A Cultura da Romãzeira
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A Cultura da Romãzeira - Maurício Sekiguchi de Godoy
Aos meus amados pais, Raimundo Rocha e Marlene Carlos Rocha, por seus valiosos ensinamentos, educação, amor e dedicação incansável aos seus filhos e netos.
Às minhas amadas filhas, Ana Clarissa Mendes Rocha e Lívia Araújo Rocha, razões das minhas batalhas e motivo das minhas conquistas.
Ao meu esposo, Josinaldo Lopes Araújo Rocha, pelo amor, carinho, paciência e incentivo ao ensino e pesquisa.
Aos meus amados pais, Rui Martins de Godoy e Itsuko Sekiguchi de Godoy (in memoriam), por seus valiosos ensinamentos, educação, amor e dedicação incansável aos seus filhos e neta.
À minha amada filha, Cecília Canuto Sekiguchi de Godoy, razões das minhas batalhas e motivo das minhas conquistas.
À minha irmã, Vanessa Sekiguchi de Godoy, pela parceria, amizade e amor concedidos.
À Roseline Carvalho Canuto, por toda dedicação, amor e educação agraciada à nossa amada filha.
Agradecimentos
À Universidade Federal de Campina Grande – campus Pombal, por ser meu local de trabalho, e a todos os colegas da Unidade Acadêmica de Ciências Agrárias, pela amizade.
À Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) – campus Mossoró, e a todos os colegas do Centro de Ciências Agrárias (CCA), pela amizade.
À Fazenda Tamanduá, localizada nas Várzeas de Sousa, em especial ao Dr. Pierre Landolt, pelo incentivo ao estudo à cultura da romãzeira .
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio às pesquisas.
Aos coautores participantes, pela colaboração.
Sumário
INTRODUÇÃO 17
CAPÍTULO 1
Perfil da cultura 19
1.1 Aspectos gerais 19
1.2 Origem, produção e exportação no mundo 21
1.3 Valor nutritivo 24
1.4 Tendências e perspectivas 27
1.5 Referências 29
CAPÍTULO 2
CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA E CULTIVARES 33
2.1 Classificação botânica da espécie Punica 33
2.2 Características botânicas 36
2.3 Variedades de Punica granatum L. 45
2.4 Cultivares mais conhecidas 48
2.5 Referências 51
CAPÍTULO 3
ECOFISIOLOGIA 61
3.1 Introdução 61
3.2 Fotossíntese e luminosidade 62
3.3 Temperatura e umidade relativa 66
3.4 Pluviosidade, estresse hídrico e salino 72
3.5 Referências 73
CAPÍTULO 4
PROPAGAÇÃO 79
4.1 Propagação assexuada 79
4.1.1 Estaquia 79
4.1.2 Enxertia 83
4.2 Propagação sexuada 85
4.3 Referências 90
CAPÍTULO 5
INSTALAÇÃO E PLANEJAMENTO DO POMAR 99
5.1 Planejamento inicial 99
5.2 Viabilidade econômica 100
5.3 Condições climáticas e solo 101
5.4 Plantio 102
5.4.1 Escolha da cultivar 102
5.4.2 Época 103
5.4.3 Espaçamento 103
5.4.4 Densidade do pomar 104
5.4.5 Propagação 105
5.4.6 Estabelecimento do pomar 106
5.4.6.1 Abertura das covas 106
5.4.6.2 Adubação de pré-plantio e plantio das mudas 107
5.4.6.3 Água 107
5.4.6.4 Estaca, se necessário 108
5.4.6.5 Proteção contra queimaduras solares na plantação 108
5.4.7 Cuidados pós-plantio 108
5.4.8 Regras gerais para a poda 109
5.5 Topografia 109
5.6 Conservação do solo e da água 109
5.7 Custo de implantação 111
5.8 Referências 111
CAPÍTULO 6
NUTRIÇÃO MINERAL, CORREÇÃO DO SOLO E ADUBAÇÃO 113
6.1 Nutrição mineral 113
6.1.1 Exigências nutricionais 113
6.2 Sintomas visuais de deficiência 114
6.3 Correção do solo e adubação 119
6.3.1 Análise de solo e interpretação dos resultados 119
6.3.2 Correção do solo 121
6.3.3 Correção da acidez 122
6.3.4 Correção da alcalinidade e da sodicidade 125
6.3.5 Adubação 126
6.3.6 Resposta da romãzeira à adubação 129
