RESUMO: Os estudos linguísticos atuais sobre o humor revestem-se, historicamente, de um legado que é ramificado em diversos campos do saber. A amplitude de discussão sobre o tema fez com que a literatura especializada passasse a...
moreRESUMO: Os estudos linguísticos atuais sobre o humor revestem-se, historicamente, de um legado que é ramificado em diversos campos do saber. A amplitude de discussão sobre o tema fez com que a literatura especializada passasse a apresentar uma taxonomia polêmica sobre as fronteiras, limites e interfaces do humor. Há, por exemplo, recorrentes tentativas de caracterizar os seus tipos e subtipos, os quais se distinguem entre si por seus efeitos tangíveis, isto é, performativos (VANDAELE, 2002). Trocadilhos, bon mot (tiradas inteligentes), sátira, ironia, besteirol, cômico, piada, deboche, sarcasmo, dentre outros, são manifestações muito sutis de formas de humor e seria pretencioso demais querer restringi-los a um único termo-humor-já que o mesmo serve à áreas tão variadas como a filosofia, a psicologia, a antropologia, a sociologia, a medicina, as ciências da informação e da educação, a teoria literária e a linguística, principalmente a linguística de abordagem cognitiva. Nessa última, a que aqui contemplaremos, o conceito de humor é relacionado ao conceito de processamento cognitivo da linguagem, o que de certa forma mantém fortes relações com o conceito de cultura na antropologia e na psicologia, por exemplo. A incongruência, por ser a propulsora do elemento surpresa, do paradoxo, da quebra de expectativas e, sobretudo, a responsável pela dissonância cognitiva na interpretação do humor, é aqui considerada como o principal constituinte da linguagem "não séria". Portanto, neste trabalho, propomos um ajuste de hipóteses entre as teorias tradicionais difundidas na literatura acerca do conceito de incongruência, especificamente no gênero textual piada, e recorremos a uma abordagem de metodologia analítica (SANTOS, 2014) afim de visualizar, em termos lógicos, o recálculo cognitivo demandado nesse tipo de interpretação discrepante. Por fim, a comprovação desse ajuste teórico pode ser observada na interface com os estudos dos cientistas cognitivos Coulson et. al (2012).