O que eles perderam
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O que eles perderam - Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho
O que eles perderam
Copyright by © Petit Editora e Distribuidora Ltda., 2019
1-8-19-20.000
Coordenação editorial: Ronaldo A. Sperdutti
Projeto gráfico e editoração: Juliana Mollinari
Capa: Juliana Mollinari
Imagens da capa: Shutterstock
Assistente editorial: Ana Maria Rael Gambarini
Revisão: Érica Alvim e Alessandra Miranda de Sá
Conversão para ebook: Cumbuca Studio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Carlos, Antônio (Espírito).
O que eles perderam / ditado pelo espírito Antônio Carlos ; [psicografado por] Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. -- Catanduva, SP : Petit Editora, 2019.
ISBN 978-85-7253-351-5
1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romance espírita I. Carvalho, Vera Lúcia Marinzeck de. II. Título.
19-28773
CDD-133.9
Índices para catálogo sistemático:
1. Romance espírita : Espiritismo 133.9
Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014
Direitos autorais reservados. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora.
(Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998)
Traduções somente com autorização por escrito da Editora.
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O que eles perderamSUMÁRIO
Sumário
Capa
Créditos
Folha de Rosto
SUMÁRIO
Conversas de amigos
PRIMEIRA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
SEGUNDA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
TERCEIRA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
QUARTA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
QUINTA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
SEXTA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
SÉTIMA HISTÓRIA
1º capítulo
2º capítulo
3º capítulo
Conclusão
Landmarks
Capa
Página de Créditos
Folha de Rosto
Sumário
Conclusão
Conversas de amigos
Numa tarde de domingo ensolarada, num dia muito agradável, reunimo-nos, amigos afins, e ficamos desfrutando de uma conversa calorosa; o assunto passou a ser obsessão.
– Eu, Antônio Carlos, já obsediei uma pessoa – contei, relembrando o passado. – Agi errado e, normalmente, ao agirmos erroneamente, damos desculpas ou culpamos alguém. Foi o que fiz. Tentei justificar meus atos errados dizendo que fora pelas circunstâncias do momento, medo de enfrentar a situação, de não ter coragem de abandonar o conforto, de dizer não
às comodidades e que fui incentivado por uma pessoa que se sentia como eu: Como perder o prestígio? Como viver com menos dinheiro? Fugir? Ir para onde? etc. A desencarnação me surpreendeu. Foram então me cobrados os meus atos. Desencarnados se vingaram. Sofri muito. Tudo passa; esses espíritos que queriam a desforra se cansaram e me largaram no Umbral, então consegui raciocinar e, em vez de concluir acertadamente que errara e tivera o retorno, culpei a outra pessoa. Odiei-a. Fui então atrás desse desafeto e a encontrei reencarnada num corpo masculino. Revoltei-me. Ela desencarnara, sofrera, mas não fora perseguida como eu fora. Estava como sempre ou como era, não mudara: amava o status, o dinheiro, vivia na ociosidade. Quis me vingar e planejei. Esta pessoa não me havia feito errar? Pois era isso que deveria fazer a ela, que naquele momento era ele
. Não foi difícil, ele tinha tendências que passei a incentivar. Eu o fiz errar, cometer atos indevidos. Foi assassinado por esses motivos, por ter prejudicado uma pessoa que revidou. Quando o vi morto e seu espírito não queria deixar a matéria, me apavorei. Não gostei de vê-lo sofrendo daquela maneira. Pedi, roguei por socorro. Ele foi ajudado e eu também. Fomos separados.
Dei por encerrado meu relato com um profundo suspiro. Não é fácil recordar dos atos indevidos que fizemos. Foi José quem quebrou o silêncio:
– Trabalho há anos em centros espíritas e estamos sempre lidando com processos obsessivos, tenho notado que se muda muito de lado, ora obsessor ora obsediado. Antônio Carlos, você foi obsessor. Foi obsediado?
