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Mascarada
Mascarada
Mascarada
E-book160 páginas3 horas

Mascarada

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Sobre este e-book

Durante o carnaval em Veneza, todos são anônimos e o Marquês passado uns dias, a festa começa a aborrecê-lo, até os encantos sedutores da sua amante de olhos escuros, já o tinham desencantado um pouco. Mas no meio daquele desfile, eis que uma dama se aproxima do Marquês de Melford e apresenta-se como Caterina. Mas por trás da sua máscara, ele repara nos seus olhos tristes, e como fala da saudade que sente da Inglaterra, vendo o quanto seus lábios são desejáveis, mas ela é apenas uma doce visão no meio daquela loucura de Veneza, pois logo a seguir, ela desaparece. O Marquês fica pensando naquela mulher misteriosa. Quando volta para o seu yate e dá ordem para zarpar, mal imagina que o vento e o mar, apesar de se anunciarem calmos, irão trazer as emoções mais violentas de toda a sua vida.  Um barulho constante e abafado no yate, perturba os pensamentos do Marquês. Parecia vir do grande armário pintado, encostado na parede de um dos espaços do navio. Quando ele abre as portas de um dos armários, o Marquês fica surpreso ao descobrir uma bela jovem clandestina, encolhida a um canto, a mais bonita dama que o Marquês havia visto até então…  com ar frágil, de olhos azuis e cabelos dourados. Era Caterina. Estava fugindo de um casamento não desejado, escondendo-se no yate do Marquês a caminho de Inglaterra. Mas o Marquês mal podia imaginar as aventuras que ambos iriam passar, enfrentando piratas da Barbária... como a escuridão de uma prisão em Túnis... e que perdido no mar, estava perdido nos braços quentes de uma linda mascarada, e neles, iria encontrar o verdadeiro amor…

IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de jan. de 2020
ISBN9781788672672
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    Mascarada - Barbara Cartland

    CAPÍTULO I

    1791

    Não podemos ficar aqui a noite toda! Você vai ou não dançar comigo?

    A mulher falou em tom áspero, mas seus olhos, sob a máscara de veludo preto, brilhavam de excitação ao observar os foliões que se divertiam na Piazza San Marco, tão bem disfarçados que nem mesmo os parentes mais próximos os reconheceriam.

    Havia uma orgia de cores e uma grande variedade de fantasias.

    —Está cheio demais— respondeu o homem, com voz lânguida—, e quente demais.

    —Nada é cheio demais para mim, depois de passar semanas olhando para a monotonia cinzenta do mar, sentindo o barco jogar.

    Por trás da máscara, o Marquês de Melford tinha um ar entediado. Ouviu essa queixa, não uma, mas centenas de vezes, e de novo lamentou seu impulso, ao convidar a amante para acompanhá-lo a Veneza.

    Imaginou que ela iria aliviar o tédio da viagem. Em vez disso, apenas piorou tudo.

    —Olhe para aquele homem!— disse Odette, esquecendo a irritação, ao encontrar um novo alvo de interesse.

    Um acrobata deslizava por uma corda, do alto do campanário até o chão, de rosto para baixo e firmando-se na corda com os pés.

    O povo prorrompeu em aplausos, quando ele chegou salvo ao chão. Mas havia outros feitos de força e agilidade e vários espetáculos chamavam a atenção: muitos homens com enormes pernas de pau, outros fingindo-se de ursos, homens montados em cavalos de pau, homens fantasiados de demônio, com chifres e unhas compridas. Havia dervixes e uma porção de palhaços, arlequins dançando com colombinas bonitas, uma cigana lendo a sorte, uma rendeira de Chioggia e garotos maltrapilhos empurrando rodas de carros.

    A própria multidão já era um espetápulo, com roupas listradas, chapéus pontudos e turbantes, narizes falsos e trajes bordados de lantejoulas. Todos gritavam e batiam palmas, ouvindo-se risos quando um homem elegante dizia a outro uma frase espirituosa.

    Acima de tudo, ouvia-se o som de música.

    No centro da Piazza, centenas de pessoas dançavam. Odette pegou o braço do Marquês.

    —Venha! Quero dançar! Quero dançar!

    —Por que não, linda dama?— disse uma voz de homem.

    Odette foi levada para o meio dos dançarinos, deixando o Marquês sozinho.

    Ele não se perturbou com o desaparecimento dela.

    Já tinha estado em Veneza e sabia que os diferentes carnavais, que duravam até seis meses do ano, eram um pretexto para a folia contínua, quando todas as convenções e a discrição eram postas de lado.

