Livro Area Degradada
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Desenvolvimento Sustentvel
Captulo 2
Recuperao de reas
Degradadas
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1. INTRODUO
A crescente presso devido demanda por reas aptas para atividades agrcolas, buscando
suprir a expanso da populao mundial,vemcausando a reduo das formaes vegetais naturais,
com consequente esgotamento de recursos naturais.
Um processo de degradao que chega a uma taxa de 0,1% ao ano tem sido relatado nos solos
agrcolas do mundo, com uma perda na ordem de cinco milhes de hectares por ano. Essa
degradao est relacionada principalmente a prticas agrcolas inadequadas, a presso
populacional e a explorao inadequada dos recursos naturais. Levantamentos mundiais registraram
que 15% dos solos de regies habitadas do planeta foram classificados como degradados devido s
atividades humanas (OLDEMAN, 1994). A distribuio desse total de reas degradadas no mundo
apresentada na Figura 1.
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2. REAS DEGRADADAS
O termo rea degradada est associado a ecossistemas alterados, onde ocorreu algum
processo de degradao ambiental. Quando o nvel de degradao ainda permite que o ambiente se
recupere, ou seja, quando o ambiente mantm sua capacidade de regenerao, considera-se que o
ambiente est perturbado e a adoo de medidas intervencionistas pode acelerar o processo de
recuperao ambiental. J quando a degradao no mais permite a recuperao natural do
ambiente, diz-se que o mesmo est degradado, sendo necessrias intervenes para que o mesmo se
recupere (CARPANEZZI et al., 1990; CORRA & MELO, 1998).
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis define que a
degradao de uma rea ocorre quando a vegetao nativa e a fauna forem destrudas, removidas ou
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expulsas; a camada frtil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o regime de
vazo do sistema hdrico forem alterados. A degradao ambiental ocorre quando h perda de
adaptao s caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas e inviabilizado o desenvolvimento
scio-econmico (IBAMA, 1990).
O termo degradao tem sido associado a efeitos negativos ou adversos causados ao
ambiente que decorrem principalmente devido interveno do homem, sendo raramente
empregado para alteraes oriundas de processos naturais (TAVARES, 2008).
Uma rea degradada, aps o distrbio, pode apresentar eliminao da vegetao nativa,
juntamente com a eliminao da sua capacidade de regenerao bitica (perda do banco de
sementes, perda da camada frtil do solo, entre outros); eliminao ou expulso da fauna do local;
alterao na qualidade da gua;alterao no regime hdrico. Nessa situao de degradao, ocorre
perda da capacidade de adaptao devido a alteraes das caractersticas fsicas, qumicas e
biolgicas do ecossistema; e a sua recuperao pode no ocorrer ou ser extremamente lenta,
requerendo a ao antrpica (SOUZA, 2004).
3.1. Desmatamento
A retirada da cobertura vegetal, dependendo da intensidade, pode ser considerada uma
degradao ou uma perturbao ambiental. Como exemplos mais marcantes desse tipo de
degradao, temos o desmatamento de diversos biomas brasileiros como a Mata Atlntica, o
Cerrado, a Floresta de Araucrias e a Amaznia, que juntos somam uma rea desmatada de mais de
trs milhes de quilmetros quadrados (PIOLLI et al., 2004).
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ao solo da rea, j que o vento e a gua carreiam as cinzas com facilidade, resultando no
empobrecimento do solo (PIOLLI et al., 2004).
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modelo, causa a reduo da biodiversidade e perda de variabilidade gentica das espcies na regio,
podendo ainda facilitar a ocorrncia de processos erosivos (PIOLLI et al., 2004).
Modelos alternativos, menos impactantes para o ambiente, vm sendo desenvolvidos.
Tecnologias diversas como a permacultura, os sistemas agroflorestais, a agricultura biodinmica e o
controle biolgico de pragas j esto disponveis, assim como os modelos de agricultura orgnica
ou agroecolgica, que permitem cultivos sustentveis e rentveis, com menor impacto ambiental.
