Este trabalho tem por objetivo analisar a inauguração do Gasômetro de São Cristóvão (1911) no contexto das reformas urbanísticas ocorridas no início do século XX no Rio de Janeiro, com um foco especial na reforma do Porto. Acolhe-se aqui...
moreEste trabalho tem por objetivo analisar a inauguração do Gasômetro de São Cristóvão (1911) no contexto das reformas urbanísticas ocorridas no início do século XX no Rio de Janeiro, com um foco especial na reforma do Porto. Acolhe-se aqui a afirmação de que o conjunto de intervenções levadas à cabo na cidade naquele período são efeitos de um embate político mais amplo, travado entre duas correntes reformadoras da época, fato que a historiografia ora dominante costuma desconsiderar. Durante a gestão do prefeito Pereira Passos (1903-1906), dois ideários distintos de reformulação urbana concorreram na mesma cidade: ações de embelezamento comandadas pela Prefeitura caminharam ao lado do projeto de modernização do Porto do Rio de Janeiro, levado à cabo pelo Governo Federal. Neste panorama, considera-se que a consequente inauguração do Gasômetro de São Cristóvão está fortemente vinculada e torna-se possível graças à intervenção a nível federal. Contudo, acredita-se que a separação entre dois pólos não dá conta do fenômeno, uma vez que a empreitada do gás mostrou-se transescalar, atravessando não apenas um, mas muitos projetos relacionados à noção de modernidade: a popularização do uso do gás e a inauguração de sua maior fábrica, o Gasômetro de São Cristóvão, articulam, ao mesmo tempo, distintas vertentes de projeto de cidade, de governo e de sociedade. Esta análise tem como suporte privilegiado a pesquisa em jornais e revistas publicados nas primeiras décadas do século XX. Para tanto, recorre-se inicialmente a um breve histórico da utilização do gás na iluminação pública da cidade a partir de meados do século XIX, se estendendo até a abertura do Gasômetro de São Cristóvão. Em seguida, discute-se o avanço do fornecimento de gás encanado e suas consequências na transformação dos hábitos da classe média urbana, mais precisamente no espaço privado do lar. ABSTRACT The present work aims to analyze the inauguration of São Cristóvão gasworks factory (1911) in the context of the urban reforms that took place in Rio de Janeiro during the early 20th century, with a special focus on the reform of its harbor. This article reaffirms the assertion that the set of interventions that took place in the city were effects of a wider political clash lead by two reformist trends of that time, a fact that current dominating historiography often disregards. During the administration of mayor Pereira Passos (1903-1906), two distinct ideologies concerning urban renewal competed in the same city: embellishment acts executed by the City Hall walked alongside the harbor's modernization project, driven by the country's Federal Government. In this panorama, it is believed that the consequent opening of the São Cristóvão gasworks is strongly linked and made possible thanks to the intervention on federal level. Nevertheless, it is believed that the separation in two poles does not explain the phenomenon, as the gas works appears to be cross-scaling, penetrating in not only one but many projects related to the notion of modernity: the popularization of gas appliances and the opening of its biggest factory, the São Cristóvão gasworks, articulate at the same time different projects of city, government and society. This analysis is based on the privileged research of newspapers and magazines published in Rio de Janeiro during the first decades of the 20th century. For such, a brief history of the utilization of manufactured gas in public lighting is made, from the mid-19th century until the construction of its main gas factory. It then discusses the improved gas supply system and its consequences on the transformation of the urban middle class habits, more precisely on the private space of home.