Histórias curtas
4/5
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Rubem Fonseca
O selvagem da ópera Nota: 4 de 5 estrelas4/5Heróis urbanos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pequenas Criaturas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJosé Nota: 5 de 5 estrelas5/5Secreções, excreções e desatinos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO buraco na parede Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Prisioneiros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAxilas e outras histórias indecorosas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Cobrador Nota: 0 de 5 estrelas0 notasE do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBufo & Spallanzani Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO romance morreu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMandrake Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistórias de amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Confraria dos Espadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRomance negro e outras histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA coleira do cão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO melhor de Rubem Fonseca: Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVastas emoções e pensamentos imperfeitos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAgosto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmálgama Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO homem de fevereiro ou março Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEla e outras mulheres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCarne Crua Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Histórias curtas
Ebooks relacionados
Arma Branca Na Mão De Criança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAtraído pelo caos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlma De Vampiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJanela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlma De Vampiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVastas emoções e pensamentos imperfeitos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRealidade Paralela Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInstantâneos Literários Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDomingo Eu Vou Pra Praia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Plano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Falência Da Justiça Brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Dia Da Minha Morte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAlém de mim Nota: 5 de 5 estrelas5/5Filho De Ninguem Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo fazer seu próprio Apocalipse Zumbi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPapai Jessé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Diário De Khaos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm cara como outro qualquer Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias Engraçadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInvestigação Familiar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrimes à brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLouca De Paixão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasE Ele Era Um Mendigo! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesnuda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOnde Estamos? Ii Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBukowskianos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRelatos Sobrenaturais De Vigias Noturnos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasZ2 O Homem Do Futuro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs abraços perdidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGraham: o continente Lemúria Nota: 3 de 5 estrelas3/5
Contos para você
Procurando por sexo? romance erótico: Histórias de sexo sem censura português erotismo Nota: 3 de 5 estrelas3/5Só você pode curar seu coração quebrado Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5A bela perdida e a fera devassa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5Felicidade em copo d'Água: Como encontrar alegria até nas piores tempestades Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos pervertidos: Box 5 em 1 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Rua sem Saída Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos de Franz Kafka Nota: 5 de 5 estrelas5/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMACHADO DE ASSIS: Os melhores contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMelhores Contos Guimarães Rosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quando você for sua: talvez não queira ser de mais ninguém Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para não desistir do amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Acredite na sua capacidade de superar Nota: 5 de 5 estrelas5/5O meu melhor Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Psicólogo Suicida: E Outros Contos Curtos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Tchekhov: Enfermaria N. 6 e Outros Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos do divã Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Meu misterioso amante Nota: 4 de 5 estrelas4/5O DIABO e Outras Histórias - Tolstoi Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos negreiros Nota: 5 de 5 estrelas5/5Lua de mel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntes de Carnal Nota: 5 de 5 estrelas5/5Amar e perder Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Histórias curtas
3 avaliações0 avaliação
Pré-visualização do livro
Histórias curtas - Rubem Fonseca
Copyright © 2015 by Rubem Fonseca
Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela Editora Nova Fronteira Participações S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.
Editora Nova Fronteira Participações S.A.
Rua Nova Jerusalém, 345 – Bonsucesso
Rio de Janeiro – RJ – CEP: 21042-235
Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212/8313
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
F747
Fonseca, Rubem, 1925-
Histórias curtas / Rubem Fonseca. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2015.
ISBN 978-85-209-2392-4
1. Conto brasileiro. I. Título.
15-20634
CDD: 869.93
CDU: 821.134.3(81)-3
SUMÁRIO
A luta contra o preconceito racial
Coma
Devaneio
Eles
O peido
Incorpóreo
Humilhação
A preferida
O pudico
Netinho querido
Viver
O amputado
O mundo é nosso!
Jardim de flores
O reencontro
A noviça
Televisão
Andar é preciso
Bola ou búrica?
Cem anos
Regime
Olhares e sussurros
Animal de estimação
O roedor de ossos
Justiça
Atração
Suzy
Quem vê cara não vê coração
O brinco de pérola
O colecionador
O que há em um nome?
Condição insólita
Deus e o diabo
Folie à deux
Ouvir
Um bom trabalho
Hóstias
Fazer as pessoas rirem e se sentirem felizes
A LUTA CONTRA O PRECONCEITO RACIAL
Decidi que iria lutar contra essa falsa noção de que existem raças superiores. Os defensores dessa ideia acreditam que ela é uma teoria científica comprovada. Essa crença tem sido usada para toda sorte de barbaridades, escravidão, exclusão, carnificinas.
Mas o que eu podia fazer? Pensei em comprar uma metralhadora para matar racista, mas não sabia onde comprar uma metralhadora. Pensei em uma porção de coisas tolas e insensatas, mas afinal tive uma boa ideia: pichar as paredes da cidade com a frase ABAIXO O RACISMO.
Comprei várias latas de tinta, preta e vermelha, e vários pincéis. Eu tinha que escolher uma parede em que a pichação tivesse grande visibilidade, que captasse a atenção de todos os transeuntes.
Andei pela cidade procurando a melhor parede, a mais ostensiva, e quando a encontrei iniciei imediatamente o meu trabalho. Escrevi, contente, mais do que contente, feliz, muito feliz, a frase ABAIXO O RACISMO duas vezes, uma com tinta vermelha e outra com tinta preta.
Senti o meu braço sendo agarrado com força. Era um policial fardado, que disse:
O senhor está preso.