6.4 Referências 130
CAPÍTULO 7
PODAS 133
7.1 Introdução 133
7.2 Conceitos de poda 133
7.3 Princípios fisiológicos da poda 134
7.4 Poda da romãzeira 136
7.5 Cultivo consorciado na cultura da romãzeira 141
7.6 Cultivo intercalar 142
7.7 Referências 142
CAPÍTULO 8
IRRIGAÇÃO 143
8.1 Introdução 143
8.2 Métodos e sistemas de irrigação 144
8.3 Uso eficiente da água na agricultura 149
8.4 Irrigação localizada em romãzeira 151
8.4.1 Manejo com uso do balanço de água no solo 152
8.4.2 Manejo com uso do balanço hídrico sequencial 154
8.5 Necessidades hídricas da romãzeira 160
8.5.1 Fertirrigação 170
8.6 Qualidade da água e produção da romãzeira 171
8.7 Considerações Finais 174
8.8 Referências 174
CAPÍTULO 9
MANEJO DE PRAGAS 179
9.1 Introdução 179
9.2 Pragas de folhas 180
9.2.1 Lagartas desfolhadoras 180
9.2.2 Cochonilhas, pulgões e moscas-brancas 181
9.2.3 Cochonilhas 181
9.2.4 Pulgões ou Afídeos 183
9.2.5 Moscas-brancas 185
9.2.6 Tripes 187
9.3. Pragas de Hastes e Troncos 190
9.3.1 Larvas broqueadoras de besouros 190
9.3.1.1 Família Scolytidae 190
9.3.1.2 Família Cerambycidae 191
9.3.1.3 Família Bostrichidae 193
9.3.2 Lagartas Broqueadoras 194
9.4. Pragas de frutos 196
9.4.1 Lagartas Broqueadoras 196
9.4.2 Moscas-da-fruta 197
9.4.3 Cochonilhas 199
9.4.4 Tripes 202
9.5 Considerações finais 203
9.6 Referências 203
CAPÍTULO 10
MANEJO DE DOENÇAS 209
10.1 Introdução 209
10.2 Mancha de Alternária 210
10.3 Antracnose 211
10.4 Podridão de Aspergillus 212
10.5 Mofo cinzento 213
10.6 Murcha da romãzeira 215
10.7 Crestamento bacteriano 216
10.8 Oídio 218
10.9 Nematoses 218
10.10 Bolor azul ou verde 219
10.11 Podridão de Rhizopus 220
10.12 Controle de doenças pós-colheita 220
10.13 Outras doenças 222
10.14 Referências 223
CAPÍTULO 11
COLHEITA E PÓS-COLHEITA 229
11.1 ASPECTOS GERAIS 229
11.2 Mudanças nos índices de maturação durante o desenvolvimento e amadurecimento da romã 230
11.2.1 Mudanças na biometria do fruto 230
11.2.2 Mudanças na cor 233
11.2.3 Mudanças bioquímicas 234
11.2.3.1 Sólidos solúveis (SS) 234
11.2.3.2 Açúcares 234
11.2.3.3 Acidez titulável e pH 235
11.2.3.4 Relação SS/AT 235
11.2.3.5 Ácidos orgânicos 236
11.2.3.6 Ácido ascórbico 236
11.2.3.7 Concentrações de fenólicos 236
11.2.3.8 Composição de antocianinas 237
11.2.3.9 Atividade antioxidante 237
11.2.4 Mudanças na composição de nutrientes minerais 238
11.2.5 Mudanças no teor de óleo e amido da semente 240
11.3 Colheita e manuseio 240
11.4 Armazenamento 243
11.4.1 Armazenamento em temperatura ambiente 244
11.4.2 Armazenamento refrigerado 245
11.5 Referências 246
CAPÍTULO 12
COMERCIALIZAÇÃO 251
12.1 Comercialização de romãs no Brasil 251
12.1.1 Vendas no setor atacadista 252
12.1.2 Vendas no setor varejista 255
12.2 Embalagem e acondicionamento 256
12.3 Classificação 261
12.4 Referências 263
CAPÍTULO 13
INDUSTRIALIZAÇÃO 267
13.1 Referências 283
SOBRE OS AUTORES 291
ÍNDICE REMISSIVO 305
INTRODUÇÃO
A romãzeira (Punica granatum L.) é uma das culturas mais antigas, sendo capaz de se desenvolver em diferentes regiões de clima tropical. Foi por muitos consagrada, a fruta da beleza e da fertilidade, conhecida na história da humanidade. A planta, é considerada um agente terapêutico universal devido a presença de ingredientes ativos biológicos em diferentes partes, sendo fonte de estudos para o tratamento de diversas doenças, como câncer (pele, mama, próstata e colo do útero), inflamações, diabetes, desordens cardíacas, isquemia, envelhecimento e desordens do cérebro.
