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O sacerdote: Aarão
O sacerdote: Aarão
O sacerdote: Aarão
E-book283 páginas6 horas

O sacerdote: Aarão

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Sobre este e-book

Moisés abriu o Mar Vermelho. Mas à sua sombra estava Aarão, um homem que simboliza para sempre nosso grande Sumo Sacerdote. Seja desafiado por este homem fiel cuja história nunca devemos esquecer. O Sacerdote é a história de Aarão e o primeiro livro da popular série Filhos da Coragem sobre cinco homens que silenciosamente mudaram a eternidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de jan. de 2023
ISBN9786555528381
O sacerdote: Aarão

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    Pré-visualização do livro

    O sacerdote - Francine Rivers

    capa_sacerdote_aarao.png

    Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural

    © 2022 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.

    Traduzido do original em inglês

    The priest – Sons of Encouragement 1

    Texto

    Francine Rivers

    Editora

    Michele de Souza Barbosa

    Tradução

    Michele Gerhardt MacCulloch

    Preparação

    Fátima Couto

    Produção editorial

    Ciranda Cultural

    Diagramação

    Linea Editora

    Revisão

    Fernanda R. Braga Simon

    Design de capa

    Ana Dobón

    Imagens

    Inara Prusakova/shutterstock.com

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

    R622s Rivers, Francine

    O sacerdote [recurso eletrônico] / Francine Rivers ; traduzido por Michele Gerhardt MacCulloch. - Jandira, SP : Principis, 2022.

    256 p. ; ePUB. - (Filhos da Coragem ; v. 1).

    Título original: The priest

    ISBN: 978-65-5552-838-1

    1. Literatura americana. 2. Religião. 3. Religiosidade. 4. Bíblia. 5. Conhecimento. 6. Reflexão. I. MacCulloch, Michele Gerhardt. II. Título. III. Série.

    Elaborado por Lucio Feitosa - CRB-8/8803

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Literatura americana : 810

    2. Literatura americana : 821.111(73)

    1a edição em 2023

    www.cirandacultural.com.br

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistema de busca ou transmitida por qualquer meio, seja ele eletrônico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização do detentor dos direitos, e não pode circular encadernada ou encapada de maneira distinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições sejam impostas aos compradores subsequentes.

    Para homens de fé que servem

    à sombra de outros.

    Eu gostaria de agradecer a Peggy Lynch por ouvir minhas ideias e me desafiar a ir cada vez mais fundo. Também gostaria de agradecer a Scott Mendel por me enviar material sobre a perspectiva judaica. E a Danielle Egan­-Miller, que acalmou as águas turbulentas da tristeza quando minha amiga e agente de muitos anos, Jane Jordan Browne, faleceu. Jane foi uma boa professora para ela, e tenho certeza de que estou em boas mãos. Também quero agradecer à minha editora, Kathy Olson, pelo trabalho duro que realizou nesses projetos, e a toda a equipe da Tyndale por todo o trabalho que tiveram para apresentar essas histórias para os leitores. Foi um trabalho de equipe o tempo todo.

    Também quero agradecer a todos os que rezaram por mim no decorrer dos anos deste projeto. Que o Senhor use esta história para atrair as pessoas para perto de Jesus, nosso amado Senhor e Salvador.

    Introdução

    Caro leitor,

    Este é o primeiro de cinco romances sobre homens bíblicos de fé que serviram à sombra de outros. Eles eram homens orientais que viveram em uma época antiga; ainda assim, suas histórias podem ser aplicadas à nossa vida e às difíceis questões que enfrentamos no mundo atual. Eles viviam no limite. Tinham coragem. Assumiram riscos. Fizeram o inesperado. Viveram uma vida arrojada e também cometeram erros… erros grandes. Esses homens não eram perfeitos, e mesmo assim Deus, em sua infinita misericórdia, os usou no Seu plano perfeito de Se revelar ao mundo.

    Vivemos em um tempo perturbado e de desespero, em que milhões buscam respostas. Esses homens apontaram o caminho. As lições que aprendemos com eles são tão apropriadas hoje quanto foram na época em que eles viveram, milhares de anos atrás.

    São homens históricos que realmente viveram. Suas histórias, da forma como eu as conto, são baseadas nas histórias da Bíblia. Para uma leitura mais completa sobre a vida de Aarão, veja os livros do Êxodo, Levítico e Números. Também compare Cristo, nosso Sumo Sacerdote, com o descrito na epístola aos hebreus.