Fui colocado numa viatura e levado para um distrito policial. Lá chegando, o delegado, depois de ouvir o guarda que me detivera, me informou:
O senhor infringiu a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. O artigo 65 diz que quem pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano está sujeito à pena de detenção de três meses a um ano e multa. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, como é o seu caso, que estava pichando o monumento aos heróis brasileiros na guerra mundial, a pena é de seis meses a um ano de detenção e multa.
Resumindo o drama: um juiz me condenou a seis meses de detenção e a pagar uma multa. Mas eu paguei a multa e como tinha um bom advogado não fiquei detido um dia sequer. Já falei que o meu pai é rico? Mas ele e meu irmão só vivem pensando em remédios, só me procuram para perguntar se estou tomando os remédios, eles deviam pensar no preconceito racial, mas não querem nem saber.
Fiquei imaginando uma maneira de lutar contra esse tipo de discriminação. Afinal descobri.
A primeira que escolhi foi uma negra. Negra mesmo, retinta, lustrosa. O nome dela era Jenny. Namorei um tempo, falei frases de amor — as mulheres adoram ouvir o homem dizer eu te amo, sonho com você todas as noites, baboseiras desse tipo — e ela acabou indo para a cama comigo. Era virgem e tinha 25 anos.
Exultei quando Jenny ficou grávida. Durante os nove meses dei todo o apoio de que ela precisava. Afinal nasceu a criança, era um menino, bem mulato, cor da pele, tipo de cabelo, formato do nariz. Uma felicidade. Jenny quis que ele fosse registrado como Genilson.
Eu ia a toda parte com Jenny e Genilson, o menino num carrinho-berço, que eu mesmo empurrava. Quando cruzava com um transeunte eu dizia é meu filho
. Mas isso era pouco. Coloquei em volta do carrinho do bebê uma faixa onde se lia: ABAIXO O PRECONCEITO RACIAL.
Não sei se já disse que o meu pai é um homem muito rico, viúvo, com dois filhos, eu e o Gumercindo. Portanto, eu tinha condições econômicas de fazer uma proposta a Jenny.
Jenny, vai morar aqui com a gente uma outra mulher, com quem também vou ter um filho. Não se preocupe, vou depositar na conta que abri no banco para você esta quantia.
Mostrei um papel com a cifra.
Todo mês?
Todo mês.
Não foi fácil conseguir a índia. Claro que procurei em várias tribos. Acabei achando a minha índia, mas paguei caro por ela. (Não quero falar sobre isso.) O seu nome era Abayomi.
Abayomi e Jenny se deram muito bem. Eu dormia com as duas na mesma cama. (Não quero falar sobre isso.)
Afinal, Abayomi ficou grávida. E teve uma menina. Foi registrada com o nome de Diaurum.
Comprei um carrinho de bebê com dois lugares e saía todos os dias empurrando dois carrinhos, um deles transportava um cartaz dizendo TENHO UM FILHO DE UMA MULHER NEGRA E UMA FILHA DE UMA MULHER ÍNDIA. ABAIXO O PRECONCEITO RACIAL.
Eu estava muito feliz, ainda que um pouco cansado de passar todas as manhãs empurrando o carrinho dos bebês e o do cartaz, que era pesado. Mas o cansaço não me impedia de dizer, a todas as pessoas que passavam, são meus filhos e uma das mães é negra e a outra é índia, abaixo o preconceito racial
.
Um dia, porém, uma ambulância parou ao meu lado e de dentro dela saltaram dois enfermeiros que me pegaram pelo braço, dizendo venha conosco, não se preocupe com as crianças, venha
.
Dentro da ambulância começaram a me dar injeções que me fizeram ficar completamente abestalhado. Estou internado num hospital psiquiátrico. Fico isolado num quarto, tomando remédios. Às vezes um sujeito que diz que é meu irmão me visita e conta que tive um surto psicótico, mas que vou ficar bom.
Neste momento estou deitado, de olhos fechados, mas não estou dormindo. Ouvi a conversa dos dois médicos que estavam no meu quarto.
Ele está apresentando sintomas de depressão. Creio que deveríamos usar a eletroconvulsoterapia
, observou um deles.
Boa ideia
, concordou o outro, vamos começar o tratamento amanhã
.
Eu quero ficar bom e ir para casa. Eu tenho uma coisa para fazer. O que mesmo?
COMA
Abri os olhos e vi um sujeito de avental branco.
Bem-vindo
, disse ele.
Olhei em volta.
Onde é que eu estou?
Hospital Santa Margarida. Eu sou enfermeiro.
Hospital?
O senhor está aqui há dois meses. Em coma. Mas não se preocupe. É do governo. O senhor não vai pagar nada.
Em coma?
Dois tiros no peito. Não sei como, não... Deve ter sido assalto. Sorte, o senhor teve muita sorte.
Fiquei tentando lembrar o que teria acontecido.
Vou medir a sua pressão
, disse ele, colocando um troço no meu braço.
Depois de algum tempo informou:
Treze por nove, ótimo. Agora vou lhe dar uma pílula.
Às vezes mudava de enfermeiro, mas o cara sempre colocava um troço no meu braço.
Um dia um deles me disse:
O policial de plantão quer falar com o senhor. Quer saber como foi o assalto.
O policial era um sujeito gordo. Entrou limpando o suor do rosto com um lenço.
Esse hospital é uma merda. Obriga a gente a trabalhar de paletó e gravata. Puta que pariu!
Sentou-se numa cadeira ao lado da minha cama.
Meu nome é Aristides. O seu é José Silva, eu sei. Seu José, conte como foi o assalto.
A história saiu tão depressa que pareceu verdade.
"O