– Não tenho lembranças de ter sido obsediado. Quando isto ocorreu, me justificava que, fraco, fiz o que o outro queria; no meu caso, uma encarnada. Não foi obsessão, ela somente argumentava. O que me lembro mesmo é dos meus atos como obsessor. Sei que nossos atos equivocados nos marcam mais. Este espírito, o que obsediei, não revidou. Primeiro, tinha medo de mim, não podia me aproximar que se apavorava, depois sentia aversão. Com o tempo nos reconciliamos e hoje somos amigos.
– Muitas pessoas, como você – opinou Huberto –, agem assim. O erro, a culpa, é do outro; o acerto é meu mérito. Mas a lei Divina, do Universo, é que nossos atos nos pertencem. Isso ocorre porque podemos usar ou abusar do nosso livre-arbítrio, que é uma graça a nós concedida por Deus. É pelo livre-arbítrio que temos a possibilidade de nos fazer bons ou maus. Assim, nos fazemos melhores ou piores do que Deus nos fez. Na obsessão, deduzo o seguinte: ninguém pode destruir o livre-arbítrio alheio. Pode-se prejudicar ou tentar, no caso, obsediar o outro. Entretanto, é certo: onde há culpa, há sofrimento. Com o obsessor desencarnado, tema de nossa conversa, digo que: a morte do corpo físico não destrói o negativo. Aquele que fez muitos atos equivocados, maldosos, quando encarnado, continua a ser o mesmo desencarnado. O equivocado materialista gozador se torna um materialista sofredor lá ou aqui, encarnado ou desencarnado, até que resolva se modificar reconhecendo os erros cometidos e faça o propósito de fazer o bem que não fez. O livre-arbítrio é atributo do espírito e não da matéria física. Encarnados e desencarnados podem se melhorar quando quiserem. É pela nossa vontade que podemos obter nossa paz, ou sofrimento, construir o positivo ou destruir pelo negativo. Que grande responsabilidade! Com certeza o obsessor pensa ter motivos, como escutamos de Antônio Carlos, mas, em vez de pensar, concluir e se esforçar para sair do negativo do erro, não o faz e continua errando.
– E você, José, o que pensa? – Urbano quis saber.
– Tenho, de fato – disse José –, visto muitas obsessões; tento auxiliar os envolvidos, alertando-os com as citações de Jesus para a lei do retorno. O que fazemos aos outros, primeiro fazemos a nós. Jesus disse: Não julgue para não ser julgado;¹ com a mesma medida que medir, será medido.² Isso para termos cautela com atos indevidos. Para mim, a mais bonita citação que eu particularmente tenho como objetivo de vida é: seja misericordioso para receber misericórdia.³ Não necessita o ofendido querer desforra, fazer o ofensor ser castigado; isso porque o que recebeu pode ser a colheita de uma plantação de atos errados. Pode também ter sido uma prova, e se foi e acabou por obsediar, não foi aprovado e com certeza terá de repeti-la. Como os nossos atos nos pertencem, se o ofendido, o prejudicado, que recebeu uma maldade, perdoar, compreender, e for cuidar de sua vida, é a melhor coisa que faz. Porque aquele que fez o ato maldoso o receberá de volta, é a lei de Deus. A plantação é livre, mas a colheita é obrigatória. Entretanto, pode-se facilitar uma colheita difícil com amor, que suaviza tudo, e com muito trabalho no bem.
– O que faço – opinou Eulália – é com amor, tento cuidar de ambos, obsediado e obsessor, com muito carinho. Foco no perdão, na necessidade de se perdoar. Se o perdão fosse praticado, não existiriam obsessões, possessões, desejos de vinganças. Se nos amássemos como Jesus nos ensinou, não teríamos ofensores nem ofendidos. Muitos dos ofendidos estão tendo oportunidade de aprender a não se melindrar. Amigo Antônio Carlos, por que não escreve algo sobre este assunto? É interessante saber o que um obsessor sente, pensa. Sei que normalmente se sofre muito.
