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A fórmula preferida do Professor
A fórmula preferida do Professor
A fórmula preferida do Professor
E-book232 páginas3 horas

A fórmula preferida do Professor

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Sobre este e-book

Um velho docente de matemática, uma empregada doméstica e o pequeno filho de dez anos desta formam a trinca protagonista de A fórmula preferida do Professor, romance que fez decolar a carreira internacional da japonesa Yoko Ogawa, de quem a Estação Liberdade também publicou O Museu do Silêncio [2016]. Best-seller instantâneo no Japão quando de seu lançamento em 2003, A fórmula preferida do Professor acumula mais de quatro milhões de exemplares vendidos.

A ampla repercussão desencadeada pelo livro é compreensível: a desconstrução do viés amedrontador e academicista da matemática, odiada por tantos estudantes, pelo olhar afetivo de quem trafega pelo universo das fórmulas e dos números com o mesmo entusiasmo de uma criança num parque de diversões. Trata-se do personagem nomeado simplesmente como Professor, um velho idiossincrático que, em função de um peculiar problema de memória, vive recluso em casa, dedicando a maior parte do tempo a resolver desafios matemáticos propostos por revistas especializadas.

Por ser um sujeito de trato difícil, nenhuma empregada contratada para limpar a casa e preparar suas refeições perdura no serviço por muito tempo. Ao conhecer o filho de uma delas, um perspicaz garotinho de dez anos de idade, o Professor irá revelar que, tanto quanto pela matemática, ele também é capaz de nutrir outra paixão incondicional: por crianças. A partir desse curioso encontro de gerações, Raiz – o apelido que o menino ganha do Professor em referência à raiz quadrada – irá absorver não só o amor por contas e equações, como também valores sobre respeito às diferenças, amizade e tolerância. Uma história verdadeiramente edificante, mas sem sentimentalismos. O livro foi adaptado para o cinema por Takashi Koizumi, discípulo de Akira Kurosawa, em 2006.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de jun. de 2021
ISBN9786586068306
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    A fórmula preferida do Professor - Yoko Ogawa

    1

    Eu e meu filho o chamávamos simplesmente pelo apelido, Professor. E o Professor também chamava o meu filho pelo apelido, Raiz, por causa da cabeça achatada, que lembrava esse símbolo matemático.

    — Puxa, há muita inteligência aqui dentro! — disse o Professor, afagando a cabeça do garoto, sem se incomodar em desalinhar seus cabelos. Meu filho, que costumava cobrir a cabeça com um boné para evitar as caçoadas dos colegas, encolheu o pescoço para se proteger.

    — Se você souber usar bem isto aqui, conseguirá pôr todos os números em seus devidos lugares, até os números infinitos e os invisíveis.

    E o Professor desenhou sobre um canto da escrivaninha empoeirada este símbolo:

    Dentre as incontáveis coisas que ele nos ensinou, a mim e ao meu filho, o significado da raiz tem um lugar muito importante. Creio que ele detestaria essa expressão, incontáveis coisas, já que para ele o mundo inteiro poderia ser descrito através da matemática. Mas que outra expressão eu poderia usar? Sim, aprendemos com o Professor sobre números primos gigantescos com dezenas de milhares de casas decimais, sobre o maior número já utilizado em demonstrações matemáticas, registrado no Guinness Book, sobre a concepção matemática daquilo que ultrapassa o infinito. Mas, por melhor que eu mobilize esses conhecimentos, eles não se comparam à densidade das horas que passamos com o Professor.

    Lembro-me muito bem de quando nós três experimentamos a magia de inserir números sob o símbolo matemático da raiz quadrada. Foi numa tarde chuvosa no início de abril. A lâmpada incandescente estava acesa no gabinete escuro, a mochila do meu filho jazia largada sobre o tapete, e diante da janela o abricó florido estava molhado pela chuva.