    Veneza, a cidade do prazer e do amor, entregava-se à frivolidade de tal forma, que era impossível ser sério nesse lugar de fadas, onde o maravilhoso brilho da festa parecia acentuar a beleza das cúpulas e das torres.

    Na Piazza, diante dos cafés, inúmeros fregueses bebiam vinho e conversavam, enquanto as gôndolas, com seus dosséis coloridos, navegavam pela superfície verde da lagoa e pelos canais.

    —Posso... falar com o senhor, por um momento, milorde?

    A voz fraca, ofegante, culta, chamou a atenção do Marquês. Virou-se para a mulher a seu lado.

    Era difícil ver sua aparência, porque estava de máscara e um véu de renda cobria seus cabelos, sob o chapéu tricómio, caindo-lhe até os ombros. Mas os lábios estavam descobertos, e notou que eram bem feitos e muito jovens.

    —Com muita honra— disse ele.

    —Podemos nos sentar em algum lugar?

    —Claro.

    Ofereceu o braço à jovem e conduziu-a por entre a multidão, até um café que não estava tão cheio como os outros. Escolheu uma mesa ao fundo, junto à parede, onde havia poucos fregueses. A maioria preferia ficar o mais próximo possível da multidão que dançava e andava na Piazza.

    A jovem sentou e o Marquês chamou um garçom.

    —Quer vinho ou chocolate?

    —Chocolate, por favor.

    Fez o pedido e virou-se para a companheira.

    Pelo que podia ver, ela era bem jovem. Achou, embora talvez se enganasse, que os olhos por trás da máscara tinham uma expressão ansiosa.

    —Deve achar muito estranho eu lhe dirigir a palavra desse modo, senhor, mas eu estava louca para lhe falar da... Inglaterra.

    —Da Inglaterra?

    —Tenho muita saudade.

    O Marquês pareceu achar graça. Jamais esperou que alguém, e muito menos uma inglesa— se é que era essa a nacionalidade da jovem—, lhe dissesse isso em Veneza.

    —Não está gostando disso?— perguntou, fazendo um gesto para os foliões.

    —Detesto tudo isso!

    Sob a máscara, o Marquês ergueu as sobrancelhas e ela acrescentou, vivamente:

    —Mas não quero falar de mim. Quero saber se os narcisos estão dourados, nos parques de Londres, se os cavalos ainda são tão bonitos em Rotten Row, se os vendedores ambulantes ainda gritam «alfazema doce», quando trazem suas cestas do campo.

    Havia na voz uma nota emocionada que fez com que o Marquês soubesse que cada uma dessas coisas tinha um significado para ela.

    —Não quer me dizer o seu nome?

    Vendo que ela se contraía, acrescentou, rapidamente:

    —Não o seu nome todo, é claro! Sei perfeitamente que todos nós temos que permanecer incógnitos, no carnaval. Mas você sabe que sou inglês.

    —Sim, sei que é inglês. Vi-o numa gôndola, no Grande Canal, e alguém me disse quem o senhor é.

    —Tenho a impressão de que isso é trapacear— brincou ele.

    —Talvez tenha razão. Por isso, vou lhe dizer meu nome. É Caterina.

    —Um famoso nome veneziano. Mas você é inglesa.

    —Meio-inglesa. Meu pai era veneziano, mas sempre vivi na Inglaterra. Só cheguei a Veneza há três semanas.

    —É por isso que está com saudades de casa.

    —Adoro a Inglaterra! Gosto de tudo, lá. Dos cavalos, das pessoas e até mesmo do clima!

    O Marquês riu.

    —Você é, de fato, parcial. Mas Veneza é muito bonita.

    —É como um brinquedo de criança. E as pessoas aqui são crianças. Brincam o dia inteiro, o tempo todo, e ninguém fala a sério.

    —E por que quer ser séria, na sua idade?

    —Porque me interesso por coisas com as quais os venezianos não se preocupam, ou sobre as quais têm total ignorância.

    Suspirou profundamente e colocou os cotovelos na mesa, descansando o queixo nas mãos, de modo que o Marquês notou os dedos finos, aristocráticos. Em voz baixa, ela disse:

    —Quando morava na Inglaterra, as pessoas que vinham a nossa casa falavam de política, de livros, de teatro, de descobertas e invenções científicas. Era muito interessante. Mas, aqui, só falam de amor.

    Havia na voz dela uma ponta de desprezo que o Marquês não pôde deixar de achar divertida.

    —Quando for um pouco mais velha, vai achar o amor tão interessante e tão fascinante como a maioria das mulheres acham.

    Caterina olhou para ele.

    —O amor pode ser fascinante?