– Posso tentar, mas rogo a ajuda dos amigos – respondi. –Tentarei então escrever o que ocorreu sendo fiel na opinião, o que falou cada membro desta equipe.
– Se isso ocorrer, peço-lhes para participar – interessou-se Huberto. – Tinha poucos conhecimentos, quando encarnado, sobre este assunto, sobre esta possibilidade; infelizmente não me aprofundei neste estudo. Tive alguém próximo de mim que foi obsediado. Vim a saber deste fato somente quando desencarnei. Pensava, quando isso ocorreu, ser doença física, embora sabendo que: espírito são, corpo sadio. Ali estava comigo uma pessoa necessitada de sarar espiritualmente. Não pensei errado, de fato era um espírito que muito errara e estava recebendo o retorno para um aprendizado. Mas com ele estavam três desencarnados que o odiavam e, mesmo vendo-o num corpo deficiente, não era suficiente: queriam castigá-lo mais. Notei que quando eu orava perto dele o acalmava. Ensinei a mãe a orar e passei a fazer mais preces por ele. Envolvia-o num manto de luz que eu criara pelo amor. Deu certo. Dois obsessores afastaram-se e um, mais endurecido, ficou com ele até a desencarnação do garoto deficiente, que foi socorrido. Esse espírito obsessor, por anos, continuou sofrendo, até que aceitou ajuda para se modificar. Gostaria de participar como estudante. Será deveras interessante!
– Vamos então – determinei – nos organizar e fazer esse trabalho que, com certeza, como todas as tarefas no e para o bem, nos dará muitos conhecimentos.
O trabalho foi organizado. Teríamos dias e horas para resolver estas questões tão sérias e de sofrimento como são as de obsessão.
¹ (N. A. E.): José disse as citações com suas palavras.
1 Mateus, 7:1 e 2 – Não julgueis, para não serdes julgados, pois sereis julgados conforme houverdes julgado os outros: e aplicar-se-á a vós, na mesma medida, aquilo que aplicaste contra eles.
2 Mateus, 7:1 e 2 – Não julgueis, para não serdes julgados, pois sereis julgados conforme houverdes julgado os outros: e aplicar-se-á a vós, na mesma medida, aquilo que aplicaste contra eles.
3 Mateus, 5:7 – Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque eles próprios alcançarão misericórdia.
Primeira
história
1º capítulo
Olga, como ultimamente se sentia inquieta, foi ao quintal e olhou para o céu.
– Sem nuvens e está muito quente! Que calor!
Olhou para o muro e se recordou:
Foi num dia assim que Mateus caiu e quebrou o pé. As cenas vieram à mente, porém não só à dela, também às de dois desencarnados: Clemente, o esposo, e Mateus, o filho.
Recordaram-se: Mateus, com doze anos, subiu no muro e andava se equilibrando por ele. Olga, a mãe, ao ver, assustou-se e gritou, assustando o menino, que caiu.
– Que correria! – exclamou Olga, que ultimamente falava muito sozinha e alto.
Sozinha
é como julgava estar, porém estava sempre acompanhada pelo filho e muitas vezes pelo esposo.
– Telefonei – continuou Olga falando, como se estivesse conversando com alguém, e era ouvida pelos dois – para Clemente, e nós dois o levamos para o hospital. Ficou muitos dias sem poder colocar o pé no chão; reclamei, mas gostei de cuidar dele, sempre gostei. Talvez devesse ter tido mais filhos, tivemos somente Mateus, nosso tudo. Que ingratidão! Que vida cruel! Por que me levou Mateus? A vida não! A morte! Essa miserável!
– Vida miserável! – reclamou Mateus, o filho desencarnado.
– Pobrezinho morreu! – a mãe lamentando se pôs a chorar.
– Sou um pobrezinho! – choramingou Mateus.
– Filho – Clemente estava preocupado –, vamos embora, por favor!
– Não e não! – irritado Mateus gritou.
