Z. Pinto-Coelho & J. Fidalgo (eds.) (2012)
Sobre Comunicação e Cultura: I Jornadas de Doutorandos em Ciências da Comunicação e Estudos Culturais
Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
ISBN 978-989-8600-05-9
Ter como Palco de Fundo as Redes Sociais. Desafios
Metodológicos: Como o Observado Muda o Observador
The Social Networks as Stage Background. Methodological Challenges: How
the Observer Changes the Observed
LUZIA PINHEIRO; JOSÉ NEVES & MOISÉS MARTINS
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho
luzia.o.pinheiro@gmail.com/ j.pinheiro.neves@gmail.com/ moisesm@ics.uminho.pt
Resumo:
Num mundo fortemente influenciado pela cultura ecrãnica vivem-se tempos de crise mas também de auge
comunicacional. A cultura do ecrã que atingiu o seu ponto máximo com a massificação da Internet e
popularismo da utilização das redes sociais como o Orkut, Hi5, Netlog e agora Facebook, assume-se como fonte
de inspiração de inúmeras investigações no campo das Ciências da Comunicação e outras áreas. No entanto,
apesar do facilitismo de acesso e utilização das redes sociais, metodologicamente falando, enfrentam-se muitos
obstáculos. Desafios constantes que apelam diariamente ao nosso potencial criativo investigativo. Emergem
assim novas técnicas metodológicas, reciclam-se outras tantas e testam-se outras provenientes das mais
variadas áreas. O objetivo? Contornar os obstáculos constantes que, quem investiga, tendo como palco de
fundo as redes sociais, tem de enfrentar.
Palavras-chave:
Metodologias; emergências; redes sociais; cyberbullying
Abstract:
In a world strongly influenced by the screen culture we are living in a time of crisis but also experiencing
communication ecstasies. The screen culture that reached its peak with the popularization of the Internet and
popularism of the use of social networking sites like Orkut, Hi5, Netlog and now Facebook, it is assumed as a
source of inspiration for numerous investigations in the field of Communication Sciences and other areas.
Nevertheless, the easy access and use of the social networks, methodologically speaking, researchers are facing
a lot of obstacles. Daily we are facing with new challenges that appeal our mind to develop new creative tools of
research. From different areas of study new methodological techniques are emerging. This "new techniques" are
the result of recycling and testing old techniques. Which is the goal? The obstacles who, whom have the social
networks as object of study, has to face.
Keywords:
Methodologies; emergencies; social networking; cyberbullying
1. Introdução
A origem deste artigo tem por base um dos desafios que quem tem uma tese de
doutoramento em mãos tem de enfrentar: a escolha metodológica. Neste caso, a presente
Comunicação e Cultura . 147
Luzia Pinheiro; José Neves & Moisés Martins
tese de doutoramento, “Cyberbullying e cyberstalking” 1 caracteriza-se pela peculiaridade de
tratar de fenómenos que emergiram com as novas tecnologias, principalmente com a
difusão da Internet. O cyberbullying2 e o cyberstalking3 não teriam, pois, condições de existir
fora deste contexto. A Internet veio assumir-se assim como um pharmacon: aquilo que cura
é também aquilo que mata. Por outras palavras, o que se procura estudar na tese são
comportamentos emergentes em contextos novos, neste caso, não palpáveis nem
apontáveis num mapa, especificamente como as pessoas reagem quando são vítimas destes
fenómenos emergentes: o cyberbullying e cyberstalking. Tal representa um desafio
metodológico.
Dada a complexidade do objeto de estudo (fenómenos emergentes) e do contexto em que se
inserem, as escolhas metodológicas tem vindo a revelar-se um verdadeiro quebra-cabeças
para a comunidade científica. Nesse sentido, o presente artigo centra-se na exploração de
duas técnicas metodológicas, a etnografia digital e o inquérito online, que podem ser
adotados tendo como objeto de estudo as redes sociais, particularmente para estudar
fenómenos emergentes nas mesmas.