    O que o Professor exigia de nós, em qualquer momento e em qualquer circunstância, não eram simplesmente respostas corretas. Alegrava-se também com respostas erradas, totalmente absurdas, inventadas em cima da hora. Preferia-as ao silêncio constrangido de quem não sabe o que dizer. E se alegrava ainda mais quando elas geravam novas questões, que transcendiam a original. O Professor tinha uma noção particular de erro certo, e sempre conseguia nos transmitir confiança justamente naquelas horas em que, por mais que pensássemos, não conseguíamos achar a resposta correta.

    — Que tal enfiarmos agora o menos um debaixo da raiz? — perguntou ele.

    — Quer dizer, encontrar um número que, multiplicado por ele mesmo, dê menos um?

    Meu filho acabara de aprender frações na escola, mas já conseguia conceber a existência de números menores que zero. Menos de trinta minutos de explicações do Professor haviam bastado para isso. Nós imaginamos o em nossa cabeça. A raiz quadrada de 100 é 10, a de 16 é 4, a de 1 é 1. Portanto, a de -1 é…

    O Professor jamais nos pressionava. Ele adorava observar nossa expressão enquanto cogitávamos.

    — Será que esse número existe mesmo? — arrisquei, com cuidado.

    — Ora, se existe. Está aqui — disse ele, apontando o próprio peito. — É um número muito discreto, não gosta de dar na vista, mas está direitinho dentro do nosso peito, sustentando o mundo inteiro com suas mãozinhas.

    Nós ficamos em silêncio novamente. Tentávamos imaginar como seria esse número, a raiz quadrada de menos um, que pelo jeito estava em algum lugar distante com os braços bem esticados. Só se ouvia o ruído da chuva. Meu filho tocou a própria cabeça, como se quisesse certificar-se de que o símbolo da raiz continuava ali.

    Mas o Professor não era um homem apenas preocupado em ensinar. Era humilde diante das coisas que ele próprio não sabia, e tão recatado quanto a raiz quadrada de menos um. Sempre que me chamava para pedir algo, ele começava dizendo:

    — Me desculpe, por favor, mas…

    Não se esquecia disso nem para as menores coisas, como quando pedia que eu ajustasse o botão da torradeira para três minutos e meio. Eu girava o botão e o Professor esticava o pescoço para observar o interior até o pão torrar. Permanecia absorto nessa atividade como se estivesse acompanhando uma demonstração, por mim elaborada, rumo a uma verdade — e como se essa verdade fosse tão valiosa quanto um teorema de Pitágoras.

    Em março de 1992, eu fui pela primeira vez à casa do Professor, apresentada pela Agência Akebono de Empregadas Domésticas. Eu era a mais jovem das profissionais dessa empresa, estabelecida em uma pequena cidade litorânea do Japão. Não obstante, eu possuía um currículo de mais de dez anos de experiência. Construí bom relacionamento com todos os tipos de patrões que tive durante esse período. Orgulhava-me de ser uma profissional. Jamais me queixei, mesmo quando a agência me empurrava cliente de trato difícil, que outras profissionais haviam recusado.

    Bastou olhar para sua ficha de cliente na agência para perceber que o Professor devia ser alguém problemático. A ficha do cliente recebia uma marca — uma estrela azul — sempre que a empregada apresentada pela agência era substituída por solicitação do cliente. Na ficha do Professor havia nove estrelas! Um recorde, entre todos os que eu já servira.

    Ao chegar à casa do Professor para ser entrevistada, fui recebida por uma senhora idosa, magra e elegante. Trajava um vestido de lã, tinha os cabelos tingidos de castanho e trazia uma bengala preta na mão esquerda.

    — Queria que cuidasse do meu cunhado — disse-me.

    No começo, não entendi onde o Professor se encaixava nessa história.

    — As empregadas não duram muito tempo aqui. É um problema sério, tanto para mim como para o meu cunhado. Temos que recomeçar do zero cada vez que surge uma pessoa nova, é muito trabalhoso.