– Mateus! Meu Mateus! Não me abandone! Morro sem você! Meu filho! – Olga chorava, lágrimas abundantes escorriam pela face.
– Está vendo, papai? Como ir? Não posso!
– Venha, isso não pode continuar! – implorou o pai.
Clemente implorava, porém pensou:
Ir com ele para onde? Será que sei voltar ao posto de socorro? Quero levar meu filho para longe daqui, mas para onde ir?
– Não vou! Vá você! Que pai é? Nunca amou mamãe, pois não se importa com ela – Mateus ficou nervoso.
– Aquele Clemente! Imbecil! Que marido! Sempre me atormentou. Nunca pude contar com sua ajuda! Ajudava os outros e não a mim! – lamentou Olga.
– Meu Deus! – Clemente rogou.
– Meu Deus! – repetiu a mãe.
Clemente se sentou no chão, num canto no quintal; Olga entrou na casa, e Mateus foi com ela. Mãe e filho se lamentavam, pensavam na mesma coisa. A morte não devia existir ou somente deveriam morrer os velhos, as pessoas bem idosas e os maus indivíduos.
– Quero leite! – pediu Mateus.
Olga abriu a geladeira, pegou a garrafa de leite, colocou o líquido num copo e bebeu. Mateus sentiu tomá-lo.
– Que vida! – resmungou Mateus.
Olga repetiu.
– Você não é boa mãe, não sai, não vai a baladas! Queria ir, namorar e aqui estou sem fazer nada! Minha perna está doendo!
– Que dor na perna! – queixou-se Olga. – Parece que está machucada, mas não está. Que vida chata, não tenho o que fazer. Mateus! Meu filho! Fique comigo!
Mateus sentiu ficar tonto, sentou-se no sofá. Olga sentou-se também. Lembrou-se do filho. Só fazia isto.
Meu filho era tão lindo quando bebê. Chamava atenção quando saía com ele...
Recordou-se da gravidez, dele neném, menino, adolescente...
– Chega! Não pensa em outra coisa?! – gritou o rapaz desencarnado.
– Pensar, até que penso, mas gosto de me recordar – disse Olga.
Sem entender ou ver o filho, ela o sentia e conversavam. Os dois estavam unidos, e era Olga, a mãe, quem o segurava.
– Não se afaste de mim, filho! Não se afaste, senão eu morro! Filho! Meu filhinho!
– Olga! Olga! – a vizinha chamou-a no portão.
– Não vou responder – decidiu a dona da casa.
– Isso! Não responda! – pediu Mateus. – Essa vizinha é chata.
Olga ficou em silêncio. Clemente aproximou-se da vizinha e pediu:
– Insista, por favor!
A vizinha não o sentiu, não captou o pedido daquele pai desencarnado, porém ela estava preocupada com Olga, moravam perto havia mais de trinta anos.
Olga esta aí, tenho a certeza, não quer me responder, voltarei mais tarde.
– Que dor de cabeça! Que dor insuportável! – lamentou Clemente.
– Estou com dor de cabeça. Vou tomar um analgésico – decidiu Olga.
– Não estou com dor de cabeça, estou com sono – disse Mateus.
Olga tomou um comprimido e se sentou no sofá. Pensou:
Naquela tarde, Mateus foi a uma festa. Domingo, num almoço, numa chácara...
– De novo?! Pensar nisso de novo?! – protestou o filho desencarnado.
Olga não se importou com a reclamação do filho e continuou pensando:
Mateus tinha muitos amigos, teve algumas namoradas. Fingia tratá-las bem perto dele, mas não gostava delas. Ainda não tinha conhecido nenhuma moça boa o suficiente para ele namorar. O fato era que não queria dividir seu afeto com nenhuma mulher. Minha irmã falava que era bom ter netos. Tolice, ele me bastava.
– O quê?! – admirou-se Mateus. – As garotas não se queixavam à toa. A senhora, hein?! Era má com elas. Que coisa!
