01 Rabenhorst Oqs DH
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Eduardo R. Rabenhorst*
Doutor em Filosofia pela Universite de Strasbourg I (1996), Diretor do Centro de Cincias Jurdicas e Professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias Jurdicas rea de concentrao em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraba.
Introduo. Uma das caractersticas mais marcantes da nossa vida social e poltica que estamos sempre a falar sobre direitos. De fato, raros so os dias em que no dizemos ou ouvimos algum dizer frases do tipo Voc no tem o direito de fazer isso comigo!; Eu tenho o direito de ser feliz!; Temos o direito de ir e vir livremente e assim por diante. Viver em um mundo no qual as pessoas so vistas como detentoras de direitos uma grande conquista, seno vejamos. Durante sculos, milhes de seres humanos, nos mais diversos lugares do mundo, inclusive no nosso pas, foram reduzidos condio de escravos e submetidos aos tratamentos mais cruis e degradantes que podemos imaginar. At bem pouco tempo, a violncia contra a mulher e o abuso sexual de crianas despertavam apenas indignao moral. Hoje acarretam punies jurdicas. H duas dcadas, os trabalhadores que no pagavam contribuies previdencirias em nosso pas eram tratados como indigentes nos hospitais ou postos de sade. Hoje dispomos de um Sistema nico de Sade, que apesar de todas as dificuldades, presta servios a todos os cidados brasileiros. bem verdade que o mundo continua sendo profundamente perverso e injusto, sobretudo com relao aos mais vulnerveis. No Brasil, parte significativa da populao sofre com a falta de emprego, sade, alimentao, gua potvel etc. Mas ao menos diante destes absurdos, hoje podemos dizer: isso no est direito! E mais importante, podemos nos dirigir ao Estado como cidados e exigir que nossas demandas sejam atendidas, no a ttulo de favor, mas exatamente porque elas so direitos! 1- A revoluo dos direitos. Na sua origem, a palavra direito significa exatamente aquilo que reto, correto ou justo. Da a idia de que um homem honesto um homem direito. Por outro lado, o termo direito se ope ao que torto, avesso ou injusto. De onde que diante de uma injustia sempre podemos dizer: isso no est direito!. No dia 8 de maro de 1857, por exemplo, na cidade norte americana de Nova Iorque, operrias tecels fizeram uma greve, ocupando a fbrica de tecidos na qual trabalhavam. Reivindicavam melhores condies de trabalho e a equiparao de salrios com os homens, que ganhavam trs vezes mais pelo mesmo trabalho. A manifestao foi reprimida com uma brutal violncia. As mulheres foram trancadas dentro da fbrica, que foi incendiada. Cerca de 130 tecels morreram carbonizadas.
Educao em Direitos Humanos: fundamentos histrico-filosficos
O que podemos pensar sobre este ato brbaro? Falar de direitos, portanto, em primeiro lugar falar do desejo e da necessidade que possumos de viver em um mundo justo. Contudo, direitos no so apenas demandas por justia. Eles so tambm o reconhecimento de que algo nos devido. Neste sentido, como j dissemos anteriormente, direitos no so favores, splicas ou gentilezas. Se existe um direito porque h um dbito e uma obrigao correlata. Por conseguinte, no se pede um direito, luta-se por ele. Quando reivindicamos algo que nos devido, no estamos rogando um favor, mas exigindo que justia seja feita, que o nosso direito seja reconhecido. As 130 tecels de Nova Iorque no morreram por nada. Se as mulheres possuem atualmente uma srie de direitos fundamentais, isso se deve ao sacrifcio dessas heronas e luta de tantas outras. bem verdade que as mulheres continuam a ser discriminadas e tratadas com profunda injustia. Contudo, hoje elas dispem de um conjunto de instrumentos e de instituies voltadas para a defesa e promoo de sua dignidade. Poder se ver como sujeito de direitos. Poder exigir que tais direitos sejam respeitados. Poder lutar para ter novos direitos. Eis uma transformao que afetou radicalmente a maneira como ns nos percebemos como pessoas e cidados. Uma verdadeira revoluo, como bem disse o filsofo canadense Michael Ignatieff. 