    Só então comecei a entender que esse cunhado devia ser o Professor.

    — O trabalho que pedimos não é complicado. Queremos que esteja aqui todos os dias, de segunda a sexta, às onze horas, para preparar o almoço para ele, limpar o quarto, fazer as compras, deixar pronto o jantar e deixar a casa às sete horas da noite. É só isso.

    Notei certa hesitação na sua pronúncia do termo cunhado. A postura da viúva era refinada, mas sua mão esquerda não parava de mexer a bengala. Vez ou outra, me observava de soslaio, com desconfiança, evitando cuidadosamente que nossos olhares se encontrassem.

    — Os detalhes constam do contrato que enviamos à agência. Em suma, eu quero apenas que você possibilite ao meu cunhado levar uma vida normal.

    — E onde estaria ele? — perguntei.

    A velha senhora apontou com a bengala uma edícula no jardim dos fundos. O telhado de ardósia, castanho-avermelhado, espiava por trás de uma cerca-viva bem aparada, espessa e verdejante.

    — Você não deve entrar nesta casa. Seu trabalho é na residência do meu cunhado. Há uma porta de entrada separada, que dá para a rua ao norte, que você poderá utilizar. E não me traga os problemas que ele provocar. Resolva lá mesmo, entendeu bem? Esta regra deve ser rigorosamente cumprida.

    A senhora bateu a ponta da bengala no assoalho, para enfatizar o ponto.

    Comparadas com as exigências desarrazoadas de outros clientes que eu já tivera, tais como usar o cabelo em duas tranças, amarradas com fitas de uma cor diferente a cada dia, preparar o chá a uma temperatura nem inferior nem superior a 75 ºC, ou juntar as mãos em prece quando Vênus surgisse no céu, essas condições não me pareceram particularmente difíceis.

    — Será que eu poderia conhecer seu cunhado?

    — Isso não será necessário.

    Ela me interrompeu de forma tão peremptória que pensei ter cometido alguma gafe irretratável.

    — Mesmo que se encontrem hoje, ele já terá se esquecido de você amanhã.

    — Como?

    — Bem, resumindo, meu cunhado tem um problema de memória. Não que esteja caduco. Seus neurônios em geral trabalham de forma saudável. No entanto, não funcionam em uma pequena área, devido a um acidente que ele sofreu há dezessete anos. Com isso, ele perdeu a capacidade de memorizar novos fatos. Bateu a cabeça em um acidente de trânsito. Toda a sua memória termina no ano de 1975. Ele não consegue acrescentar novas memórias além desse ano. Por mais que tente, elas se desfazem. Ele se recorda dos teoremas que formulou há trinta anos, mas não se lembra do que jantou ontem à noite. Ou seja, é como se tivesse na cabeça uma fita de vídeo com oitenta minutos de duração. Todas as gravações feitas além desse tempo vão apagando as anteriores. A memória dele só dura exatos oitenta minutos, uma hora e vinte minutos.

    Ela não demonstrou nenhuma emoção enquanto falava, talvez porque já tivesse repetido as mesmas explicações diversas vezes.

    Era difícil formar uma imagem concreta de como seria uma memória de oitenta minutos. Naturalmente, eu já havia cuidado diversas vezes de enfermos, mas não tinha ideia de que essas experiências me serviriam nesse caso. Recordei-me da série de estrelas azuis alinhadas na ficha desse cliente, mas já era tarde demais.

    Vista da casa, a edícula me pareceu silenciosa e desabitada. Um portão em estilo antiquado havia sido instalado na cerca-viva, na passagem que dava acesso à edícula. Observando-o com atenção, vi que estava trancado com um cadeado robusto, já completamente enferrujado e coberto de fezes de pássaros. Com certeza, nenhuma chave poderia abri-lo naquele estado.