2. Ter como palco de fundo as redes sociais. Desafios metodológicos: como o observado
muda o observador
Hoje em dia a comunicação pode ser feita através de um simples clique ao qual se segue a
mensagem “enviado”. Mas não se fica por aqui: segundos ou minutos depois a resposta
aparece-nos com um aviso: mensagem recebida. “Vivemos num mundo de comunicação
constante, em que se perde a noção dos fusos horários e da distância que separam os corpos
(…), e onde a tecnologia quebra barreiras espácio-temporais” (Pinheiro, 2009: 20),
permitindo, através das possibilidades providas, transportar-nos cada vez mais para a
impressão de habitar numa aldeia global (Lemos, 2003; Pinheiro, 2009: 20). A Internet,
ferramenta que adquire importância crucial no crescimento deste sentimento de se ter uma
vizinhança mundial e não apenas local, tem vindo a entranhar-se nas nossas vidas como
algo tão normal que não se estranha: entranha-se. Com o alargamento da rede e
aparecimento da Web 2.0, as redes sociais tornaram-se parte do nosso modo de vida. Desde
o lúdico ao profissional, passando pela vertente meramente social ou informacional, a
utilização das redes sociais é multifacetada mas responde sobretudo a um único objetivo:
manter em contacto. Por outras palavras: comunicar, interagir, socializar. A grande inovação
das redes sociais, e talvez tenha sido isso mesmo que as tornou tão populares, parte do
princípio da alteração do padrão-tipo da comunicação: emissor - mensagem - receptor. Em
1
A tese é orientada pelo Prof. Dr. Moisés de Lemos Martins e co-orientada pelo Prof. Dr. José Pinheiro.
2
Cyberbullying: utilização das novas tecnologias para difamar, perseguir e humilhar uma pessoa ou um grupo.
3
Cyberstalking: uma forma de cyberbullying simples que consiste em perseguir, difamar e humilhar uma pessoa ou
grupo unicamente através da Internet (sem recurso a outra tecnologia complementar).
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Ter como palco de fundo as redes sociais. Desafios metodológicos: como o observado muda o obsevador
rede é diferente: “(…) o receptor pode comentar e também ele partilhar informações, bens
culturais e comunicar sem barreiras, adoptando o duplo papel de receptor e emissor”
(Pinheiro, 2009: 22). Ou seja deixa de haver um emissor e um recetor estáticos, passando a
ser interativos: a mensagem é produto do contributo de ambos. Ou seja, nas redes sociais, os
agentes sociais tem vindo a reproduzir e a amplificar a socialização, numa espécie de
intensificação do social em condições e com formas bastante complexas. Uma complexidade
que ultrapassa claramente a de fenómenos sociais ocorridos fora do ecrã constituindo, de
alguma maneira, um desafio para as ciências sociais: estudar os fenómenos emergentes da
comunicação e interacção em rede. Estes fenómenos, ao assumirem a particularidade de se
passarem num meio que lhes carimba características e singularidades diferentes daquelas
com que estamos habituados a lidar no contexto do face-a-face, permitem antever que o
“observado” assume aqui uma importância crucial na forma como o “observador” irá olhar
para ele. Surge então aqui uma necessidade de rever formas de investigar clássicas que não
se adequam às formas emergentes do "observado". Poder-se-ia à partida pensar que dada a
acessibilidade e a facilidade com que utilizamos as redes sociais seria fácil investigar estas
emergências, bastando apenas efetuar algumas adaptações nas metodologias já existentes.