2- O que significa ter um direito? Se vamos falar sobre direitos, bom que tenhamos uma noo um pouco mais precisa do que significa ter um direito. Um direito, de forma muito geral, a possibilidade de agir ou o poder de exigir uma conduta dos outros, tanto uma ao quanto uma omisso. Por exemplo, a Constituio Federal, em seu artigo 5, diz que todo brasileiro tem direito liberdade de expresso. Isso significa que temos a possibilidade de expressar livremente nossas convices religiosas, mas tambm que podemos exigir que os outros, principalmente o Estado ou os membros de outras religies, no criem obstculos nossa liberdade de culto. Observe, por conseguinte, que a cada direito corresponde um dever. Na realidade, quando digo, por exemplo, que tenho direito vida, estou exigindo o direito de no morrer injustamente, o que significa que os outros tm o dever de respeitar a minha vida. Ter um direito, por conseguinte, ser beneficirio de um dever correlativo por parte de outras pessoas ou do prprio Estado. Para cada classe de direitos existentes, h pessoas ou instituies com deveres correlatos. Se, como diz a Constituio Federal, temos direito educao, isso significa que o Poder Pblico (governos e prefeituras) tem a obrigao de construir escolas e assegurar que o ensino pblico e gratuito seja oferecido a todas as pessoas. Dizer que existe um dever correspondente a um direito no significa que os direitos possuam necessariamente eficcia, isto , que eles sempre consigam produzir efeitos concretos na realidade. possvel que eu tenha
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um direito com um dever correspondente, mas que por alguma razo no seja observado. Se procuro um hospital pblico e no consigo ser atendido, por exemplo, o Estado est deixando de cumprir seu dever. Por conseguinte, meu direito sade no est tendo a devida eficcia. Ora, o que devemos fazer para que os deveres correspondentes aos nossos direitos sejam observados? Para que os direitos no sejam apenas frases escritas em um pedao de papel, mas se convertam em obrigaes plenamente realizadas, faz-se necessria a existncia de dois grandes instrumentos. Em primeiro lugar os instrumentos jurdicos, que so as leis, no sentido mais amplo da palavra (Declaraes, Tratados, Pactos, Convenes, Constituies etc), e as instituies responsveis por sua aplicao. Em seguida os instrumentos extrajurdicos resultantes do poder social, isto , da nossa prpria capacidade de organizao e de reivindicao (movimentos sociais, associaes de moradores, partidos polticos, sindicatos etc). Em suma, os direitos dependem da existncia de leis, juzes, advogados etc. Porm, muito dificilmente eles sero observados se no tivermos conscincia e capacidade de organizao para lutar por eles. 3- De onde vm os direitos? Direitos, como acabamos de ver, so uma razo para agir ou o poder de exigir dos outros um determinado comportamento. primeira vista, tal possibilidade decorre das normas jurdicas existentes na sociedade ou dos acordos que firmamos com os outros. Por exemplo, temos o direito liberdade religiosa porque a Constituio Federal assim estabeleceu em seu artigo 5. Por outro lado, temos o direito de cobrar o cumprimento de uma promessa feita, simplesmente porque algum aceitou voluntariamente tal compromisso. Contudo, muitos filsofos acreditam que os direitos guardam relao com a forma como pensamos o que o ser humano e como deve ser sua relao com os outros seres humanos. No h uma nica maneira de se pensar tais assuntos, mas ao menos no caso da cultura ocidental, por razes que veremos mais adiante, predomina a idia de que os seres humanos so detentores de determinados direitos em razo de sua dignidade, isto , do valor absoluto que eles possuem. Conforme observou o filsofo alemo Immanuel Kant, podemos avaliar as coisas pelo preo ou pela dignidade. Tudo aquilo que pode ser substitudo por algo equivalente tem um preo. Um objeto, um produto, um servio, tudo isso pode receber um preo econmico ou um valor afetivo. Contudo, existe algo que no pode ser substitudo por nada de equivalente e que a prpria vida humana. Cada ser humano nico e irrepetvel. Por isso mesmo, ao contrrio das coisas, os seres humanos no tm preo ou valor, mas possuem dignidade, isto , um valor incondicionado e absoluto que ultrapassa todos os valores.
