A Rapariga Do Lago
De Carina Rosa
5/5
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Sobre este e-book
Luísa é uma adolescente introvertida, dividida entre a paixão que sente pela arte e a carreira em medicina que os pais sonham para ela. Atormentada pela ideia de que partirá, em breve, para Praga, passa os seus dias a desenhar, inspirada pela música de um violino.
Luísa está curiosa quanto à identidade do violinista que a inspira, mas o seu interesse parece redobrar quando conhece Luís.
Ele é inesperado: vive isolado dentro da música que toca, escondendo-se do seu passado trágico e de um mundo preconceituoso. Os seus destinos vão unir-se na solidão e no amor à arte. E é ao som dos acordes do violino e por detrás de folhas de papel em branco que os dois vão viver uma paixão improvável.
Uma novela sobre o primeiro amor, o preconceito e o talento, bem como a importância da carreira e das escolhas que fazemos.
Carina Rosa
Carina Rosa nasceu em Lisboa em 1986 e vive no Algarve. Passou grande parte da sua vida num ginásio e depois de ter integrado, como atleta, nas épocas de 2002-2004, a Selecção Nacional de Trampolins e Desportos Acrobáticos, participando em várias competições internacionais, descobriu na escrita uma outra paixão. Licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve e trabalhou em jornalismo de imprensa, na rádio e televisão online. Mas a ginástica foi sempre a sua casa e é trabalhando com classes de formação gímnica que passa os seus dias, como técnica de Ginástica Acrobática. Considera-se uma apaixonada pelas artes e pela cultura, no geral, estabelecendo uma relação muito próxima entre a música, a dança e as letras. A escrita é uma paixão que tomou forma em 2012, ao publicar o seu primeiro romance «O Intruso». Desde então tem-se dedicado a escrever diversos romances, uns mais leves, outros com um carácter mais denso, entre histórias contemporâneas e policiais, os seus géneros favoritos. Gosta de abordar as diversas relações com um balanço entre o realismo e o drama. Em 2013, deu a conhecer aos leitores «As Gotas de um Beijo». De momento, está a trabalhar num romance policial. «A Sombra de um Passado», publicada em Dezembro de 2014 pela Coolbooks, a nova chancela digital da Porto Editora, é a sua terceira obra publicada. Dê a sua opinião sobre o conto na página do mesmo, no Goodreads: https://www.goodreads.com/book/show/23875712-olhos-de-vidro
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A Rapariga Do Lago - Carina Rosa
FICHA TÉCNICA
Edição: Ana Filipa Ferreira
Revisão: Carina Rosa
Ana Filipa Ferreira
Capa
Imagens: @Free images
Montagem: Ana Filipa Ferreira
© Carina Rosa 2015
Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor
Esta edição encontra-se ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1945
***
Agradeço às minhas queridas betas, sempre dispostas a ler o que tenho para mostrar, mesmo estando já fartas do meu estilo. As vossas opiniões são muito importantes. Obrigada a todas por aturarem os meus devaneios e as minhas teimosias. Acreditem que cada uma, à sua maneira, me levou ao caminho certo: ao lago azul.
A verdadeira deficiência é aquela que prende o ser-humano por dentro e não por fora, pois até os incapacitados de andar podem ser livres para voar
.
Thaís Moraes
***
A rapariga do lago
O lápis de carvão pousava na folha de papel e deslizava nela ao ritmo da visão e dos sentimentos de Luísa. A mão que o segurava era jovem, com calos que se lhe formavam nos dedos devido aos desenhos insistentes, muitas vezes mal sucedidos, e o caderno em que guardava as suas ilustrações a carvão apresentava-se já enrugado, com as argolas desreguladas. O lápis que mantinha apertado entre os dedos estava envelhecido pelo tempo, mirrado, mas Luísa recusava-se a desfazer-se dele, pelo menos até ao momento em que fosse tão pequeno que lhe magoaria a mão.
- Já teve melhores dias, esse lápis - comentava Andreia em tempo de aulas, quando devia ser a medicina o foco dos pensamentos de Luísa.
- É o meu lápis - respondia ela. - Talvez não tenha tanta sorte com outro.
- Não vai durar para sempre - insistia Andreia. - Vais ter que arranjar um novo. De qualquer forma, não me parece que seja a sorte …
- Penso nisso depois.
