História Da Enfermagem

Ficha Técnica

Título // Aprender História de Enfermagem, um processo de descoberta
            (Volume 2)

Organizadores
Óscar Ferreira (Coord.); Cristina Baixinho; Helena Silva; Helga Rafael Henriques; Isabel Ferraz; Jorge Eurico Ferreira; Luís Lisboa Santos; Tiago Casaleiro; Viriato Moreira.

Revisores Científicos
Ana Pires; Carmina Montezuma; Cristina Baixinho; Helena da Silva; Helga Rafael Henriques; Isabel Ferraz; João Santos; Jorge Eurico Ferreira; Luís Lisboa Santos; Óscar Ferreira; Paulo Pina Queiroz; Tiago Casaleiro.

Edição
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL) & Associação Nacional de História de Enfermagem (ANHE), 2021.
Avenida Prof. Egas Moniz
1600-190 Lisboa

Imagem
Pedro Moreira & Daniel Miranda, Audiovisuais (ESEL)

Secretariado
Manuela Paias, Gabinete de Oferta Formativa
e-mail anhe.geral@gmail.com
web www.anhe.pt
ISBN 978-989-54169-8-1

"A prestação de cuidados que hoje designamos de enfermagem desenvolveram-se, desde os primórdios da humanidade até hoje, passando por diversas etapas que se caracterizaram por determinados valores e modelos. Alguns deles foram esquecidos, outros desvalorizados ou sacralizados. Houve no entanto alguns desses valores que permaneceram e que hoje são ainda considerados fundamentais.
De entre os valores que permaneceram salientam-se a vocação e a subordinação, a par da emancipação e da luta pela autonomia."

A Liga de Enfermeiras Graduadas da Escola Técnica de Enfermeiras (LEGETE), foi criada em 1945 por proposta da então Diretora da Escola, a enfermeira norte-americana Miss Hazel Goff. Com esta comunicação pretende-se dar a conhecer a criação de uma associação profissional inovadora, tanto em Portugal como na Europa, possível pelas mudanças verificadas após a guerra de 1939/1945. Utilizou-se o método histórico com recurso a fontes impressas existentes no arquivo da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e fontes orais através de entrevista à ex-Diretora da Escola Técnica de Enfermeiras. A LEGETE contribuiu para o desenvolvimento científico e cultural das graduadas pela criação de várias comissões de trabalho e de uma biblioteca. Promoveu também relações internacionais, visitas de estudo e auxiliou enfermeiras portuguesas a obter colação no estrangeiro. Conclui-se que a LEGETE foi, no Portugal de Salazar, uma associação de enfermeiras inovadora.

Introdução Nos primórdios da humanidade os homens feridos e que adoeciam nas lutas entre clãs e tribos eram decerto, à semelhança dos outros seres humanos, tratados pelos xamãs ou curandeiros e posteriormente cuidados por quem nas tribos era responsável por essa atividade. Habitualmente as mulheres. Isso podemos ver na obra de Plutarco, "Vidas paralelas: Teseu e Rómulo", na página 44, em que as Sabinas cuidam dos feridos resultantes da luta entre a sua tribo e aqueles que as tinham raptado: os fundadores de Roma (Leão e Fialho, 2008). Mais tarde com a organização dos primeiros exércitos, certamente que havia guerreiros ou pessoas que acompanhavam as hostes, as quais tinham entre outras atividades, a responsabilidade de acudir àqueles que adoeciam em campanha e que ficavam feridos nas batalhas, prestando-lhes os primeiros cuidados, retirando-os dos locais onde se pelejava para um local mais resguardado e calmo, onde pudessem recuperar das mazelas feridas e ser cuidados. Tais atividades seriam exercidas em enfermarias. Disso foram exemplo as enfermarias constituídas por tendas que D. Afonso Henriques mandou erguer junto de cada acampamento que estabeleceu no cerco da tomada de Lisboa aos mouros em 1147 (Moisão, 2012). Ao comemorarmos o Dia Internacional do Enfermeiro, que acontece a 12 de maio, data em que Florence Nightingale nasceu há 119 anos e tendo sido convidado para proferir esta palestra nesta nobre instituição de Saúde Militar que é o HFAR propus-me a relembrar algumas personalidades que marcaram a enfermagem castrense mundial, desde o séc. XV até a meados do séc. passado. Para isso socorri-me de fontes secundárias a partir das quais fundamentei as palavras que irei proferir. Tem pois esta comunicação como objetivos: identificar as principais personalidades que em minha opinião terão marcado a enfermagem castrense.

