Este estudo tem por objetivo analisar a metarrepresentação na comunicação linguística a partir de uma perspectiva gradativa. Investigações sobre Teoria da Mente (ToM) nas áreas da psicologia cognitiva, filosofia da mente e neurociência...
moreEste estudo tem por objetivo analisar a metarrepresentação na comunicação linguística a partir de uma perspectiva gradativa. Investigações sobre Teoria da Mente (ToM) nas áreas da psicologia cognitiva, filosofia da mente e neurociência apresentam que a capacidade de atribuição de estados mentais próprios e alheios ocorre em formato de encadeamento de (meta)representações. Por outro lado, estudos da pragmática cognitiva voltados à linguagem verbal possibilitam uma importante constatação: a de que existem ordens, camadas ou níveis inerentes a esse processo. Nesse âmbito, os fenômenos comunicativos verbais que mais se destacam nas pesquisas em termos de sofisticação metarrepresentativa em ordens ou níveis são dois: a tradução, porque detém o envolvimento de múltiplos ambientes cognitivos em seus domínios interpretativos; e a interpretação do humor, por envolver conteúdo implícito, a verificação do engano e a resolução da incongruência. Assim sendo, propõe-se a confluência entre essas duas circunstâncias comunicativas complexas, a fim de observar como a capacidade metarrepresentativa se comporta em condições elevadas e/ou extremas. A metodologia descritivo-explanatória na interface das teorias possibilitou a confirmação de três hipóteses: a de que nas várias disposições de/entre ambientes cognitivos mútuos da tradução existe sempre uma partilha de conhecimentos entre autor e tradutor, pelo menos em alguma medida; que a gama metarrepresentativa dos dois fenômenos comunicativos (tradução-do-humor), torna-se um processo que oscila, em detrimento a condição estanque de ordens, camadas e níveis atribuídos à metarrepresentação nas definições dadas pela psicologia cognitiva e pragmática cognitiva; e, por fim, devido à situação interna da própria incongruência – que exige o trabalho duplo de ser reconhecida e resolvida na interpretação para então ser metarrepresentada segundo o efeito de humor apreendido e apostado para o novo público – a condição estanque de ordens e níveis metarrepresentativos estabelecida por Wilson (2000), Gibbs (2000) e Recanati (2000) passa a migrar, portanto, à uma instância dinâmica de grau, tendo em vista o alargamento de significação a ser realizado no processo tradutório.
Palavras-chave: ToM. Psicologia Cognitiva. Teoria da Relevância. Metarrepresentação Gradativa. Tradução.