Diferentemente das coisas, os seres humanos so pessoas, termo jurdico que designa exatamente o detentor de direitos. Por isso mesmo os seres humanos devem ser sempre tratados com respeito, isto , como um fim em si mesmo. Cada vez que usamos algum como coisa, isto , como instrumento para a obteno de algo, estamos a violar a sua dignidade e, consequentemente, a desrespeitar seus direitos fundamentais. 4- Os direitos humanos. O que se convencionou chamar direitos humanos so exatamente os direitos correspondentes dignidade dos seres humanos. So direitos que possumos no porque o Estado assim decidiu, atravs de suas leis, ou porque ns mesmos assim o fizemos, por intermdio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonstico que isso possa parecer, so direitos que possumos pelo simples fato de que somos humanos. Essa uma idia profundamente revolucionria, como j dissemos, e muitos sacrifcios foram necessrios para que chegssemos at ela. A histria da maldade humana longa e assustadora, e a lista dos mortos sempre ultrapassou a casa dos milhes. Milhes de negros africanos capturados, traficados e transformados em escravos por toda a Amrica. Milhes de ndios dizimados por guerras e doenas trazidas pelos colonizadores. Milhes de judeus mortos pelos nazistas em campos de concentrao. Foi contra essas deplorveis barbries que construmos o consenso de que os seres humanos devem ser reconhecidos como detentores de direitos inatos, ainda que filosoficamente tal idia venha a ensejar grandes controvrsias. Por isso mesmo, podemos dizer que os direitos humanos guardam relao com valores e interesses que julgamos ser fundamentais e que no podem ser barganhados por outros valores ou interesses secundrios. Da porque um jurista norte-americano, Ronald Dworkin, concebe os direitos humanos como coringas, isto , como aquelas cartas do jogo de baralhos que possuem um valor especial, podendo ganhar para quaisquer outras. Por exemplo, o Estado poderia desejar matar todos os suspeitos de cometerem delitos em nome da reduo da criminalidade. Contudo, caso isso viesse a acontecer, poderamos evocar em nossa defesa a existncia de valores mais importantes, tais como a vida e a integridade fsica dos seres humanos. Na metfora de um jogo que estaramos a jogar contra o Estado, tais valores funcionariam como trunfos ou coringas. Obviamente, isso no significa que todos os direitos sejam absolutos, no sentido de que devam ser observados de forma incondicional. Afinal, o direito que tenho liberdade de expresso no me autoriza a sair por a ofendendo as outras pessoas, pois estas tambm tm direito honra e vida privada. Na verdade, todo direito precisa ser ponderado, de modo que possamos avaliar seu peso ou importncia, bem como sua compatibilidade com o interesse coletivo.
5- Sujeitos e objetos dos direitos humanos. Quem dispe de um direito chamado de sujeito de direito. Por outra parte, matria ou assunto do qual o direito trata recebe o nome de objeto de direito. O direito liberdade religiosa, por exemplo, tem como sujeito os indivduos ou grupos que desejam expressar uma convico religiosa. O objeto deste direito, por sua vez, tambm chamado de bem jurdico protegido, a prpria liberdade em questo. Os sujeitos de direitos podem ser individuais ou coletivos. O direito de votar e ser votado, por exemplo, um direito individual. O direito de greve, em contrapartida, um direito coletivo. Com efeito, a histria dos direitos humanos pode ser vista como um processo de expanso dos sujeitos de direitos e dos objetos correspondentes. Os primeiros direitos humanos, que surgiram no sculo XVIII, so os chamados direitos civis e polticos. Os sujeitos destes direitos so os indivduos; objetos sobre os quais eles versam, por sua vez, so as liberdades individuais (liberdade de ir e vir, liberdade de expresso, liberdade de crena etc.). Por isso mesmo os direitos civis e polticos so tambm conhecidos como direitos-liberdade. No sculo XIX, por sua vez, apareceram os direitos sociais, econmicos e culturais, cujos sujeitos so tambm os indivduos, s que agora considerados do ponto de vista coletivo e no plano da distribuio dos recursos sociais. So os chamados direitos-prestao, posto que exigem uma interveno por parte do Estado de maneira a suprir as necessidades mais bsicas dos indivduos e a propiciar o prprio exerccio das liberdades individuais. A diferena entre um direito-liberdade e um direito-prestao pode ser compreendida a partir do seguinte exemplo: de acordo com a Constituio Federal brasileira, temos o direito de ir e vir livremente, porm tal direito nunca poder ser plenamente exercido