Afetividade, Autismo, Ambivalência, Sugestão e Sugestionabilidade - Bleuler
Afetividade, Autismo, Ambivalência, Sugestão e Sugestionabilidade - Bleuler
Afetividade, Autismo, Ambivalência, Sugestão e Sugestionabilidade - Bleuler
AfetiYidade
Com o conceito de "afetividade" reunimos a
vida afetiva e a dos sentimentos, os afetos, os estados
de humor, as emoes e a vida impulsiva. Vivncias
de prazer e desprazer , alegria, tristeza, raiva, so
aspectos da afetividade assim como os se ntimentos
que nos dominam nas relaes com as outras pessoas:
amor , respeito , dio, desprezo em suas variegadas
manifestaes.
...
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afetivamente carregados, que so especialmente insupo rtveis, podem ser excludos da conscincia e
recalcados para o inconsciente. Freqentemente, a
partir do inconsciente, exercem uma influ ncia sobre
as funes psquicas e somticas: o complexo representacional de uma mulher, por exemplo, de ser incapaz de amar e educar crianas porque no ama seu
esposo ou porque demasiado fraca e infantil, podeapesar de no ser mais consciente - conduzir a uma
frigidez ou a um medo doentio das relaes sexuais,
ou apenas a um medo da no ite e da escurido.
Te11d11cillsfortes podem ser inco111patveis, por
ex~plo, impulsos primitivos de vingana com uma
piedade elementar ou coloridos sexuais perversos
(talvez de forma in cestuosa ou homossexual) com
uma necessidade sad ia de amor e sentimentos morais.
Uma das tendncias pode ser recalcada para o inconsciente. Muitas vezes o conflito de impulsos resolvido desta maneira; em outros casos ocorrem novamente, a partir do inconsciente, influncias decorrentes da impulsividade reprimida, sentidas como perturbadoras. Por exemp lo, em uma criana, o dio e o
desejo de morte reprimidos contra os pais, ou contra
um dos genitores, pode provocar um medo, que no
possui nenhum motivo objetivo, consciente.
No estudo dos afetos podemos perceber claramente que a psique sempre decisiva como um todo, e
que os detalhes (idias, conceitos, afetos) que destacamos so apenas <lelimitaes artificiais. O paladar
do mesmo alimento pode ser agradvel quando estamos com fome, e desagradvel quando estamos empanturrados. Uma bofetada no nos aflige se a recebermos de um doente mental, ao passo que, em outras
circunstncias, ela nos pode causar raiva e desespero
intensos. Se obserrnmws cuid11dosa111e11te, ieremos
que so111os lel'lldos 11 genero /izll r e a dizer que na
realidade nunca reagi111os a uma I11ica rilncill, a
u111a 111ica represe11t11o co11111111 deter111i11ado afeto,
111as que o afeto sempre pertence a Ilido que co11sti111i
li psique atual.
A afetividade distinta de homem para homem e
no raramente no mesmo homem, em suas diversas
etapas de vida. Apesar de toda pessoa normal chamar
um gato de gato e ser obrigada a seguir as leis gerais d
lgi ca para poder se relacionar com as outras pessoas
e com o ambiente , podemos gostar do gato ou
consider-lo um animal execrvel; o modo de reagir
pessoal do indivduo, que se expressa, em primeira
linha, na afetividade, no est vinculado a normas to
estreitas como a lgica. Portanto, pode-se discutir,
por exemplo, se a carncia isolada de colorido afetivo
de conceitos morais deve ser considerada mrbida ou
no.
O Cllrter do homem determinado praticamente
apenas pela afetividade. O sanguneo caracteriza-se
por sentimentos vvidos, facilmente mutveis mas
tendentes euforia; o fleugmtico por. sentimentos
profundos e duradouros; aquele que no colore os
conceitos de bom e mau com prazer ou desprazer, ou
os colore menos fortemente do que as representaes
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~ .