No entanto, estudar os fenómenos que emergem tendo como palco de fundo as redes
sociais tem-se revelado um desafio semelhante ao de estudar uma tribo nativa em pleno
início do século XX. Um pouco à semelhança do que fez Margaret Mead4 quando deixou os
Estados Unidos da América rumando à Samoa Americana e, posteriormente à Nova Guiné
com o objetivo de estudar os costumes dos povos locais: ir ao encontro de e inserir-se para
perceber a cultura dos mesmos. Porém algo de mais relevante ocorreu neste processo. O
plano que inicialmente consistia em observar os modos e costumes das tribos primitivas
alterou-se no momento em que Mead se apercebe que o objeto de observação estava a
modificar o observador, ou seja, estava-a a mudar a ela. O que Margaret Mead, proveniente
de uma sociedade patriarcal e conservadora, observou foi que em algumas tribos as
sociedades eram matriarcais, marcadas por uma clara inversão do papel masculino-feminino
a que a investigadora estava acostumada: as mulheres dedicavam-se às atividades de
sustento do lar e da família e os homens às de manutenção do lar e da família. Ou seja, o
inverso à sociedade patriarcal. Tal fenómeno fez com que o “observado” mudasse o
“observador”. Mudasse a sua perspetiva e alterasse a sua postura. Necessitava aprender a
observar o observado. Carecia de perceber as formas como se processavam os rituais, a vida
naquele contexto tão particular, como se davam e mantinham as relações sociais, a cultura
própria, os processos de comunicação. Afinal, Mead estava perante uma situação nova num
contexto diferente do qual estava habituada. Era necessário explorar e deixar-se mudar:
abrir a mente para novas realidades cujos fluxos de atuação tinham características muito
próprias. No fundo, o observado mudava o observador: fazia-o romper com os padrões a que
4
Ver as suas obras “Adolescência, sexo e cultura em Samoa” publicado em 1928 e “Sexo e temperamento em três
sociedades primitivas” resultado da sua investigação na Nova Guiné e que foi publicado em 1935. Ambas as obras
ganharam destaque pelo conteúdo que rompia com os modelos conservadores e patriarcais da sociedade norteamericana do início do século XX.
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Luzia Pinheiro; José Neves & Moisés Martins
estava acostumado. A verdade é que nós, enquanto investigadores, vamos estudar
fenómenos que, mesmo sendo nós utilizadores experientes de redes sociais, se passam em
contextos complexos dentro dessas redes que muitas vezes nós utilizamos mas que,
adotando a alegoria de um iceberg, se situam em níveis diferentes de profundidade e que,
dentro dos quais pode haver regras, comportamentos e linguagens muito específicos. Nós
temos de perceber como se processam esses fenômenos para os poder compreender e
depois investigar. No fundo é partir à descoberta de um mundo dentro de outro mundo.
2.1. A etnografia digital
A referência anterior ao estudo das tribos nativas no início do séc. XX não foi de todo
inocente. Foi precisamente da revisão das técnicas metodológicas utilizadas nessa altura
para investigar a vida em sociedade das tribos levada a cabo por antropólogos e sociólogos,
destacando por exemplo Margaret Mead e Gregory Bateson5, que os investigadores das
redes sociais encontraram uma das técnicas que, adaptada ao contexto digital viria a
revelar-se de extrema utilidade, concretamente a pesquisa etnográfica. Segundo Rocha et al
(2005: 3):
A etnografia possui características básicas, tais como: ênfase na exploração da natureza de
um fenómeno social particular; entrevistas em profundidade; observação participante;
análise de discursos de informantes; investigação em detalhe; perspectiva microscópica; e
interpretação de significados e práticas sociais, que assumem a forma de descrições verbais
(…) sendo o conhecimento científico gerado a partir do ponto de vista do outro.
Sucintamente, a técnica da etnografia é usada para recolher dados que permitam descrever
um modo de vida ou uma cultura (Fuller, 2008: 2) e que permite investigar “por dentro da
realidade de um grupo” (Rocha et al, 2005: 3). Ou seja, o investigador deve “descobrir” ao
invés de “constatar”.
Uma vez explanado no que consiste a etnografia, facilmente percebemos porque adquire
tantos adeptos no que respeita à sua aplicação em contexto digital: permite descobrir por
dentro estes “novos mundos” que emergem nas redes sociais. Muitos são os nomes daqueles
cujos estudos se situam metodologicamente neste campo: Estalella et alii (2006); Haraway
(2009); Escobar (1994); Hine (2000); Bishop et al (1995); Jones (1999); Amaral (2008, 2010),
entre outros. Porém a terminologia “etnografia digital” não reúne consenso
internacionalmente. Muitos destes investigadores referidos acima optaram por utilizar
outros termos, apesar de não se tratarem de técnicas diferentes, concretamente:
5
Ver as obras de Margaret Mead: “Adolescência, Sexo e Cultura em Samoa” publicado em 1928 e “Sexo e
temperamento em três sociedades primitivas” resultado da sua investigação na Nova Guiné e que foi publicado
em 1935. E a obra “NAVEN” de Gregory Bateson, publicada em 1936, também relativa às tribos da Nova Guiné.
