Mensagem Vs Os Lusíadas
Mensagem Vs Os Lusíadas
Mensagem Vs Os Lusíadas
Da perspetiva de comparao literria, incidente em Os Lusadas e a Mensagem, obras que divergem largamente num intervalo multissecular, resulta a expectativa enunciante de escassez ou mesmo de inexistncia, referente a um plano literrio homogneo partilhado pelas duas obras. No entanto, esta realidade apenas se verifica em extenso parcial, dado que ambas as obras se entrelaam em vrias componentes aspectuais de dimenso literria. So exemplos destas afinidades contextuais o aspeto temporal, a temtica comum, a inspirao pica e o impulso missionrio. No mbito da componente temporal, encontram-se nos trabalhos de Lus de Cames e de Pessoa duas caractersticas coincidentes: o primeiro fator em comum evidenciado na elaborao e redao dos cantos num perodo ps-empreendorismo e expanso do Imprio portugus; a segunda caracterstica assenta no facto de que as criaes camoniana e pessoana terem sido ambas geradas numa poca de deteorimento do imprio e da sociedade portugueses. Dado isto, a escrita dos poetas foi orientada para a conceo de poemas sobre Portugal, onde a nao lusitana duplamente exaltada como povo de feitos excecionais, insuperveis por qualquer outro pas, imprio ou entidade divina. Estes poemas foram fundamentados constantemente pela inspirao pica proveniente dos episdios histricos e respetivos heris grandiosos que Portugal, outrora, vivenciou. Deste modo, os poetas expem uma demanda missionria num tom proftico e histrico-evocativo, atravs da eleio de D. Sebastio, destinado por desgnio divino, a expandir a f crist e, simultaneamente, a integrar o heri que, num futuro indeterminvel, reerguer a imponncia da ptria portuguesa, sendo que nOs Lusadas realiza-se a nsia de que ocorr-se a regenerao de um passado glorioso, e em Mensagem estabelece-se o insacivel anelo formao de um novo Portugal, um Portugal impregnado de espiritualidade, que faa mover as massas do mundo terreno e martimo (Mens agitat molem) , o desgnio do Quinto Imprio.
Ambos Mensagem e Os Lusadas presenceiam a evocao do passado, enunciado pela memria, para ,atravs de um apelo aos portugueses, idealizarem o futuro, embora o faam de modos distintos: o realismo de Os Lusadas dita a exaltao dos feitos picos que preenchem o passado glorioso de Portugal, de modo a evocar um futuro igualmente grandioso; o sonho, a utopia, a sensibilidade, a loucura e o mito, apontam para a existncia do Portugal que falta cumprir e do alcance de uma nova ndia, tecida pelo que so feitos os sonhos: Mensagem reage pela indignao estagnao e carncia de aspirao e anseio, propondo em alternativa o nada que tudo : o sonho.