Grande parte da romãzeira: raiz, casca, madeira, brotos, folhas, flores, frutos e sementes, tem valor econômico. O fruto, alimento de grande importância é consumido fresco ou na forma de suco, também serve para produção de ácido cítrico e os subprodutos podem ser usados para a produção de álcool, taninos e ceras. As flores e a casca são boa fonte de corante natural. O óleo da semente serve para produzir esmaltes e também pode ser utilizado em refeições e para a produção de compostos medicinais. A madeira da romãzeira é utilizada para a confecção de pequenas peças, como bengalas e alças. Também é uma importante planta para a produção de mel.
Apesar de ser uma cultura amplamente cultivada no mundo, especialmente em países do Oriente Médio, no Brasil seu cultivo é iscipiente e o volume de produção, na maioria das vezes, não é contabilizado nas estatísticas da fruticultura, sendo um dos principais motivos para isso, a predominância de cultivos domésticos ou pequenos produtores espalhados por diversas regiões do nosso território que comercializam os frutos ou demais subprodutos derivados da planta em mercados públicos locais, feiras livres ou pequenos supermercados.
A tentativa de produção comercial da cultura da romãzeira envolvendo cerca de 40ha aconteceu em 2010 em áreas de várzeas localizadas no Semiárido Paraibano, com a variedade Mollar de Elche, no município de Sousa-PB. A área de cultivo existiu por cerca de oito anos, quando um período de estiagem prolongado assolou diversas áreas de fruteiras na região e inviabilizou o cultivo desta espécie. No entanto, alguns trabalhos de pesquisa haviam iniciado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) com o apoio do Concelho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o setor produtivo, envolvendo estudos na área de propagação, colheita e pós-colheita da romã.
A parceria com o produtor permitiu identificar a viabilidade lucrativa da introdução dessa cultura em território nacional. Em datas comemorativas religiosas, por exemplo, frutos de romãzeira importados são comercializados nas redes de supermercados das grandes cidades, à um custo elevado. No entanto, para a disponibilidade do fruto fresco no mercado há necessidade de maior conhecimento sobre a cultura da romãzeira cultivada nas condições edafoclimáticas da nossa região, haja vista, não existir informações sobre a tecnologia de produção, colheita e pós-colheita dessa cultura em fontes literárias nacionais, fato que dificulta o manejo. Deste modo, mais pesquisas para o aprimoramento das práticas agronômicas carecem de mais apoio por parte das agências de fomento.
Escrita com o intuito de expandir o conhecimento agronômico sobre a cultura da romãzeira como um veículo introdutório para futuros aprimoramentos práticos que se farão necessários em áreas de introdução ou expanção de cultivos no Brasil, esta obra trata de uma abordagem de conhecimento literário e de alguns resultados de pesquisas sobre a cultura da romãzeira retratadas por especialistas de diversas áreas das Ciências Agrárias.
É uma alegria podermos apresentar um livro sobre a cultura da romãzeira, para a necessidade daqueles que cultivam a Agronomia
. A simples leitura do conteúdo do livro, dividido em 13 alentados capítulos, mostra de um lado a profundidade com que são tratados os vários tópicos, e de outro, a extensão do assunto que interessa tanto ao produtor ligado aos aspectos agronômicos do problema: aquisição de variedades, mercado, propagação, adubação, irrigação, fitossanidade, colheita e pós-colheita, quanto ao pesquisador que se depara na missão de aprimorar as tecnologias internacionais existentes para a cultura e que são adotadas no Brasil.
CAPÍTULO 1
Perfil da cultura
Railene Hérica Carlos Rocha Araújo
Josinaldo Lopes Araújo Rocha
1.1 Aspectos gerais
A romãzeira (Punica granatum L.) é uma das culturas mais antigas, sendo capaz de se desenvolver em diferentes regiões de clima tropical (JALIKOP, 2007). Foi por muitos consagrada a fruta da beleza e da fertilidade, conhecida na história da humanidade (STILL, 2006). Sua utilização foi associada à volorização e utilização como acontece em diversas fruteiras, além de valores farmacêuticos e nutricionais. Porém, seu cultivo é restrito e pouco produzido em diversos países do mundo. Em um passado recente, variedades importantes para a saúde humana e alimentação resultaram em forte demanda para o consumo do fruto no mundo. Países, como Irã, Índia, Estados Unidos, Espanha e Tunísia, exportam o fruto para vários lugares (HOLLAND; BAR-YA’ AKOV, 2008).
