNA CORPO 1 faz desenhos abstratos nos vapores com o dedo indicador. Ele começa a girar o dedo formando um vórtice. CORPO 2 acompanha com olhar atento os movimentos. Para ver melhor as formas desenhadas, aproxima-se de CORPO 1. CORPO 1 Posso te dizer que há vários outros prazeres e riscos que os cowboys não enfrentam justamente por causa de toda essa macheza. MONTAGEM V.O. RAMAYANA LIRA As festas campestres, ou festas pastorais, eram uma forma de entretenimento popular na França do século 18. Não nos enganemos pelo nome que sugere um divertimento despretensioso, pois se tratava de uma forma estilizada de estar no campo. Ao passear pelos parques e bosques os participantes eram surpreendidos por orquestras escondidas atrás das árvores ou por pessoas fantasiadas. Um flanar que intercalava momentos de contemplação com afetações do corpo. “Um estranho no lago" é uma festa campestre, um passeio formalizado pelo campo em que momentos de contemplação são AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Cenas do filme “Um estranho no lago” onde homens fazem sexo ao ar livre ao redor de um lago intercaladas com imagens de “Fêtes Champêtres”. 11 intercalados com afetações do corpo. 7. INT. SAUNA CORPO 1 continua desenhando vórtices nos vapores. Quando esses estão formados, ele enfia e retira o dedo do centro. CORPO 2 resfolega. Posso te dizer que há vários outros prazeres e riscos que os cowboys não enfrentam justamente por causa de toda essa macheza. Imagine a seguinte situação: um homem passeia pelos arredores de um lago e se depara com vários outros homem fazendo sexo entre os arbustos. Trepar, aqui, não tem nada de romântico. Porque não precisa ter. Esse homem se interessa por um estranho. Vai cercando, vai cercando, até conseguir transar com ele. E nesse momento podemos ver algo que não parecia estar lá, o risco de ser melodramático durante o sexo, o risco de ser ridículo transando ao por do sol alaranjado à beira do lago, em contraluz. São duas maneiras de ver o que a sodomia pode fazer: ela interrompe o melodrama - é o que acontece com os cowboys - ou ela é a pausa quase melodramática em meio à formalização - que é o caso do estranho do lago. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 CORPO 1 12 CORPO 2 Começo a entender… mas não seria isso verdade para qualquer tipo de prática sexual? CORPO 1 Acho que não. Acredito que há configurações de subjetividade soberana que reduzem o ânus a mero tubo excretor. Para ser dono de si o sujeito precisaria fechar o cu, transformá-lo em uma cicatriz. CORPO 2 senta sobre as próprias mãos É bom lembrar que a expressão soberano vem do latim super anus, onde o sufixo anus tem o sentido de proveniência, origem, pertença. Isso nos sugere, na homofonia, um ânus que se posta sobre os outros, uma transcendência que nega a materialidade do desejo e aparece como organização edipianizadora e castradora. CORPO 2 Soberano. Dono de si. Parece uma boa ideia. CORPO 1 Mas não é. Essa soberania só sabe do prazer visual que se reduz à escopofilia. Precisamos de outras formas de ver. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 CORPO 1 (CONT.) 13 8. INT. SAUNA CORPO 1 se levanta e começa a lentamente andar em círculos, de cabeça baixa. CORPO 2 Falamos de cowboys e de estranhos no lago, mas há outros corpos, há outros usos do sexo anal. 9. INT. APARTAMENTO V.O. DE RAMAYANA LIRA Conhecida por seus gritos, grunhidos, palavrões, Sasha Grey leva espectadores e espectadoras, parceiros e parceiras de cena mas, especialmente, os parceiros a "estremecerem" quando a ouvem. Não são apenas respostas clichês, de incentivo ao ato e de reforço ao ego. São sons irritantes, agudos, xingamentos e remissões ao abjeto que habita seu corpo: "fuck my dirty ass, fuck my shit hole". Essa performance vocal é quase uma paródia dos gemidos e apelos que caracterizam a maior parte da pornografia mainstream. A boca se recusa a ser apenas órgão AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Em um apartamento escassamente mobiliado a performer Sasha Grey está deitada de costas no sofá, uma perna levantada enquanto é penetrada analmente por um homem. Ela geme, grunhe, grita expressões como “Are you using my fucking hole?”, “I want you to make me feel like a fucking piece of shit”, “Straight into the fucking shit hole”. 