Da Terra à Lua
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Sobre este e-book
Julio Verne
Julio Verne (Nantes, 1828 - Amiens, 1905). Nuestro autor manifestó desde niño su pasión por los viajes y la aventura: se dice que ya a los 11 años intentó embarcarse rumbo a las Indias solo porque quería comprar un collar para su prima. Y lo cierto es que se dedicó a la literatura desde muy pronto. Sus obras, muchas de las cuales se publicaban por entregas en los periódicos, alcanzaron éxito enseguida y su popularidad le permitió hacer de su pasión, su profesión. Sus títulos más famosos son Viaje al centro de la Tierra (1865), Veinte mil leguas de viaje submarino (1869), La vuelta al mundo en ochenta días (1873) y Viajes extraordinarios (1863-1905). Gracias a personajes como el Capitán Nemo y vehículos futuristas como el submarino Nautilus, también ha sido considerado uno de los padres de la ciencia ficción. Verne viajó por los mares del Norte, el Mediterráneo y las islas del Atlántico, lo que le permitió visitar la mayor parte de los lugares que describían sus libros. Hoy es el segundo autor más traducido del mundo y fue condecorado con la Legión de Honor por sus aportaciones a la educación y a la ciencia.
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Da Terra à Lua - Julio Verne
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2020 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Traduzido do original em francês
De la Terre à la Lune
Texto
Júlio Verne
Tradução
Frank de Oliveira
Preparação
Flávia Yacubian
Revisão
Eliel Cunha
Produção editorial e projeto gráfico
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Mott Jordan/Shutterstock.com;
donatas1205/Shutterstock.com;
Theus/Shutterstock.com
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
V531d Verne, Júlio
Da Terra à Lua [recurso eletrônico] / Júlio Verne ; traduzido por Frank Oliveira. - Jandira, SP : Principis, 2021.
192 p. ; ePUB ; 3,7 MB. - (Literatura Clássica Mundial)
Tradução de: De la Terre à la Lune
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-269-3 (Ebook)
1. Literatura infantojuvenil. 2. Ficção. I. Oliveira, Frank. II. Título. III. Série.
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantojuvenil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 82-93
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistema de busca ou transmitida por qualquer meio, seja ele eletrônico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização do detentor dos direitos, e não pode circular encadernada ou encapada de maneira distinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições sejam impostas aos compradores subsequentes.
O Clube do Canhão
Durante a Guerra de Secessão dos Estados Unidos, um novo clube, muito influente, foi fundado na cidade de Baltimore, Maryland. Bem se sabe com que energia o instinto militar se desenvolveu no seio desse povo de armadores, comerciantes e industriais. De simples balconistas, improvisaram-se capitães, coronéis e generais, sem passar pela escola militar de West-Point; não tardaram a igualar, na arte da guerra
, seus colegas do Velho Continente e, como estes, obtiveram vitórias à força de prodigalizar balas, dólares e homens.
Mas se em algo os americanos superaram notoriamente os europeus foi na ciência da balística. Não que suas armas atingissem um grau mais elevado de perfeição: apenas tinham dimensões inusitadas e, consequentemente, alcances desconhecidos até então. Em matéria de tiros rasantes, parabólicos, frontais, transversais, sucessivos ou de revés, ingleses, franceses e prussianos já nada têm a aprender; mas seus canhões, obuses e morteiros não passam de pistolas de bolso em comparação com os formidáveis engenhos da artilharia americana.
Mas que ninguém se espante. Os ianques, esses primeiros mecânicos do mundo, são engenheiros, como os italianos são músicos e os alemães, metafísicos: nascem assim. Nada mais natural, então, que apliquem à ciência da balística sua audaciosa engenhosidade. Daí esses canhões gigantescos, bem menos úteis que as máquinas de costura, mas igualmente espantosos e ainda mais admirados. Conhecem-se, nessa área, as maravilhas de Parrott, de Dahlgren, de Rodman. Os Armstrong, os Pallisser e os Treuille de Beaulieu foram obrigados a se inclinar diante de seus rivais de além-mar.
Portanto, durante a terrível luta entre nortistas e sulistas, os artilheiros foram a cereja do bolo; os jornais da União celebravam seus inventos com entusiasmo e não havia pequeno comerciante, não havia booby (ignorante) ingênuo que não quebrasse a cabeça, dia e noite, calculando trajetórias malucas.