    — A senhora começará então depois de amanhã, segunda-feira. Está entendido? — ela encerrou a conversa, talvez para não dar margem a perguntas indiscretas.

    E, assim, eu me tornei empregada do Professor.

    ***

    Comparada ao luxo da casa, a edícula não era apenas simples, mas quase miserável. Uma construção térrea, desprovida de qualquer beleza, que parecia se encontrar ali a contragosto. Apenas ao seu redor, quem sabe para ocultá-la dos olhares, as árvores cresciam em total descuido, estendendo seus ramos a bel-prazer. O sol não alcançava a porta de entrada e a campainha, quebrada, não soava.

    — Que número você calça?

    Quando me apresentei como a nova empregada, o Professor não quis saber meu nome, mas o número do sapato que eu calçava. Sem nenhuma palavra de cumprimento ou mesura. Respeitando a regra de ouro das empregadas domésticas de nunca responder a uma pergunta do patrão com outra, limitei-me a dizer o que me foi perguntado:

    — Calço 24.

    — Que número notável! É fatorial de quatro!

    O Professor cruzou os braços e fechou os olhos. Ficamos em silêncio por algum tempo.

    — Poderia explicar-me o que é fatorial? — perguntei.

    Já que o tamanho do meu sapato parecia ser, por algum motivo, um assunto relevante para o meu patrão, talvez eu devesse me aprofundar um pouco mais sobre isso.

    — Multiplicando todos os números naturais de 1 a 4, obtém-se 24 — respondeu o Professor, ainda de olhos fechados. — E qual o número do seu telefone?

    — É 576-1455.

    — Você disse 5 761 455? Maravilhoso! Coincide com a quantidade de números primos entre um e cem milhões! — o Professor estava deveras impressionado.

    Eu não entendi muito bem o que havia de tão maravilhoso no número do meu telefone, mas podia ver que ele falava com afeto. Não parecia querer me impressionar com seus conhecimentos, ao contrário, havia modéstia e honestidade em suas maneiras. O afeto com que ele falava criava a ilusão de que talvez esses meus números tivessem de fato algum significado especial e, mais ainda, que talvez anunciassem um destino especial para mim, sua dona.

    Foi só algum tempo depois de começar a trabalhar para ele que eu percebi seu hábito de recorrer a números, em vez de palavras, sempre que se sentia confuso e não sabia o que dizer. Era a forma de comunicação que ele desenvolvera para interagir com as pessoas. Os números cumpriam o papel da mão direita estendida para o aperto de mão, e também o de um sobretudo que protegia seu corpo. Um sobretudo tão grosso e pesado que ocultava o formato de seu corpo, e que ninguém o convencia a despir. Enquanto ele o vestisse, seu lugar no mundo estava garantido.

    O diálogo sobre números na porta de entrada se repetiu todas as manhãs, até o dia em que deixei o emprego. Para o Professor, cuja memória se limitava aos últimos oitenta minutos, eu era sempre uma nova doméstica aparecendo na porta de entrada. Assim, ele era cuidadosamente circunspecto todas as manhãs, como faria diante de um desconhecido. Os números que me perguntava variavam. Além do tamanho do sapato ou do telefone, podiam ser os do código postal, da placa da bicicleta, a quantidade de traços nos ideogramas do meu nome, entre outros. Mas ele nunca deixava de lhes atribuir, imediatamente, algum sentido. E não demonstrava esforço algum para isso. Termos como fatorial ou números primos pareciam brotar espontaneamente dos seus lábios.

    Mesmo depois de já ter ouvido diversas vezes as explicações do Professor acerca do mecanismo do fatorial e dos números primos, essa conversa sobre números à porta de entrada continuava a ser um prazer, sempre renovado. Ela me lembrava que havia no número do meu telefone outro significado, que não o de um mero código de ligação. Esse significado soava puro e límpido aos meus ouvidos, dando-me paz e tranquilidade de espírito para começar o trabalho do dia.