se no dispomos de transporte pblico, no temos dinheiro para comprar a passagem, ou caso sejamos portadores de uma necessidade especial, se no existem rampas para a cadeira de rodas que utilizamos. O sculo XX foi o mais rico do ponto de vista da expanso dos direitos humanos. Nele surgiram os direitos difusos, assim denominados porque no tm um sujeito especfico, mas interessam humanidade como um todo (direito ao desenvolvimento, direito paz, direito ao meio ambiente protegido etc.). Posteriormente, o mesmo sculo deu lugar a direitos mais exticos que tratam dos animais, da natureza e dos embries, por exemplo. Pode-se dizer que os sujeitos dos direitos humanos conheceram ao longo da histria no apenas uma expanso, mas tambm um interessante processo de especificao. Os direitos humanos clssicos no valorizavam os elementos de diferenciao de um indivduo com relao ao outro (gnero, raa, idade, opo sexual etc.), mas concebiam seus titulares de forma genrica e abstrata (o homem, o cidado etc.). Na contemporaneidade, ao contrrio, os direitos
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humanos tendem a vislumbrar os sujeitos de forma concreta e particular, isto , como indivduos historicamente situados, inseridos numa estrutura social, e portadores de necessidades especficas. Da falarmos de direitos das mulheres, direitos das crianas, direitos dos portadores de deficincia e direitos dos homossexuais, dentre outros. 6- Direitos humanos: crticas. Conforme foi dito no inicio deste texto, certamente uma grande vantagem viver em uma sociedade onde as pessoas, apesar de todas as diferenas, tm os mesmos direitos bsicos. Contudo, no so poucos os autores que, por razes as mais diversas, criticam a idia de direitos humanos. Alguns crem absurda a tese de que o homem detentor de direitos inatos. Direitos, dizem tais pessoas, so criaes humanas e no algo espontneo, isto , proveniente da natureza ou de Deus. Outros acusam os direitos humanos de serem uma criao arbitrria da cultura ocidental, uma cultura profundamente individualista e egosta, na qual os indivduos se vem como clulas circundadas por direitos, e no como membros que fazem parte de um todo e que tm deveres com relao ao mesmo. Por fim, alguns estimam que a idia de direitos humanos exerceria o papel ideolgico de manuteno da ordem dominante, impedindo reformas polticas e sociais. Afinal, do que adianta dizer que brancos e negros, homens e mulheres, e assim por diante, tm o mesmo direito, se as desigualdades sociais e econmicas que dividem a sociedade teimam em persistir? Tais crticas so instigantes, mas elas suscitam respostas razoveis por parte dos defensores dos direitos humanos. certo que a idia de dignidade humana como fundamento dos direitos humanos filosoficamente questionvel. De fato, o que poderia justificar, fora de uma perspectiva religiosa ou dogmtica, a indistinta atribuio aos seres humanos de um mesmo valor? No entanto, podemos argumentar contra esta crtica dizendo que a dignidade o valor que atribumos aos seres humanos em funo das nossas crenas sobre o modo como os mesmos devem ser tratados. Vimos tantas injustias e tantos atos brbaros serem cometidos contra a humanidade, que fomos levados a formar a convico de que os homens precisam ser reconhecidos como titulares de direitos bsicos. A crtica de que os direitos humanos representam um ponto de vista de uma cultura ocidental de trao profundamente egosta pode ser rebatida a partir de vrios argumentos. Em primeiro lugar, no est provado que os direitos humanos sejam produto genuno da cultura ocidental ou algo incompatvel com determinadas culturas. Em seguida, mesmo que esta crtica esteja fundada, isso significa apenas que os direitos humanos no so universais, e no que eles no poderiam ser universalizados de forma democrtica e respeitadora da diversidade cultural. Por fim, bem verdade que uma boa parcela dos direitos humanos guarda relao com liberdades individuais, o que parece ser tpico de uma sociedade individualista, mas no podeEducao em Direitos Humanos: fundamentos histrico-filosficos
