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10.12 - A Menina e o Burro

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A MENINA E O BURRO

O Antnio Torrado
escreveu e a Cristina Malaquias ilustrou

Era uma vez uma menina que conhecia o campo, mas de longe. Vira-o, uma vez, de passagem, da janela de um automvel. Vira-o, mais vezes, de corrida, nos ecrs da televiso. E vira-o, outras vezes, disfarado de paisagem, nas folhas das revistas e nas tampas das caixas de chocolate. Esta menina, afinal, no conhecia o campo a srio. Por isso, da primeira vez que foi ao campo, da primeira vez que pisou o cho rugoso do campo e respirou o ar vivo do campo e os cheiros todos do campo, a menina ficou, h que confessar, a menina ficou um tanto atordoada. Tropeou numa pedra, comichou-lhe o nariz e picou-se nas urtigas. Mas, apesar destes contratempos, a menina, verdade se diga, no desgostou da experincia. 1
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que havia muita coisa para ver. Havia folhas que estalavam, quando ela as pisava. Havia carreiros de formigas, flores sem nome, canaviais bulindo, rvores ramalhando e, no muito alm do caminho por onde a menina seguia, um burrito de orelhas espantadas. Tinha o plo cinzento e no era de peluche. A menina, que j ouvira histrias de prncipes encantados por fadas ms, pensou: "E se um prncipe transformado em burro?" Podia ser. Tinha os olhos pestanudos e olhava para a menina cheio de curiosidade. "Eu dou-lhe um beijinho, desfaz-se o encanto e ele transforma-se em prncipe", pensou a menina. "At pode ser que, mais tarde, queira casar-se comigo." A menina, que j se via princesa, aproximou-se do burro, para concretizar o que tinha pensado. Mas o burro que no estava pelos ajustes. Quando viu a menina mais perto, fugiu a galope. A menina correu atrs dele: - No te fao mal. s um beijinho - prometia ela. Mas o burro no queria saber. Era um burro novo, sem nenhuma prtica social, e aquela criaturinha enervava-o. Naturalmente, no era um prncipe encantado. Devia ser s um burro. Tambm nos parece que sim.

FIM

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