– Não poderia deixar que qualquer uma me tirasse você – defendeu-se a mãe.
Mateus continuou sentado no sofá ao lado da mãe, a perna direita doía, às vezes se sentia tonto, resolveu ficar calado escutando os pensamentos da genitora.
Para mim, estava tudo bem Mateus trocar de namorada. Ele tinha vinte e sete anos, achava que era novo para um relacionamento sério. Estudou, era advogado. Fiquei felicíssima quando passou no exame da OAB, a Ordem dos Advogados do Brasil. Abrimos uma sala, um escritório lindo para que ele atendesse as pessoas. Ele trabalhava com um sócio, um outro advogado. Os dois se davam bem e estavam ganhando dinheiro. Queria que meu menino aproveitasse a vida, devia sair, viajar e namorar. Quando o pai era vivo, Mateus ia com ele ora ao asilo, ora à Apae, a Associação Pais Amigos Excepcionais; depois que Clemente faleceu, nosso filho continuou a fazer a contabilidade e a ajudar financeiramente estas entidades. Era bom moço. Aquela festa! Os amigos contaram que ele bebeu como sempre, ou seja, um pouco exageradamente, voltou sozinho e aconteceu o acidente.
Mateus reviu as cenas. Estava de fato bêbado. Saiu da festa pensando em ir para casa dormir. Sabia que a estrada era perigosa, já haviam ocorrido nela vários acidentes. Pisou no acelerador, estava acima da velocidade permitida. Ultrapassou um caminhão e viu à sua frente uma caminhonete, mas não conseguiu desviar, colidiu. Sentiu a batida, ouviu o barulho e, sem entender, estava de pé ao lado do seu carro com toda a frente amassada.
"Vi de forma confusa e me senti tonto. Fui até a caminhonete, o motorista estava debruçado sobre o volante. Concluí que estava desmaiado, sua cabeça sangrava. Fiquei ali parado. Outros veículos pararam, escutei chamarem a ambulância, o resgate, a polícia. O motorista do caminhão que ultrapassei levantou a cabeça do motorista da caminhonete. Escutei dele: ‘Está vivo!’. O resgate chegou. Vi tirarem o condutor da caminhonete e o colocarem na ambulância, ele estava desmaiado, foi o que escutei do paramédico. Aproximei-me dos três homens do resgate e pedi: ‘Será que podem me ajudar?’. Não me responderam. Protestei: ‘Não é porque tenho culpa que mereço ser desprezado’. Nada, me ignoraram. ‘Vamos tirar os veículos da estrada’, ordenou o que pareceu ser o comandante. ‘Vamos deixar a estrada livre.’ Fiquei ali parado, tonto, olhando e me esforçando para raciocinar. Vi tirarem os veículos da estrada e os colocarem no acostamento. Dois homens começaram a cortar a lataria do meu carro. ‘Ah, até que enfim!’, suspirei ao ver pararem dois carros de meus amigos que também estavam na chácara. Vi descerem do carro, e Nancy gritar: ‘Ma! Mateus!’. Chorou alto. Meus amigos se comoveram, aproximaram-se do meu carro. Confuso, aproximei-me também, queria dizer a eles que estava ali, mas não consegui, olhei para dentro do carro e me vi! Senti que ia desmaiar e fui amparado. Meus amigos choraram, e Nancy o fazia alto. Novamente olhei para dentro do carro. Ali estava, coberto de sangue; as pernas, a que vi era a direita, esmagada; vi porque estava de bermuda, e os dois homens cortavam as ferragens. ‘Morreu na hora, na colisão!’, escutei. ‘Temos de avisar a mãe dele’, disse um amigo. ‘Como dar a notícia?’, perguntou Nancy. Continuei ali parado, ora olhando para um ora para outro e os escutando. O homem do resgate pegou o telefone e falou: ‘Dona Olga? Sinto em informar que seu filho sofreu um acidente. Calma! Por favor! Ele será levado para o hospital. Não sei informar.