No último século, o ensino da enfermagem em Portugal sofreu importantes transformações. Após a integração do ensino de enfermagem no ensino superior politécnico, os cursos superiores de enfermagem que atribuíam o grau de bacharel funcionaram apenas durante 10 anos. Em 1999 foi aprovado o Curso de Licenciatura em Enfermagem e o Ano Complementar de Formação em Enfermagem dirigido a estudantes do bacharelato de enfermagem cujo curso terminasse nesse ano. Esta comunicação socorre-se do método histórico, com recurso à narrativa oral e análise documental. Tem como objetivo refletir a autonomia profissional da enfermagem portuguesa, a partir da narrativa de uma estudante que viveu a transição bacharel-licenciado. O ano 1999-2000 foi vivido com grande expectativa e, simultaneamente, esperança no futuro da profissão. Conclui-se que com a criação do grau de licenciatura, a enfermagem ganhou um estatuto de maior cientificidade, abrindo caminho para uma prática progressivamente mais autónoma.

"Em 1940 foi criada, com o apoio da Fundação Rockefeller e sob a égide de Francisco Gentil a Escola Técnica de Enfermeiras (ETE). Para a dirigir foi indigitada Angélica Lima Basto. Sucederam-lhe Hazel Goff, Alves Diniz, Mello Corrêa e Regala.
Quem foram estas mulheres? Como influenciaram o percurso da Escola? Que ideal defenderam? Esta foi a problemática que investigámos com a finalidade de preservar a memória das directoras da ETE durante o Estado Novo. Utilizando o método histórico, identificámos e analisámos documentos dos Arquivos da ETE, do Ministério da Educação, da Fundação Rockefeller e do Instituto Português de Oncologia, produzidos entre 1940 e 1974 e identificámos os momentos em que estas enfermeiras dirigiram a Escola; compreendemos como influenciaram o seu trajecto e caracterizámos o ideal pelo qual trabalharam. Concluímos que, ao longo de 34 anos, cada uma delas marcou indelevelmente o percurso desta instituição educativa e contribuiu para que ela fosse uma referência no panorama da enfermagem nacional e internacional. Lima Basto fundou-a, Hazel Goff viabilizou-a, Alves Diniz reorganizou-a, Mello Corrêa tentou promovê-la e Monteiro Regala eleva-a a instituição de ensino superior. Todas, sem excepção, lutaram por uma enfermagem (arte) feminina, profissional e de nível superior.
Palavras-Chave: História das Instituições Educativas; História de Enfermagem; Directoras de Enfermagem; Modelo anglo-americano.
"