    Este livro também é uma obra histórica de ficção. O panorama da história é dado pela Bíblia, e comecei com os fatos que ali aparecem. Com esse fundamento, criei ação, diálogos, motivações internas e, em alguns casos, acrescentei personagens que acredito serem consistentes com o registro bíblico. Tentei manter­-me fiel às mensagens das escrituras em todos os aspectos, acrescentando apenas o necessário para ajudar nosso entendimento da mensagem.

    Ao final de cada romance, incluímos uma breve seção de estudos. A maior autoridade sobre o povo da Bíblia é a própria Bíblia. Eu o encorajo a lê­-la para melhor compreensão. E rezo para que, enquanto você estiver lendo a Bíblia, se torne consciente da continuidade, da consistência e da confirmação dos planos de Deus para todos os tempos: um plano que inclui você.

    Francine Rivers

    Um

    AARÃO sentiu alguém se aproximar quando soltou o molde e reservou o tijolo seco. Com a pele formigando de medo, ele levantou o olhar. Não havia ninguém por perto. O contramestre hebreu mais próximo estava supervisionando o carregamento de tijolos em uma carroça para levar para uma das cidades­-armazéns do faraó. Enxugando o suor de cima do lábio, ele se debruçou de novo sobre o trabalho.

    Por toda a área, crianças queimadas de sol e exaustas pelo trabalho carregavam palha para as mulheres, que a sacudiam como cobertores sobre poças de lama e depois pisavam nela. Homens encharcados de suor enchiam baldes de areia envergados sob o peso conforme jogavam a lama nos moldes de tijolo. Da aurora ao crepúsculo, o trabalho continuava incessantemente, deixando apenas algumas horas na penumbra para cuidarem de suas pequenas hortas e animais para o sustento da vida.

    Onde estais, Senhor? Por que não nos ajudais?

    – Você aí! Volte ao trabalho!

    Abaixando a cabeça, Aarão escondeu seu ódio e seguiu para o próximo molde. Seus joelhos doíam de se agachar, suas costas, de levantar tijolos, seu pescoço, de olhar para baixo. Ele colocava os tijolos em pilhas para os outros carregarem. Por toda a planície e pelos poços, só se via uma colmeia de trabalhadores; o ar era tão pesado que ele mal conseguia respirar por causa do fedor da miséria humana. Às vezes, a miséria parecia preferível a essa existência insuportável. Que esperança ele ou qualquer uma dessas pessoas tinha? Deus os abandonara. Aarão enxugou o suor dos olhos e tirou mais um tijolo seco do molde.

    Alguém falou com ele de novo. Foi mais baixo do que um sussurro, mas fez seu sangue se acelerar e o cabelo de sua nuca se arrepiar. Ele parou e esticou o pescoço para a frente, para ouvir melhor. Olhou em volta. Ninguém o notou.

    Talvez estivesse sofrendo com o calor. Devia ser isso. A cada ano as coisas estavam ficando mais difíceis, mais insuportáveis. Ele tinha oitenta e três anos, uma vida longa, abençoada unicamente pela miséria.

    Tremendo, Aarão levantou a mão. Um garoto veio correndo, trazendo água em um recipiente de pele de animal. Aarão bebeu com vontade, mas o líquido quente não ajudou a eliminar o tremor interno, a sensação de que alguém o observava tão de perto que ele conseguia sentir o olhar em seus ossos. Era uma sensação estranha, assustadora, por causa de sua intensidade. Ele se ajoelhou, querendo se esconder da luz, querendo descansar. O supervisor gritou de novo, e ele sabia que, se não voltasse ao trabalho, sentiria o chicote na pele. Até mesmo homens velhos como ele deviam cumprir sua pesada cota de tijolos por dia. E, se não a cumprissem, pagavam por isso. Seu pai, Anrão, morrera com a cara na lama e um pé egípcio na nuca.

    Onde estivestes, Senhor? Onde estais?

    Ele odiava os feitores hebreus tanto quanto odiava os egípcios. Mas agradecia mesmo assim: o ódio dava força a um homem. Quanto mais rápido sua cota fosse cumprida, mais rápido poderia ir cuidar do seu rebanho de ovelhas e cabras, mais rápido seus filhos poderiam semear a terra em ­Gósen que levava alimento para a mesa deles. Os egípcios tentam nos matar, mas nós seguimos em frente. Nós nos multiplicamos. Mas que benefício isso nos traz? Nós só sofremos.

