Redigimos esse texto na cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, a capital mais ocidental do Brasil, situada na Região Norte. Contudo, para aproximar-nos tanto ao Ocidente quanto ao Norte globais sem ultrapassar a fronteira nacional,...
moreRedigimos esse texto na cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, a capital mais ocidental do Brasil, situada na Região Norte. Contudo, para aproximar-nos tanto ao Ocidente quanto ao Norte globais sem ultrapassar a fronteira nacional, precisaríamos percorrer vários milhares de quilômetros em direção sul-oriental, até chegar ao Sudeste Metropolitano, centro nevrálgico do país. E depois, desde esse “embrião de uma futura megalópole”, onde “se localiza o maior parque industrial da América Latina”, teríamos a opção de viajar por 8.000 km rumo a nordeste, para finalmente chegar à Europa, cuja cultura, conforme um livro para as escolas que chegou às nossas mãos, “é ocidental, baseada no alfabeto latino, nas religiões judaico-cristãs e na idéia de progresso ou desenvolvimento material”.
Por um lado, somos continuamente mobilizados para combater as guerras (simbólicas, políticas, ou até concretas) desse dito Ocidente, e por outro lado somos continuamente excluídos da superioridade moral que parece caracterizar quem consegue caber dentro dele.
Antes de tentar estabelecer um diálogo, e antes de nos desencadear e de fagocitar o Ocidente, precisamos desagregá-lo, fragmentá- -lo simbolicamente. Somente a partir dos seus pedaços, das suas migalhas desvinculadas dessa ambição de normatizar e impor desejos e obrigações, confinar, policiar, domesticar e assepsiar o Outro, poderemos começar um diálogo que seja verdadeiramente decolonial.