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JISJQUIATRIA
egostas, "possui um mau carter". Ao lado da qualidade das reaes aqui tambm devem ser consideradas a rapidez e a fora dos afetos e dos instintos.
ln veja , cime, vaidade, so ao mesmo tempo caracte1stic:is do afeto e do carter; preguia, energia, persever:111a, negligncia, so manifestaoes parciais da
afetividade.
a) Gnese das perturbaes da afetividade
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por exemplo, ocorrem em estado de pnico. Se, inver- tos de contedo agradvel permanecem como representaes fugidias, transitrias sem influncia sobre
~amente, pudermos escapar de uma exigncia temida
por -meio de um desmoronamento, ento, no estado de as reflexe s e o estado do paciente. Este tem dificulmepo ,. :0 corre um colapso ortosttico. Os histricos dade de se deci.dir a agir, e quando consegue se moviso. rnais capazes do que as outras pessoas de adaptar mentar isto lh e causa , via de regra , grandes esforos .
su.as manifestaes vegetativas a suas necessidades Muitas vezes no consegue chorar e se sente menos
moi;nentneas e influncia sobre o mundo externo. triste do que vazio, como se fosse uma pedra.
O curso do pensamento est inibido (veja pg. 31
Tm enxaquecas, se isto preocupar as pessoas que os
e seguintes), tem-se dificuldade de pensar algo em
cercam .-.,
,, :,,; _Muitas vezes as manifestaes vegetativas j profundidade; a troca das representaes dirigidas a
ocorrem quando os afetos e os estados de nimo sub- um objetivo exige esforo ou nem mas possvel; os
j ~~entes em si no saem do limite da normalidade . doentes sempre recaem nas mesmas idias de conNo obstante, os afetos doentiamente exacerbados tedo triste, ou nem conseguem se desligar delas:
s. o .os que mais freqentemente ocasionam reaes 111011uidefs1110.
yg~ta\iyas especialmente intensas. Nas psicoses,
A depre sso pode ter colorido div e rso. Podem
c;ont]JdO, com as alteraes de humor mais graves, as dominar o luto e a desespera na resignada, ou excitaf\lnes vegetativas so , algumas ve;(:es , surpreenden- o e desespero. Uma posio especialmente importante ocupada pelo medo. Apesar de usualmente
tf"!mente alheias .ao que acontece .
s mais comuns das numerosas alteraes vege- estar vinculada s formas comuns de depresso, ele
tl!t!YaS, que. preocupam o mdico como manifestao tambm pode ocorrer isoladamente. Na pessoa sadia
ir)1edi<ita de afetos e estados de nimo, pertencem : o medo no surge apenas qu a ndo h uma ameaa
pistrbios do sono; enxaqueca; queixas gstricas in- externa mas tambm sob a impresso de ter errado sua
determinadas, .em parte com superacidez ou falta de vocao, no ter realizado suas capacidades, sua maacidez; priso de ventre,. mais raramente diarria; neira de ser e de ter vivido de forma demasiado egosta
cpnstrio .cardaca, tendncia a desmaios; impotn- ("medo da conscincia " ). Uma necessid ade sexual
c;i&;. ejaculao precoce; dismenorria, amenorria; no satisfeita praticamente no provoca medo se a
vida estiver preenchida de outra forma. Contudo, a
m;rimento~ enurese (em c1i a nas) .
A maioria das excitaes emocionais influencia o renncia sexual muitas vezes assume um colorido.de
01:ste1111.;. endcrino: a . secreo de adrenalina e nora- medo quando ocorre em conexo com uma insatisfa-
dFenalina regularmente aumentada. Da mesma o geral. O medo surge por motivos somticos
f.qrma excitada a funo das supra-renais. Sej aqui qu a ndo h uma dificuldade de fornecer oxignio aos
aparec;em , diferenas individuais notveis , elas so tecidos, nas doenas cardacas , dos rgos da respiraainda . fllaio~es no que se relaciona.com a excitaoda o e do sangue. Assim como a depresso e juntaf _11o,tireide em conexo com as emoes. A fun- mente com ela o medo pode aparecer na maioria das
fo, enqcrina das glndulas genitais inibida pelas psicoses.
.e.i;nqes (exceto as sexuais).