    Aarão soltou outro molde. Gotas de suor escorriam de sua testa na argila endurecida, manchando o tijolo. O sangue e o suor dos hebreus estavam presentes em tudo o que era construído no Egito! As estátuas de Pi­-Ramsés, os palácios de Pi­-Ramsés, os armazéns de Pi­-Ramsés, a cidade de Pi­-Ramsés: tudo estava manchado. Os faraós do Egito gostavam de nomear tudo com seu próprio nome. O orgulho reinava no trono do Egito! O velho faraó havia tentado afogar os filhos dos hebreus no Nilo, e agora Ramsés estava tentando transformá­-los em pó! Aarão umedeceu o tijolo e o empilhou junto com uma dúzia de outros.

    Quando nos libertareis, Senhor? Quando tirareis o jugo da escravidão das nossas costas? Não foi nosso ancestral Josué que salvou este país ­imundo da fome? E olhai como somos tratados agora! O faraó nos usa como se fossemos animais de carga para construir suas cidades e palácios! Deus, por que nos abandonastes? Quanto tempo, ah, quanto tempo até que nos liberteis daqueles que nos matarão de tanto trabalhar?

    Aarão!

    A Voz veio de fora e de dentro, bem clara desta vez, silenciando os turbulentos pensamentos de Aarão. Ele sentiu a Presença com tanta força que tudo o mais recuou e foi envolvido por mãos invisíveis de silêncio e imobilidade. A Voz era inconfundível. Seu sangue e seus ossos a reconheciam.

    Vá para o deserto encontrar Moisés!

    A Presença foi embora. Tudo voltou a ser como era. O som voltou a cercá­-lo: a sucção de lama quando pisada, os gemidos dos homens levantando baldes, os gritos das mulheres pedindo mais palha, o barulho da areia quando alguém de aproximava, um xingamento, uma ordem dada aos gritos, o assobio do chicote. Aarão gritou conforme a dor lhe dilacerava as costas. Ele se encolheu e cobriu a cabeça, temendo menos o supervisor do que Aquele que o chamava por seu nome. O chicote rasgou sua pele, mas a Palavra do Senhor rasgou seu coração.

    – Levante, velho!

    Se tivesse sorte, morreria.

    Sentiu mais dor. Escutou vozes e caiu na escuridão. E se lembrou.

    Havia quantos anos não pensava em seu irmão? Presumira que ele estivesse morto, que seus ossos secos estivessem esquecidos em algum lugar do deserto. A lembrança mais antiga que Aarão tinha era do choro furioso e desesperado de sua mãe enquanto ele cobria uma cesta que fizera com papiro e betume.

    – O faraó disse que temos que dar nossos filhos para o Nilo, Anrão, e assim o farei. Que o Senhor o proteja! Que o senhor seja misericordioso!

    E Deus foi misericordioso, permitindo que a cesta flutuasse à deriva até chegar às mãos da filha do faraó. Míriam, aos oito anos, foi ver o que aconteceria com seu irmãozinho e teve ousadia suficiente para sugerir à princesa egípcia que ele precisaria de uma ama de leite. Quando a princesa mandou que ela conseguisse uma, Míriam buscou a mãe.

    Aarão só tinha três anos, mas ainda se lembrava daquele dia. Sua mãe soltou seus dedos.

    – Pare de me segurar. Eu tenho que ir! – Agarrando os pulsos dele com força, ela o soltou. – Pegue­-o, Míriam.

    Aarão gritou quando a mãe saiu pela porta. Ela o estava deixando.

    – Chiu!, Aarão – pediu Míriam, segurando­-o com força. – Não adianta chorar. Você sabe que Moisés precisa mais da mamãe do que você. Já é um menino grande. Pode me ajudar a cuidar da horta e das ovelhas.

    Embora sua mãe voltasse com Moisés toda noite, sua atenção era toda para o bebê. Todo dia de manhã, ela obedecia às ordens da princesa de que deveria levar o bebê para o palácio e ficar por perto caso ele precisasse de alguma coisa.

    Dia após dia, Aarão só tinha a irmã para confortá­-lo.

    – Eu também sinto saudades dela, sabe? – dizia ela, enxugando as lágrimas do rosto. – Moisés precisa mais dela do que nós. Ele ainda não desmamou.

    – Eu quero a mamãe.

    – Bem, querer e ter são duas coisas diferentes. Pare de chorar.

    – Para onde mamãe vai todos os dias?

    – Ela vai rio acima.

    – Rio acima?