Curiosamente, grande parte da romãzeira – raiz, casca, madeira, brotos, folhas, flores, frutos e sementes – tem valor econômico (SEERAM et al., 2006). O fruto, alimento de grande importância, é consumido fresco, ou na forma de suco. Há grande demanda pelo suco pasteurizado no mercado global, que é também muito requisitado pela culinária, especialmente para o preparo de licores, vinhos e geleias; já as folhas jovens servem para chá (HOLLAND; BAR-YA’ AKOV, 2008). Os frutos silvestres servem para produção de ácido cítrico, e os subprodutos podem ser usados para a produção de álcool, taninos e ceras. As flores e a casca são boa fonte de corante natural. O óleo da semente serve para produzir esmaltes e pode ser utilizado em refeições e na produção de compostos medicinais. A madeira da romãzeira é utilizada para a confecção de pequenas peças, como bengalas e alças. Também é uma importante planta para a produção de mel, podendo chegar a 11,5 Kg de mel.ha-1, além de ser uma planta produtiva em solos salinos, terrenos arenosos ou declivosos (LEVIN, 2006a).
Desde a antiguidade, a romãzeira tem sido um agente terapêutico universal devido à presença de ingredientes ativos biológicos em diferentes partes. Pesquisas recentes têm reforçado a romãzeira como uma importante fruteira medicinal. Há diversos fitoquímicos potencialmente ativos, como esteróis e terpenoides nas sementes, cascas e folhas, alcaloides nas cascas e folhas, ácidos graxos e triglicerídeos no óleo da semente, ácidos orgânicos e flavonoides no suco, flavonoides na casca, brotos e folhas, antocianinas, antocianidinas, catequina, procianidinas no suco e na casca (NEWMAN et al., 2007; MIGUEL et al., 2004). O tratamento de doenças coronárias, câncer (pele, mama, próstata e colo), inflamações, hiperlipidemia, diabetes, desordens cardíacas, hipóxia, isquemia, envelhecimento, desordens do cérebro e Aids, com o uso de romãzeira é meta potencial de estudos (SEERAM et al., 2006).
Em um futuro próximo, o maior desafio, entretanto, poderá ser produzir romã com qualidade, com aparência atrativa e livre de pesticidas. Atualmente, há muitas cultivares atrativas para o produtor e para o consumidor, mas cultivares que combinem mais caracteríticas desejadas, sabor e cor, elevado conteúdo de compostos anticâncer e antioxidantes e mais resistentes a pragas e doenças são raras. Entretanto, métodos modenos de mapeamento genético molecular, seleção assistida por marcador e mutagênesis biológicos são aplicados em pesquisas com romãzeira. Poucos genes de romã foram isolados e identificados e não expressaram marcador sequancial, ou outra base de dados genéticos. Cultivares de romã geneticamente modificados, porém, não são esperados para um futuro próximo devido a restrições no uso comercial da planta e ao não desenvolvimento de sistemas de trasnformações para cultivares comerciais. O desenvolvimento de um sistema de transformação em Nana
é esperado para uso em estudos de manipulação genética que pode identificar importantes genes de romã para exploração futura e trasnformação de funções de genes em romã (CHANDRA et al., 2010).
O aumento na produção de romã e o desenvolvimento de mercado estão associados ao desenvolvimento de novas tecnologias em processamento do fruto, armazenamento e manejo agronômico. Algumas tecnologias desenvolvem métodos industriais para a separação do arilo por meios mecânicos com eficiência e em grande quantidade, aumento do período de aramzenamento do fruto para mais de quatro meses, desenvolvimento de métodos de cultivo modernos e cultivares com elevada produtividade, acima de 40 t.ha-1, e desenvolvimento de técnicas para reciclar o uso da água de irrigação são necessárias, no mundo, especialmente na bacia do Mediterrâneo. Com base em experimentos na Índia e no Irã, confirmou-se que a irrigação por gotejamento pode economizar 66% de água comparada à irrigação por superfície, porém mais esforços são requeridos para otimizar o desenvolvimento e os sistemas de irrigação computadorizados eficientes (CHOPADE et al., 2001).