    —Só quando a pessoa está apaixonada.

    Seu cinismo não passou despercebido à jovem.

    —Não respondeu a minha pergunta.

    —Sobre os narcisos? Quando saí de lá, eram como um tapete dourado, em volta da minha casa de campo. E em toda parte de Londres, podiam ser vistos como campânulas amarelas: nos jardins de Berkeley Square, em St. Jame`s Park e em cestas grandes, sendo vendidos nas ruas.

    —Achei que devia ser isso mesmo! E deve haver jacintos de várias cores sob as amendoeiras, os botões caindo nos gramados verdes— suspirou novamente—, será que algum dia vou tornar a ver gramados verdes?

    —Poucas pessoas trocariam os canais, a Piazza, a lagoa azul e o sol de Veneza pelo nevoeiro, a chuva e o frio intenso tão frequente em Londres.

    —Eu trocaria.

    —Quanto tempo você tem que ficar em Veneza?

    —Para sempre!— respondeu ela, com entonação trágica.

    —Vai acabar gostando. Uma mudança de ambiente sempre é perturbadora. No ano que vem, nesta mesma época, você estará apreciando o carnaval e rindo de sua frivolidade, além de se divertir com as loucas aventuras que fazem parte desses festivais.

    Enquanto dizia isso, o Marquês imaginava como é que ela havia saído de casa sem uma acompanhante, pois, mesmo no carnaval, isso era obrigatório para as moças.

    As mulheres casadas tinham uma liberdade como não se via em nenhuma outra parte da Europa. Disfarçadas pelos dominós que eram chamados tabarros, podiam ir a qualquer parte e falar com todo mundo, sem serem reconhecidas.

    Os mexericos falavam de aventuras escandalosas que aconteciam nos cafés, na lagoa e até mesmo nas igrejas.

    Homens mascarados podiam entrar nos conventos, se o desejassem. Todas as barreiras desapareciam. Não havia ricos nem pobres, não havia mais leis nem legisladores.

    Havia apenas o reinado das máscaras e quem iria se rebelar contra uma coisa tão excitante, tão atraente? Na realidade, um famoso veneziano havia dito: «O mundo inteiro está enfeitiçado pelo carnaval de Veneza».

    —Quanto tempo vai ficar aqui?— perguntou a moça.

    —Não muito.

    —Então, não está achando divertido!

    —Isso é uma suposição gratuita da sua parte. Acho Veneza muito interessante, mas talvez, como você, eu não esteja com disposição para tais frivolidades.

    —Vai voltar para a Inglaterra, seus amigos ficarão contentes por revê-lo e discutirão assuntos importantes com o senhor.

    —Como sabe que não sou apenas um diletante, um jogador, um homem ávido de divertimentos, do tipo que você certamente despreza?

    —Porque, quando o mostraram a mim, ontem, disseram que veio aqui para ter uma conversa muito séria com o Conselho dos Dez.

    O Marquês ficou subitamente imóvel. Os olhos por detrás da máscara fitaram Caterina, atentamente. Não era isso que esperava ouvir; muito menos dito por uma mulher, no carnaval.

    Era verdade, embora achasse que ninguém sabia, que tinha ido para Veneza a pedido do primeiro-ministro britânico, William Pitt, para discutir com o conselho que governava Veneza, assuntos secretos, de importância política.

    Foi um azar ter chegado depois que o carnaval começou e não uma semana antes, como pretendia. Mas uma tempestade na baía de Biscaia atrasou a viagem e alguns reparos no iate, feitos em Malta, o retiveram por mais tempo ainda.

    Apesar de tudo, não achou possível que alguém fora do conselho soubesse que sua visita era outra coisa, além da busca de divertimento.

    Ficou em silêncio, tal a surpresa.

    Caterina disse, nervosa:

    —Talvez eu não devesse ter dito isso! Talvez a razão de sua viagem seja secreta.

    —Pensei que fosse.

    —Prometo, então, não comentar com ninguém. Não precisa ter medo de que eu lhe cause aborrecimentos.

    —Isso seria pouco provável. Mesmo assim, é preferível que guarde essas ideias para você mesma.

    —Prometo que guardarei absoluto silêncio sobre assuntos que lhe dizem respeito. Fiz mal em vir ao carnaval, mas vim porque queria falar com o senhor.

    O Marquês ficou surpreso novamente.

    —Certamente, não veio sozinha.

    —Não, claro que não. Minha criada me acompanhou e está esperando numa gôndola sob a primeira ponte, logo na saída da Piazza.

    —Então, talvez seja aconselhável eu acompanhá-la até lá.

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