Souza (2004) afirma que a partir da introduo do modelo agroqumico e da incorporao
denovas tecnologias de manejo do solo e melhoramento gentico, foram acompanhadas pelo abuso
na utilizao de equipamentos pesados, resultando em diversos problemas ambientais como a
eroso, a poluio, a proliferao de pragas e doenas por falta de seus inimigos naturais, entre
outras srias alteraes no agroecossistema, resultando na maioria dos casos emum processo de
degradao ambiental.
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acentuar a eroso, levando a reduo da cobertura do solo e, se esse processo no for interrompido,
pode resultar na evoluo para uma eroso em sulcos, e at mesmo voorocas.
Os pesquisadores tm lanados esforos para entender o processo e tambm tm buscado
identificar caractersticas do solo associadas a essas alteraes, desse modo seria possvel
caracterizar o processo de degradao a partir do surgimento dessas alteraes.No entanto, existe
grande dificuldade para se estabelecer quais caractersticas so mais adequadas para quantificar e
caracterizar o processo, assim como quais so os padres de referncia que devem ser utilizados
(DIAS & GRIFFITH, 1998).
Atualmente, admitem-se diversas abordagens sobre a caracterizao de um ambiente
degradado. Como exemplos, temos a abordagem restritiva ou segmentada, que preconiza a anlise
de cada componente, facilitando sua visualizao e quantificao; e a abordagem ampla ou nosegmentada, que busca a avaliao do ambiente como um conjunto de componentes em equilbrio
(COELHO, 2001).
A atividade do homempode causar degradao fsica, alterando, por exemplo, a textura,
estrutura, profundidade, densidade, taxa de infiltrao e capacidade de reteno de gua do solo;
qumica, alterando os teores de carbono e nitrognio contidos na biomassa microbiana; e biolgica,
alterando o carbono orgnico total e o teor de matria orgnica no solo. Quando essas caractersticas
podem ser identificadas e quantificadas, possvel utilizar as mesmas como indicadores da
qualidade do solo (REINERT, 1998).
Aadequada utilizao desses indicadores depende de uma viso holstica do sistema e da
definio criteriosa de valores de referncia para a avaliao dos estdios de degradao. Para tal,
ainda necessria a realizao de pesquisas focadas na degradao para que seja possvel
estabelecer rotinas confiveis e funcionais para o monitoramento e avaliao da degradao (DIAS
& GRIFFITH, 1998; SOUZA, 2004).
Rodrigues et al. (2007a) afirmam que ainda so raras as pesquisas sobre qualidade do solo
sob o aspecto da degradao ambiental. E os mesmos autores ressaltam que as pesquisas nessa rea
precisam evoluir para que sistemas de monitoramento e diagnstico mais fceis e prticos sejam
implementados, visto que a recuperao de reas degradadas no consiste de aes isoladas, mas de
um conjunto de atividades com o objetivo de recompor a paisagem que foi negativamente alterada
(DIAS FILHO, 1998; DIAS & GRIFFITH, 1998).
O banco de sementes composto pelas sementes viveis presentes no solo de uma
determinada rea (HARPER, 1977), e est relacionado com a capacidade de estabelecimento de
populaes vegetais e de manuteno da diversidade de espcies na rea aps os distrbios que
causaram a sua degradao. Devido ao exposto, o banco de sementes tem sido utilizado como um
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4.3.1. REVEGETAO
A recuperao e o desenvolvimento de uma cobertura vegetal que seja capaz de se autosustentar meta fundamental em grande parte dos projetos de recuperao de reas degradadas. A
estratgia para promover a revegetao de uma rea degradada varia de acordo com o tipo de
ecossistema.
A compatibilidade entre as espcies nativas da regio e as espcies introduzidas para a
recuperao, assim como a biodiversidade e o objetivo de uso da rea aps recuperao devem ser
levadas em considerao (TOY & DANIELS, 1998).
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Resende et al. (2002) afirmam que conhecer os atributos do solo e da vegetao que podem
interferir no processo de degradao ambiental de fundamental importncia para entender o
processo. Em relao vegetao, interessante conhecer o tipo e a intensidade de cobertura que
ela promove. Em relao ao solo, os atributos de maior interesse so: o pH, o teor de nutrientes a
espessura dos horizontes, a profundidade, a porosidade, a textura, a capacidade de reteno de gua,
a estrutura, entre outros (DORAN & PARKIN, 1994; RESENDE et al., 2002).