De modo ainda mais evidente do qu e os outros afetos o
rw. cAs rrianifestaes somticas colaterais da afetiyidad'e podem ocorrer igualmente, quer que o indiv- medo pode aparecer sem conexo com representaes: o
duo ,vivencie conscientemente e elabore as acentua- doent~ pode sentir medo e reconhecer claramente que no h
es afetivas, ;o estado de nimo e as emoes; .quer motivo nenhum para isto ("medo livremente flutuante").
Em. muitos casos o prprio medo que cria as representa.qu.eestas .se.desenrolem de forma meio consciente ou es a que posteriormente se vincula.
inconsciente !
. Medo de perder um determinado membro da .faw:lia ,
;}
muitas vezes, tanto nas pessoas sadias como.nas enfermas,
...-'t:i . t;; ,, .. ,).;' e) Dep:es:; o dc&::tia , medo
express de um desejo (recalcado) de que este no viva
r;! ;n r:; ..: ,
mais. Uma esquizofrnica latente tem um filho de um
.11 rn Na;.depr.e sso todas as vivncias; as internas e as homem que no ama e j a parteira percebe seu medo: "Meu
Deus, que no acontea nada com esta criana!". Alguns
externas, tornam-se dolorosas. Os casos mais leves
assemelhamse110 "desnimo'' normal. mais dfcil meses depois envenena a criana. Uma mocinha adoece por
medo excessivo pela me; mal esta sai de casa, a jovem corre
,te1:.empatia ::om a situao afetiva do melancli:c6
para a janela para verificar se nada lhe acontece, se ela volta.
grave. Est convicto de que perdeu tudo, que lhe era Tem uma ligao afetiva forte com o pai e inconscientemente
de valia, e, contudo, aguarda para si e seus entes tem cime da me.
queridos acontecimentos ainda piores do que se poderia imaginar. Tentar "desviar su a ateno" geralEm alguns casos de d epresso, especialmente
mente intensifica a dr. Muitas vezes as percepes quando h medo, ao invs da inibio motora h o
adquirem um carter de estranheza, de uniformidade, impulso de expressar ou se livrar da tenso interna por
cje (nqietaq; .as impresses ticas so cinzentas, os meio de movimentos: mela11colia agi taila. Estes pa.:ili. m.~nt9s , carecem de seu sabor natural, as coisas
cientes, ao contrrio dos melanclicos comuns, no se
esto como "tortas". O pensamento transforma-se sentem cansados e correm de um lado para o outro, e
_e m_algo qe tortura, seu CL!rso dificultado e o doente fazem, se lhes permitido, longos passeios sem jamais
s .consegue pensar em coisas dolorosas; pensamen- descansar .
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PSl.Ql!IA 'l'RJA
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quica , quando, por exemplo, aumenta a presso intra- dade dos afetos tambm freqente nos intervalos de
um a doena manaco-depressiva avanada . Tambm
cerebral.
No contexto do psicossndrome cerebral locali- os oligofrnicos pod em sofrer com esta perturbao.
zado, como, por exemplo, na encefali te letrgica, e do
psicoss ndrome endcrino, por exemplo , no panli) Ambivalncia afetiva
hipopituitarismo, ocorre um abafamento doentio da
vida afetiva, apesar de a vida intelectual no ter sido
J a pessoa sadia sente s vezes "duas almas em
atingida.
se u peito", pode temer e ao mesmo tempo desejar
Ao contrrio, na maioria das psicoses, a vida encetar um trabalho novo . Tais sentimentos contradiafetiva continua, mesmo que freqentem e nte seja di - trios so importantes quando atingem pessoas prfcil observ-la. At no psicossndrome orgnico de xmas. No desenvolvim ento de cada ser humano a
grau elevado (isto , com uma doena cerebral grave amb iv al ncia tambm desempenha um papel no que
difu sa) ocorrem fortes manifestaes a fetivas. Con- se refere s relaes sexuais: a necess idade sex ual ,
tudo , no devemos esper-la se o doente no for capaz e m vrias etapas do desenvolvimento, encontra-se em
de compreender a situao que deveria deflagrar os oposio s representaes da prpria virtude e do
afetos . (Um doente senil pode manifest r apenas ale- sen timento de vergonha. Em funo de direcionamengria com a visita de um querido amigo , se puder reco- tos com ao biolgica, ela domada sob muitas cirnhecer a visita como este amigo.)- Os esquizofrni- cunstncias, por exemplo, se ocorrer um a forte prescos freqentemente do a aparncia de se rem comple- so no sentido do rendimento.
