Espirito Santo

Introdução cidade é contexto de intensificação dos fluxos (SIMMEL, 1979), espaço de coexistência entre diferentes ordens morais (PARK, 1999), realidade marcada pela proximidade física e distância subjetiva e cujas influências são exercidas para além de suas fronteiras (WIRTH, 1979). Em sua forma ocidental moderna, organiza-se em torno de um mercado (WEBER, 1979) e a posição que ocupa em um mundo globalizado reflete sua maior ou menor centralidade em nível local (SANTOS, 1998). Neste texto, recorremos aos dados disponíveis sobre a proliferação do coronavírus no Brasil para avaliar os efeitos que as grandes cidades podem exercer para além das suas fronteiras 1 e, mais que isso, tentar encontrar alguma lógica no espraiamento territorial dos casos confirmados da doença. As principais metrópoles nacionais foram a porta de entrada do vírus no país, por meio de seus aeroportos; as capitais 2 foram sua incubadora em nível estadual; e os centros regionais, ou lugares centrais, sua rota de interiorização. Mas apesar de analisarmos o espraiamento de uma doença cujo contágio se dá pela via do contato direto entre pessoas, a proximidade das localidades afetadas demonstra ser um fator menos relevante do que a intensidade dos fluxos entre essas e as principais zonas de contágio, ao menos ao longo das primeiras semanas de observação da disseminação da doença. Assim, observamos como a lógica de centralização e dispersão das influências de determinadas unidades administrativas ao longo dos territórios analisados é refeita pelas linhas de espraiamento do vírus, em um sentido mais amplo. Os grandes centros, acumuladores das riquezas, endereços das decisões estratégicas, agregadores dos benefícios e dos males da vida urbana, vêm se consolidando como incubadoras da Covid-19, como demonstraremos. A extensão da mancha de contágio, aqui apresentada por mapas 3 de incidência nos estados analisados até 14 de abril, aponta para a consolidação de lugares centrais como subcentros de propagação de Covid-19, tão mais influentes quanto mais dinâmica sua posição no interior das unidades da federação que integram, por ora. A concepção de espaço como relação social nos servirá como ferramenta analítica, de modo a pensarmos a propagação da doença como processo de mudança da estrutura espacial (SILVA, 1985). Destacamos desse modo a necessidade de entender os fatores econômicos, sociais e políticos que vêm incidindo sobre o fenômeno epidêmico observado, mesmo que superficialmente, dadas as limitações objetivas em se analisar um processo complexo e ainda em curso. Desse modo, visamos compreender até que ponto e em que sentido podemos remontar a A REFLEXÕES NA PANDEMIA