Diversas pragas, como a broca-do-fruto (Deudorix isocrates), mosca-das-frutas (Ceratitis capitata), tripes (Rhipiphorothrips cruentatus), e doenças, como a ferrugem (Xanthomonas axonopodis pv. Punicae), manchas de folhas e frutos (Cercospora punicae, Colletotrichum gloeosporioides, Botryodiplodia theobromae, Curvularia pallescens, Discosia punicae, Nigrospora oryzae, Pestalotipsis versicolor, Sclerotium rolfsii e Alternaria alternate), podridões (Colletotrichum gloeosporioides,Cercospora punicae, Alternaria solani e Drechslera rostrata, Aspergillus variecolor, A. niger, A. niveus) e murcha (Ceratocystis fimbriata), provocam danos consideráveis em romã, assim os custos efetivos nas práticas de manejo que necessitam ser desenvolvidos são aqueles que promovem margem de lucro e encorajam a comunidade agrícola a aumentar a produção e produtividade (SHARMA et al., 2006).
A ampliação no período de armazenamento e o desenvolvimento de novas tecnologias oferecem grande flexibilidade de mercado por produtos e permitem novos mercados no mundo. Embalagens em atmosfera modificada com filmes especiais microperfurados (Xtend®) estão disponíveis no mercado, e esses filmes permitem a manutenção de 5% de CO2 e 12 a 14% de O2. Tais embalagens reduzem a perda de umidade de 7 a 3,5%, escaldadura de 38 a 21% e, finalmente, reduz pinta preta quando os frutos são armazenados a 6ºC por 16 semanas. Portanto, o uso de embalagem com Xtend®, ou condições de atmosfera controlada de 2% O2 mais 3% de CO2 a 6ºC, permite o armazenamento do fruto por quatro a cinco meses com boa aceitação para o consumo (SACHS et al., 2006).
1.2 Origem, produção e exportação no mundo
A romãzeira foi domesticada no Oriente Médio há cerca de 5000 anos (LEVIN, 2006b). O Irã (Pérsia) e as regiões em volta são considerados o centro de origem. Evidências indicam que foi cultivada no Antigo Egito, na Grécia e na Itália há muitos anos, posteriormente se espalhou pela Ásia, pelo norte da África e Europa Mediterrânea. A área de distribuição natural de romãzeira iniciou-se no Mediterrâneo e nas regiões florestais do Irã, particularmente ocupou a região Circuboreal (Provícias de Caucasus, Euxinus, Balkan e Europa Atlântica) e as regiões da Ásia Oriental (Provícia de Sikang-Yuennan). Estima-se que a romãzeira tenha se espalhado do Balcãns para o norte ocidental da Índia, especialmente o Himalaia Ocidental (CHANDRA et al., 2010).
Atualmente, Marrocos, Tunísia, Egito, Israel, Síria, Líbano, Turquia, Grécia, Chipre, Itália, França, Espanha, Portugal, Irã, Iraque, Índia, China, Afeganistão, Bangladesh, Vietnã, Tailândia, Cazaquistão, Armênia, Georgia, Estados Unidos, México, Argentina e Chile são alguns dos países produtores de romã no mundo; no leste da Ásia, como planta ornamental (TOUS; FERGUSON, 1996). Entre esses países, Índia, Irã, China, Estados Unidos e Turquia são os cinco maiores produtores (Quadro 1). Entretanto não há dados exatos sobre a área e produção no mundo devido ao rápido incremento na produção e expansão da cultura. Atualmente a produção do fruto de romãzeira no mundo é estimada em torno de 1,5 milhões de toneladas (HOLLAND; BAR-YA’ AKOV, 2008).
A Índia ocupa a primeira posição no mundo em relação à área cultivada (0,125 milhões de hectares) e produção (1,140 milhões de toneladas). Porém a Espanha detém a primeira posição em produtividade com 18,5 t/ha, seguida dos Estados Unidos, 18,3t/ha. Para a exportação, o Irã ocupa a liderança com uma exportação anual de 60 toneladas, seguido da Índia (35,176 t). Embora a Espanha tenha uma pequena área (2ha), exporta 37,8% do total produzido (37 t), seguida de Israel (23,5%) e dos Estados Unidos (15,5%). A Índia tem apresentado a menor percentagem (3%) com relação às exportações, comparada aos outros países produtores e exportadores. Porém, curiosamente, as exportações de romã da Índia aumentaram cerca de cinco vezes nos últimos anos, indicando uma brilhante perspectiva para a exportação nos anos seguintes. Atualmente o principal importador de romã da Índia são os Estados Unidos (11973 toneladas), os Países Baixos (721 toneladas), a Arábia Saudita (277 toneladas) e Bangladesh (203 toneladas). A Índia possui ótimas condições climáticas para produtividade e qualidade ao longo dos anos que é a única característica comparada a outros países produtores do mundo. Na Espanha a produção acontece de agosto a março; nos Estados Unidos, de agosto a novembro, e no Peru, de abril a julho. Contudo, em outros países, a produção é concentrada entre dois e três meses no ano (Figura 1).