O processo de regenerao natural de um ambiente degradado tem incio com a chegada de
sementes de espcies vegetais na rea, seu estabelecimento e sua reproduo. A determinao das
espcies mais aptas a se estabelecerem no local influenciada pelas caractersticas do local, tal
como a distncia entre o local e do banco de sementes, da instabilidade da superfcie do solo, da
compactao, da acidez, entre outros (ALMEIDA, 2002).
reas degradadas que foram sujeitas a remoo da vegetao e do solo, ou parte das camadas
do solo, so propensas a recuperao por meio da revegetao. A recuperao da cobertura vegetal
permite a regenerao atravs dos processos que a vegetao exerce sobre a morfologia, qumica e
biologia do solo; alm de melhorar o aspecto visual da rea (RESENDE et al., 2002; GARAY et al.,
2003; LYLE, 1987).
A cobertura vegetal, como resultado da consequente influncia de seu sistema radicular,
responsvel pela estruturao do solo. Alm disso, o sistema radicular de algumas espcies vegetais,
em especial as espcies florestais, forma uma densa malha de razes na poro superficial do solo,
criando uma defesa fsica eficiente contra a ao erosiva da gua (PRANDINI et al., 1982).
A qualidade do solo definida por suas propriedades fsicas, qumicas e biolgicas. Um solo
de melhor qualidade tem maior capacidade de promover o crescimento de plantas e regular o fluxo
de gua no sistema. Alm disso, associa-se aos solos de melhor qualidade a capacidade de
tamponar, atenuar e degradar compostos nocivos ao ambiente, em funo da maior atividade
microbiolgica dos mesmos (DORAN & PARKIN, 1994; SPOSITO, 1998).
4.3.2. TOPSOILING
Atividades humanas que necessitam de revolvimento do solo (ao exemplo da minerao)
devem preservar, armazenar e retornar o horizonte orgnico superficial do solo, que chamado de
topsoil.Quandoesse procedimento no for possvel, um novo topsoil deve ser criadopara servir
como substrato para odesenvolvimento da vegetao futura.
Em alguns casos mais drsticos, o local degradado j no apresenta mais qualquer vestgio
de topsoil. Nesses casos, ser necessrio o uso de um material substituto para a recuperao, e uma
criteriosa seleo desse material e posterior trabalho sobre suas caractersticas qumicas, fsicas e
biolgicas devero ser realizadas (TOY e DANIELS, 1998; TOY et al., 2002).
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5. CONSIDERAES FINAIS
Desde tempos antigos, a humanidade vem enfrentando problemas devido degradao
ambiental resultante de atividades antrpicas executadas de maneira inadequada e com prticas
insustentveis. As atividades do homem, que muitas vezes foram e ainda so baseadas em modelos
de produo que objetivam apenas a maximizao do retorno econmico, sem preocupaes com a
conservao ambiental acabaram, em muitos casos, exaurindo o ambiente e provocando a perda de
sua capacidade de recuperao natural. Devido a esse cenrio, existe a necessidade de interveno
para que os ambientes degradados possam se recuperar, no entanto, a soluo para os problemas
ambientais no to simples ou fcil de ser executada.
Atualmente, a preocupao com o aspecto de preservao ambientaltem crescido no mundo,
ecasos de sucesso na recuperao de reas degradadas e novas tecnologias de produo,
preconizando o desenvolvimento sustentvel, tm surgido a cada dia. Apesar disso, esse tema ainda
est longe de ser concludo, pois a recuperao de reas degradadas uma cincia relativamente
nova e a adoo dos novos modelos sustentveis de desenvolvimento ainda no uma prtica
consolidada pela maioria.A conscientizao ambiental, aliada ao apoio ao desenvolvimento de
metodologias e tecnologias a serem empregadas na recuperao so peas fundamentais para o
avano da humanidade em direo a uma relao mais harmnica com a natureza.
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6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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