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Ter como palco de fundo as redes sociais. Desafios metodológicos: como o observado muda o obsevador
webnografia, ciberantropologia, netnografia, etnografia virtual, ciberarqueologia. No fundo,
todas estas “técnicas” são a mesma mas com nomes diferentes, tendo como raiz a adaptação
da técnica da pesquisa etnográfica aos contextos digitais. Surgiu assim a etnografia digital,
uma técnica que tem sido utilizada para a investigação dos fenómenos que emergem nas
redes sociais e que consiste na observação científica destes fenómenos no seu contexto de
origem utilizando conceitos, estratégias e posturas que utilizaríamos na pesquisa
etnográfica tradicional. As regras são as mesmas, a diferença é que o fazemos em ambiente
virtual e mediados por redes em que os agentes não se encontram no mesmo espaço físico.
Ou seja, o observado tem algo de novo e inédito: o mundo digital em que as interações
deixam de ser essencialmente face-a-face. A etnografia digital constitui, de alguma forma,
uma tentativa de resposta a este problema. Comparando com a etnografia tradicional que
tem lugar num local passível de apontar no mapa mundi, a etnografia digital apresenta a
vantagem de não haver um espaço terrestre nem uma hora fixa para investigar. Muitos
autores sugerem que estas características aparentemente pouco relevantes implicam uma
nova atitude por parte do observador: uma flexibilidade investigativa.
2.2. O inquérito online
A par da etnografia digital, que permite um estudo de carácter mais qualitativo acerca de um
fenómeno e do contexto em que ocorre, uma outra técnica metodológica se adotou com
sucesso no estudo das redes sociais: o inquérito online. Esta metodologia quantitativa visa,
resumidamente, proceder em contexto digital à aplicação de inquéritos dentro do mesmo
padrão que fora do ecrã. Aliado à técnica da etnografia digital o inquérito online permite
aprofundar aspetos, características e pormenores dos dados recolhidos através da etnografia
digital. No estudo dos fenómenos emergentes o link entre a aplicação inicial de uma
metodologia qualitativa como é a etnografia digital e a utilização posterior de uma
metodologia quantitativa como o inquérito online parte do princípio da complementaridade.
Um completa o outro. É importante, senão crucial, ter um bom conhecimento geral de um
fenómeno para que se possa investigar uma particularidade do mesmo. Por exemplo,
relativamente ao cyberbullying é essencial conhecer como se processa, como pode ocorrer,
que formas pode assumir, ou seja, ter um bom conhecimento geral do fenómeno e do
contexto em que ocorre (proporcionado pela exploração do “observado” recorrendo à
etnografia digital) para depois poder aprofundar um aspeto, por exemplo, como as pessoas
reagem a uma situação de cyberbullying enquanto vítimas ou testemunhas, através da
aplicação de um inquérito online a um público-alvo já identificado. O inquérito online
permite, assim, subir para o patamar da especificidade. As vantagens desta técnica prendemse sobretudo com a velocidade, redução de custos e de trabalho. Concretamente os
inquéritos online são fáceis de criar e aplicar: basta divulgar o link onde está alojado. Os
resultados vão chegando à medida que os inquéritos são preenchidos: na hora em que são
concluídos o investigador recebe os resultados numa folha Excel online, que pode
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Luzia Pinheiro; José Neves & Moisés Martins
posteriormente ser transferida para o computador. Ou seja, além da velocidade e redução de
custos, pois não necessitam ser impressos nem de haver despesas com deslocações, são
também redutores de tempo de trabalho: já não é preciso inserir manualmente os dados na
base de dados pois esta é feita automaticamente aquando a criação do inquérito online.
Resumidamente trata-se de criar o inquérito, divulgá-lo, esperar e trabalhar os resultados
obtidos. No entanto, esta técnica apesar de ser fácil de aplicar, é mais complexa de controlar
pelo simples facto de que, quando se divulga um inquérito online, é impossível saber quem
o preenche. Nesse sentido, a fiabilidade dos resultados dos inquéritos online é muitas vezes
posta em causa pelo que urge encontrar soluções que permitam reduzir este problema do
controlo.