mos esquecer os vrios direitos que acentuam uma vida solidria, tais como os direitos sociais, por exemplo. A ltima crtica, por sua vez, pode ser respondida a partir da idia de que os direitos humanos, mesmo no questionando as bases de uma sociedade capitalista, podem servir como um instrumento construo de uma sociedade justa e solidria. Em outras palavras, os direitos humanos no so uma panacia contra todos os males sociais e econmicos, mas sem eles dificilmente poderemos aspirar por um mundo decente e eqitativo. 7- Direitos humanos na sociedade brasileira. A guisa de concluso. A histria dos direitos humanos no Brasil pode ser vista como obra de todos aqueles que atravs de insurreies, rebelies e revoltas, lutaram contra uma estrutura de dominao que vigorou em nosso pas durante sculos e que ainda persiste em muitos aspectos, principalmente no que concerne s desigualdades sociais. Por isso mesmo, a idia de direitos humanos em nosso pas permanece sendo vista como algo subversivo e transgressor. Nas ltimas dcadas, as classes populares e os movimentos sociais tm feito um uso intenso dos direitos humanos como instrumento de transformao da ordem dominante, o que explica a ao enrgica de determinados grupos conservadores, no sentido de tentar associar a causa dos direitos humanos mera defesa das pessoas que cometeram um delito. Da acusaes falsas do tipo: direitos humanos coisa de bandido ou onde esto os direitos das vtimas?. Estas acusaes no procedem. Afinal, os direitos humanos, como vimos, ultrapassam largamente a esfera penal. Certo, muitas organizaes, como a Anistia Internacional, lutam pelos direitos das pessoas encarceradas. Mas outras entidades, como o Greenpeace, por exemplo, existem para a defesa do meio ambiente. Na verdade, para cada direito humano reconhecido no processo de expanso tratado no item 4 deste texto, existem dezenas ou centenas de organizaes militantes. O mesmo ocorre com relao s vtimas de delitos. O GAJOPE (Grupo de Apoio Jurdico s Organizaes Populares), por exemplo, uma entidade brasileira que presta assistncia deste tipo. Contudo, sempre bom lembrar que mesmo as pessoas que cometeram delitos graves tm direitos bsicos que devem ser respeitados. Quem comete um delito pode perder sua liberdade (em alguns pases at a vida), mas nunca sua dignidade. Assim como a amizade e o amor, os direitos precisam ser cultivados, pois no existe qualquer garantia de que este importante patrimnio moral da humanidade permanea intocado. Recebemos todos os dias, de diversas partes do mundo, notcias sobre graves violaes e ameaas aos direitos humanos. De onde a importncia da educao em direitos humanos, concebida no como a simples introduo de um contedo temtico sobre tais direitos nos programas escolares ou universitrios, mas essencialmente como um meio capaz de proporcionar a construo de uma cidadania ativa em nosso pas. Este o desafio que se impe ao conjunto da sociedade brasileira, principalmente aos mais jovens.
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REFERNCIAS COMENTADAS. 1- BIELEFELDT, Heiner. Filosofia dos direitos humanos. So Leopoldo: Unisinos, 2000. Abordagem bastante completa do debate sobre as crticas endereadas aos direitos humanos, principalmente aquelas concernentes ao suposto carter ocidental dos mesmos. 2- BOBBIO, Norberto. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992. Este livro do clebre filsofo italiano do direito e da poltica ainda hoje uma das melhores introdues em lngua portuguesa ao tema dos direitos humanos. Outra tima opo o livro de IGNATIEFF, Michael. The Rights Revolution, publicado no Canad pela House of Hanansi Press, em 2000, porm sem traduo em portugus. 3- EDMUNDSON, William. Uma introduo aos direitos. So Paulo: Martins Fontes, 2006. Trata-se de outra excelente abordagem introdutria ao tema, no entanto um pouco mais filosfica do que aquela encontrada no texto de Bobbio. 4- LOPES, Jos Reinaldo de Lima. Direitos sociais. So Paulo: Mtodo, 2006. Argumentos instigantes sobre as razes da resistncia idia de direitos humanos em nosso pas nas ltimas dcadas. 5- PECE-BABA MARTINEZ, Gregrio. Curso de derechos fundamentales. Madrid: Universidad Carlos Magno, 1999. Os que lem em espanhol encontro aqui um exame bastante completo do processo de expanso dos sujeitos dos direitos humanos e dos bens jurdicos correspondentes. 6- RABENHORST, Eduardo. Dignidade humana e moralidade democrtica. Braslia: Braslia Jurdica, 2001. Sobre a idia de dignidade humana, tomamos a liberdade de sugerir a leitura de trabalho de nossa autoria, por julgarmos que se trata de texto bastante introdutrio. 7-TRINDADE, Jos Damio de Lima. Histria social dos direitos humanos. So Paulo: Peirpolis, 2002. Um dos raros textos sobre histria dos direitos humanos publicados em nosso pas na perspectiva da chamada histria social. Existe tambm, em uma linha semelhante, o livro de PINSKY, Jaime e Carla PINSKY, Histria da cidadania. So Paulo: Contexto, 2003. 8- VIEIRA, Oscar Vilhena. Direitos Fundamentais. So Paulo: Direito GV/Malheiros, 2006. Um timo texto sobre o que significa ter um direito pode ser encontrado no primeiro captulo deste livro.