    O Professor tinha sessenta e quatro anos de idade. Fora, antigamente, um professor catedrático de matemática, em uma universidade. Ele aparentava ser mais velho. Não parecia apenas mais envelhecido, dava impressão de que os nutrientes não alcançavam todos os recantos de seu corpo. Suas costas estavam visivelmente encurvadas, diminuindo ainda mais sua estatura já reduzida de um metro e sessenta. A sujeira se acumulava entre as rugas de seu pescoço ossudo. Os cabelos grisalhos e ressecados se ouriçavam indisciplinados para todos os lados, escondendo a metade dos grandes lóbulos das suas orelhas. Sua voz era débil e ele se movia em câmera lenta, levando o dobro do tempo esperado para fazer qualquer coisa.

    Entretanto, se o observássemos bem, sem nos distrair com seu estado abatido, tinha um rosto belo. Pelo menos, restavam vestígios que faziam supor que ele fora um jovem bonito. Tinha as linhas do queixo definidas, e feições bem talhadas que formavam sombras atraentes.

    O Professor usava terno e gravata todos os dias, invariavelmente, tanto em casa como nas raras vezes em que saía. Seu guarda-roupa continha apenas três ternos — um de inverno, um de verão e um para a primavera e o outono, três gravatas, seis camisas, e um sobretudo. Este, não de números, mas de lã legítima. Fora isso, nem um único pulôver ou uma calça de algodão. Para uma empregada doméstica, era um guarda-roupa excelente, facílimo de arrumar.

    Talvez o Professor não soubesse que havia neste mundo outras roupas além do terno. Acredito que ele nem mesmo reparasse no que as outras pessoas vestiam. Muito menos lhe ocorria desperdiçar tempo com a própria aparência. Acordava todas as manhãs, abria o guarda-roupa e vestia o terno que não estivesse coberto pelo plástico da lavanderia. Isso lhe bastava. Todos os três ternos eram de cores escuras e estavam surrados pelo uso. Combinavam tão bem com o jeito do Professor, que pareciam ter se tornado parte de sua própria pele.

    Mas o que mais me intrigou na sua aparência foram os inúmeros lembretes presos no seu terno por clipes. Estavam grudados em todos os lugares imagináveis: nas golas, nas mangas, nas bordas do paletó, no cinto da calça e nos orifícios dos botões. Os clipes repuxavam o tecido do terno e o deformavam. Alguns eram tiras de papel rasgadas a mão, outros já estavam amarelecidos pelo tempo, mas todos traziam algo escrito. Era necessário aproximar o rosto e aguçar a vista para conseguir lê-los. Não foi difícil compreender que, para compensar por sua memória de oitenta minutos, ele anotava as coisas que não podia esquecer e pregava as anotações no próprio corpo, para poder lembrar onde as deixara. Ainda assim, era muito mais desafiador lidar com essa sua figura do que responder qual o tamanho do meu sapato…

    — De todo modo, entre, por favor! Eu não posso lhe dar atenção pois estou ocupado, mas esteja à vontade para fazer o que quiser.

    Dizendo isso, o Professor me convidou a entrar e se recolheu ao seu gabinete. Quando ele se movia, os lembretes roçavam uns contra os outros, farfalhando.

    ***

    Juntando aos poucos as informações das nove empregadas despedidas, entendi que a velha senhora que vivia na casa era viúva, e seu falecido marido era irmão do Professor. Apesar de terem perdido os pais cedo, o Professor pudera continuar os estudos de matemática e até mesmo fazer um intercâmbio na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, graças a seu irmão, dez anos mais velho, que lhe custeara as despesas. Ele havia herdado a fábrica de tecelagem deixada pelo pai e a expandira a duras penas.

    O Professor concluiu seu doutorado em Cambridge (ele era um autêntico PhD), e conseguiu emprego no instituto de matemática de uma universidade. Adquiriu assim,

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