Ora, quando um americano tem uma ideia, procura logo outro americano com quem partilhá-la. Quando chegam a três, elegem um presidente e dois secretários. Se já são quatro, nomeiam um arquivista e a sociedade passa a funcionar. Cinco? Convocam uma assembleia geral e o clube está fundado. Foi o que aconteceu em Baltimore. O primeiro que inventou um canhão se associou ao primeiro que o fundiu e ao primeiro que o forjou. Nasceu assim o Gun Club, o Clube do Canhão. Um mês depois, contava com 1.833 membros efetivos e 30.575 membros correspondentes.
Condição sine qua non imposta a toda pessoa que quisesse entrar para o clube: ela devia ter projetado ou, pelo menos, aperfeiçoado um canhão (à falta de canhão, qualquer arma de fogo servia). Mas, convém dizer a verdade, os inventores de revólveres de quinze tiros, de carabinas giratórias ou de sabres-pistolas não gozavam de grande consideração. Quem tinha a primazia eram sempre os artilheiros.
A estima que angariam
, disse certa vez um dos oradores mais sábios do Gun Club, é proporcional às massas de seu canhão e está na razão direta do quadrado das distâncias alcançadas por seus projéteis!
Mais um pouco e a lei da gravitação universal de Newton seria transposta para a ordem moral.
Fundado o Gun Club, adivinha-se com facilidade o que o gênio inventivo dos americanos produziu nesse gênero. Os engenhos de guerra assumiram proporções colossais, e os projéteis iam, para além dos limites permitidos, cortar em dois os transeuntes inofensivos. Todas essas invenções deixavam bem para trás os tímidos instrumentos da artilharia europeia. Basta lançar os olhos para as estatísticas seguintes.
Outrora, nos bons tempos
, uma bala de 36 milímetros atravessava, a uma distância de 90 metros, 36 cavalos de lado e 68 homens. Era a infância da arte. Desde então, os projéteis evoluíram muito. O canhão Rodman, que arremessava a mais de 11 quilômetros uma bala de 500 quilos, teria derrubado facilmente 150 cavalos e 300 homens. Chegou--se mesmo a discutir, no Gun Club, a possibilidade de um teste oficial. Mas, se os cavalos nada disseram contra a experiência, os homens infelizmente não aceitaram participar.
Como quer que seja, o efeito desses canhões era mortífero e, a cada descarga, os combatentes tombavam como espigas sob a foice. Significariam alguma coisa, em comparação com tais projéteis, a famosa bala que, em Coutras, em 1587, pôs 25 homens fora de combate, aquela que, em Zorndoff, em 1758, matou 40 cavaleiros ou o canhão austríaco de Kesselsdorf que, em 1742, lançava por terra, a cada disparo, 70 inimigos? Seriam mesmo surpreendentes as bocas de fogo de Iena ou Austerlitz, que decidiam a sorte das batalhas? Outras bem diferentes se viram durante a Guerra de Secessão! No combate de Gettysburg, um projétil cônico, lançado por um canhão raiado, atingiu nada menos que 173 sulistas; e, na passagem do Potomac, uma bala Rodman mandou 215 confederados para um mundo evidentemente melhor. Convém mencionar ainda um formidável morteiro concebido por J.-T. Maston, membro distinto e secretário perpétuo do Gun Club, cujo resultado foi mortífero às avessas, pois, no teste, matou 337 pessoas – ao explodir! É verdade!
Cabe acrescentar mais alguma coisa a esses números que falam por si mesmos? Nada. Por isso, temos de admitir sem contestação o cálculo seguinte, feito pelo estatístico Pitcairn: dividindo-se o número de vítimas das balas pelo dos membros do Gun Club, conclui-se que cada um destes matou por sua própria conta uma média
de 2.375 homens e uma fração.
Diante dessas cifras, torna-se evidente que a única preocupação de uma sociedade tão sábia era o fim da humanidade com objetivo filantrópico, sendo os aperfeiçoamentos das armas de guerra considerados veículos civilizatórios.
Era uma legião de Anjos Exterminadores – de resto, tidos como as melhores pessoas do mundo.