Um estudo levado a cabo na Alemanha em 2007 por Riebel, Jager e Fischer, “Cyberbullying
in Germany – and exploration of prevalence, overlapping with real life bullying and coping
strategies”, é um exemplo da aplicação bem-sucedida desta técnica:
Objetivo: investigar como os estudantes reagem a um caso de cyberbullying
(enquanto vítimas);
Metodologia adotada: inquérito online;
Como se procedeu: divulgação na internet e numa revista alemã para pais,
professores e alunos do site do inquérito que esteve online entre fevereiro e agosto
de 2007;
Desafio a enfrentar: não é possível controlar quem preenche o inquérito online.
Perante tal panorama os investigadores viam-se então com um dos problemas mais
controversos e que melhor caracterizam esta metodologia: como contornar o obstáculo da
impossibilidade de controlar quem preenche o inquérito online por forma a garantir a
fiabilidade dos resultados obtidos. Tal questão prende-se com a necessidade de criar
critérios de seleção e rejeição dos inquéritos preenchidos e submetidos online. Nesse
sentido, foram excluídos todos os inquéritos:
em que apenas a primeira folha havia sido preenchida;
terminados em menos de 150 segundos (era muito pouco tempo);
com menos de seis itens preenchidos (menos de metade do inquérito);
em que as respostas às perguntas abertas levantavam suspeitas;
com várias respostas ilógicas.
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Ter como palco de fundo as redes sociais. Desafios metodológicos: como o observado muda o obsevador
Analisando os critérios de exclusão elaborados podemos perceber que este grupo de
investigadores, além de demonstrar experiência na utilização desta metodologia, o que
poderia resultar tanto de estudos anteriores como da testagem da técnica de forma a
perceber os desafios a enfrentar. Os investigadores demonstraram também possuir
sensibilidade suficiente, assim como imaginação, para selecionar os critérios de exclusão de
inquéritos. Eles não controlaram quem preenchia os inquéritos mas antes quais os inquéritos
cujos dados iriam utilizar (validar). Cabe ainda ressalvar, para concluir, que os inquéritos
online são uma opção interessante para recolher dados sobre um aspeto específico do
fenómeno que estamos a investigar. Mas o seu sucesso está principalmente na previsão de
hipóteses de como garantir a fiabilidade dos resultados e não somente na elaboração de um
bom inquérito.
3. Conclusão
Para concluir podemos destacar que as redes sociais são uma fonte rica de informação do
social do homem-rede e dos fenómenos emergentes a ele associados que apenas tem lugar
em ambiente digital e que metodologicamente se caracterizam como desafiantes. Reciclar e
flexibilizar metodologias e técnicas por forma a investigar fenómenos em contextos tão
complexos quanto as redes sociais tem sido uma opção com resultados positivos nas
investigações levadas a cabo na área das ciências sociais. Podemos então concluir que a
superação dos obstáculos encontrados durante a investigação passa muitas vezes por
analisar as possibilidades de acordo com a nossa sensibilidade, experiência e capacidade de
inovação enquanto investigadores. Como popularmente se diz, quem não caça com cão caça
com gato. É tudo uma questão de persistência e experimentação. Mas sobretudo de abertura
e inovação. Porque não complementar dados? Unir técnicas qualitativas com quantitativas
pode ser a resposta. A etnografia digital é uma técnica qualitativa por excelência que
permite conhecer uma realidade por dentro. Por sua vez o inquérito online caracteriza-se
por ser de índole quantitativa, permitindo explorar características concretas de fenómenos.
No estudo de fenómenos complexos nos quais pretendemos conhecer a realidade dos
mesmos mas também explorar em concreto algumas das suas características, a resposta
pode estar na adoção de uma técnica mista que junta uma pesquisa etnográfica digital como
fase de recolha de dados inicial e o inquérito online como ferramenta de recolha de dados
complementares com vista a conhecer melhor um aspeto específico do fenómeno em
estudo. Afinal, todas as possibilidades metodológicas estão em aberto quando se investigam
as emergências. Teremos nós consciência suficiente para a inovação necessária?
Comunicação e Cultura . 153
Luzia Pinheiro; José Neves & Moisés Martins
Financiamento
A tese “Cyberbullying e Cyberstalking” (SFRH/BD/62013/2009) é financiada pela FCT com o
cofinanciamento do FSE.
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