- Sabes que, da forma como o lápis está, vai acabar por te deformar os dedos? – Luísa olhava-a em desconfiança. – Acredita em mim. O lápis tem que ter um comprimento ideal para …
- Não compreendes mesmo, pois não? – respingava Luísa. – Este lápis tem uma história. É importante para mim. Achas mesmo que algum dia vou encontrar outro igual?
- A mente de um artista é estranha - bufava a amiga, e Luísa concordava.
Nesse instante, porém, estava inspirada e não lhe parecia que fosse o carvão moribundo o causador de tal inspiração. A marina de Vilamoura, onde passeava sempre durante o Verão, captando o brilho dos turistas através de linhas delineadas no papel, os seus sorrisos, as pequenas rugas ou a postura dos corpos, parecia mais bonita nesse dia. Os barcos pareciam mais reluzentes, o rio um ciclo de águas límpidas e chamativas. Retratava o cais com a mesma precisão com que se habituara a desenhar rostos desconhecidos, embalada pela música de um violino que tocava algures, enquanto Andreia falava.
- É o Francisco – disse. - Luísa, presta atenção. O Francisco …
- Não quero ouvir falar dele.
- Não, escuta – pediu Andreia, puxando-a pelo cotovelo.
Luísa virou-se para ela a contragosto.
- Estou a desenhar – explicou. – Detesto que me distraiam quando desenho. Detesto ainda mais que me toquem … - voltou de novo a sua atenção para a ilustração e Andreia revirou os olhos, zangada.
Recostou-se na cadeira da esplanada e cruzou os braços, ofendida por ter que ser sempre obrigada a falar para as paredes.
Os artistas, pensou. Ah, os artistas, essas criaturas estranhas, cheias de fantasias! Não podiam ter um espírito mais científico? Seria tudo muito mais interessante quando estivesse a estudar medicina com verdadeiros médicos. Teria conversas inteligentes sobre a ciência e os factos e não sobre devaneios. Era o que precisava. De pessoas práticas, que não vissem uma marina como algo de espantoso e sobrenatural. Um coração humano e a forma como batia, isso sim, era realmente admirável.
Pegou no seu sumo de laranja, bebeu dois goles e voltou a falar, observando Luísa pelo canto do olho.
- Não vais beber o teu? – perguntou.
- Hum hum – foi a resposta de Luísa, que rabiscava a folha, impaciente, lançando breves olhares ao cais e a algo mais ao fundo, na direcção da música.
Andreia tentou focar o desenho, mas depressa se fartou da sua tentativa frustrada de entender a fonte de inspiração.
Bufou durante longos segundos. Porém, decidiu falar.
- O Francisco – continuou, já pouco importada se Luísa a ouvia ou não – e sei bem que não o suportas, mas … Ele quer voltar a sair comigo.
Luísa foi despertada pelas últimas palavras de Andreia. Ergueu a cabeça da folha de papel e fitou a amiga de olhos semicerrados.
- O Francisco … Francisco?
- O Francisco Francisco – assentiu Andreia, pegando de novo no copo do sumo. – Ele parece mudado, Luísa, e embora …
- Espera aí! – interrompeu Luísa sem, no entanto, conseguir largar o caderno e o lápis de carvão. – Tu não vais voltar a sair com ele, pois não?
Andreia mordeu o lábio e olhou-a com doçura, expressão que deu a Luísa a certeza de que sim.
Esta deixou cair os ombros, derrotada, e os seus longos cabelos castanhos derramaram-se pelas costas magras.
- Ele tentou incendiar a escola, e … ó Andreia, traiu-te com outra!
A amiga apressou-se a negar, assumindo uma expressão alarmada, com os seus grandes olhos verdes muito abertos.
- Ele não incendiou a escola! É inocente. Sempre disse isso e eu acredito nele. Além disso, eu já não andava com ele quando se enrolou com a outra …
- Porque ele se atirava a todas!
- Sim, eu achava que sim, mas agora …
Luísa voltou a olhar para a figura que criara, assentando o lápis na folha. Para uma rapariga tão prática, Andreia era muito ingénua.
Os sentimentos são tão incertos, pensou. Já este desenho, eu posso controlar. Posso fazer dele o que bem entender.
- Tu vais-te embora, lembra-te disso. Quando fores para a República Checa, isso vai acabar e tu vais sofrer. Aliás, como já sofreste por