Convém acrescentar que esses ianques, bravos a não poder mais, iam além das fórmulas e procuravam concretizá-las. Viam-se entre eles oficiais das mais variadas patentes – tenentes, generais, militares de todas as idades, aqueles que se iniciavam na carreira das armas e aqueles que nela haviam envelhecido. Muitos, tombados no campo de batalha, tiveram seus nomes incluídos no livro de honra do Gun Club; e os que voltaram trouxeram as marcas da coragem indiscutível. Muletas, pernas de pau, mãos e braços mecânicos, mandíbulas de borracha, crânios de prata, narizes de platina... não faltava nada à coleção. O já citado Pitcairn chegou mesmo a calcular que, no Gun Club, havia no máximo um braço para quatro pessoas e apenas duas pernas para seis.
Mas esses valentes artilheiros não ligavam para tais ninharias e se sentiam justificadamente orgulhosos quando o boletim de uma batalha mostrava um número de vítimas dez vezes maior que a quantidade de projéteis disparados.
Um belo dia, porém – dia triste, lamentável –, a paz foi assinada pelos sobreviventes da guerra. As detonações cessaram pouco a pouco, os morteiros silenciaram, os obuses foram amordaçados por tempo indeterminado, os canhões reentraram de cabeça baixa nos arsenais, as balas se amontoaram nos depósitos de munições, as lembranças sangrentas se diluíram, os algodoeiros cresceram magnificamente nos campos muito bem adubados, as roupas de luto sumiram juntamente com as dores e o Gun Club mergulhou numa apatia profunda.
É verdade que alguns teimosos, trabalhadores encarniçados, continuaram fazendo cálculos de balística e sonhando com bombas gigantescas, obuses incomparáveis... Mas, sem a prática, de que vale a teoria? Assim, as salas ficavam desertas, os criados dormiam nas antecâmaras, os jornais emboloravam nas mesas, os cantos obscuros ecoavam gemidos tristonhos e os membros do Gun Club, outrora tão falantes, agora reduzidos ao silêncio por uma paz desastrosa, deixavam-se embalar pelos devaneios da artilharia platônica!
– É desolador – suspirou um dia o bravo Tom Hunter, enquanto suas pernas de pau se cobriam de fuligem diante da lareira da sala dos fumantes. – Nada a fazer! Nada a esperar! Que existência monótona! Onde estão os tempos em que o canhão nos acordava todas as manhãs com suas alegres detonações?
– Esses tempos se foram – respondeu o corajoso Bilsby, tentando estirar os braços que já não tinha. – Aquilo, sim, era prazer! Inventávamos nosso obus e, mal ele era fundido, corríamos a experimentá-lo contra o inimigo! Depois, regressávamos ao acampamento, onde éramos recebidos com um incentivo de Sherman ou um aperto de mão de MacClellan! E hoje? Os generais voltaram para suas lojas e, em vez de projéteis, vendem fardos de algodão! Ah, por Santa Bárbara, a artilharia não tem mais futuro na América!
– Sim, Bilsby – lamentou o coronel Blomsberry –, são cruéis decepções! Deixamos nossos hábitos tranquilos, treinamos o manejo das armas, saímos de Baltimore para os campos de batalha, tornamo-nos heróis; e dois, três anos mais tarde tivemos de renunciar ao fruto de tantas fadigas, adormecer numa deplorável ociosidade e ficar de mãos nos bolsos.
Mas, dissesse o que dissesse, o bravo coronel não poderia falar em bolsos para exemplificar sua inatividade, pois não eram bolsos que lhe faltavam.
– E nenhuma guerra em perspectiva! – disse então o famoso J.-T. Maston, coçando com seu gancho de ferro o crânio de guta-percha. – Nenhuma nuvem no horizonte justamente quando há tanto a fazer na ciência da artilharia! Eu mesmo, esta manhã, terminei um desenho, com plano, perfil e elevação, de um morteiro fadado a alterar completamente as leis da guerra!
– Verdade? – interessou-se Tom Hunter, pensando involuntariamente no último teste do honrado J.-T. Maston.
– Verdade – respondeu este. – Mas de que servirão tantos estudos levados a bom termo, tantas dificuldades vencidas? Não será isso trabalhar inutilmente? Os povos do Novo Mundo parecem ter decidido viver em paz, e nosso belicoso Tribune¹ chegou a prognosticar catástrofes iminentes devidas ao aumento escandaloso das populações!