tamente apticos, mas, se os conhecermos bem , geAs pessoas sadias so capazes de superar acenralmente chegamos a saber muito a respeito de uma .tuaes afetivas ambivalentes; elas podem tirar arevida afetiva interna.
sultante de valorizaes contraditrias. Elas tambm
Os 111e/u11clicos, completamente mergulhados podem amar, levando em devida consid erao as parem sua misria, praticamente no sentem mais nada tes negativas da pessoa amada . Ambivalncias no
alm disto. Muitas vezes so erroneamente conside- superadas, contudo, desempenham um papel atorrados apticos. Muitos destes doentes qu eixam-se de me ntador tanto nas doenas neurticas como nas esque no possuem mais sentimentos, que so apticos, qui zofr nicas e dificulta m uma atitude natural com
porqLie ao lado da grande dor que reside na doena , relao ao meio ambiente. Se algu m ama e odeia ao
no tem mais sentimentos em relao sua famlia.
mesmo tempo, sem que estes dois sentimentos se
Em oposio in:itabilidade neurtica tambm equi librem mutuamente, temos como resultante uma
existe uma indiferen a neurtica: freqentemente os tenso interna e uma falta de objetivos na prpria
histricos, por exemplo, bloqueiam os afetos comple- ao. - Na gnese das neuroses a ambivalncia detamente , por curto tempo, de modo que aparentam ser se mpe nh a um papel deci sivo. Na conscincia de um
apticos.
neurtico uma tendnc ia pode-se impor, e a outra
recalcada para o inconsciente, mas continua a atuar, a
g) Durao a//erada dos afetos
partir deste incon sciente, de forma perturbadora.
(Um a moa pode-se aproximar conscientemente de
Uma d11rao a11ornwl111e11te longa dos afetos um segundo namorado e se afastar do primeiro - o
existe em algumas pessoas no mentalmente doentes, amor recalcado, em relao a este ltimo, pode, no
que no conseguem sair de uma alterao de nimo e, entanto, manifestar-se neuroticamente, por exemplo,
por exemplo, carregam para sempre um dio consigo. com acelerao das ba tid as cardacas ao se lembrar do
Na epilepsia os afetos uma vez deflagrados tambm primeiro namorado, ou por embarao, irritao ou
duram anormalmente, mesmo que outras vivncias falta de segurana na relao com o novo namorado.)
ocorram no nterim. Um fato desagrad vel de meno_r - Entre os esquizofrnicos as atitudes ambivalentes
imponnc i~: pode preocupar os dbeis mentais dupodem surgir de forma muitas vezes abaladora: assim,
rante dias. Tais doe nt!~ tm uma tena ciclade u.feti10
por exemplo, uma esquizofrnica pode designar a si
excessivamente forte, um conceito que abrange tanto mesma , ao mesmo tempo , como puta e santa, uma no
a extin o lenta de um afeto aps uma viv ncia .exci- sen tiJ_' da prpria sex ualidade, a outra no sentido de
ta nte como tambm a extgua capacidade de se deixar suas idias a respeit o da cas tidade e da virtude.
distrair por uma nova vivncia.