14 reprodutor da linguagem - é irônico, claro, pensar o boca como órgão reprodutor, a não ser claro, quando ela se coloca a serviço da mímese. A boca também recusa o bom gosto, a disciplina oral. A boca nos faz lembrar de sua relação direta com o ânus e com as dobras do corpo. A boca como forma aberta. 10. INT. SAUNA PLANO FECHADO da boca aberta de CORPO 1, mostrando seus lábios, dentes, língua, glote. TRAVELLING para dentro da boca até a imagem se perder na escuridão. SOM: minuto final de Isidore Isou declamando o poema “Neiges” 11. INT. QUARTO DE HOTEL Joe Dallessandro enraba Jane Birkin que grita a ponto de acordar os quartos vizinhos. V.O. DE RAMAYANA LIRA Narrativamente consensual, o sexo anal, assim como nas cenas de Sasha Grey, parece destravar a boca como caixa de ressonância. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 TELA ESCURA. Aos poucos TRAVELLING saindo da boca de CORPO 2 até o exato enquadramento anterior da boca de CORPO 1. 15 12. INT. SAUNA COROPO 1 e CORPO 2 sentam lado a lado, ombros e pernas encostados. Olham fixamente para frente. CORPO 2 Lembro bem de uma cena. Marlon Brando comendo Maria Schneider. Ela grita “não”, “não" e ele continua. CORPO 1 Pior: manda ela repetir uma bobagem qualquer sobre família. Faz com que a caixa de ressonância dela vire, na verdade, eco da voz dele. CORPO 2 CORPO 1 O sexo anal hetero, o da norma, onde o homem come a mulher, esse sexo anal no cinema narrativo é quase sempre colocado em duas situações: 1. barganha ou promessa ou pagamento - como no caso de Kingsman; ou, 2. como punição. É raro ver o prazer da mulher. CORPO 2 Mas é mesmo mais difícil para a mulher gozar pelo cu. CORPO 1 Não se trata de verossimilhança. Trata-se dos limites da AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 Trava a boca e o cu. 16 imaginação. A pergunta é: por que parece ser tão difícil imaginar o gozo anal feminino? 13. INT. SAUNA PLANO DETALHE de um ânus, mostrando seus movimentos peristálticos. V.O. DE CORPO 1 Parece haver ainda uma dificuldade em abrir o ânus para todos os corpos, indistintamente. Para alguns corpos é degradante, reforçando narrativas normativas de conformidade dos corpos. Para outros é mais libertador. Durante um congresso sobre cinema, em uma sala de aula que abriga uma discussão sobre o cinema queer e feminista, os participantes, em coro, começam a entoar, baixinho CORO DOS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO CINEMA QUEER E FEMINISTA Tem cu tem cu tem cu. Tem cu tem cu tem cu. V.O. DE PAUL B. PRECIADO O ânus não tem sexo, nem gênero, como a mão, escapa à retórica da diferença sexual. Situado na parte traseira e inferior do corpo, o ânus borra também as diferenças AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 14. INT. SALA DE AULA 17 personalizadoras e privatizantes do rosto. O ânus desafia a lógica da identificação do masculino e do feminino. O corpo dos participantes do seminário continua baixinho e esses, aos poucos, vão se dando conta que há algo de deliciosamente mimético na palavra cu. A boca imita o ânus ao enunciá-lo. Prova de que, um dia, voltarão a soar juntos. montagem Cenas de sexo anal de filmes como Crimes de paixão, Calígula, Tropa de Elite, Saló. Como fazer para partir do primeiro filme que comento até chegar ao último? Que percurso é esse, de que ferramentas preciso para chegar lá? É preciso ampliar a constelação das cenas de sodomia, cada nova instância provocando uma transformação no todo. O ponto de partida é esse: o que as cenas de sexo anal fazem com os filmes? O percurso: experimentações com as justaposições, o confronto com o todo de cada filme e com as cenas de outros filmes. Ponto de chegada: indefinido. Para uma teoria do cinema, não se trata de tornar o cu um outro órgão genital, mas de desgenitalizar todo o corpo, a partir do ânus. Um comum que não é próprio de ninguém, cu-mum. Cutopia. AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 V.O. DE RAMAYANA LIRA 18 15. INT. SAUNA Os vapores estão tão densos que mal diferenciamos os dois corpos sentados lado a lado. CORPO 1 Quero enfiar o dedo do teu cu e o sentir aberto, enfiar a língua no teu cu, te empalar com a minha língua até chegar a beijar a tua língua com a língua com que te empalei. Será possível? É para hoje? É para quando? AN O 6 , VO L . 2 • R EBEC A 1 2 | JU L HO - D EZ EM BR O 2 0 17 FIM. 19