    Ela apontou.

    – Para o palácio, onde mora a filha do faraó.

    Um dia, Aarão saiu escondido quando Míriam foi cuidar das poucas ovelhas. Embora lhe tivessem dito que ele não podia fazer isso, ele foi até o Nilo e seguiu o rio para longe da aldeia. Coisas perigosas viviam nas águas. Coisas do mal. Os juncos eram altos e afiados, fazendo pequenos cortes em seus braços e pernas conforme ele passava. Ele ouvia sons farfalhando e rugindo, batidas fortes e frenéticas. O Nilo tinha crocodilos. Sua mãe lhe dissera isso.

    Ele ouviu o riso de uma mulher. Abrindo caminho pelo junco, ele se aproximou até conseguir ver através dos troncos verdes o pátio de pedra onde a egípcia estava sentada com um bebê no colo. Ela o balançava nos joelhos e falava baixinho com ele. Beijava seu pescoço e estendia os braços com ele na direção do sol, como uma oferenda. Quando o bebê começou a chorar, a mulher chamou:

    – Joquebede!

    Aarão viu sua mãe sair de um lugar nas sombras e descer alguns degraus. Sorrindo, ela pegou o bebê que Aarão agora sabia ser seu irmão. As duas mulheres conversaram rapidamente, e a egípcia entrou.

    Aarão se levantou para que a mãe pudesse vê­-lo se olhasse na sua direção. Ela não olhou. Só tinha olhos para o bebê que segurava. Enquanto amamentava Moisés, ela cantava para ele. Aarão ficou sozinho, observando­-a acariciar a cabeça de Moisés. Ele queria chamá­-la, mas sua garganta parecia estar fechada. Quando a mãe acabou de amamentar seu irmão, ela se levantou e ficou de costas para o rio. Segurou Moisés contra o ombro e subiu os degraus do palácio.

    Aarão se sentou na lama, escondido no meio do junco. Os mosquitos zuniam à sua volta. Os sapos coaxavam. Outros sons, mais ameaçadores, vinham das águas mais profundas. Se uma cobra ou um crocodilo o pegassem, a mãe nem iria ligar. Ela tinha Moisés. Ela amava só a ele agora; esquecera o filho mais velho.

    Aarão sofria com a solidão, e seu jovem coração ardia de ódio pelo irmão que levara sua mãe embora. Desejava que a cesta tivesse afundado. Desejava que um crocodilo tivesse comido o irmão da mesma forma como comera outros bebês meninos. Escutou alguma coisa vindo através do junco e tentou se esconder.

    – Aarão? – Miriam apareceu. – Eu estava procurando por você por todo lado! Como você conseguiu chegar até aqui?

    Quando ele levantou a cabeça, os olhos dela se encheram de lágrimas.

    – Ah, Aarão… – Ela olhou para o palácio, ansiosa. – Você viu a mamãe?

    Ele abaixou a cabeça e soluçou. Os braços magros da irmã o abraçaram, puxando­-o para ela.

    – Eu também sinto falta da mamãe, Aarão – sussurrou ela com a voz falhando. – Mas nós precisamos ir. Não queremos causar problemas para ela.

    Ele tinha seis anos quando, uma noite, a mãe voltou para casa sozinha, chorando. Ela só conseguia chorar e falar de Moisés e da filha do Faraó.

    – Ela ama seu irmão. Será uma boa mãe para ele. Devo me confortar com isso e esquecer que ela é pagã. Ele vai crescer e se tornar um bom homem. – Ela puxou o xale e o pressionou contra a boca para abafar os soluços, conforme se balançava para a frente e para trás. – Um dia ele vai voltar para nós. – Ela ficava repetindo isso.

    Aarão esperava que Moisés não voltasse nunca mais. Esperava nunca mais ver o irmão. Eu o odeio, queria gritar. Eu o odeio por tirar minha mãe de mim!

    – Meu filho será a nossa salvação. – Ela só falava de seu precioso ­Moisés, o libertador de Israel.

    A semente da amargura cresceu em Aarão até que ele não suportava mais escutar o nome do irmão.

    – Por que a senhora voltou então? – perguntou ele soluçando, uma tarde. – Por que não ficou com ele, se o ama tanto?

    Míriam o repreendeu.

    – Segure a língua, ou a mamãe vai achar que eu não tomei conta de você direito enquanto ela estava fora.

