A cultura do arroz, principalmente o irrigado sob inundação, representa a base da dieta de metade da população global. Além de sua importância econômica e alimentar, o arroz cultivado secularmente nos países asiáticos, apresenta uma...
moreA cultura do arroz, principalmente o irrigado sob inundação, representa a base da dieta de
metade da população global. Além de sua importância econômica e alimentar, o arroz
cultivado secularmente nos países asiáticos, apresenta uma simbologia própria ligada à
cultura e religiosidade locais; é portanto, mais do que simplesmente um cultivo agrícola. O
modelo de produção convencional vêm intensificando o uso de insumos industriais na
agricultura, em detrimento dos métodos tradicionais de cultivo, trazendo consigo problemas
como o aumento da erosão, baixa fertilidade dos solos, biodiversidade reduzida,
estreitamento da base genética, poluição das águas e do solo, e impactos nos componentes
atmosféricos e climáticos. O presente trabalho teve por objetivo apresentar, dentro do
contexto da agricultura orgânica, alternativas ao uso de produtos industriais tais como
fertilizantes sintéticos e agrotóxicos, no sistema de produção do arroz irrigado em
propriedades familiares, preconizando a adoção da tecnologia de processos, ou em outras
palavras, um sistema integrado de produção. Neste contexto, a agricultura orgânica
apresenta-se como uma alternativa, com a intenção de minimizar o impacto ambiental
gerado pela atividade antrópica e remunerar melhor a produção agropecuária, por sua maior
valorização perante o consumidor. De forma isolada, o caráter de agricultura orgânica não
isenta este sistema de limitações ou mesmo problemas. Como exemplo, salienta-se a
possibilidade de dependência de insumos industriais e a poluição de recursos hídricos e de
alimentos com nitratos. Procurando contornar este dilema, as alternativas para sistemas
integrados de produção apresentadas neste trabalho, na medida em que aprimoram
sistemas de agricultura orgânica, levando em conta o enriquecimento planejado da
biodiversidade, tem um papel destacado na viabilização da agricultura familiar de pequeno
porte. Neste contexto de integração, a cultura do arroz irrigado passa a ser uma das várias
opções de cultivo, mesmo continuando a ser a principal atividade de lavoura das
propriedades; permite porém incrementar a renda total através da ampliação da agricultura
de subsistência, e da diversificação com produtos diferenciados e de qualidade, passíveis
de venda para um mercado cada vez mais exigente. Dentre as tecnologias integradas para
o gerenciamento local de recursos, com geração interna de insumos e baixo uso de insumos
industriais, destacam-se a rizipiscicultura, a criação de marrecos de Pequim em quadras
arrozeiras, a fixação biológica de nitrogênio e sistemas de agrossilvicultura com arroz, que
podem proporcionar uma maior estabilidade aos agroecossistemas, trazendo maior
produção, sustentabilidade e eficiência energética. Na maioria destas situações, os animais
representam um elo importante para as relações estabelecidas. Leguminosas e Azolla spp.
têm um papel destacado no fornecimento de nitrogênio em sistemas de orizicultura irrigada,
sendo que o uso destas espécies é ponto chave para altas produções de arroz na
orizicultura orgânica integrada. Por ser um processo de geração de fertilidade in loco, seu
uso permite a substituição dos adubos nitrogenados sintéticos, facilitando a transição para o
modelo de agricultura orgânica. Identificou-se que há dois caminhos para a produção
familiar orizícola de pequeno porte: a industrialização crescente ou a diversificação e
integração de atividades da agropecuária tendo por cultura base o arroz. A viabilização do
modelo apresentado, depende em grande medida dos consumidores, e é na relação direta
com estes que a agricultura orgânica familiar de pequeno porte, pode encontrar um maior
reconhecimento de seu significado como produtora de alimentos saudáveis e melhores
condições de vida.