Mais importante e mais bem conhecida a excesO conceito do double bind (duplo vnculo) de BATESON
siva labilidade dos a.fos, a sua durao anormal- e colaboradores ( 1956). encarado de forma ampla, designa a
mente curta e a di stratibilidade afetiva aumentada. mesma coisa que a ambivalncia. No entanto, a maioria dos
Ela se desenvolve em algumas pessoas , em outros autores o considera de forma mais restrita: ele demasiadaaspectos sadias, como caracterstica de toda a perso- mente relacionado com a idia de que uma atitude contraditria possa ser, sem nenhuma ambigidade, rastejada a 1111111
nalidade. As crianas so normalmente lbeis;
determinada expe1incia, por exemplo, o fato de a me desecomparamo-las com razo aos senis; s que devera- jar mostrar externamente o seu amor, quando no seu ntimo
mos tambm citar muitos (}f.gnicos: neles os afetos era fria. Tais relaes causais inequvocas, no obstante,
surgem facilmente mas no tm nenhuma durao, e no correspondem essncia do ser humano. Sries isoladas
eles se distraem com excessiva facilidade. A labili- de experincias podem adquirir um signilicado especial na
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r:-.
tamente as pessoas que emocionalmente tm sentimentos muito profundos podem ser de tal forma avassaladas por um afeto que transitoriamente so incapazes de sentir.
Mais importantes do que as reaes emocionais
imediatas so, para o mdico, olterues du l!111oti1idode, d!! lo11gu duraiio, sob 1111w presso emocio11ul
de loni;!l d11rno. Toda a personalidade, especialmente o carter, altera-se sob uma tenso emocional
duradoura. Se estas alteraes so sentidas co~o perturbadoras, como se fossem uma doena , ento podemos falar de pert11rbues reutivus do carter e se
as causas emocionais no esto presentes na conscincia, de neuroses de cortcr. A melhor maneira de
elucidar a sua essncia para um novato salientar,
dentre a variedade de desenvolvimentos caracteriais
sob tenso emocional, formas singulares freqentes e
de importncia clnica, citando-as esquematicamente
simplificadas:
Ocorre freqentemente que a auto-estima de
crianas e jovens ferida constantemente e eles se
sentem mal tratados constantemente. Isto ocorre, por
exemplo, quando filhos de criao s so aceitos por
causa do dinheiro que pago aos pais de criao
(como foi descrito de forma comovedora por JEREMIAS GoTTHELF) ou quando crianas pouco dotadas
so submetidas a exigncias excessivas por pais e
professores ambiciosos. Tambm as crianas que
perdera~ a me e por amor e dedicao procuram
manter sua concepo de vida, ao passo que a madrasta lhes deseja ensinar outra moral, encontram-se
em uma situao de grande presso. Em tais circunstncias pode ocorrer uma atitude de obstinao e revolta contra os educadores e finalmente contra todos
que representam uma autoridade. A criana cria uma
moral prpria no sentido de sua teimosia. No sente
como bom o que lhe ensinado atoritariamente, mas
exatamente aquilo que fere as pessoas investidas de
autoridade. O pai decriao ou a madrasta se portaram mal comigo, portanto estou justificado em
causar-lhes um vexame, roubando coisas." Tais retlexes adquirem uma importncia to exclusiva que a
considerao do prprio bem-estar recebe: "Bem
feito para voc se eu me tornar um vagabundo e for
preso" se torna uma mxima, e esta fica incorrigvel
por reflexes comuns. Costuma-se tambm roubar ou
burlar para obter simbolicamente o que os pais de
c1iao no deram; podendo o indivduo, em uma
atitude de ter sido prejudicado, valorizar seus atos
como altamente morais. Assim se desenvolvem qualidades de carter associais e anti-sociais, uma neurose de carter, que dificilmente pode ser diferenciada
de uma carncia congnita de sentimentos sociais. Nem toda criana, porm, que cresce em circunstncias desfavorveis, influenciada neste mesmo sentido. Tambm h necessidade de que existam , lado a
lado, peculiaridades das disposies congnitas de
desenvolvimento. Um desenvolvimento anti-social
da personalidade tambm favorecido quando uma
personalidade anti-social idolatrada, por exemplo,
')
1
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cidade a capacidade de manter a ateno dirigida duradouramente para um objeto, a vigilncia aquela de dirigir a
ateno para um objeto novo (especialmente um estmulo
externo).
