Sublimação

RESUMO Pretendemos, no presente artigo, estabelecer um diálogo, que já se mostrou profícuo, entre psicanálise e literatura. Para tanto, propomos uma análise psicanalítica de algumas poesias de Manuel Bandeira, partindo de fatos de sua biografia e elementos presentes em sua obra poética, em especial, no que tange à temática da morte, marcante em sua vida e frequente em sua poesia. Para a análise, nos valemos, principalmente, das noções de luto e de sublimação, tal como articuladas dentro da teoria psicanalítica.

A sublimação é considerada um dos mais enigmáticos mecanismos psíquicos descritos pela psicanálise freudiana. Propomos uma reflexão sobre a metapsicologia da sublimação com referência à arte trágica grega, questionando-nos em que medida a expressividade trágica
pode contribuir para uma compreensão mais profunda sobre o trabalho sublimatório. Enfatizamos o acolhimento da condição trágica da existência humana como uma das
qualidades necessárias à elaboração psíquica pela sublimação. Ao longo desta pesquisa são ressaltadas as principais características e condições históricas que possibilitaram o surgimento das narrativas trágicas; em seguida nos propomos fazer uma varredura, em toda obra
freudiana, das bases metapsicológicas do processo psíquico da Sublimação; para assim, chegarmos a uma reflexão a respeito das relações existentes entre a economia psíquica envolvida no processo sublimatório e o trágico.

Para compreender a estreita relação que encontramos entre a melancolia e a criação artística, neste trabalho investigaremos − através da poesia de Ana Cristina César, da obra freudiana, das contribuições de Marie-Claude Lambotte e Ana Cecília Carvalho − como a criação literária que fala a “língua melancólica” traria no texto e no corpo do texto os impasses encontrados pelo sujeito melancólico. O ego melancólico – ego que é projeção de uma superfície corporal − teria sido presa das pulsões de morte que não foram suficientemente neutralizadas por falta de uma energia erótica em quantidade suficiente. O ferimento narcísico torna impossível o represamento da libido que escoa pelo buraco vazio que aparece no lugar da imagem integrada do corpo que deveria ter sido oferecida pelo outro responsável pelos cuidados maternos. Veremos que o escritor ao criar e para criar, precisa se aproximar daquilo (das emoções, afetos, intensidades, representações e silêncios) que será transformado, sendo assim, novamente confrontado com as experiências que procuram integração, sentido e destino. A criação pode provocar reaberturas traumáticas, mas como o phármacon de Platão, ela não é necessariamente um veneno nem um remédio.

Este artigo apresenta o embasamento teórico com o qual me envolvi para compreender melhor a dimensão da tarefa a que me proponho, na forma do desenvolvimento do Projeto Mostra de Talentos, pela complementaridade da formação técnica e da oferta de oportunidades de expressão artísticas e culturais, enquanto Orientadora Educacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) campus Realengo. Concluo apresentando reflexões e propondo a ampliação do escopo de intervenção do projeto, que poderia ser transformado em programa institucional do IFRJ.