    – Ela não liga para você, da mesma forma que não liga para mim! – berrou ele para a irmã, e encarou a mãe de novo. – Aposto que a senhora nem chorou quando o papai morreu com a cara na lama. Chorou? – Então, ao ver a expressão no rosto da mãe, ele saiu correndo. Correu até os poços de lama, onde seu trabalho era espalhar a palha para que os trabalhadores a pisassem e a misturassem à lama para a fabricação de tijolos.

    Pelo menos ela passou a falar menos de Moisés depois daquilo. Na verdade, ela mal falava.

    Nesse momento, Aarão despertou das lembranças dolorosas. Conseguia ver o calor através das pálpebras, enquanto uma sombra caía sobre ele. Alguém colocou algumas preciosas gotas de água em seus lábios enquanto o passado ecoava em sua mente. Ainda estava confuso, e o passado e o presente se misturavam em sua mente.

    – Mesmo se o poupar, Joquebede, qualquer um que vir que ele é circuncidado saberá que ele está condenado a morrer.

    – Eu não vou afogar meu próprio filho! Não vou levantar minha mão contra meu próprio filho, nem você! – Sua mãe chorava enquanto colocava seu irmão adormecido na cesta.

    Certamente, Deus zombou dos deuses egípcios naquele dia, pois o próprio Nilo, o sangue do Egito, carregou seu irmão para as mãos e o coração da filha do faraó, exatamente o homem que mandara que todos os bebês meninos fossem afogados. Além disso, os outros deuses egípcios que rondavam as margens do Nilo na forma de crocodilos e hipopótamos também fracassaram ao cumprir o decreto do faraó. Mas ninguém riu. Muitos já haviam morrido e continuavam morrendo todos os dias. Às vezes, Aarão achava que a única razão para o decreto ter sido suspenso fora para garantir que o faraó teria escravos suficientes para fabricar seus tijolos, talhar suas pedras e construir suas cidades!

    Por que seu irmão fora o único a sobreviver? Moisés realmente era o libertador de Israel?

    Míriam cuidara da vida de Aarão mesmo depois que a mãe voltara para casa. Sua irmã tinha sido tão protetora com ele quanto uma leoa com seu filhote. Mesmo naquela época, e apesar dos extraordinários eventos que aconteceram na vida de Moisés, as circunstâncias da vida de Aarão não mudaram. Ele aprendeu a cuidar das ovelhas. Carregava palha para os poços de lama. Aos seis anos, já enchia os baldes com lama.

    E, enquanto Aarão vivia a vida como escravo, Moisés crescia em um palácio. Enquanto Aarão aprendia por meio de trabalho duro e abuso nas mãos dos feitores, Moisés aprendia a ler, escrever, falar e viver como um egípcio. Aarão vestia trapos. Moisés passou a usar roupas finas de linho. Aarão comia pão ázimo e qualquer coisa que a mãe e a irmã conseguissem cultivar no pequeno pedaço de terra dura e seca que tinham. Moisés enchia a barriga com comida servida por escravos. Aarão trabalhava sob o sol quente, com os joelhos mergulhados na lama. Moisés se sentava em corredores frescos de pedras e era tratado como um príncipe egípcio, apesar do sangue hebreu. Moisés levava uma vida fácil em vez da labuta, de liberdade em vez de escravidão, de abundância em vez de necessidade. Nascido escravo, Aarão sabia que morreria escravo.

    A não ser que Deus os libertasse.

    Moisés é o escolhido, Senhor?

    A inveja e o ressentimento atormentaram Aarão por quase toda a vida.

    Mas era culpa de Moisés ter sido tirado da sua família e criado por estrangeiros adoradores de ídolos?

    Aarão só voltou a ver Moisés anos depois, parado na porta da casa deles. A mãe se levantara com um grito e correra para abraçá­-lo. Aarão não sabia o que pensar ou sentir, nem o que esperar de um irmão que parecia um egípcio e não conhecia nenhum hebreu. Aarão se ressentira dele, depois ficou confuso com a vontade de Moisés de se alinhar com os escravos. Moisés podia ir e vir ao seu bel­-prazer.

    Por que escolhera vir morar em Gósen? Ele poderia andar em carruagens e caçar leões com outros jovens do palácio do faraó. O que esperava ganhar ao trabalhar ao lado de escravos?

    – Você me odeia, não é, Aarão?

    Aarão entendia a língua egípcia, embora Moisés não compreendesse hebraico. A pergunta fez com que ele parasse para pensar.

    – Não, ódio, não. – Ele só sentia desconfiança. – O que

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