Tambm necessrio diferenciar a ateno 11uxi11w e a
lwhit110/. Alguns doentes orgnicos observam pouco habitualmente, no se orientam, quando esto em um lugar novo
etc. Se procurarmos faz-lo com que intensifiquem maximalmenle sua ateno, so capazes de faz-lo sem dificuldade. Portanto, em uma nica consulta mdica podem apresentar, ilusoriamente, um quadro mais favorvel de sua capacid ade de desempenho do que corresponde vida diria .
Se a ateno for dirigida pela vontade, denominamo-la
ali\'a, se for provocada pelos acontecimentos externos, ela
/hissi\'(/. Esta ltima funciona especialmente no registro dos
acontecimentos comuns do mundo que nos cerca.
O contrrio da ateno a distruo; ela possui duas
formas antagnicas no sentido de que, de um lado, a falla de
tenacidade com hipervigilncia em um aluno, que se deixa
desviar do assunto da aula por qualquer barulho, pode ser
denominada de distrao, ao passo que a hipertenacidade e
hipovigilncia carncterizam o sbio distrado.
IX. A ateno
Uma manifestao da afetividade a ateno. Ela consiste no fato de que determinadas sensaes e idias, que
as mais diversas (ni velao das idias, para cima nos estados
manacos. para o ponto zero na indiferena ou falta de compreenso), a vigilncia, a distratibilidade da ateno naturalmente grande. A tenacidade no precisa estar diminuda, j< que sem distraes a Pessoa consegue se manter
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PSlQUIA->TRU :
muito tempo.
Se os afetGS..&io estveis, a tenacidade tambm elevada.
Na esquizofrenia e nos estados de exceo epilpti cos,
mais raramente nas perturbaes neurastnicas e outras ,
encontramos algumas vezes uma mistura estranha de capa-
No cansao normal , via de regra, a capacidade de concentrao e a tenacidade esto muito diminudas, ao passo
que a capacidade de desviar a ateno pode aparecer reforada.
X. Sugesto e sugestionabilidade
insuficiente.
'.
direo das massas nos movimentos polticos e religiosos ocorre essencialmente por sugesto , no por
convices lgicas, muitas vezes at contra a razo.
Todo um povo pode ficar despido de crti ca e de
resistncia em frente a sugestes que correspondem a
instintos e pulses de autoconservao, de g randeza,
de poder e de fama.
A psicologia de uma grande poro de hom ens, que
esto unidos por ideais comuns , por inimigos e afetos comuns, a chamada "psicologia das massas", possui suas leis
prprias: nos perodos de perigos e plivaes comuns, ou
nos arroubos de xitos comuns, a sugesto entre as pessoas
ou por ld eres obtm uma fora assustadora. Na massa a
sugesto s pode influenciar os afetos mais primitiv os, que
so comuns a todos. Os afetos pessoais e mais finos e a
reflexo perdem seu signifi cado na massa. As representaes que prendem emocionalmente as massas derivam do
pensamento autista. Torna-se lder das massas aquele que
melhor compreende a comunidade das pulses primitivas e
as representaes primitivas de cada indivduo , reuni ndo-as
em palavras que tm apelo emocional. Dele irradia uma
sugesto muito forte e com isso mantm o poder. O signifi-
cado emocional, sugestivamente exacerbado. das representaes comuns pode ajudar a vitria de gra ndes reformas ou
pode ter como conseq nci a catstrofes horrendas.
A sugesto tem para a comunidade o mesmo sig.nificado que a direo dos afe to s para o indivduo
isolado: ampara e fortalece anseios unitrios e sua
fora e perseverana.
Costumamos tambm falar de auto-sugesto,
com o que designamos ape nas o efeito da afeti vidade
sob re a prpria lgica eJuno corporal. De sempen ha
um papel importante na ps icopatologia.