Como fonte para a história de enfermagem no século XIX, para além dos diários das sessões das câmaras de representantes na Monarquia Constitucional e de muitas outras, temos os escritos daquela que é considerada a mãe da enfermagem moderna, Florence Nightingale (1920-1910).
De entre as suas obras e para a história da enfermagem hospitalar portuguesa e dos hospitais portugueses, mais concretamente do Hospital da Bemposta, posteriormente conhecido como Hospital D. Estefânia destaca-se Notas sobre Hospitais (Notes on Hospital; Nightingale, 1863).
Ao estudar os Diários da Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa de 25 de abril de 1864, verifiquei que o Sr. Deputado Casal Ribeiro apresentou uma proposta no sentido de que “no orçamento do ministério das obras públicas se inclua uma verba de 20:000$000 réis para auxiliar a continuação das obras do hospital Estephania, fundado na quinta da Bemposta por El-Rei o Senhor D. Pedro V” (Diário da Câmara dos Deputados, 25-04-1864, (80), p. 1298), a qual fundamenta
de forma resumida com a história da criação dessa obra de assistência para crianças pobres de Lisboa, afirmando que “o plano foi mandado vir de Inglaterra e encomendado ao príncipe Alberto” (Câmara dos Senhores Deputados, Diário da Câmara, (80), p. 1298).
Sendo o príncipe Alberto (1819-1861) consorte da rainha Vitória (1819-1901). Nessa época, Florence Nightingale era membro da Royal Commission on the Health of the Army (Lopes, 2012). Nas suas obras, em final da década de 1850 e princípios de 1860, esta enfermeira escreveu sobre os hospitais, pelo que poderiam ser uma boa fonte para o estudo do Hospital da Bemposta e da enfermagem hospitalar dessa instituição no último quartel do século XIX.
Desta forma, foi realizada uma pesquisa que culminou com o download das obras Notes on Hospitals: Being two papers read before the National Association for the Promotion of Social Science, at Liverpool in October, 1858 with evidence given to the Royal Commission on the state of the Army in 1857 e das Notas sobre Hospitais, respetivamente a 2ª e 3ª edição dos seus escritos publicados sobre os hospitais, a partir do site da Internet Archive (https://archive.org/), uma biblioteca digital de acesso gratuito a investigadores, historiadores, estudiosos e público em geral, membro da American Library Association.
Com este trabalho, pretende-se compreender qual a importância da obra Notas sobre Hospitais, publicado em 1863, como fonte para o estudo do Hospital da Bemposta e, consequentemente, da enfermagem hospitalar praticada nessa instituição a partir da década de 1870, mais concretamente a partir de 17 de julho de 1877, data da sua abertura (Diário Ilustrado, 1877, p. 1). Os objetivos deste trabalho visam: (i) identificar os princípios a que se deveria atender na construção dos hospitais em geral e dos hospitais pediátricos em particular; (ii) compreender a especificidade da enfermagem infantil e a sua peculiaridade; (iii) identificar princípios inerentes à prática da enfermagem infantil e as propostas para uma gestão adequada das enfermeiras e enfermarias dos hospitais de crianças.

O posicionamento terapêutico e os seus efeitos são complexos e importantes para a prestação de cuidados de saúde, mas tem sido pouco valorizado na prática clinica, na formação e na investigação. Estas inquietações levaram-nos a questionar a influência histórica do posicionamento terapêutico nos cuidados de enfermagem em Portugal. Este estudo, teve por objetivos: a) identificar referências sobre posicionamento terapêutico nos regulamentos, regimentos e livros de referência dos cuidados de saúde no recorte temporal compreendido entre 1329 e 1900 e b) analisar a intervenção dos enfermeiros na execução deste cuidado. Recorremos ao método histórico, com recurso à técnica de pesquisa documental. A colheita de dados foi feita com consulta a fontes primárias, destacando-se os Regulamentos, os Regimentos hospitalares e livros editados no período em análise. Os documentos da amostra respeitam os critérios de inclusão, previamente definidos e foram sujeitos à critica interna e externa. Nos regulamentos e regimentos de diferentes hospitais, encontramos essencialmente referência a material distribuído para conforto e bem-estar do doente, nomeadamente material para a cama dos doentes, equipamento esse com potencialidade para ser usado em diferentes posicionamentos, mas sobre isso as fontes nada revelam. É sobretudo com o aparecimento de um livro para a formação dos enfermeiros que encontramos referências ao posicionamento e como o utilizar na aplicação de diversos tratamentos. É necessária investigação que valorize esta intervenção autónoma de enfermagem.
Descritores: História; Posicionamento do Paciente; Enfermagem.

The work presents a theoretical observation on the evolution
of the nursing care from the Nightingalean principles faced
to the current perspectives of some authors that approach
this subject. We concluded that the solid base proposed by
Florence Nightingale allow to Nursing an evolution in studies
that legitimate and support the care as an essence of the
nurses know-how in their several fields of work. Nowadays,
these studies indicate the care as object of theorization in
dimensions that unite internal and external aspects to the
career, proposing and discussing themes that were
previously masked although present in the day-by-day of
our practice as the meaning of the body and its ways of
expression in the interaction between who cares and those
who receive care.