No Brasil, o cultivo da romã predomina nos estados da Paraíba, de Pernambuco, Ceará e São Paulo. Regiões semiáridas favorecem o cultivo da espécie, que apresenta boa aptidão em ambientes de clima tropical e subtropical. A dispersão da cultura no território nacional é uma realidade; porém cultivos pequenos, geralmente, realizados por pequenos produtores, ou em nível doméstico, como planta ornamental ou de uso medicinal, estão espalhados em várias regiões. Os pequenos produtores visam à comercialização do fruto no mercado interno e buscam investir em melhorias na tecnologia de produção, no controle de pragas e doenças e, especialmente, na qualidade pós-colheita.
Quadro 1 – Estimativa global da área, produção e exportação de romã¹
Fonte: adaptado de ¹Holland e Bar-Ya’ akov (2008) e *Jadhav e Sharma (2007)
Figura 1 – Período de colheita de romã em diferentes países
Fonte: Chandra et al. (2010)
O semiárido paraibano, particularmente a Fazenda Tamanduá localizada na cidade de Sousa, liderou a produção de romã orgânica entre os anos de 2009 e 2015, com cerca de 70 ha plantados, atingindo produtividade média de 30 t/ha, com as cultivares Mollar
e Wonderful
, oriundas da Espanha e dos Estados Unidos, respectivamente. A partir de 2015, a produção diminuiu consideravelmente devido ao racionamento e à falta de água para os cultivos agrícolas nas Várzeas de Sousa, em razão das crises hídricas que assolam o semiárido nordestino.
Entretanto, nas condições de cultivo da Fazenda Tamanduá, o florescimento da romãzeira Mollar
predomina nos meses de março, abril e maio, com colheita no mês de junho, julho e agosto. Práticas de manejo como o uso da poda e indução floral com o uso de ureia permitem o escalonamento de produção e colheita também nos meses de novembro e dezembro, época de maior valorização do produto no mercado interno.
1.3 Valor nutritivo
O arilo da romã representa 52% do peso total do fruto. Na romã, o arilo compreende 78% de suco e 22% de sementes (EL-NEMR et al., 1991). Contudo o fruto fresco contém 85,4% de umidade, 10,67% de açúcares totais, 1,4% de pectina, 0,1 g/100 mL de acidez total (ácido cítrico), 19,6 mg/100 mL de aminoácidos livres e 0,05 g/100 mL de cinzas. Além disso, há vários indicativos do valor nutritivo da romã em termos de proteínas, carboidratos, vitaminas, ácidos orgânicos e minerais. Curiosamente, entre os carboidratos, glicose (5,46%) e frutose (6,14%) são os açúcares predominantes do suco, e não a sacarose; cultivares ácidas possuem pouca glicose e frutose. Pigmentos 6-antocianinas proporcionam a cor vermelha do arilo da romã. Esses foram identificados como: delfinidina 3-glicosídeo, delfinidina 3,5-diglicosídeo, cianidina 3-glicosideo, cianidina 3,5-diglicosideo, pelargonidina 3-glicosídeo e perlagonidina 3,5-diglicosídeo. O conteúdo da casca do fruto contém apenas derivados de cianidina e pelargonidinina. Bhagawa
e Ganesh
são cultivares indianas, sendo que Bhagawa
ocupa de 75 a 80% da área cultivada em Maharashtra, Karnataka e Andhra Pradesh (NRCP, 2008). No geral, a qualidade do fruto Bhagawa
é superior à de Ganesh
(Tabela 1).
Nas condições de cultivo das Várzeas de Souza, PB, a colheita da romã Mollar
deve ser realizada aos 90 dias após a antese. Nessa idade, o fruto adquire o teor máximo da maioria dos compostos relacionados à qualidade e composição mineral. Os sólidos solúveis atingem 13,56 ºBrix, 10,5 mL/100 mL de ácido ascórbico e 5,0 mL/10mL de antocianinas; enquanto, na composição mineral, analisando-se as partes do fruto (casca, semente e arilo) aos 90 dias, é