A suges tion a bilidade est artificialmente au mentada nos estados de hipn ose , os quai s so criados pela
prpria suges to. Na hipnose percebe-se e pensa-se
aqu ilo que o sugestionador pretende, na medida em
que o sujeito o compreende. Ao passo que a capacidade de reflexo em tod os os outros campos se restringe, as reflexes seguem os propsitos do hipnotizador da forma mais atenta e diferenciada possvel. O
"hipnoti zado muitas vezes descobre muito melhor o
que dele se espera do que a pessoa normal; ele pode
utilizar impresses se nsoriais, que no estado normal
seriam excessiv amente frac as; pode ter uma representao to vivida das coisas que ch ega a alucin-las, e
por outro lado afastar impresses sensoriais verdadeiras da psique, de modo total ("alucinaes negativas"); tem sua disposio record aes, a respeito
das quais nada sabe em estado de viglia; chega a
influenc iar tambm as funes vegetativas como a
atividade cardaca, as vasomotoras e os movimentos
instestinais . Todos estes processos podem ta mbm
ter uma durao maior do que a do estado hipntico
(efeitos ps-hipnticos).
Costumamos opor a suges tionabilidade negativa
positiva . A pulso, seguir as recomendaes dos
outros , regulada por uma pulso igualmente primria de resistir ou de fazer o contrrio. No caso de
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crianas de uma determinada idade esta sugestionabilidad e negativa mostra-se mui tas vezes de forma pura.
Costumamos v-la em pessoas que possuem uma sugestionabilidade positiva forte, talvez n o apenas
porque, em parte, ambos os tipos de sugestionabilidade sejam duas faces da mesma caracterstica, mas
tambm porque necessitamos tanto mais da proteo
da sugestionabilidade negativa quanto mais perigo
corrermos de sermos vtima da positiva.
Um a carncia total de sugestionobilidade no costuma
existir , exceto no caso de doentes que j no compreendem
delirantes e dos erros lgicos mostra que o pensamento mais dirigido pelos afetos do que nas pessoas
ss. A afetividade escondida tambm pode aparecer
novamente; por exemplo , quando .uma doena cerebral (atrofia senil, status depois de uma operao psicocirrgica) complica a esquizofrenia. Devemos supor, portanto, que a doena como tal no atinge os
afetos , mas que eles apenas so impedidos funcionalmente na sua expresso, rnatt; ou menos .como uma
criana, que de repente transladada para um ambiente estranho, pode apresentar um estupor sem
afeto.
Uma experincia muito rica perceber, no decurso de uma psicoterapia, .inesperadamente expresses de afeto calorosas e efusivas por parte de esqui zofrnicos aparentemente completamente destitudos
de sentimentos.
3. Ambivalncia
_., O riso e choro simultneos so uma expresso
parcial da ambivalncia esquizofrnica. A dissociao funcional esquizofrnica torna possvel a existncia de contrrios na psique , que normalmente se excluem mutuamente. Amor e dio em relao mesma
pessoa podem ser igualmente fervorosos, sem se influenciar mutuamente (ambivalncia afetiva, pg. 49).
O doente deseja ao mesmo tempo comer e no comer;
faz o que no deseja da mesma forma que aquilo que
deseja (ambivalncia da vontade; ambitendncia);
pensa simultaneamente: "eu sou um homem como
vocs" e " eu no sou um homem como vocs". Tambm nas idias delirantes, idias depressivas e expansivas se misturam freqentem ente.
Afirmao de uma esquizofrnica: "Eu sempre digo
eXatamente o contrrio do que quero dizer. "'Chama-se um
4. Autismo
~Os esquizofrnicos perdem o contato com a realidade, os casos mais leves imperceptivelmente aqui
ou l, os mais graves completamente . Uma paciente
acredita que o mdico deseja casar com ela. Ele lhe diz
o contrrio diariamente; o que no adianta de nada.
Uma outra canta num recital da instituio, mas demasiado tempo. O pblico comea a fazer barulho;
isto no importa a ela e quando ela finalmente termina,
volta satisfeita e orgulhosa para seu lugar. Os doentes
apresentam-nos oralmente e por escrito inumerveis
desejos, para os quais no esperam nenhuma resposta, apesar de se tratar de necessidades prximas
como a alta. Desejam sair, abaixam diariamente o
trinco da porta centenas de vezes , e quando se lhes
abre a porta, no pensam em sair. Exigem urgente-
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