– E, enquanto isso, Maston – prosseguiu o coronel Blomsberry –, na Europa estão lutando para defender o princípio das nacionalidades!
– E daí?
– Daí que, talvez, possamos tentar alguma coisa por lá, caso solicitem nossos serviços...
– Como assim? – alterou-se Bilsby. – Fazer balística em proveito de estrangeiros?
– Melhor que não fazer nada – replicou o coronel.
– Sem dúvida – concordou J.-T. Maston –, é melhor. Mas nem vale a pena pensar nisso.
– Por quê? – perguntou o coronel.
– Porque, no Velho Mundo, eles têm ideias sobre o progresso que contrariam nossos hábitos americanos. Não aceitam que alguém possa se tornar general sem ter sido subtenente, o que equivale a dizer que um bom artilheiro precisa fundir, ele mesmo, o canhão! Ora, isso é simplesmente...
– Absurdo! – bradou Tom Hunter, rasgando o braço de sua poltrona a golpes de bowie-knife². – E do jeito que vão as coisas, só nos resta plantar tabaco ou purificar óleo de baleia!
– Mas, então – gritou J.-T. Maston com voz retumbante –, passaremos os últimos anos de nossas vidas sem aperfeiçoar armas de fogo? Não teremos mais a oportunidade de testar o alcance de nossos projéteis? A atmosfera não voltará a se iluminar com o clarão de nossos canhões? Não surgirá uma dificuldade internacional que nos permita declarar guerra a alguma potência transatlântica? Os franceses não afundarão pelo menos um de nossos vapores, e os ingleses não enforcarão, contrariando os direitos humanos, três ou quatro conterrâneos nossos?
– Não, Maston, essa felicidade não teremos! – respondeu o coronel Blomsberry. – Não ocorrerá nenhum desses incidentes e, mesmo que ocorresse, não saberíamos aproveitá-lo. A suscetibilidade americana vai desaparecendo a olhos vistos e nós vamos nos encolhendo!
– Sim, nós nos humilhamos! – rugiu Bilsby.
– E somos humilhados! – acrescentou Tom Hunter.
– Nunca vi verdade tão sólida – disse J.-T. Maston, com mais veemência ainda. – Há por aí milhares de razões para combatermos e não combatemos! Economizamos braços e pernas em proveito de gente que não sabe o que fazer deles! E, sem precisar ir mais longe para encontrar um motivo de guerra, a América do Norte já não pertenceu aos ingleses?
– Já – rosnou Tom Hunter, atiçando raivosamente as brasas da lareira com a ponta de sua muleta.
– Aí está! – continuou J.-T. Maston. – Por que então a Inglaterra não pode agora pertencer aos americanos?
– Seria muito justo – disse o coronel Blomsberry.
– Mas tentem propor isso ao presidente dos Estados Unidos! – desdenhou J.-T. Maston. – Verão como ele os receberá!
– Receberá mal – murmurou Bilsby entre os quatro dentes que sobraram do combate.
– Por minha fé! – ameaçou J.-T. Maston. – Nas próximas eleições, que ele não conte com meu voto!
– E que não conte também com os nossos – replicaram em coro aqueles belicosos inválidos.
– Enquanto isso – prosseguiu J.-T. Maston –, e para concluir, se não me dão a oportunidade de testar meu novo morteiro num verdadeiro campo de batalha, demito-me do Gun Club e corro a me enterrar nas savanas do Arkansas!
– Nós o seguiremos – garantiram veementemente os interlocutores do audacioso J.- T. Maston.
Estavam nisso as coisas, com os espíritos se exaltando cada vez mais e o clube sob ameaça de dissolução próxima, quando um acontecimento inesperado acabou por impedir essa indesejável catástrofe.
Logo no dia seguinte à conversa que transcrevemos acima, cada membro do clube recebeu uma circular nestes termos:
Baltimore, 3 de outubro.
O presidente do Gun Club tem a honra de informar seus colegas de que na sessão do dia 5 do corrente mês lhes fará um comunicado de seu maior interesse. Em consequência, pede-lhes que suspendam quaisquer outros compromissos e atendam ao convite feito na presente.
Cordialmente,
Impey Barbicane, presidente do Gun Club
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Canivete de lâmina larga. (N.O.)